Vinte Um

Euroligado: 1ª rodada confirma Grupo da Morte

Giancarlo Giampietro

Já escrevi durante a Copa do Mundo sobre como essa coisa de Grupo da Morte pode ser meramente um recurso (leia-se ''truque) jornalístico fácil para ganhar manchetes, driblar a falta de informação, ou qualquer coisa do tipo. No caso da Euroliga 2014-2015, porém, é impossível escapar deste clichê ao avaliar as equipes emparelhadas no Grupo C. C de morte, mesmo. Na rodada que abriu a temporada, com jogos espalhados entre quarta e sexta-feira, dois dos melhores confrontos aconteceram justamente por esta chave: Fenerbahçe x Olimpia Milano e Barcelona x Bayern de Munique. A eles se juntam o Panathinaikos e o estreante polonês Turów Zgorzelec, este correndo por fora, mas bem por fora, mesmo. De resto, o que temos é o seguinte: um grande time de basquete vai ficar fora do torneio logo na primeira etapa. A julgar pelos elencos e pelos primeiros 4o minutos de ação para o sexteto, os alviverdes gregos, com toda a tradição de seis títulos continentais, que se cuidem. Ao menos, venceram o Turow por sete pontos na estreia. A conferir o desenrolar desta sangria.

O jogo da rodada: Fenerbahçe 77 x 74 Olimpia Milano

Fenerbahçe comemora o triunfo como se fosse até um título

Fenerbahçe comemora o triunfo como se fosse até um título

Dá para advogar a favor do triunfo do Nizhny Novgorod, da Rússia, sobre o Dínamo Sassari, da Itália, por 88 a 86? Claro que dá. Fora de casa, o clube italiano teve uma largada fulminante ao abrir uma vantagem de até 19 pontos no primeiro tempo (26 a 7), mas viu todo esse montante ser derrubado rapidamente. Daí que os anfitriões conseguiram a virada no segundo tempo e pularam eles com dez pontos na frente no princípio do quarto período. Havia tempo, porém, para uma reação dos italianos, que chegaram a ter a última bola em mãos para o empate ou virada. Não rolou.

De qualquer forma, considerando o nível dos times que se enfrentaram em Istambul – dois clubes com pretensões de título na temporada –, comparando com dois estreantes em solo russo, fica-se confortável em seguir este caminho. Depois de o Fener vencer o primeiro quarto com facilidade (26 a 15), o Milano reagiu pelas mãos improváveis do pivô Niccolo Melli (grandalhão que protege o aro na defesa e, no ataque, é basicamente um chutador em evolução de média para longa distância), as equipes travaram uma batalha duríssima. O segundo tempo foi realmente como uma luta franca de boxe, sem que nenhum oponente abrisse uma larga vantagem. Foram incontáveis trocas de liderança entre ambos. Como no finalzinho da terceira parcial em que uma cesta de três do Fener foi respondida por jogada de fal-e-cesta para cima do jamaicano Samardo Samuels, deixando o time visitante na frente por 58 a 57.

O confronto seguiu nesse ritmo até o último minuto quando o armador cestinha americano Andrew Goudelock matou uma bomba de três pontos – daquelas em que você se consagra ou ouve ''anta'' em turco vindo da arquibancada –, para levar o placar a 76 a 71 para o Fener, com menos de 50 segundos no cronômetro. Falaremos mais a respeito de Goudelock abaixo. Foi, em suma, uma partida já em alto nível, com grandes personagens em quadra (entre draftados e atletas com experiência de NBA em quadra, eram 10), com muita intensidade logo de cara.

JP teve de se virar contra Schortsanitis em seu retorno a um palco de Euroliga

JP teve de se virar contra Schortsanitis em seu retorno a um palco de Euroliga

Os brasileiros
Marcelinho Huertas: em uma vitória bastante dura sobre o Bayern, por 83 a 81, não teve a jornada mais feliz na conclusão de seus tiros em direção ao garrafão (1-6 em chutes de dois pontos), mas conduziu bem o ataque do Barça nos 25 minutos em que esteve em quadra. Foram computadas apenas duas assistências, mas o armador  deu estabilidade ao ataque, alimentando bem o jogo interior para Ante Tomic (15 pontos, 6-7 nos arremessos). Com o tcheco Tomas Satoransky de fora, Juan Carlos Navarro fez as vezes de armador reserva, terminando com oito passes para cesta e 2-10 em bolas de longa distância. Figura.

JP Batista: foi uma estreia bastante produtiva para o pivô com a camisa do Limoges, campeão francês, em jogos de Euroliga, contra o Maccabi Tel Aviv tão bem quisto pelos flamenguistas. O pernambucano marcou 15 pontos em apenas 19 minutos, convertendo 7-16 arremessos, porém. Esta é a terceira edição da competição para João Paulo, que não a disputava desde 2009. O time israelense venceu por 92 a 76, em casa, com um show de sua torcida.

Lembra dele?
Andrew Goudelock (Fenerbahçe)
O torcedor do Los Angeles Lakers mais nerd certamente guarda um espaço em seu coração para este chutador de mão cheia. Revelado pela universidade de Charleston, ele estreou pela franquia angelina na temporada do lo(u)caute, 2011-2012, já sob o comando de Mike Brown. No campeonato seguinte, depois de incendiar a D-League, foi novamente contratado pelo Lakers na reta final. Depois da lamentável lesão de Kobe, acabou recebendo minutos de playoff inesperadamente contra o Spurs, sendo um dos poucos atletas do time capaz de criar alguma coisa por conta própria no perímetro. Com 1,90 m, se tanto, porém, é considerado muito baixo para a posição, a despeito de seu talento ofensivo. Na Europa, isso não foi problema. Jogou demais pelo UNICS Kazan na campanha passada e acabou contratado a peso de ouro pelo Fener. Em seu primeiro jogo de Euroliga, marcou 19 pontos, quatro rebotes e quatro assistências, com 8-16 nos arremessos em 36min53s – o sargentão Zeljko Obradovic simplesmente não conseguia tirá-lo de quadra.

Um vídeo: Berrante
Agora, se Goudelock está com moral com o piradaço e octocampeão da Euroliga sérvio, o mesmo não se pode dizer de Ricky Hickman. Depois de lidar com David Blatt em Tel Aviv, o americano agora vai precisar de protetor auricular. Vejam o esculacho que ele tomou do treinador antes de um pedido de tempo nos minutos finais contra o Milano:

(Outro vídeo: insanidade em Belgrado
A torcida do Estrela Vermelha está que não se aguenta: seu clube disputa a Euroliga, enquanto o arquirrival Partizan, o time hegemônico da Sérvia e da Liga Adriática na última década, vê tudo de fora. Na estreia contra o Galatasaray, os caras sacudiram a Kombank Arena desde 30 minutos antes de a bola subir. Durante o aquecimento, o ginásio estava assim. Imagine quando eles venceram por 29 a 10 no segundo período, para assegurar a primeira vitória? Transmiti o jogo no Sports+ ao lado do chapa Maurício Bonato, e foi de arrepiar.

)

Em números

78,5%– Foi o aproveitamento de quadra do gigante Boban Marjanovic, de 2,21 m, para demolir a defesa do Galatasaray. O sérvio anotou 22 pontos, acertando 11 de seus 14 arremessos, em 27 minutos. Também pegou 10 rebotes. É impressionante a evolução do pivô nos últimos anos. Inicialmente, a tendência era tirá-lo apenas como um herói cult do basquete, por razões óbvias de estatura (aquela coisa de enterrar e dar toco sem saltar etc.). Mas Marjanovic trabalhou duro para se tornar uma arma extremamente perigosa no garrafão.

Boban Marjanovic foi companheiro de Lucas Bebê no time de verão do Atlanta do ano passado e ficou fora da seleção sérvia da Copa do Mundo

Boban Marjanovic foi companheiro de Lucas Bebê no time de verão do Atlanta do ano passado e ficou fora da seleção sérvia da Copa do Mundo

29 – Mardy Collins, ala-armador ex-New York Knicks e Los Angeles Clippers, atingiu este índice de eficiência pelo Turow em duelo com o Panathinaikos. O norte-americano nunca deixou tão feliz o torcedor do Olympiakos, seu clube no campeonato passado, como nesta sexta, ao somar 23 pontos, 9 rebotes e 5 assistências em 29 minutos contra o arquirrival dos Vermelhos.

22 – Dario Saric foi titular e recebeu 21min59s – 22 minutos, vai? – de tempo de quadra do técnico Dusko Ivkovic, pelo Anadolu Efes, na primeira rodada. Por que isso é relevante? É que, durante a semana, o pai do promissor ala-pivô croata, havia esperneado publicamente para reclamar das poucas chances que o garoto vinha recebendo no princípio de temporada. Foi simplesmente bizarro: o clube estava disputando apenas amistosos e uma rodada pelo campeonato turco, e o sujeito já estava sem paciência alguma, ameaçando inclusive tirar Saric de lá. O detalhe: antes do Draft da NBA, o Papai Saric havia comprado uma briga com os antigos agentes do atleta, dizendo que seria a maior burrada da história se o atleta deixasse o Cibona Zagreb direto para a liga norte-americana. Que o melhor era ele primeiro trabalhar em um grande clube europeu, primeiro, para ganhar cancha, se desenvolver.

10 – Muito confiante depois da conquista da medalha de bronze na Copa do Mundo, substituindo Tony Parker, o armador Thomas Heurtel teve uma exibição magnífica na primeira partida do campeonato, quarta-feira, em vitória contra o Neptunas. Foram dez passes para cesta, além de 13 pontos e quatro roubos de bola. Em seu último ano de contrato, Heurtel recebeu proposta do Anadolu Efes, mas optou por ficar no País Basco.

4 x 4 – A primeira partida de Euroliga para Gustavo Ayón deixou claro, mais uma vez, seu talento, sua versatilidade. O Real Madrid adorou. Em um jogo muito mais apertado do que o esperado contra o jovem elenco do Zalgiris, em Kaunas, o mexicano teve um mínimo de quatro tentos em quatro estatísticas diferentes: 10 pontos, 6 rebotes, 4 assistências e 4 roubos de bola, em 24 minutos.

Tuitando

Este é o armador Tyrese Rice, MVP do Final Four da temporada passada pelo Maccabi, elogiando o ala Lucca Staiger, do Bayern de Munique. Nesta sexta, com o apoio de seu ex-companheiro de clube, o alemão matou quatro em oito tiros de três contra o Barça. Staiger, que tem de fato uma bela mecânica, acertou 44,2% na temporada passada – mas apenas 28,8% em três campanhas de Eurocup (a Liga Europa do basquete) pelo Alba Berlim.

Aqui temos o encontro do legendário Sarunas Jasikevicius, hoje assistente do Zalgiris, talvez o melhor armador europeu de sua geração, com o atual melhor armador do continente, Sérgio Rodríguez, o Señor Barba. Tudo de acordo com a nada modesta opinião de um blogueiro, ok.

Recuperado de um glaucoma, que o tirou da Copa Intercontinental contra o Fla, Sofoklis Schortsanitis está de volta. E o pivô grego, um dos nobres protagonistas da Dinastia Baby Shaq, já fez toda a diferença pelo Maccabi, anotando 11 pontos em 11 minutos de jogo, usando óculos – impossível não olhar para ele.

Pesic foi campeão europeu pelo Barcelona em 2003, e os catalães não vão esquecê-lo. A nota bacana para o basquete brasileiro é a presença de Anderson Varejão naquele plantel.