Vinte Um

Arquivo : Kyle Lowry

Com astros de volta e boa defesa, Raptors dá graça ao Leste
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Giancarlo Giampietro

Lowry fez grande jogo para ajudar Biyombo

Lowry fez grande jogo para ajudar Biyombo

Havia duas premissas ainda pendentes pelos #NBAPlayoffs do Leste:

– Uma hora a bola de três pontos do Cleveland Cavaliers iria parar de cair. Pelo menos com aquela frequência que castigou o Atlanta Hawks, com a segunda melhor defesa da liga, pelas semifinais.

– Uma hora Kyle Lowry e DeMar DeRozan iriam reencontrar o rumo pelo Raptors, de preferência juntos. Nem que fosse na próxima temporada (risos).

Calhou que, para dar graça à final de conferência, ambas se realizaram nos últimos dias em Toronto, com o time canadense empatando a série em 2 a 2 ao bater o Cavs por 105 a 99, nesta segunda-feira, num jogão. A primeira era realmente inevitável. A segunda? Sinceramente, um enorme mistério para mim, de tentar entender como a dupla de All-Stars pudesse cair tanto assim.

*   *   *

O Cavs converteu 50,7% de suas 152 tentativas de longa distância, em quatro partidas, pela varrida. Dá para dizer até que seria impossível sustentar um rendimento desses por uma longa sequência. Contra o Toronto, nestes mesmos quatro jogos, a mira já caiu para 33,3% em 123 chutes. Isso tem um pouco a ver com sorte, como naqueles em que a bola gira, gira e espirra. Mas não acontece só ao acaso.

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Numa liga com o nível da NBA, há grandes arremessadores, claro. Se eles ficarem sozinhos em quadra, o aro nem será incomodado. É justamente esse o problema: há grandes arremessadores, mas também existem excelentes defensores do outro lado, que, durante os playoffs, são abastecidos de relatórios de scouting ultradetalhados.

Os jogadores da casa estavam bem informados para este Jogo 4. Não é só uma questão de empenho, embora sem movimento, não há como parar nenhum adversário da liga. Que os jogadores correram muito, não há dúvida, em movimentos muito bem sincronizados. Mas também souberam contra quem é quando correr. Que LeBron James e Kevin Love tenham tido mais liberdade, relativamente, em relação a Kyrie Irving e JR Smith, é plano. Dos males, o menor. Os dois melhores chutadores do time titular de Cleveland foram obrigados a por a bola no chão em diversas ocasiões devido à atenta aproximação e contumaz contestação dos defensores pelo perímetro.

Cercando LeBron nos arredores do garrafão, com Biyombo vindo na dobra. Só cuidado com o pick-and-roll

Cercando LeBron nos arredores do garrafão, com Biyombo vindo na dobra. Só cuidado com o pick-and-roll

Isso só foi possível também pelo fato de Dwane Casey, que em 2011 havia lidado com LeBron como coordenador defensivo do Mavericks, ter maneirado nas dobras ostensivas para cima do craque. Parece arriscado, depois de o veterano, mesmo cinco anos mais velho, ter feito estragos nas duas primeiras partidas. O ataque do Cavs, porém, fica muito mais perigoso quando o bombardeio de três funciona. O elenco vai te punir se você fizer a dobra com frequência, devido à artilharia ao seu redor. Não tem jeito.

Você obviamente não vai deixá-lo operar no mano a mano sempre, especialmente quando recebe a bola de costas para a cesta, na entrada do garrafão. Aí tem de vir a ajuda, mesmo, de preferência quando LBJ já tenha iniciado o movimento, para tentar no mínimo anuviar sua visão de quadra.

No geral, porém, o melhor é designar um marcador para o camisa 23 (DeMarre Carroll, mesmo baleado, e o indisciplinado James Johnson), e manter os demais atletas posicionados entre seu caminho para a cesta, sendo Bismack Biyombo a referência aqui, e a linha de passe para os chutadores. É um modo de montar uma espécie de parede em torno da zona pintada, sem perder de vista a linha perimetral. Não precisa ser tão apertado assim :

Com esse bloqueio bem armado e coordenado em suas coberturas, o time canadense levou 16 pontos de LeBron, mas só deixou que uma só cesta de quadra ocorresse após passe direto do astro. O Cavs, como um todo, só matou 3 em 22 chutes de fora. Nos dois jogos em casa, o Raptors levou apenas 91,5 pontos e permitiu ao Cavs apenas 41,4% nos arremessos e 32,9% de fora.

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Do outro lado, talvez o segredo tenha sido que o aro estava bem mais largo que o normal. Só assim para entender. Lowry e DeRozan se tornaram os primeiros companheiros de equipe a passar da marca de 30 pontos e 60% de aproveitamento pelas finais de conferência desde Charles Barkley e Dan Majerle pelo Suns em 1993.

Técnica ou taticamente, podemos falar de alguns ajustes. Patrick Patterson e Luis Scola capricharam nos corta-luzes para liberar seus cestinhas. Lowry, no primeiro tempo, foi acionado mais vezes fora da bola, deixando a criação com DeRozan. O ala-armador, por sua vez, fez de tudo para poder partir à cesta contra JR Smith, em vez de LeBron. Mas, obviamente, isso não explica tanto.

Assim como Lowry fez durante a série contra o Miami, DeRozan resolveu dar uma esticada em suas atividades em quadra, arremessando até tardão, para ver se recuperava seu ritmo. O horário era tão estranho que chegou a ser barrado por uma segurança do ginásio. Foi isso que virou o jogo? Como fato isolado, claro que não. Aí tem aquela coisa de confiança, momento, uma zona cinzenta em meio à qual nem mesmo os atletas conseguem se expressar com precisão. Só sabemos que, por uma noite, tudo voltou a funcionar como antes, como na temporada regular.

“Tem uma coisa sobre nós: convivemos com o que tem de mau e bom em qualquer dia. Isso é a vida. Não dá para ficar muito cabisbaixo quando as coisas não estão funcionando, mas você entende que o treino que faz durante as férias, durante toda a temporada,  é para momentos como este. Você tem de estar pronto”, filosofou DeRozan, sobre quem Toronto tem o seguinte dado: nos seis jogos em que o ala fez 25 pontos por estes playoffs, a equipe está invicta. “Sempre disse a este cara (Lowry) que, enquanto tivéssemos uma oportunidade de seguir jogando, temos uma oportunidade de nos redimir. E acho que chegou a hora. Tudo acontece por um motivo.”

Foram 35 pontos para Lowry e 32 para DeRozan. Ambos fizeram 14 cestas de quadra e, juntos, erraram apenas 15 chutes em 43 tentativas. É só ver o quadro abaixo e ver também que eles não alteraram tanto assim sua seleção de arremessos:

Mesmo nos minutos funcionais, não teve pane, histeria, nem nada.  Os dois cestinhas conseguiram controlar a situação, em ataques individualistas, da mesma forma como fizeram em todo o campeonato.

Quem precisa, de todo modo, tomar um pouco de cuidado com a sanha no ataque é DeMarre Carroll. O ala forçou a barra na vitória desta segunda-feira, terminando com mais arremessos (12) do que pontos (11, quantia que poderia até ser menor se não tivesse sido brindado com uma falta de JR Smith quando tentava um de seus sete chutes de longa distância). Não que o ala esteja proibido de olhar para a cesta. Não pode ser mais um Andre Roberson. Mas houve um momento no terceiro período em que ele decidiu que era o caso de ralar com Kyrie Irving por quatro posses de bola seguidas, e essa não foi uma boa ideia. Foi num momento em que o time da casa perdeu a concentração, se desarranjou em quadra e quase pôs tudo a perder.

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De tão habilidoso, Irving dá um jeito de driblar e converter seus disparos mesmo pressionado e desequilibrado. Se for de dois pontos, porém, o Raptos tem de conviver com isso, e aconteceu diversas vezes com Cory Joseph, por exemplo.

Nesse terceiro quarto, causou estragos por toda a quadra, ajudando a reduzir a larga vantagem de 18 pontos do Raptors pela metade. Depois, a segunda unidade com Channing Frye, Richard Jefferson e Matthew Dellavedova terminou o serviço.

Frye, por sinal, é o chutador que manteve o embalo desde o duelo com Atlanta. O veterano pivô está acertando 57,5% de seus disparos. Nos dois jogos em Toronto, ele matou 7 em 12 chutes de três, dando toda a razão à decisão de David Griffin de contratá-lo para o lugar de Anderson Varejão.

Sua presença em quadra foi fundamental para o Cavs até mesmo assumir a liderança do placar pelo quarto final, no qual os visitantes acertaram seus primeiros 11 arremessos, de modo incrível. O primeiro erro aconteceu só a 4min12s do fim. Sete desses arremessos foram de Frye, na zona morta, e Jefferson, se aproveitando dos espaços abertos, resultando em 17 pontos dos 27 pontos da equipe.

A presença de um pivô com esse tipo se habilidade pode bagunçar toda uma defesa. Mas Casey também falhou em fazer algum ajuste aqui. Mesmo depois de pedidos de tempo e de mais de sete minutos levando cesta após cesta, manteve Bismack Biyombo como o marcador de Frye, o que significava que estava muito longe da cesta, deixando a defesa interior do Raptos órfã, desguarnecida. Era o caso de colocar o congolês em LeBron na meia quadra ou em Jefferson, para ficar mais próximo do garrafão. Steve Kerr já fez muito disso com Andrew Bogut.

Nesta sequência quase demolidora para as pretensões de Toronto, o ataque do Cavs se alternou em duas jogadas simples que não encontravam simplesmente nenhuma resistência, devido ao afastamento do pivô africano no perímetro.

O pior, quando Biyombo foi enfim deslocado, era ver os defensores de Toronto ainda dando liberdade ao pivô nos minutos finais, ignorando não só a mão quente como sua altura. Para contestar um cara de 2,11m de altura, não dá para sair atrasado. De modo que foi irônico que o primeiro chute errado do Cavs tenha saído justamente de suas mãos.

Casey precisa mudar sua abordagem nesse tipo de situação para o decorrer da série. Mesmo que seu time tenha sobrevivido e levado apenas três pontos nos últimos 4min12s de jogo (1-10 nos arremessos). Uma questão nesse sentido envolve Biyombo: neste momento, o congolês está empolgado pacas, tendo coletado 40 rebotes e dado sete tocos nas últimas duas partidas . Mas é de se pensar quanto ele tem de gás sobrando para encarar a resposta dos oponentes em termos físicos. Fato é que o Toronto, se quiser avançar, vai precisar vencer ao menos um jogo em Cleveland – na temporada, clube canadense leva melhor no confronto direto por 4 a 3, mas ainda não triunfou na condição de visitante.

Da parte do Cavs, depois de belas apresentações e 10 vitórias seguidas, agora é a hora de administrar dois reveses consecutivos. Poderia ser muito pior, convenhamos, se o Raptors tivesse completado sua lavada. Se existe algo que esse elenco nos ensinou nos últimos dois anos, é que não têm as melhores cabeças para enfrentar adversidades. Dessa vez souberam lidar com os problemas de imediato, reagindo já em quadra. De zum-zum–zum, só rola algo em torno de Kevin Love, mesmo, pelo fato de o ala-pivô ter ficado no banco durante todos os 12 minutos do quarto período. Estava com o pé direito colorido ao pisar sobre o de um árbitro (!), mas o técnico Tyronn Lue disse que não foi esse o motivo pelo chá de cadeira. Love errou alguns arremessos completamente livre no primeiro tempo, mas seguiu agressivo na segunda metade, ainda que pouco efetivo (10 pontos em 14 arremessos e 31 minutos).

Não vale individualizar nada aqui, todavia. Os problemas no retorno a Cleveland passam mais por um acerto coletivo. O Cavs arremessou 41 bolas de longa distância neste Jogo 4, mesmo contra uma defesa mais ligada. Se vão insistir no bombardeio, precisarão encontrar outros ângulos e possibilidades. Sorte não é tudo nessa vida. Ou, sei lá, de repente Lowry e DeRozan voltam a amassar o aro. Aí fica tudo mais fácil, claro, para LeBron jogar sua sexta final seguida pelo Leste.

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Cavs destroça a Conferência Leste, e não há do que duvidar aqui
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Giancarlo Giampietro

Tem sido um atropelo

Tem sido um atropelo

À medida que Stephen Curry vai acertando os parafusos em confronto com o Oklahoma City Thunder, a grande pergunta que fica no ar para os #NBAPlayoffs é sobre o Cleveland Cavaliers e sua assustadora dominância. O quanto isso tem mais a ver com o alto nível de rendimento que os LeBrons têm apresentado ou com a fragilidade de seus adversários? Parece ser o tópico mais intrigante por aí. Depois de o time espancar o Toronto Raptors pelo segundo jogo seguido, por 108 a 89, nesta quinta-feira, talvez já não seja mais relevante questionar isso.

A equipe se tornou apenas a quarta na história a somar dez vitórias em seus dez primeiros jogos. Se for pensar apenas em duelos com times da conferência, já são 17 triunfos seguidos desde o ano passado, que é a maior sequência da história dos mata-matas. Abrir um placar de 2 a 0 pelas finais de conferência não é algo tão raro assim de acontecer: 11 já haviam feito. Todos os 11 saíram vencedores rumo à decisão da liga. Quando reúne LeBron James a Kevin Love e Kyrie Irving, o Cavs também está invicto, com 14 vitórias.

Esse sucesso todo, acho que está claro, passa pelo sistema ofensivo, que é o mais eficiente destes playoffs, e de longe. Na média, são 116,9 pontos por 100 posses de bola, contra 112,7 do Golden State Warriors, o segundo colocado. A defesa não é tão de elite assim. Entre os 16 times classificados para a segunda fase, estão apenas em nono. Mas quer saber? Não está fazendo a menor diferença. Seu ataque tem trucidado a oposição.

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Em dez partidas até aqui, apenas três jogos foram decididos por menos de 10 pontos de diferença, dois deles contra o Detroit Pistons pela primeira rodada (106 a 101 pelo Jogo 1, bem parelho do início ao fim, e 100 a 98 pelo Jogo 4, quando o time da Motown lutava contra a varrida) e um contra o Altanta Hawks (100 a 99 pelo Jogo 4, também com os anfitriões lutando em vão para evitar o 4-0). Isto é: dois desses duelos mais equilibrados aconteceram quando já estava tarde demais nas respectivas séries.

Tem muita gente dizendo que isso se deve à fragilidade da conferência. Não acho que seja mais o caso de bater nessa tecla — e, se for para irritar o torcedor do Cavs, é só ficar falando sobre isso sem parar. O aproveitamento de seus concorrentes dos playoffs do Leste nesta temporada foi de 58,7%, com uma média de 48,1 vitórias. No ano passado, tiveram, respectivamente, e 56,4% e 46,2. Vale lembrar que dois times chegaram aos mata-matas em 2015 tiveram rendimento abaixo dos 50%, como o Boston Celtics, derrotado na primeira rodada. O oitavo colocado deste ano foi o Detroit Pistons, já com 44 vitórias. E outra: se os números lhe parecem similares, é porque houve a influência do excepcional rendimento do Hawks de 2014-15, de 60 triunfos. Tudo para ser varrido por Cleveland na final regional, com quatro de seus titulares jogando no sacrifício.

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%

Irving está acertando 56% de seus arremessos em situação de pick-and-roll. A média da NBA é de 40%, segundo o Synergy

Essa é a ironia: pela segunda temporada seguida, os LeBrons pegam um adversário completamente desestabilizado na hora de disputar o troféu do Leste. Se é para falar de fraqueza do adversário, ao contrário daquele Hawks, as mazelas do Toronto Raptors são no momento técnicas e/ou psicológicas — por mais que Jonas Valanciunas faça falta, não dá para imaginar que só o lituano faria tanta diferença assim para compensar um saldo negativo de 50 pontos em duas partidas. Após uma belíssima campanha, a equipe canadense  se esfarelou em questão de semanas. Kyle Lowry e DeMar DeRozan já erraram, juntos, 374 arremessos em 16 partidas (23,3 por jogo). Estão acertando apenas 36,3% no total. Isso não é número para uma dupla de All-Stars.

Mas o Cavs não tem nada com isso. E, mesmo que Lowry e DeRozan estivessem jogando o máximo, o Raptors não seria páreo para o que o seu adversário vem apresentando. Um tipo de basquete que não tomou conhecimento nem mesmo da segunda melhor defesa da liga, a do Atlanta, pelas semifinais. Nem mesmo os hiperativos marcadores de Mike Budenholzer puderam impedir que o Cleveland chegasse aos 100 pontos em todas as suas partidas, incluindo contagens de 123 e 121 pelos Jogos 2 e 3 da série. Que isso fique claro: o Atlanta era um oponente em ascensão, que prometia dar trabalho graças a seu empenho na contenção, mas não teve chance nenhuma.

Não há quem tenha feito mais splash do que o Cavs. Em termos de aproveitamento efetivo dos arremessos de quadra (eFG%, que dá mais valor aos tiros de três), eles têm 56,2%, acima dos 54,8% do Golden State. O Spurs se despediu com 51,9%. O Thunder tem 51,1%. O Raptors, só 45,4%. Cheio de confiança, o Cavs vem arriscando 33,1 chutes de fora nos playoffs, acertando 44,7%, contra 40,8% do Warriors, para comparar.  É o segundo time que gera mais assistências por posse de bola, aí atrás dos atuais campeões, e o quarto em percentual de assistências para cestas de quadra.

Dando uma boa olhada nos números dos playoffs — com a devida ressalva de que eles são um pouco desequilibrados, pelo simples fato de que os times não têm se enfrentado entre si, mas só contra alguns adversários específicos –, houve algo que me surpreendeu, em relação ao que vemos em quadra. Sabe aquele papo de que Tyronn Lue queria ver seu time acelerando geral? Esqueça. Nos playoffs, eles só têm o quinto ritmo mais lento dos mata-matas, só correndo mais que Raptors, Pacers, Grizzlies e Pistons. Ainda assim, estão destroçando os oponentes, com este aproveitamento altíssimo.

A excelência coletiva ao mesmo tempo passa por e gera a excelência individual. E aí tudo começa com LeBron James, né? Embalado, com 23 pontos, 11 rebotes e 11 assistências nesta terça-feira, o ala passou Magic Johnson no ranking histórico de triple-doubles pelos playoffs, ocupando a liderança agora, e também deixou Shaquille O’Neal para trás na lista de cestinhas, assumindo o quarto lugar. Seu desempenho contra o Raptors é digno de um MVP e de quem não quer se distanciar da chata conversa sobre quem-é-o-melhor-do-mundo:

É, são 69,2% na conversão dos arremessos de quadra, algo devastador. O mais legal, porém, é entender como ele está chegando a esse aproveitamento. O departamento de estatísticas da ESPN levantou dados curiosos sobre o rendimento de LBJ e Stephen Curry após dois jogos pelas finais de conferência. Cada um converteu 18 arremessos de quadra. Ao medir a distância do ala para o aro quando fez suas cestas, você acumula até agora apenas 8,8m. Para Curry? São 105,4m. Demais o contraponto, né? Não dá para ter abordagens mais diferentes. Na área restrita, o trator do Cavs converteu 17 de 19 tentativas. Não tem Bismack Biyombo que o atrapalhe.

As coisas caminham juntas também. LeBron só consegue chegar à área restrita para castigar o aro por ter grandes chutadores ao seu lado, espaçando a quadra. E esses chutadores também se beneficiam da atenção que o craque chama, ganhando alguns instantes valiosos para receber o passe e olhar para a cesta — ou fazer a bola girar, como tem acontecido constantemente nesta fase decisiva, num avanço que chega a ser até milagroso, quando comparado ao que vimos na temporada regular. E aqui você tem de elogiar o trabalho de Tyronn Lue, conseguindo convencer seus astros a reparar o estrago, mas também não dá para não criticar a postura do elenco nos tempos de David Blatt.  

Channing Frye está com um aproveitamento efetivo de 85% nos arremessos com os pés plantados. Impressionante, e não é nem mesmo o maior do time. O inabalável (!?) JR Smith está com 87%. No geral, Frye tem convertido 78,3% na soma de chutes de dois e três, enquanto JR tem 67,9%. Para termos uma ideia do que isso significa, Curry teve 64,3% durante a temporada regular. Klay Thompson, 56,9%. Isso para não falar de Irving e Love. Então chegou a hora de marcar LeBron individualmente, o tempo integral, e ver no que dá. Não pode dobrar mais. O problema do Raptors é que, debilitado, DeMarre Carroll não dá conta disso. OKC e Warriors estariam mais bem equipados. Mas obviamente é um risco a ser corrido. Hoje, com o Cavs acertando tanto nos disparos de fora, você tem de assumi-lo. Seria a sexta final seguida para LeBron, aliás.

Das três equipes anteriores que venceram seus dez primeiros jogos pelos playoff, só uma chegou ao título — o Lakers de 2001, com Shaq e Kobe arrancando cabeças para muito perto de concluir sua campanha pelo mata-mata com 100% de aproveitamento, sofrendo apenas um revés na abertura das finais contra Allen Iverson. Sim, aquele jogo pelo qual Tyronn Lue é lembrado até hoje. O Lakers já havia vencido 11 jogos seguidos em 1989, mas ficaria com o vice-campeonato ao ser superado pelo Detroit Pistons na decisão, com lesões limitando seu poder de fogo na hora decisiva. O outro caso foi o do San Antonio Spurs, em 2012, quando o esquadrão de Gregg Popovich estava barbarizando desde as últimas semanas da temporada regular até esbarrar no Oklahoma City Thunder numa das séries mais emocionantes da década.

Quer dizer, aqueles que não foram campeões só pararam em adversários especiais.  Acho que ninguém imagina que o Cleveland vá atropelar qualquer time que saia do Oeste, por mais desgastante que possa ser o confronto entre Warriors e Thunder.  Mas parece claro que aquela equipe que está jogando o basquete mais eficiente, bonito e, caceta, avassalador é o Cavs.

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Por uma noite, pelo menos, o pesadelo de Kyle Lowry acabou
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Giancarlo Giampietro

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Kyle Lowry mal podia acreditar no que acontecia em Miami. Era final de primeiro tempo, e o aro parecia tão vedado como o do Air Canada Centre. Ele seguia para o vestiário ainda cabisbaixo, com quatro pontos anotados em seis chutes, tendo desperdiçado todas as três tentativas de longa distância, sem nenhum lance livre batido. Continuava seu pesadelo pelos #NBAPlayoffs 2016.

Até aquele momento, o armador e líder do Toronto Raptors havia acertado apenas 43 de 139 arremessos de quadra, ou 30,9%. Se for para ficar apenas com os tiros de fora, estava encarando o fato de que 51 dos 60 havia tentado pelos mata-matas haviam dado aro, se tanto. Mesmo nos lances livres a coisa não estava tão boa assim, com 68,8%. Tudo isso lhe dava média de 13,5 pontos por partida.

Não podemos confundir Lowry com um Stephen Curry de jeito maneira. Mas não é que ele estivesse no nível de um Rafer Alston ou Mike James também. Pela temporada regular, suas médias foram de 21,2 pontos, 42,7% nos arremessos, 38,8% de fora e 81,1% nos lances livres. Um All-Star e com cartaz para ser eleito para um dos três quintetos ideias da temporada. Mais que justo.

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Daí que era muito complicado de entender o que se passava nestes playoffs. Ninguém conseguia dar uma explicação razoável. Nem ele, nem seus companheiros ou técnicos. Até que, na volta do intervalo, de repente alguém se lembrou de ligar a chavinha. Em um segundo tempo espetacular, o armador acertou 9 de 13 tentativas de cesta no geral, com 100% nos chutes exteriores (5-5!), somando 29 pontos no segundo tempo, o mesmo que um Dwyane Wade. Era como se, do nada, de lacrado, o aro tivesse ganhado a vastidão de todos os mares pelos quais passam os navios de Micky Arison, proprietário do Miami Heat e também da maior operadora de cruzeiros marítimos do mundo. Era tão inexplicável quanto o período de seca.

“Kyle voltou a ser o Kyle”, disse Dwane Casey. “Este é o Kyle que conheço”, disse DeMar DeRozan. “Eu não duvido de mim. Não existe essa coisa de duvidar de si mesmo”, afirmou o astro do Raptors.

Ah, então é simples assim? Que uma hora a maré tinha de virar a seu favor.

Acho que foi o Paulo Cleto que inventou o termo: confiatrix. Como se fosse uma das poções mágicas dos quadrinhos de Asterix que o atleta pudesse tomar entre um jogo e outro e aí desembestar a ganhar. Para o tênis, seu metiê, isso fica muito claro. Afinal, os tenistas estão por conta em quadra, encarando o jogo que considero o mais exigente, em termos de precisão técnica, desgaste físico e, principalmente, força mental.

Mas essa coisa de crise de confiança, ou excesso de, vale para qualquer esporte, claro, inclusive o basquete. Se a tal da poção existisse, e não fosse doping, Lowry muito provavelmente não hesitaria em pagar um ano inteiro de seu salário para usá-la. No seu caso, seriam US$ 12 milhões. Tudo para poder reencontrar a boa forma durante os playoffs. Até sexta-feira, o cara vinha com o terceiro pior aproveitamento de quadra dos mata-matas entre jogadores que arriscam pelo menos dez chutes em média, acima apenas de Jae Crowder e Trevor Ariza. Nenhum desses alas já foi considerado um cestinha de mão cheia, e Crowder jogou sua série contra o Atlanta Hawks com o tornozelo estourado. Se fosse para ampliar o escopo, o departamento de estatísticas da NBA havia encontrado um dado ainda mais estarrecedor. Com um mínimo de 100 arremessos realizados, Lowry tinha o pior aproveitamento dos últimos 50 anos:

Estava sofrendo. Acredite, é possível ver um esportista milionário sofrer. Por isso, na madrugada de terça para quarta-feira, estava de volta à quadra do Air Canada Centre para ficar arremessando por conta própria, sem nenhum membro do estafe do Raptors, com uma escada embaixo da tabela, e o ranhido de seu tênis e a batida da bola no tablado ecoando pela arena.  Só deixou o ginásio depois da 1h, pouco depois da derrota para o Miami pelo Jogo 1 das semifinais — de novo a franquia canadense abria uma série em casa com revés, repetindo o que havia acontecido contra Brooklyn em 2014, Washington em 2015 e Indiana pela primeira rodada este ano. Lowry estava ouvindo música e chutando, sem ninguém por perto. A explicação: queria voltar às raízes, quando passava hora e horas com a bola, por conta, arremessando em algum parque ou quadra de Philly, se divertindo, sem distração ao redor — ou justamente para se distrair. Quem nunca? (O mais cínico vai falar em golpe de marketing, já que os jornalistas ainda estavam presentes, despachando seus textos em altas horas. Mas não faz muito o estilo do baixinho.)  

Quando alguém se envolve com um jogo, pressupõe-se que esteja lá para ganhar, competir, fazer dinheiro e, sem problema, se divertir também, seja lá qual dor a ordem de prioridades aqui. Pela NBA, haaaaja competição, amigo. São 82 partidas de temporada regular, 3.936 minutos. O atleta, então, supostamente encara essa maratona para só cumprir tabela. Essa briga toda é para chegar aos playoffs, a não ser que jogue pelo Philadelphia 76ers. Para a maioria alguns times, disputar a fase final já é gratificante o suficiente: esportivamente, com a sensação de missão cumprida, e financeiramente, com mais ingressos vendidos a um preço elevado, a renovação de carnês e patrocínios.

Para Lowry, o que está em jogo é a reputação em quadra. Grana não é problema: ele tem mais um ano de contrato com a franquia canadense, valendo mais US$ 12 milhões, e vai entrar no mercado de agentes livres em 2017 preparado para receber mais uma bolada. A não ser que seu desastroso desempenho pelos playoffs se estendesse à temporada seguinte, o que seria impossível, né? “Estou apenas tentando reencontrar meu caminho, meu toque. Não sei por onde ele anda, é algo que está mexendo com minha cabeça. É frustrante”, disse, mesmo depois da vitória pelo Jogo 2, quando voltou a patinar. “É maluco. Quando estou sozinho, sem ninguém, arremesso bem. É muito diferente. Jogar mal assim quando todos os olhos estão em mim me enche, porque sei que sou muito melhor que isso. Só tenho de dar um jeito nesta m…”, afirmou, completando também que não se tratava mais da bursite no cotovelo que o incomodou na reta final da temporada. O repórter Josh Lewenberg, setorista pelo grupo TSN, porém, postou uma imagem supostamente destes playoffs que apontaria o contrário, todavia. Aí o armador se sai com algo ambíguo: “Sempre digo a verdade para vocês, caras, na maioria das vezes… Exceto quando estou contundido”, disse, sorrindo.

Neste sábado, aparentemente num intervalo de cerca de 20 minutos, se havia algum incômodo no cotovelo, desapareceu. Era como se as mais de 19 mil pessoas presentes à American Airlines Arena também tivessem sumido. Só estavam ele e Dwyane Wade por ali, ralando, para ver quem conseguia desempatar a série. (Em termos de confiatrix, também, convenhamos que Wade vivia algo inexplicável também. Depois de acertar apenas 7 de 44 chutes de fora durante a temproada regular, ele converteu 4 de 6 pelo Jogo 3 em Miami, chegando a 8 de 11 pelos playoffs em geral. Quem explica isso?)

Como que num estalo, Lowry desembestou a fazer cestas e terminou a partida com 33 pontos, o máximo desde o dia 14 de março — desde então, haviam se passado 23 partidas. Já os 58% de quadra e as cinco bolas de três pontos foram seu recorde desde 18 de março, com 20 jogos.

“Não fiz nada diferente. As pessoas mais próximas vieram até a mim, me procuraram. Mas, na maior parte, o que diziam era para ir para a quadra e seguir jogando. Tenho um cara aqui (apontando para DeRozan, no vestiário), que é provavelmente aquele que mais me apoia, e ele disse isso, para seguir em frente. Ele sempre vai me seguir minha liderança, não importa como, assim como meus companheiros de time. Apenas fui lá e tentei os mesmos arremessos que tentei o ano todo.”

Dessa vez caiu, e, se Lowry conseguiu ignorar as tentações de South Beach, pôde ir para a cama muito mais cedo.

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Paul George volta a colocar Toronto em estado de choque
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Giancarlo Giampietro

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

George foi o All-Star que mandou em quadra pela abertura dos playoffs

Recordar é sofrer.

O ginásio do Raptors estava novamente tomado por clima de estádio de futebol. Lá fora, uma multidão acompanhando a partida na praça. Bandeiras, cantos fortes. O time deu mais um salto durante a temporada regular, chegou a incomodar o Cleveland Cavaliers na disputa pela primeira colocação da conferência. Tudo seria diferente dessa vez.

Mas… Não. Novamente essa atmosfera festiva seria mais uma vez silenciada nos minutos finais da abertura dos #NBAPlayoffs2016 para Toronto por um ala chamado Paul. Sai Pierce, entra George como sobrenome. O ala do Pacers foi a grande estrela da primeira partida dos mata-matas. Boa parte desses times classificados pelo Leste podem até não ser muito badalados, sem as chamadas superestrelas  — mas os jogos prometem bastante, de todo modo. Só não vale incluir o Indiana nesse grupo. Seu ala camisa 13 pertence ao primeiro time de craques da liga.

Com 33 pontos e uma defesa sufocante frente no perímetro, George provou que é uma estrela de verdade, que joga dos dois lados da quadra, comandando o cabeça-de-chave número sete numa grande vitória por 100 a 90, neste sábado, que já rouba o mando de quadra para os forasteiros.

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Do outro lado, dois de seus companheiros na seleção All-Star, Kyle Lowry e DeMar DeRozan, tiveram atuações beeeem diferentes, sentindo dois tipos de pressão: a primeira, mais importante, que foi a de seus marcadores, mesmo. A segunda tem a ver com os recentes fracassos em jogos pela fase decisiva. Dava para ver na cara de Lowry. George, sozinho, anotou oito pontos a mais do que a dupla do Raptors. Pior ainda para o time canadense foi checar o aproveitamento de quadra destes caras: um abismal 8-32, ou meros 25% de acerto. Eles tiveram mais turnovers (nove) do que cestas de quadra. Nem um fominha descontrolado como Monta Ellis (5-12, um turnover, 15 pontos e 5 assistências) aprova números como esses.

A sorte de DeRozan é que o jogo foi realizado bem cedo, na hora do almoço. Diminui, assim, as chances de ele ter pesadelos com seu conterrâneo californiano. Apenas um ano os separam. Talvez tenham até se cruzado em quadras pelo circuito AAU ou colegial no imenso estado. Desde cedo, o ala do Raptors sempre foi considerado uma futura estrela, enquanto o líder do Pacers se desenvolveu mais lenta e discretamente, sendo recrutado pela tímida Universidade de California State, por exemplo. Hoje, com suas carreiras profissionais bem encaminhadas, há uma enorme distância entre um e o outro. Devido ao histórico californiano, estamos falando de dois alas que, volta e meia, estiveram associados ao Los Angeles Lakers, como possíveis reforços. Agora que Kobe Bryant se aposentou, há uma clara lacuna para ser preenchida na rotação de perímetro do time, de fato. DeRozan será agente livre ao final da campanha. É bom que Mitch Kupchak tenha assistido a esta partida, para ver quem exatamente merece um salário máximo…

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga...

George é um jogador de salário máximo. DeRozan, segundo costuma ditar o mercado, também vai se tornar. E deve ganhar ainda mais, devido ao aumento nos rendimentos da liga. Para o Lakers, não seria um bom investimento, se o objetivo é voltar ao topo da liga…

Sendo justo, DeRozan fez a melhor temporada de sua carreira. Só James Harden foi mais vezes à linha de lance livre do que ele. Também mostrou muito mais visão de quadra, criando para os companheiros. Foi eleito pela segunda vez para o All-Star, merecidamente. Neste sábado, porém, foi barrado no baile. Não havia corredor para ele passar. Com a infiltração removida de seu repertório, teve de apelar para o arremesso de média para longa distância, sempre contestado. Por mais que tenha melhorado um pouquinho neste fundamento, ainda é o seu ponto fraco. Ainda mais quando perturbado. O jogo não foi dos mais bonitos ou emocionantes, mas vale a pena revê-lo só para conferir a atuação defensiva de George. Não basta ter capacidade atlética, com explosão e agilidade nos pés. É preciso saber o que fazer com esses recursos, e o cara foi simplesmente impecável nesse sentido, se deslocando lateralmente com precisão impressionante. Também chamaram a atenção seus botes certeiros, quase kawhi-leonardianos, para terminar com quatro roubos de bola e dois tocos em 37 minutos. Dois desses roubos foram sensacionais, para consertar bobagens de seus companheiros no ataque, freando de imediato o contragolpe dos anfitriões.

Sobre Lowry, lembremos que ele já encerrou a temporada regular em baixa. Desde o All-Star, em casa, seus números despencaram. Para comparar, em fevereiro, ele anotou 23,6 pontos com 50,3% nos arremessos e 39,7% de três. Em março, produziu 21,9 pontos, mas com 40,4% e 37%, respectivamente. Em abril, em cinco jogos, teve 17,0 pontos, com 39,5% e 41%. O número de lances livres pelo baixinho também caiu consideravelmente na reta final. O armador está sofrendo com dores e inflamação no cotovelo direito desde janeiro, na verdade, e chegou até mesmo a fazer uma drenagem semanas atrás. Uma preocupação que Casey admitiu publicamente. Enfrentando outro excelente defensor como George Hill — que é mais alto e também tem braços longos toda a vida –, as coisas ficam ainda mais complicadas.

Se Lowry, devido a esta limitação física, não vai ser eficiente como no início da temporada, aumenta a carga de responsabilidade sobre DeRozan. Talvez seja o caso de Dwane Casey rabiscar mais jogadas para que seu cestinha seja acionado em movimento, em vez das manjadas investidas em mano a mano. O problema é que, mesmo nessas situações, não é garantia que o cestinha terreno, já que George é mais alto e mais comprido, sendo um terror nas linhas de passe. Ainda assim, forçando-o a encarar corta-luzes de Valanciunas, Scola e Patterson, ao menos você pode tentar desgastar o oponente.

Para o Jogo 2, ainda não é para entrar em desespero. Você não vai jogar no lixo o trabalho que resultou em 56 vitórias na temporada regular. De toda forma, o ataque excessivamente individualizado do Raptors precisa ganhar em diversidade. Já havíamos registrado aqui: seu sistema ofensivo esteve entre os mais eficientes da liga, mas o jogo de playoff é outra história. Os adversários estão mais preparados, o scout fica muito mais detalhado. Os vícios se tornam mais evidentes em quadra. Você precisa de diversidade. Basicamente, tudo o que se cobra de Oklahoma City há anos, com a diferença de que eles atacam com Kevin Durant e Russell Westbrook. Com todo respeito aos a Lowry e DeRozan, mas os All-Stars podem até ser iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.

No caso de Raptors, se for para apostar tão somente no repertório técnico de estrelas, é bem provável que o Pacers aceite o desafio, com Paul George ao seu lado. Se o ala puder ser dominante desta forma,  a série pode virar mais uma grande encrenca para o clube canadense, para tristeza de uma torcida que

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Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Batalha de Valanciunas com pivôs de Indiana promete

Jonas Valanciunas foi um leão no garrafão. Fato: pegou 19 rebotes em 21 minutos, sendo 11 ofensivos, ambos valendo como recordes para o Toronto em playoffs. Ainda anotou 12 pontos. Bacana, né? E, como assim o cara consegue números tão expressivos como esses e fica em quadra só por 21 minutos!? Dwane Casey pirou? Segue implicando com o lituano?

Não. É que ele cometeu seis faltas, mesmo. E uma consulta mais atenta à planilha estatística do pivô somada às ações que vimos em quadra nos passa um contexto mais complexo. Se Valanciunas apanhou 11 rebotes na tábua de ataque é porque ele, mesmo, desperdiçou diversas oportunidades ali embaixo. Errou 10 de 14 arremessos, tendo dificuldade para finalizar jogadas diante de dois pivôs que protegem muito bem a cesta: Ian Mahinmi  e Myles Turner. Foi um espetáculo (ou quase isso…) o embate entre os grandalhões.Juntos, cometeram 15 faltas, com cinco para o francês e quatro para o calouro.

Fisicamente, o titular do Raptors se impôs na busca pela bola. O problema era o  que fazer com ela depois. Ele obviamente tem munheca. Mas seus movimentos ficaram muito lentos e mecânicos a partir do momento que o Toronto bombou seu corpanzil. O cara se tornou um pivô sólido, competente, mas não está no primeiro escalão. Aos 23 anos, talvez possa melhorar ainda, mas isso está longe de ser uma certeza. Lembremos que ele joga em alto nível há um bom tempo já. Em 2010, já estava jogando a Euroliga. Quiçá o Raptors possa espaçar mais a quadra para que ele ganhe uns segundos preciosos para realizar suas jogadas. Mas não vejo muito para seu jogo possa se expandir agora.

Do outro lado, o contraste com Turner é gritante. O novato tem um potencial absurdo. Hoje, mesmo, já foi influente. Com ele em quadra, o Pacers teve saldo de 15 pontos. Por não tenha base para aguentar os trancos do lituano ou de Bismack Biyombo, o rapaz conseguiu causar impacto em quadra graças a sua envergadura e agilidade. Em 26 minutos, terminou com 10 pontos, 5 rebotes e, mais importante, 5 tocos. Dois foram em seu oponente direto. Mas também houve quase uma dezena de chutes que ele intimidou ou alterou, devido a sua presença bastante ativa. Logo mais, vai deixar a vida de Paul George muito mais feliz em Indiana.

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Jukebox NBA 2015-16: Raptors, Arcade Fire e um recado geral: eles existem
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Giancarlo Giampietro

jukebox-raptors-arcade

Em frente: a temporada da NBA caminha para o fim, e o blog passa da malfadada tentativa de fazer uma série de prévias para uma de panorama sobre as 30 franquias da liga, ainda  apelando a músicas, fingindo que está tudo bem. A gente se esbalda com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que pode ser divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “We Exist”, por Arcade Fire

Em 2011, com dez anos de estrada, os integrantes do Arcade Fire subiam ao palco do Grammy para, de modo até chocante, receber o prêmio de Álbum do Ano, superando popstars como Lady Gaga, Eminem e Katy Perry. Ninguém entendeu nada, nem a apresentadora Barbara Streisand, muito menos  mesmo o vocalista e compositor Win Butler, que, ao chegar ao microfone,  soltou: “Que diabos?!”

Aquele grupo de esquisitões, nerds e/ou eruditos reunidos em Montreal já atraía bom público em festivais e havia participado da festa antes, mas concorrendo entre os alternativos. Depois daquela façanha, com “The Suburbs”, se tornariam gigantes. Ou, vá lá, gigantes para os patamares atuais do rock. Mas chegaram lá, ganharam estofo, confiança e voltariam, dois anos depois, com um álbum bem mais ambicioso, “Reflektor”, para pista, com direito até a curta metragem dirigido por um dos Coppola e pontas de astros hollywoodianos. “We Exist” está entre essas faixas.

Ok.

Estaria o Toronto Raptors, então, preparado para dar um salto desses?

Bem, falar em título talvez seja algo impensável, mas esse, na verdade, é um discurso útil que vale para praticamente qualquer time que não se chame Golden State Warriors.

Contudo, se os objetivos forem menores, por que não?

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Ao receber o Cavs na sexta-feira, o Toronto Raptors ratificou que, sim, já existe como ameaça ao time de LeBron James ao título – da Conferência Leste, no caso, de acordo com suas atuais configurações. Cleveland, no papel, ainda é o favorito, mas, enquanto não encontra a paz interna, vai ser mais vulnerável do que a combinação de suas peças sugeriria. E aí entra o clube canadense na jogada, disposto a aprontar, seguindo o líder da conferência bem de pertinho, tendo a vantagem de um eventual desempate.

Havia diversos elementos que já serviriam para colocar Toronto como o principal candidato a azarão na conferência, posto que muitos talvez imaginassem que caberia ao Chicago Bulls no início da temporada, numa ascensão gradual da franquia, basicamente desde a partida de Rudy Gay e Andrea Bargnani. Mesmo que tivesse levado um sacode do Cavs no dia 4 de janeiro, fora por 122 a 100, haviam vencido 17 de 21 partidas incluindo antes do reencontro com os LeBrons. Ainda assim, valeu como tanto como um resultado simbólico, como para dar o troco e jogar pressão para cima dos caras, ajudando, de passagem, a tumultuar mais um pouquinho o vestiário.

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

(Parêntese: entre as celebridades basqueteiras, o grandão Win Butler, que jogava no high school, é autêntico. No All-Star em Toronto, dominou a pelada da sexta e foi eleito MVP. Drake? Que Drake?!)

Será que Bargnani e Gay poderiam imaginar um cenário desses, em que o Raptors entra em março com a quinta melhor campanha da temporada? E Bryan Colangelo? Talvez todos eles quisessem, mas é improvável que acreditassem que fosse possível que ele surgisse assim tão cedo. Mas não por acaso. Em diversos frentes, o clube canadense vem num processo evidente de crescimento, especialmente no mundo dos negócios, se firmando como um dos queridinhos do Canadá (vide o sucesso do slogan #WeTheNorth). A compra de uma franquia exclusiva na liga de desenvolvimento, em uma ação bem rápida, para acolher Bruno Caboclo e os mais jovens, também mostra isso.

De nada adiantaria uma esperta campanha de marketing se o produto em quadra não tivesse substância para sustentá-la. O técnico Dwane Casey sabe que não tem um time perfeito em suas mãos. Mas também está ciente de que conseguiu formar um conjunto bem equilibrado, com uma identidade bem definida e potencial para melhora, a ponto de voltar aos mata-matas com as maiores pretensões da equipe desde os dias em que Vince Carter decolava.

Os dinos têm o quinto ataque mais eficiente da liga e a 12ª defesa. Na subtração de um pelo outro, chega ao sexto melhor saldo de pontos por 100 posses de bola, superado apenas por, veja bem, Spurs, Warriors, Thunder, Clippers e Cavs. Ficar entre os sistemas ofensivos mais fortes, para esse núcleo, não é uma novidade, tendo ficado em terceiro neste ranking na temporada passada e em nono em 2013-14. Já o sistema defensivo resgatou sua credibilidade, depois de ter sido de um décimo lugar há dois campeonatos e de um esquálido 23º na campanha anterior.

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

Esse uniforme já viu a 2ª rodada dos playoffs. Mas não com Lowry e DeRozan

E há caminhos claros para apertar ainda mais a retaguarda. A prioridade seria a recuperação de DeMarre Carroll, afastado do time desde janeiro, quando sofreu uma artroscopia no joelho direito. Até a virada do ano, por exemplo, com seu caríssimo agente livre contratado, a defesa era a décima melhor, se colocando no cobiçado grupo de times top 10 dos dois lados da quadra. Mas ainda não há data para Carroll retornar, e o escritório de Masai Ujiri não deixa vazar nada. Se ele estiver pronto para os playoffs, será um tremendo reforço.

Outra possibilidade, dói dizer, seria o banimento, ou a redução significativa dos minutos de Scola na rotação. Ao consultar os 20 quintetos mais utilizados por Casey na temporada, vemos que lenda viva argentina está relacionada em nove. O duro é que, destes nove, apenas um tem saldo positivo. Os outros oito estão no vermelho, por mais que o camisa 4 tenha adicionado a seu repertório o chute da moda: tiros de três pontos pontos como um ala-pivô aberto. Scola está convertendo 38,3% de seus disparos de três pontos, e o mais interessante é que isso ocorre com um número elevado de tentativas. Ele saiu de 0,4 por 36 minutos quando defendia o Indiana Pacers para 3,0 neste ano.

A eficiência nos arremessos deixa a quadra mais alargada no ataque, facilitando as infiltrações de Kyle Lowry e DeMar DeRozan. Na defesa, porém, as coisas não funcionam. Em tese, isso poderia se explicar pela parceria com Jonas Valanciunas, com dois pivôs muito técnicos, mas extremamente lentos numa liga que tende a punir esse tipo de marcador. Acontece que, nem com Bismack Biyombo ao seu lado no garrafão, o Raptors tem resistido.

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Reputação de Ujiri talvez até assuste dirigente que vá negociar com ele

Daí o estranhamento pela inércia de um gerente geral tão agressivo como Masai Ujiri antes do fechamento da janela de trocas. Só mesmo o nigeriano e seus confidentes sabem ao certo que tipo de negociação e proposta eram atingíveis. Talvez Brooklyn e New Orleans tenham pedido muito por Thaddeus Young e Ryan Anderson. Mas muito quanto? O Raptors está numa posição bem confortável quanto a trunfos para negociações. Tem assegurada todas as suas escolhas dos próximos Drafts, além dos direitos sobre a escolha do Knicks  deste ano (ou do Nuggets, dependendo da ordem, ficando com a mais baixa delas) e mais uma do Clippers. Além disso, o terço final do elenco de Casey é dominado por atletas mais jovens, como Bruno Caboclo e Lucas Bebê, que não serão aproveitados tão cedo.

Moedas de troca Ujiri tinha. Se os negócios oferecidos não eram tão bons, isso não impedia que fosse atrás de outros caminhos. Não dá para criticar tanto alguém que preze pela paciência nos negócios. São vários os clubes que já se colocaram em má situação com uma sequência precipitada de trocas. Mas o clube canadense poderia para assumir riscos moderados, sem o temor de comprometer a sustentabilidade do projeto. Será que Jason Thompson, marginalizado em Sacramento e Golden State e contratado para o lugar do dispensado Anthony Bennett – ô, tristeza! –, pode render no lugar de Scola? Agora não há muito o que se fazer a respeito. Também não é o fim do mundo.

Com Lowry e DeRozan, o ataque conta com dois All-Stars que ditam o ritmo da equipe. Ritmo, por sinal, que é o quinto mais lento da liga, em sintonia com Spurs e Cavs. Isso tem muito a ver com o modo como os dois atacam. São centralizadores, massageam a bola (o Raptors é o segundo que mais arremessa nos últimos quatro segundos de uma posse de bola, com 7,2 por jogo nessas condições), chamam o pick-and-roll, vão para dentro, e dá certo. Juntos, são responsáveis por 56,4% das assistências da equipe. É muito. Mas, comparando com a liga, isso não significa muito, já que o Raptors é o terceiro que menos faz cestas assistidas (14,5%). Como faz, então, para ter um ataque eficiente, sem ser solidário? Não é com o bombardeio de fora. O rendimento de 36,8% nos chutes de três é excelente, o terceiro melhor (Warriors e Spurs). Mas eles não arriscam muito, ficando em 15º em tentativa, no meio da tabela.  Por outro lado, são muitos lances livres para compensar, sendo o terceiro em conversões (Rockets e Wolves). Também se comete poucos turnovers, com 13,2.

Lowry e DeRozan fazem suas melhores temporadas. Depois de um regime durante as férias, o armador se apresentou a Casey em excelente forma, finíssimo. Bacana, certo? Só não deixa de ser engraçado que ele tenha esperado nove anos para chegar a essa conclusão, de que perder alguns quilinhos poderia fazer bem a um armador que adora bater para a cesta e se gabava, antes, de ser um pitbull na defesa. Enfim.

Antes e depois

Antes e depois

Já DeRozan passou a enxergar o jogo com muita inteligência e paciência, para se infiltrar e descolar lances livres. É o segundo que mais converteu chutes na linha nesta temporada, atrás apenas de James Harden. Em seus movimentos rumo ao aro, vem usando cada vez mais o pick-and-roll e também aprendeu a servir aos companheiros. Fica tão confortável com a bola que hoje tem uma taxa de uso maior que a de Lowry.

Além disso, o que vem funcionando muito bem é o banco de reservas. Com Lowry fazendo companhia a Cory Joseph, Terrence Ross, Patrick Patterson e Biyombo, temos um quinteto que vem sendo bastante produtivo, com um saldo de 29,4 pontos por 100 posses de bola. Essa é a quarta melhor marca do campeonato (para um mínimo de 20 jogos e 100 minutos), gente. Outro quinteto que rende bem tem Lowry-Joseph-Ross-Patterson-Valanciunas, mas com uma carga bem menor de minutos (63 contra 201 da outra equipe).

Os bons resultados, aliás, devem gerar um impasse para Casey. Se o time titular não tem rendido conforme o esperado, ao mesmo tempo seria complicado de mexer drasticamente na rotação, já que a segunda unidade tem dado tão certo. Daí que um retorno de Carroll seria providencial. Dependendo de seu estado físico, o veterano poderia ser reinserido naturalmente no lugar de Scola, e vida que seguisse. Se ele não puder jogar, porém, seria a solução estender os minutos de Patterson? Ele manteria sua eficiência com maior carga? Scola daria conta, pelo menos, dos minutos que sobram para a posição? Ou talvez você possa distribui-los entre James Johnson e Ross, com Johnson jogando mais perto do garrafão nesse caso.

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Scola produz no ataque. Mas é um problema na defesa

Diante dessas dúvidas, o argumento por uma postura mais agressiva na busca por trocas ganha mais força. Outro  ponto a ser levado em conta, nesse raciocínio, é a entrada de DeRozan no mercado de agentes livres neste ano e a de Lowry no ano que vem. Os contratos da NBA são cada vez mais curtos, e o prazo de validade de um time competente fica reduzido na mesma medida. Qualquer elevação na produção desse time poderia empurrá-lo com tudo para cima do Cavs, independentemente do estado de espírito dos adversários.Isso, claro, se eles chegarem a esse embate. Por mais que tenham se fixado como o segundo principal time da conferência, não dá para encarar uma série com o Boston Celtics como uma barbada. Isso para não falar, de repente, de um confronto com o Atlanta Hawks logo de cara. Glup.

Num cenário ideal, supõe-se que o clube renove com DeRozan em julho, mesmo que isso os tire de ação no mercado, dando conta do teto salarial nas próximas duas temporadas. Deixar o ala-armador sair seria assumir um grande risco (estamos falando do terceiro jogador do clube em eficiência, com 23,1 pontos, 4,1 assistências, 4,3 rebotes, 6,9 lances livres por jogo e aproveitamento de 83,8%, 26 anos). Para ir atrás de Durant? É realista? Al Horford? Será concorrido. Dwight Howard? Não faz sentido. Há opções mais baratas, que poderiam atenuar uma perda e manter a flexibilidade para manobras. Mas há também como ficaria o relacionamento com a torcida? DeRozan é o Raptor mais longevo desse elenco e acabou de ser eleito All-Star.

Obviamente essas questões todas passam pela cabeça de Ujiri. Como ele mesmo disse a Zach Lowe, do ESPN.com: “Como você passa de bom para excelente na NBA? Isso é realmente muito difícil”. É complicado, mesmo. Cada negócio ou não-negócio tem uma ramificação. A diretoria preferiu apostar na continuidade do time e de seu projeto com os mais jovens. Basta mais uma série desastrada nos playoffs e nova eliminação na primeira rodada, porém, para que essa narrativa seja alterada drasticamente. Pensando no estágio em que o clube estava no início da década, esse tipo de problema não justifica lamúrias. São hipóteses também. Por enquanto, de concreto, o que temos é que o Raptors existe e precisa ser respeitado.

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

Torcida empolgada geral em Toronto. Querem mais nos playoffs

A pedida? Final de conferência. Ou, pelo menos, competitividade numa eventual semifinal contra Boston, Miami, Indiana etc. O certo é que chegar aos playoffs já não é o bastante mais. Uma terceira eliminação consecutiva na primeira rodada seria uma tremenda decepção e muito provavelmente poderia resultar na demissão de Dwane Casey, além de chacoalhar as estruturas superiores da franquia.

A gestão: Masai Ujiri é um dos executivos mais bem pagos da liga, por uma razão. Ou várias razões. O New York Knicks que o diga, depois de duas negociações (Carmelo vindo de Denver e Bargnani de Toronto) em que diferentes dirigentes foram rapelados pelo nigeriano. O cara  desfruta de tanta reputação na liga que seus pares deveriam ter receio de iniciar uma negociação com ele. Talvez venha daí, mesmo, a ausência de trocas por parte do Raptors. Vai saber.

O que Ujiri não nega é que, em seu projeto, houve também uma contribuição do acaso, ao tentar arrumar a bagunça deixada pelos últimos anos desesperados de Bryan Colangelo por lá – quando mandou Rudy Gay para Sacramento, jamais imaginaria que essa transação resultaria em uma (r)evolução imediata em seu time, rumo ao topo da conferência.

Claro que há uma contribuição estrutural nessa reformulação. O trabalho com os técnicos do Raptors ajudou DeRozan a virar a ameaça que representa hoje, realizando todo o seu potencial, mesmo que seu arremesso exterior ainda não desperte o horror nas defesas. Se Valanciunas e Ross vão progredir desta maneira, o time ficará em boas condições, uma vez que seus contratos foram firmados em um teto salarial muito mais baixo do que vem por aí nos próximos anos (subindo de US$ 63 milhões na temporada passada para algo em torno de US$ 110 milhões em 2018).

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Caboclo: 13,8 pts, 5,8 reb, 1,6 blk, 1,6 ast e 39,1% de quadra pelo Raptors B

Ujiri foi promovido de scout gratuito do Orlando Magic no início da carreira a chefão em Toronto por conta de uma vasta rede de relacionamento, mas também pelo trabalho exaustivo na busca por talentos mundo afora, e a história da seleção de Bruno Caboclo, numa articulação (quase) confidencial, é um grande exemplo de sua visão como dirigente.

Naturalmente, o dirigente tratou de buscar atletas mais jovens e conseguiu formar um núcleo bastante homogêno. Tirando Luis Scola, de 1980, todos os outros 14 atletas da equipe nasceram entre 1986 (Lowry e Carroll) e 1995 (Caboclo). Boa parte deles tem a chance de se desenvolver lado a lado, em que pese a curta duração de seus contratos. O problema: Lowry é justamente o segundo mais velho. Agora em março, vai virar trintão. Sem o armador, como essa base se viraria?

A diretoria dos dinos tem de se perguntar o quanto isso tudo vai durar, considerando seu estilo de jogo. Lowry é hoje a grande estrela da turma, tendo se transformado no tipo de jogador que a franquia jamais conseguiu recrutar no mercado de agentes livres. Aliás, pelo contrário: a história diz que estrelas ou candidatos a estrela saem de Toronto rapidamente. Então a linha de questionamento continua: se o armador está no auge, será era a hora do ataque? É legal investir na garotada, mas quando eles serão promovidos para valer? E quantos deles?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

Será que Caboclo e Bebê vão conseguir jogar para valer com Lowry no Raptors?

O time atingiu um nível tão bom em quadra e tem uma rotação estabelecida que torna difícil o aproveitamento dos mais jovens. Ou, vamos colocar assim: mais inexperientes. O armador Delon Wright, irmão mais novo do ala Dorell, pode ser um novato, mas é dez dias mais velho que Valanciunas. Ambos chegarão aos 24 nesta temporada, assim como Lucas Bebê. O ala-armador Norman Powell vai completar 23. Bruno Caboclo é quem ainda pode ser tratado tranquilamente como o caçulinha. Só vai fazer 21 em setembro, pouco antes do próximo “training camp”.

Legal. É boa a base.

Mas com atletas que já estão, ou deveriam estar num estágio de desenvolvimento mais avançado. Preparados para assumir mais responsabilidades, exceção feita a Caboclo. Juntos, eles receberam apenas 476 minutos na temporada. Se fossem apenas um atleta, isso daria 8,2 minutos por partida, e isso só aconteceu devido a lesões de Valanciunas e Carroll, que liberaram boa parte dos 313 minutos de Bebê e Powell. Em suma: é D-League, ou fim da fila no banco de reservas. Se tudo der certo no time de cima, essa é uma condição que deve ser mantida por um bom tempo, a não ser que deem sinal de progresso nos treinos ou na liga menor.

No fim, como Ujiri vai aproveitar esses jogadores é o que pode definir seu trabalho.

Olho nele: Bismack Biyombo.

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Biyombo, mas pode chamar de protetor de aro

Se arrumar a defesa era uma prioridade do técnico Dwane Casey, a contratação do centro-africano foi uma dádiva. Se nenhum Rudy Gobert está disponível, se não havia muito espaço na folha salarial para investir pesado além de Carroll, conseguir Biyombo por menos de US$ 3 milhões foi também uma pechincha. Com baixa estatura, mas muita envergadura e força física, o pivô é uma alternativa perfeita a Valanciunas, contra pivôs mais ágeis. Sua verticalidade também funciona muito bem no novo sistema defensivo dos dinos, que tenta empurrar os atletas para o centro do garrafão, para chutes de média distância contestados pelo xerife da vez. Com Biyombo em quadra, fica mais difícil de achar a cesta: os oponentes fazem 5,6 pontos a menos por 100 posses de bola. Suas dificuldades ofensivas ainda o limitam no mercado, mas é provável que ele exerça sua cláusula – não é possível que ninguém lhe pague mais que que os US$ 2,9 milhões previstos em seu contrato. Troque Roy Hibbert por ele, e o Lakers teria um garrafão muito menos acolhedor, certamente, por exemplo.

vince-carter-dunk-elbowUm card do passado: Vince Carter. Muito óbvio? Pois é. Mas, do elenco da temporada 2000-01, a primeira e única vez em que o time venceu uma série de playoff, o então acrobático ala foi o único que sobrou na liga para contar história. Hoje não lembra em nada aquele cestinha de então, explosivo, com um conjunto de ataques enfáticos ao aro praticamente inigualável ou que, no mínimo, só permite que um Jordan, um Wilkins ou um Erving lhe façam companhia. Mas dá sua pequena, esporádica, mas honesta contribuição ao Memphis Grizzlies – o que é curioso, já que estamos falando da franquia que não teve tempo o suficiente para vingar em solo canadense, enquanto, no auge, ajudou o Raptors a se estabelecer comercialmente, enquanto ajudava o basquete a se popularizar por lá.

Para termos uma ideia do quanto valem os 15 anos que se passaram, vamos relembrar do que consistia a rotação do técnico Lenny Wilkens, então: Alvin Williams, Chris Childs, Dell Curry, Morris Peterson, Jerome Williams, Charles Oakley, Antonio Davis e Keon Clark. O último a se aposentar dessa leva toda foi Peterson, em 2011, aos 33, mas sem condições de entrar em quadra por OKC, depois de anos pouco produtivos, com muitas lesões, em New Orleans.

Naquela campanha, Carter tomou uma decisão que se tornaria extremamente controversa e, de certa forma, o empurraria anos mais tarde para fora de Toronto. Em plena semifinal de conferência com o Philadelphia 76ers de Allen Iverson, decidiu viajar para Chapel Hill para receber seu diploma universitário, por North Carolina. Precisamente no mesmo dia de um eletrizante Jogo 7, 20 de maio de 2001. A partida derradeira foi decidida apenas no último segundo, e com posse para o Raptors. Carter pediu a bola, fez a finta e foi para o chute. Deu aro, batendo na parte de trás. Tivesse acertado, seria uma jornada perfeita para qualquer marketeiro da liga: imagine só, você não só estava falando de um superastro em quadra como de um aluno comprometido. Mas não aconteceu, e, de modo inevitável no mundo esportivo, o ala passou a ser questionado com frequência. A equipe ainda voltou aos playoffs em 2002, mas caiu diante do emergente Detroit Pistons que ganharia o título dois anos depois. Seria ladeira abaixo a partir daí, e a amargura da torcida, as derrotas e um ressentimento retribuído por Carter resultaram numa troca do astro com o New Jersey Nets na temporada 2004-05.


Ainda em busca de paz, Cavs perde e agora é pressionado até pelo Raptors
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Giancarlo Giampietro

LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

Respira fundo: LeBron jogou 24 minutos sem parar no segundo tempo, e de nada adiantou

O Cleveland Cavaliers é um time que desafia qualquer observador. O time ainda tem a melhor campanha do Leste e a terceira melhor no geral. Com Tyronn Lue, ainda que numa amostra menor de jogos em relação a David Blatt, o ataque se tornou um do mais eficientes da liga (superando o Golden State por um triz) e elevou seu saldo de pontos também, espancando rivais como San Antonio e Oklahoma City pelo caminho.

Ainda assim, basta uma derrota para o clima no vestiário se anuviar. Depois de tomada uma virada no quarto período contra um Toronto Raptors cujo principal cestinha não tinha condições de jogo, recomeçou o jogo da culpa, das críticas internas, liderado por Lebron James.

Assim como no caso da surra que tomaram do Warriors em casa, o raciocínio tem de ser mantido: foi só mais um jogo num calendário de 82 rodadas. Por mais que, do ponto de vista prático, fosse um jogo realmente mais importante que a revanche contra Golden State, já que agora o adversário canadense não só se aproxima na tabela (com apenas duas derrotas a mais) como assegurou o triunfo por 2 a 1 no confronto direto e garante o direito do desempate na classificação, se for o caso. Basicamente: o Cavs, que corre atrás do próprio rabo para tentar se equiparar a Warriors e Spurs, sofre mais pressão, agora de que vem de baixo, o Raptors.

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Mas, bem, desde o momento em que o Rei James anunciou seu retorno, pressão seria a via de regra. O que a derrota em Toronto nos conta é justamente sobre a questão de como o elenco reage a isso.  E não parece bem. O Cavs perde uma, e parece que a equipe está se desequilibrando diante de um precipício. Não era para ser assim. Derrotas acontecem, especialmente contra adversários qualificados – excluindo o Golden State aqui, que prefere perder para times medíocres.

Vamos ver o relato do repórter Dave McNemanin, setorista do ESPN.com, num texto cuja manchete é “Cavs sofre déjà vu em derrota, com os mesmos problemas reparecendo“:

Nós não acabamos de passar por aqui? Não parece que foram há apenas alguns dias, e, não, semanas, que o Cleveland Cavaliers trotou rumo a Toronto, com um céu ensolarado supostamente no horizonte, vencedores de 11 dos últimos 13 jogos, até que o Raptors fizesse chover em seu desfile, deixando o vestiário em desordem após a partida?

Avancemos a fita três meses, e o Cavs voltou ao Air Canada Centre na sexta-feira, vencedores de 11 de seus 14 jogos anteriores. E o resultado? O mesmo. A cena pós-jogo? Semelhante. Não houve uma reunião só de jogadores como da última vez, mas houve um aspecto semelhante com diversos jogadores reunidos em pequenos grupos para longas conversas como vestiário aberto para a mídia, e eles lamentando o que deu de errado, enquanto seus comentários gravados foram concisos, mas reveladores.

E aí tem essa aspa de LeBron, numa entrevista que, segundo Chris Haynes, do Cleveland Plain Dealer, durou pouco mais de um minuto: “Quando perdemos do jeito que foi, cometendo um erro mental atrás do outro, isso dói mais que tudo, já que sabemos que podemos jogar melhor mentalmente. As pessoas podem se concentrar no aspecto físico. Mas nos falta força mental agora. E temos de continuar melhorando com isso”.

Você pode ler a frase acima como uma observação honesta, depois do que aconteceu em quadra. O Cavs chegou ao quarto período com nove pontos de vantagem e, sem que LeBron tenha sentado sequer por um minuto em todo o segundo tempo, foram superados por 99 a 97, com uma exibição magnífica de Kyle Lowry – 43 pontos, seu recorde pessoal, 9 assistências, 15-20 nos arremessos, 11-15 nos lances livres, em 43 minutos. Por uma noite, entre a elite do Leste, Lowry foi o melhor jogador em quadra.

Mas aí vem outra: “É isso que os All-Stars fazem”, elogiando Lowry, titular no jogo festivo de alguns dias atrás, o mesmo que não teve Kyrie Irving, curiosamente. E não nos esqueçamos que houve uma polêmica a respeito de uma possível seleção de Irving. Para alguém que, lesionado, havia perdido metade do calendário, obviamente não caberia na festa. Mas o voto popular quase o colocou lá. Virou assunto. E esta: “Pensando adiante, vamos ter de encontrar alguém que seja capaz de marcá-lo”, num comentário que atinge também um leal soldado como Matthew Dellavedova, que tomou um baile do cestinha da partida no quarto período. Coincidentemente, foi a mesma frase usada por Lue em sua coletiva.

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

L(w)owry arrebentou com a defesa do Cavs numa das cinco maiores atuações da temporada, certamente

Se você pega os comentários de LeBron e os analisa no vácuo, como se o Cavs tivesse disputado apenas um jogo nesta temporada, não há o que contestar. Ele listou fatos. Usou pouco mais de 60 segundos para mandar sua mensagem aos companheiros. Além disso, pressupõe-se que o ala deva conduzir  time, mesmo. É ele que tem a fama, a visão de jogo e, principalmente, a experiência de anos e anos de playoffs e jogos decisivos para se impor no vestiário e tentar arrumar as coisas. Love, Irving e toda a galera deveriam escutá-lo, sem dúvida.

Existe sempre o outro lado da história, porém. Que nos diz que LeBron também não pode querer liderar só com base em seu currículo, se não for ele a dar exemplo em quadra – uma discussão que, pasme, já vem do ano passado e ainda não foi resolvida internamente, como Kevin Love fez questão de nos lembrar na derrota para o Warriors. Neste jogo específico em Toronto, ele ficou em quadra durante todos os 24 minutos do segundo tempo, por sinal (e se isso foi uma decisão inteligente por parte de Tyronn Lue e do craque, é de se questionar, faltando perna para o último arremessos, sobre o qual falaremos mais abaixo). Mas não é que o craque tenha se esforçado muito e se ralado durante a temporada. São vários os jogos em que ele esculachou geral na defesa sob o comando de David Blatt, minando o treinador e também preservando energias para a hora que mais importa, os playoffs. Para alguém com sua milhagem, é natural, aliás. James Harden não acumulou nem a metade disso, e faz igual ou pior. Para o elenco, por maior que seja sua estatura, suponho que isso não pegue bem e não dá total liberdade para que ele critique os demais, com comentários sucintos ou não.

Além disso, se LeBron vai reclamar do surto de fome por que passa Irving, se vai tentar chacoalhar Love e tirá-lo da depressão, também deve ouvir que seu aproveitamento nos arremessos de média para longa distância deixam muito a desejar até o momento, com aproveitamento de 28,0% na temporada, o pior de sua carreira (quando novato, aos 19 anos, acertou 29,0%) e que, mesmo assim, foi para um hero ball contra o Raptors. É algo um tanto bizarro, já que despencou dos 35,4% da temporada passada e dos 40,6%% que atingiu há três temporadas, pelo Miami, seu auge no fundamento. Se o astro folga na defesa e se sua taxa de uso no ataque está levemente reduzida até, em tese não haveria motivo para sentir a perna e amassar o aro nos chutes de fora:

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade)

Antes (2014-15) e depois (hoje, na verdade). Em termos de percentual no total de arremessos, ao menos LeBron baixou seu volume de tentativas de fora, de 26,5% para 20,4%, segundo o Basketball Refrence reconhecendo sua dificuldade. A taxa de lances livres em relação ao número de arremessos, porém, também, caiu, de 41,3% para 35,8%

Aqui chega a hora de recuperarmos a última bola da derrota em Toronto. Com dois pontos atrás no placar e 3s8 no relógio, qual a jogada sai no final?

Um chute de três de LeBron a partir do drible, em isolamento? Era a melhor alternativa para alguém que não descansou no segundo tempo? A matemática da temporada diz que não era uma boa decisão, mesmo que ele tivesse matado duas em três na partida e tenha sobrado com o diminuto Cory Joseph e que o canadense nem o contestou tão bem assim. Que o camisa 23 ganhe a prioridade nesse tipo de situação, pelo arremesso da vitória, não dá para discutir muito. É assim que funciona por lá, é assim que funcionou a vida toda para Kobe em Los Angeles, e Kyrie Irving vinha numa jornada horrível (e, para ser justo, o armador também só tem matado 29,5% de seus arremessos de longe na temporada). Só havia tempo no cronômetro e dois pontos por reverter no placar para tentar outra alternativa.

Agora… com dois pedidos de tempo, essa foi a melhor idéia que Tyronn Lue teve? Então vale a zoeira: ao que parece, não era apenas David Blatt que tinha dificuldade para desenhar jogadas na rodinha… E, claro, meu amigo enfezado, que isso é uma ironia. Qualquer armador que tenha ficado mais de dez anos na liga sabe rabiscar uma prancheta, assim como qualquer técnico que tenha medalha olímpica e título de EuroBasket e Euroliga.

De qualquer  maneira, não é culpa de LeBron que o time tenha pedido em Toronto. Que ele e Lue não foram para a bola mais inteligente, não há o que negar, mas não foi o airball que custou a partida.  McNemanim lista outros itens, por exemplo:

– o aproveitamento de 5-9 de LeBron na linha de lance livre. Pois é: não é que o ala seja a perfeição em quadra e não faça parte dos problemas.

– Em 1min34s de jogo no quarto período, Shumpert fez duas faltas em Lowry e ainda tomou uma técnica por reclamação exagerada, em sequência que agitou a galera e o adversário.

– Kyrie Irving foi um horror, sem conseguir nem fazer cócegas em Lowry ou em Cory Joseph e sem agrediu do outro lado (4-11, 10 pontos), tomado por apatia. E segue a inquietação de James, e talvez mais atletas, de que ele seja egoísta demais com a bola, registrando apenas uma assistência em 31 minutos, para ficar com uma média de 3,2 passes para cesta nas últimas cinco partidas. Dê uma espiada neste link aqui também e veja alguns dados interessantes sobre as trocas de passe entre Irving e LeBron.

Acrescento outro:

– Formando uma dupla de pivôs com LeBron no quarto período, Kevin Love rendeu bem no ataque, chegando a marcar cinco pontos consecutivos nos minutos finais. Mas a defesa sentiu com essa formação, tomando cinco cestas no garrafão nesta parcial, sem contar as penetrações de Lowry que terminaram em falta. Qualquer jogadinha de pick-and-roll virava um tormento.

E, para não dizer que a visão de McMenamin estaria contaminada pelo fato de ele escrever para a “sensacionalista” e “manipuladora” ESPN, Chris Haynes, que é praticamente um porta-voz da agência Klutch, de Rick Paul e LeBron, disse que o astro estava “furioso”, enquanto  Jasson Lloyd, do Akron Beacon Journal, teve a mesma impressão  sobre o clima ruim no vestiário em suas notas sobre a noite de sexta-feira.

Lloyd também ressalta o esforço contraditório que LeBron tem feito em dizer que não se importa com a classificação da conferência, ao mesmo tempo que pede um senso de urgência aos seus companheiros. De acordo com o repórter, porém, Lue atribuiu desde o princípio extrema importância ao jogo, a ponto de manter seu principal atleta em quadra sem um respiro – dessa vez o ala pelo menos nos poupou do artifício da auto-substituição. Ele provou que está em forma, aí, sim, supostamente preparado para tomar conta da situação quando chegar aos playoffs.

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

A vitória de Lowry e Toronto foi ainda mais importante pelo fato de DeMar DeRozan ter tido atuação praticamente nula, com febre, gripado, indo para o sacrifício no quarto período, quando fez sua única cesta de quadra. A bela imagem do abraço em Lowry fica ainda mais representativa com Irving desfocado ao fundo

Aliás, nos mata-matas do ano passado, LeBron foi ainda pior nos arremessos de fora, com 27,2%, mas isso não interferiu em nada na caminhada do Cavs rumo à disputa do título. Também não é o mais correto comparar com o rendimento da temporada regular com o da fase decisiva, por serem realidades completamente distintas. Os time fazem mais jogos contra adversários específicos, e, no caso do Cas, um deles foi o Golden State (seis de suas 20 partidas), o que desequilibra os números.  Outra particularidade: Kevin Love e Kyrie Irving ficaram pelo caminho numa fase em que as defesas estão mais atentas.

De todo modo, como sabemos, não é um duelo de primeira rodada com um Charlotte da vida ou mesmo um reencontro com Indiana ou Miami na segunda rodada que devem preocupar o time, tal como no ano passado. Em teoria, é como se entrassem nos mata-matas apenas com duas séries pela frente, com a final de conferência e a decisão do Oeste, caso avancem. (No ano passado, a diferença é que o teste veio na semi contra o Bulls, uma vez que o Atlanta ficou ainda mais esfacelado em termos de lesões).  Mais: é improvável que o Cavs adote a tática de “entregue-a-bola-para-LeBron-e-saia-da-frente-enquanto-ele-consome-o-relógio”, se a equipe estiver completa. Aquele ataque foi circunstancial, com o ala sendo acionado já dentro do perímetro, abrindo pouco para o chute. Contra defesas mais fortes, esse tiro de fora faz falta, ainda mais para alguém que retém tanto tempo a bola, e principalmente se Irving não reencontrar um rumo na vida. Se chegarem aos playoffs apenas com J.R. e Love com válvulas de escape, podem esquecer.

A confiança que o torcedor ferrenho do Cavs tem é a de que, na hora do vamos ver, LeBron vai ativar o turbo e dominar, com seu arranque de locomotiva rumo ao aro. Aconteceu no ano passado – e, sim, ele fez tudo o que pôde, vendo seu índice de eficiência despencar, mas simplesmente porque o Cavs não tinha mais nenhuma alternativa em quadra. E, como sabemos, não foi o suficiente: chegou uma hora em que o gás acabou, que ele se viu encurralado diante de um paredão do Warriors no garrafão e que Stephen Curry entendeu o que fazer diante de uma defesa agressiva, mas limitada atlética e tecnicamente, devido ao número reduzido de peças.

São 15 jogos, com 11 vitórias, mas ainda está cedo para Lue dizer a que veio

São 15 jogos, com 11 vitórias: ainda está cedo para Lue dizer a que veio

Ah, mas você mesmo já falou: Irving e Love se lesionaram, e Varejão não estava pronto para retornar. Ah, mas agora o time tem um técnico que respeitam. Ah, e a despeito da idade, LeBron diz que se sente dez vezes melhor nesta temporada do que na campanha passada, quando estava com as costas travadas, o joelho doendo e a cuca frustrada com Blatt, até mesmo tirando férias no meio do campeonato.

Sim, sim, tudo isso conta e está em jogo. Com Tyronn Lue, desde o dia 25 de janeiro,  em seus últimos 15 jogos, o time realmente teve o melhor ataque da liga, num empate técnico com o Thunder e o… Warriors, sempre ele. Por mais que a defesa tenha caído bastante (ficando em 14º, oras), o Cavs ainda aumentou seu saldo de pontos nesse período. Está cedo, de todo modo, para comparar os números com os de Blatt. Guardemos esses dados para abril.

Agora percebam o seguinte: escrever um texto sobre o Cleveland Cavaliers sem um advérbio de adversidade (mas, porém, contudo, no entanto, todavia…) é uma tarefa impossível. Acredite: fico me esforçando aqui para não repetir a fórmula, sem sucesso. Desafio os melhores escribas a esta empreitada. Estamos tratando de um time muuuuuito complexo, que escancara diversas das questões e miudezas da NBA que vão além da cobertura de pick-and-roll ou de movimentação ofensiva. “O que é de deixar maluco é que você vê este time destroçar o Thunder, na estrada, numa noite e, na outra, o vê sendo derrotado pelo Pistons em casa, para não falar de largas lideranças cedidas em derrotas para o Celtics e, agora, o Raptors”, escreve Llloyd.

David Blatt já foi demitido, e entre tantas razões, consta por aí que gerente geral David Griffin queria justamente tirar de cena aquele que seria o álibi perfeito para os jogadores numa eventual queda nos playoffs. Kevin Love está mais animado, energizado, participativo. Kyrie Irving e Iman Shumpert estão saudáveis, ou pelo menos é o que se informa oficialmente. Até o J.R. Smith anda minimizando suas cabeçadas (apenas 0,8 em turnovers) e matando tudo de fora (46%) em fevereiro.

Os elementos estão aí, o time vai crescendo e, ainda assim, pelas declarações de LeBron e pelo sentimento geral dos repórteres presentes no Air Canada Centre, ainda perdura algo de estranho no ar.  É tudo ou nada para o Cavs, e depois de 139 partidas de temporada regular e de uma disputa das finais com LeBron, a 25 partidas do fim da campanha 2015-16, seus jogadores ainda não se acostumaram com isso e nem se apaziguaram.


Ratificado All-Star, líder do Raptors destaca empenho de Caboclo
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Giancarlo Giampietro

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Experimente falar para o Kyle Lowry que o All-Star Game é apenas uma festa, que não deveria para validar grandes currículos e diferenciar jogadores na NBA. Aos 28 anos e nove temporadas – “Nem tão velho assim”, como gosta de frisar –, o armador foi eleito pela primeira vez para a partida que marca a metade da temporada regular e reúne um PIB per capita impressionante em quadra. Está curtindo a experiência.

O jogador chegou a ganhar a fama nos bastidores da liga de ser um dos jogadores mais complicados de se lidar no dia a dia. Aquela coisa de reclamar de treinador, reclamar dos erros dos companheiros, empurrando por um senso competitivo extrapolado, daqueles que ultrapassa os limites do razoável. Desde que o gerente geral Masai Ujiri chegou a Toronto, dando respaldo ao técnico Dwane Casey, mais presente nas operações do time, Lowry foi amansando. Mesmo naqueles tempos em que todos cotavam o Raptors como candidato a primeiro no Draft de Andrew Wiggins – e não a grande surpresa da Conferência Leste.

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Rudy Gay e Andrea Bargnani saíram, o Raptors decolou, e a figura de Lowry passou a ser reconhecida, enfim, pelo seu talento com a bola, e não pelas intrigas ou brigaiada. Na temporada passada, não deu tempo de ele ser premiado. Neste ano, não escapu. Chegou a hora de carimbar o selo de All-Star em seu currículo, algo que lhe vale bastante, não importando o fato de já ser considerado um dos melhores de sua posição. Coisa de orgulho pessoal, de ver oficializada uma conquista. Tem de entender.

A surpresa fica por conta de sua presença no time titular. Rolou no Canadá uma campanha nacional estrondosa, com apoio de Justin Bieber, Drake e qualquer outro embaixador disponível para garantir a convocação do astro. Deu tanto certo que, na reta final, ele ultrapassou ninguém menos que Dwyane Wade para ficar entre os cinco iniciais.

De modo que, durante o Media Day da NBA nesta sexta-feira, ao contrário de Tim Duncan, o armador subiu todo disposto e falante a seu palanque na sala de conferências do Hotel Sheraton, em Nova York, para ser rodeado por essa gentalha qualificada de jornalistas. Entre os zombeteiros, estava o VinteUm, também num cenário bem diferente daquele que cercava Duncan: acesso mais tranquilo.

(Aliás, parêntese: a despeito da presença de LeBron James e Carmelo Anthony no Leste, a movimentação de jornalistas em torno da galera do Oeste foi bem maior. Muito maior, mesmo, num reflexo claro do desnível de talento de uma conferência para a outra.)

Com menos gente ao redor, deu para fazer algumas perguntinhas ao All-Star Lowry. Vamos nessa, então:

21: Você já era sabidamente um dos melhores jogadores de sua posição. Então o que acontece quando chega a notícia da convocação? O quão importante era ter essa validação?
As coisas são diferentes, malucas, mas é empolgante. Quando a oportunidade vem, você tem de aproveitar. Nos anos em que não vim para cá, o que precisava era continuar trabalhando, fazendo o meu. Era continuar a crescer, mesmo achando que eu já era bom o bastante para estar no evento. Mas já chego sendo titular. Aí não dava para ser melhor.

Pensando nisso, temos o apoio dos torcedores de Toronto, que formaram um grupo fanático, bem diferente do que estamos acostumados a ver por aí na liga. O que pode falar sobre eles e sobre como conduziram sua eleição?
Nossa base de torcedores é maluca. Eles sempre agitam o ginásio, mostrando a paixão deles, fazendo barulho, colocando fogo. É algo sensacional, mesmo. Em Toronto, não estamos jogando mais por uma cidade. Mas, sim, por um país. De Montreal a Toronto. O país todo.

E essa história de vermos torcedores do Raptors por todas as partes agora? Até em Portland?
É, são vários os canadenses espalhados por aí, e eles aproveitam a chance para dar apoio ao time para o qual amam. E a gente, claro, curte muito isso de vê-los torcendo na estrada.

Bom, esse aspecto de ter uma torcida sensacional e um país, digamos, por trás do clube, não faz do Raptors agora um mercado mais atraente? Não muda a imagem?
Acho que o que muda mais a imagem é o fato de estarmos vencendo, acima de tudo. De estarmos jogando bem e vencendo. Se continuarmos num bom ritmo, vamos ter mais chance de conseguir bons reforços, ainda que nosso time já tenha uma boa formação.

Para fechar, sendo do Brasil, é obrigatória a menção a Bruno Caboclo, mais um que sente o carinho do torcedor. Não tivemos muitas chances de vê-lo jogar nos últimos meses, por razões óbvias. O que você vê nos treinos diários?
O processo para ele agora é o de continuar melhorando. Ele é ainda tão jovem e cru, que não dá para falar sobre o que ele vai se tornar. Mas posso falar sobre seu empenho para trabalhar, que é inacreditável. Ele vai para o ginásio todas as noites, treina duas vezes por dia. Ele tem essa dedicação que precisa para se tornar um bom jogador.


Toronto Raptors, dois brasileiros, nós e o Norte
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Giancarlo Giampietro

30 times, 30 notas sobre a NBA 2014-2015

Oh, Canada

Oh, Canada

Em 1995, a NBA anunciou que incorporaria duas franquias canadenses ao seu campeonato. A liga ainda curtia a popularidade de um Michael Jordan, já havia se beneficiado aos montes com a empreitada do Dream Team nos Jogos de Barcelona e estava pronta para dar mais um passo importantíssimo em seu processo de internacionalização. Nasceram, então, o Toronto Raptors e o Vancouver Grizzlies.

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As duas equipes tiveram dificuldades naturais para engrenar no princípio. Eles tinham de se montar a partir do zero, a partir do Draft de Expansão, no qual os demais clubes têm o direito de proteger oito atletas de seus elencos, sobrando apenas a rebarba para os irmãos canadenses. Acontece que, sob a direção do hoje esculhambado Isiah Thomas e de Glen Grunwald, o time de Toronto garimpou melhor no mercado e no Draft, enquanto em Vancouver as coisas só pioravam.

Em seis campanhas, a equipe não conseguiu superar a marca de 28% de aproveitamento. Cinco técnicos foram contratados e demitidos. A média de público despencou de 17,1 mil na primeira temporada para 13,7 mil na sexta, com uma ajudinha de um lo(u)caute no meio do caminho, em 1998. O dólar canadense também estava desvalorizado, aumentando as dívidas da gestão. Quando o grupo Orca Bay fechou a venda da franquia para Michael Heisley, em janeiro de 2001, o bilionário de Chicago havia dito que sua intenção era mantê-la na cidade. Heisley sabia, oras, que dias antes a NBA havia vetado um negócio com Bill Laurie, que pretendia levá-la para St. Louis.  Meses depois, contudo, após uma campanha duvidosa para difamar Vancouver, já estava fazendo uma turnê pelos Estados Unidos em busca de possíveis portos para realocação. Encontrou Memphis.

A NBA toparia retornar a Vancouver?

A NBA toparia retornar a Vancouver?

Esse contexto é importante para entender o momento vivido pelo Raptors. O clube passou por mais bocados durante a década passada, saindo dos anos eufóricos de Vince Carter a uma preocupante depressão, com Rafael “Baby” Araújo, Chris Bosh, Jorge Garbajosa, Anthony Parker e outros personagens no meio do caminho. Ainda que o produto em quadra não fosse dos mais interessantes, o aspecto comercial foi bem desenvolvido, conquistando uma sólida base de torcedores e parcerias no mundo corporativo. Eles eram o time do Canadá.

Reparem, então, como, no decorrer dos anos, a cor dos uniformes, por exemplo, migrou gradativamente do roxo para o vermelho. O dinossauro do primeiro logo perdeu seu aspecto cartunesco e foi encolhendo. Hoje, o finado animal está representado por uma simples e discreta pata com três garras que, nessas coisas da semiótica, remete direta ou indiretamente, dependendo do ponto de vista, a uma folha de maple (para eles, bordo para nós), o símbolo da bandeira nacional.

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Para culminar, na temporada passada eles lançaram com estrondoso sucesso a campanha “We, The North” (Nós, o Norte), que virou coqueluche na metrópole com camisetas, cartazes, outdoors e, dãr, #hashtag. Eles, do norte, assumindo de maneira interessante, orgulhosos, sua condição geográfica austral, o que não é tão lógico assim. Quanto mais ao Norte, mais frio. Não o frio paulistano de 12ºC, e, sim, o frio gélido bem pertinho do ártico, abaixo de zero e tal. É o tipo de clima que faz com que, nas obras anglo-saxônicas de ficção, o  “povo do Norte” seja invariavelmente associado a nobres austeros – porque seria assim a vida por lá, com as condições inóspitas exigindo mais trabalho, empenho, seriedade etc., ao contrário dos folgados de um Sul mais quente. Que nos digam os inimigos Stark e Lannister de George R.R. Martin (e da HBO).

Então aí está o marketing da franquia fazendo empréstimos desse tipo de mitologia. O slogan serviu para unir ainda mais uma das bases de torcedores já considerada das mais fervorosas e fanáticas da liga. A ponto de, na abertura dos playoffs 2014, vermos milhares e milhares de pessoas reunidas do lado de fora do Air Canada Centre, no centro de Toronto, para assistir num telão ao primeiro embate de playoff da equipe depois de seis anos, contra o Brooklyn Nets. Uma cena muuuuito rara no cotidiano da liga.

Ainda mais rara – e absurdamente engraçada, vai – foi a manifestação do chefão das operações de basquete do clube, Masai Ujiri, naquele sábado histórico, diante da multidão de torcedores fora do ginásio. Provavelmente com a adrenalina a mil, sentindo aquela vibração descomunal, o dirigente nigeriano soltou logo um entusiasmado “F***-se, Brooklyn!” no microfone, de modo chocante. A galera foi ao delírio, claro. A liga, nem tanto: o dirigente acabou multado em US$ 25 mil. Ainda que daria para fazer uma boa aposta que, secretamente, os gestores tenham rachado o bico e só tenham decidido aplicar a punição por não haver outro modo, mesmo, de lidar com o causo. Além do mais, Ujiri ganha US$ 3 milhões por ano como um supercartola e, caso fizesse uma vaquinha com os torcedores, certeza que pagaria a taxa com tranquilidade e ainda sobraria um troco para um sorvete.

Ujiri foi o homem que selecionou Bruno Caboclo, para choque geral dos especialistas. O mesmo que foi atrás de Lucas Bebê um ano depois de ter falhado em sua missão de também assegurar os direitos sobre o pivô carioca no Draft. E aí que, num estalo, a metrópole canadense se tornou a capital brasileira no basquete da América do Norte. Tipo: agora são eles e ‘nós’ do Norte. O único senão aqui: para ver a dupla em quadra, vai demorar um pouco. Ambos são vistos como projetos de médio para longo prazo. Tanto o ainda adolescente Caboclo como Bebê, que, aos 22 anos e temporadas de Liga ACB nas costas,  já deveria estar num ponto mais adiantado em sua curva de aprendizado.

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Bebê e Caboclo: poucas chances para vestir o uniforme canadense

Nos primeiros jogos do Raptors, conforme o esperado, os rapazes não vêm sendo nem relacionados pelo técnico Dwane Casey, que tem optado pelos veteranos Landry Fields e Greg Stiemsma no preenchimento de seu banco. Dois caras bem mais experimentados, preparados. De modo que, por enquanto, Bruno e Lucas não terão chance de jogar nem mesmo numa surra como a deste domingo sobre o Philadelphia 76ers, o lanterninha da liga e o jogo mais provável para seu aproveitamento.

“Vai levar um tempão para caras como Bruno e Bebê (estarem prontos), então vamos ser pacientes. Ainda somos uma equipe jovem”, disse Ujiri, sobre os garotos. É o tipo de frase que o espectador brasileiro precisa ter em mente na hora de checar as fichas dos jogos do Raptors e não ver a dupla relacionada. E Ujiri tem razão nesse aspecto: o núcleo principal da equipe ainda vai crescer.

Se o plano do dirigente der certo, os promissores atletas vão se juntar a um elenco mais maduro e ainda mais forte. Futuro próximo? Dois anos? Vai saber. É uma preocupação que um scout da NBA demonstrou em entrevista para o blog, lembram? O Raptors não tem uma filial na D-League. Então toda  a evolução dos brasileiros ficará por conta do trabalho individual com os treinadores durante uma temporada corrida, na qual eles competem para já. No Leste, distante de Memphis. E pelo Canadá.

O time: na temporada passada, Casey fez um dos trabalhos mais formidáveis. O plano de Ujiri, todos sabem, era implodir seu elenco e apostar numa derrocada rumo ao Draft estelar de Andrew Wiggins, Jabari Parker e Joel Embiid. Despachou Andrea Bargnani e Rudy Gay. Deu errado: digo, de acordo com essa ideia original. Porque a equipe melhorou, e muito.

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

Lowry se tornou uma estrela em Toronto

A bola começou a girar de um lado para o outro, Kyle Lowry, DeMar DeRozan e Terrence Ross gostaram da responsabilidade maior e cresceram. O banco de reservas foi bastante produtivo, com Patrick Patterson assessorando a entrosada dupla Jonas Valanciunas-Amir Johnson. A melhor química resultou também numa melhora do sistema defensivo, com os atletas mais conectados. Ao final da campanha, o Raptors era um dos poucos posicionados entre os dez ataques e defesas mais eficientes da liga, ao lado de gente como Spurs, Heat, Clippers e Thunder.

Para este campeonato, a base está mantida. Os reforços que chegaram são peças complementares, para deixar a segunda unidade ainda mais sólida. O ala James Johnson endireitou a cabeça, vem de bela campanha pelo Grizzlies, fez as pazes com Casey e retorna a Toronto para fortalecer a defesa no perímetro. Lou Williams pode ter perdido muitos jogos pelo Hawks devido a uma séria lesão no joelho, mas ainda é mais habilidoso e explosivo que John Salmons. Se Lowry e DeRozan mantiverem o ritmo, a estrutura ao redor deles será o suficiente para lhes posicionar bem nos mata-matas. Dependendo do progresso de Ross e Valanciunas, as metas vão crescer.

A pedida: ir longe nos playoffs e, dependendo do nível que Bulls e Cavs tiverem atingido, sonhar, talvez, com uma final?

Olho nele: Terrence Ross. Porque vale a pena observar com atenção qualquer jogador que passe da barreira dos 50 pontos numa partida, não? Foi o que o ala de 23 anos conseguiu numa derrota para o Clippers no dia 25 de janeiro, assustando a imprensa norte-americana. A quantia é emblemática, mas o mais interessante é o modo como ele a atingiu, que mostra todo o seu potencial. Veja:

Ross é um desses atletas especiais que poderia competir tanto no torneio de enterradas como no de chutes de três pontos num All-Star Weekend. Além disso, é agil e tem envergadura para dar trabalho na defesa.

Abre o jogo: “É tanto dinheiro que eu guardo logo na minha conta. Talvez algo no futuro, mas não sei”, Bruno Caboclo ao ser questionado em Toronto sobre o que faria com o seu primeiro pagamento.

Você não perguntou, mas… a grande temporada do Raptors realmente foi produto do acaso. De vários causos fortuitos, mesmo. Por exemplo: quando a franquia acertou uma troca com o Houston Rockets para receber Kyle Lowry, esse era apenas um plano B do então presidente Bryan Colangelo. A principal opção do dirigente, que acabou substituído por Ujiri, era Steve Nash – negociação que acompanhava perfeitamente a guinada canadense do time. O veterano havia se tornado um agente livre em julho de 2012 e estava disposto a conversar com a franquia de seu país natal. Quando o Lakers surgiu para atrapalhar tudo, Colangelo se viu obrigado a procurar outras alternativas. E veio Lowry, de quem o Rockets queria se livrar para limpar sua folha salarial e também por que andavam cansados da dor-de-cabeça que o armador causava, de tanto reclamar que não aceitaria ser reserva. A ironia é que, a princípio, em Toronto ele também chegaria para ficar no banco de Nash.

Damon Stoudamire, Toronto RaptorsUm card do passado: Damon Stoudamire. Além do aspecto comercial e logístico, o Raptors também teve mais sucesso que o Grizzlies na montagem de seus primeiros elencos. Para 1995-96, sua primeira temporada, enquanto Vancouver foi de Bryant Reeves, Toronto selecionou o baixinho Stoudamire, de 1,78 m, para sua armação. Vindo da Universidade do Arizona, o talentoso armador, apelidado de Mighty Mouse (Super Mouse, aqui) foi a primeira grande esperança da franquia, tendo impressionantes médias de 19 pontos e 9,3 assistências como novato. Também foi a primeira grande esperança a deixar a equipe precocemente, forçando uma troca para o Portland Trail Blazers, de sua cidade natal. O mesmo aconteceria com Vince Carter, Tracy McGrady e Chris Bosh, numa sina daquelas (os impostos em Toronto são mais caros e ainda existe uma espécie de preconceito entre os atletas contra a ideia de viver no Canadá, acreditem). A carreira armador nunca mais teve tanto brilho. Ele ainda jogou pelo Grizzlies, mas em Memphis, teve uma curta passagem pelo Spurs e se aposentou em 2008. No mesmo ano, começou a trabalhar como treinador. Em fevereiro de 2009, retornou a Memphis para integrar a comissão técnica de Lionel Hollins, tendo sido importante no desenvolvimento de Mike Conley Jr. Hoje, é um dos assistentes de Sean Miller na sua alma mater, Arizona.


Toco ‘fantasma’, tombo e potencial: é o Caboclo no Raptors
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Giancarlo Giampietro

Caboclo (direita) com o uniforme oficial do Raptors: 15 minutos na quase-estreia

Caboclo (direita) com o uniforme oficial do Raptors: 15 minutos na quase-estreia

Vocês já devem ter notado que o blogueiro tem um certo vício em relativizar as coisas. De ir com calma em direção a um fato, ou uma notícia. No caso da trajetória de um ainda adolescente Bruno Caboclo com o Toronto Raptors, é recomendável toda a paciência e parcimônia do Canadá na hora de fazer qualquer tipo de avaliação.

Nesta terça-feira, finalzinho da noite aqui em São Paulo – graças ao ingrato fuso horário californiano –, o ala brasileiro se viu pela primeira vez com o uniforme oficial do Toronto Raptors em quadra, enfrentando o Sacramento Kings. Só tenha cuidado: não é porque ele estava com o uniforme bonitinho, que dá para dizer que se tratava de sua estreia (de verdade) na NBA.

Os jogos de pré-temporada não entram para os registros históricos da liga – vitórias, derrotas, enterradas, bolas de três… nada disso conta para uma organização que obviamente valoriza sua cultura estatística. O que podemos fazer é replicar o tom que se usa por lá: foi a primeira partida mais-ou-menos-de-NBA dele. Está bem adiante do que as ligas de verão representam, mas ainda não é algo realmente para valer.

De qualquer forma, lá foi Caboclo sentir um pouco desse gostinho, ao ser chamado pelo técnico Dwane Casey com nove minutos ainda para serem disputados no segundo período, enquanto Lucas Bebê nem foi relacionado, cuidando de dores musculares. O caçulinha do Raptors ganhou 15 minutos no total em derrota por 113 a 106 do time canadense. Seu tempo de ação foi dividido entre seis minutos e uns quebrados na segunda parcial e o restante nos 8min45s finais do quarto período.

E foi bem?

É realmente impossível de julgar isso. Desde o momento em que foi selecionado pelo Raptors no último Draft, surpreendentemente na primeira rodada, o brasileiro vem sendo anunciado, corretamente, como uma promessa para o futuro. Alguém para ser aproveitado daqui a um ano, talvez. Até chegarem lá, o time vai fazer de tudo para tocar seu desenvolvimento. E o contexto da pré-temporada, fase em que os treinadores começam a refinar as rotações, mas em que não estão sedentos pela vitória, é a melhor oportunidade para isso.

O que não quer dizer, porém, que Casey vai dar toda a liberdade para Caboclo em quadra. Na primeira vez em que acionou o garoto, fez questão de colocá-lo ao lado do armador Kyle Lowry  e do ala DeMar De Rozan, as principais referências ofensivas da equipe. Bruno acabou jogando muito tempo com quatro titulares – Amir Johnson e Jonas Valanciunas também entram nessa –, na vaga que em teoria ficará para o ala Terrence Ross durante a temporada. Ross, de quem se espera muito em Toronto, foi poupado do jogo desta terça, depois de sofrer uma contusão no joelho na estreia na pré-temporada contra o mesmo adversário. Landry Fields foi quem começou a partida em seu lugar.

Ao lado da formação inicial do Raptors, o brasileiro não tinha responsabilidade alguma no ataque. Durante todo esse período, as instruções para o atleta eram claras: abrir na zona morta, especialmente pela direita, e esperar o progresso das jogadas individuais, muito centralizadas em Lowry, que estava com a mão pegando fogo. A ideia, creio, era quebrar o gelo para o novato. Ele estava em quadra mais para conviver com a adrenalina, enquanto a tropa de choque resolvia.

Mas o basquete, claro, tem dois lados. Na defesa, Casey poderia tentar blindar seu jogador o máximo que quisesse, mas seu envolvimento, ou não, na partida, dependeria muito mais do Kings. Sua missão, então, era brecar o ala Omri Casspi, que deu uma boa encorpada durante as férias. O experiente israelense, diga-se, não se esbaldou contra seu jovem oponente. Um duelo entre eles, aliás, mostra o quanto Caboclo ainda tem de aprender em quadra – e, ao mesmo tempo, deixa claro um potencial que pode causar impacto, sim, na elite do basquete. Vejam:

Este foi o primeiro momento em que Bruno participou realmente da partida. Primeiro, notem que, na tentativa de contestar um pick-and-roll, o ala está mal posicionado, um pouco distante de Casspi, dando espaço. Ele acaba saindo atrasado na cobertura e aperta o passo para compensar. No fim, passa batido por Darren Collison. Seu movimento veloz, no entanto, foi o suficiente para atrapalhar o drible do armador, que perde por um instante o equilíbrio. Lowry retoma posição e impede qualquer tentativa de infiltração. O brasileiro sai, então, em busca do israelense, que gira de dentro para fora e recebe a bola. Bruno agora se precipita e desliza os pés para a esquerda, dando o fundo para seu oponente. Casspi gira novamente e parte para aquela que seria uma bandeja tranquila. Só não contava com a reação de seu defensor e, principalmente, com taaaaanta envergadura. Toma o toco por trás.

Notem duas coisas: o clipe acima tem apenas 15 segundos. Ainda assim, é tempo o bastante para vermos tantos detalhes, congelando a imagem frame a frame. O basquete não pára e se perde em pormenores. Todos esses detalhes pedem a atenção máxima de qualquer atleta. Para Caboclo, apenas no início de sua curva de aprendizado, essas coisas passam ainda mais rápidas – nós estamos aqui sentados no conforto de casa (ou do busão, ou do escritório), enquanto ele está lá suando no meio dos leões. Leva tempo para assimilar isso. Mas a verdade é que o rapaz tem muitas ferramentas atléticas ao seu dispor para compensar e lhe ajudar nesse tipo de situação. Imaginem quando o jogo desacelerar e ele estiver em cima de seus rivais. Na defesa, no mínimo, ele pode virar um terror.

No quarto período, o ala voltou para a quadra dessa vez escoltado pelos reservas: o armador Will Cherry, o ala Jordan Hamilton e os alas-pivôs Tyler Hansbrough e James Johnson, que depois seria substituído pelo Greg “Russão” Stiemsma. Ainda assim, seguia de certa forma alienado no ataque. Nessa sequência, o momento de maior destaque foi uma queda sofreu na busca por um rebote ofensivo aparentemente amalucado, mas que, para alguém com sua capacidade atlética, parece viável, possível. Ele tenta saltar novamente por cima de Casspi e acaba se esborrachando no tablado.

Sacudiu a poeira, porém, disse aos técnicos que estava tudo bem e voltou para o jogo. De lá é que não o tirariam, feito um Alvaro Pereira bem mais magrinho. O rapaz merecia, então, recompensado. Mas a primeira oportunidade que teve para arremessar aconteceu a 2min28s do fim, e ele converteu uma bola de três com o auxílio da tabela. Se é para pontuar, que seja em grande estilo. Menos de um minuto depois, ele mataria seu segundo chute de lona distância, terminando com seis pontos e 100% de aproveitamento. Ah, os números…

Por falar em estatísticas, Caboclo, segundo a súmula oficial, terminou a partida sem nenhum toco dado. Ignoraram seu bloqueio evidente contra Casspi. Essa é a pré-temporada. O momento para o ala brasileiro se soltar em quadra e aprender. Até que chegue a hora em que possa ser aproveitado nos jogos que valem, com mais chances para produzir e computar seu talento.


NBA: 10 caras que abrem o ano novo de bem com a vida
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Giancarlo Giampietro

Kevin Johnson e Jeff Hornacek... Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Kevin Johnson e Jeff Hornacek… Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Quem está abrindo 2014 estourando champanhe sem o menor arrependimento? Quem nas quadras da NBA está passando pela virada de ano cheio de confiança, satisfeitos com o papel em suas equipes e se valorizando no mercado?

Os LeBrons, Durants e Loves do mundo vão estar sempre bem, é sabido. Não há que se preocupar com eles. Pode ser outono, primavera, feriado, longas viagens, esses caras vão produzir sem parar. Então, por mais que eles desafiem qualquer bom senso estatístico, seria redundante gastar estas linhas aqui para falar deles.

Então vamos nos concentrar num tipo de atividade que – vocês já devem ter percebido – dá mais prazer neste espaço: fugir dos holofotes e prestar atenção nos caras que muito provavelmente poderiam dar um passeio por Manhattan passando despercebidos. Talvez a altura fosse algum indicador, mas não o suficiente para congelar toda a Times Square.

Dessa vez, não estamos falando necessariamente de gente como Jordan Crawford ou Josh McBobs, dos que buscam a sobrevivência na liga. Mas de um pelotão intermediário que jogou muito nas última semanas do ano que se foi e entram em 2014 de bem com a vida:

Thaddeus Young, ala do Sixers.

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Michael Carter-Williams é a bola da vez em Philly, e não há muito o que se fazer a respeito. Quando entra em quadra, o armador influencia o jogo de diversas maneiras, no ataque ou na defesa. Foi um achado para Sam Hinkie no Draft, ainda mais em 11º. Tudo em seu desempenho até aqui indica que vá se tornar um craque.

Mas, na hora que o Sixers vai surpreender alguém, Thaddeus (de “Youngs” já estamos cheios, não é verdade?) também tem talento para ser uma figura decisiva.

Pegue os últimos quatro jogos da equipe, por exemplo. Depois de uma derrota vexatória contra o Nets por 130 a 94 – e, sim, apanhar desta maneira para o patético time de Jason Kidd já se arquiva aqui no blog como “vexatório” –, Young elevou seus números a um patamar de saltar aos olhos. Marcou 110 pontos, pegou 35 rebotes, , conseguiu dez roubos de bola e acertou42 de seus 76 arremessos. Em médias: 27,5 pontos, 8,75 rebotes, 2,5 roubos e 55,2% de aproveitamento*.

(*PS: assim como em todos os números citados no post, estão computados apenas jogos até 31 de dezembro de 2013, por motivos de… Lentidão de sistema, digamos.)

Está certo que a concorrência não era das mais ferrenhas: Nets de novo (vitória por 121 a 120, no troco), Bucks, Suns e Lakers. O estilo de jogo também ajuda: três desses times gostam de correr, que é o que o ala mais sabe fazer, e o time do Brooklyn ficou automaticamente mais leve com a lesão de Brook Lopez.

Mas não deixa de ser impressionante.

Em meio ao projeto de reformulação do Sixers, Thaddeus pode estar querendo uma troca, ou não, mas com esse tipo de atuação é provável que termine a temporada em outra cidade, mesmo.

(Agora um segredinho: os números se inflaram desta forma também desde o retorno de Carter-Williams de uma infecção cutânea na perna. Não é acaso.)

Kyle Lowry, armador do Raptors.
Outro jogador envolvido em rumores de troca em dezembro. Também não se trata de coincidência, é possível dizer. Desde que o time canadense despachou Rudy Gay para a capital californiana, os boatos se concentraram em Lowry: ele seria o próximo a negociado. Mas o que estava em andamento se emperrou.

O baixinho que já foi um pitbull na defesa, mas hoje se interessa muito mais pelo ataque foi cobiçado pelos trapalhões de Nova York. Mas a reputação (positiva) de rapina de Masai Ujiri acabou atrapalhando. Até James Dolan se opôs a pagar o tanto que o Raptors pedia. Uia. Isso é o mesmo que dizer que o ex-presidente Lula teve arroubos de modéstia num discurso.

Paralelamente a essa disputa entre nova-iorquinos, o Raptors acabou se acertando, para espanto de alguns, mas não de todos. Bill Simmons, o SportsGuy da ESPN, chegou a comparar o ala a um câncer. O time que se livra dele melhora instantaneamente, notou. Ouch.

Com a bola girando mais em quadra, Lowry vem se soltando. Reparem em seus números a partir do confronto de 8 de dezembro com o Lakers, o primeiro sem Gay. A quantidade de turnovers despencou, as assistências decolaram e os pontos e bolas de três vão sendo computados com muito mais frequência.

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Um jogo em específico vale o destaque: a vitória sobre o Knicks, no Madison Square Garden, claro, dia 27. Não só por ele ter marcado15 pontos e 11 assistências, mas também pelo fato de a torcida dos Bockers ter gritado seu nome das arquibancadas. “Foi esse tipo de acontecimento sobre o qual você nem sabe o que dizer direito. Tipo, é muito legal”, disse o armador. “Se algo acontecer, que aconteça. Mas até que chegue esse dia, sou um jogador do Raptors e vou dar duro aqui.”

James Johnson, ala do Memphis Grizzlies.
Antes de falar sobre o que se passa no presente, aqui convém revisitar o passado desse jogador, que, até pelo nome básico, até pode ser um desconhecido do público em geral. James quem?

Bem, vocês sabiam que ele tem algumas semelhanças com Zlatan Ibrahimovic? De alguma forma, explico: se o atacante sueco é faixa preta de taekwondo, Johnson já foi (é?) um belo lutador de kickboxing. E os dois tiram proveito das habilidades desenvolvidas nas artes marciais para fazer algo de diferente em seus respectivos esportes. Jogo de cintura, agilidade nos pés, elasticidade – imagino que se ganhe tudo isso, né, Ibra?

JJ, o Kickboxer

JJ, o Kickboxer

Uma rápida olhadela nos números do ala indicam isso. É um dos que mais acumula roubos de bola e toco na liga há tempos, em médias por minuto. Pegue, por exemplo, o que ele vem somando pelo Grizzlies por aqui. Em sete partidas, com 23,1 minutos, tem 1,3 bloqueio e 1,4 roubada em média. Em 36 minutos, subiria para 2,2 e 2,0, respectivamente. Andrei Kirilenko está orgulhoso.

E por que só sete jogos pelo Grizzlies, se já estamos em janeiro? Bem, ele começou a temporada na D-League. Na verdade, antes disso, o versátil ala participou do training camp com o Atlanta Hawks, mas o gerente geral Danny Ferry não achou por bem mantê-lo no elenco – talvez por considerar que suas características se dupliquem com as de DeMarre Carroll.

Jogando pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Rockets, sua produção foi a seguinte: 18,5 pontos, 9,1 rebotes, 4,7 assistências, 3,4 tocos e 1,9 roubo. É muita coisa, mesmo numa liga em que não se pratica muita defesa e num time que joga em ritmo acelerado demais da conta.

E como um talento desses vai parar na liga de desenvolvimento? Digamos que Johnson nunca foi dos jogadores mais disciplinados. Tanto fora de quadra como em ação, fardado. Ele pode pecar um pouco no posicionamento defensivo, na hora de forçar algumas infiltrações descabidas, confiante de que suas habilidades atléticas dão um jeito para tudo. Por isso não sobreviveu em Chicago (foi draftado pelo Bulls em 16º em 2009), Toronto e Sacramento.

Mas também há o outro lado da moeda: por ser um jogador de características pouco tradicionais, difíceis de ser enquadradas, para um técnico que vá querer escalar seus jogadores de 1 a 5 pode ser difícil encontrar sua pocição. Vai de 3? Ou 4? Uma bobagem, mas que em muitos casos pode influenciar demais os rumos de uma carreira.

Fato é que, para um time moribundo com o do Grizzlies, ele oferece energia muito necessária. Até o dia 5 de janeiro, o clube precisa decidir o que fazer com Johnson. Se ele passar dessa data no elenco principal, seu contrato será garantido até o final da temporada. Acho que não há muita dúvida aqui sobre o que fazer, não?

Goran Dragic, armador do Phoenix Suns.
Ele começou mal pelo Phoenix Suns, depois jogou bem como reserva do Phoenix Suns, foi trocado ainda assim pelo Phoenix Suns, jogou no Texas até que voltou para o Phoenix Suns. A relação do armador esloveno com a franquia do Vale do Sol, como já vimos, não é das mais estáveis.

Daí que, quando o time contratou Eric Bledsoe antes da atual temporada começar, não demorou para que todo o mercado da NBA tenha se preparado para a possibilidade de Dragic voltar a ficar disponível. Jeff Hornaceck, porém, não tinha nada com isso.

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

O novo surpreendente técnico da eqiupe vem justificando qual era o seu plano desde o princípio: que Dragic e Bledsoe poderiam reeditar a sensacional parceria que ele teve com Kevin Johnson na virada dos anos 80 para os anos 90. Pela mesma franquia, diga-se, que, em 1988-89, alcançou a final da Conferência Oeste, perdendo para um Los Angeles Lakers que lutava pelo tricampeonato (e seria superado pelos autênticos Bad Boys de Detroit).

“Quando Ryan (McDonough, o novo e igualmente surpreendente gerente geral do Suns) me ligou, eu disse a ele: ‘Ei, Eric parece com o Kevin Johnson, quando ele estava jogando aqui em Phoenix, e Goran é mais ou menos como eu era’. Passamos de um time com 25 vitórias para 55. Não acho que nenhum de nós pensou realmente que, quando trocamos por Eric, teríamos de nos desfazer de Goran”, afirmou Hornacek, eleito o melhor técnico do Oeste em dezembro e que vem se mostrando uma das melhores entrevistas da liga.

Vai saber se foi isso, mesmo, que passou pela cabeça do treinador, ou se ele apenas está desenvolvendo uma retórica que, ao mesmo tempo que protege o esloveno, também envolve o sucesso do time nesta temporada. O próprio Dragic ficou um pouco desconfiado.”Quando estava na Europa e descobri, pensei: ‘Ok, agora tenho competição’. No fim, falei com Jeff, ele me disse que nós provavelmente iríamos a maior parte dos minutos juntos.”

Eles estão jogando, mesmo, e o fato é que a dupla armação se encaixou muito bem, ainda mais com tantos chutadores ao redor para espaçar o ataque. Por ser mais jovem e a novidade no time, é natural que Bledsoe chame mais repórteres ao seu encalço. Ramona Shelburne, do ESPN.com, contou uma baita história a respeito.

Mas Dragic, do seu lado, vem jogando muito bem, obrigado. Segundo levantamento do estatístico John Schuhmann, do NBA.com, quando o time tem apenas o esloveno em quadra, os números ofensivos são muito melhores do que com Bledsoe sozinho com os dois em parceria, que age pela melhor defesa. (Agora precisaria checar os adversários que estão por trás dessas contas.)

Dragic está jogando sua melhor temporada na liga, com o melhor aproveitamento nos arremessos, a maior média de lances livres cobrados, a menor de desperdícios de bola. Eficiência alto padrão, e a presença de Bledsoe para ajudar a desafogar as coisas ajuda muito para isso, claro. “Está cada vez melhor com Eric, jogo após jogo. Sei o que ele vai fazer com a bola e ele sabe o que eu vou fazer”, afirma.

No Suns, vale também a menção para o ala Gerald Green, que tem aproveitado os espaços abertos por seus dois armadores. Neste período, tem médias de15 pontos e quase quatro chutes de três pontos por jogo (3,7). O jogador que já teve de apelar para Rússia e China para tentar se encontrar como jogador de basquete e regressar aos Estados Unidos,  recuperou o rendimento de sua breve passagem pelo Nets na temporada 2011-12. Mantendo essa produção, vai deixar a troca que enviou Luis Scola ao Pacers cada vez mais desequilibrada a favor do time do Arizona. Quem diria, Larry Bird, quem diria?

Tyreke Evans, ala-armador do New Orleans Pelicans.
Como novato, Evans terminou sua temporada com médias superiores a 20 pontos, 5 rebotes e 5 assistências. Em toda a história da NBA, quais os únicos jogadores que atingiram esse tipo de rendimento? Michael Jordan, LeBron James e Oscar Robertson.

Bom para você?

Evans para a cesta, de 6º homem

Evans para a cesta, de 6º homem

A galera em Sacramento acreditava ter recebido seu próprio Messias, alguém pronto para resgatar os  anos dourados de Webber, Bibby, Divac e Peja. O que aconteceu a partir de 2008-09? O Kings seguiu perdendo de todo mundo, basicamente. Uma equipe horrorosa, na qual Evans se afundou também. De repente, sua temporada de calouro passou de proeza estatística para o devaneio de um fominha.

Daí que, quando o Pelicans investiu US$ 44 milhões por quatro anos de contrato com o ala, poucos entenderam. A sensação era de que ele merecia muito menos – e que não ficava muito claro o que o clube estava pensando, uma vez que já tinha Jrue Holiday e Eric Gordon no elenco, jogadores que gostam de segurar a bola por um bom tempo também.

Se o jovem time ainda busca um melhor acerto, especialmente na defesa, apostando agora na contratação de Alexis Ajinça, no ataque o desenvolvimento é realmente positivo – eles têm a sexta melhor ofensiva. E a contribuição de Evans tem sido importante para isso, mesmo que seu desempenho na linha de três pontos seja desastroso e que sua pontaria de dois pontos também esteja muito abaixo do esperado.

Acontece que o volume de jogo que Evans tem ao sair do banco de reservas tem sido o suficiente para compensar a pontaria desacertada. Com uma projeção por 36 minutos de 18,3 pontos, 6,3 assistências e 6,7 rebotes – que basicamente supera o que fez como novato –, se firmou como um candidato ao prêmio de sexto homem da liga. Curiosamente, quando Dell Demps, ex-Spurs, conversou com o atleta, ele vendeu esse papel como uma interessante possibilidade a ser estudada pela jovem pretensa estrela. Manu Ginóbili seria o exemplo. Evans gostou da ideia – está colhendo frutos, agora, com o maior índice de eficiência de sua carreira. Podendo ser decisivo também:

Com Gordon mais uma vez afastado por contusão por cinco jogos, o ala-armador tem brilhado, com 20,2 pontos, 8,2 assistências e 5,6 rebotes. Uma dessas exibições foi especial para o atleta: no dia 23 de dezembro, ele ajudou o Pelicans a vencer por 113 a 100 o bom e velho Kings, em Sacramento. Foram 25 pontos e 12 assistências.

“Quandoe stava com a bola, ouvia o Isaiah Thomas dizendo o que ia fazer. Eu fazia a mesma coisa e ainda assim fazia a cesta. Mas você sabe: era apenas diversão”, disse Evans.

Brandon Knight, armador do Milwaukee Bucks.
O rapaz não teve dó alguma do arrebentado Los Angeles Lakers. Na última terça-feira, na despedida de 2013, usou o Staples Center como palco para o jogo de sua vida na NBA até aqui, marcando um recorde pessoal de 37 pontos –18 deles apenas num terceiro quarto devastador em que ele parava em qualquer ponto da quadra, arremessava e balançava a redinha.

Ok, considerando que um Jordan Farmar manco e o lento-quase-parando Kendall Marshall eram seus principais marcadores, a quantia pode não parecer muita coisa. Mas Knight estava batendo na pronta já. Nas sete partidas antecedentes, ele já havia estabelecido médias de 20,7 pontos, 6,0 assistências e 5,8 rebotes. O aproveitamento, está bem, foi de apenas 43% de quadra, mas já superior aos 40,1% que tem na temporada ou os 40,9% de sua carreira.

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Sim, Knight ainda está longe de ser um grande arremessador, ou uma ameaça assustadora no ataque. Só tem 22 anos, porém, e pela primeira vez tem carta branca para criar e se virar na NBA. Vale o teste para o Bucks, um time que viu suas metas completamente despedaçadas já no primeiro mês de campanha,

Mais um do Bucks: Khris Middleton. O ala foi repassado de Detroit a Milwaukee como contrapeso na negociação de Brandon por Brandon (Jennings). O ala revelado pela universidade de Texas A&M era tido como um prospecto de potencial considerável por alguns scouts, mas não dos mais badalados. Depois de um ótimo ano como segundanista na NCAA, se recusou a entrar no Draft e viu sua cotação despencar na temporada seguinte, toda detonada por uma lesão no joelho. Dessa vez, não se importou e se inscreveu no recrutamento de 2012. Terminou selecionado pelo Pistons em 39º, já na segunda rodada.

Num elenco cheio de alas jovens, recebeu minutos mais na metade final da temporada e passou, francamente, despercebido. Ele ainda teve flashes na liga de verão de Orlando deste ano, mas Joe Dumars não se importou em cedê-lo para ter um armador que julga de ponta para comandar sua equipe.

Em meio a tantas lesões no Winsconsin – Carlos Delfino, coitado, ainda nem pisou em quadra –, Middleton teve sua chance e a agarrou firme. Agora ao lado de Giannis Antetokoumpo (que já pede há tempos um post só dele), vem formando uma dupla de alas de muito potencial. Somem aí o ala-pivô John Henson, e o senador Herb Kohl queria ver seu time vencendo agora. Mas pode ter ganhado muito mais que isso para o futuro.

Wesley Matthews, ala do Portland Trail Blazers.
Matthes ficou pê da vida quando soube do número 130 durante as férias. Era essa a sua posição no ranking  anual de melhores jogadores da liga que o ESPN.com publica.

“Meus amigos já estavam me provocando e me deixando animado para a temporada. Eu estava me preparando para voltar extremamente faminto, como se não tivesse comido um hambúrguer há várias semanas (nota do editor: : D).  Mas quando saiu o ranking da ESPN? Aquilo foi maluco. Aquilo foi puro desrespeito”, afirmou em entrevista ao The Oregonian.

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Essa á frase de alguém fulo, totalmente fulo com tudo e todos. O ala levou para o pessoal. “Nunca me deram o benefício da dúvida na minha vida, então por que começariam agora?”, completou, numa pergunta retórica. Treinou individualmente com o assistente técnico Nate Tibbetts – que viajou até a cidade do jogador, diga-se –, trabalhou duro e tentou expandir seu jogo para além do rótulo de “bom arremessador de três pontos”.

O resultado a gente está vendo. É mais um que curte a temporada mais eficiente de sua carreira, matando acima da média da liga em praticamente todos os cantos da quadra – ainda que se destaque, mesmo, pela periculosidade nos tiros de longa distância, com 43,1% de suas tentativas.

Damian Lillard e LaMarcus Aldridge são os líderes da passeata ruidosa que faz o Blazers neste campeonato, mas Matthews, cheio de som e fúria, também faz valer o piquete.

Trevor Ariza, ala do Washington Wizards.
Se você for fazer um levantamento estatístico do quão eficiente o atlético Ariza foi durante a sua carreira, vai reparar que, do modo como está jogando hoje, ele só fez quando dirigido por Phil Jackson em Los Angeles, entre 2008 e 2009. Naquela época, ele também buscava um novo contrato, a primeira grande bolada de sua carreira.

Se a gente for descontar que fica difícil para Randy Wittman qualquer comparação com o Mestre Zen, sobra um paralelo para a versão 2013-14 de Ariza: sim, ele está novamente prestes a se tornar um agente livre. Tsc, tsc.

Descontadas as motivações que o ala possa ter, não dá para negar que ele esteja fazendo de tudo para ajudar o Wizards em sua tortuosa e tão aguardada trilha de volta aos playoffs do Leste. Em termos de índice de eficiência, só fica atrás do já imponente John Wall e de Nenê.

Da ocasião em que o Wizards chegou ao Rio de Janeiro, reconheço que o conselho publicado para o espectador presente na Arena HSBC era se concentrar na forma de arremesso de Martell Webster – e que para todos simplesmente ignorassem o que saísse de Ariza. Pois o ala deu um tapa na cara da sociedade crítica. Ele, que nunca havia acertado mais que 33,5% de seus chutes de três em sua carreira, elevou gradativamente seu acerto pelo time da capital aos mais que decentes 43,4% deste ano – sem diminuir a carga (são 5,8 disparos por partida).

E um rendimento desse faz toda a diferença. Pois o ala segue um personagem dinâmico em outras facetas do jogo, com sólidos números de rebote e assistências para sua posição e incomodando bastante nas linhas de passe.

Sobre o alto percentual de três pontos, o campeão da NBA em 2009 deu crédito a John Wall. “Ele sabe que estaremos correndo ao seu lado. Sabe aonde estaremos. Se a defesa se fechar, ele sabe tem a nós para recorrer e passar a bola para fora”, disse.

Por um punhado de dólares a mais, nada mal. Nada mal, mesmo.