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Nenê protagoniza melhor momento brasileiro na temporada
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Giancarlo Giampietro

Nenê sobe livre para a enterrada triunfal, depois de Wall limpar a quadra

Nenê sobe livre para a enterrada triunfal, depois de Wall limpar a quadra

Não dá para dizer que a temporada 2013-2014 seja a mais auspiciosa para os brasileiros na NBA. Não que estejam terrivelmente mal. Nada disso. Mas tem faltado um pouco de brilho, barulho, grandes momentos – talvez pelo fato de a turma ter se assentado em situações cômodas, de estabilidade.

De todo modo, neste sábado, Nenê ao menos conseguiu registrar um grande momento para a legião de exportados, realizando um dos melhores jogos de sua já longínqua carreira na liga norte-americana. Na verdade, o melhor momento, e justo com ele, sempre afeito a dar o mérito aos companheiros. Um cara que não curte muito esse negócio de se gabar em entrevistas – isso, claro, quando ele topa falar com algum repórter. Mas dessa vez não havia muito como ele escapar dos microfones e gravadores.

O pivô marcou 30 pontos na vitória do Washington Wizards sobre o New Orleans Pelicans, igualando sua melhor marca pessoal. Mais: fez a cesta do triunfo, uma enterrada com 0s9 no cronômetro, bem em cima da buzina, mesmo, para definir o placar de 94 a 93. “Apenas rezei”, afirmou o são-carlense, em mais um gesto típico, sempre evocando termos religiosos para suas ações em quadra. “Queria encerrar o jogo com a bola nas minhas mãos. Eles fizeram isso, colocaram nas minhas mãos. O John foi fantástico: uma infiltração daquelas, e ele me encontrou.”

Veja a jogada aqui, eleita pela turma da NBA como a melhor de uma noite cheia de jogos (e, de brinde, veja a enterrada poderosa do brasileiro na 10ª posição, deixando o Monocelha na saudade):

Esses foram apenas os famosos “highlights”, né? Mas, se você quiser saber exatamente o estrago que Nenê fez na defesa do Pelicans, melhor assistir a este compacto com suas cestas de quadra (e algo a mais):

O pivô estava simplesmente com as mãos pegando fogo, tendo convertido 13 de 19 arremessos de quadra. Para quem não clicou no vídeo, a boa nova foi sua confiança na conversão dos chutes de média distância. Na temporada, este vem sendo seu aproveitamento:

Em amarelo: Nenê arremessando de acordo com a média da liga em praticamente todo o perímetro interno, sendo mais eficiente na cabeça do garrafão e dois ou três passos para a direita. Não por acaso, região em que encaçapou diversas vezes contra o Pelicans

Em amarelo: Nenê arremessando de acordo com a média da liga em praticamente todo o perímetro interno, sendo mais eficiente na cabeça do garrafão e dois ou três passos para a direita. Não por acaso, região em que encaçapou diversas vezes contra o New Orleans

Quer dizer, Nenê já precisa ser respeitado na hora de subir para o jump-shot. Se conseguir, de alguma forma, elevar seu rendimento, seu impacto no ataque do Wizards seria mortal: 1) é difícil parar John Wall em suas infiltrações, no mano a mano, de modo que o pivô (Greg Stiemsma, por exemplo, em diversos dos lances acima)  também precisa recuar um bocado no garrafão para fechar a porta; 2) Marcin Gortat é um ótimo finalizador debaixo do aro e também chama a atenção da ajuda, da cobertura; 3) o mais ilustre dos Hilários do esporte tem liberdade para receber o passe e finalizar; se for para matar, deixa os defensores praticamente diante de constante xeque-mate após xeque-mate.

Agora, voltando à discrição de Nenê. Vasculhando os sites norte-americanos, ou mesmo os locais de Washington, foi difícil encontrar mais declarações do brasileiro. Vamos aqui com as únicas duas:

– “Foi uma vitória fantástica” – a básica.

– “Não, não, não. Isso não está certo” – o pivô descrevendo o que pensou quando Anthony Davis (aliás, mais um jogo sensacional para este jovem craque) converteu dois lances livres nos segundos finais para por o time visitante na frente do placar.

A enterrada de outro ângulo

A enterrada de outro ângulo

E só. Se alguém tem outra na manga, favor endereçar em telegrama urgente. É impressionante e diz muito sobre seu comportamento – com a ressalva de que o elenco do Wizards se mandou rapidamente do ginásio, com um voo marcado para Cleveland, aonde jogam novamente neste domingo.

Mas o sumiço do pivô também fala bastante sobre a moral que John Wall tem na capital norte-americana. (Claro, essa não é uma surpresa, já que é, agora oficialmente, o All-Star da franquia.) Sua assistência para a enterrada triunfal de Nenê foi o grande chamariz nos relatos da partida. E, de fato, merecia destaque. “John fez duas jogadas no fim que você não consegue ensinar”, afirmou o técnico Randy Wittman. “Ele partiu para a cesta querendo a bandeja. Estando um ponto abaixo, com o relógio correndo, ele ficou sob controle, para fazer aquela última jogada para o Nenê. Foi uma boa execução no momento  decisivo.”

É… Vejam que Wall atrai a atenção de marcação tripla no garrafão, limpando um espaço precioso para a decolagem de seu pivô. “Eu queria ir para um arremessos”, confessou o armador. “Mas vi Anthony Davis se aproximar. Então pensei em passar por trás para Gortat. Mas aí vi (Jeff) Withey chegar ao mesmo tempo, e então vi Nenê por ali, e e era o passe mais fácil e mais seguro. Por sorte, ele conseguiu fazer a cesta a tempo.”

Fica bem claro o amadurecimento do número um do Draft de 2010. Demorou um pouco mais, mas ele chegou lá, sem perder o embalo da temporada passada, na qual ficou afastado por um longo período devido a complicações no joelho.

O Wizards se mantém na zona de classificação da Conferência Leste, ainda que não consiga de jeito nenhum ultrapassar a marca de 50% de aproveitamento. Wall é quem lidera essa campanha, mas, sem Nenê, pode ter certeza de que não conseguiriam. Por mais que ele diga pouca coisa a respeito.

*  *  *

Varejão e Splitter, de novo lidando com questões físicas

Varejão e Splitter,  lidando com questões físicas

Um bom momento para checar como estão os demais brasileiros, né?

Tiago Splitter vem sofrendo novamente com suas já famosas lesões na panturrilha, o tipo de problema físico que precisa ser muito bem cuidado, para que não vire algo mais grave, que possa lhe atrapalhar nos playoffs. Com Gregg Popovich, porém, não há esse risco. Na semana passada, o catarinense se viu incluído numa lista nada agradável, elaborada pelo jornalista Bill Simmons, editor-chefe e fundador do inigualável Grantland e comentarista da ESPN: a dos 30 piores contratos da liga. Simmons autaliza esta relação anualmente e incluiu o pivô na 23ª posição. “Eu sempre levo pro lado pessoal quando o Spurs paga mais do que deve para alguém. O Spurs é supostamente o clube mais esperto da liga! Por favor, RC Buford! Você é um modelo a ser seguido!!! Você deu US$ 36 milhões para alguém que nem conseguia ficar na quadra nas finais de 2013???? Justo você?? Por quê????”, exclamou, questionou, aloprou.

Splitter recebeu um contrato de US$ 36 milhões por quatro anos. Uma bolada. Mas Simmons não apresentou muitos argumentos para atacar o negócio, além do fato de o jogador ter penado contra o Miami na decisão para questionar esse montante – como se ele fosse o único pivô a ter enfrentado dificuldade contra o time da Flórida . Naturalmente, o comentário despertou uma certa indignação entre os torcedores do Spurs. O blog Pounding the Rock saiu em defesa do atleta, de modo racional. O mesmo blog já havia elaborado um artigo excelente para detalhar a importância do pivô para a defesa texana. Há coisas que os números realmente não contam, ao menos na superfície. Por outro lado, é preciso dizer que Tiago vive sua pior temporada desde o ano de novato, de acordo com medições estatísticas mais avançadas ou em projeções por minuto, mesmo depois de ter descansado durante as férias, sem ter disputado a Copa América. Não quer dizer que esteja mal, mas que pode render mais.

Anderson Varejão estava começando a embalar no garrafão do Cleveland Cavaliers e… Está fora de quadra desde 9 de fevereiro, por conta de alguma contusão/lesão/questão/dor nas costas. O Cavs não divulgou exatamente qual o problema do capixaba, deixando os blogueiros da cidade ressabiados. A ESPN chegou a noticiar que ele teria tomado uma injeção de cortisona, mas o gerente geral David Griffin negou a informação. Em contato com Sam Amico, repórter da FoxSports, contudo, o dirigente confirmou que ao menos um tipo de injeção foi aplicada. Só não quis confirmar qual.

O pivô estreou na temporada um pouco mais tarde, se reabilitando da assustadora embolia pulmonar que o tiro das quadras na temporada passada. Seu tempo de quadra vinha sendo mais controlado, se comparando com os três campeonatos anteriores, mas aos poucos ele vinha recebendo uma carga maior de minutos. Em 2014, tinha médias de 10 pontos, 10 rebotes, 3,3 assistências e 1,5 roubo de bola. Até que parou. Neste sábado, sabe-se que ele não treinou.

– Para Leandrinho, só o fato de já somar 18 partidas na temporada 2013-2014 já é uma vitória, superando uma série de dúvidas sobre seu retorno depois de uma lesão grave no joelho. Prova de sua dedicação, seriedade, devoção aos treinamentos. Aliás, um aspecto muito subestimado na carreira do ligeirinho – não foi só talento natural que o levou ao sucesso nos Estados Unidos. Posto isso, o ala-armador tem perdido rendimento em fevereiro. Depois de abrir o mês marcando 13 pontos em dois jogos seguidos (ambas derrotas, para Chicago e Houston), converteu 17 no total em suas últimas quatro partidas, em seis cestas de quadra, tendo ficado fora da surra do Suns para cima do Spurs, na sexta, abrindo vaga para o calouro extremamente promissor Archie Goodwin. O baixotinho Ish Smith foi o beneficiado.

– Em um ano em que o Boston Celtics joga mais para perder do que para ganhar, a estreia do técnico Brad Stevens na NBA foi considerada pela mídia norte-americana como um dos poucos pontos positivos. É elogiado pelo quanto se prepara para cada confronto, pela eficiência de suas jogadas após pedidos de tempo, pela evolução de Jordan Crawford em suas mãos, entre outros pontos. Agora, no que se refere a Vitor Faverani, acho que o jovem treinador erra, e feio. Dar tempo de quadra para um veterano como Kris Humphries, no último ano de contrato, em detrimento de uma aposta para o futuro, não faz muito sentido. E não é que o pivô gaúcho tenha afundado a equipe quando jogou.  Agora, caminhando para os meses finais de temporada, Faverani se recupera de uma torção no joelho esquerdo. Em três jogos completos pela D-League, teve médias de 16,3 pontos, 12 rebotes, 3,6 assistências e 2 tocos, em cerca de 32 minutos. A ressalva de sempre: os números nesse campeonatos são sempre inflados, pelo ritmo de pelada de muitas partidas. De qualquer forma, Faverani entregou. Agora é ver se consegue voltar para quadra rapidamente e se vai receber mais uma chance adequada de Stevens.

*  *  *

Enquanto isso, na D-League…

Scott Machado, novamente Warrior

Scott Machado, novamente Warrior

– Superada (?) a frustração da dispensa pelo Utah Jazz, Scott Machado voltou à alçada do Warriors, defendendo novamente a filial da franquia em Santa Cruz. Dessa vez, porém, ele é reserva de Seth Curry, o irmãozinho do Steph. Antes que acusem o clube de nepotismo, saibam que o armador tem média de 19,5 pontos por jogo e 6,4 assistências, mesmo que não tenha colocado em prática seu grande arremesso de três pontos (32,5% de longa distância… cai a eficiência quando ele passa mais tempo com a bola, claro). O gaúcho de Nova York tem médias de 20,8 minutos, com 8,6 pontos, 3,4 assistências, 3,1 rebotes e apenas 33,3% nos chutes de quadra…

Fabrício Melo passou um bom tempo em inatividade (inexplicavelmente, diga-se) e assinou com o Texas Legends, a filial do Dallas Mavericks, clube que o cortou no training camp, lembrem-se, numa situação que nunca lhe foi muito favorável. Ainda preciso sentar um dia à frente do YouTube para ver em que tipo de forma está o pivô mineiro, mas depois de fazer ótimas partidas no ano passado pelo Maine Red Claws, seus números na atual campanha por enquanto são tímidos: 4,1 pontos, 3,6 rebotes e horrendo 38,6% nos arremessos em apenas 13 jogos (13,6 minutos). É reserva do imortal Melvin Ely, hoje com 35 anos. Um cara que entrou na NBA no mesmo Draft de Nenê (2002), rodou por várias franquias (Clippers, Hornets/Pelicans. Spurs, Nuggets…) e nunca teve média superior a 25 minutos por jogo.


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Giancarlo Giampietro

Kevin Johnson e Jeff Hornacek... Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Kevin Johnson e Jeff Hornacek… Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Quem está abrindo 2014 estourando champanhe sem o menor arrependimento? Quem nas quadras da NBA está passando pela virada de ano cheio de confiança, satisfeitos com o papel em suas equipes e se valorizando no mercado?

Os LeBrons, Durants e Loves do mundo vão estar sempre bem, é sabido. Não há que se preocupar com eles. Pode ser outono, primavera, feriado, longas viagens, esses caras vão produzir sem parar. Então, por mais que eles desafiem qualquer bom senso estatístico, seria redundante gastar estas linhas aqui para falar deles.

Então vamos nos concentrar num tipo de atividade que – vocês já devem ter percebido – dá mais prazer neste espaço: fugir dos holofotes e prestar atenção nos caras que muito provavelmente poderiam dar um passeio por Manhattan passando despercebidos. Talvez a altura fosse algum indicador, mas não o suficiente para congelar toda a Times Square.

Dessa vez, não estamos falando necessariamente de gente como Jordan Crawford ou Josh McBobs, dos que buscam a sobrevivência na liga. Mas de um pelotão intermediário que jogou muito nas última semanas do ano que se foi e entram em 2014 de bem com a vida:

Thaddeus Young, ala do Sixers.

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Michael Carter-Williams é a bola da vez em Philly, e não há muito o que se fazer a respeito. Quando entra em quadra, o armador influencia o jogo de diversas maneiras, no ataque ou na defesa. Foi um achado para Sam Hinkie no Draft, ainda mais em 11º. Tudo em seu desempenho até aqui indica que vá se tornar um craque.

Mas, na hora que o Sixers vai surpreender alguém, Thaddeus (de “Youngs” já estamos cheios, não é verdade?) também tem talento para ser uma figura decisiva.

Pegue os últimos quatro jogos da equipe, por exemplo. Depois de uma derrota vexatória contra o Nets por 130 a 94 – e, sim, apanhar desta maneira para o patético time de Jason Kidd já se arquiva aqui no blog como “vexatório” –, Young elevou seus números a um patamar de saltar aos olhos. Marcou 110 pontos, pegou 35 rebotes, , conseguiu dez roubos de bola e acertou42 de seus 76 arremessos. Em médias: 27,5 pontos, 8,75 rebotes, 2,5 roubos e 55,2% de aproveitamento*.

(*PS: assim como em todos os números citados no post, estão computados apenas jogos até 31 de dezembro de 2013, por motivos de… Lentidão de sistema, digamos.)

Está certo que a concorrência não era das mais ferrenhas: Nets de novo (vitória por 121 a 120, no troco), Bucks, Suns e Lakers. O estilo de jogo também ajuda: três desses times gostam de correr, que é o que o ala mais sabe fazer, e o time do Brooklyn ficou automaticamente mais leve com a lesão de Brook Lopez.

Mas não deixa de ser impressionante.

Em meio ao projeto de reformulação do Sixers, Thaddeus pode estar querendo uma troca, ou não, mas com esse tipo de atuação é provável que termine a temporada em outra cidade, mesmo.

(Agora um segredinho: os números se inflaram desta forma também desde o retorno de Carter-Williams de uma infecção cutânea na perna. Não é acaso.)

Kyle Lowry, armador do Raptors.
Outro jogador envolvido em rumores de troca em dezembro. Também não se trata de coincidência, é possível dizer. Desde que o time canadense despachou Rudy Gay para a capital californiana, os boatos se concentraram em Lowry: ele seria o próximo a negociado. Mas o que estava em andamento se emperrou.

O baixinho que já foi um pitbull na defesa, mas hoje se interessa muito mais pelo ataque foi cobiçado pelos trapalhões de Nova York. Mas a reputação (positiva) de rapina de Masai Ujiri acabou atrapalhando. Até James Dolan se opôs a pagar o tanto que o Raptors pedia. Uia. Isso é o mesmo que dizer que o ex-presidente Lula teve arroubos de modéstia num discurso.

Paralelamente a essa disputa entre nova-iorquinos, o Raptors acabou se acertando, para espanto de alguns, mas não de todos. Bill Simmons, o SportsGuy da ESPN, chegou a comparar o ala a um câncer. O time que se livra dele melhora instantaneamente, notou. Ouch.

Com a bola girando mais em quadra, Lowry vem se soltando. Reparem em seus números a partir do confronto de 8 de dezembro com o Lakers, o primeiro sem Gay. A quantidade de turnovers despencou, as assistências decolaram e os pontos e bolas de três vão sendo computados com muito mais frequência.

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Um jogo em específico vale o destaque: a vitória sobre o Knicks, no Madison Square Garden, claro, dia 27. Não só por ele ter marcado15 pontos e 11 assistências, mas também pelo fato de a torcida dos Bockers ter gritado seu nome das arquibancadas. “Foi esse tipo de acontecimento sobre o qual você nem sabe o que dizer direito. Tipo, é muito legal”, disse o armador. “Se algo acontecer, que aconteça. Mas até que chegue esse dia, sou um jogador do Raptors e vou dar duro aqui.”

James Johnson, ala do Memphis Grizzlies.
Antes de falar sobre o que se passa no presente, aqui convém revisitar o passado desse jogador, que, até pelo nome básico, até pode ser um desconhecido do público em geral. James quem?

Bem, vocês sabiam que ele tem algumas semelhanças com Zlatan Ibrahimovic? De alguma forma, explico: se o atacante sueco é faixa preta de taekwondo, Johnson já foi (é?) um belo lutador de kickboxing. E os dois tiram proveito das habilidades desenvolvidas nas artes marciais para fazer algo de diferente em seus respectivos esportes. Jogo de cintura, agilidade nos pés, elasticidade – imagino que se ganhe tudo isso, né, Ibra?

JJ, o Kickboxer

JJ, o Kickboxer

Uma rápida olhadela nos números do ala indicam isso. É um dos que mais acumula roubos de bola e toco na liga há tempos, em médias por minuto. Pegue, por exemplo, o que ele vem somando pelo Grizzlies por aqui. Em sete partidas, com 23,1 minutos, tem 1,3 bloqueio e 1,4 roubada em média. Em 36 minutos, subiria para 2,2 e 2,0, respectivamente. Andrei Kirilenko está orgulhoso.

E por que só sete jogos pelo Grizzlies, se já estamos em janeiro? Bem, ele começou a temporada na D-League. Na verdade, antes disso, o versátil ala participou do training camp com o Atlanta Hawks, mas o gerente geral Danny Ferry não achou por bem mantê-lo no elenco – talvez por considerar que suas características se dupliquem com as de DeMarre Carroll.

Jogando pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Rockets, sua produção foi a seguinte: 18,5 pontos, 9,1 rebotes, 4,7 assistências, 3,4 tocos e 1,9 roubo. É muita coisa, mesmo numa liga em que não se pratica muita defesa e num time que joga em ritmo acelerado demais da conta.

E como um talento desses vai parar na liga de desenvolvimento? Digamos que Johnson nunca foi dos jogadores mais disciplinados. Tanto fora de quadra como em ação, fardado. Ele pode pecar um pouco no posicionamento defensivo, na hora de forçar algumas infiltrações descabidas, confiante de que suas habilidades atléticas dão um jeito para tudo. Por isso não sobreviveu em Chicago (foi draftado pelo Bulls em 16º em 2009), Toronto e Sacramento.

Mas também há o outro lado da moeda: por ser um jogador de características pouco tradicionais, difíceis de ser enquadradas, para um técnico que vá querer escalar seus jogadores de 1 a 5 pode ser difícil encontrar sua pocição. Vai de 3? Ou 4? Uma bobagem, mas que em muitos casos pode influenciar demais os rumos de uma carreira.

Fato é que, para um time moribundo com o do Grizzlies, ele oferece energia muito necessária. Até o dia 5 de janeiro, o clube precisa decidir o que fazer com Johnson. Se ele passar dessa data no elenco principal, seu contrato será garantido até o final da temporada. Acho que não há muita dúvida aqui sobre o que fazer, não?

Goran Dragic, armador do Phoenix Suns.
Ele começou mal pelo Phoenix Suns, depois jogou bem como reserva do Phoenix Suns, foi trocado ainda assim pelo Phoenix Suns, jogou no Texas até que voltou para o Phoenix Suns. A relação do armador esloveno com a franquia do Vale do Sol, como já vimos, não é das mais estáveis.

Daí que, quando o time contratou Eric Bledsoe antes da atual temporada começar, não demorou para que todo o mercado da NBA tenha se preparado para a possibilidade de Dragic voltar a ficar disponível. Jeff Hornaceck, porém, não tinha nada com isso.

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

O novo surpreendente técnico da eqiupe vem justificando qual era o seu plano desde o princípio: que Dragic e Bledsoe poderiam reeditar a sensacional parceria que ele teve com Kevin Johnson na virada dos anos 80 para os anos 90. Pela mesma franquia, diga-se, que, em 1988-89, alcançou a final da Conferência Oeste, perdendo para um Los Angeles Lakers que lutava pelo tricampeonato (e seria superado pelos autênticos Bad Boys de Detroit).

“Quando Ryan (McDonough, o novo e igualmente surpreendente gerente geral do Suns) me ligou, eu disse a ele: ‘Ei, Eric parece com o Kevin Johnson, quando ele estava jogando aqui em Phoenix, e Goran é mais ou menos como eu era’. Passamos de um time com 25 vitórias para 55. Não acho que nenhum de nós pensou realmente que, quando trocamos por Eric, teríamos de nos desfazer de Goran”, afirmou Hornacek, eleito o melhor técnico do Oeste em dezembro e que vem se mostrando uma das melhores entrevistas da liga.

Vai saber se foi isso, mesmo, que passou pela cabeça do treinador, ou se ele apenas está desenvolvendo uma retórica que, ao mesmo tempo que protege o esloveno, também envolve o sucesso do time nesta temporada. O próprio Dragic ficou um pouco desconfiado.”Quando estava na Europa e descobri, pensei: ‘Ok, agora tenho competição’. No fim, falei com Jeff, ele me disse que nós provavelmente iríamos a maior parte dos minutos juntos.”

Eles estão jogando, mesmo, e o fato é que a dupla armação se encaixou muito bem, ainda mais com tantos chutadores ao redor para espaçar o ataque. Por ser mais jovem e a novidade no time, é natural que Bledsoe chame mais repórteres ao seu encalço. Ramona Shelburne, do ESPN.com, contou uma baita história a respeito.

Mas Dragic, do seu lado, vem jogando muito bem, obrigado. Segundo levantamento do estatístico John Schuhmann, do NBA.com, quando o time tem apenas o esloveno em quadra, os números ofensivos são muito melhores do que com Bledsoe sozinho com os dois em parceria, que age pela melhor defesa. (Agora precisaria checar os adversários que estão por trás dessas contas.)

Dragic está jogando sua melhor temporada na liga, com o melhor aproveitamento nos arremessos, a maior média de lances livres cobrados, a menor de desperdícios de bola. Eficiência alto padrão, e a presença de Bledsoe para ajudar a desafogar as coisas ajuda muito para isso, claro. “Está cada vez melhor com Eric, jogo após jogo. Sei o que ele vai fazer com a bola e ele sabe o que eu vou fazer”, afirma.

No Suns, vale também a menção para o ala Gerald Green, que tem aproveitado os espaços abertos por seus dois armadores. Neste período, tem médias de15 pontos e quase quatro chutes de três pontos por jogo (3,7). O jogador que já teve de apelar para Rússia e China para tentar se encontrar como jogador de basquete e regressar aos Estados Unidos,  recuperou o rendimento de sua breve passagem pelo Nets na temporada 2011-12. Mantendo essa produção, vai deixar a troca que enviou Luis Scola ao Pacers cada vez mais desequilibrada a favor do time do Arizona. Quem diria, Larry Bird, quem diria?

Tyreke Evans, ala-armador do New Orleans Pelicans.
Como novato, Evans terminou sua temporada com médias superiores a 20 pontos, 5 rebotes e 5 assistências. Em toda a história da NBA, quais os únicos jogadores que atingiram esse tipo de rendimento? Michael Jordan, LeBron James e Oscar Robertson.

Bom para você?

Evans para a cesta, de 6º homem

Evans para a cesta, de 6º homem

A galera em Sacramento acreditava ter recebido seu próprio Messias, alguém pronto para resgatar os  anos dourados de Webber, Bibby, Divac e Peja. O que aconteceu a partir de 2008-09? O Kings seguiu perdendo de todo mundo, basicamente. Uma equipe horrorosa, na qual Evans se afundou também. De repente, sua temporada de calouro passou de proeza estatística para o devaneio de um fominha.

Daí que, quando o Pelicans investiu US$ 44 milhões por quatro anos de contrato com o ala, poucos entenderam. A sensação era de que ele merecia muito menos – e que não ficava muito claro o que o clube estava pensando, uma vez que já tinha Jrue Holiday e Eric Gordon no elenco, jogadores que gostam de segurar a bola por um bom tempo também.

Se o jovem time ainda busca um melhor acerto, especialmente na defesa, apostando agora na contratação de Alexis Ajinça, no ataque o desenvolvimento é realmente positivo – eles têm a sexta melhor ofensiva. E a contribuição de Evans tem sido importante para isso, mesmo que seu desempenho na linha de três pontos seja desastroso e que sua pontaria de dois pontos também esteja muito abaixo do esperado.

Acontece que o volume de jogo que Evans tem ao sair do banco de reservas tem sido o suficiente para compensar a pontaria desacertada. Com uma projeção por 36 minutos de 18,3 pontos, 6,3 assistências e 6,7 rebotes – que basicamente supera o que fez como novato –, se firmou como um candidato ao prêmio de sexto homem da liga. Curiosamente, quando Dell Demps, ex-Spurs, conversou com o atleta, ele vendeu esse papel como uma interessante possibilidade a ser estudada pela jovem pretensa estrela. Manu Ginóbili seria o exemplo. Evans gostou da ideia – está colhendo frutos, agora, com o maior índice de eficiência de sua carreira. Podendo ser decisivo também:

Com Gordon mais uma vez afastado por contusão por cinco jogos, o ala-armador tem brilhado, com 20,2 pontos, 8,2 assistências e 5,6 rebotes. Uma dessas exibições foi especial para o atleta: no dia 23 de dezembro, ele ajudou o Pelicans a vencer por 113 a 100 o bom e velho Kings, em Sacramento. Foram 25 pontos e 12 assistências.

“Quandoe stava com a bola, ouvia o Isaiah Thomas dizendo o que ia fazer. Eu fazia a mesma coisa e ainda assim fazia a cesta. Mas você sabe: era apenas diversão”, disse Evans.

Brandon Knight, armador do Milwaukee Bucks.
O rapaz não teve dó alguma do arrebentado Los Angeles Lakers. Na última terça-feira, na despedida de 2013, usou o Staples Center como palco para o jogo de sua vida na NBA até aqui, marcando um recorde pessoal de 37 pontos –18 deles apenas num terceiro quarto devastador em que ele parava em qualquer ponto da quadra, arremessava e balançava a redinha.

Ok, considerando que um Jordan Farmar manco e o lento-quase-parando Kendall Marshall eram seus principais marcadores, a quantia pode não parecer muita coisa. Mas Knight estava batendo na pronta já. Nas sete partidas antecedentes, ele já havia estabelecido médias de 20,7 pontos, 6,0 assistências e 5,8 rebotes. O aproveitamento, está bem, foi de apenas 43% de quadra, mas já superior aos 40,1% que tem na temporada ou os 40,9% de sua carreira.

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Sim, Knight ainda está longe de ser um grande arremessador, ou uma ameaça assustadora no ataque. Só tem 22 anos, porém, e pela primeira vez tem carta branca para criar e se virar na NBA. Vale o teste para o Bucks, um time que viu suas metas completamente despedaçadas já no primeiro mês de campanha,

Mais um do Bucks: Khris Middleton. O ala foi repassado de Detroit a Milwaukee como contrapeso na negociação de Brandon por Brandon (Jennings). O ala revelado pela universidade de Texas A&M era tido como um prospecto de potencial considerável por alguns scouts, mas não dos mais badalados. Depois de um ótimo ano como segundanista na NCAA, se recusou a entrar no Draft e viu sua cotação despencar na temporada seguinte, toda detonada por uma lesão no joelho. Dessa vez, não se importou e se inscreveu no recrutamento de 2012. Terminou selecionado pelo Pistons em 39º, já na segunda rodada.

Num elenco cheio de alas jovens, recebeu minutos mais na metade final da temporada e passou, francamente, despercebido. Ele ainda teve flashes na liga de verão de Orlando deste ano, mas Joe Dumars não se importou em cedê-lo para ter um armador que julga de ponta para comandar sua equipe.

Em meio a tantas lesões no Winsconsin – Carlos Delfino, coitado, ainda nem pisou em quadra –, Middleton teve sua chance e a agarrou firme. Agora ao lado de Giannis Antetokoumpo (que já pede há tempos um post só dele), vem formando uma dupla de alas de muito potencial. Somem aí o ala-pivô John Henson, e o senador Herb Kohl queria ver seu time vencendo agora. Mas pode ter ganhado muito mais que isso para o futuro.

Wesley Matthews, ala do Portland Trail Blazers.
Matthes ficou pê da vida quando soube do número 130 durante as férias. Era essa a sua posição no ranking  anual de melhores jogadores da liga que o ESPN.com publica.

“Meus amigos já estavam me provocando e me deixando animado para a temporada. Eu estava me preparando para voltar extremamente faminto, como se não tivesse comido um hambúrguer há várias semanas (nota do editor: : D).  Mas quando saiu o ranking da ESPN? Aquilo foi maluco. Aquilo foi puro desrespeito”, afirmou em entrevista ao The Oregonian.

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Essa á frase de alguém fulo, totalmente fulo com tudo e todos. O ala levou para o pessoal. “Nunca me deram o benefício da dúvida na minha vida, então por que começariam agora?”, completou, numa pergunta retórica. Treinou individualmente com o assistente técnico Nate Tibbetts – que viajou até a cidade do jogador, diga-se –, trabalhou duro e tentou expandir seu jogo para além do rótulo de “bom arremessador de três pontos”.

O resultado a gente está vendo. É mais um que curte a temporada mais eficiente de sua carreira, matando acima da média da liga em praticamente todos os cantos da quadra – ainda que se destaque, mesmo, pela periculosidade nos tiros de longa distância, com 43,1% de suas tentativas.

Damian Lillard e LaMarcus Aldridge são os líderes da passeata ruidosa que faz o Blazers neste campeonato, mas Matthews, cheio de som e fúria, também faz valer o piquete.

Trevor Ariza, ala do Washington Wizards.
Se você for fazer um levantamento estatístico do quão eficiente o atlético Ariza foi durante a sua carreira, vai reparar que, do modo como está jogando hoje, ele só fez quando dirigido por Phil Jackson em Los Angeles, entre 2008 e 2009. Naquela época, ele também buscava um novo contrato, a primeira grande bolada de sua carreira.

Se a gente for descontar que fica difícil para Randy Wittman qualquer comparação com o Mestre Zen, sobra um paralelo para a versão 2013-14 de Ariza: sim, ele está novamente prestes a se tornar um agente livre. Tsc, tsc.

Descontadas as motivações que o ala possa ter, não dá para negar que ele esteja fazendo de tudo para ajudar o Wizards em sua tortuosa e tão aguardada trilha de volta aos playoffs do Leste. Em termos de índice de eficiência, só fica atrás do já imponente John Wall e de Nenê.

Da ocasião em que o Wizards chegou ao Rio de Janeiro, reconheço que o conselho publicado para o espectador presente na Arena HSBC era se concentrar na forma de arremesso de Martell Webster – e que para todos simplesmente ignorassem o que saísse de Ariza. Pois o ala deu um tapa na cara da sociedade crítica. Ele, que nunca havia acertado mais que 33,5% de seus chutes de três em sua carreira, elevou gradativamente seu acerto pelo time da capital aos mais que decentes 43,4% deste ano – sem diminuir a carga (são 5,8 disparos por partida).

E um rendimento desse faz toda a diferença. Pois o ala segue um personagem dinâmico em outras facetas do jogo, com sólidos números de rebote e assistências para sua posição e incomodando bastante nas linhas de passe.

Sobre o alto percentual de três pontos, o campeão da NBA em 2009 deu crédito a John Wall. “Ele sabe que estaremos correndo ao seu lado. Sabe aonde estaremos. Se a defesa se fechar, ele sabe tem a nós para recorrer e passar a bola para fora”, disse.

Por um punhado de dólares a mais, nada mal. Nada mal, mesmo.


Uma saudável entrevista para tentar decifrar Nenê
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Giancarlo Giampietro

Nenê meio que abre o jogo em entrevista nos EUA

Nenê meio que abre o jogo em entrevista nos EUA

Numa cortesia do jornalista que faz a melhor cobertura da NBA nestes dias (Zach Lowe, do Grantland) –, temos a melhor entrevista de Nenê em muito tempo. Isso se não for a melhor de todas – até porque o acesso ao pivô do Washington Wizards nunca foi dos mais fáceis para quem tenta daqui do Brasil.

Corra para ler.

(…)

Já voltou?

Bem, são vários os pontos para serem destacados:

Nenê x Magnano, Washingotn, CBB, seleção

Seleção: Segundo o jornalista, Nenê supostamente afirma que a CBB não imagina o que seja disputar uma temporada da NBA e do desgaste que isso gera. Digo “supostamente” porque as palavras não estão precisamente saindo da boca do pivô, mas, sim, num complemento do próprio Lowe.

“Você vai disputar a Copa do Mundo da FIBA em 2014 se o Brasil ganhar um convite?” – esta foi a pergunta.

Ao que o grandão responde: “Não sei. Tive lesões no passado, e isso deu a oportunidade para que outros jogassem, para que pudessem se desenvolver um pouco e ganhar experiência. A temporada aqui, na NBA, tem quase 115 jogos se você vai para os playoffs. (A Confederação Brasileira de Basquete) não tem ideia do que é isso. Ao final da temporada, você precisa de descanso. Te de parar e acalmar um pouco”.

Dá para ler este trecho e já fazer a manchete chocante, não? “Nenê ataca a CBB: ‘Não tem noção sobre o que é a NBA'”.

Fica a tentação. Mas, a partir do momento em que a entidade não é mencionada na pergunta e a referência sai do jornalista, não parece correto. Após as lamentáveis vaias que tomou no Rio de Janeiro, é bem provável que o pivô esteja falando sobre o país como um todo, sobre a falta de compreensão do que se passa numa campanha na liga.

Ele admite que os clubes (Nuggets e Wizards) fazem pressão para que os jogadores recusem as convocações. “Mas quando você está lidando com a seleção nacional, não dá para controlar muito. Você sabe como é. Espero que eles mudem a cabeça sobre jogadores que estão na NBA. Temos muitos jogos, muita pancadaria aqui.”

– Mentor: O papel de liderança, de exemplo que o paulista de São Carlos desempenha no time. Saíram dois exemplos interessantes sobre os quais os brasileiros em geral não têm acesso, sem poder acompanhar de perto o cotidiano do Washington Wizards – a não ser que você, torcedor sofredor do ex-Bullets, abra o Post e blogs locais religiosamente:

Nenê e o ex-companheiro Danilo Gallinari: figura respeitada no vestiário

Nenê e o ex-companheiro Danilo Gallinari: figura respeitada no vestiário

1) De acordo com os relatos de gente de dentro do clube, Nenê é desses raros caras que dizem não liga para estatísticas e que realmente age desta maneira, sem se importar com sua produção em quadra. “Só olho mais quando perdemos, para ver o que posso fazer melhor”, diz o jogador.Esse tipo de postura, numa liga tomada pelos mais diversos egomaníacos, faz um bem danado em qualquer vestiário. Envergonha os mais aparecidos e estabelece uma boa referência aos mais jovens.

2) O ala-armador Bradley Beal, segundanista, revelou que, quando algum de seus companheiros falha no posicionamento em quadra, no ângulo ou no timing de um corte para a cesta, ele pode se preparar: lá vem berro do pivô. “Ah, mano, não grito tão duro assim”, defende-se Nenê.

O brasileiro, então, discorre sobr seu entendimento do jogo e afirma que ter jogado futebol na infância o ajudou nisso. “Tem a ver com a visualização das jogadas. Quando um jogador corre em campo, e você quer passar a bola, é preciso enxergar dois pontos (a trajetória). Você tem de enxergar a conexão. É a mesma coisa no basquete”.

Simples assim: o famoso ponto futuro de Cláudio Coutinho!

E, para constar, o francês Kevin Seraphin é quem fica de orelha mais quente. “Ah, sim! Ele pode ser um pouco lento. Aí vou gritar!”, sorri

Lesões: Sem se incomodar em ter fama de bichado, Nenê fala dos diversos problemas físicos que teve na carreira. “Aprendi sobre meu corpo. Sei que alguma coisa vai acontecer. Mas tem vezes que você não consegue controlar. Tem vezes que você precisa jogar e você vai lá e faz. Tento pensar de modos como evitar as lesões, mas estou recebendo um salário alto”. Aí o pivô diz que tudo isso aconteceria por uma razão, num determinismo religioso. “Não está no meu controle, tudo acontece por uma razão”, diz. Ok, não sou o maior fã desse tipo de discurso, mas cada um se guia pelo que quer. Depois, ele dá a entender que os planos de se aposentar em 2016 podem ser revistos. Mas tudo dependendo dos planos de uma entidade suprema.

Rebotes: Para alguém com sua agilidade, tamanho, envergadura e inteligência de quadra, Nenê tem uma média um tanto ridícula de 6,9 rebotes na carreira. Mas Lowe destaca em uma de suas questões que, quando o brasileiro está jogando, seus times tendem a ter um dos melhores aproveitamentos na coleta de arremessos errados. O atleta explica: “Se eu não fizer o bloqueio de rebote, se tentar roubar a bola de meus companheiros, poderia ter média de 13 ou 14 por jogo. Mas eu aprendi do jeito certo. Aprendi a bloquear, respeitar cada lado da cesta. Há uma razão para termos um rebote melhor quando jogo, porque sei os fundamentos. Você precisa bloquear não só perto da cesta, mas no garrafão inteiro. Os caras de fora também, para que os baixinhos não nos surpreendam lá embaixo”. Para os que veem o brasileiro jogar há tempos, não há o que se questionar aqui: estes pequenos detalhes são evidentes.

Wizards x playoffs: no finalzinho da entrevista, Nenê evita em prometer qualquer coisa aos torcedores. Mas todo mundo sabe que é playoff ou nada para a equipe da capital neste ano. “Se eu for dizer que vamos terminar em tal lugar e não acontecer, então será tudo contra minhas palavras. Mas nosso time é muito, muito bom quando jogamos do jeito certo, quando exploramos nosso talento. O céu é o limite. As pessoas sempre perguntam se podemos ir para os playoffs. E eu digo que que sim. Essa é a resposta honesta. Mas temos de trabalhar.”

O problema: Nenê já perdeu sete partidas este ano, das 24 que o time fez até aqui. E o Wizards depende muito de suas habilidades e de seu jogo estabilizador. Segundo Lowe, o time venceu apenas 7 de 39 partidas sem o brasileiro. Com ele, são 42 triunfos e 46 derrotas.


Vida nova: 5 jogadores que tentam salvar a carreira na NBA
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Giancarlo Giampietro

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

Xavier Henry, decolando pelo Lakers

O esporte, assim como a vida, está rodeado de surpresas agradáveis, sim. Mas, ao mesmo tempo, decepção é o que não falta.

(Chorei.)

No jogo jogado, são diversos os atletas em quem se pode apostar uma fortuna, fazer planos grandiosos  e ver toda essa grana ir ralo abaixo. Por vezes, é questão de azar: uma lesão grave e precoce, por exemplo. Más influências externas também podem atrapalhar muito. A falta de personalidade para fazer valer o talento. Um técnico cabeça-dura e rancoroso. A simples avaliação errada de um departamento de scouts. E mais e mais fatores podem determinar uma aposta furada.

Mas qual é o momento exato para definir que uma determinada história deu errada? Até quando os dirigentes, treinadores, torcedores e analistas devem esperar para dar uma carreira como “acabada”? No Brasil, somos especialmente bons nisso. A facilidade que temos para julgar alguém como “lixo” é incrível. Muitas vezes sem saber nem quatro linhas sobre a vida ou o contexto em torno de um atleta qualquer.

Agora brecamos o negativismo por aqui, sem se apegar tanto a amarguras da vida, tá? Afinal, é final de ano, hora de erguer a cabeça, estufar o peito. Simbora.

Então, assim bruscamente, vamos virar o disco. Quer dizer, vamos identificar algumas das boas e surpreendentes histórias do início de temporada da NBA. Uma turma que vai usando os primeiros meses do campeonato para tentar prolongar suas carreiras:

Xavier Henry, ala do Lakers
O pai de Xavier jogava na Bégica. A mãe integrou a equipe feminina da universidade de Kansas. Seu irmão mais velho foi escolhido na primeira rodada do Draft de 2005 – na MLB. Quer dizer: o DNA estava ali, pronto para ser explorado. E não teve jeito: o garoto seguiu a trilha de esportista, com destaque desde cedo. Foi um dos destaques de sua geração no colegial, sendo eleito para jogar o McDonald’s All American, o Nike Hoops Summit (do qual foi o cestinha americano) e o Jordan Brand Classic. Badaladíssimo.

Xavier, astro colegial

Xavier, astro colegial

Depois de se inscrever na Universidade de Memphis, voltou atrás e seguiu a trilha da mãe e passou seu primeiro e único ano de NCAA jogando pelos Jayhawks. Na estreia, anotou 27 pontos e estabeleceu um recorde pela tradicional universidade. Tudo seguia de acordo com o plano, até ser selecionado pelo Memphis Grizzlies em 12º no Draft de 2010. Em suas primeiras semanas com Lionel Hollins, agradou o bastante para ser promovido a titular por 11 partidas. Aos poucos, porém, começou a sentir dores crônicas no joelho e, de janeiro em diante, foi escalado em apenas 10 jogos. Na segunda temporada, foi a vez de ele sofrer uma torção e ruptura de tendão no tornozelo.

Jogado de canto num time com aspiração de ir longe nos playoffs,  foi envolvido em uma troca tripla no dia 4 de janeiro por Marreese Speights (que seria um taa-buraco devido a lesões de Zach Randolph e Darrell Arthur), indo parar no New Orleans Hornets. Em sua nova equipe, nunca chegou a empolgar. Não passou dos 17 minutos por jogo em duas campanhas – teve médias no geral de 14,6 minutos e meros 4,3 pontos, acertando apenas 40,1% dos arremessos. Foi dispensado.

Talvez seja justo afirmar que, quando assinou um contrato  sem garantias com o Lakers para a atual temporada, ninguém deu bola. Até que, na pré-temporada, começou a fazer barulho e conseguiu passar pelos cortes para compor o elenco de um time que precisava de ajuda desesperadamente no perímetro, enquanto Kobe não voltava.

Ok, o ala vem com uma produção inconsistente, não é que esteja incendiando a cidade, mas ao menos seus espasmos indicam que talvez seja muito cedo ainda para que seja descartado. Só tem 22 anos.

(PS: Jonathan Abrams contou tudo com mais detalhe no Grantland esta semana).

Jordan Crawford, ala-armador do Boston Celtics
Crawford não era tão cobiçado assim quando adolescente e, para piorar, ainda perdeu todo o seu último ano de colegial devido a uma lesão de tornozelo. Ainda assim, fez o suficiente em Detroit para atrair algumas universidades, optando por se inscrever na tradicional equipe de Indiana, pela jogou por um ano (2007-2008).

Jordan Crawford, o armador

Jordan Crawford, o armador

Depois que o técnico Kelvin Sampson foi afastado, no entanto, transferiu-se para Xavier e teve de ficar uma temporada de molho por violar alguns dos mais diversos códigos que a NCAA impõe. Ainda assim, o cestinha conseguiu aquele que talvez seja o mais comentado lance de sua carreira, em 2009, quando enterrou na cara de LeBron James durante um coletivo em um camp organizado pelo próprio atleta (ou pela Nike em seu nome, digamos).

Quando voltou para as quadras para valer, arrebentou pelos Musketeers, com média de 20,5 pontos por jogo e 39,1% nos três pontos. Bastou para lhe garantir a 27ª colocação no Draft de 2010, o mesmo de Henry, para o Atlanta Hawks. Lá, ele arrumou uma confusão danada para os mais desatentos que fossem conferir as tabelas de estatísticas do time, uma vez que suas credenciais se misturavam com as de Jamal Crawford. Waka-waka-waka.

Mas esse foi basicamente o único destaque de sua passagem por Atlanta, mesmo, uma vez que foi repassado para o Washington Wizards ainda como um novato. Na capital americana, não demorou para deixar seu talento evidente (um pontuador criativo a partir do drible), ao mesmo tempo em que foi devidamente posicionado na turma dos cabeças-de-vento JaVale McGee e Andray Blatche como uma figura que não ajudava em nada na química no vestiário.

Em dois anos e meio pelo Wizards, por vezes substituindo John Wall na armação, ele conseguiu dois triple-doubles e algumas noites incríveis de cestinha, com quando 39 pontos contra o Miami Heat. Mas nunca chegou nem a 42% no aproveitamento de quadra e tirou muitos companheiros (e técnicos e torcedores) do sério com seu “apetite” pela bola. Em fevereiro deste ano, foi chutado fora da cidade e acolhido pelo Boston Celtics, em troca de um lesionado Leandrinho. Para ver a moral que tinha.

Num time em derrocada física, não ajudou muito nos playoffs. Mas eis que, nesta campanha, em meio a um time de renegados ou desprestigiados, Crawford encontrou a Luz. Ou Brad Stevens, no caso, que o transformou num armador competente, enquanto não termina a reabilitação de Rajon Rondo. O técnico novato guia o a talentoso jogador em sua temporada mais eficiente na liga, e de longe, na qual, não por acaso, é a que está mais passando a bola.

Ao Zach Lowe, do Grantland, Stevens jura que não teve uma conversa do tipo “venha-conhecer-jesus” – e foi esta a pergunta de jornalista, de me matar de rir.

“A única coisa que eu queria ter certeza era de que ele sabia do meu ponto de vista: que era um novo começo e que acreditamos nele”, afirmou. “Eu já tinha visto ele ser quase impossível de se parar na faculdade, em um jogo que eu treinei contra ele. Eu sabia que ele era um cestinha implacável. A outra coisa que eu sabia era que ele não está com medo em momento algum. Mesmo no Torneio da NCAA, numa atmosfera tensa daquelas, e isso pede muito colhão.”

E o que saiu daí? Simplesmente que o Miami Heat está interessado em seus serviços.

DeMarre Carroll, ala-pivô do Atlanta Hawks
“Junkyard Dog”.

Algo como “Cachorro de Ferro-Velho”. Bravo, salivando para dar umas boas dentadas em quem ousar escalar e saltar a grade. Se cuida aí, mermão!

(Associo sempre esse tipo de cão ao doberman, que anda sumido de nosso ecossistema. Sem preconceito, ok.)

Bem, era esse o apelido de Carroll em seus tempos de universitário, especialmente quando ele jogava sob a orientação de seu tio, Mike Anderson, em Missouri – depois de duas temporadas por Vanderbilt.

Criado no Alabama, o ala-pivô não despertava tanta atenção assim dos olheiros, mas conseguiu bolsa-atleta  um universidades grandes – embora não necessariamente de ponta, esportivamente falando. Pelos Tigers, teve seu grande momento ao liderar uma campanha rumo às quartas de final do Torneio da NCAA.

Foi quase uma dádiva para um garoto que havia recebido uma notícia para lá de preocupante um ano antes. Incomodado com uma persistente coceira nas pernas, Carroll procurou dermatologistas para saber se tinha alguma espécie de alergia. Depois de muita investigação, acabou constatado algo bem mais grave: uma doença no fígado. Pior: uma doença no fígado que muito provavelmente exigiria um transplante no futuro.

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

DeMarre ignora doença e arrepia na NBA. Sobra até para Splitter

A doença foi mantida sob sigilo por um bom tempo – segundo os médicos, era algo que não afetaria sua carreira. Ele poderia jogar o quanto quisesse e cuidar do órgão depois. Acontece que, após sua grande campanha nos mata-matas universitários, durante os treinos privados pré-Draft, o segredo acabou revelado. Por mais que tentasse amenizar a notícia, viu sua cotação cair. Não era o fim do mundo, contudo. Acabou escolhido pelo Memphis Grizzlies em 27º.

Aos 23 anos – mais velho que o calouro regular destes tempos –, estaria pronto para ajudar na rotação de Lionel Hollins, antes da chegada de Xavier Henry. Ou não. Mesmo num elenco jovem, em formação, na lista dos minutos distribuídos pelo técnico, foi apenas o nono mais utilizado.

Na temporada seguinte, foi trocado para o Houston Rockets, que devolveu Shane Battier ao time do Tennessee. Menos de um mês depois, em abril, foi dispensado. Só voltou no campeonato seguinte, defendendo o Denver Nuggets. Ficou no clube de dezembro a fevereiro, quando foi novamente mandado para o olho da rua, tendo participado de apenas quatro partidas.

De qualquer forma, a recuperação estava por vir. Foi contratado prontamente pelo Utah Jazz, encontrando espaço no banco de reservas do time, fazendo aquilo que mais sabe: correr pela quadra toda, enchouriçar a vida de quem estiver driblando nas redondezas, lutar por rebotes. O serviço sujo. Mesmo sem Deron Williams, o time deu um jeito de se intrometer entre os oito classificados aos playoffs do Oeste.

Depois de mais um ano de contrato pelo Utah Jazz, foi recompensado nesta temporada com uma proposta de certa forma surpreendente – mais de US$ 7 milhões por três anos. E, sim, para quem interessar possa, um valente como Carroll já garantiu US$ 12 milhões na carreira, no mínimo.

“Eu sou o junkyard dog e você realmente não pode tirar isso de mim”, orgulha-se.

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ex-Popovich

James Anderson, ala do Philadelphia 76ers
Quase todo o elenco do Sixers podia estar listado aqui, na verdade. É o time com mais refugos desde a montagem do Charlotte Bobcats em seu draft de expansão. Mas vamos com este, ao menos por enquanto.

(Além do mais, com um nome tão comum como esses, é um caso perfeito para esta lista, não? Numa liga dominada por LeBrons, Kobes, Dwyanes e Carmelos, fica difícil prosperar como “James Anderson”. Para piorar, ele não consegue ser nem mesmo o “J.A.” mais bem ranqueado na pesquisa do Google, perdendo para um jogador de críquete qualquer homônimo.

Mas, então, sobre o ala Anderson: aqui estamos falando de mais um “McDonald’s All-American”, vindo do Arkansas. Em seu primeiro jogo de NCAA, por Oklahoma State, marcou logo 29 pontos. No segundo ano pela equipe, teve média de 18,3 pontos e foi chamado para a Universíade. Ao final da terceira temporada, com 22,3 pontos, foi eleito o jogador do ano da conferência Big 12.

Estava pronto, então, para entrar na NBA, sendo selecionado pelo San Antonio Spurs em 20­º. E aí que ele se tornou um raro caso de jovem jogador que não evoluiu sob a tutela de Gregg Popovich no Texas. Se, por um lado, teve um pouco de azar com lesões na temporada de novato, por outro ousou reclamar do técnico por não receber os minutos que achava justo ter nos campeonatos seguintes. Aiaiai. Vagou pelo Austin Toros, a filial de desenvolvimento do clube, sem causar sensação alguma e simplesmente não teve seu contrato estendido. O Coach Pop simplesmente desistiu do atleta em dois anos. A partir daí, passaria um bom tempo na estrada viajando de um lugar para outro.

Anderson tentou, então, um emprego com Danny Ferry no Atlanta Hawks, mas não foi aprovado. Foi inscrito na D-League novamente, pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Houston Rockets. Foi chamado novamente pelo Spurs para cobrir um período de lesão de Stephen Jackson. Voltou para o Vipers, mas foi promovido de imediato para o Rockets, pelo qual disputou apenas dez partidas.

Na hora de escolher os chutadores que rodeariam James Harden e Dwight Howard em quadra, porém, Daryl Morey preferiu outras opções e foi mais um a dispensar Anderson. E aí Sam Hinkie, ex-braço direito de Morey, o recolheu de imediato na lista de waiver.  Em Philadelphia ele também reencontraria o técnico Brett Brown, ex-assistente do Spurs. Ufa.

“Esta é definitivamente uma grande oportunidade para mim. Sinto que esta é o melhor chance que tive até agora. Definitivamente quero aproveitá-la”, afirma Anderson, que começou a temporada como titular nas alas. Ok, agora está saindo do banco, mas jogando mais de 20 minutos por partida, com média de 10,9 pontos e aproveitamento de 47,7% nos arremessos neste mês. Aos 24 anos, ele enfim conseguiu um pouco de estabilidade.

“Ele se encaixa com nosso estilo com suas habilidades para correr na quadra”, disse Brown. “Ele tem um temperamento calmo. Sabe, talvez ele apenas esteja em uma fase de sua carreira em que vai aproveitar e seguir adiante. Talvez eu e nosso clube estejamos pegando James Anderson no momento certo de sua carreira.”

Josh McRoberts, ala-pivô do Charlotte Bobcats
Era 2005, numa época em que a NBA ainda permitia que os colegiais entrassem direto na liga, sem precisar passar pela hipocrisia do mundo da NCAA. De sua geração, Monta Ellis, Lou Williams, Martell Webster, Gerald Green, CJ Miles, Amir Johnson e Andrew Bynum, todos McDonald’s All-Americans, aproveitaram a brecha e se declararam para o Draft. McBob, considerado o ala-pivô mais promissor do país na categoria, optou por jogar em Duke antes de ganhar seus milhões.

Daí que… Podemos dizer que ele foi uma das maiores frustrações no reinado do Coach K. O potencial atlético do jogador sempre foi evidente, assim como sua versatilidade, preenchendo a tabela de estatísticas. Mas ainda havia muito o que trabalhar em seu jogo, como o físico, a consistência e fundamentos (rebote nunca foi o seu forte, por exemplo, a despeito de sua altura, impulsão e agilidade).

Os scouts começaram a se cansar do cara, a garotada em Duke também, e McBob resolveu sair ao final da segunda temporada. No fim, não fez uma coisa (entrar cedo, após o colegial, com base na aposta em seu talento natural), nem outra (ir para a faculdade para desenvolver seu jogo e se candidatar como um prospecto refinado). Resultado: despencou até a 37ª posição do Draft de 2007, via Portland Trail Blazers.

Na Rip City, o ala-pivô foi o jogador que menos minutos recebeu de Nate McMillan: apenas 28. No ano todo!  Bem, em 2008 acabou trocado para o Indiana Pacers, voltando para sua cidade natal com a benção de Larry Bird. Demorou dois anos, mas na temporada 2010-11, enfim, ele virou um jogador de NBA de verdade, com 22,2 minutos por partida, dividindo posição com Tyler Hansbrough, enquanto David West não chegava.

Como agente livre em 2011, assinou com o Los Angeles Lakers – a ideia dos Busses era combiná-lo com Troy Murphy para tentar suprir a ausência de Lamar Odom. Não deu tão certo assim, e na temporada seguinte ele acabou envolvido na supertroca que levou um suposto superpivô que marcaria história no time. “Isso não me incomoda. Não é que eles me trocaram por uma máquina qualquer ou algo assim. Eles me trocaram por um dos melhores jogadores da liga”, afirmou.

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

McBob, com visual e tudo para agradar Michael Jordan

Em Orlando, McBob nem bem arrumou as malas  e já teve de se mudar para Charlotte, aos 25 anos.  “Estava em uma situação horrível em Orlando, onde eles só queriam me ver fora dali. Eles queriam jogadores jovens e contratos expirando. Em Los Angeles, também não estava muito bem, mas isso não é culpa de ninguém. Foi apenas o jeito como as coisas evoluíram para os agentes livres depois do locaute”, disse.

E foi pelo Bobcats que se encontrou.  Embora continue mal nos rebotes, vem com o melhor índice defensivo de sua carreira. Mas o que chama mais a atenção, mesmo, é sua média de 4,3 assistências por jogo, tecnicamente empatado com o armador Kemba Walker no fundamento. Além disso, ele é o segundo que mais cestas de três fez na temporada, atrás também de Walker.

“Tem sido ótimo para mim até aqui, em termos de ganhar uma oportunidade de jogar na minha posição. Você não quer nunca se acostumar em quicar de um lado para o outro. Este é meu sexto ano e já vi tanta coisa. Agora só quero ficar em um lugar em que eu tenha a oportunidade de ajudar e, tomara, vencer algumas partidas”, disse o ala-pivô.

No que depender Michael Jordan, de Charlotte ele não sai: “Espero que ele não exerça sua cláusula contratual. Temos de fazer de tudo para manté-lo”, disse o proprietário da franquia.

Menções honrosas: Gerald Green em Phoenix, Michael Beasley em Miami, Andray Blatche no Brooklyn, Wesley Johnson em Los Angeles e Lance Stephenson em Indiana. Quem mais?


15 times, 15 comentários sobre o Leste da NBA
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Giancarlo Giampietro

JR Smith x Joe Johnson

Já que estamos em dívida, com o campeonato já correndo a mil, tentamos aqui dar uma looooonga caminhada nesta terça e quarta-feira para abordar o que está acontecendo com os 30 times da NBA até o momento, dividindo-os em castas. Começamos hoje com a Conferência Leste, a famigerada E-League.

Antes de passar por cada franquia, em castas, é mandatória a menção sobre o quão patética vem sendo a porção oriental da liga norte-americana, com apenas três times acima da marca de 50% de aproveitamento, enquanto, do lado ocidental,  apenas quatro estão no lado negativo. Isso muda tudo na hora de avaliar o quão bem um time está jogando ou não num panorama geral. Ter de enfrentar Sixers, Magic, Bucks e… (!?) Nets e Knicks mais vezes do que Warriors, Wolves, Grizzlies e… (!?) Suns ajuda muito para inflar os números de sua campanha. É como se fosse um imenso ***ASTERISCO***.

Agora vamos lá:

Os únicos dois times bons – e que ao mesmo tempo são os principais favoritos ao título
Já sabe de quem estamos falando, né? É a categoria mais fácil de se identificar além de “os dois times que são um pesadelo para Spike Lee, Woody Allen, Al Pacino, Roberty De Niro, os Beastie Boys e qualquer outro nova-iorquino”.  Na saideira de David Stern, o certo era que ele instaurasse uma série melhor-de-81 na conferência, e que o restante se dedicasse a analisar todas as minúcias da fornada do próximo Draft.

Indiana Pacers: que o sistema já funcionava, não havia dúvida. Eles deixaram muito claro nos mata-matas do ano passado. É um time com identidade clara, que defende muito, contesta tudo o que pode perto do aro e na linha de três pontos, sufoca dribladores no perímetro e permite apenas chutes forçados de média distância. Com esse alicerce erguido, o que os eleva ao topo na temporada regular no momento, a outro patamar, é impressionante evolução individual de Paul George, Lance Stephenson e Roy Hibbert. Confiantes, entrosados e candidatos a prêmios desde já. Some isso à melhora do banco, e temos a defesa  mais dura da liga, de longe, agora com a companhia de um ataque que beira o aceitável, sendo o 14º mais eficiente.

Miami Heat: Dwyane Wade joga quando quer ou quando pode, LeBron James regrediu um tiquinho, se comparado ao absurdo que produziu nas últimas duas temporadas (embora esteja finalizando com ainda mais precisão), Udonis Haslem perdeu jogos, Shane Battier despencou, Greg Oden ainda não estreou e… Tudo bem, tudo na santa paz na Flórida. Eles não jogam pensando em agora e ainda é o bastante para, no Leste, sobrar e construir o melhor ataque e a sétima melhor defesa, uma combinação perigosa. Ah, e palmas para Michael Beasley! Por enquanto, em quase dois meses, ele conseguiu evitar a cadeia e, estatisticamente, escoltado por craques, vem produzindo como nunca antes na história dessa liga.

Eles querem, tentam ser decentes (ou talvez não)
Neste grupo temos times que estão entre os menos piores do Leste.

Atlanta Hawks: o mundo dá voltas, LeBron James passa de supervilão a unanimidade, Juwan Howard e David Stern enfim se aposentam, Bush vai, Obama vem, mas o Hawks não consegue se livrar da mediocridade.  Jajá teremos uma década com o time posicionado entre as terceira e sexta posições da conferência. E não podem dizer que Danny Ferry não está tentando. Joe Johnson e Josh Smith se mandaram. As chaves do carro foram entregues para Al Horford. Jeff Teague está solto. Kyle Korver, pegando fogo. DeMarre Carroll, surpreendendo. Mas, no geral, falta banco e consistência, enquanto os jogadores assimilam os conceitos Popovichianos de Mike Buddenholzer.

Detroit Pistons: ainda está cedo para detonar por completo os experimento com os três grandalhões juntos, mas todos os indícios apontam que talvez não tenha sido, mesmo, a melhor ideia. Greg Monroe parece deslocado e Josh Smith comete atrocidades no perímetro – assim como o bom e velho Brandon Jennings. Ao menos, a cada erro da dupla, Andre Drummond está por ali, preparado para pegar o rebote e castigar o aro. Rodney Stuckey, ressuscitado como um candidato a sexto homem do ano, também ajudou a aparar as arestas. Maurice Cheeks ainda precisa definir de uma vez sua rotação e encontre melhor padrão de jogo para adequar as diversas partes talentosas que, no momento, não conseguem se posicionar nem mesmo entre os 20 melhores ataques ou defesas. E, mesmo assim, o time ocupa o quinto lugar no Leste. Incrível.

O aproveitamento de quadra de Josh Smith nesta temporada: as marcas em vermelho, só para constar, estão abaixo da média da liga. E este vermelho lembra um pouco a cor de um tijolo velho

O aproveitamento de quadra de Josh Smith nesta temporada: as marcas em vermelho, só para constar, estão abaixo da média da liga. E este vermelho lembra um pouco a cor de um tijolo velho

Charlotte Bobcats: a franquia apanhou por anos e anos. Foi coisa de ser massacrada mesmo. Daí que, num ano antes do Draft mais generoso dos Estados Unidos em muito tempo,  Michael Jordan resolveu que era hora de gastar uma graninha, acertar em uma contratação (aleluia!) e formar um time até que bonitinho. Al Jefferson ainda não engrenou, recuperando-se de uma lesão no tornozelo, Cody Zeller não impressiona ninguém (positivamente, digo), Kemba Walker não progrediu, mas o time tem se sustentado com sua defesa, guiada por Steve Clifford, sobre quem havíamos alertado. A equipe mais escancarada do ano passado virou, agora, a terceira melhor retaguarda. E, aqui entre nós: Josh McRoberts é um achado.

Washington Wizards: Ernie Grunfeld pode ter feito um monte de barbaridades nas constantes reformulações de elenco que produziu desde que Gilbert Arenas pirou o cabeção. Também não tem muita sorte. John Wall se firmou como um dos melhores armadores de sua geração, mas não consegue levar adiante a dupla com Bradley Beal, afastado por uma misteriosa dor na canela que pode ser fratura por estresse (e aí danou-se). Marcin Gortat se entendeu bem com Nenê – e o brasileiro, todavia, não consegue parar em pé sem sentir dores. Quando Martell Webster vai bem, Trevor Ariza machuca. Quando Trevor Ariza vai bem, Martell Webster machuca. E Randy Wittman, coordenando uma defesa respeitável, tem de se virar do jeito que dá para manter sua equipe competitiva. No Leste, claro, não precisa de muito. Talvez nem importe nem que Otto Porter Junior esteja só na fase de aprender a engatinhar.

Chicago Bulls: pobre Tim Thibodeau. Deve estar envelhecendo numa média de um mês a cada semana nesta temporada. A nova lesão de Derrick Rose foi trágica – e dessa vez não havia Nate Robinson para socorrer. Para piorar, Jimmy Butler caiu, levando junto, agora mesmo, Luol Deng, que estava carregando piano de modo admirável. Em meio a tudo isso, Joakim Noah nem teve tempo de se colocar em forma. Para estancar os ferimentos, Taj Gibson faz sua melhor campanha, Kirk Hinrich tem evitado a enfermaria para organizar as coisas e, claro, muita defesa, a quarta melhor da liga. O suficiente para capengar por um oitavo lugar na conferência, esperando por um raio de sol.

Boston Celtics: Danny Ainge certamente confia na capacidade de Brad Stevens como técnico. Do contrário, não teria dado um contrato de seis anos ao noviço. Talvez ele só não contasse que o sujeito fosse tão bom desse jeito. Aí complica tudo! O Celtics abriu mão de Paul Pierce e Kevin Garnett neste ano para afundar na tabela e sonhar com um dos universitários badalados do momento. E aí que, em meio a essa draga toda, uma boa mente pode fazer a diferença, mesmo sem Rajon Rondo e tendo que escalar Gerald Wallace e pivôs diminutos – sem dar a rodagem necessária para Vitor Faverani. Então, meninos e meninas, pode certeza de algo: se tiver alguém torcendo para a ascensão de Knicks e Nets, o Mr. Ainge é uma boa aposta.

Descendo, mas só por ora
Três equipes que ainda vão perder muito mais que ganhar neste ano, mas as coisas estão mudando. “Perdeu, valeu, a gente sabe que não deu.”

Philadelphia 76ers: ver Michael Carter-Williams estufar as linhas de estatísticas de todas as formas já valeria o ano inteiro para aqueles que ainda choram Allen Iverson (ou Charles Barkley, ou Moses Malone, ou Julius Erving). O armador é a maior revelação da temporada. Havia fãs dele no processo de recrutamento de novatos deste ano, mas, sinceramente, não li em lugar algum a opinião de que ele fosse uma ameaça para conseguir um quadruple-double na carreira, quanto menos em seus primeiros dois meses. Ao mesmo tempo, sem pressão nenhuma por resultados imediatos, o gerente geral Sam Hinkie e o técnico Brett Brown vão rodando seu elenco, garimpando talentos, avaliando prospectos como Tony Wroten, James Anderson, Hollis Thompson, Daniel Orton etc. Sem contar o fato bizarro de que Spencer Hawes, hoje, é um dos melhores pivôs da liga. Vende-se.

Orlando Magic: A base aqui, hoje, é melhor que a do Sixers, com Arron Afflalo jogando uma barbaridade, jogando de uma forma que assusta até. Nikola Vucevic vai se provando que sua primeira campanha na Disneylândia não foi um delírio. Victor Oladipo está cheio de energia e potencial para serem explorados. Andrew Nicholson, Tobias Harris e Maurice Harkless também oferecem outras rotas a serem exploradas. O técnico Jacque Vaughn é respeitado. Para o ano que vem, os contratos dos finados Hidayet Turkoglu e Quentin Richardson expiram, e o gerente geral Rob Hennigan terá espaço para investir.

Toronto Raptors: não houve uma negociação na qual Masai Ujiri se envolveu nos últimos dois, três anos em que ele não tenha, no mínimo, levado a melhor. Isso quando ele não rouba tudo de quem está do outro lado da mesa, sem piedade alguma. Em pouco tempo, já se livrou dos contratos de Rudy Gay e Andrea Bargnani, iniciando um processo de implosão para tentar reformular, de modo definitivo, a franquia canadense – que tem aporte financeiro para ser grande. Jonas Valanciunas está dentro. O restante? Provavelmente fora. Será que Andrew Wiggins vai acompanhá-lo, em casa?

Caos total
A bagunça é tanta que fica difícil de saber como botar tudo em ordem.

Cleveland Cavaliers: no papel, um time de playoff. Mas as peças por enquanto não se encaixam tão bem como o esperado. Para dizer o mínimo, considerando que Dion Waiters partiu para cima de Tristan Thompson no vestiário. Em quadra, Mike Brown simplesmente não consegue organizar um ataque decente que não tenha LeBron James em seu quinteto. O Cavs só pontua mais que o time que aparece logo abaixo aqui. É um desastre. Para se ter uma ideia, dos dez jogadores que ficaram mais minutos em quadra até o momento, apenas Anderson Varejão acertou pelo menos 50% de seus arremessos. Até mesmo Kyrie Irving vem encontrando sérias dificuldades. Os últimos jogos de Andrew Bynum seriam o único indício positivo por aqui – e não que isso sirva para compensar o fiasco total que são as primeiras semanas de Anthony Bennett como profissional:

Milwaukee Bucks: a Tentação de jogar Larry Drew na fogueira também é grande, mas fato é que o Milwaukee Bucks em nenhum momento pôde colocar em quadra o time que eles imaginariam ter. Larry Sanders passou vexame em uma briga na balada, Carlos Delfino ainda não vestiu o uniforme, Brandon Knight e Luke Ridnour se alternam na enfermaria, aonde Caron Butler já se instalou ao lado de Zaza Pachulia. Ersan Ilyasova só não está lá porque o time precisa desesperadamente de qualquer ajuda, ainda que seja de um ala-pivô cheio de dores nas pernas. Apenas OJ Mayo, John Henson e o surpreendente Kris Middleton disputaram as 20 partidas da equipe. De toda forma, esses nomes não chegam a empolgar tanto, né? Daria um sólido conjunto, mas sem grandes aspirações. Se for para empolgar, mesmo, então, com a vaca já atolada no brejo, melhor liberar o garotão Giannis Antetokounmpo para correr os Estados Unidos de ponta a ponta.

Os dois times que são um pesadelo para Spike Lee, Woody Allen, Al Pacino, Roberty De Niro, os Beastie Boys e qualquer outro nova-iorquino
Eles ainda têm tempo para reagir. Mas vai dar muito trabalho e ainda pode custar muito dinheiro.

Brooklyn Nets: bem, sobre Jason Kidd já foi gasto um artigo inteiro. De lá para cá, soubemos que Lawrence Frank tem um salário de US$ 6 milhões (mais que Andrei Kirilenko, Andray Blatche e Mason Plumlee juntos!) apenas para escrever relatórios diários, uma vez que foi afastado do posto de principal assistente. Depois de apenas três meses no cargo. E, esculhambado nos mais diversos sentidos, o Nets obviamente não consegue se encontrar em quadra, mesmo com Brook Lopez jogando o fino. Temos agora o 20º pior ataque e a penúltima defesa da liga, acima apenas do pobre Utah Jazz. Tudo isso, lembrando, com a folha salarial mais volumosa do campeonato. “Parabéns aos envolvidos” se encaixa aqui? Que Deron Williams volte rápido – e bem. Kirilenko também precisa colocar a reza em dia.

New York Knicks: agora fica meio claro a importância que tem um Tyson Chandler, né? Um sujeito de 2,13 m de altura (ou mais), ágil, coordenado, inteligente, corajoso e que ainda converte lances livres? Causa impacto dos dois lados da quadra, facilitando a vida de todo mundo. Inclusive a do Carmelo Anthony, que pode roubar um pouco na defesa, ciente de que tem cobertura. Sem ele, o time virou uma peneira, com a quinta pior marca da liga. No ataque, uma das maiores artilharias da temporada passada agora é somente a 18ª, numa queda vertiginosa que tem mais a ver, é verdade, com a fase abominável de JR Smith e Raymond Felton. Não é culpa do Carmelo, mesmo que ele também não esteja mantendo a forma do ano passado. Daí que temos uma surra de mais de 40 pontos para o Boston Celtics no Garden? Até Ron Artest está pasmo.


NBA 2013-14: razões para curtir ou lamentar os times da Divisão Sudeste
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Giancarlo Giampietro

Cada equipe tem suas particularidades. Um estilo mais ofensivo, uma defesa mais brutal, um elenco de marmanjos cascudos, outro com a meninada babando para entrar em quadra. Vamos dar uma passada, primeiro, pelos clubes da Divisão Sudeste, pensando no que pode ser legal de acompanhar e algumas coisas que provavelmente há de se lamentar. São observações nada científicas, estritamente pessoais, sujeitas, então, aos caprichos e prediletos de uma só cabeça (quase) pensante:

ATLANTA HAWKS
Para curtir:
Al Horford tendo um time só para ele agora. Depois de Joe Johnson, lá se foi agora Josh Smith, e o ala-pivô dominicano vai poder ter mais posse de bola para mostrar sua versatilidade. É um jogo que não costuma render muitos highlights, mas é bonito que só de se ver. Ótimo chute de média distância, capacidade para criar e passar a partir do drible, reboteiro de primeira e um líder em quadra. Craque.

Dennis Schroeder! Qualquer minutinho que o novato alemão tenha. Para quem não o viu em ação na liga de verão de Las Vegas, um resumo: seu jogo lembra, sim, o de Rajon Rondo. Ele age como se já jogasse de armador há 20 anos na NBA, mas na verdade essa é apenas a idade dele.

Kyle Korver e seu arremesso perfeito, equilibradíssimo, não importando a velocidade em que receba o passe ou se ele vai precisar girar para engatilhar e mandar bala.  O mesmo vale para o diminuto Jon Jenkins.

DeMarre Carroll correndo a quadra toda como um cão raivoso.

– Qualquer coisa que Pero Antic possa fazer. Vale pelo visual.

Mike Budenholzer, o melhor discípulo que Gregg Popovich já teve? A conferir.

Para chiar:
– A arena vazia de Atlanta apelando ao sistema de som para tentar passar a impressão de que o clima por lá seja minimamente interessante.

– Elton Brand roubando minutos de Gustavo Ayón. Veterano e tal, Brand ainda consegue proteger o garrafão e matar alguns chutes de média distância. Mas já chegou a hora de algum time da liga dar uma chance de verdade a Ayón desde seus primeiros jogos pelo Hornets. Seria um ótimo reserva para Horford e Millsap, mantendo duplas ágeis e multitalentosas na quadra.

– Qualquer coisa que Pero Antic possa fazer. Talvez nem o visual compense.

Shelvin Mack eventualmente roubando os minutos de desenvolvimento de Schroeder.

CHARLOTE BOBCATS (QUASE HORNETS DE VOLTA)
Para curtir:

Steve Clifford: será que dessa vez vai, MJ? O terceiro técnico em três temporadas tenta fazer da equipe uma entidade no mínimo decente, respeitável em quadra. Os irmãos Van Gundy apostam que sim.

Kembinha

Kemba Walker quer chegar lá

– A evolução de Kemba Walker, um baixinho briguento (no bom sentido, dãr), que não abaixa a cabeça para nada e, isolado em Charlotte, vai se juntando ao grupo de grandes armadores cestinhas da liga.

Josh McRoberts: ninguém dá muita bola para o “alemão”, mas o ala-pivô, uma vez cotado com um grande prospecto universitário e na liga, fez um belo final de temporada pelo Bobcats. Belo passador, dá um duro danado na quadra. Excelente sparring para acelerar a evolução de Cody Zeller.

Ramon Sessions, sem muita firula, estocando lances livres.

Para chiar:
Ben Gordon se comportando como se valesse os mais de US$ 50 milhões que embolsou em seu terrível contrato.

– O arremesso de Michael Kidd-Gilchrist. Um espetáculo de jogador em diversas maneiras, mas ainda aparentemente incapaz de converter um chute de média distância mesmo depois de ter passado as férias treinando a munheca ao lado de Mark Price.

– Bismack Biyombo não foi o novo Serge Ibaka, no fim.

MIAMI HEAT
Para curtir:

– A exuberância de LeBron James.  Até onde podem chegar seus talentos? Será que ele mantém o aproveitamento superior a 40% de três? Conseguiria chegar a 80% nos lances livres? Só restam miudezas para catar.

– Os chutes de Ray Allen da zona morta, até quando durarem. Feche os olhos, Gregg Popovich.

– Um retorno saudável, milagroso de Greg Oden.

– Os cortes sem bola de Chris Andersen para a cesta e sua próxima tatuagem.

– As declarações inteligentes e até demais de Shane Battier.

Udonis Haslem fazendo tudo direitinho em quadra, ainda aguentando o trancol

Para chiar:
– As 450 mil matérias que vão especular sobre o próximo destino de LeBron.

LeBron & Brown?

LeBron e Mike Brown juntos de novo? Mistério… E matérias

– As bravatas, a pose e o jeito de ser de Dwyane Wade.

– Os 6,8 rebotes por partida de Chris Bosh.

– Uma torcida apática e ignorante em geral, para a qual mais vale um gole de mojito do que um passe perfeito de James.

Michael Beasley desarmando LeBron James para poder cumprir suas metas de arremessos.

Rashard Lewis, nheco-nheco. Rashard Lewis, nheco-nheco.

Udonis Haslem mastigando seu protetor bucal.

ORLANDO MAGIC
Para curtir:

Victor Oladipo!!! O novato mais insano de caxias e workaholic a chegar na liga . em muito tempo, com suor e decolagens. Ele vai peitar, vai atazanar a vida de muita gente durante o ano e vai fazer da vida do torcedor viúvo de Howard um pouco mais fácil.

Tobias Harris e Maurice Harkless, no segundo ano na Flórida, tentando elevar seu jogo a um outro patamar, após campanhas promissoras em 2012-2013. Harris é um ala de muita força física, bom chute de média distância e ativo na defesa. Harkless é um atleta de primeiro nível, ainda aprendendo as nuanças, do jogo mas a passos largos. E, não, ele não gosta de ser chamado de “Mo”.

– Nikola Vucevic, um double-double surpreendente atrás do outro.

– Imaginar quem poderá se interessar em uma troca por Arron Afflalo desta vez.

Para chiar:
– A cara de tédio, enfado de Hidayet Turkoglu, seja aonde ele estiver.

Glen Davis devorando sanduíches e arremessos que eram para ser dos meninos.

– Andrew Nicholson se concentrando demais até em seus chutes de três pontos.

Jameer Nelson mastigando seu protetor bucal.

WASHINGTON WIZARDS
Para curtir:

John Wall zieguezagueando até a cesta.

Brad Beal querendo entrar na discussão sobre quem seria o melhor jogador do Draft do ano passado. Olho nele.

– Os passes de Nenê, a inteligência do brasileiro em quadra.

Marcin Gortat aliviando a pressão para cima de Maybyner Hilário e jogando por um contrato valioso no ano que vem, além de suas declarações cândidas, que ajudam qualquer jornalista.

Os poucos jogos em que Jan Vesely vai respirar fundo e aprontar das suas estripulias atléticas em quadra, sem constranger Randy Wittman.

– Os momentos em que você se pega pensando em por que diabos Kevin Seraphin ainda não se afirmou na NBA.

Para chiar:
– Os eventuais quilos de gelo usados para aliviar as dores de Nenê durante a temporada

Trevor Ariza apedrejando longe da cesta.

– Os momentos em que você se pega  sacando por que diabos Kevin Seraphin ainda não se afirmou na NBA.


Bulls vence, mas volta para Chicago tenso com Rose; Nenê recebe duras vaias
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Giancarlo Giampietro

Nenê e um sábado de vaias no Rio

As vaias a Nenê acabam roubando a cena em vitória do Bulls

O Corcovado, o Pão de Açúcar, as diversas praias, o humor e a hospitalidade dos cariocas e uma vitória. Cada membro da delegação do Chicago Bulls poderia estar retornando neste fim de semana para os Estados Unidos com a bagagem pesada, repleta de boas lembranças, celulares e computadores abarrotados de fotos sorridentes e de uma paisagem com a qual eles não estão nada habituados.

Mas, com o desfalque de Joakim Noah e, principalmente – e bota principalmente nisso –, Derrick Rose, Tom Thibodeau, diretoria e seu elenco só podem embarcar no avião um pouco preocupados, para não dizer assustados. Depois de duas partidas amistosas nos Estados Unidos e alguns eventos promocionais na Cidade Maravilhosa, seu armador e principal esperança foi vetado (de última hora?) para o confronto com o Washington Wizards, neste sábado, sentindo dores no joelho esquerdo.

A notícia começou a pipocar nos veículos de Chicago, deixando a galera por lá agitada. Nestes tempos em que a palavra e/ou a imagem correm o mundo em alta velocidade, quando oficial, a informação só pôde desanimar os fãs do clube hexacampeão que demoravam em chegar à Arena HSBC, presos no tráfego pesado. Fica a frustração, claro, de não poder ver uma aberração atlética dessas de perto, mas, a longo prazo, a tensão é muito maior.

Precaução em excesso? Dores normais para quem ficou tanto tempo parado? Será? Não teria Rose ficado fora de toda a temporada passada justamente para, na hora de retornar de uma ruptura no ligamento, não ter nenhum percalço? A diretoria e os médicos do clube vão ter muito o que explicar no desembarque em casa.

Sem o armador? Não há a menor chance de o Bulls competir por um título ou nem mesmo por uma das primeiras posições de uma Conferência Leste bem mais forte. Até porque dessa vez não há nem mesmo um tresloucado Nate Robinson como uma apólice de seguro para substitui-lo. Antes de falar de Marquis Teague, melhor esperar um diagnóstico mais preciso sobre o suposto titular.

Sobre Noah, os cuidados são bem menos preocupantes. Ele tem uma lesão na virilha, que cuida aos poucos. Provavelmente jogue na próxima partida de pré-temporada. De todo modo, um pecado para o torcedor que foi ao ginásio. Noah é também ao seu modo um atleta de qualidades impressionantes, com velocidade, energia e coordenação incomuns para alguém de sua altura.

No fim, no lugar deles, o público foi… Hã… Brindado com Kirk Hinrich e Nazr Mohammed. Nada contra eles. O armador é um exemplo de operário,d e gente que faz muito com pouco em quadra – na verdade, um jogador que serve como exemplo bem mais realista para qualquer basqueteiro do que um Rose. O outro já foi campeão pelo San Antonio Spurs e também se firmou na liga como um veterano de respeito, mais uma influência positiva no vestiário.

As vaias
Ao menos Nenê, que ainda não está na melhor forma, jogou.

Mas será que alguém no ginásio estava interessado em vê-lo ou admirá-lo?

O Wizards obviamente esperava que sim. Em seu primeiro ataque, quem foi acionado? Bola para ele, claro, numa jogadinha básica. O grandalhão, vaiado em seu discurso de agradecimento (vejam só), recebeu na zona morta pela direita, fez o giro e tentou um arremesso sem muita elevação, bem marcado por uma defesa que costuma contestar bolas muito mais criativas que essa.

Ainda está sem perna o paulista. Foi tirado de quadra rapidamente no primeiro quarto. Quando voltou para quadra, não conseguiu se destacar, limitado a cinco pontos e seis rebotes em 20 minutos, com uma cesta de quadra em seis tentativas.

Agora, para aqueles inclementes, fica um exercício de imaginação: se em 12 de outubro ele se apresentou desta forma, como seria seu desempenho, digamos, num dia 30 de agosto, quando a Copa América teve início? Talvez, um mês e meio atrás, Nenê pudesse fazer de Caio Torres realmente um pivô ágil, numa comparação direta..

Que coisa, hein? Que coisa deselegante, na verdade. Dá para entender que haja, para os mais rancorosos, a insatisfação com o constante pula-fora da seleção brasileira. O mesmo público que vaiou minutos depois iria aplaudir Oscar Schmidt, justamente a voz crítica ao pivô com mais reverberação midiática, para além das fronteiras do basquete. Havia também muitos torcedores vestidos de Bulls o torneio, que talvez vaiassem até mesmo Michael Jordan trajado de Wizard – mas não imagino que tenha sido clubismo a maior influência aqui.

É de se questionar se todos que o vaiaram sabem exatamente os motivos que levaram o são-carlense a tomar algumas decisões no decorrer de uma carreira longa e acidentada na NBA. Quando se ausentou e quando ele simplesmente estava fora de combate? Quem se lembra da cronologia completa?

O pior foi ver as vaias se repetirem durante o jogo, implacáveis, quando o atleta foi para a linha de lances livres. Leandrinho também recebeu das duas quando anunciado no ginásio. Lamentável – e não é uma exclusividade do basquete: Thomaz Bellucci, o número um do tênis, já foi achincalhado no Ginásio do Ibirapuera, a Seleção de futebol já foi banhada por bandeirinhas no Morumbi, e por aí vamos… É um esporte nacional, como disseram os companheiros do Draft Brasil.

Realmente lastimável, incluindo a participação do mesmo Oscar ao vivo na RedeTV. “O povo não esquece, o povo sabe tudo”, sentenciou o legendário ala, em entrevista. A questão não é a opinião em si, ter intolerância com quem pensa diferente. Só incomoda os modos, a educação. Ou melhor: a falta deles, na hora de se manifestar. Magic Paula? Durante a transmissão, muito mais sensata, sem se preocupar em julgar qualquer um a cada momento. Não surpreende, claro.

Sobre o jogo: vimos um Bulls mais bem preparado, sem se deixar abalar pela ausência de seus dois principais jogadores, vencendo por 83 a 81. Típico de Thibs. Não que a máquina esteja azeitadinha, como se fosse abril. Mas a continuidade do trabalho e a seriedade de seu treinador ajudam um bocado, não importando o mês. Os reservas do Wizards ainda endureceram o jogo, numa noite em que Eric Maynor foi melhor que John Wall.

Mas venceu o melhor programa. Não que eles se matarão de comemorar, sem ter Rose ao lado.

Na verdade, era para ter sido uma festa geral. Mas nem o anfitrião conseguiu ser celebrado.


Marketing rigoroso da NBA serve de exemplo antes de amistoso
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Giancarlo Giampietro

Wizards in Rio

Nenê e a rapaziada de Washington no Rio de Janeiro

A atração principal está marcada para o dia 12, sábado, 18h, na Arena HSBC, no Rio de Janeiro. Mas, até lá, a NBA deu, claro, um jeitinho de colocar os jogadores de Chicago Bulls e Washington Wizards mais próximos dos cariocas, com eventos que começaram nesta quinta-feira.

A liga abriu os portões do ginásio muito mais cedo do que o esperado para o dia do fã, com duração de cerca de 1h30, reunindo milhares de torcedores que estarão, ou não, presentes no amistoso. Houve disputas de três pontos, desafio de habilidades e chutes do meio da quadra, com os atletas das equipes envolvidos – Carlos Boozer, o pivô que nasceu em Aschaffenburg, na Alemanha, foi educado no Alaska e já ganhou mais de US$ 114 milhões em sua carreira. Estavam lá mascotes e cheerleaders também.

Mais tarde, em uma loja na Barra da Tijuca, Derrick Rose e Joakim Noah estavam escalados para uma sessão de autógrafos, com a companhia de Oscar Schmidt. Nesta sexta, outros cinco atletas do Bulls compareceram a uma sessão de fotos em shopping center. Agora de tarde, Oscar voltará à cena para acompanhar John Wall em um passeio no Corcovado, para ver a estátua do Cristo de perto.

Parece pouco? Só considere que os atletas desembarcaram na quarta-feira. Ainda foram treinar na quadra do Flamengo – estão em plena fase de pré-temporada, com os técnicos ansiosos por qualquer minutinho a mais em quadra para passar novos conceitos, entrosar reforços e colocar a turma em forma.

Muitos desses jogadores também certamente contam com alguns minutinhos livres para visitar pontos turísticos da cidade por conta – se o Bruce Springsteen foi curtir um rolê pelo bairro da Lapa, por que os atletas não topariam essa? Um punhado deles ao menos conseguiu ir ao Maracanã ver o Flamengo jogar.

Mas o marketing da NBA pode ser tão rigoroso quanto um treino de Tom Thibodeau, ciente do impacto que seu inédito evento no Brasil pode causar.  Para reforçar, ainda vão lançar uma campanha com comerciais de TV voltada especificamente para fãs internacionais, com o lema “One Game, One Love”, inaugurada em sua série de amistosos promovidos nesta pré-temporada, envolvendo oito cidades fora dos Estados Unidos.

(Não obstante, por conta própria, ambos os clubes e muitos de seus jogadores são presença constante em redes sociais, postando fotos in loco, dando um salve geral, num nível de aproximação com o público que poucas ligas conseguem emular.)

Há quem veja isso tudo como “coisa do capeta”, pensando que talvez o esporte pudesse sobreviver por conta própria, sem ações comerciais que lhe viabilizassem financeiramente. Em 2013? Sem chance.

Um jogo de pré-temporada entre quaisquer clubes pode ser divertido para um país que nunca viu esse tipo de atleta de perto. Inegável. Mas poder ver de perto as estratégias de ocupação da turma de David Stern é o que impressiona mais e fica de modelo.


Melhor na defesa, sofrendo no ataque, Scott Machado se vê em situação delicada no Warriors
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Giancarlo Giampietro

Scott na luta

Scott batalha, tenta finalizar contra o Mavericks: a quadra e o aro ficaram pequenos em Las Vegas

Armadores precisam fazer de seus companheiros melhores em quadra. Deixar o jogo mais fácil, simples para quem está ao seu redor.

Imagine quantas vezes Scott Machado, ele mesmo um armador purinho da silva, não ouviu esse mantra? Nos playgrounds no Queens, seja ao lado dos companheiros colegiais, desenvolvendo seu jogo na tímida universidade de Iona. É o dever, a missão dele em quadra.

“Sim, senhor.”

Mas e quando você não tem muito o que melhorar ao seu redor? E quando seus companheiros são ruins toda vida, como é que fica? Como no caso do Golden State Warriors de verão, uma dureza. Pelo menos do que assisti na primeira partida da equipe no torneio de Las Vegas, era um time bastante limitado, com pivôs pouco atléticos ou ágeis e uma falta de arremessadores no perímetro. Muitos passes do armador pareciam destinados a assistência, mas o aro acabava não permitindo, se é que vocês me entendem.

Neste triunfo contra o Washington Wizards, a equipe do brasileiro  deu um jeito e venceu por 56 a 52, o placar mais baixo na história das ligas de verão. De alguma forma, porém, esse time conseguiu elevar sua produção para triunfar nas próximas três partidas, anotando 80, 84 e 79 pontos, algo bem mais aceitável nesse tipo de competição (varzeana). Só não me perguntem como.

Scott Machado, no Warriors de verão

Scott tenta deixar a defesa para trás sem sucesso

E como a nova diretoria do Warriors, com uma perspicácia impressionante para montar seu elenco de cima, conseguiu juntar um plantel aparentemente tão frágil assim? Sabemos que seus scouts têm um retrospecto sólido para descobrir talentos – vide o tanto de gente boa que já recrutaram na D-League.

Acontece que, nas ligas de verão, nem sempre interessa a uma franquia juntar um time para ser campeão. Sucesso em julho não quer dizer nada comparando com a ação de verdade que começa em outubro. Em julho, mais vale observar e incentivar o progresso de alguns jogadores-chave, com quem realmente esperam contar  mais para a frente.

De modo que não parece absurda a ideia de que, num catadão de 10 ou 15 atletas , eles não estejam nada preocupados com a qualidade dos atletas periféricos, para exigir mais daqueles que julgam mais importantes em seus planos. Com o armador novato Nemanja Nedovic, que acabou afastado por conta de um tornozelo torcido, o ala Draymond Green, o ala-armador Kent Bazemore e – por que não? – Scott, contratado no finalzinho da temporada passada.

Sem muitos cestinhas talentosos ao seu redor, o armador seria obrigado a assumir mais responsabilidades ofensivas. Expandir o seu jogo.

Por um lado, os cartolas e treinadores do Warriors têm o que comemorar quando o assunto é o sobrenome Machado. Pois, na defesa, o rapaz tem se mostrado uma verdadeira peste, muito agressivo no combate individual, colocando pressão em demasia em cima da bola. Na estreia contra o Wizards, por exemplo, ele desestabilizou por completo um veterano como Sundiata Gaines, que ficou completamente frustrado em quadra e, na partida seguinte, perdeu seu posto de titular.

Acontece que, do outro lado da quadra, a história tem sido bem diferente. De maneira preocupante.

Nos primeiros quatro embates em Vegas, o brasileiro vem sofrendo consideravelmente. Pequeno, sem poder jogar muito em contra-ataques – a sua preferência, explorando sua velocidade –, tem enfrentado muita dificuldade para finalizar, encontrar a cesta. Seu chute de média e longa distância ainda não funciona bem e, sem muito espaçamento ma meia quadra,  acaba contestado com frequência perto da cesta. Até aqui, ele converteu apenas cinco arremessos 31 tentativas, num aproveitamento de 16,1%. Ai. E não é por falta de tentar: contra o Dallas, nesta quinta, foram sete erros em oito chutes, somando apenas três pontos. Sua média na semana é de 4,3 pontos por jogo. Certamente não era o tipo de rendimento que ele esperava.

Kent Bazemore, nome da fera

Bazemore: evolução clara em julho

Ao seu lado, no perímetro, Kent Bazemore vai se saindo muito bem, obrigado.

Bem mais alto e forte que Machado, o ala-armador consegue se virar melhor por conta própria. Enfrenta defesas concentradas com maior sucesso, registrando 18 pontos em média até aqui, com 45,8% de conversão nos arremessos. Também vem fazendo um bom trabalho quando assume a condução do time, como o armador solitário em quadra, num experimento claramente importante para a comissão técnica. Vem orquestrando surpreendentemente bem as ações no pick-and-roll – ainda que a maioria delas terminasse com ele mesmo partindo para a cesta, hehe – e, no geral, parece estar num degrau acima, jogando como alguém já consagrado.

Esse é um ótimo desenvolvimento para o clube, claro, mas não tão saudável para Scott.

Que se vê novamente numa enrascada, em sua luta sem parar para se afirmar como um jogador de NBA – em vez de um aspirante.

Stephen Curry é o titular indiscutível. Nedovic chega com um contrato garantido de primeira rodada no Draft deste ano e é muito mais rodado (jogou Euroliga…) e mais forte atlético – seu apelido pode ser um tanto patético, mas ficou conhecido como o “Derrick Rose europeu”, vejam só. Além disso, assim como na temporada passada, lá vem o Toney Douglas, seu velho conhecido de Houston, cruzar sua vida novamente. Já são, então três armadores (ou quase) aqui, geralmente o número que os times carregam em seu plantel. Bazemore, mais versátil e com prioridade entre os diretores – sendo cultivado há mais tempo pelo atual regime –, também está na frente e se encaixaria melhor na rotação, como possível reserva para Iguodala.

Neste sábado, o Warriors volta a quadra, e Scott tem mais uma chance para ver se endireita a munheca, sem poder deixar sua intensidade diminuir. Para sobreviver na liga, vai precisar dar tudo o que tem e mais um pouco. Principalmente esse “mais um pouco”.  E vai ter de ser sem ajuda, mesmo.


Jason Collins se assume gay e, após 12 anos, passa de coadjuvante a estrela na NBA
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Giancarlo Giampietro

Jason Collins, 34, acumulou em todo o campeonato 2012-2013 da NBA exatos 41 pontos, marca atingida ou superada por outros atletas em 22 ocasiões em apenas um jogo. No total, ele ficou apenas 38 minutos em quadra. Entrou na competição como jogador do Boston Celtics, clube que sonhava com o título, e terminou com o Washington Wizards, franquia que tem como hábito dar férias mais cedo aos seus atletas – leia-se, antes dos playoffs, em abril. Ainda assim, o pivô pode ter protagonizado a grande notícia da temporada nesta segunda-feira, ao se assumir homossexual em um artigo para a revista Sports Illustrated, que tem circulação mundial e é uma verdadeira instituição esportiva nos Estados Unidos.

Jason Collins, primeiro a assumir homessexualidade na NBA

Jason Collinas, nas bancas na sexta-feira

Só não foi capa (ainda) porque a revista teve de se desdobrar para realizar seu ensaio em primeira pessoa, optando por publicá-lo no site nesta segunda antes de colocá-lo nas bancas na próxima sexta – uma raridade em sua rotina. A repercussão foi imensa, claro. Para se ter uma ideia, Collins começou o dia com pouco menos de quatro mil seguidores no Twitter em mais de 400 dias como usuário. No momento de redação deste post, menos de 24 horas depois, já tinha 84 mil. Não é para menos: estamos falando do primeiro jogador em atividade tanto na NBA, como em todas as principais ligas de esportes coletivos norte-americanas a se revelar desta maneira.

Antes de fazê-lo, costurou o anúncio com o comissário David Stern e seu eventual sucessor, Adam Silver, e recebeu o sinal verde. Não que, a julgar por seu texto,  fosse mudar de ideia em caso de alguma negativa dos cartolas. “Cheguei a este estado invejável na vida em que eu posso fazer praticamente o que eu quero. E o que eu quero é continuar a jogar basquete. Eu ainda amo o jogo e eu ainda tenho algo a oferecer. Meus treinadores e companheiros de equipe reconhecem isso. Ao mesmo tempo, eu quero ser genuíno, autêntico e verdadeiro”, escreveu.

Curiosamente, na semana passada, quando questionado hipoteticamente, Stern afirmou que não esperava nenhum tipo de comoção se algum das centenas de atletas de sua liga se declarasse gay.  Na semana passada! “Isso deveria ser um não-problema neste país”, disse, no sentido de que os Estados Unidos já deveriam estar mais do que habituados com o tema. Em seu comunicado de segunda, foi um pouco mais além: “Como Adam Silver e eu dissemos a Jason, nós conhecemos a família Collins desde que Jason e Jarron entraram na NBA em 2001, e eles têm sido membros exemplares da família da NBA. Jason tem sido um jogador e um companheiro de equipe muito respeitado ao longo de sua carreira, e estamos orgulhosos que ele tenha assumido o manto da liderança sobre esta questão muito importante”.

Claro que rolou uma repercussão danada, dentro e fora da liga. Kobe Bryant, Steve Nash, Kevin Durant e muitos, mas muitos outros jogadores usaram a grande rede para manifestar apoio ao companheiro, falando em “orgulho”, “felicidade”, “respeito” e “admiração” pelo exemplo dado pelo veterano.  (Agora: quem teria a coragem de partir ao ataque, depois do aval público de Stern e de toda a corrente positiva que a declaração de Collins originou? Difícil.) Bill Clinton, Michelle Obama, Martina Navratilova, Andy Roddick, Barry Sanders, entre outras personalidades, seguiram essa linha.

Durante todo o dia, então, lá estava Jason Collins na ESPN, na CNN, na NBC, em todas as TVs, em todos os lugares, justo ele, que nunca foi estrela de nada – um cara sempre reconhecido muito mais como um dos “gêmeos Collins”, ao lado do irmão Jarron, do que como “astro da NBA”.

Jason Collins, que jogou com Nenê na temporada

Jason Collins, num rebote mais que fácil

Em quadra,  seu papel é realmente discreto. Com um jogo pouco chamativo e até bastante limitado em alguns quesitos, já levou diversos ‘especialistas’ e torcedores de Nets, Grizzlies, Wolves, Hawks, Celtics e, agora, Wizards a questionar se era francamente um jogador digno de fazer parte do melhor basquete do mundo.

Acontece que o pivô sempre fora muito mais valorizado por treinadores do que por qualquer outra classe. Não só por sua postura profissional exemplar, valorizada nos vestiários, mas também pelo sutil impacto que pode causar por meio dos pequenos detalhes de um jogo, muitas vezes captados apenas em métricas mais avançadas, em vez dos apanhados básicos de números como pontos, rebotes ou tocos.

Quer dizer, “sutil” talvez não funcione como um termo apropriado, uma vez que, para cumprir bem suas determinações em quadra, Collins já desceu a marreta em muita gente. “Eu odeio dizer isso, e eu não tenho orgulho disso, mas uma vez fiz uma falta tão dura em um jogador que ele teve que deixar a arena em uma maca”, referindo-se ao ala Tim Thomas, ex-Sixers, Bucks, Knicks, Suns.

Mas não fica nisso apenas, no ato de dar pancada. De nada valeria seu porte físico robusto, sua presença intimidadora, se ele não tivesse a inteligência para usá-los, sabendo exatamente o que precisa e como deve ser feito (corta-luz preciso, com ângulos variados, bloqueio para o rebote, cobertura defensiva, concentração etc.) – Dwight Howard que o diga, sempre teve dificuldade contra ele no mano a mano. Foi, assim, combinando cabeça e força bruta que ele conseguiu sustentar uma carreira de 12 anos na liga, a despeito de sua notória lentidão e de uma impulsão que pouco incomoda a equipe de manutenção dos aros dos belíssimos ginásios da liga.

São todas nuanças que hoje ficam realmente bem menores. Agora, nos livros históricos, “Jason Collins” passou de nota de rodapé a capítulo. Pelo menos até chegar o dia em que uma atitude como a dele, sem dúvida corajosa, não precise mais ser enxergada como um marco.

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Antes de Jason Collins, em tempos recentes, apenas o pivô John Amaechi, hoje comentarista, assumiu sua homossexualidade. Mas isso aconteceu bem depois de ele ter se afastado das quadras, em sua autobiografia. Além disso, sua carreira na NBA não foi das mais duradouras (foram cinco anos: 1995-96 e de 1999 a 2003). Seu melhor ano aconteceu em 1999-2000, pelo Orlando Magic, na campanha que revelou Doc Rivers como técnico. Com uma rotação frenética de jogadores, sem grandes estrelas (até então Ben Wallace era um desconhecido), a equipe batalhou demais por uma vaga nos playoffs, registrando campanha de 43 vitórias e 39 derrotas, mas terminou com a 9ª posição. Voluntarioso no ataque, Amaechi foi uma surpresa, registrando 10,5 pontos em apenas 21,1 minutos. Depois disso? Ladeira abaixo, defendendo o Utah Jazz como reserva de Karl Malone.

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Acreditem. É difícil encontrar um lance de destaque de Jascon Collins no YouTube, devido a sua extrema capacidade de ser discreto em quadra. Mas o jornalista Beckley Mason, do ESPN.com, teve uma ótima sacada diante desse impasse. Se ele não produz jogadas espetaculares, que se espetacularize o seu basquete feijão-com-arroz, mesmo. Com humor, vamos lá:

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Jarron Collins, que se graduou com Jason na prestigiada universidade de Stanford, teve ainda menos “sucesso” que o irmão em quadra: está sem clube desde 2011. Sua última sequência relevante, exagerand, aconteceu nos playoffs de 2010, como uma medida provisória do Phoenix Suns vice-campeão do Oeste.