A Rússia no grupo do Brasil. E aí?
Giancarlo Giampietro
Difícil encontrar metáfora que me satisfaça mais do que a do copo meio-cheio x meio-vazio.
Vamos apelar a essa sabedoria popular, então, para falar sobre o ingresso da Rússia no grupo da seleção brasileira masculina nos Jogos de Londres-2012.
A versão otimista da coisa, em que ainda tem muita coisa no copo, é a seguinte: seria uma possibilidade a menos de rival forte do outro lado para enfrentarmos numa eventual oitavas de final. A pessimista, em que o copo já está acabando: crescem as chances de ficarmos em quarto ou até mesmo sermos eliminados na fase de grupos.
Pensando bem, em termos da versão otimista, não tem muito alívio: digamos que passem EUA em primeiro e, em alguma ordem entre segundo e quarto, Argentina, França e Lituânia. Ter a Rússia, ou não, neste apanhado, não faz diferença nenhuma. Por outro lado, com os caras na nossa chave, já está garantido mais um adversário chato de cara. E segue o que disse Magnano ao Basketeria antes de saber qual seria o adversário: ''Se você me der para escolher, eu preferiria indubitavelmente Nigéria ou República Dominicana do que Rússia ou Lituânia''.
Agora… Para conquistar medalha em Olimpíada não dá para esperar vida fácil, mesmo. Tem de bater Rússia, Argentina, Lituânia, Grécia, ooops, Nigéria, qualquer coisa desse nível. Não tem como fugir disso.
Pelo que observamos do time de David Blatt neste Pré-Olímpico mundial e no último europeu, destacamos o seguinte:
– Por mais que Alexey Shved tenha evoluído horrores, ele ainda não está pronto para ser um armador principal solitário em quadra, e a marcação forte que Magnano vem instaurando na seleção pode surtir efeito; Anton Pronkashov é uma máquina de turnovers e Vitaly Fridzon é um combo guard muito melhor chutando de três do que para armar para os outros. O ideal é pressionar bastante com uma defesa adiantada, pensando nos dois sujeitos que vêm abaixo.
– Uma vez que a Rússia se estabelece no ataque, boa parte de sua criação de jogadas se oncentra no ala Viktor Khryapa, que é capaz de acumular linhas estatísticas dignas dos bons tempos de Boris Diaw na NBA, com um pouco (ou muito) de tudo: rebotes, assistências, pontos, tocos e bloqueios. Varejão, Splitter, ou qualquer grandão que sobre com ele vai precisar de cuidado, porque o russo costuma operar muito bem da cabeça do garrafão, bem distante da cesta, organizando o jogo.
– Andrei Kirilenko, bobagem apresentá-lo, é o outro ala e, ao lado de Khryapa, oferece uma combinação muito interessante. Os dois circulam bastante pelo perímetro interno, e fica difícil de segui-los. De novo o cuidado requerido para os nossos pivôs, que são ágeis para enfrentar Sasha Kaun e Timofey Mozgov, mas não tão rápidos para seguir um dínamo como AK-47. Por isso, dá para imaginar Guilherme Giovannoni e Marquinhos com um longo tempo de quadra nesse confronto.
Eles têm tradição, mas o Brasil histórico também tem. A barra fica mais pesada, mas isso também não quer dizer que já não estava. Dá um bom jogo, desde que nossos rapazes atendam bem ao que o argentino pede do lado de fora da quadra.