Queridinho da América dá sua última cartada para tentar voltar à NBA
Giancarlo Giampietro
Em 2005 e 2006, Adam Morrison foi um dos queridinhos da América. Com estilo hipster e muitas, mas muitas cestas, ele colocou a cidade de Spokane, sede da universidade de Gonzaga, láaaa no Noroeste dos Estados Unidos, no mapa esportivo do país.
Hoje, seis anos depois, ele afirma ter dado, na liga de verão da NBA de Las Vegas, sua última cartada para seguir no basquete profissional. O que aconteceu para seu conto de fadas chegar a esse ponto?
Bem, longa história.
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Começando pelo conto: em sua temporada de junior (terceiro ano no College), 2005-2006, marcou 28,1 pontos por jogo e foi o cestinha de todo o basquete universitário. Por cinco vezes, quebrou a barreira dos 40 pontos, algo considerável na competição, mesmo se fosse contra adversários não tão respeitáveis.
Chamava atenção seu estilo de velha escola, com uma habilidade para acertar arremessos de todos os pontos da quadra, mesmo sem ser o mais explosivo ou atlético, longe disso. O cabelo era volumoso, com a franja estendida por toda a testa, o bigode, ralo, as meias escuras ficavam estiradas até a canela, num visual incomum para jovens de sua geração. Para completar seu status cult, também ajudavam bastante injeções de insulina que podia receber até mesmo no banco de reservas para controlar a diabete, diagnosticada aos 13 anos.
Seus feitos ocupavam manchetes pelo país e dominavam o noticiário dos canais esportivos nas TVs fechadas. Era um darling, mesmo. A cena em que desaba na quadra, chorando muito, após uma derrota para UCLA nos mata-matas da NCAA, gerou muita repercussão. Uns elogiavam sua paixão pelo jogo, outros questionavam se ele era forte mentalmente para seguir adiante.
Em 2006, pulando seu último ano universitário, foi draftado em terceiro pelo Charlotte Bobcats. Michael Jordan, que havia acabado de assumir o controle das operações de basquete da franquia, dava seu aval.
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Uma vez na NBA, o choque de realidade foi embaraçoso. Morrison tinha séria dificuldade para marcar seus oponentes, geralmente muito mais ágeis e mais fortes, penava para bater os 40% no aproveitamento de arremessos de quadra. Terminou o ano de calouro na reserva e mal-afamado. No início de sua segunda temporada, para piorar, sofreu uma grave lesão no joelho, perdendo todo o campeonato. Em 2009, foi trocado para o Lakers.
Com Phil Jackson, foi bicampeão da NBA, mas mal saía do banco, enquanto o ala Shannon Brown, que o acompanhou na transação e nada badalado, se tornava uma peça importante na rotação. Em 2010, foi dispensado pelo clube californiano.
Virou piada para os jornalistas, sempre lembrado como o caso de alguém que havia fracassado na liga. Desde então, tenta regressar sem sucesso. Jogou pelo Estrela Vermelha, na Sérvia, onde foi bem. Quando se transferiu para o Besiktas, da Turquia, voltou a se afundar na reserva, rompendo seu contrato em fevereiro deste ano.
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“Estou aqui para ver se algo pode acontecer”, afirmou Morrison, antes de disputar a Summer League de Las Vegas pelo Los Angeles Clippers. Em Orlando, ele jogou pelo Brooklyn Nets. “Se eu jogar bem, talvez eu ganhe uma chance aqui ou talvez por outro time da NBA.”
Se não der certo? Ele descarta voltar para a Europa. “É muito longe e tenho duas filhas agora. Estou muito certo de que se nada acontecer agora, provavelmente eu irei para casa, concluirei meu curso (administração esportiva) e vou virar um técnico. Há um certo prazo para você perseguir algo. Se não der certo, então é hora de seguir em frente.”
Neste domingo, naquele que pode ter sido, então, seu último jogo como um profissional de basquete, ele marcou 26 pontos em 29 minutos contra o Celtics de Fabrício Melo. Converteu 9 de seus 15 chutes de quadra, quatro em seis de três pontos. Foi aplaudido pelos torcedores e até ouviu gritos de “M-V-P”. Mesmo que de brincadeira, gostou. “Nos últimos seis anos, eu fui só vaiado. Então foi bom isso”, afirmou.
Em Vegas, ele anotou 20 pontos por partida, com 55,1% nos chutes de quadra e incríveis 61,9% nos três pontos. “Só queria mostrar para as pessoas que posso jogar. Muito foi dito sobre mim, de que sou apenas um reserva, o que entendo”, afirmou. “Mas vim para cá muito por orgulho, para mostrar o que posso fazer. Se não der certo, posso dizer que estou feliz pelo que fiz e mudarei para algo diferente”.
Será que é o fim da linha ou a América se mostrará como aquela terra de segundas chances para o ala?
No Clippers, pode ser difícil, depois da contratação de Grant Hill e Jamal Crawford. Mas talvez haja algum clube por aí empenhado em testá-lo. A história precisa, realmente, de um final.