Vinte Um

Euroligado: o aprendiz supera o mestre

Giancarlo Giampietro

Obradovic e Itoudis comemoram Euroliga e título grego em 2000, no 1º ano de Panathinaikos

Obradovic e Itoudis festejam Euroliga e título grego em 2000, 1º ano de Panathinaikos

Antes de assumir uma equipe de ponta como o CSKA Moscou, Dimtris Itoudis teve de ralar muito. O grego já havia dirigido o Filipos e o Ment, modestos clubes no final da década de 90, é verdade. Mas, até a temporada passada, sua carreira era basicamente a de um assistente. Aquele que dificilmente dá entrevistas, mas que trabalha tanto quanto ou mais até que o treinador principal no dia-a-dia do basquete, seja em exercícios individuais com os jogadores, ou no planejamento tático para a próxima batalha durante a semana. Por nove anos, Itoudis teve essa rotina como auxiliar do monolítico Zeljko Obradovic no Panathinaikos. De 2003 a 2012, quando o general resolveu, enfim, deixar o clube ateniense. Ao contrário do que poderia se esperar, porém, não foi promovido. Preferiu deixar o time junto com o mestre, aceitando uma oferta do Banvit, da Turquia.

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Na cidade portuária de Bandirma, aos 42, o ainda jovem técnico fez uma campanha excepcional, com 28 vitórias em 30 partidas da temporada regular, numa liga emergente, com investimento bem acima da média do continente – são diversos atletas ex-NBA espalhados pelo país, mesmo nos times de menor orçamento. O Banvit teve a melhor campanha, mas acabou caindo nas semifinais diante do Galatasaray de Carlos Arroyo. De todo modo, o sucesso em geral da equipe combinado com sua experiência e currículo de cinco títulos europeus com o Panathinaikos lhe valeram, enfim, um grande salto, chegando a um poderoso CSKA para suceder Ettore Messina.

A diretoria moscovita não tem do que reclamar: são os únicos invictos na Euroliga até aqui – enquanto na temporada como um todo, foi apenas um revés em 13 partidas pela Liga VTB, a qual também lideram. Já Obradovic só tem de aplaudir, mesmo quando seu próprio time acaba sendo vítima do antigo aprendiz:

O jogo da rodada: Fenerbahçe 81 x 84 CSKA Moscou
Sim, na rodada de abertura do Top 16, o CSKA estendeu sua invencibilidade para 11 partidas com uma vitória dramática sobre o Fener de Obradovic, em Istambul. Já seria um reencontro e o primeiro confronto obviamente emocionante, entre dois personagens que desenvolveram uma grande relação em Atenas – o sérvio é, por exemplo, o padrinho da filha mais nova de Itoudis. Mas as coisas ficam bem melhores se tiver uma prorrogação envolvida, não?

Dimitris Itoudis, agora comandante

Dimitris Itoudis, agora comandante

Os visitantes chegaram a abrir oito pontos de vantagem no primeiro quarto, mas o time da casa reagiu prontamente, e, a partir daí, os dois seguiram colados no placar. Foram dez mudanças de liderança e mais dez empates nos últimos 35 minutos numa partida com esforço defensivo impressionante.  Os ataques sofreram de forma geral: foram 34 turnovers e 83 arremessos desperdiçados. Baixo nível? Nada disso, esqueça: isso aconteceu em decorrência de um nível de intensidade, competitividade e tensão digno de final de campeonato.

No tempo regulamentar, o americano Andrew Goudelock, cestinha com 19 pontos, teve a chance de matar o jogo com um tiro em flutuação. Pressionado, falhou. Na prorrogação, o CSKA esteve no comando do placar, mas não dá para dizer que as coisas tenham ficado tranquilas: com 13 segundos para o fim, Sonny Weems errou um lance livre, e o Fener estava a apenas três pontos do adversário (82 a 79). O jovem Bogdan Bogdanovic errou seu disparo de três, mas a posse de bola seguiu com a equipe turca para uma cesta de um heróico Nemanja Bjelica (que descansou apenas 45 segundos e somou 10 pontos, 11 rebotes, 3 assistências e 2 roubos. O francês Nando De Colo, contudo, não permitiu uma deslize maior:  restando cinco segundos, converteu dois lances livres e ainda recuperou a bola na reposição em um triunfo estafante, mas recompensador.

Seis atletas do clube russo terminaram com pontuação numa faixa entre 10 e 13: De Colo, Andrey Vorontsevich, Sasha Kaun, Kyle Hines, Sonny Weems e Milos Teodosic, de volta, também com 6 assistências. Os lances livres foram fundamentais no triunfo, com elevadas 33 conversões em 38 tentativas (aproveitamento totalmente excelente de 86,8%), contra 15/24 (62,5%) dos rivais. O Fener, por outro lado, acertou 10 chutes de longa distância em 26 (38,5%), sendo que quatro delas foram de Bogdan-Bogdan (16 pontos em 40 minutos para ele).

Na trilha de Huertas
Com o Limoges de JP Batista eliminado, só sobrou Marcelinho Huertas para contar história. Na surpreendente derrota do Barcelona para o ALBA Berlin, por 80 a 70, o armador foi, francamente, o único ponto positivo. Contra uma defesa sufocante (empurrada por um dos públicos mais empolgados da competição), o brasileiro cometeu cinco turnovers, é verdade. Mas sua linha estatística também mostra 23 pontos, 7 assistências, 3 roubos e 3 rebotes, em 34 minutos. Sem Navarro e Oleson, o titular da seleção foi o único jogador de perímetro do Barça capaz de criar algo por conta própria na capital alemã. O armador continua em boa fase.

O que os cartolas pensam

Os favoritos ao Final Four

Os favoritos ao Final Four

Seguindo o modelo da NBA, a Euroliga também promoveu uma enquete com os gerentes gerais de seus clubes. A diferença é que a liga europeia deixa para fazer isso antes de o Top 16 começar, numa avaliação do que já aconteceu nas primeiras dez rodadas da competição, para, então, projetar o que vem por aí. O senso comum não foi tão desafiado assim, viu? Para os dirigentes, é quase certo que CSKA (95,83%), Barça e Real (91,66% cada) estarão no Final Four.  A quarta vaga ficaria entre Fenerbahçe e Olympiakos (54,17%). Panathinaikos, Anadolu Efes e Maccabi Tel Aviv também foram mencionados. Outros resultados:

– Para 29,17%, o Barcelona é o time mais divertido de se ver jogar. Quem diria, hein? O Real vem em segundo (25%).

– O CSKA é o time mais chato de se enfrentar, com 33,33% dos votos. Real e Barça empataram com 16,67%.

– Itoudis foi apontado como o melhor treinador. Já, com 29,17%, acima de Xavi Pascual (do Barça, 20,81%) e Dusan Ivkovic (o legendário comandante do Anadolu Efes, 16,67%). Também foram mencionados: Obradovic, Joan Plaza (Unicaja Málaga), Ainars Bagatskis (Nizhny Novgorod). Curiosamente, houve quem preferisse votar nulo. Risos.

– Barcelona ganhou o prêmio de cidade que os cartolas mais querem visitar. Ah, a praia, com 29,17%, seguida por Madri, Berlim, Istambul, Tel Aviv, Milão, Málaga e Vitória. Um belo roteiro turístico, de qualquer forma, não?

– O Alba Berlin tem a melhor arena da competição, na opinião dos engravatados, com 29,37%, batendo os ginásios dos Zalgiris e do Estrela Vermelha. É a belíssima O2 World da capital alemã, inaugurada em 2008, com capacidade para 14.500 pessoas nos dias de jogo do Alba.

Kalinic, grande talento

Kalinic, grande talento

Lembra dele? Nikola Kalinic (Estrela Vermelha)
Quem acompanhou a Copa do Mundo sabe de quem estamos falando: o jovem ala sérvio que foi uma figura importantíssima no vice-campeonato na Espanha. Kalinic, de 23 anos completados em novembro, joga com uma energia que contagia e influencia uma partida de basquete em diversos aspectos. Sua dedicação o torna um jogador ainda mais perigoso, levando em conta sua boa estatura (2,02 m) e capacidade atlética acima do normal (muita impulsão e elasticidade).

Em jogo que fiz pelo Sports+, nesta sexta-feira, o Estrela Vermelha pode ter perdido para o Real Madrid por 79 a 72, em Belgrado, mas o ala fez de tudo em busca de uma virada. Foram 10 pontos, 6 rebotes e, mais chamativas, 7 assistências. Não houve quem conseguisse pará-lo quando buscava a infiltração, girando de um lado para o outro, sob controle, para iludir e atropelar defensores, invadindo o garrafão e servindo aos pivôs. Vale acompanhar o desenvolvimento do sérvio, que ainda precisa melhorar bastante seu arremesso de média para longa distância – ainda que esteja convertendo 34,6% de fora, sua mecânica é bastante equivocada, e a impressão é a de que ele utiliza as duas mãos para projetar a bola, enquanto os cotovelos quase se chocam na elevação.

(Stevan Jovic, outro vice-campeão mundial, também pede uma menção honrosa: retornando após uma torção no joelho, o armador de 24 anos e imponente 1,98 m deu 9 assistências, contra dois turnovers, controlando muito bem o ritmo de sua equipe.)

Em números
16 – O Unicaja Málaga fez apenas 16 cestas de quadra numa derrota em casa para o Olympiakos por 69 a 61. Também transmiti a partida no Sports+, e foi realmente uma dureza acompanhar o time de Joan Plaza amassar o aro. Ressaca braba depois de uma vitória emocionante sobre o Real Madrid pela Liga ACB, na prorrogação. Vale lembrar que Plaza fala em instituir em Málaga o que chama de ''basquete total'' – pegando emprestado o termo do futebol total holandês dos anos 70. Traduzido para o bola-ao-cesto: ritmo acelerado e arremessos rápidos, como Mike D'Antoni gosta. Contra o Olympiakos, não deu certo: apenas 28% no aproveitamento de quadra. Essa foi a quinta derrota seguida da equipe espanhola, que, por outro lado, lidera sua liga nacional. Vai entender.

Rochestie, ótima temporada pelo Nizhny

Rochestie, ótima temporada pelo Nizhny

9 – O Real Madrid conseguiu limitar o gigante ultraprodutivo Boban Marjanovic a apenas nove pontos. Foi a primeira vez nesta temporada que o pivô de 2,21 m ficou abaixo de 11 pontos. O sérvio foi pouco acionado, devido a um bom esforço coletivo do time espanhol, cortando a linha de passe. Os Sergios – Rodríguez e Lull – e o americano Marcus Slaughter foram bem nessa missão. Seu tempo reduzido de quadra, de 20 minutos, também se explica pelo ótimo desempenho do alemão Maik Zirbes, também uma figura imponente ao seu modo, com envergadura que intimida.

1 – O Nizhny Novgorod conseguiu sua primeira vitória em um jogo de Top 16 da Euroliga. Também foi sua estreia na fase, dãr. Mas que estreia arrasadora: 79 a 59 sobre o Olimpia Milano, na Itália, pelo Grupo F. Se o time russo estiver disposto a aprontar mais dessas, vai deixar a chave ainda mais complicada. O armador Taylor Rochestie foi novamente muito bem saindo do banco, com 19 pontos, 8 assistências e 4 rebotes, em apenas 23 minutos. O ala-pivô Trey Thompkins, ex-Clippers, somou um double-double de respeito, com 19 pontos e 15 rebotes.

0 – Thomas Huertel saiu zerado de quadra, sem pontos ou assistências na vitória do Anadolu Efes sobre o Laboral Kutxa, por 72 a 67. Quis a tabela da Euroliga que o armador francês estreasse pelo clube turco justamente contra seus ex-companheiros do time que ele defendeu na primeira fase. Dá para dizer que o Baskonia também sentiu sua falta, terminando a partida com apenas 12 assistências. O jogador de 25 anos deu 67 passes para cesta nas primeiras dez rodadas.

Tuitando

Foi bem nessa o Sérgio Rodríguez, ou ''Chacho''.

 

As jogadas da primeira semana do Top 16!