Técnico do Grizzlies faz apelo para clube segurar Rudy Gay e pede calma com estatísticas
Giancarlo Giampietro
O Memphis Grizzlies está entre os melhores times da Conferência Oeste e de toda a liga, mas isso não impede que os rumores de possíveis trocas não rondem a franquia. Para desespero do técnico Lionel Hollins.
Na semana passada, começou uma forte especulação de que o ala Rudy Gay estaria disponível no mercado. Aí vocês sabem o que acontecem, né? Não demorou muito para que uns dez clubes demonstrassem algum tipo de interesse, desenhando então aquele ciclo vicioso: supostas propostas, supostas negações, comentários de jogadores sobre a boataria, um dirigente que fala anonimamente para colocar fogo na brasa, e lá vamos nós.
Hollins só quer que deixem seu time em paz. Pediu publicamente a sua nova diretoria que deixem o Grizzlies jogar até o final do campeonato e que tenham a chance de lutar pelo título com o que têm hoje em mãos – uma base muito sólida e entrosada, com um dos melhores quintetos titulares da liga.
O que pega é o seguinte: a franquia trocou de dono no ano passado e, aos poucos, a nova gestão vai arregaçando as mangas. O ex-agente Jason Levien assumiu o controle das operações de basquete e surpreendeu quando contratou o ex-analista da ESPN e supernerd John Hollinger como seu vice-presidente. Era de se esperar que tanto o gerente geral Chris Wallace como o treinador ficassem em uma situação desconfortável a partir daí.
Se o time liderado por Levien está realmente empenhado em trocar Gay é uma informação que oficialmente ainda não está confirmada. A motivação por uma eventual troca se justificaria na redução de folha salarial futura – algo que, preparem-se, vai ser um tema recorrente para muitos times nos próximos dois anos, quando as punições para aqueles que extrapolam o teto salariam ficarão bem mais severas. Segundo os jornalistas locais, eles só topariam fazer uma transação caso recebessem jogadores jovens, bons e baratos em troca, com a intenção de manter o time competitivo e, ao mesmo tempo, sanar suas finanças.
O ala teria mais de US$ 50 milhões para receber nos próximos três anos e sua produção não justificaria esse salário colossal.
Só não digam isso a Hollins. Para ele, a importância de seu jogador vai muito além dos números.
Rudy Gay sempre chamou a atenção da, digamos, comunidade da NBA por seus atributos atléticos. É um ala de 2,05 m de altura, esguio e extremamente ágil, com uma impulsão de deixar muitos concorrentes com inveja. Bem dirigido, orientado, pode fazer desses atributos um pesadelo na defesa. ''Não há muitos caras lá fora desse jeito. Ele pode atacar de costas para a cesta, arremessar do perímetro e pode bater de frente. Ele marca o LeBron James, ele marca o Kevin Durant e todos esses caras que são altos, fortes, rápidos e atléticos. Não temos outro jogador em nosso elenco com sua versatilidade. A maioria dos times não tem. Ponto final'', afirma Hollins.
Depois de avaliar o que o ala oferece a sua equipe, o treinador, então, desviou sua artilharia para criticar a fixação por estatísticas que vem tomando conta, no seu entender, da liga. Ele não se coloca exatamente contrário ao uso de dados complexos como suporte ao time, mas acredita que eles não são tão importantes assim para se construir um conjunto vencedor.
''Nós nos apoiamos muito em estatísticas, e acho que isso é uma tendência ruim'', diz. ''Os números têm seu lugar. Só não podem ser um fim em si mesmo. Ainda estou tentando descobrir quando o Oakland Athletics venceu um campeonato com toda a análise estatística que eles têm. É preciso de talento. Não importa o que fulano diga, há jogadores que fazem seu trabalho nos últimos seis minutos e há jogadores que fazem isso no primeiro quarto. Quando estamos falando de grandes arremessos, há apenas alguns caras que vão arriscar, que vão querer arriscar e têm a bravura e a coragem para isso. Porque você enfrenta muitas críticas quando erra o chute. Você tem de ser forte mentalmente e corajoso para arriscar esse chute.''
Opa. Certamente John Hollinger não ficou tão animado dom as declarações do treinador.
Como o dirigente novato reage a isso e o que sua trupe vai fazer com Rudy Gay pode ter um impacto decisivo na briga pelo título, em meio a uma disputa acirradíssima no Oeste.
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Nesta temporada, para o deleite de Hollins, o Grizzlies demoliu um resumo estatístico (mas de outra natureza, ok). Foi em um confronto contra o Miami Heat, vitória por 104 a 86, em casa.
O Heat havia preparado seu plano de jogo com o que apontava o scout: teoricamente, os rapazes de Memphis não matariam muitas bolas de três pontos, então que se concentrasse a defesa no jogo interior. Resultado? O time da casa encaçapou 14 chutes de fora em 24 tentativas (58,3%). Foi a maior quantia que o time teve em 345 partidas. ''Eles são praticamente os últimos em cestas de três pontos ou em tentativas de três'', disse LeBron na ocasião. ''Pagamos por isso hoje. Eles arremessaram muito bem.''
O ala Wayne Ellington, em especial, foi a grande surpresa daquela noite, marcando 25 pontos em apenas 27 minutos, matando sete de 11 chutes de fora. Ouch. ''Acho que Ellington não vai conseguir mais entrar sem ser notado pela porta de trás'', disse Chris Bosh. ''Não sabia que ele poderia chutar desta maneira. Agora sabemos.''
Tem vezes que realmente os números e o scout não vão servir para nada. 🙂
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Agora uma estatística curiosa que Hollins certamente não vai se incomodar em ver: o Grizzlies desfruta de um sucesso incomum diante do Miami Heat, tendo batido o time da Flórida em três de quatro confrontos desde que LeBron e Bosh foram contratados em 2010. Taí um rival que os atuais campeões não querem ver nem de longe em uma eventual final.