Vinte Um

Arquivo : Scola

E o professor Scola deu uma aula na molecada canadense da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Mais uma exibição histórica de Scola pela Argentina

Mais uma exibição histórica de Scola pela Argentina

O professor Luis Alberto Scola, 35 anos, resolveu ensinar a molecada canadense que, no mundo Fiba, as coisas podem ser mais complicadas do que se espera. Nesta terça-feira, essa verdadeira lenda argentina marcou 35 pontos e pegou 13 rebotes, em 34 minutos, e liderou uma estrondosa vitória por 94 a 87 sobre a geração NBA de uma potência emergente.

>> Brasil vence a República Dominicana, com 8 minutos de ótimo basquete

Só no terceiro período, quando os jovens adversários começavam a se empolgar, foram 18 pontos, para deixá-los perturbados. Dá para dizer que, diante do volume de jogo impressionante do veterano, a seleção norte-americana se desestabilizou um pouco e teve de correr atrás do placar no quarto período.  Simplesmente não sabiam o que fazer contra o craque.

Foi um pouco de mais do mesmo do ponto de vista brasileiro, um tanto castigado por tantas surras que Scola nos aplicou. Um terror por toda a zona interior, atacando de frente e de costas para a cesta, com fintas para todos os lados, a munheca infalível e muita inteligência. É algo que sempre me maravilha e não consigo responder: o que é mais sensacional em seu jogo? A habilidade ou o instinto? São os fundamentos que permitem ele tomar decisões inesperadas pelos defensores, ou é a tomada de decisão que facilita a execução? Não importa. Os dois andam juntos e, com isso, temos uma figura legendária para acompanhar. Agora contratado pelo Raptors, é de se imaginar o quão calorosa será sua recepção em Toronto, né? ; )

Para os jovens canadenses, como Anthony Bennett, Kelly Olynyk, Andrew Nicholson e Dwight Powell, todos eles concorrentes na grande liga, era algo novo. Pelo Rockets, pelo Suns ou pelo Pacers, o argentino que eles conheciam era outro jogador, mais comedido. Daí que era até engraçado quando o veterano errava um arremesso e, segundos antes de a bola bater no bico, já estava de prontidão para coletar o rebote e encestar, num mesmo movimento, deixando atletas mais altos e/ou mais ágeis para trás, sem entenderem o que acontecia direito. E quando Scola puxava contra-ataque sem que ninguém se aproximasse deles, com os oponentes demorarem para persegui-lo, já apressados.

Correr, aliás, foi algo que o Canadá tentou fazer, para se aproveitar de sua condição atlética e tentar, quem sabe, cansar o pivô rival. Mesmo depois de cestas argentinas, o time de Jay Triano tentou acelerar em transição. Acontece que nossos vizinhos ao Sul estavam preparados para conter essa correria, por mais que os armadores Cory Joseph e Phil Scrubb rompessem, vez ou outra, a defesa para atacar o aro. Foram 12 pontos em contragolpes para eles.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

No geral, porém, a Argentina refreou como podia o arranque e o vigor físico deles, somando inclusive 14 pontos em sua transição e ainda vencendo a batalha dos rebotes por 45 a 39. Também soube cuidar da bola, limitando seu ataque a apenas nove turnovers. Mesmo com um conjunto também bastante renovado, a Argentina jogou com intensidade e maturidade.

Ajuda ter líderes como Scola e Andrés Nocioni (15 pontos e 5 rebotes) ao lado, obviamente. Os dois causam um impacto imenso, cuidando de pequenas coisas em quadra com atenção e esmero. Também é preciso dizer que o time de Sérgio Hernández não é só Scola+Chapu contra a rapa. A começar pelo técnico, que vai fazendo um trabalho bem mais interessante que o de Julio Lamas. Pode parecer bobagem, mas o “Ovelha” foi influente até mesmo ao saber esfriar os canadenses com pedidos de tempo providenciais quando as enterradas e bolas de três sucediam. O mais importante, porém, é seu trabalho para captação de talentos e saber como usá-los. Contra os canadenses, o treinador armou um ataque todo espaçado para dar centímetros e segundos preciosos para seu grande jogador atacar.

O camisa 4 usou todo o seu repertório, mas não viu, surpreendentemente, muitas dobras defensivas, pois havia ameaça no tiro exterior — a despeito do aproveitamento de 5-29, 26%. Além disso, temos na Cidade do México uma equipe em que cada um conhece seu papel e vai executando suas obrigações de modo competente. O universitário Patricio Garino se encaixou perfeitamente ao lado dos campeões olímpicos com sua aplicação tática. Ótimo marcador, atacante oportunista e que não tenta fazer o que está além de suas capacidades. Depois de campanhas muito ruins, Leo Mainoldi acertou a munheca. Tayavek Gallizzi soube peitar os canadenses para dar alguns minutos de descanso aos veteranos.

A maior ajuda, mesmo, veio dos armadores. Nícolas Laprovíttola teve uma atuação que já deixa o torcedor flamenguista saudosista — e os dirigentes do Lietuvos Rytas, para onde está indo, bastante animados. Foram 20 pontos, 4 assistências e 4 rebotes em 21 minutos para o barbudo, que foi realmente dominante quando esteve em quadra. Já Facundo Campazzo, que pouco jogou pelo Real Madrid durante a temporada, anotou 10 pontos, seis assistências em 18 minutos. Juntos, eles acertaram 12 de 17 arremessos de quadra, agredindo e sem forçar a barra. Talvez os canadenses pudessem ter tentado uma pressão maior para cima dos armadores. Mas talvez isso não fizesse a menor diferença. Foi uma grande exibição da dupla.

O espevitado Brady Heslip, que, guardadas as devidas proporções, seria um jovem Juan Carlos Navarro canadense, bem que tentou fazer frente a eles do outro lado da quadra. Com uma mentalidade agressiva e sua mecânica perigosíssima, não deixou a coisa desandar para valer e conseguiu tirar seu time do sufoco em situações de meia quadra. Ele que é justamente um dos três atletas do grupo de Jay Triano que hoje não têm contrato com a NBA.

Andrew Wiggins teve seus lampejos, com direito a uma enterrada para cima de Nocioni, com direito a uma audaciosa encarada na sequência. Imagino o desespero de Flip Saunders ao ver a provocação de seu jogador, que é muito jovem e talvez não soubesse exatamente com quem estava mexendo. O rapaz tinha apenas 9 anos de idade quando Chapu estava recebendo sua medalha olímpica. Wiggins também ainda não é um ala que possa criar situações por conta própria e carregar uma equipe nesse tipo de jogo.

Dos mais experientes da equipe, Kelly Olynyk foi engolido por Scola na defesa — neste ponto, o técnico Jay Triano de um caldeirão de sopa para o azar ao confiar no ala-pivô para segurar a lenda argentina no mano a mano. No ataque, voltando de lesão, o cabeleira do Celtics se não teve a melhor leitura de jogo, chutando quando tinha espaço para atacar e cortando para a cesta quando o garrafão estava congestionado. Brigou lá embaixo, é verdade, terminando com 11 pontos, 10 rebotes e mais 4 assistências para os companheiros. Mas errou 0 de seus 13 arremessos, em 23 minutos, falhando em todas as suas quatro tentativas do perímetro.

O Canadá não fez uma partida ruim, para assustar. Mas acabou acusando o golpe desferido por Scola e seus amigos baixinhos. Agora vai ter se recuperar rapidamente. Eles ainda têm Porto Rico, Venezuela e Cuba pela frente, após uma derrota que não é nenhum absurdo, mas não estava nos planos de uma seleção considerada a grande favorita ao título e a uma das vagas olímpicas. Por sorte, o próximo jogo é contra os cubanos, o que tende a ser um treino. Esse, sim, o tipo de jogo que não tende a passar nenhuma lição.


Real acaba com jejum na Euroliga e consagra Nocioni
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

andres-nocioni-mvp-real-madrid-champ-euroleague-2014-15-final-four-madrid-2015-eb14

O Chapu primeiro jogou como um garoto. Depois, comemorou muito e chorou

“Basquete não é só arremessar, passar, driblar… Basquete também é ter coração. E ele tem um coração enorme.”

Em quadra, fazendo de tudo para conter as lágrimas, com tanto o que desabafar, foi com essa frase que o técnico Pablo Laso explicou a importância de Andrés Nocioni para a conquista do título da Euroliga pelo Real Madrid, a tão aguardada novena do clube, com vitória por 78 a 59 sobre o Olympiakos. A nona taça continental, aumentando sua distância para os demais concorrentes, como o maior campeão da competição. Foi uma definição perfeita para resumir o que havia acabado de testemunhar na cabine do Sports+, ao lado dos companheiros Maurício Bonato e Ricardo Bulgarelli.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

O Chapu foi para a quadra tanto na semifinal como na revanche deste domingo, com intensidade e garra absurdas, fazendo coisas que parecem impossíveis para alguém que beira os 36 anos. A correria desenfreada na transição defensiva, alguns atropelos rumo ao rebote e um par de tocos em que alcançava a bola no segundo andar. Quem poderia dizer que ainda tinha essa energia toda dentro de si? Ele estava por todos os lados, parecendo o ala de 11 temporadas atrás, quando escoltava Manu Ginóbili e Luis Scola rumo ao ouro olímpico em Atenas. Foi como se realmente tivesse voltado no tempo e recuperado uma energia de garoto. Ele realmente queria o título continental. Não só o garantiu, como também acrescentou ao seu currículo o título de MVP do Final Four.

“Você se sente satisfeito porque há muitas e muitas horas de trabalho para chegar a esse ponto, com muita dor no joelho, dor no no tornozelo, todos os dias, e tudo por isso, para uma conquista dessas”, afirmou o argentino, que terminou a etapa decisiva da Euroliga com médias de 12,0 pontos, 6,5 rebotes, 1,5 assistência e 1,5 toco. Números modestos, não? Que de modo algum vão quantificar o impacto que o veterano teve em quadra pelo Real, saindo do banco. “Ele é um veterano, mas ao mesmo tempo nos demonstrou ser jovem”, diz Rudy Fernández. “Essa força que tem na quadra nos deixa todos mais confiantes. Acontece logo de cara, quando vemos que o Chapu está jogando bem.”

O que nos remete a seus primeiros dias como jogador merengue, tendo chegado para simplesmente cobrir a saída de um craque como Nikola Mirotic, aquele que, taticamente, era o grande diferencial da equipe – um ala-pivô com habilidade para produzir dentro e fora, muito mais ágil e talentoso que a maioria dos atletas com quem duelava na Europa, talento que a NBA pôde admirar em seu primeiro ano de Chicago Bulls. Muitos, aliás, poderiam estranhar a opção por sua contratação. Afinal, era um perfil totalmente diferente. E que, por melhor que estivesse jogando pelo Baskonia, já está em reta final de carreira, torcendo para que não fosse a campanha em que, após anos e anos de batalha, estivesse quebrado. O argentino simplesmente dizia: não vou me equiparar a Mirotic em técnica, mesmo, mas talvez possa oferecer combatividade, aspereza e fibra ao time. Depois da festa no vestiário, confirmou a tese aos jornalistas presentes: “Foi para isso que vim aqui”.

É, pois é.

Georgios Printezis, também um leão ao seu modo, Brent Petway, Bryant Dunston, Othello Hunter… A linha de frente toda do Olympiakos pôde ver o quão combativo o Chapu ainda pode ser, entregando tudo o que tinha em quadra por um título inédito em seu currículo. Um troféu que Manu Ginóbili conquistou antes de se mudar para San Antonio, mas que Luis Scola não tem em sua coleção. Essa dupla vai ser sempre a referência quando formos pensar da geração dourada argentina, não tem jeito. São os craques da técnica, da definição dos pontos. O título da Euroliga e um raro prêmio individual, porém, vêm numa ótima hora, no ocaso de sua carreira, para se elevar o status de Nocioni – ele também é um craque ao seu modo, um craque de coração.

Algumas fotos da comemoração do argentino, com certa indiscrição:

Via Twitter do tampinha Facundo Campazzo. A legenda do armador falava alguma coisa sobre... Huevos

Via Twitter do tampinha Facundo Campazzo. A legenda do armador falava alguma coisa sobre… Huevos

Campazzo, de novo. Depois, Nocioni lembraria um selinho em Leo Gutiérrez durante a conquista do ouro olímpico em Atenas e brincaria: meu primeiro e meu segundo amor. Campazzo não jogou a final, mas foi listado pelo técnico Pablo Laso para a partida. É campeão da Euroliga.

Campazzo, de novo. Depois, Nocioni lembraria um selinho em Leo Gutiérrez durante a conquista do ouro olímpico em Atenas e brincaria: meu primeiro e meu segundo amor. Campazzo não jogou a final, mas foi listado pelo técnico Pablo Laso para a partida. É campeão da Euroliga.

Sai ovacionado de quadra. A galera toda gritando "Chapu". Até o Rei Felipe nessa : )

Sai ovacionado de quadra. A galera toda gritando “Chapu”. Até o Rei Felipe nessa : )

O selfie básico

O selfie básico

*   *   *

Se um grande campeão precisa passar por grandes provações, testes, o Real Madrid  seguiu o script à risca. O time havia batido na trave nas últimas duas finais, entrando para a decisão sempre como favorito. A gestão Florentino Pérez deu atenção especial ao departamento de basquete e liberou os cofres para fazer grandes contratações. O elenco deste ano conta com nove atletas que jogaram a última Copa do Mundo e mais dois americanos de ponta no mercado europeu. Uma versão dos galácticos, por assim dizer. Tudo para acabar com o jejum de títulos europeus, que durava desde 1995. Com dois fiascos seguidos, imagine a pressão para cima de Pablo Laso, não importando o nível de basquete apresentado durante a temporada regular. Na campanha passada, houve um momento que sua equipe era, para mim, a melhor do mundo. Um estilo vistoso demais e avassalador em sua execução. De nada adiantava. Muita gente queria sua cabeça em meados de junho, julho. Pois o técnico sobreviveu e foi premiado com o título. Mesmo que não estivessem mais encantando como antes, foi algo justo. Não é lá muito fácil concordar com um ala enjoado como Rudy Fernández, mas ele tem razão ao dizer: “O basquete nos devia algo assim. Obrigado a todos que confiaram em nós”.

pablo-laso-real-madrid-final-four-madrid-2015-eb14

*    *    *

Se houvesse como dar um prêmio de Co-MVP, ele deveria ser entregue a Jaycee Caroll. Aliás, os estrangeiros todos do Real roubaram a cena em Madri, para aliviar a barra das estrelas e queridinhos nacionais. Sergio Llull foi muito bem nesta decisão (com 12 pontos, 4 assistências e ótima defesa para cima de Spanoulis), mas Rudy Fernández, Sérgio Rodríguez e, principalmente, o capitão Felipe Reyes estiveram muito abaixo do esperado, visivelmente tocados pela pressão da final em casa. Carroll já parecia jogar um rachão, colocando em prática seu arremesso indefectível. Tem aquela munheca que lança a bola com um tanta rotação que, quando há um contato com a rede, parece que ela vai se enganchar, ou causar tanta fricção que poderia gerar fumaça. No terceiro período, quando o Olympiakos ensaiava mais uma de suas marchas assustadoras para virar o placar, esse gatilho anotou 11 de pontos em sequência, com direito a três bolas de fora, para apaziguar um pouco os ânimos madridistas. No final, foram 16 pontos em 20 minutos, com 80% no perímetro, além de também ter ajudado na contenção de Spanoulis. Vejam só:

*    *    *

Foi um domingo de conquista dupla para o Real. De manhã, seus garotos faturaram o Adidas Next Generation Tournament, a versão juvenil da Euroliga, derrotando o Estrela Vermelha por 73 a 70 na decisão. A sensação eslovena Luka Doncic ganhou o prêmio de melhor jogador do evento, com médias de 12,3 pontos, 8,0 rebotes, 5,0 assistências e 1,3 roubo de bola, em 9 partidas. Ele só tem 16 anos. O torneio era sub-18. Quem também é mais jovem que a maioria dos concorrentes e comemorou ao lado de Doncic? O paulistano Felipe da Gama, pivô de 2,18 m e apenas 17 anos. Um projeto de longo prazo, mas de ótimo potencial, o único brasileiro presente em quadra nesse final de semana festivo na Europa.


Desfalques, improvisos, Scola… qual Argentina encara o Brasil?
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Eles

Eles

Muita coisa pode mudar e campeonato para campeonato. Manu Ginóbili joga um, perde o outro. Carlos Delfino aparece para suprir sua ausência, dependendo da fase e da motivação. Andrés Nocioni andou um tempão afastado, mas agora está batendo cartão. Fabricio Oberto se foi há tempos, Walter Herrmann regressou. Enfim, um fluxo constante. Tudo passa, menos Luis Scola.

O argentino fez alguns jogos bem fracos pelo Indiana Pacers este ano, dando a impressão de que seus dias de matador talvez estivessem chegando ao fim. Mas nada como uma temporada com sua seleção nacional para se reenergizar. E cá está o pivô, já histórico, liderando a tabela de cestinhas do Mundial, se levarmos em conta só os que ainda estão em competição. Ele e sua seleção prontos para desafiar novamente os brasileiros, com nova configuração ao seu redor.

E aqui chegamos a um ponto muito relevante sobre a versão 2014 da Argentina. Quando falamos em desfalques, pensamos rapidamente nos nomes – Ginóbili e Delfino. A ausência da dupla é muito sentida do ponto de vista atlético, mas também abala seu poder de imprevisibilidade. Nenhuma novidade nisso. Mas pouco se fala sobre as consequências dessas baixas em relação o papel de quem se apresentou e sobre qual seria a melhor forma de combiná-los. Enfim, o impacto na rotação.

Para quem gosta de numerar os atletas de 1 a 5 em quadra, fica o convite para se enquadrar os argentinos. Dos oito atletas que vêm sendo mais utilizados, teríamos algo como três da posição 1 (Prigioni, Campazzo e Laprovíttola), um da 3 (Mata) e quatro que seriam 4 (Scola, Nocioni, Herrmann e Leo Gutiérrez). Que tal? Faz sentido? Obviamente que não, e por isso que é sempre preciso muito cuidado na hora de rotular jogadores de basquete. Dependendo da dinâmica de cada time, tudo é muito volátil. Vejam Oberto tentando matar a charada: “Estão jogando com posições trocadas. Um quatro, Scola, que joga de cinco. Um mix de três com Chapu e Walter. Um mix de 1, com Campazzo e Prigioni. Em vez de ter uma posição forte, cada um ajuda o outro”, disse (segundo declarações coletadas pelo site BásquetPlus.com).

Nocioni não vem fazendo o melhor Mundial possível, um tanto sacrificado pelas combinações diferentes do elenco agentino. Mas ainda é um leão na defesa e nos rebotes, para quem nunca vai faltar confiança. Sem contar a catimba, claro

Nocioni não vem fazendo o melhor Mundial possível, um tanto sacrificado pelas combinações diferentes do elenco agentino. Mas ainda é um leão na defesa e nos rebotes, para quem nunca vai faltar confiança. Sem contar a catimba, claro

Antes que alguém pegue carona com o ex-pivô do Spurs sobre Nocioni ser um 3 e tal, tal, tal, saibam que, na real, nos últimos dois anos ele jogou como o ala-pivô/4/PF (se quiserem muito, escolham…) pelo Baskonia. Com liberdade para atacar de todos os cantos da quadra, mas quase que defendendo grandalhões na defesa. Com sua força física, determinação e inteligência, não foi problema. A ponto de ser contratado pelo Real Madrid. Para Herrmann, ainda mais lento, vale o mesmo. Se Lamas fosse, então, encarar seu elenco de modo estratificado, teria sérios problemas. Muita gente boa não ia nem poder entrar em quadra.

Mas sua abordagem não foi convencional. Sem Manu ou Cabeza, poderia term simplesmente promovido o ala Selem Safar para o quinteto titular. Agora, mesmo que ele tenha feito grande partida contra Porto Rico na estreia, parece não ter a confiança do treinador para jogos mais duros. O que ele fez? Puxou uma dupla armação da cartola, até para ganhar mais velocidade e arrojo a partir do drible.  “Essa de trocar posições acho que saiu da melhor maneira possível. Não creio que Júlio goste de jogar desta forma, com a dupla armação, porque nunca jogamos assim. Mas não há ouros criadores de jogo que não sejam os armadores. Não há outras alternativas”, afirma Pepe Sánchez, justamente o condutor do time campeão olímpico em 2004 e hoje um excepcional analista.

Essas “posições trocadas” também foram adotadas, forçosamente ou não, na linha de frente, para acompanhar Scola. Aqui acontece o mesmo: Lamas não parece disposto a confiar minutos significativos a seus atletas mais jovens. Marcos Delia recebeu apenas 7,8 minutos em quatro partidas (ficando fora de uma, inclusive). Matías Bortolín (muito promissor) e Gallizzi só entraram nos minutos finais de uma lavada para cima de Senegal. Em seu conservadorismo, o treinador priorizou os veteranos a todo custo. Agora, isso não impediu que quebrasse alguns padrões a partir daí.

Delía seria o único 5 do time (por favor, só não se refiram a ele como um “cincão”, uma vez que ele faz tanta sombra em quadra como uma caneta esferográfica). Talvez ganhe mais tempo de quadra contra o Brasil, especialmente no primeiro período, para tentar frear um pouco o jogo interno brasileiro. No decorrer da partida, porém, espere por muitas rotações com Scola, Herrmann e Nocioni juntos. Três alas-pivôs atacando e combatendo em conjunto, talvez fazendo mais uso de marcação bem recuada, em zona, para fechar o garrafão. “Delía pode dar minutos de oxigenação para a equipe, mas a realidade é que precisam fazer com que joguem Chapu e Luis todo o tempo que puderem, e viver ou morrer com isso”, diz Sánchez.

É um caminho que Lamas se vê obrigado a seguir, por dois motivos. Ninguém parece ter dado conta da falta de Juan Gutiérrez. Claro que ele não está no nível técnico de muitos dos nomes aqui já citados. Mas é alto, rodado e encarou bem os pivôs brasileiros em Londres 2012.  Sem esse tipo de cobertura defensiva, teve de se virar. O segundo ponto: não deixar que Scola fique por muitos minutos num combate mano-a-mano com gente que é mais alta e muito mais atlética. Daí viria um risco inadmissível: um acúmulo de faltas para o craque – tal como aconteceu no choque com Andray Blatche e as Filipinas – seria provavelmente mortal para suas pretensões contra o Brasil. Se no último clássico, nas Olimpíadas, o treinador conseguiu resguardar o pivô, que recebeu “apenas” 29 minutos, isso aconteceu só por ter Ginóbili e Delfino também ao seu dispor. Isto é, tinha outras fontes produtivas de onde tirar pontos. No Mundial de 2010, porém, só lhe deu um minutinho de descanso. Esperem um manejo parecido neste domingo.

Pepe Sánchez pede: quanto mais Chapu e Luis, melhor

Pepe Sánchez pede: quanto mais Chapu e Luis, melhor

A despeito dos improvisos constatados, os veteranos acreditam que a Argentina já desenvolveu um bom conjunto na primeira fase da Copa para poder encarar – e derrubar o Brasil, até por notarem algumas falhas no próprio adversário. Sánchez recorre ao amistoso que disputaram no mês passado, em Buenos Aires. “A partida em Tecnopolis ficou na retina. O Brasil não sabe lidar com isso. Nestes anos todos, o time não mostra uma conexão entre o jogo interior e o perímetro. Ou é perimetral, ou é interior. Quiçá Marquinhos agora esteja fazendo um pouco isso, mas nós temos Chapu, Leo, Walter, que são jogadores que fazem essa conexão. Nós conseguimos complicá-los muitos quando nos fechamos e oferecemos o tiro externo, cortando-lhes o pick-and-roll e os obrigando a arremessar”, afirmou o ex-armador.

Confiante, não? Mas não se pode tomar seu comentário como soberba. Fato é que essa (des)conexão destacada por Sánchez é o que vem sendo pedido por aqui desde os mesmos amistosos. Ele só usa um termo diferente. A “conexão” seria produto (ou mesmo a causa) de um ataque mais fluído, com mais movimentação dos laterais e dos próprios pivôs, algo que vem faltando ao time de Magnano nas situações de meia quadra.

Além do mais, o próprio Sánchez parece depositar muito mais fichas no aspecto emocional do confronto deste domingo do que nos aspectos táticos, ainda que não veja ainda a seleção brasileira com uma “consistência europeia” – mesmo que o adversário não jogue mais de modo acelerado. É aquela coisa: nem sempre a cadência significa coordenação.  “Tivemos dificuldades contra os europeus (na primeira fase). Em um cruzamento com o Brasil, há coisas diferentes. É um clássico, que se joga de outra maneira, e isso pode nos ajudar. O que melhor mostramos até agora foi o coração, a energia, a entrega, e isso pode pesar contra o Brasil. Contra os europeus, pesa menos, porque têm um plano tático que seguem à risca. A consistência da outra equipe executando está custando muito para nós. Se pudermos envolver o Brasil num jogo mais quente, sanguíneo… Anos atrás teria sido o contrário, mas hoje temos de maximizar nossas possibilidades. Estamos no limite.”

Herrmann, futuro flamenguista, muito forte próximo ao aro. Talvez as mais largas mãos da Copa

Herrmann, futuro flamenguista, muito forte próximo ao aro. Talvez as mais largas mãos da Copa

Pensando neste limite, é muito provável que a equipe vá até onde Scola puder levá-la. Quanto menor a frequência de Ginóbili em torneios com El Alma, como os hermanos tratam o time internamente, mais natural foi o crescimento da liderança do camisa 4. Hoje, seu pulso firme já interfere em questões muito além das quadras, como pudemos ver durante a crise política aberta antes do início da preparação – foi a voz mais assertiva entre os jogadores. Além disso, há diversos relatos sobre o modo cuidadoso como trata as revelações do país. De grandes gestos como levar o espigão Marcos Delía em sua bagagem para um período de treinamentos em Indiana, pagando tudo, a pequenos mimos: durante este Mundial, deu uns quatro pares de tênis para Tayavek Gallizzi. Um grande personagem, que merece todo o respeito.

Sua influência no campo ofensivo é um problemaço para se resolver. Neste sazonal mundo Fiba, o cabeleira bota para quebrar tanto perto como longe da cesta. A variação é grande não só em suas fintas, mas nos pontos em que recebe a bola para atacar. Isso requer muito mais estudo e atenção a detalhes por parte de treinadores e jogadores. Você pode preparar um scout com diretrizes, mas nem sempre há uma solução clara, uma vez que este craque pode te ferir tanto com os arremessos de média para longa distância, como também pode por a bola no chão e partir para a cesta com leveza surpreendente para alguém tão forte e que pode parecer pesado à primeira vista (no caso da audiência brasileira, já é à quinta, à sexta vista, mas tudo bem).

Com três pivôs fortes, experientes e atléticos para marcá-lo, a defesa brasileira não deveria recorrer de primeira a marcação dupla. Se isso for acontecer, as rotações precisam estar afinadas para que seus arremessadores não sejam liberados. Neste Mundial, os argentinos têm cinco jogadores queimando a redinha nos chutes de longa distância: Scola (60%), Mata (58,3%), Herrmann (50%), Safar (46,2%), e Prigioni (43,8%). Os veteranos Nocioni e Leo Gutiérrez, por outro lado, não vêm tão bem no fundamento, respectivamente com 27,3% e 32%, assim como Campazzo (27,8%), mas melhor nem pagar para ver.

Outra questão que requer atenção decorre dos ataques em que Scola vai flutuar na cabeça do garrafão. A ideia inicial tende a ser uma jogada em dupla com o armador da vez. Com Campazzo e Laprovíttola, Julio Lamas não verá problema em forçar a troca e fazer seu baixinho atacar um grandalhão (por sorte, os três pivôs da NBA são excelentes nesse tipo de situação de aparente desequilíbrio). De todo modo, o ideal seria que cada atleta seguisse grudado ao seu oponente, impedindo o mismatch, para que Scola também não tenha um instante de liberdade para receber o passe de volta e subir para o arremesso. Uma terceira via que os argentinos podem buscar a partir daí é o corte pelo fundo de um Nocioni ou de um Herrmann em que eles assumem o poste baixo e a assistência em high-low para punir defensores mais baixos.

É a tal da conexão em que Pepe Sánchez aposta. O entrosamento que a Argentina acredita impor ao redor de seu pilar ofensivo, não importando as peças que tenha disponíveis. Caberá mais uma vez ao Brasil de Magnano tentar desmantelá-los..


Argentina vence o Brasil novamente, e dessa vez não há um carrasco ou vilão. Foi só o jogo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nenê x Juan Gutiérrez

Nenê e Varejão tiveram juntos os mesmos 11 pontos de Gutiérrez

Por muito tempo, uma crítica predominou sobre a seleção brasileira: a de que basquete da seleção brasileira era por vezes muito destrambelhado. Nesta quarta-feira, o time foi bastante cuidadoso – foram somente oito bolas desperdiçadas de graça em 40 minutos, um fato raro. O problema é que essa passividade atingiu a equipe do outro  lado da quadra também. Por três períodos, faltou a combatividade na defesa que vinham apresentando até então na competição.

Era como se o time de Magnano estivesse esperando que a Argentina se cansasse no fim, para que aí, sim, desse o bote. Se foi isso mesmo, quase deu certo.

Quase.

Com 1min45s para o fim, uma larga diferença de até 15 pontos caiu para três, 74 a 71.

Os brasileiros conseguiam, a essa altura, enfim defender, liderados por Nenê, que, no sacrifício, brecou Luis Scola, impedindo que o argentino fosse acionado. Quando os adversários conseguiam envolver o pivô brasileiro em simples trocas, o pivô também foi bem, mesmo quando atacado frontalmente por Carlos Delfino.

O problema é que… Uma vez feito o “serviço sujo”, uma vez tendo o time voltado ao jogo, as precipitações voltaram, e com tudo, no ataque. Primeiro, Alex, com uma falta de ataque atropelando Manu Ginóbili, e Marcelinho Huertas, com um chute de três pontos mesmo tendo um Scola carregado de faltas à sua frente. No fim, com Leandrinho abaixando a cabeça e se deixando encurralar na lateral da quadra. Entre o primeiro erro e o terceiro, foram três pontos para o ligeirinho, dois para Nocioni e quatro lances livres convertidos por Ginóbili, Scola e Delfino (dois cada). O placar pulava para 80 a 71, restando 30 segundos. Aí já era.

A ideia aqui não é apontar culpados.

Chegando a esse ponto, a seleção penava para alcançar a marca da medíocridade, 50%, nos lances livres. Foram 12 desperdiçados em 24 batidos. Se pelo menos seis amais tivessem caído… Os argentinos também erraram seus chutes parados na linha (9 em 28, 68%), mas saíram com sete pontinhos preciosos a mais no fundamento.

Mas podemos ir além. Splitter e Nenê sempre se atrapalharam com lances livres, mesmo. Então talvez fosse injusto colocar esse fardo em seus ombros, ainda mais com os argentinos fazendo faltas descaradamente.

Então, o que falar daquela velha coqueluche? Os tiros de três pontos. Depois de duas partidas atípicas diante de chineses e espanhóis – convenhamos, galera, não dá nem para comparar a intensidade desses dois duelos com os três primeiros do grupo –, a seleção caiu na arapuca: voltou a atirar desenfreadamente de fora.

Foram apenas 7 convertidos em 23 tentativas, resultando em anêmicos 30% de aproveitamento. Se lembrarmos que duas dessas caíram em chutes no desespero de Leandrinho no finzinho, é provável que a seleção tivesse uma pontaria de apenas 25% até os minutos finais. Um número pífio, que foi cultivado durante todo o torneio e acaba, no fim, jogando contra, sabotando seu próprio empenho defensivo. E, ainda assim, superior aos 29% dos oponentes. Creiam.  Mas não que a falha de um redima a do outro.

De novo o Brasil teve chances, mas não soube capitalizá-las. Pesa a experiência de nossos vizinhos, o maior talento individual de dois jogadores, mas contam também erros que se repetem com uma frequência que acaba sendo implacável.

*  *  *

O Bala havia cantado a pedra já no primeiro tempo, o Murilo, que cobriu o torneio in loco, só reforçou: a Argentina propôs ao Brasil, especialmente no primeiro tempo, a mesma armadilha do confronto das oitavas de final do Mundial de Istambul-2010. Pablo Prigioni estava claramente com sua movimentação debilitada, não conseguia e nem tentava acompanhar Huertas, mas Júlio Lamas não se mostrava nada preocupado. Manteve em quadra seu veterano, que perdeu dois jogos devido a cólica renais, e só usou o novato Campazzo por dois minutinhos na etapa inicial. Que o armador chutasse todas, mesmo, privando o jogo interno do Brasil de mais algumas investidas. Lembrando que o jogo com os pivôs funcionava muito bem no primeiro quarto, com Splitter e Varejão, forçando inclusive as duas faltas em Scola.

No fim, muitos jogadores foram alienados: enquanto o Brasil teve 22 pontos de Huertas e outros 22 de Leandrinho, fora a dupla, só Alex passou teve dois dígitos na pontuação (11). De resto, foram 2 pontos de Machado, 2 de Larry, 4 de Varejão, 7 de Nenê, 2 de Giovannoni e 6 de Splitter.

*  *  *

Dessa vez não houve um “carrasco”, um “algoz”, um super-herói argentino que tenha esmigalhado. Com um ataque mais solidário, nossos vizinhos contaram com 17 pontos de Scola, 16 de Ginóbili, 16 de Delfino, 12 de Nocioni e 11 de Juan Gutiérrez. Creiam: o pivô reserva argentino, sozinho, marcou o mesmo número de pontos de Nenê (7) e Varejão (4) somados.

*  *  *

Terminar os Jogos de Londres em quinto lugar não é o fim do mundo, claro. No fim, a seleção mais venceu (quatro) do que perdeu (duas). Para quem não participava da competição há 16 anos, parece algo satisfatório. E aí você que tem de decidir em qual grupo se enquadrar: numa faixa mais condescendente e/ou conformada, está de bom tamanho a campanha. O Brasil competiu em alto nível, fez o que dava e parabéns. Se for mais minucioso, inevitável também a sensação de que dava, sim, para buscar mais neste torneio.

*  *  *

O basquete volta a ser discutido. As pessoas voltam a torcer por basquete no Brasil. Mas estamos bem distantes de presenciar uma massificação do esporte. A CBB contratou um ótimo técnico, ok, mas este é apenas um paliativo, um movimento de curto prazo. Podem elogiar a seleção pela campanha londrina, mas as palavras não podem ser usurpadas por quem não é de direito.

*  *  *

O discurso de que o Brasil ao menos resgatou um pouco de seu prestígio internacionalmente se justifica até a segunda página. A seleção foi elogiada, jogou no pau contra um time duas vezes medalhista olímpico, e tal. Inegável. A dúvida que fica é: até que ponto esse prestígio vai ser levado adiante? Em breve, venho  as datas de nascimento com mais calma (vocês podem checá-las aqui), mas exsiste  a possibilidade de que a participação em Londres pode ter sido a primeira e última de muitos dos jogadores do Magnano.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>