Nenê perde a paciência em Washington e diz que companheiros desrespeitam o basquete
Giancarlo Giampietro
A palavra-chave que elegemos para o pivô Nenê na temporada 2012-2013 foi bem simples: paciência. Mal chegamos ao fim de dezembro, e ela já se esgotou. O Washington Wizards não para de perder, e o brasileiro não está nada – e nem poderia ficar – contente com isso.
Em entrevista ao NBA.com, Maybyner Rodney Hilário detonou seus companheiros de equipe, acusando, digamos, a falta de noção de boa parte do elenco, algo que contribuiria muito para o que se passa na franquia sediada na capital norte-americana.
A fase… Bem, já que os caras, desde 2008, só apanham, melhor recomeçar: A vida é tão ruim para os basqueteiros nas vizinhanças de Obama que até o Detroit Pistons se esbalda contra eles. O clube da Motown tinha seis derrotas consecutivas e 21 reveses em 28 partidas até se deparar com uma combinação de “home-and-home” – um jogo lá, outro cá em dois dias– contra o Wizards. Conseguiu duas vitórias, sendo a primeira delas por 32 pontos. Argh.
Aí chega, né?
Com o pé esquerdo novamente atolado num balde de gelo, o joelho também sob tratamento e, segundo o renomado jornalista David Aldrige, os olhos marejados, o pivô não aliviou em nada no bate-papo. Disse que seu time está completamente desarticulado em quadra. “Quando você joga com confiança, com união, é diferença. Você sente que seus companheiros o conhecem e você dá o seu melhor. Mas, aqui e agora, é o oposto que acontece. Totalmente o oposto”, disse o paulista de São Carlos.
“As pessoas não têm o menor respeito pelo jogo. Eles acham que esta oportunidade (que têm) não é nada. Esse é o problema com os jovens jogadores: eles não aproveitam o fato de estarem na NBA, no melhor basquete do mundo. Muitos caras gostariam de estar nessa posição. Mas não acho que se deem conta disso aqui.”
Com seu contrato polpudo e a experiência de jogar já sua 11ª temporada na liga, Nenê teria de cumprir um papel de líder no Wizards. Porém, limitado pela fascite plantar que não vai embora, vendo o armador John Wall ainda afastado e sem perspectiva de retorno, ele constata que todo seu esforço, colocando sua saúde em risco, está sendo em vão.
Convenhamos que, mesmo se estivesse inteirão, a vida de capitão não combina muito as características do veterano, um cara sempre reservado. Não seria agora, então, diante do caos que perdura na franquia, que ele pegaria um Jordan Crawford ou um Jan Vesely pelas mãos para ensinar nada. Preferiu apenas encarar a dor e jogar, esperando que o restante do elenco entenda o que está acontecendo. O acúmulo de derrotas e o fato de jogar no sacrifício só empurraram o brasileiro para o outro lado. Em vez de vir com palavras encorajadoras, Nenê preferiu descer a marreta.
Compreensível: a cada rodada que se passa a extensão contratual que o gerente geral Ernie Grunfeld recebeu em abril deste ano parece mais absurda. O clube tem saldo negativo de 8,6 pontos. Venceu apenas três de seus primeiros 25 jogos. Caminha para sua quinta temporada seguida com menos de 30 vitórias. “Meu trabalho é dar duro e fazer o meu melhor na quadra de basquete. Essa responsabilidade (de tratar com os jogadores) é da direção e do técnico. Mas alguém tem de falar com eles'', disse.
Não há muito mais o que ele pudesse fazer além de tentar liderar por exemplo. Também não é realmente o tipo de situação que valha o sacrifício a que está se submetendo.
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Boas festas aos corajosos que acompanham o blog. O ritmo de publicação será retomado nesta semana. Espero que tenham gostado dos textos do Rafael Uehara durante o mês. Não percam o que ele escreve também no The Basketball Post.