Em seu décimo ano na NBA, Carmelo diz entender que precisa passar a bola
Giancarlo Giampietro
Tem sempre aquele papo de que, num belo dia, o sujeito acorda e dá de cara com sua epifania. Aconteceria num estalo, e que a partir daí as coisas – todas elas – ao seu redor passariam a fazer sentido. O sujeito teria encontrado seu propósito no mundo.
Para constar: ainda estou aguardando a minha. 🙂
Mas essa bobagem toda é só para dizer que Carmelo Anthony, aos 28 anos, parece enfim ter encontrado o seu caminho na NBA. Pelo menos é o que ele afirma neste início de pré-temporada, claro.
O ala do Knicks chegou ao training camp decidido: ele agora sabe que não precisa mais fazer uma enorme quantidade de pontos numa partida para que sua equipe tenha sucesso. E, na sua décima temporada na liga, fez-se a luz.
''Estou no meu décimo ano. Todo mundo sabe muito bem que eu posso colocar a bola na cesta. Mas, para me desafiar e para instaurar a confiança nos meus companheiros, para que eles se se sintam confiantes na hora de arremessar e de que também podem fazer cestas, não vou mais tentar marcar 35 ou 40 pontos para vencer um jogo de basquete'', afirmou Melo.
''Não quero mais esse papel. Sei que posso fazer. É o que faço. Mas, para essa equipe ter sucesso, pelos caras que temos agora, precisamos de um time mais entrosado, envolvido. Se tenho que sacrificar no ataque, estou disposto a isso. É fácil para mim sentar aqui e dizer isso. Mas neste ano estarei focado como o líder desta equipe'', continuou.
Muito bonito, né?
Obviamente o discurso de Carmelo faz todo o sentido do mundo. Mas a ironia aqui fica por conta da demora: você precisa de nove temporadas completas para se dar conta de que talvez seja uma boa ideia passar a bola e envolver o resto?
Antes que tenha qualquer mal-entendido, o ala completa: ''Não estou dizendo que não vou fazer cestas. Não tire isso do contexto''.
Tuuuudo bem. Mensagem assimilada.
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Segundo Carmelo, sua experiência pela seleção norte-americana nas Olimpíadas o ajudou a colocar as coisas sob perspectiva. Interessante, não tivesse o ala já participado dos Jogos de Pequim-2008, dividindo a bola com LeBron, Kobe, Wade, Deron, Chris Paul, Howard e toda a cavalaria. A equipe do Coach K já funcionava sem egoísmo quatro anos atrás. Demorou para cair a ficha.
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O sucesso do Knicks nesta temporada depende do entrosamento entre Anthony e o ala-pivô Amar'e Stoudemire. Os dois cestinhas, que realmente nunca foram muito de passar a bola, ainda não se entenderam em quadra. Na temporada passada, muitas vezes a alta produção de um significava um jogo fraco do outro. Pois a dupla se habituou a decidir partidas apenas com a bola em mãos, partindo para a cesta. Mas basquete é muito mais que isso.
Ainda assim, Stoudemire se mostra otimista: ''Primeiro, as pessoas não percebem que no primeiro ano que jogamos juntos, tivemos uma troca enorme, perdemos seis jogadores e ganhamos outros seis com os quais nunca havia atuado antes. No ano do locaute, começamos devagar e tivemos uma mudança de técnico no meio da temporada. Este ano é que vai ser um grande teste para nós, com uma preparação completa com a mesma comissão técnica. Vamos ter um ano inteiro e vai ser um grande ano para nós'', afirma.
A presença de Jason Kidd, mesmo com sua mobilidade muito limitada, pode ser uma influência positiva para que isso aconteça.
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A maior média de pontos da carreira de Carmelo Anthony foi de 28,2 pontos em 2009-10. Pelo Knicks, no último campeonato, ele já tinha abaixado sua contagem para 22,6. Foi o resultado de uma queda no aproveitamento de arremessos tanto de curta como longa distância, mas também no aumento de posses de bola que dedicou a assistências (21%, contra 15,3% e 14,3% dos dois anos anteriores, por exemplo).
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Relembre Carmelo dando um susto nos visitantes de um museu de cera nova-iorquino: