Vinte Um

Um ano atrás, chefão do Heat duvidava que recorde histórico de vitórias do Lakers poderia ser quebrado

Giancarlo Giampietro

 ''Acho apenas que o jogo é muito diferente agora. Mentalmente, não acho que os jogadores de hoje têm a disciplina suficiente para manter aquele tipo de concentração e foco por tanto tempo. Há muito mais coisas para distrair você. Se algum time tiver entre 20 e 25 vitórias em sequência, os jogadores talvez digam: ''Ah, que se dane, vamos acabar com isso'. Haveria um nível tão grande de escrutínio e tanta cobertura de mídia, que seria algo na linha de: 'Vamos apenas encerrar isso e recuperar a normalidade. Não consigo ver isso acontecendo (sobre a possibilidade de o recorde de 33 triunfos consecutivos do Lakers em 1971-72).''

Quem disse isso?

Pat Riley versão contracultura

Riley, futuro garoto-propaganda de Armani, em ação nos anos 70 pelo Lakers

Pat Riley, ala-armador reserva daquela equipe histórica do Lakers e presidente/gerente geral do Miami Heat hoje, a mesma equipe que já passou da casa das ''20 para 25 vitórias'' seguidas, tendo chegado a 27 nesta segunda-feira. Estão agora a apenas seis de atingir a marca registrada por Jerry West e Wilt Chamberlain quarenta anos lá atrás.

A declaração foi dada durante a temporad passada da NBA, antes da conquista do título pelo Heat. Mas não importava: a partir do momento em que Riley conseguiu aplicar um senhor golpe de bastidores em toda a liga, reunindo LeBron James e Chris Bosh com Dwyane Wade, a expectativa foi sempre a de dominação por completo pela equipe da Flórida.

No primeiro ano, já fizeram a final contra o Dallas Mavericks e acabaram surpreendidos um pouco por questão de arrogância, mas muito mais porque a química entre LeBron James e Dwyane Wade, em quadra, ainda estava longe da ideal – também não ajudou toda a postura de ''nós contra eles, somos os vilões mesmo'' adotada pelo elenco, que ficou com o emocional bastante abalado, e, claro, Dirk Nowitzki estava acertando tudo, Rick Carlisle é um estrategista travesso etc. etc. etc. Mas, que o Heat ainda não havia encontrando seu melhor jogo, disso não havia dúvida.

Na tempora passada, com Wade recuando um pouco, LeBron fazendo algum tipo de terapia e a chegada de Shane Battier para solidificar uma proposta de jogo mais agressiva e transgressora, conseguiram calar a oposição e pintar seu banner de campeão.

(Um parêntese sobre Wade: é engraçado como o estafe do jogador tem se empenhado em vender a história de que ele ''se sacrificou como um verdadeiro campeão'' em prol do time, deixando que LeBron tomasse conta da bola e da situação… Epa, mas não foi o próprio Wade que lá no verão de 2010 trabalhou intensamente para trazer seu ''melhor amigo'' para a Flórida ao lado de Bosh? Então qual era exatamente o mal-entendido para ser resolvido? Se eles planejaram tudo isso desde 2008, com muita gente garante ter acontecido, o simples fato de o astro ter demorado um ano todo para pereceber que o novo companheiro era o melhor jogador ali, todo o discurso adotado com atraso na virada da temporada passada para esta, emplacando até uma pauta na capa daSlam, não passa de balela. Wade é um baita jogador? Sem dúvida. Mas não precisa também querer a santificação.)

Agora, livres de pressão, depois de se aquecerem na primeira metade da temporada, enfim chegou o momento hegemônico. Aniquilando adversários, ou precisando de viradas nos últimos minutos, construíram uma sequência impressionante de vitórias, concretizando a profecia (quer dizer, parte dela, afinal LeBron falava em não apenas um, como múltiplos títulos). Nesta quarta-feira, o time vai a Chicago enfrentar o pretenso arquirrival Bulls (sem Rose? sem Noah? sem Hinrich?). No domingo, talvez o maior desafio: o San Antonio Spurs. Depois, o Knicks em casa.

Há todo um suspense agora para ver se o recorde vai ser igualado ou batido. Mas o mais importante, para Riley, talvez seja ver que, depois de tantas distrações, LeBron James e seu Miami Heat agora só estão concentrados, mesmo, em vencer.

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LeBron

LeBron James contra o enfraquecido Orlando Magic

Jerry West, sujeito que era um maníaco em quadra, extremamente competitivo, hoje não liga se o seu recorde de vitórias seguidas será derrubado. Até Bill Russell deve ter ficado abismado de ver seu velho inimigo admirado pelo que vem acontecendo. ''Acho que faz bem para a liga. Estou animado por meu amigo, Pat Riley, ser capaz de replicar isso agora como um executivo. Mas é mais especial como um jogador'', afirmou. O Logo, então, cogitou que o Miami pode não perder mais nenhum jogo até o final da temporada, o que seria um fenômeno completamente absurdo. ''Pode não ter um fim. E isso que acho notável. Olho para a tabela deles e vejo um time ali que é excelente, obviamente o Spurs. Esse seria um jogo que me preocuparia, jogando em San Antonio, e eles vão ter Tony Parker de volta por lá.''

Por outro lado, só não peçam para West comparar diretamente o que o Lakers fez com o que vem acontecendo com o Heat. E faz sentido. Muita coisa mudou: antigamente, se viajava na classe econômica, como passageiros regulares em aviões menores. Hoje, os clubes têm seu próprio jato. Salário, regalias, preparação física, estrutura de scout e comissões técnicas, uma infinidade de coisas evoluíram.

Há também a questão sobre o produto apresentado em quadra. LeBron já apontou o fato de que, em 1972, a NBA ainda não reunia todos os melhores talentos dos Estados Unidos, já que enfrentava a concorrência da ABA, liga com a qual iria se fundir alguns anos mais tarde. Hoje os jogadores são muito mais atléticos também e todo o aparato de estudo do jogo pode facilitar ou dificultar a vida de qualquer craque. Por outro lado, talvez a mesma NBA hoje tenha jogadores até demais. ''Li um comentário um dia desses dizendo que a liga hoje é muito melhor do que naqueles tempos. Pode ser o caso. Mas vejo alguns times bem pobres por aí'', afirmou West. Ele não citou ninguém, mas nenhum torcedor de Bobcats, Kings, Pistons e Suns vai se fazer de desentendido. ''Vejo muitos jogadores na liga que não são nada bons. A expansão diluiu o talento. Então é difícil juntar muitos bons jogadores em um time hoje. E aí que você tem de dar muito crédito ao Pat e ao Heat. Eles juntaram três jogadores que a maioria dos times não tem. Dois deles são All-Pro. Não acontece muito'', completou. Gostou, Chris Bosh?