Vinte Um

Ranking põe 2 pivôs brasileiros entre os 20 piores jogadores da NBA, mas qual deles deve se preocupar?

Giancarlo Giampietro

Fab Melo, o Fabrício

Fabrício não pôde mostrar muita coisa como novato, e seu status despencou em um ano

O melhor da NBA já sabemos quem é. Começa com K, quer dizer, com L. Com ''L'', tá, pra ficar claro? Todos sabemos.

E que tal brincar de falar sobre os 5oo (5 x 100) melhores jogadores da NBA? Foi o que o ESPN.com decidiu fazer mais uma vez, a partir desta semana, e o início desta insanidade afetou diretamente os pivôs Fabrício Melo e Vitor Faverani, listados supostamente entre os piores jogadores da liga. O impacto deste ranking para os dois deveria ser nulo – para um deles, contudo, acaba sendo muito preocupante.

Antes de comentar a parte que os atinge, vale gastar algumas linhas sobre o projeto em si.

Empilhar 500 jogadores é algo tão maluco, mas tão maluco – e absurdo, e apelativo, e… Interessante? –, que, se quisessem adotar uma prática sadomasoquista, poderiam divulgar o resultado com um nome por dia, e assim passaríamos quase um ano e meio acompanhando o projeto.

Mas o site americano não precisa disso. O que eles vão fazer é pegar as cinco centenas de jogadores que seu imenso estafe ranqueou e dividi-las em blocos, de modo que a coisa dure apenas umas duas semanas, se tanto. A ideia, claro, é que acabe quando os training camps estiverem prestes a começar. Matam, assim, dois coelhos, dois pobres coelhos de uma vez: não só cobrem um período no qual, para eles, a notícia mais interessante pode ser a próxima briga que um Goran Dragic vá descolar na Europa, como arrumam um jeito de levar sua polêmica para dentro da cobertura geral da liga. Kobe e Dwyane Wade já reclamaram, por exemplo. Kobe, que começa com K, assim como Kevin, de Durant.

Faverani para el mate

Faverani nem jogou na NBA ainda e já se vê metido em lista de polêmicas, ou quase-polêmicas

Aí começa aquela bagunça que só, agitando bares, escritórios, condomínios, sem contar a paróquia. Isso gera tráfego, audiência, e pode até para o jornalista brasileiro oportunista: ''Cara, você não vai acreditar, mas o idiota do Vinte Um chegou a pensar em colocar o Kobe ou o Durant na frente do LeBron como o bambambam da NBA? Tem noção?!'', reclama um. E do outro lado do Skype o outro responde: ''Afe, vôclicá, caramótoupeira'', e pronto. Talvez percam alguns segundos digitando algum comentário bombástico. Habemus cliques e cliques, e assunto pra conversa.

Mas não é de Kobes e LeBrons que vamos falar, não. Do ponto de vista tupinambá, o ranking mal começou e já atingiu dois brasileiros: Fabrício, ex-Boston Celtics, e Victor Faverani, um novíssimo Boston Celtic.

Para Vitor, que ficou na posição 481 da lista, isso não representa nada. Coisa alguma. Bulhufas.

Como você vai ranquear um jogador que nunca pisou numa quadra de NBA? E, por mais amplo que seja o painel de eleitores, com mais de 200, é de se duvidar que 5% (dez, no caso) tenham gastado mais do que cinco minutos do pivô em ação pelo Valencia. Mas nem no YouTube. Então… Como exatamente eles vão dar para o paulista uma nota  maior ou menor do que a de DeSagana Diop, o veterano pivô que está logo acima na tabela, como o número 480? Diop, que somou 0,7 pontos e 1,9 rebote em 10,3 minutos pelo Charlotte Bobcats no campeonato passado – e que em sua carreira nunca teve média de mais de 20 minutos. Não faz sentido.

Ainda assim, Diop, selecionado em 2001 pelo Cleveland Cavaliers num histórico Draft – o mesmo de Tyson Chandler, Eddy Curry e Kwame Brown –, conseguiu dar um jeito de permanecer na liga até hoje, acumulando 13 temporadas de experiência. Nada como os 2,13 m de altura. A mesma de Fabrício Melo, que ficou na… Tipo… Em… 499º, também conhecido como penúltimo lugar. Atrás dele? Apenas Royce White. O que, aliás, parece até piada – e não se enganem, os jogadores reparam, sim, nesse tipo de ''produto editorial''.

White é um ala-pivô cujas habilidades intrigantes nunca puderam ser testadas pelo Houston Rockets em seu ano de novato, tornando-se muito mais famoso por sua luta/campanha a favor do reconhecimento de doenças mentais como algo sério e relevante e que deveria ser enquadrado na política da NBA da mesma forma que lesões em articulações etc.  Não é nenhum absurdo, mas o modo como ele conduziu a campanha foi desastroso, para dizer o mínimo, virando chacota entre dirigentes e torcedores e uma anedota durante a boa campanha do Rockets. Acabou trocado para o Philadelphia 76ers. Sixers, que na verdade estava mais interessado em obter os direitos sobre o pivô turco Furkan Aldemir como contrapartida.

Fabríco Melo no ataque, ou quase

Fabrício, marcado por Steve Novak. Diz muito?

Pois é. Esse figura recebeu uma nota 1,50, contra 1,55 de Melo. Para constar: a pontuação ia de 0 a 10, com o intuito de avaliar a expectativa em torno do ''nível geral de cada jogador para a próxima temporada da NBA''. Fabrício caiu de 389 para penúltimo. E aqui o ranking se torna relevante porque confirma uma percepção negativa em torno do jovem brasileiro ao redor da liga. Seu status não poderia estar mais baixo no momento.

De certa forma, poucos viram o brasileiro jogar no último ano também. Vestido de Celtic, ele ficou em quadra por apenas 36 minutos em toda a campanha 2012-2013. Não dá nem uma partida inteira de Fiba. Como avaliá-lo, então, de uma forma justa? Muito difícil. Daí que o fato de ele ter sido dispensado pelo Celtics não pegou nada bem e o empurrou ladeira abaixo. Afinal, era o clube que estaria mais interessado em seu desenvolvimento e, principalmente, mais informado a seu respeito, não? E, se Danny Ainge desistiu tão rápido, que tipo de mensagem isso passa para seus concorrentes e para quem cobre o assunto?

E há mais ingredientes: depois de apenas uma campanha, o pivô foi trocado pelo Boston Celtics para o Memphis Grizzlies. De imediato, a franquia gerida por fanáticos por estatísticas decidiu por dispensá-lo – isto é, estavam mais interessados nas possibilidades estratégicas que a negociação proporcionava, do que em adotá-lo como um novo projeto. E o que aconteceu depois? Nenhuma franquia sequer se candidatou a recolhê-lo durante o período de waiver. Nenhuma, nem mesmo aquelas abaixo do teto salarial que ainda precisam preencher seu elenco. Mesmo sendo ele ainda jovem, com apenas um ano na liga e um gigante que não se encontra todo dia por aí. Até que, por fim, o Dallas Mavericks decidiu convidá-lo para seu training camp, mas sem nenhuma obrigação contratual.

Vamos discutir mais sobre o pivô e sua curiosa trajetória no basquete norte-americano em breve, reunindo material desde seus tempos como um badalado colegial na Flórida. Na cabeça do mineiro de Juiz de Fora, porém, estes tempos já não podem contar para mais nada. É hora de engolir a seco essa cotação baixíssima, encarar o duro e reformular sua reputação para ontem. Não se trata mais de brincadeira.

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Scott Machado, ainda sem clube, mas flertando com um retorno ao time do Warriors na D-League, ficou com a 463ª posição, grudado em… Lamar Odom. Os dois tiveram a mesma nota: 2,05, assim como, ironicamente, Ian Clark, ala-armador que roubou tempo de quadra do brasileiro nova-iorquino durante a liga de verão de Las Vegas e acabou descolando um contrato garantido do Utah Jazz. Um arremessador excepcional.

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A ideia era publicar na quinta-feira um artigo sobre a influência dos jogadores norte-americanos no EuroBasket, mas um problema técnico me fez perder… Hã… Basicamente todos os números que levantei dos ''gringos''. Daqueles momentos em que você perde a fé na tecnologia. Vamos ver se dá ânimo de fazer de novo.