Vinte Um

Arquivo : Stephen Curry

Warriors detona mais um favorito. Os números da vitória sobre o Spurs
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Giancarlo Giampietro

O duas vezes MVP Curry. Ponto

O duas vezes MVP Curry. Ponto

LeBron James e David Blatt foram dormir nesta segunda-feira com a cabeça um pouco mais leve. Afinal, o Cleveland Cavaliers agora tem a companhia do San Antonio Spurs na lista de times que são evidentemente candidatos ao título, mas que tomaram uma surra do Golden State Warriors que dá a impressão inevitável que, dentro desta lista, o time californiano está em um grupo só seu.

Foi um atropelo desde o tapinha inicial, culminando numa vitória por 30 pontos de diferença, 120 a 90. De qualquer forma, assim como valeu para o Cavs, o discurso é o mesmo para o Spurs: na maratona que é a temporada regular, este foi apenas um jogo, mesmo-que-fosse-um-jogo-altamente-chamativo-com-todo-mundo-olhando.

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Também não dá para comparar exatamente o que se passou com os texanos com a surra tomada por Cleveland, quando um time jogou fora de casa e estava sem um de seus principais jogadores. Pois é: Kawhi Leonard é sem dúvida nenhuma hoje o principal atleta do Spurs, mas Tim Duncan ainda faz muita diferença, especialmente para a sua defesa, não importando que não seja ele aquele a tentar parar Stephen Curry na linha central da quadra. O cara iria comer poeira em uma outra posse de bola, mas também iria fechar espaços ao lado de LaMarcus, inibindo infiltrações, enquanto, no ataque, seria um ponto de estabilidade, dando mais uma referência interna e, principalmente, ajudando a distribuir a bola a partir da cabeça do garrafão, algo que fez falta num jogo de 25 turnovers para seu time.

O resultado poderia ser diferente? Talvez. Mas, dada a disparidade que vimos nesta segunda, pode ser que a diferença aqui signifique apenas uns 10 ou 12 pontos a menos no placar, se tanto, já que os titulares do Warriors nem foram para a quadra no quarto final.

O San Antonio da depressão. Raro de se ver

O San Antonio da depressão. Raro de se ver

Enfim, depois de uma paulada destas, nem mesmo a tão alardeada coleta de informações e impressões de Gregg Popovich faz muito sentido. Vai anotar o quê? Que o oponente é 30% melhor que o time dele? Que o Spurs não teve chance nenhuma? “Foi como se fosse homens contra garotos. Eles nos derrrotaram em todos os aspectos do jogo”, disse Pop. E mais: está muito cedo na temporada para tirar conclusões sobre seu time ou o adversário. Mas a frase mais Popovichiana da noite teve um ataque corrosivo em direção ao Cleveland e David Griffin na verdade: “Só estou feliz que meu gerente geral não estivesse no vestiário. Eu poderia ser demitido”, disse, numa referência clara ao discurso de Griffin na coletiva para justificar a chocante expurgação de David Blatt.

Decorre que, independentemente da intensidade da surra, o efeito não será o mesmo para o Spurs, se comparado com os LeBrons. A questão é a experiência e estabilidade geral da franquia e de seu elenco. O ambiente e o contexto são outros. Dãr, claro que o cargo de Popovich não está ameaçado – e Pop, além de poupar Duncan, pouco lançou Kawhi em direção ao Chef Curry, algo que, num eventual duelo de playoff, quando a corta apertar, vai acontecer sem dúvida. No grande tabuleiro, San Antonio sabe que tem de correr atrás de seu oponente, mas também entende muito bem que não foi o fim do mundo, que eles ainda têm o melhor saldo de pontos da história da liga a essa altura do campeonato, com a melhor defesa da temporada, com folgas. Eles têm bons argumentos para sonhar com um sexto título na era Duncan, mesmo que este saldo e a mesma defesa tenham sido destroçados em sua última derrota.

O quão feia foi a derrota? A ver:

120 – Foi a maior quantia de pontos que o Spurs sofreu nesta temporada, depois dos 112 que tomaram de OKC em sua primeira partida na temporada, perdendo por seis pontos de diferença, também fora de casa. Só dois dos três melhores times do Oeste para chegar a este patamar, mesmo. No geral, a poderosa defesa texana só levou mais de 100 pontos em 7 das suas 45 partidas até aqui. Em termos de eficiência, essa defesa leva apenas 94,0 pontos por 100 posses de bola, 4,6 a menos do que o Boston Celtics. Se for para comparar, os mesmos 4,6 pontos separam o Celtics do Dallas Mavericks, que é o 13º no ranking.

88 – Desde o início da temporada passada, em sua jornada rumo ao título, o Golden State não perdeu nenhuma das 88 partidas em que abriu uma vantagem de 15 pontos no placar. Para eles, não tem essa de altos e baixos num jogo.

37 – Foi o quanto Steph Curry fez contra uma defesa historicamente forte, em apenas 20 arremessos e 28 minutos de ação, redefinindo o significado de eficiência e espetáculo ofensivo. Foi o máximo de pontos que um jogador marcou contra o Spurs nesta temporada. Russell Westbrook havia anotado 33 pontos na noite de estreia. Ryan Anderson chegou aos 30 pontos.

15 – Curry tem agora 15 partidas com mais de 35 pontos na atual campanha, o recorde da liga. James Harden tem ‘apenas’ nove, enquanto Boogie Cousins tem oito, contando os 56 que marcou contra o Charlotte Hornets no verdadeiro grande jogo da véspera, a derrota dolorida para o Charlotte Hornets em dupla prorrogação, em casa. 🙂

39 – Vindo da campanha passada, o Warriors agora soma 39 triunfos consecutivos como anfitrião.

33 – As primeiras seis derrotas que o Spurs havia sofrido na temporada haviam totalizado um déficit de 33 pontos.

30 – Esta foi apenas a sétima vez desde 1997, quando draftou Timothy Theodore Duncan, em que San Antonio perdeu por uma diferença dessas. Nesta temporada, a maior derrota que San Antonio havia sofrido até agora havia acontecido no dia 20 de novembro, em Nova Orleans, por 104 a 90. Menos que o dobro da desvantagem desta segunda-feira.

26,75 – O Golden State venceu seus últimos jogos por 107 pontos de vantagem, ou 26,75 por partida. Se o Indiana Pacers perdeu só por 12, Cavs, Bulls e Spurs foram humilhados. Em oito dias, os atuais campeões impuseram a essas equipes suas piores derrotas na temporada.

Leonard não causou tanto impacto. Mas pouco ficou com Curry

Leonard não causou tanto impacto. Mas pouco ficou com Curry

15 – Quando um dos Splash Brothers marca 15 pontos (ou mais) no primeiro quarto, os caras vencem. Já foram 12 triunfos neste campeonato nessas condições. Curry chegou ao seu 15º ponto a três segundos do fim da parcial, recebendo passe de Andre Iguodala. Parece um dado besta? Mas pense na confiança que o time não ganha quando as coisas começam desta maneira. Não só isso: do ponto de vista da tática, também fica mais fácil para o time como um todo, já que o adversário tem de se preocupar mais com um jogador em específico.

13,5 – O Spurs ainda sustenta, de qualquer forma, o melhor saldo de pontos da liga, contra 12,5 do Warriors. Nunca um time da NBA chegou a esta fase da temporada com uma conta dessas, e as estatísticas mostram que este é um dos tipos de números mais associados a equipes que almejam o título.

13 – Lembremos que o Spurs vinha de 13 triunfos consecutivos até desembarcar em Oakland.

3 – Foi a terceira vez nesta temporada em que Curry marcou 30 pontos em menos de 30 minutos. Ale acerto 12 de 20 arremessos, 6 em 9 de fora, além de todos os seus sete lances livres. Além disso, conseguiu cinco roubos de bola, vários deles no primeiro quarto, num abafa defensivo que desestabilizou o ataque dos visitantes. MVP x 2.

1 – Os jogadores do Warriors erraram apenas um arremesso em dez tentativas quando Kawhi Leonard era o defensor direto. Foi aproveitamento de 90%, impressionante. Por outro lado, foram apenas dez arremessos contra Leonard durante os 25 minutos em que temível ala esteve em quadra. Isso tem a ver com a péssima noite de Harrison Barnes, com quem ele iniciou a partida, mas também com o respeito que o melhor defensor da temporada passada pede.

PS: Número extraoficial, mas estima-se que 200 milhões de vines tenham sido produzidos desde a noite de segunda-feira:



Jukebox NBA 2015-16: “San Francisco”, para o campeão Warriors
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Giancarlo Giampietro

jukebox-curry-mckenzie

Vamos lá: a temporada da NBA se aproxima rapidamente, e o blog inicia sua série prévia sobre o que esperar das 30 franquias da liga. É provável que o pacote invada o calendário oficial de jogos, mas tudo bem, né? Afinal, já aconteceu no ano passado. Para este campeonato, me esbaldo com o YouTube para botar em prática uma ideia pouco original, mas que sempre acho divertida: misturar música e esporte, com uma canção servindo de trilha para cada clube. Tem hora em que apenas o título pode dizer algo. Há casos em que os assuntos parecem casar perfeitamente. A ver (e ouvir) no que dá. Não vai ter música de uma banda indie da Letônia, por mais que Kristaps Porzingis já mereça, mas também dificilmente vai rolar algo das paradas de sucesso atuais. Se é que essa parada existe ainda, com o perdão do linguajar e do trocadilho. Para mim, escrever escutando alguma coisa ao fundo costuma render um bocado. É o efeito completamente oposto ao da TV ligada. Então que essas diferentes vozes nos ajudem na empreitada, dando contribuição completamente inesperada ao contexto de uma equipe profissional de basquete:

A trilha: “San Francisco”, por Scott McKenzie.

Por quê? Hã… a ligação mais óbvia é a geográfica. Uma ponte de sete quilômetros de extensão liga Oakland a San Francisco. A proximidade à metrópole californiana, de certa forma, ofusca a atual sede, e o próprio nome da franquia entrega isso: estamos falando dos guerreiros do Golen State, e, não, de Oakland. Além disso, os proprietários do clube não escondem a intenção de levar o time de vez para lá, encaminhando a construção de mais uma dessas arenas ultramodernas, sonhando inclusive com a mudança já para 2017, ainda que uma estimativa mais conservadora valha para 2018.

Sim, tal como na primeira linha da letra do clássico de McKenzie, “eles estão indo para San Francisco”, e parece que não há seus torcedores possam fazer, mesmo que eles estejam entre os mais fanáticos da liga e que estejam enfim curtindo uma fase vencedora depois de duas décadas levando pancadas. O dinheiro é que está chamando aqui, e não pessoas gentis com flores no cabelo.  Mas há uma razão mais legal ainda para escolher esta música – e que, magina, não nada a ver com o fato de ser considerada uma das mais bonitas da história na opinião de um certo basqueteiro.

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O hit de 1967 vem numa época em que a região da baía estava fervendo e fritando miolos por assim dizer, com o boom de uma geração hipponga com aquela ânsia de se libertar de qualquer amarra, preconceito ou figura de autoridade que pudessem lhe enfezar. Ali, em São Francisco, temos uma das poucas metrópoles em que esse legado realmente perdurou, em que pese a ascensão high-tech do Vale do Silício.  Há 50 anos, a galera estava pensando em migrar para o Oeste, para a Baía em busca desse clima. “Por toda a nação (há) uma vibração estranha. As pessoas em movimento. Há toda uma geração com uma nova explicação”, canta o trovador todo paz-e-amor.

É que, se formos pensar no que se passa com a NBA hoje, existe também uma nova geração que ganhou no Warriors seu maior símbolo: vencer com o arremesso de três pontos sendo uma arma relevante, o jogo rápido e vistoso, mas sustentando uma das melhores defesas. Como Phil Jackson está de prova, esse movimento causa estranheza em muitos círculos da liga ainda. Mas a revolução festiva que o time apronta não se limita ao conceito tático. E, para fazer jus à vocação hipster, sua diretoria é pautada por mentes abertas, em diálogo constante e progressista, ouvindo um ícone da velha guarda como Jerry West ou um membro do estafe de Steve Kerr que nem 30 anos tem.

CLEVELAND, OH - JUNE 16: The Golden State Warriors celebrates with the Larry O'Brien NBA Championship Trophy after winning Game Six of the 2015 NBA Finals against the Cleveland Cavaliers at Quicken Loans Arena on June 16, 2015 in Cleveland, Ohio. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this photograph, user is consenting to the terms and conditions of Getty Images License Agreement. (Photo by Ezra Shaw/Getty Images)

Campeões

A pedida? O bicampeonato. É bem curioso até. O Golden State tem uma base jovem ainda. Em relação ao elenco que ganhou o primeiro título da franquia em 40 anos, pouco, ou quase nada foi alterado. Até mesmo a mudança mais significativa pode ser considerada uma melhoria para Steve Kerr, que nem precisava de reforços, uma vez que, com um plantel com tantos atletas versáteis, ele já tinha como alterar uma partida olhando apenas para o banco de reservas, sabendo bem como utilizá-las.

Não que Jason Thompson seja um jogador superior a David Lee. Mas, para o papel que pode caber ao ex-pivô do Sacramento Kings, com minutos esporádicos e pouco volume no ataque, o que ele tem a oferecer é mais valioso, como a boa defesa em situação de pick and roll e no fechamento de espaços no lado contrário. Também tem físico e impulsão para ajudar no rebote e provavelmente pode surgir como um concorrente para Mareese Speights, que é um arremessador de média distância mais qualificado. Além disso, para complementar o banco, estão dando uma chance a Ben Gordon, que seria mais um chutador emergencial, no caso de alguma lesão para Leandrinho ou os dois All-Stars titulares. Desde que o britânico, claro, entenda que seus dias de referência ofensiva já acabaram.

Jason Thompson, um cara de sorte. Saiu de Sacramento para isso

Jason Thompson, um cara de sorte. Saiu de Sacramento para isso

De resto, é a mesmíssima base vencedora, com todos os papéis na rotação pré-definidos. E isso, meus caros, vale muito. Ou por acaso vamos ignorar que, dentre tantos fatores que nos ajudam a entender o o duradouro sucesso do San Antonio Spurs, termos como “continuidade”, “química”, “cultura” apareciam constantemente no topo da lista? Depois de “Tim Duncan”, claro. Pois é. O raciocínio deve se aplicar da mesma forma aqui.

Agora, segundo a impressão dos jogadores do Warriors, não vem acontecendo. Eles não sentem que, entre insiders e jornalistas da liga, estejam recebendo o devido respeito.Veem todos falarem sobre Rockets, Clippers e, claro, o próprio Spurs, o que não deixa de ser irônico, já que o clube texano passou por uma de suas intertemporadas mais agitadas e com uma grande troca de jogadores, ao menos para o padrão da gestão Popovich e Buford.

E quer saber do que mais? No final das contas, isso só joga contra a concorrência de Chef Curry & Cia. Depois de um título, uma das grandes ameaças é justamente o relaxamento ou a temerosa “Doença do Mais” – aquele mal que Pat Riley, o Dr. PHD em Estruturas Vitoriosas, já registrou em seus estudos, em que a gana por maior reconhecimento, mais minutos, mais arremessos e badalação pode fazer ruir um time campeão. Com a percepção de que há desconfiança ou descrédito em torno de seu título, a turma de Steve Kerr tem mais motivos para fortalecer sua união. Há apenas o contrato de Harrison Barnes para se resolver.

Nesse ponto, a declaração de Doc Rivers de que o Golden State possa ter tido “sorte” no último campeonato pode ser o maior tiro pela culatra de sua gestão, superando Spencer Hawes e dependendo do que for acontecer com aquele tal de Lance Stephenson. Por que Rivers falaria uma bobagem dessas? O técnico e manda-chuva do Clippers pode até achar que seu rival de divisão foi sortudo de ter escapado de um confronto com sua equipe ou com o Spurs nos playffs. Mas, vem cá: por que exatamente o Clippers não estava na final de conferência para desafiá-los? Ah, por ter sofrido um dos maiores colapsos de que se tem notícia na história recente dos playoffs? Algo que teve a ver com o esgotamento de sua equipe, devido ao excesso de minutos da temporada regular já que seu banco de reservas era uma piada ambulante? Sei.

Stephen Curry certamente vai ser mais marcado neste ano. E vai adiantar de algo?

Stephen Curry certamente vai ser mais marcado neste ano. E vai adiantar de algo?

E, para seguir no campo da “sorte”, talvez seja tenha sido isso mesmo que aconteceu com os campeões, que, não por coincidência, foram aqueles que menos minutos perderam devido a lesões durante toda a competição. Ou, quiçá, o acaso tenha passado longe aqui, já que o Warriors tem uma comissão técnica, um estafe médico e uma diretoria irrequietos e em perfeita sintonia, sempre dispostos a adotar medidas pouco usuais no dia a dia da liga se elas puderem significar menor probabilidade de desgaste para seus atletas. Claro que lances de azar acontecem, como cotovelada violenta na disputa por um rebote ou uma torção de tornozelo. Agora, favor notar que, após ser visto como um atleta com as articulações de vidro, Curry perdeu um total de apenas dez partidas nas últimas três campanhas.

Em termos de problemas médicos, a grande questão em torno do clube fica por conta da saúde de Steve Kerr. Que coisa, hein? O treinador está afastado do time por tempo indeterminado para se reabilitar de duas cirurgias nas costas. Ele simplesmente rompeu um disco durante o Jogo 5 das finais. Ao retornar ao trabalho para o training camp, admitiu que suas férias foram basicamente infernais por conta disso. Técnico ganha jogo? Estamos prestes a conferir, ainda mais com a saída de Alvin Gentry para New Orleans. Quem fica responsável pela condução da equipe, por ora, tem pouca experiência no assunto. Luke Walton, senhoras e senhores! Está certo que o ex-ala do Lakers esteve envolvido com o basquete desde a época de fraldinha. Que era um jogador muito inteligente. Que ainda terá Ron Adams ao seu lado como grande ajuda. Que seu time não deve ter dificuldade para levar o sistema adiante. Mas não deixa de ser uma situação curiosa para se observar, dependendo de quanto tempo Kerr ficará longe. No Oeste competitivo, qualquer deslize pode significar a perda de mando de quadra lá na frente. E, para o timaço do Warriors, essa é preocupação legítima, ainda que no ramo hipotético.

A gestão: avançada. Bom, já citamos um ou outro ponto acima. A palavra final é do proprietário Joe Lacob, o martelo nunca vai ser batido sem que antes ocorra uma boa discussão, debatendo pontos contra, a favor, até se chegar a um consenso, ou algo perto disso. E, ao contrário do que 98% da internet acredita, isso faz bem e ajuda na condução dos negócios. O bacana aqui é ver a diversidade das vozes. Temos o ex-atleta que inspira até hoje o logo da NBA. Outro grande arremessador que ganhou cinco títulos em quadra. Um ex-agente. Um bilionário que era acionista minoritário do Boston Celtics. O filho do dono, mas que parece um pouco mais competente do que a média já vista na liga. Outro fez carreira no clube, começando como analista de vídeo até se tornar assistente do gerente geral. Diferentes origens, diferentes pontos de vista, expansão de conhecimento e bons resultados.

Quanto a Kerr, o certo era nem escrever muito a respeito. Pois não há o que se contestar em seu primeiro ano como técnico. Foi simplesmente um trabalho impecável. Ele venceu e, melhor sem perder o bom humor, sendo mais um caso de treinador que afasta a ideia de que é preciso ser rabugento para domar um time de craques milionários. Ainda assim, parece haver muitos que julgam que ele “só cumpriu com sua obrigação por ter um timaço em mãos”. É, pois é. Não me recordo de ver, em outubro de 2014, muita gente alçando o Golden State a candidato ao título, quanto menos prevendo que eles fariam uma das melhores campanhas da história. Também é difícil de entender como pode-se julgar normal que seu time tenha aliado o topo do ranking de eficiência defensiva com a segunda colocação da lista ofensiva (perdendo por 0,1 ponto para o Clippers e vindo do 12º lugar no campeonato anterior). Isso, claro, com o ritmo mais acelerado da paróquia. Uma aberração.

Leandrinho, o segundo título brasileiro

Leandrinho, o segundo título brasileiro

O brasileiro: Leandrinho. O reencontro com Kerr e com um time tão disposto a correr fez bem ao ala-armador, que fez sua melhor temporada desde o primeiro ano em Toronto (2010-11), estando três anos mais velho e se recuperando de uma cirurgia de ligamento cruzado no joelho. Kerr soube como tirar o melhor do ligeirinho. Controlou seus minutos e não pediu mais do que habitual explosão em direção ao garrafão, a arrancada no contra-ataque e o arremesso do lado contrário e ainda contou com sua energia positiva para animar o vestiário.  A recompensa foi um aumento de US$ 1 milhão no salário, valendo mais do que havia ganhado nas últimas temporadas. Seu papel não deve ser alterado nesta temporada.

Olho nele: Klay Thompson. O salto que Thompson deu em sua quarta temporada foi formidável, arcando com maiores responsabilidades ofensivas e respondendo com os melhores índices ofensivos, defensivos, de eficiência, de assistências e nos chutes de três pontos de sua carreira. Entrou no time das estrelas e não deve sair tão cedo. Vale observar se o ala, de 24 anos, será capaz de elevar novamente sua produção a um outro patamar, talvez se tornando uma ameaça ainda maior no drible, mesmo que seu percentual de turnovers já seja baixo o bastante.

card-ricky-barry-warriors-76Um card do passado: Rick Barry. O Warriors seu primeiro título em Oakland em 1975, liderado por um autêntico sniper em Barry, um dos maiores pontuadores que a NBA já viu, ao mesmo tempo que também era uma força criadora e, segundo consta, um dos jogadores mais detestáveis da história. Você abre o “Book of Basketball” de Bill Simmons e busca por citações da fera. Vai encontrar declarações resgatadas como essa de Billy Paultz: “Ao redor da liga, a opinião era de que ele era o jogador mais arrogante da história. Não conseguia acreditar. Metade dos jogadores não gostavam dele. A outra metade o odiava”.

Ainda assim, o cara era talentoso o bastante para compensar as coisas em quadra e carregar sua equipe. Em 1976, retornaram à final da Conferência Oeste e perderam o Jogo 7 para o Houston Rockets, uma equipe inferior, segundo Simmons. Barry se envolveu numa briga com Ricky Sobers, um ala bem mais forte. Nenhum dos seus companheiros intervieram a seu favor. No segundo tempo, o pai de Jon, Brent e Drew simplesmente deixou de arremessar, assim como Kobe Bryant fez um dia pelo Lakers em duelo com o Phoenix Suns, para perplexidade de Phil Jackson. Ambos foram derrotados. No Golden State deste ano, com a adoração que Stephen Curry desperta, é bem difícil que isso vá acontecer.


Campeão, Golden State é hoje o queridinho da NBA. Nem sempre foi assim
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Giancarlo Giampietro

CLEVELAND, OH - JUNE 16: The Golden State Warriors celebrates with the Larry O'Brien NBA Championship Trophy after winning Game Six of the 2015 NBA Finals against the Cleveland Cavaliers at Quicken Loans Arena on June 16, 2015 in Cleveland, Ohio. NOTE TO USER: User expressly acknowledges and agrees that, by downloading and or using this photograph, user is consenting to the terms and conditions of Getty Images License Agreement. (Photo by Ezra Shaw/Getty Images)

Eles estrelaram contra LeBron James as #NBAFinals de maior audiência nas transmissões da ABC. Stephen Curry foi alçado ao rol dos jogadores mais populares da liga. O estilo de jogo é vistoso, frenético, empolgante. Eles se tornaram os queridinhos da América, antes mesmo da conquista do título nesta terça-feira, com uma vitória por 105 a 97 sobre o Cleveland Cavaliers para fechar a série.

Não tem muito o que ser dito sobre este Jogo 6, em relação ao que se passou nos últimos duelos (comentários linkados logo abaixo). O Cavs fez o que podia com o que havia de disponível. David Blatt não conseguiu criar um fato novo na série – e sabe-se lá qual fato poderia ser esse, com um banco de reservas muito limitado devido aos desfalques de Kyrie, Love e Varejão e a surtada básica de JR Smith, dos profissionais milionários mais imaturos que a gente vai ver por aí. Não dava para esperar nada de Mike Miller, Shawn Marion ou Kendrick Perkins.

E não dava para pedir mais nada de seu grande craque, o ídolo local que ficou a uma assistência de mais um triple-double, com 32 pontos e 18 rebotes em 47 minutos. O camisa 23 terminou a série decisiva com 35,8 pontos, 13,3 rebotes, 8,8 assistências – é a primeira vez que um atleta lidera as finais nestes três quesitos –, em 45,8 minutos, mas com 39,8% nos arremessos de quadra. Amarga o quarto vice-campeonato em seis finais, mas não há absolutamente nada o que falar a respeito de seu desempenho desta vez. Está entre os maiores já.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs
>> Jogo 5: Curry merecia uma dessas, e o Warriors fica perto

A partir do quarto período da terceira partida, com uma arrancada que ameaçou aquela que seria a segunda vitória do Cleveland, os campeões do Oeste sobraram – mesmo que não tenham conseguido impor seu estilo seu ritmo. De modo que, agora, eles são também os campeões da liga como um todo, após 40 anos. Aclamados. Entre eles está Leandrinho, o segundo brasileiro campeão da liga, 12 anos depois de sua estreia. Com um papel limitado, mas jogando muito bem, importante na engrenagem de um grande time, que somou 83 vitórias e 20 derrotas em todo o campeonato.

Esse é o terceiro maior total de triunfos na história, atrás apenas do Bulls de 1996 e 97, e uma quantia que se explica pela combinação de ataque (o mais eficiente da temporada, num empate técnico com o Clippers) e também a melhor defesa, mesmo jogando no ritmo mais acelerado do campeonato. Uma combinação inédita, aliás, mas aplicada por um vencedor como Steve Kerr, em seu primeiro ano no cargo, para dominar uma Conferência Oeste inóspita.

>> Geração Nenê: reconhecimento com o 2º título
>>
40 anos de sofrimento: as trapalhadas do #GSW

A grande surpresa foi, confesso, a eleição de Andre Iguodala a MVP das finais. Não que não merecesse: teve o meu voto virtual. Acreditava, porém, que Stephen Curry levaria, pelo maior cartaz (e não seria um absurdo, digamos) – já que seria muito difícil entregar o troféu para o melhor em quadra, mesmo, uma vez que ele saiu de quadra derrotado. A candidatura do ala teve como plataforma principal a defesa que fez para cima de LeBron. Incrível sua resistência diante de uma força da natureza. O astro adversário acumulou números espetaculares, mas o fato é que, quando marcado diretamente pelo antigo sexto homem do Warriors, seu rendimento foi ínfimo.

Mas não fica só nisso: Iguodala foi o atleta mais consistente para Steve Kerr durante as seis partidas e também contribuiu no ataque, com 16,3 pontos, 4,0 assistências, 40% nos arremessos de longa distância e 52,1% no aproveitamento geral de quadra. Para não falar dos 5,8 rebotes, importantíssimos para facilitar a decisão do técnico de promovê-lo ao time titular no Jogo 4, no lugar de Bogut. Com ele em quadra, o Golden State teve saldo de 62 pontos em 222 minutos de ação. Nos 76 em que descansou, sua equipe saiu com placar negativo (-19).

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Ao contrário do que se passou com o Cavs, contudo, com sua total dependência de LeBron, o Golden State realmente venceu como conjunto. É nessa hora que vale a pena recuperar o histórico de alguns dos personagens. Quem são esses caras, afinal? E aí que se dá conta de que nem sempre foi assim. Nem sempre foram as figuras mais aplaudidas do pedaço. Muitos daqueles que hoje são celebrados já ouviram muitos “nãos” na carreira, a começar pelo MVP da temporada regular:

Stephen Curry: filho de um jogador de sólida carreira na NBA, mas o sobrenome não foi o bastante para que conseguisse bolsa em uma universidade mais prestigiosa. Fechou então com a modesta instituição de Davidson, que mandou, no total, apenas seis jogadores para a grande liga. Quatro deles se aposentaram antes dos anos 80. Era considerado muito frágil, baixo, lento para que se tornasse um profissional, quanto menos seu jogador mais valioso.

Klay Thompson: mais um caso de prospecto que tinha tudo para se profissionalizar com tranquilidade. Afinal, também tinha um pai com currículo significativo, sendo inclusive campeão pelo Lakers e número um em seu Draft. Quando colegial, nas partidas mais relevantes, ficava mais tempo no banco, vendo um tal de James Harden, antes da barba, brilhar em quadra. Foi ignorado pelas principais universidades da Califórnia e teve de buscar uma vaguinha em Washington State, que, ao menos, revelou 16 jogadores de elite. Também teve um incidente com a polícia em sua época de universitário, detido com posse de maconha. Não curto muito a patrulha contra atletas fora de quadra, mas obviamente que se trata de uma notícia que poderia ter atrapalhado o lançamento de sua carreira. Hoje, um All-Star e campeão mundial.

Leandrinho e Steve Kerr: o título não saiu pelo Phoenix Suns. Mas veio após 12 anos na liga

Leandrinho e Steve Kerr: o título não saiu pelo Phoenix Suns. Mas veio após 12 anos na liga

Leandrinho: sair do basquete brasileiro para brilhar na NBA parece, hoje, algo fácil, devido ao constante influxo de talento daqui para lá. Balela. É uma transição ainda muito difícil. Mais complicado ainda é se fixar por lá e vencer (muitos jogos) e ganhar (uma bolada e prêmios). Foi o caso do ligeirinho, estreante em 2003. O tempo passa, porém, e, já veterano, o ala-armador passou por provações talvez ainda mais desafiadoras que o Draft. Com uma cirurgia por lesão do ligamento cruzado anterior, teve de retomar sua carreira no Brasil, com ajuda do Pinheiros, até retornar aos Estados Unidos pela porta dos fundos. Nem o Golden State Warriors confiava plenamente em sua recuperação, diga-se, tendo lhe oferecido um contrato sem garantias. Daqueles em que o clube pode cortar o atleta até janeiro, sem obrigação de pagar todo o salário acordado. Pouco provável que tenha de esperar tanto por um emprego na temporada que vem.

Ao sair de quadra, Draymond Green fez questão de relembrar como muitos lhe disseram que ele não teria a menor chance na NBA

Ao sair de quadra, Draymond Green fez questão de relembrar como muitos lhe disseram que ele não teria a menor chance na NBA

Draymond Green: um ala-pivô de 2,01 m? E lento? Sem impulsão? Na NBA? Ah, conta outra. A revelação de Michigan State construiu um grande currículo na NCAA, tinha os números ao seu favor, mas seu perfil não agradava tanto assim a grande parte dos scouts. Foi selecionado, como um senior, aos 22 anos, apenas na 35ª colocação, atrás, pela ordem, de Jae Crowder, Bernard James, Tomas Satoransky, Jeffery Taylor, seu companheiro Festus Ezeli, Marquis Teague, Perry Jones… Enfim, entenderam, né? Até Fabrício Melo, o 22º, saiu antes. Está preparado para receber um contrato na casa de US$ 15 milhões anuais.

Andre Iguodala: ok, um jogador elogiado basicamente durante toda a sua carreira. Como ele mesmo disse ao receber o prêmio em quadra: já foi comparado a um jovem Scottie Pippen, um jovem Grant Hill, Penny Hardaway… Para tê-lo no elenco, o Golden State pagou duas escolhas de Draft. Acontece que, neste ano, ao se apresentar para o training camp, foi puxado de canto por Steve Kerr para ser informado de que viraria reserva. O técnico o enxergava como o sexto homem do time. Pode parecer bobagem, mas há muitos atletas que não tolerariam um comunicado desses e pediriam troca. (Oi, Dion Waiters). Iguodala admite que estranhou a ideia a princípio. Mas topou a causa e não abriu o bico em nenhum momento durante o campeonato. Acabou, por isso, fazendo história, ao ser o primeiro MVP das finais sem ter começado sequer uma partida da temporada regular como titular.

– Andrew Bogut e Shaun Livingston: mais dois casos de atletas prestigiados desde cedo. A dificuldade que a dupla teve de enfrentar teve a ver com questões física. Gravíssimas lesões, daquelas que ameaçam uma carreira. Especialmente no caso de Livingston, quando ainda era um promissor armador pelo Los Angeles Clippers, aos 21, em 2007, e arrebentou o joelho num dos lances mais assustadores que você vai achar no YouTube. Ficou um ano parado, em recuperação. Desde que voltou, defendeu sete times diferentes (incluindo o Cleveland) até chegar nesta temporada ao Golden State. A lesão mais séria de Bogut aconteceu em 2010, quando, após uma enterrada em Milwaukee, caiu em quadra com tudo, sofrendo deslocamento no cotovelo, fratura no braço e torção do pulso.


Steph Curry merecia uma dessas, e Warriors fica perto do título
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Giancarlo Giampietro

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Stephen Curry estava precisando de uma partida dessas. Para fazer justiça ao seu campeonato magnífico. Não que estivesse jogando mal. Nas últimas duas partidas, já havia feito algumas coisas memoráveis. Mas estava faltando uma atuação seminal, assim como foi toda a sua campanha. Nas palavras de Everaldo Marques… Bingo! Aconteceu neste domingo, e o Golden State Warriors agora está a uma vitória do título, tendo vencido o Cleveland Cavaliers por 104 a 91.

LeBron James conseguiu o segundo triple-double nestas #NBAFinals, mas foi privado da comemoração, diferentemente do que havia acontecido no Jogo 2, quando saiu de Oakland com o mando de quadra ao seu favor. Aquela foi mais uma exibição primorosa do astro, o melhor jogador desta série decisiva, sem dúvida. Até mesmo coadjuvantes como Matthew Dellavedova e Andre Iguodala já tiveram seus momentos definitivos. Numa série sensacional, com suas idas e vindas, faltava, então, uma exibição magnífica do MVP da temporada. E aí vieram os 37 pontos em 42 minutos, com sete bolas de três pontos em 13 tentativas.

Melhor: boa parte de sua produção desenrolada no quarto final, respondendo a mais uma tentativa de marcha de James e seus aguerridos cavaleiros. Curry marcou 17 pontos na última parcial (um recorde nos últimos 40 anos), com 5-7 nos arremessos em geral, 3-5 de longa distância e mais 4-4 lances livres. Algumas de suas cestas desafiaram qualquer lógica pré-estabelecida – cujos vídeos deveriam ser acompanhados por algum aviso do tipo: “Não tentem repetir isso em casa. Ou melhor, na sua quadra”.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena
>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova
>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase isso
>> Jogo 3: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos
>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas

>> Jogo 4: O (outro) jogo de equipe do #GSW contra limitado Cavs

Sim, corre-se esse risco. Assim como Kevin Garnett influenciou sabe-se lá quantos pirulões a expandir seu arsenal de fundamentos, neste exato momento milhares de baixotinhos estão assistindo ao astro do Warriors, congelando a imagem frame a frame, para tentar imitar seus movimentos, acreditando ser possível. Provavelmente um pirralho chegue perto no futuro. Igualá-lo? Impossível. Estamos vendo alguém único, que realmente quebra paradigmas em quadra com sua destreza nos arremessos a partir de um controle de bola belíssimo.

Curry joga, de certa forma, no limite. É o máximo de refinamento técnico que se tem por aí hoje, mas por vezes passa a impressão de que está flertando com a displicência. Contra uma defesa feroz, combativa como a do Cavs, a eficiência não foi a mesma da temporada regular ou dos playoffs. Seus números em pontos, assistências e aproveitamento nos arremessos caiu, enquanto o de turnovers decolou, com média de cinco por partida. A segunda partida beirou o desespero, por exemplo, com 18 arremessos errados em 23 tentativas e mais desperdícios de posse de bola (seis) do que assistências (cinco).

Dellavedova foi bastante elogiado por seu trabalho, e com razão. Matéria do Plain Dealer, todavia, indica que talvez os elogios tenham sido exagerados. Pelo visto do ponto de vista do astro do Warriors, que estaria pê da vida com a atenção dada ao seu marcador. “As pessoas mexeram com o Steph, o que é positivo para nós”, afirmou Andrew Bogut, hoje relegado a assistente técnico no banco, sobre a badalação em torno de seu compatriota. “É algo que você não gostaria de fazer, mas que para nós funcionou muito bem. O Delly é um grande defensor, mas sabemos que não vai anular Curry.”

Se foi essa sensação de desrespeito, se acabou o gás do adversário ou se simplesmente o cestinha do Warriors teve duas noites pouco inspiradas, a gente dificilmente será comunicado oficialmente a respeito. Fato é que demorou um pouco para que ele se encontrasse no duelo. Quando achou o rumo… Aí danou-se tudo. Depois de acertar apenas 4 de 21 disparos de fora, converteu 18 de 33 nas últimas três. Faz parte do pacote, e o torcedor do Golden State já está mais que acostumado – e maravilhado – com isso. Nas finais, o restante do público pode se entregar.

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Claro que uma diferença dessas não acontece ao acaso. Steve Kerr mudou o modo como explorar seus talentos, deixando quele retomasse alguns hábitos dos tempos de Mark Jackson com mais investidas individuais, uma vez que Dellavedova estava fazendo um excelente papel em lhe negar a bola a partir de trilhas do lado contrário. Outro fato é o simples cansaço de seus oponentes em geral. Algo difícil de quantificar, mas que é inegável e muito relevante.

Nos últimos três jogos, a equipe californiana venceu o quarto período por um placar agregado de 94 a 57. São 37 pontos de vantagem em 36 minutos. O Cavs faz um jogo duro por três parciais e despenca na última, cai por terra. Neste domingo, enquanto o Warriors marcou 19 pontos nos últimos cinco minutos, com 5-8 de quadra, os visitantes ficaram, respectivamente, com 7 e 2-10. Uma discrepância de rendimento que impediu mais um desfecho ao estilo thriller, como tivemos nas duas primeiras partidas em Oakland.

Mas foi um jogaço, de todo modo. Se, bem no início, o basquete apresentado era tenebroso, com direito a cinco turnovers e três airballs em pouco mais de quatro minutos de ação, depois o nível subiu consideravelmente. A emoção foi junto. Foram 20 trocas de líder no placar e 10 empates até o Warriors desgarrar nos últimos quatro minutos. Quando cronômetro ainda mostrava 4min52s, a vantagem dos anfitriões era de apenas um ponto, 85 a 84, depois de uma cesta de Tristan Thompson. Um pouco antes, a 7min47s, com uma bola de muito longe de LeBron, o Cavs chegou a liderar por 80 a 79. Mas o time não teria, então, condições de esfriar Curry, nem mesmo com as faltas intencionais para cima de Andre Iguodala.

Blatt e LeBron tentaram de tudo, aliás. Da parte do treinador, o ajuste maior foi a redução significativa dos minutos de Mozgov, que terminou com apenas nove – e zerado em pontuação, depois de fazer muito provavelmente a melhor partida de sua vida na quinta-feira. Houve momentos em que o superastro era o mais alto do time em quadra, acompanhado por James Jones, Iman Shumpert, JR Smith e Matthew Dellavedova. E, por um bom tempo, deu certo.

É o que dá ter um talento como o de LBJ no elenco. Mesmo em sua formação mais baixa, o Cavs era o time mais forte e físico por causa da mera presença de seu camisa 23, um jogador realmente transcendental, que se juntou a Magic Johnson no clube daqueles que foi armador e pivô num mesmo jogo pelas finais da NBA. A diferença: Magic fez isso em 1980, outra época, com jogo muito mais concentrado no garrafão, claro. (E foi campeão).

Mas, por favor, creio que não há nada que se possa atirar na direção do craque do Ohio, independentemente do que vai acontecer na próxima terça. Se vai ter empate, ou se a conta fecha em seis a favor do Warriors. Dessa vez ele saiu de quadra com 40 pontos, 14 rebotes e 11 assistências, sendo apenas o segundo jogador na história da liga a conseguir um triple-double com 40 pontos na série decisiva. O outro foi Jerry West, em 1969, pelo Los Angeles Lakers. Ironicamente o raro ano em que um jogador do time derrotado foi eleito o MVP do confronto – e ninguém do Boston Celtics estranhou. Não seria absurdo algum repetir esse feito agora com James.

Pois, de novo, não foi só uma questão de brilho estatístico, mesmo que ele tenha tido sua partida mais eficiente nos arremessos (15-34). O que engrandece mais seu desempenho é a dinâmica desses jogos, com o craque carregando o time enquanto pode. No primeiro tempo, das 17 cestas de quadra de Cleveland, 16 tiveram seu envolvimento direto ou indireto. No final, nos ataques em que LeBron não arremessou ou não deu um passe para chute, seus companheiros acertaram apenas 6 em 25 tentativas, com 1-11 nos três pontos.

Já Curry obviamente não fez as coisas sozinho. A disparidade de talento entre um plantel e o outro (desfalcado) é enorme. O Warriors conseguiu 67 pontos com jogadores que não atendem pelo nome de Stephen. Já os atletas de sobrenome diferente de James marcaram 51. Tristan Thompson foi o único parceiro que conseguiu produzir em alto nível neste Jogo 5, com 19 pontos e 10 rebotes. JR Smith deu sinal de vida no primeiro tempo, com 14 pontos, mas voltou a se atrapalhar no segundo. Iman Shumpert foi bem nos chutes da zona morta (3-6), mas tem sérias dificuldades para colocar a bola no chão e completar uma bandeja. As limitações de Dellavedova foram expostas. Já Mike Miller provou, nos surpreendentes 14 minutos que recebeu, que não sua presença neste tipo de jogo já não é mais justificável – se mexe pela quadra com as costas travadas e não dá conta de parar ninguém, sendo até inexplicável a o número reduzido de tentativas do Warriors para atacá-lo no um contra um.

Do outro lado, Andre Iguodala pode ter vivido um pesadelo nos lances livres, errando 9 de 11, mas jogou demais novamente, com 14 pontos, 8 rebotes e 7 assistências. Em termos de consistência e esforço, o ala é o melhor jogador do Warriors nas últimas duas semanas. Depois do que o Chef Curry fez, porém, dificilmente vai perder o prêmio de MVP das finais, a não ser que os eleitores quebrem o protocolo, indicando James.

Draymond Green foi outro que entregou de tudo um pouco a Steve Kerr, com 16 pontos, 9 rebotes e 6 assistências (ainda que se atrapalhando com a bola quando enfrentou jogadores mais baixos, cometendo quatro turnovers). Harrison Barnes atacou os rebotes como nunca, terminando com 10 no total e ainda se impôs atleticamente em alguns embates com James. Se Klay Thompson esteve bem abaixo da média, com 12 pontos em 14 arremessos, seu deslize permitiu a Leandrinho mais minutos, e o ala-armador respondeu muito bem, com sua melhor exibição na série: 13 pontos em 17 minutos, agressivo e novamente eficiente (4-5 nos arremessos, 4-4 nos lances livres). É de se imaginar que o brasileiro não vá ter problema algum para assinar seu próximo contrato:

Isto é, Steve Kerr tem mais alternativas com quem trabalhar. Dessa vez, ele usou até mesmo o pivô Festus Ezeli em alguns minutos estranhos de rotação para abrir o quarto final, enquanto Blatt tinha Mozgov em quadra. O técnico do Cavs foi novamente superior, mas seu raio de ação, porém, se encerra com as limitações da equipe. Kerr, porém, sempre vai ter o mérito de ter feito sua mudança drástica antes do Jogo 4 e também por lidar da melhor forma com os jogos incríveis de LeBron. “Ele tem a bola em mãos por muito tempo. Nós temos de continuar com nosso plano e não esmorecer se ele acertar seus arremessos. Ele vai, não tem jeito”, diz Curry, sobre seu concorrente, meio que repetindo um mantra desde o Jogo 1. “Mas, no decorrer de 48 minutos, esperamos desgastá-lo e deixar as coisas muito difíceis para ele.”

É o que tem acontecido. LeBron vem produzindo, mas corre o risco de, com o distanciamento histórico, ver suas exibições relevadas. O craque sabe como as coisas funcionam, após ter conquistado dois títulos e enfrentou muitas decepções. Curry também está ciente a respeito. Por isso, não vai se gabar de um outro lance que tira do sério até mesmo os jogadores que estão na plateia. Como quando passou a descadeirar um australiano já sem se incomodar com a pegada do australiano, entendendo como responder ao desafio. Continua com os lances de efeito, mas com os olhos para a cesta, para o título. O espetáculo que aconteça de maneira inerente. “Foram alguns momentos legais, mas eles só vão significar alguma coisa se formos campeões. Provavelmente terei uma resposta melhor para essa pergunta depois de vencermos o campeonato”, afirmou o armador do Warriors, torcendo para que isso aconteça o quanto antes. “Momentos definitivos só acontecem para os jogadores que estão segurando o troféu.”


Cavs entrou de all in. Mas o Warrios tinha muito mais fichas para gastar
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Giancarlo Giampietro

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais

No pôquer, all in quer dizer algo como “tudo ou nada”. É quando o jogador pega as fichas que tem e empurra tudo para o meio da mesa. Ou rouba o monte, ou já era. O mestre do carteado pode até oferecer uma explicação mais rica, mas a essência é essa. O Cleveland Cavaliers pegou o termo emprestado e o usou como um trocadilho ao elegê-lo como lema para os playoffs. Virou algo como: “Todos juntos nessa, vamos lá, dando tudo”.

Pois, nesta quinta-feira, o Cavs até que tentou lutar no segundo tempo, mas não conseguiu impedir que o Golden State Warriors vencesse por 103 a 82 para igualar as #NBAFinals em 2 a 2, voltando para casa agora para fazer valer seu mando de quadra no próximo domingo. Steve Kerr estava em pressionado demais nesse, mas conseguiu se desvencilhar com um movimento bastante agressivo, corajoso, e, ao mesmo tempo, talvez o único que lhe restasse para tentar virar o tabuleiro, praticamente abolindo a escalação de um pivô tradicional, o famoso cincão, no seu time.

E, aproveitando o slogan do Cavs, a pergunta que fica depois do que vimos no quarto período deste Jogo 4 é a seguinte: será que o time já deu tudo o que tinha, mesmo? O que vimos foi um time sem energia alguma para tentar completar o serviço. Eles até chegaram a encostar no placar no terceiro período, diminuindo a vantagem aberta pelos visitantes para três pontos, ou uma posse de bola. Mas não conseguiram ir além, a despeito de todo o apoio de sua torcida. Acabou o gás em quadra.

A série
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E daí recuperamos um argumento construído lá atrás, no primeiro jogo da série, há coisa de uma semana: a estratégia do Golden State de ‘deixar’ LeBron atacar era de curto prazo – e longo também. Algo pensado para vencer em 48 minutos, mas cujos efeitos deveriam surtir mais com o acúmulo de partidas. Bingo, narra o Everaldo. Essa é a diferença dos playoffs, minha gente. Steve Kerr e seus assistentes e jogadores certamente tiveram de respirar fundo para não perder isso de vista até que colhessem os resultados neste quarto embate, que, para eles, na verdade, tinha um status praticamente de sétimo e derradeiro. Tivesse Cleveland aberto 3 a 1, já dava para entregar a taça ao Rei de Ohio.

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

Warriors, saltitante. LBJ: no chão

O Cavs se colocou nessa posição com muito esforço na defesa, com um espírito de luta impressionante.  Acontece que os mesmos desfalques que lhe empurraram meio que involuntariamente nessa direção extremamente agressiva na defesa agora fazem diferença de outra forma. David Blatt encontrou um modo de combater o Warriors. Mas um modo muito desgastante e sem muitos recursos no banco para variar a abordagem. Um Anderson Varejão faria uma diferença absurda agora. Kyrie Irving e Kevin Love, então? Nem se fala.

Kerr e seus atletas obviamente perceberam o que aconteceu em quadra. Se, no terceiro período, estavam suando frio perante a arrancada dos anfitriões, no quarto final viram Mike Miller , Kendrick Perkins e o calouro Joe Harris irem para a quadra, o que significava que, naquela rodada, a probabilidade de vitória já era zero. E o Golden State, por outro lado, lançava para um pivô pontuador como Marreese Speights pela primeira vez ap jogo, como que avisando: vejam só o que temos por aqui ainda.

Pivô, aliás, foi a posição decisiva para o jogo, de um modo diferente, devido a sua ausência no time californiano. Quando Kerr tirou Andrew Bogut do quinteto titular, talvez poucos pudessem imaginar que o treinador, na real, estava realmente disposto a excluir o australiano de sua rotação. Se formos avaliar o desempenho do gigantão até aqui, era algo justificável: no ataque, faz tempo que ele joga como um peso morto, mesmo. Na defesa, então, seu rendimento caiu de modo alarmante, sendo feito de gato e sapato por Timofey Mozgov e Tristan Thompson, sem físico para afastá-los da tábua ofensiva ou para oferecer uma consistente cobertura temerária para LeBron. Então não havia muito, mesmo, o que fazer com ele. Acontece que não foi só Bogut a sair de cena: se o antigo titular jogou três minutinhos desastrados (foi o nono homem da rotação, cometeu três faltas grotescas no final do primeiro tempo e nunca mais foi chamado), Festus Ezeli nem pôde tirar o agasalho. A figura do xerifão estava abolida. No lugar dela, mais um atleta em quadra, uma figura flexível, ágil, veloz para tentar acelerar as coisas pelo Warriors e mudar o ritmo das finais, até então todo favorável ao Cleveland.

E aí que, nos primeiros instantes, parecia um desastre. Os donos da casa abriram 7 a 0 e já forçaram um pedido de tempo. A intervenção serviu para acalmar as coisas um pouquinho que fosse no ginásio, mas também valeu para reforçar a mensagem que era aquele o plano tático a ser seguido, mesmo. E o primeiro quarto terminaria com uma vantagem de 31 a 24 para o Golden State. Pela segunda parcial seguida eles passariam dos 30 pontos. Um ótimo sinal: as coisas estavam no caminho certo.

Foi uma decisão que muitos podem julgar aparentemente óbvia por parte de Kerr, mas que não pode ser subestimada. Se os seus homens mais pesados não estavam dando conta no tranco, por que ficar com eles? Agora, se você tem um time que já venceu mais de 80 partidas na temporada, por que abrir mão da fórmula? Depois de duas derrota em três jogos e muito sofrimento, todavia, Kerr percebeu que era a hora de tentar algo novo. Se o Cavs estava levando a melhor nos rebotes e no jogo interno, que ele procurasse uma alternativa drástica a respeito: abaixou a estatura de seu time a apostou em mobilidade. Levou o embate tático – e físico – ao extremo.

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Ah, mas nos anos 60, 70 e 80 a NBA era muito mais dura: sarrafo, pancada, porrada… Pode usar o termo que for para designar violência. É um fato. Na liga de hoje, no entanto, existem outros meios de se estender um rival na lona: zigue-zagueando pela quadra. Correndo, se deslocando, desgastando, como um pugilista arisco. Com Andre Iguodala promovido ao time titular ao lado de Harrison Barnes e Draymond Green, em vez de uma substituição simples* por Barnes, o Warriors abriu a quadra e forçou que seu adversário se cansasse ainda mais. Havia mais chão para se percorrer, para contestar. (*Nem tão simples assim, uma vez que Iggy não foi titular um vez sequer durante todo o campeonato.)

Por mais que, de início, Green, Barnes e Iguodala hesitassem de primeira, diante de um arremesso já livre, a movimentação de bola que realizaram acabou sendo ainda mais tortuosa para seus oponentes. Mais até que os 40% que a equipe converteu no final, com 12 conversões em 30 tentativas de longa distância. Mais um passe equivale a mais um pique para um time que já havia enviado, na partida anterior, um de seus principais defensores ao hospital. Matthew Dellavedova, vocês sabem, precisou tomar uma injeção há dois dias e se recuperou de desidratação grave na véspera. Não dá para questionar a garra do armador australiano. Mas isso tudo tem limite. Se as pernas não vão, não tem coração que caminhe sozinho.

Delly, o novo braço direito do Rei, ficou em quadra por 33 minutos e tentou lutar até quando podia. Incomodou Steph Curry novamente. Mas o MVP saiu de quadra com 22 pontos em 41 minutos, convertendo 8-17 nos arremessos de quadra e 4-7 de longa distância. Não foi uma atuação brilhante, mas seu time nem precisou disso. Pela primeira vez, o Warriors pôde se impor como coletivo também, com outros três atletas pontuando na casa de dois dígitos e mais dois com nove pontos.

Sim, movimentação de bola não causa apenas uma canseira. Também gera bons arremessos contra uma defesa que não teve mais a mesma velocidade de reação e combatividade. John Schuhmann, o analista estatístico do NBA.com, filtrou o seguinte dado: nesta série, quando a equipe californiana consegue trocar três ou mais passes, converte seus 46,6% dos seus arremessos. Com dois passes ou menos, despenca para 37,6%. Se for para computar apenas os chutes de longe, a desproporção fica de 38,9% para 25,9%.

Nesta quinta, a formação baixa e “total” (com cinco atletas em quadra que poderiam driblar, passar e se deslocar por todo o perímetro) abriu caminho para que a galera contribuísse. Foi o melhor jogo na série para Draymond Green, David Lee novamente produziu bem saindo do banco, Harrison Barnes tomou chacoalhadas de Tristan Thompson nos rebotes, mas ressurgiu nos arremessos e Andre Iguodala desafiou a lógica dos números e fezmais uma grande partida e para se estabelecer como o melhor jogador da série para os campeões do Oeste (22 pontos, 8 rebotes, 4 bolas de três pontos e defesa implacável para cima de LeBron em 39 minutos).

Essa é a vantagem a favor de Kerr. Se o treinador “novato” (coff, coff!) soube dosar sua rotação durante toda a temporada, é para que seus principais atletas tivessem fôlego nesses momentos decisivos. Então não havia por que limitar Iguodala ou os Splash Brothers. Agora é para gastar tudo o que tiver. E o Warriors tem muito mais o que explorar contra um Cleveland que depende horrores de LeBron James. Timofey Mozgov cumpriu o seu papel no confronto com os “tampinhas” rivais, com 28 pontos, 10 rebotes, 10 lances livres convertidos e 56,25% no aproveitamento de quadra. Tristan Thompson pegou carona com o russo e ratificou o domínio na tábua ofensiva. Foram 16 coletas no ataque contra para seu time e cinco a mais no geral. Nada disso adiantou num contexto em que o superastro foi, enfim, controlado.

O ala dessa vez terminou com apenas 20 pontos, 12 rebotes e 8 assistências. Apenas (tsc, tsc). Qualquer observador que beire o neutro ou o sensato – leia-se: qualquer um que não seja um radical ativista pró-Michael Jordan ou Kobe Bryant – vai perceber que o astro simplesmente não tinha forças mais para se impor em quadra. A carga pesou, e não teve nada a ver com emocional. Mesmo o bom tempo que teve para descansar entre o terceiro período e o quarto (intervalo + pedido de tempo de Blatt + 1hmin48s de bola em jogo) foi insuficiente para reabilitá-lo. LeBron não foi nem sombra de uma figura decisiva quando saiu do banco, enfrentando ainda mais dobras do que havia ocorrido nas três primeiras partidas. Errou cinco lances livres em 10, cometeu cinco faltas e não atacou o aro com a voracidade esperada. Nem mesmo quando tinha Curry como marcador.

All in. O Cavs deu tudo o que tinha, mesmo? A cavalaria está fora. Em termos de jogadores, não há muito o que se fazer – e aí que a presença de Mike Miller, Shawn Marion e Kendrick Perkins no banco de reservas não ajuda muito. Veteranos, campeões, líderes. Sim, e improdutivos. Com eles, não há fato novo, a não ser que Miller consiga acertar tantas bombas de três para compensar sua inépcia defensiva. Não quer dizer que acabou, que não há o que se fazer. Pode estender os minutos de um James Jones, reduzir os de JR Smith etc. Mas os nomes são estes que estamos vendo.

Blatt já expôs todas as suas cartas e muito provavelmente terá de seguir com elas até o fim, com a esperança de que os três dias de descanso (mas com uma longa viagem no meio) sejam o suficiente para recuperar o mínimo de energia e tentar mais uma vez um resultado dificílimo: sair da Oracle Arena com a vitória no domingo. Estão todos juntos nessa, mas agora com um oponente  ainda abarrotado de fichas – e revigorado – para derrubar.


Cavs vence o Jogo 3 e vira, dominando Golden State. Ou quase
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Giancarlo Giampietro

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

LeBron: médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8 assistências em três jogos. Reinando

O Cleveland Cavaliers vai batendo recordes e recordes com sua defesa para cima do Golden State Warriors. Depois de se tornar o primeiro time a segurar o adversário com menos de 90 pontos em 48 minutos nesta temporada, o Cavs agora o limitou a 37 pontos no primeiro tempo, sua pior marca durante os playoffs – e uma quantia que a equipe havia marcado em um só quarto 18 vezes em sua campanha, para termos uma ideia.

Há muito mais números para acrescentar aqui, como, por exemplo, o rendimento do Warriors nos arremessos de três pontos, tão caros ao seu sistema ofensivo. Na temporada regular, o time converteu 39,8% de seus chutes de longa distância. Nos playoffs da Conferência Oeste, a marca foi de 38%. Nas finais, estamos falando de apenas 31,3%, número baixo para qualquer medida, especialmente para os Splash Brothers.

Sinceramente, nem precisa apelar a qualquer número para afirmar que o Cavs tem sido o time superior nestes primeiros três jogos, vencendo o terceiro por 96 a 91 para assumir o comando da série. O que não quer dizer que as coisas já estejam resolvidas. Nem mesmo com mais este dado: até o momento, a única parcial que teve o Warriors acima no placar foi a prorrogação do primeiro duelo. De lá para cá, ou deu Cleveland, ou deu empate.

A série
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>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova

Os LeBrons se tornam os favoritos ao título pelo fato de terem assumido o controle tático da decisão –  por precisarem, agora, de uma vitória a menos que seus oponentes para levar o título. De qualquer forma, ainda que dominando estrategicamente, o time permitiu que os campeões do Oeste reagissem mais uma vez no quarto período, numa demonstração do grau de periculosidade de seu oponente.

O Warriors tirou 14 pontos de vantagem em menos de seis minutos e meio na parcial, chegando a perder por três 79 a 76 a 5mi49s do fim. Depois, ainda encostou em 81 a 80 a 2min45s, até que Matthew Dellavedova se superasse novamente numa jogada de cesta-e-falta inacreditável para dar uma boa folga no marcador. Nesta reação, ressurgiu também Stephen Curry, que anotou 17 de seus 27 pontos no quarto período, ou 9 pontos em 1min23s.

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Esse foi o melhor sinal que o técnico Steve Kerr poderia tirar do Jogo 3, ainda que, com sua experiência, tenha visto muito o que corrigir, esteja falando apenas de sua estrela, ou não. “Não gostei de nossa linguagem corporal em alguns momentos. Temos de ter energia, ter mais vida em quadra, tanto no momento em que os arremessos estão caindo, como também quando o chute não cai”, disse o treinador.

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

O tipo de postura que o MVP Curry não pode ter. Será que o 4º período o anima?

De fato a postura cabisbaixa de Steph Curry durante boa parte do jogo era algo que intrigava bastante. O armador parecia chutar pedrinhas em casa a cada ataque desperdiçado, até despertar no quarto final, escoltado por Leandrinho (4 pontos em 11 minutos, mas com muita intensidade na defesa e abrindo a quadra no ataque, com saldo +11) e David Lee (11 pontos, 4 rebotes, 2 assistências, 100% nos arremessos e saldo de +17 em 13 minutos). A próxima lição é parar de enfeitar com a bola em momentos de pressão – se ajudou o Golden State a se aproximar no jogo, também deu um jeito de complicar a tentativa de virada cometendo três turnovers nos últimos dois minutos, com direito a passe por trás das costas no perímetro, sem direção.

Não é jogando “bonitinho” que ele e seus companheiros vão superar uma defesa duríssima como a do Cleveland, que tem contestado sem parar os Splash Brothers e limitando as linhas de passe – um trabalho de Blatt que merece mais detalhes em um outro texto antes do Jogo 4. “Se conseguirmos recuperar nosso ataque, o que vai acontecer, vamos vencer esta série”, afirmou Klay Thompson, cheio de confiança. Cestinha do Warriors no Jogo 2, o ala dessa vez marcou apenas 14 pontos em 16 arremessos e 39 minutos.

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

A jogada para cesta e falta em cima de Dellavedova, importantíssima, quando Curry havia deixado o Warriors a apenas um ponto no placar

É bom que Thompson manifeste confiança, ainda mais depois da arrancada de Curry no quarto final, parcial na qual sua equipe conseguiu marcar 36 pontos – apenas um a menos que em todo o primeiro tempo. Depois de três jogos, seria um primeiro sinal de que a defesa do Cleveland possa arrefecer, com uma rotação enxuta e desgastante carga de minutos, depois das lesões de Kevin Love e Tristan Thompson? Talvez. Mas talvez não dê mais para o Golden State, atrás no placar geral da série,  apenas esperar que uma hora a bola caia. No geral, em três partidas, eles acertaram apenas 41,4% dos chutes de quadra. Mas a chave é essa, mesmo: arrumar o ataque.

Do outro lado, estão fazendo o que dá contra LeBron James. O craque 23 tem médias de 41 pontos, 12 rebotes e 8,3 assistências em 47,3 minutos, um patamar de produção que, desconfio, você não vai encontrar jamais. Só Wilt Chamberlain, talvez. Por outro lado, o ala tem sido obrigado a tentar mais de 35 arremessos por partida, com aproveitamento baixo de 40,2%, compensados de certo modo pelos mais de 10 lances livres por confronto, com 75% de acerto. Está claro, a essa altura, que Andre Iguodala consegue incomodar muito mais o astro do que Harrison Barnes, e o mais prudente talvez seja aumentar os minutos do sexto homem.

De resto, Kerr viu seus atletas enfim reduzirem as oportunidades de rebote ofensivo do Cavs (foram apenas seis dessa vez), bloqueando Timofey Mozgov com mais minutos para Festus Ezeli do que para um exaurido Andrew Bogut. Com as costas aparentemente travadas, Draymond Green não conseguiu lidar com Tristan Thompson, porém (10 pontos e 13 rebotes). A produção ofensiva do canadense, no entanto, foi atípica. Assim como a do Oscar-de-Melhor-Ator-Coadjuvante Dellavedova, que não cansa de aprontar, saindo de quadra dessa vez com 20 pontos, muitos tapinhas no ombro. Mas que cansa no sentido literal do esporte, mesmo, sofrendo com câimbras uma hora depois do final da partida, ficando impossibilitado de conversar com os jornalistas. Segundo o clube, teve até mesmo de tomar medicação intravenosa para amenizar as dores, num hospital da cidade.

O Warriors já se viu contra a parede uma vez nestes playoffs, na semifinal contra o Memphis Grizzlies, contra quem também perderam em casa e a primeira partida fora. Agora, no entanto, eles precisam passar por uma muralha beeeem mais larga, que até agora tem impedido que os darlings da liga americana se sentissem verdadeiramente confortáveis em quadra por mais de quatro ou cinco minuto. Com a diferença de que seu atual oponente pode explorar ao máximo os talentos de um outro grande camisa 23 no ataque, seguindo uma receita bem simples e, ao mesmo tempo, difícil de derrubar. Mas o fato é que a margem de manobra do Cavs ainda tem sido bastante apertada. David Blatt está vencendo o jogo de xadrez, mas com poucas peças no tabuleiro – dependendo, se já não bastasse, de uma ressonância magnética no ombro esquerdo de Iman Shumpert. Resta saber se Steve Kerr vai conseguir reagir nessa situação e dar um xeque na próxima quinta-feira.


Tenso, brigado… Foi um jogo para Dellavedova, e, não, para Curry
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Giancarlo Giampietro

Dellavedova brilha de novo. Os inimigos do Leste choram

Dellavedova brilha de novo. Os inimigos do Leste choram

Pode aparecer oportunismo dizer isto, mas o Jogo 2 destas #NBAFinals estava muito mais para um Matthew Dellavedova do que para um Stephen Curry – ou, pelo menos, para esta versão de Steph Curry. Foi uma partida de contato físico, afeito ao aguerrido australiano que, mais uma vez, se ralou em uma série de lances decisivos e ajudou o Cleveland Cavaliers a empatar a série em 1 a 1, com mais uma prorrogação.

Bola perdida no garrafão em meio a gigantes? Lá estava o Dellavedova nela, alerta, para depois se estirar em quadra. LeBron é barrado no baile, e o chute de James Jones não caiu? Sem problema: sem impulsão nenhuma, com 1,93 m (oficial), o armador vai para o rebote ofensivo e, no mesmo movimento, cava a falta. Vai para o lance livre e converte os dois, sem pestanejar. E por aí vai. Nos lances mais preciosos, de 50/50, o “Delly” fez sua presença se notar e, nem que por alguns instantes que fossem, afastou da cabeça do torturado torcedor do Cavs a memória de que Kyrie Irving já não vai mais participar desta série. Irving, cujo talento no ataque ele jamais vai poder substituir, mas cuja ausência pode compensar ao seu modo, na defesa. “Estamos jogando as finais da NBA. Se você precisa procurar motivação extra, provavelmente não deveria nem estar jogando”, afirmou durante entrevista coletiva na qual ele estava sozinho no pódio, como se fosse o maioral do Cleveland.

A série
>> Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
>> Jogo 1: Iguodala, o reserva de US$ 12 m que roubou a cena

Do outro lado, ao atual MVP faltou se adaptar a um confronto mais duro. Acostumado a levantar a torcida de Oakland a temporada inteira com suas bolas de efeito (e eficientes), o armador não conseguiu alterar seu modus operandi, mesmo quando estava claro que seus lances vistosos não surtiam, não estavam surtindo efeito. Não é que ele tenha sentido a pressão. O pior foi não saber entender o tipo de pressão a que estava submetido. Um abafa exercido, para começo de conversa, pelo próprio australiano, que forçou um airball de Curry no penúltimo ataque do Warriors e, depois, viu o craque passar a bola nos pés de um Klay Thompson endiabrado, que nada pôde fazer: 95 a 93, numa partidaça de ativar a adrenalina de qualquer observador. O Cavs brigou e está no páreo.

“Nossos caras adoraram o fato de que já havíamos sido descartados. Esta é a equipe lutadora que temos. Não é nem um pouco fofa. Se estiver esperando que joguemos um estilo sexy ou bonitinho de basquete, não vai achar conosco”, afirmou LeBron James, antes de deixar o microfone para Dellavedova. (LBJ vai negar que essa tenha sido uma indireta, mas… está na cara.)

Calma, Delly. Não é rúgbi

Calma, Delly. Não é rúgbi

O novo titular do Cavs ficou 42 minutos em quadra e terminou com nove pontos, cinco rebotes, três roubos de bola, apenas 1 assistência e errou sete de dez arremessos, incluindo cinco de seis na linha de três pontos. Mas saiu com a estatística mais preciosa: uma vitória, contribuindo com os pequenos grandes lances que influenciou durante toda a temporada – e não apenas nos playoffs, quando enfileirou inimigos na Conferência Leste ao participar de algumas jogadas polêmicas. Um pequeno grande lance como o seu quinto rebote, no garrafão do Warriors. Antes que ataquem Curry por essa, a conta ficou para Klay Thompson neste lance em específico. “Esqueci de bloqueá-lo quando ele conseguiu a falta. Isso vai ficar na minha cabeça por um longo período”, disse o ala. De todo modo, não fosse seu espírito combativo e a inteligência em quadra, Delladedova não teria aproveitado a sobra. Nos playoffs, não são apenas os superastros que brilham.

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Sem LeBron James, claro, não há Cleveland Cavaliers. O astro foi mais uma vez imenso em Oakland, com 39 pontos, 16 rebotes, 11 rebotes em 50 minutos. Haja fôlego – e categoria. Pode ter errado 24 de 35 arremessos, mas deu um jeito de compensar isso com 14 lances livres convertidos, atacando o aro sem parar e até mesmo sendo ignorado pela arbitragem (um caso à parte nesta partida, errando demais, em jogadas óbvias). Mas o craque não jogou sozinho. Para o Cavs chegar ao triunfo, contou com uma desempenho defensivo soberbo.

O time de David Blatt foi o primeiro a limitar o avassalador ataque do Warriors a menos de 90 pontos, em 48 minutos, nesta temporada. Grizzlies, Spurs, Rockets, Bucks… Todo mundo tentou, ninguém havia conseguido. E, sim, dá para falar Blatt aqui, né? Malhado o ano inteiro, o treinador fez os ajustes necessários, alguns até mesmo surpreendentes, e contribuiu decididamente na vitória. Ou seria James também o coordenador defensivo da equipe?

Que Blatt não tenha retornado com Timofey Mozgov nem por um minuto sequer no quarto período foi algo bastante questionável. Também  poderia ter interferido no andamento do ataque do Cavs, que deu aquela emperrada e passou a depender exclusivamente das investidas de sua estrela, caindo no mesmo erro do Jogo 1, permitindo a reação dos anfitriões para que forçassem mais uma vez o tempo extra. Mas, taticamente, no plano geral, foi uma reação, e tanto: seus jogadores controlaram o ritmo da partida, praticamente anulando o jogo em transição do adversário ao dominar os rebotes (55 a 45, com 15 na tábua ofensiva).

Preparando terreno
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Depois de dominar as tábuas, o Cleveland desacelerou o jogo e, em meia quadra, oprimiu os arremessadores do Warriors, que acertaram apenas 39,8% dos arremessos e 22,9% (8-35) nos chutes de três pontos. Se subtrairmos a produção de Klay Thompson, que matou algumas bolas complicadíssimas (34 pontos), o aproveitamento cairia, respectivamente, para 34,5% e 17,3%. Até mesmo Tony Allen debocharia de números como esses. Como os visitantes fizeram isso? Impedindo os cortes pelo fundo e fechando as linhas de passe, principalmente quando a bola não estava nas mãos de Curry. Segundo estatísticas preliminares, o Warriors completou 217 passes neste Jogo 2. Sua média nos playoffs é de 303.

As coisas não deram certo para Curry, e o astro não soube mudar o curso

As coisas não deram certo para Curry, e o astro não soube mudar o curso

Foi aí que entrou em cena Dellavedova, com um esforço extenuante (chegou a acusar dores musculares na prorrogação…) e impressionante em seu trabalho de contestação. Curry teve de lutar bastante até mesmo para receber o passe. Até por isso sua decisão de insistir nos arremessos de três pontos a partir do drible foi pura teimosia, ou confiança em excesso. Se você está cansado, com a perna pesada, o rendimento no chute de longa distância tende a cair. Isso é matemática das mais simples.

De tantos estragos que causou neste fundamento durante toda a temporada, todavia, o armador foi arremessando com aquela mentalidade de que uma hora a bola cairia, a partir do drible, com grau elevado de dificuldade, sem se importar. No fim, caíram apenas 2 em 15, sendo que as 13 tentativas erradas são um recorde de desperdício nas finais, superando as 11 de John Starks, do Knicks, contra o Rockets, em 1994. Antes de acusar cansaço, porém, é preciso registrar que o queridinho local estava com uma expressão um tanto abatida desde o início. Foi uma atuação realmente bizarra, se comparada com o papel que tem cumprido nesta campanha.

“Eu sabia que, assim que saíam da minha mão, alguns arremessos que eu normalmente faço estavam fora. Isso não acontece normalmente. Mecanicamente, não sei se há uma explicação por isso. Apenas não encontrei meu ritmo durante o jogo”, afirmou o MVP. “Tenho de jogar melhor, encontrar arremessos melhores e ficar mais em sintonia durante a partida para que possamos nos estabelecer como time.”

Sim, quando o sujeito tenta 15 arremessos de fora, não dá para dizer que tenha falhado por omissão. Curry não fugiu do jogo. Simplesmente tomou decisões terríveis com a bola, com uma chuva de chutes curtos e ou tortos, raridades para alguém com tanta precisão. O duro é, que, com seu vasto repertório, quando usou a mera ameaça de seu arremesso para iludir seu marcador, o  craque conseguiu espaço para bater para a cesta e completar suas infiltrações (como na cesta que forçou a prorrogação), ou, no mínimo, descolando lances livres. Mas, não. Em vez de dosar as coisas e procurar outros rumos, seguiu chutando de modo tresloucado. O australiano o perturbou. “Teve tudo a ver com o Delly. Ele foi espetacular”, disse LeBron.

Claro que o defensor não o conteve sozinho, mas é inegável sua contribuição neste ponto. Segundo a ˆ, Curry errou todos os seus oito chutes quando marcado pelo substituto de Kyrie Irving e ainda cometeu quatro turnovers. Dellavedova venceu mais este embate psicológico – e físico. Merece, então, seu próprio cartaz (de mentirinha). Como se fosse uma superestrela.

Somos todos testemunhas:

Matthew Dellavedova, NBA, Cavs, LeBron

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Dois ajustes significativos de Blatt envolveram Mozgov, seu ex-comandado de seleção russa. Daí o estranhamento pela ausência total do pivô nos últimos 17 minutos de partida – quarto período mais prorrogação –, quando sua presença poderia ter sido importante em uma posse de bola ou outra ofensiva. O primeiro ajuste foi bem simples, no ataque: o russo subiu para a cabeça do garrafão para fazer o mais rápido que pudesse um corta-luz para LeBron, especialmente para livrar o astro da marcação chata de Andre Iguodala. O mínimo de espaço gerado para o camisa 23 é o suficiente para que ele crie uma situação de cesta – seja em definição individual ou para os companheiros. O pivô também se movimentou muito mais sem a bola, mesmo que não fosse para completar uma jogada de pick-and-roll, e fez a cobertura de Andrew Bogut ficar mais espaçada e hesitante. O segundo ajuste foi bem mais criativo: quando Steve Kerr usou seu quinteto “baixo” logo no primeiro tempo (com Bogut e Festus Ezeli no banco), Blatt manteve Mozgov em quadra, com a decisão de deixá-lo na marcação de Iguodala. Mesmo que o ala tenha jogado muito bem também ofensivamente na primeira partida. O russo apenas cercou o adversário e deu conta do recado, surpreendentemente. Só o perdeu de vista num raro contragolpe que resultou em bela ponte aérea com passe de Klay Thompson. Valeu o show nessa, mas taticamente o russo saiu ganhando. Ainda mais que, do outro lado, não havia quem conseguisse marcá-lo (17 pontos e 11 rebotes em 29 minutos).

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O que dizer deste erro grotesco de Marreese Speights? Pelo visto, os dias em que ficou durante a série contra o Houston Rockets valeram uns quilos a mais para o pivô. Seria muito cruel lembrar que a partida terminou empatada no tempo regulamentar? Que dois pontos poderiam ter… Bem, seria muito cruel, sim.

Só não nos esqueçamos que o mesmo Speights, mais jovem, nos tempos de Sixers, já chegou a dar um airball numa tentativa de enterrada contra Nenê:

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Num jogo de detalhes, os 8 pontos de James Jones no primeiro tempo foram um lucro danado para o Cavs, ajudando inclusive a manter a equipe próxima do marcador, enquanto Klay esquentava a munheca. Valeu a amizade, LeBron.

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Difícil dizer quem errou mais: JR Smith ou a arbitragem, que deixou escapar, por exemplo, duas faltas claríssimas sobre LBJ (a marretada de Iguodala no quarto final e o puxão de Draymond Green no bola ao alto da prorrogação). Na verdade, as falhas do irregular, cabeça-de-vento lateral acabariam por anular as bobagens dos homens do apito. Com três faltas tolas, completamente desnecessárias, Smith deu ao Warriors seis pontos de graça em lances livres, dando sua contribuição marcante para o desfecho dramático do jogo. O ex-comparsa de Carmelo até fez 13 pontos (em 13 arremessos), mas sua desatenção defensiva tem efeitos desastrosos. Ao menos ele tem senso de humor. Excluído com seis faltas, disse ter pensado o seguinte, no banco: “Por favor, vençam este jogo. Não quero todas as ligações, emails, Instagrams, tweets e memes”

*    *    *

 E Steve Kerr aderiu mais uma vez ao hack-a-mão-de-pau. O premiado da vez foi Tristan Thompson, que sofreu duas faltas intencionais no quarto período, num ato de desespero do técnico do Warriors. O pivô canadense acertou dois de quatro. O time da casa pontuou em todos os lances seguintes e ainda ganhou tempo no relógio. Pragmatismo que deu certo, pontualmente.

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Ainda sobre o esforço de LeBron: nos últimos 30 anos, apenas Charles Barkley e James Worthy haviam somado um mínimo de 35 pontos, 15 rebotes e 10 assistências num jogo de playoff. Uma vez cada. LeBron chegou ao segundo só neste mata-mata. Então, ok, ele pode ter errado uma penca de arremessos. Mas a série e os desfalques do Cavs basicamente pedem que ele carregue uma tonelada de responsabilidades nas costas, mesmo.


Iguodala: o homem de US$ 12 mi que aceitou a reserva e roubou a cena
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Giancarlo Giampietro

Chef Curry teve quem cumprimentar no Jogo 1 das finais

Chef Curry teve quem cumprimentar no Jogo 1 das finais

Andre Iguodala embolsou mais de US$ 12 milhões por esta temporada – na carreira, já passou dois US$ 86 milhões. Foi campeão olímpico e mundial pelos Estados Unidos nos últimos três anos e um All-Star em 2012. Então como é que você espera que um cara desses vai reagir quando vem o técnico, que mal acabou de chegar, dar a seguinte ideia: que tal você ir para o banco de reservas?

O ala admite que matutou um pouco de primeira. Mas concedeu. Disse a Steve Kerr que confiava no que ele estava fazendo, e que tudo bem ficar no banco de Harrison Barnes, um jovem de 23 anos que nunca marcou mais de 10 pontos por jogo em média em sua carreira.

Nesta quinta-feira, na abertura das #NBAFinals, o veterano comprovou a tese de que pouco importa a forma como você começa o jogo. Se está em volta do círculo central no bola ao alto ou no banco, com a faixa de capitão ou sendo ovacionado pela torcida. O que vale, mesmo, é como você o termina – e o que se faz em quadra até o cronômetro zerar.

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Foi Iguodala o único defensor do Golden State Warriors que, enfim, encontrou um meio de incomodar LeBron James na última posse de bola do tempo regulamentar, impedindo que o craque subisse equilibrado para o arremesso. Deu aro, e a prorrogação estava garantida. “É o que pretendemos fazer durante toda a série: que ele precise de arremessos difíceis”, disse o ala. No tempo extra, a equipe da casa passou, então, o trator – não sem mais uma grande cartada de Steve Kerr, que sacou seus dois cincões, usou pela primeira vez na partida sua perturbadora formação mais baixa e viu os tampinhas destroçarem um estarrecido Cleveland Cavaliers para vencer uma partidaça, por 108 a 100. O Jogo 2 será realizado no domingo.

LeBron fez o que pôde: 44 pontos em 46 minutos, seu recorde pessoal em sua quinta participação nas finais da liga americana. Mas acabou derrotado por um time. Um coletivo que teve em Andre Iguodala sua maior expressão neste primeiro embate eletrizante, que já é um clássico instantâneo.

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O ala de 31 anos terminou com 15 pontos, 3 rebotes, 2 assistências, 1 roubo de bola e 1 toco, em 32 minutos, pontuando com eficiência impressionante para os seus padrões. É uma bela linha estatística, não? Bem superior à que produziu durante a temporada na qual sacrificou seu rendimento em prol da equipe: 7,8 pontos, 3,0 assistências, 3,3 rebotes em 26,9 minutos, todas elas as menores médias de sua carreira.

Mas é também só mais um caso de como os números, ainda mais nessa versão simplificada, não contam toda a história. No ataque, Iguodala jogou com uma desenvoltura impressionante e muita versatilidade. Deu duas enterradas belíssimas em jogadas de muita habilidade com a bola para encerrar os primeiro e terceiro quartos e converteu até mesmo uma cesta de três com o pé esquerdo descalço (veja abaixo). “Quando você está no ritmo, dá para jogar até de meias. É como nós todos fazemos em nossos quartos”, disse.

De três, da zona morta, só de meia no pé esquerdo

De três, da zona morta, só de meia no pé esquerdo

Mas foi na defesa que ele teve mais importância, como de praxe. No primeiro tempo, ao lado de Shaun Livingston, apertou as coisas e impediu que o Cavs estendesse uma vantagem que já era de 13 pontos. Depois, não se deixou intimidar pela exuberância atlética e técnica de LeBron e batalhou até o final, até frear o supercraque. Veja o aproveitamento nos arremessos do camisa 23 do Cavs quando marcado pelo número 9 do Warriors e, depois, um desarme que resultou em contragolpe com enterrada:

Contra Iguodala, LeBron acertou 9 de 22 chutes, num aproveitamento de 40,9%. Contra o restante da defesa do Warriors, os números foram 9-16 (56,2%)

Contra Iguodala, LeBron acertou 9 de 22 chutes, num aproveitamento de 40,9%. Contra o restante da defesa do Warriors, os números foram 9-16 (56,2%)

LeBron que deve reconhecer, intimamente, a grande oportunidade desperdiçada pelo Cleveland em Oakland, ainda mais depois de ver Kyrie Irving sair mancando, com muitas dificuldades, rumo ao vestiário, com 23 pontos, 7 rebotes, 6 assistências, 4 roubos de bola e dois bloqueios em 44 minutos. A espera de uma semana parece ter feito maravilhas para o joelho do armador, aliviando sua tendinite.

O jovem astro estava muito bem quadra, jogando com energia surpreendente para alguém que mal pôde contribuir na varrida para cima do Atlanta Hawks na decisão do Leste. Não só pontuou, como defendeu muito bem, dando inclusive um toco no MVP Stephen Curry naquela que poderia ter sido a última investida do Warriors no confronto. Até LeBron errar seu chute – e Iman Shumpert também, com um arremesso maluco, no estouro do cronômetro, pegando a bola diretamente no ar e a devolvendo em direção ao aro no mesmo movimento. Se cai… O impacto na fanática torcida do Warriors seria o de um terremoto. “No final do dia, nós nos permitimos ganhar o jogo, cara. Errei um arremesso duro”, disse James.

Irving saiu do ginásio amparado por muleta. Palpite inicial dos médicos é de que não sofrido nenhuma ruptura no joelho esquerdo

Irving saiu do ginásio amparado por muleta. Palpite inicial dos médicos é de que não sofrido nenhuma ruptura no joelho esquerdo

Mas não caiu, gente, para um empate de 98 a 98. E na prorrogação o Cavs só marcaria mais dois pontos, enquanto os anfitriões assumiam o controle. Curry foi fundamental nas primeiras posses de bola para cavar faltas e ir para a linha de lance livre – ele somou 26 pontos, 8 assistências e matou 10-20 nos arremessos em 43 minutos.. Depois, o que fez a diferença foi o quinteto baixo de Steve Kerr, num ato muito corajoso e esperto, claro, já que Andrew Bogut e Festus Ezeli não estavam conseguindo frear o russo Timofey Mozgov (16 pontos e 7 rebotes em 33 minutos). Juntos, Draymond Green, Barnes, Iguodala, Klay Thompson e Curry deram conta do recado.

Do outro lado, LeBron perdeu as rédeas. E aí que a abordagem de jogo isolado no craque acaba se revertendo. Quando a estrela foi contestada, o restante do time estava emperrado. Do segundo tempo em diante, aliás, só ele, Irving e Mozgov pontuaram por Cleveland. Muito pouco. No geral, seis visitantes apareceram nas tábua de pontuadores (com apenas os três aqui já citados com mais de dez pontos), enquanto o Warriors teve dez e cinco jogadores, respectivamente, nessas condições.

Fazia parte da estratégia de Kerr (e do excepcional Ron Adams, o responsável pela coordenação defensiva): grudar em JR Smith, Iman Shumpert e Kyrie Irving, sem mandar dobras para cima de James. Que ele derrubasse a melhor defesa do campeonato por conta. E foi quase, numa prova do talento imenso do jogador, já um dos dez maiores da história da liga. O interessante foi ver as diversas formas como LBJ foi para a cesta. Se era previsível que o ataque fosse canalizado em suas mãos, por outro lado as ações individuais começaram em diferentes pontos da quadra, o que confundiu a defesa do Golden State em muitas ocasiões, inibindo a cobertura de Bogut. Se Harrison Barnes foi basicamente engolido por LeBron, Iguodala conseguiu encará-lo nos momentos finais e acabar com essa festa. O reserva Iguodala, no caso.

 


Golden State supera décadas de trapalhadas para voltar à final
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Giancarlo Giampietro

Seu time está no centro das chacotas por anos e anos? Você não tem coragem de assumir para quem torce e, no final, tenta escapar dizendo ser um “admirador profundo do estilo de basquetebol do San Antonio Spurs”? Você nem, mesmo, veste a camisa para bater, casualmente, uma bola na praça? Calma, gente. Isso não te obriga a jogar fora o uniforme. Pode ser que ainda dê tempo de reutilizá-lo – desde que não perca de vista a balança, claro. Os finalistas da NBA 2014-2015 nos ensinam que, das profundezas, após muitas trapalhadas no Draft, desmandos da diretoria, conflitos entre jogador e técnico, pode emergir um candidato ao título. Mesmo que demore um pouco. Aqui, vamos listar dez episódios marcantes da história do Golden State Warriors, que nos ajudam como demorou tanto – precisamente 40 anos – para que a franquia retornasse a uma decisão:

Para chegar a Curry e os playoffs de 2025, teve muita história

Para chegar a Curry e os playoffs de 2015, teve muita história

Se transparência é um termo que anda em voga no noticiário esportivo, então não dá para esconder que este artigo não existiria sem este aqui de Bill Simmons, o ex-editor-chefe do Grantland: “Como perturbar uma base de torcedores em 60 passos fáceis”. Sim, com seus conhecimentos verdadeiramente bíblicos sobre a NBA, o cara teve a manha de listar seis dezenas de bobagens que o clube californiano cometeu desde que Ricky Barry os liderou para o título em 1975. Em vez de meramente traduzir o antigo Sports Guy (e quem sai perdendo nessa é só você, meu amigo, já que estamos falando de um dos textos mais divertidos da Internet), filtramos os tropeços em apenas uma dezena, tentando interligá-los ou dar mais contexto para cada um deles.

1) Vai que é sua, Boston
E se o esquadrão de All Attles de 40 anos atrás pudesse ter sido sucedido por uma linha de frente composta por Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish? Sim, acreditem. Não se trata de revisionismo barato. O Golden State Warriors teve todas as chances de formar esta trinca que resgataria os tempos de glória do Boston nos anos 80. O que pegou, então?

Bem, comecemos pelo fato de o time ter selecionado Parish no Draft de 1976. Foi apenas em oitavo, um golaço. Entre os sete primeiros da lista, só um atleta seria eleito para o Hall da Fama ou mesmo para um All-Star Game: o ala Adrian Dantley, cestinha ex-Detroit, Utah e Dallas. O pivô jogaria apenas quatro anos pela equipe, porém, até ser enviado para o Boston em 1980, acoplado a uma escolha de Draft, que seria a terceira geral. Em troca vieram outras duas escolhas daquele mesmo ano: a 1ª e a 13ª. Quem saiu em terceiro? McHale, um dos melhores alas-pivôs da história. E nas outras? Joe Barry Carroll e Rickey Brown.

Bird, Parish e McHale

Bird, Parish e McHale, do Boston

Quem!? Cumé!?

Bem, não precisa se sentir mal se não os conhece. Carroll era um pivô de 2,13 m de altura, vindo da Universidade de Perdue, considerado uma grande promessa. Só assim para o Warriors abrir mão de um pivô já estabelecido como o Chief Parish. No final das contas, ganharia um dos melhores (ou piores) apelidos da liga: “Joe Barely Cares” – trocadilho que dizia que ele pouco se importava com o que acontecia em quadra. A média de 20,1 pontos em seus primeiros quatro anos não parece tão ruim, mas não conta tudo: nos rebotes, foram apenas 8,5 por jogo. Cometia um elevado número de turnovers e não amedrontava defesas a ponto de chamar a marcação dupla no garrafão. O fato é que ele não se encontrou por lá, sendo perseguido por torcedores e jornalistas. Em 1984, para espanto geral, virou as costas para o time assinou um contrato com o Olimpia Milano. Em Boston, o Celtics já havia conquistado dois troféus.

Depois de conhecer a Itália, Carroll retornou em 1985, e, sob o comando de George Karl, viveu seu melhor momento. Em 1987, foi eleito para o All-Star Game e ainda estreou nos playoffs. Um ano depois, porém, viu sua produção despencar, a ponto de ser trocado para o Houston Rockets. Rodaria ainda por New Jersey, Denver e Phoenix até se aposentar em 1991, aos 32 anos, considerado um grande fiasco.

Quanto a Rickey Brown… Hã… O ala-pivô de 2,08 m, de Mississippi State, jogou apenas cinco anos na NBA. Em 1983, foi negociado com o Atlanta Hawks, em troca de uma escolha futura de segunda rodada, que resultaria em alguém de nome mais interessante, pelo menos: Othell Wilson. Pois é.

E onde é que Larry Bird entra nessa história? O Golden State tinha a quinta escolha do Draft de 1978. Optou pelo ala Purvis Short, que teria médias de 17,3 pontos, 4,3 rebotes e 2,5 assistências em sua carreira. O legendário camisa 33 do Celtics saiu em sexto. Oooops. (E aqui não importa que Bird fosse ficar mais um ano em Indiana State. Né?!)

2) Cestas e drogas
A NBA teve de lidar nos anos 70 e 80 com um séria questão: o preocupante uso de drogas por um elevado número de seus atletas, nem sempre flagrados. O ala Bernard King foi um dos atletas que chegou a ser detido por posse de maconha e cocaína em duas ocasiões, entre 1977 e 78, enquanto tinha contrato com o New Jersey Nets. Cansado dos problemas, mandou King para Utah em 1979. Pouco utilizado em Salt Lake City – aliás, não dá saber o que King faria na cidade naquela época. Um ano depois, seria despachado para o Golden State, em troca do pivô Wayne Cooper (um bom defensor, que viveria bons momentos no futuro pelo Blazers e pelo Nuggets). Na Califórnia, o ala reencontraria o rumo e seria eleito para o All-Star Game em 1982, com 23,2 pontos, 5,9 rebotes e 3,6 assistências.

Bernard King, cestinha que durou pouco em Oakland

Bernard King, cestinha que durou pouco em Oakland

Mas seria mais um craque que a franquia deixaria escapar: ao final do campeonato, King assinou um pré-acordo com o New York Knicks. Foi liberado, em troca do armador Michael Ray Richardson. Nos próximos quatro anos, o ala se tornaria o grande ídolo do Madison Square Garden, com algumas atuações eletrizantes (coisa de 50 pontos em jogos consecutivos e também 60 pontos em outra ocasião). No auge, porém, sofreu uma gravíssima lesão no joelho, que impediu que fizesse uma dupla potencialmente devastadora com Patrick Ewing, até ser dispensado. Acabado? Nada disso. Batalhou e concluiu uma recuperação até então inédita na liga. Em Washington, jogaria muito pelo Bullets ainda, com médias de 22 pontos, 4,7 rebotes, 3,9 assistências por quatro temporadas, sendo eleito pela quarta vez um All-Star em 1991.

Vai saber: talvez, em Oakland, as coisas pudessem ter desandado. Talvez King ainda estivesse dando trabalho fora de quadra, quando negociado. O que pega é que Richardson também tinha um histórico problemático e público. Não duraria nem quatro meses com o Warriors, sendo repassado para o Nets. Um caso triste de desperdício de talento – era um jogador tão veloz com a bola quanto John Wall no auge, segundo consta –, o armador passou pelo programa de reabilitação da liga e ainda assim foi pego, depois, em três testes pelo exame de cocaína. Foi banido e acabou conduzindo sua carreira na Europa.

3) Run TMC, e poderia ser melhor
Se, na NBA, há um consolo para times que fracassam em negociações e, por consequência, não se cansam de perder em quadra é que eles têm oportunidades melhores de se reforçar via Draft. E, na virada dos anos 80 para os 90, a franquia até caprichou em seu recrutamento, escolhendo Tim Hardaway, Mitch Richmond e Tyronne Hill por três temporadas seguidas. Em 1992, ainda conseguiriam Latrell Sprewell. Os dois primeiros se juntariam a Chris Mullin para formar o cébre trio Run TMC, sob o comando de Don Nelson, com um basquete vistoso, empolgante e competitivo. Até por isso foi difícil de entender duas trocas que o clube fechou com o Seattle Supersonics em 1989.

Alô? É do Warriors?

Alô? É do Warriors?

No recrutamento daquele ano, o Warriors cedeu os direitos sobre Dana Barros, o 16º calouro, em troca de uma escolha de primeira rodada, em 199 . Tudo bem. Já tinham Hardaway garantido. Um mês e meio depois, no entanto, eles devolveram o pick a Seattle para contratar o pivô Alton Lister. Era um grandalhão de 2,13 m que vinha de médias de 8,0 pontos, 6,6 rebotes, 2,2 tocos em 22 minutos. Tinha boa presença defensiva, algo de que a equipe carecia no garrafão, mas era muito limitado. Pior: faria apenas três jogos naquela temporada, devido a uma lesão. Em quatro temporadas em Oakland, devido aos problemas físicos, disputaria apenas 126 de 328 partidas possíveis. E que fim levou a escolha de Draft? Foi a segunda geral em 1990, rendendo Gary Payton ao Sonics. (OK, jogar com dois armadores naquela época não era algo tão usual, por mais que Payton pudesse marcar ala-armadores tranquilamente. No mínimo, viraria uma bela moeda de troca. Em 1992, ao lado de Shawn Kemp, Payton eliminaria o Warriors nos playoffs da Conferência Oeste, por ironia.

Em 1991, Nelson inexplicavelmente mandou Mitch Richmond para Sacramento, em troca do ala novato Billy Owens, o quinto do Draft. Owens era versátil, mas não gostava de treinar muito. Em 1995, já estaria defendendo o Miami Heat, numa negociação pelo pivô Rony Seikaly – o time da Flórida ainda receberia os direitos sobre o sérvio Sasha Danilovic (que seria um excepcional substituto para Richmond…). O libanês estava alguns degraus abaixo dos superpivôs da época, mas era competente. Sofreu com lesões, porém, em dois anos e foi repassado ao Orlando Magic.

4) A novela Chris Webber
Em 1993, Orlando Magic e Golden State Warriors fecharam uma troca  para lá de intrigante e que fazia muito sentido: uma inversão entre as primeira e terceira escolhas do Draft. O melhor novato disponível era o ala-pivô Chris Webber – muito badalado vindo da Universida de Michigan. Ele poderia jogar ao lado de Shaquille O’Neal? Certamente. Mas o Orlando estava de olho no armador Anfernee Hardaway. Quando o Philadelphia 76ers optou pelo espigão Shawn Bradley em segundo, “Penny” sobrou para o Golden State, que já tinha um Hardaway talentoso do seu lado. Para compensar, o Warriors ainda mandou três escolhas futuras de primeira rodada. C-Webb fez uma primeira campanha estrondosa em Oakland ao lado de um time tão ou mais divertido que o Run TMC. Caíram na primeira rodada contra o Phoenix Suns, atual campeão do Oeste, mas tinham uma base promissora para se desenvolver, tendo Gregg Popovich como assistente técnico.

Acontece que Webber arrumou confusão. Disse que não queria mais jogar como pivô (o nominal “5”, mesmo que o sistema de Nelson ignorasse essas convenções) e exigiu uma troca. O detalhe é que o jovem astro tinha como pressionar o clube, pois havia conseguido incluir uma cláusula de rescisão contratual para o final da temporada de calouro. Inacreditável. Foi aí que Nelson fechou a troca por Seikaly, para tentar acalmar as coisas – mas não sem antes entrar num bate-boca público. O ala-pivô manteve sua decisão até forçar uma negociação com o Washington Bullets, por Tom Gugliotta e três escolhas futuras, nenhuma das quais seria devidamente aproveitada. “Googs” jogou apenas um ano e meio pelo Golden State, até ser mandado para o Minnesota Timberwolves em troca de Donyell Marshall. O ala defendeu o Warriors até 2000, com médias de 11,1 pontos e 6,8 rebotes, quando foi trocado por Danny Fortson e Adam Keefe. Que tal?

5) O estrangulamento
Sprewell entrou em um timaço. Mullin, Hardaway, Webber, Nelson como técnico. Após o fiasco nas negociações com Webber, no entanto, o técnico e gerente geral pediu demissão. Ele fracassaria em Nova York, mas ainda teria muito sucesso como comandante do Dallas Mavericks, que seria reerguido como potência do Oeste ao final da década. Se ao menos Gregg Popovich estivesse por ali…. Mas o assistente se mandou em 1994 para San Antonio. Rick Adelman, que havia sido duas vezes vice-campeão pelo Portland Trail Blazers, assumiu o time, mas a depressão nos bastidores do clube era grande. Em dois anos, com um elenco em frangalhos (Hardaway foi trocado para Miami, Mullin já estava quebrado), ainda conseguiu um aproveitamento de 40%, até se mandar e reinventar o Sacramento Kings, ao lado de Webber. Em 1997, foi a vez de PJ Carlesimo ser contratado como treinador, mais um vindo de Portland.

Carlesimo e Sprewell: um dos incidentes mais absurdos da história da NBA

Carlesimo e Sprewell: um dos incidentes mais absurdos da história da NBA

A essa altura, Sprewell, um sujeito introspectivo e intempestivo, já estava para lá de frustrado e não aceitou bem o estilo exigente, mandão do novo técnico. Na primeira pré-temporada em que trabalharam juntos, em um dia em que alegou estar sem paciência, o ala simplesmente estrangulou o treinador por volta de 10 a 15 segundos. Segundo relata a Sports Illustrated, “alguns jogadores não tiveram pressa alguma” para interferir. O jogador foi, então, levado para o vestiário, para, 20 minutos depois, tentar atacar novamente o técnico. O Golden State suspendeu o ala por 10 dias e, depois, optou por romper o contrato. Na Justiça, Sprewell validou seu contrato. Obviamente, não havia como segurá-lo no time, e aí em 1999, ao retornar de suspensão, foi trocado para o New York Knicks, por John Starks, Chris Mills e Terry Cummings. No Madison Square Garden, também virou ídolo e seria campeão do Leste de imediato.

Obviamente não há negociação errada, comportamento de um técnico que justifique o ato de Sprewell. Mas a agressão simbolizava o caos por que passava a franquia.

6) Gangorra
Vocês se lembram a troca de Penny Hardaway por Chris Webber, certo? No Draft de 1999, o Golden State Warriors tentou repetir o movimento, numa transação envolvendo Antawn Jamison e Vince Carter. Seguido o exemplo de seis anos atrás, era de se imaginar a diretoria liderada por Gary St. Jean estivesse adquirindo Carter em troca de seu ex-companheiro da Universidade da Carolina do Norte, certo? Errado. O acrobático e explosivo Carter caiu no colo da franquia na quinta colocação, mas eles estavam interessados em Jamison, fechando então um negócio com o Toronto Raptors. O impacto que o ala causou no clube canadense é hoje considerado um fator primordial na explosão de talento de primeiro nível no país de Andrew Wiggins.

Jamison era um cestinha de jogo vistoso, classudo, mas de eficiência questionável e que não justificava sua deficiência nos rebotes e defesa. Ainda assim, teve seu contrato renovado em 2001 por US$ 85 milhões e seis temporadas. Não chegou ao final do vínculo, claro, sendo enviado ao Dallas Mavericks em 2003, rendendo em contrapartida o acabado Nick Van Exel e outros veteranos que só foram incluídos para validar o negócio financeiramente (Avery Johnson, Evan Eschmeyer, Popeye Jones e o francês Antoine Rigaudeu, que nem nos Estados Unidos estava mais). Um desastre.

7) Arenas, mais um a partir
A história se repete. Quando Gilbert Arenas saiu da Universidade do Arizona em 2001, não era um jogador bem cotado pelos scouts e dirigentes. Eles questionavam seu comportamento excessivamente infantil e acreditavam que ele não tinha uma posição definida, perdido entre um armador e um ala. A maioria dos observadores se equivocou profundamente. A habilidade do futuro Agente Zero com a bola se impôs rapidamente na liga. O sucesso foi tamanho que… complicou a vida do clube.

O melhor (e pior) do Agente Zero ficou para o Washington Wizards, mesmo

O melhor (e pior) do Agente Zero ficou para o Washington Wizards, mesmo

Sem apostar tanto assim no calouro, o Warriors firmou com ele um contrato de apenas dois anos. O jovem astro se tornou um agente livre restrito rapidamente, então. Seu potencial era evidente, de modo que recebeu uma proposta fabulosa do Washington Wizards. O Warriors não tinha condições de cobrir a oferta, mesmo que quisesse, devido ao estado precário de sua folha salarial (caríssima, congestionada, cheia de jogadores pouco atrativos que pudessem ser trocados para abrir espaço). Apesar das loucuras que cometeria anos mais tarde, Arenas foi superprodutivo em seus primeiros anos na capital americana e ajudou a revitalizar o clube na Conferência Leste, ao lado de Larry Hughes, outro talento do Golden State que havia sido surrupiado.

8) Custo x benefício
Para um time que só teve duas temporadas com aproveitamento acima de 50% nos anos 2000 (42-40 em 2007 e 48-34 em 2008), chegando aos playoffs uma única vez, o Golden State Warriors arcou com alguns dos contratos mais absurdos do período. Se você juntar os salários de gente como Jamison, Erick Dampier, Adonal Foyle, Derek Fisher, Corey Magette, Andris Biedrins, dava mais de US$ 310 milhões no total. Só em seis jogadores que eles procuraram no mercado na década passada. Os gastos gerais, obviamente, são muito maiores.

9) Atirando para todos os lados
Mullin, Hardaway, Richmond, Sprewell… Grandes acertos no Draft, na certa. Em 2001, conseguiram de uma vez só Jason Richardson, Troy Murphy e Gilbert Arenas. Monta Ellis 40º em 2005. Para aplaudir, novamente. Stephen Curry foi um presente do Minnesota Timberwolves em 2007. Agora, a lista de fiascos do Golden State Warriors no Draft é clamorosa, como diria o Carsughi, principalmente para um time que esteve tantas vezes presente na loteria. Não vamos nem contar aqui as escolhas trocadas, como a de Payton em 1990, mas apenas as efetuadas pelo clube, levando em conta os outros nomes que estavam disponíveis. Confira:

O'Bryant fez apenas 40 jogos e 60 pontos pelo Warriors

Sensação do torneio da NCAA, O’Bryant fez apenas 40 jogos e 60 pontos pelo Warriors

1995 – 1º –  Joe Smith – Kevin Garnett, Rasheed Wallace, Antonio McDyess, Jerry Stackhouse e Michael Finley foram escolhidos depois
1996 – 11º – Todd Fuller – Kobe Bryant, Steve Nash, Jermaine O’Neal, Peja Stojakovic, Zydrunas Ilgauskas e Derek Fisher vieram depois
1997 – 8º – Adonal Foyle – Tracy McGrady saiu em nono
2003 – 11º – Mickael Pietrus – Boris Diaw, David West, Josh Howard, Leandrinho, Nick Collison disponíveis
2005 – 9º – Ike Diogu – Andrew Bynum saiu em décimo; Danny Granger disponível
2006 – 9º – Patrick O’Bryant – Rajon Rondo, Kyle Lowry, JJ Redick,
2007 – 8º – Brandan Wright – Joakim Noah saiu em nono…
2008 – 14º – Anthony Randolph – Serge Ibaka, Ryan Anderson, Roy Hibbert, Robin Lopez, Nicolas Batum, Kosta Koufos na pinta
2010 – 6º – Epke Udoh – Greg Monroe saiu em sétimo… Gordon Hayward, em nono e Paul George, em décimo.

10) Vaias, vaias e mais vaias
Joe Lacob, se você for pensar, não tinha nada com isso. Ele comprou a equipe de Chris Cohan em julho de 2010. Sua gestão não tomou parte dos nove tópicos acima. Mas, em 2012, quando ele foi para o centro da quadra na Oracle Arena para fazer uma homenagem a Chris Mullin, foi vaiado pelos torcedores de modo inclemente. A galera simplesmente não deixava o discurso ir adiante. A coisa só parou quando o próprio Mullin, com a ajuda de Rick Barry, pediu para que se acalmassem. Era muita mágoa represada, é verdade, mas também havia uma frustração clara com o novo proprietário, que, antes de aquela temporada começar, havia prometido (ao vivo e a cores e por e-mail) que o clube voltaria aos playoffs. Mesmo que sua base fosse jovem e ainda estivesse no início de sua evolução defensiva sob o comando de Mark Jackson. Em março, estava claro que era mera bravata de Lacob, e que o Warriors não tinha como sonhar com uma vaga nos playoffs, e que, para piorar, era obrigado a entregar jogos na reta final com o intuito de preservar sua escolha de Draft: caso ficasse fora do top 7, ela seria destinada ao Utah Jazz – reflexo de mais uma transação atrapalhada do passado, dessa vez pelo armador Marcus Williams, que disputou apenas seis partidas pelo time e hoje está na Europa.

O interessante é isto: o artigo de Simmons foi publicada em 21 de março de 2012, repercutindo justamente essas vaias. Três anos depois, cá estamos diante do time mais badalado da liga americana, com uma das campanhas mais impressionantes da história. Lacob pode ter cometido uma gafe daquelas ao anunciar um time competitivo naquele ano, mas, logo no campeonato seguinte, veria seu projeto bem encaminhado. Como conseguiram isso?

Com um pouco de sorte, algo que não dá para se relevar nunca. se David Kahn tivesse preferido Steph Curry a Jonny Flynn, qual seria o curso da história? Mas também com decisões práticas e inteligentes, como na montagem de uma diretoria plural, com diversas personalidades fortes, mas de formações diferentes, gerenciada por Bob Myers, um dos tantos agentes que viraram a casaca nos últimos anos. Entre as cabeças pensantes, destaque também para um vencedor como Jerry West, a quem convenceu que deixasse a aposentadoria de lado para ser con$ultor. Tudo o que ele toca vira ouro, gente.

O aproveitamento no Draft tem sido excelente. De 2011 para cá, o Warriors apostou em Klay Thompson (11º em 2011, numa cotação acima do que os especialistas previam) e fez a rapa em 2012, com Harrison Barnes (a sétima escolha, que quase foi do Utah), Draymond Green (um hoje inacreditável 35º lugar) e mesmo Festus Ezeli (bastante útil para quem foi selecionado em 30º). Apenas o sérvio Nemanja Nedovic, 30º em 2013, não vingou – o clube abriu mão do jovem armador muito cedo, mas foi mais uma decisão financeira, para evitar multas e permitir a contratação de atletas prontos para completar a rotação agora. No ano passado, não tinha escolhas.

Isso pelo fato de ela ter sido enviada para o Utah Jazz, mas não pela transação de Barnes – e, sim, em outro rolo mais ambicioso, numa troca tripla que resultou na chegada de Andre Iguodala. Foi um movimento surpreendente do Warriors, que se desfez dos salários de Richard Jefferson, Andris Biedrins e Brandon Rush para criar o espaço necessário para a absorção do volumoso contrato do talentoso ala. Outro jogador caro que foram buscar, mais desacreditado no mercado, é verdade, foi Andrew Bogut, o pivô ‘xerifão’ que buscavam desde, hã, 1994, assumindo um risco, devido ao seu histórico hospitalar preocupante. De qualquer forma, não dá para ignorar o fato de que também se desfizeram nessa de Monta Ellis, figura que limitaria o progresso de Thompson e, principalmente, Curry, com quem também assinaram um acordo  questionável em 2012: uma extensão contratual de quatro anos por US$ 44 milhões. Hoje, esse vínculo talvez seja a maior pechincha da NBA.

Os movimentos mais importantes da gestão, contudo, parecem ser aqueles que eles não fizeram. Para começar, deixaram que valiosos reservas como Jarret Jack e Carl Landry partissem, depois de eles terem se valorizado excessivamente em Oakland. Até que, no ano passado, resistiram bravamente à tentação de enviar Thompson para Minnesota, em troca de Kevin Love. Aqui não tem nada de sorte. Houve intensos debates a respeito, com Lacob pressionando para que levassem o negócio adiante, enquanto Jerry West era veemente contra, assim como Steve Kerr.

Kerr, aliás, é outra história. O estreante treinador estava apalavrado com Phil Jackson e o New York Knicks, mas o Warriors se movimentou apressadamente, com um certo desespero, para demitir Mark Jackson, apenas quatro dias após a derrota para o Los Angeles Clippers, pela primeira rodada dos playoffs. Jackson havia acumulado 121 vitórias e 109 derrotas no cargo. Era o treinador mais bem-sucedido do clube desde a primeira era Don Nelson. Uma decisão complicada, mas motivada pela quebra de confiança na relação entre a comissão técnica e a direção, mas também pelo feeling de que Kerr seria o homem certo para dar o próximo passo. Adiantando a fita um ano, não há muito o que contestar. A maré virou para o Golden State, e o torcedor mais fanático pode dizer que este é um karma dos bons, mais que merecido. Espiem novamente a lista acima e ousem discordar.

PS: Nesta quinta, a trajetória do Cleveland Cavaliers em torno de LeBron James.


Em números: as finais da NBA entre Warriors e Cavs
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Giancarlo Giampietro

LeBron x Iguodala, Cavs x Warriors

Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers ainda têm alguns dias de descanso pela frente. Só vão jogar na próxima quinta-feira, em Oakland. Até lá, dá muito temp para que suas comissões técnicas e dirigentes processem uma penca de números para encaminhar o estudo para a disputa pelo título. Aqui, fazemos um apanhado estatístico diversificado sobre a produção dos dois finalistas da NBA 2014-2015 durante os playoffs, além de alguns dados de contexto histórico:

73 – Stephen Curry já converteu 73 arremessos de três pontos nestes playoffs, um recorde absoluto. Já são 15 a mais do que o segundo colocado na lista, Reggie Miller. Se formos pensar apenas nos atletas da atual campanha, quem aparece na vice-liderança é justamente seu companheiro de perímetro, Klay Thompson, com 45. James Harden é o terceiro, com 41.

Ricky Barry era o Steph Curry do Warriors há 40 anos: um excepcional arremessador e All-Star

Ricky Barry era o Steph Curry do Warriors há 40 anos: um excepcional arremessador e All-Star

40 – Essas vocês já ouviram antes: é a primeira decisão do Golden State Warriors depois de 1975, em 40 anos. Isso equivale ao maior intervalo entre duas aparições nas finais da NBA. Para o Cleveland, a espera foi bem mais curta – oito anos, depois de LeBron e Varejão terem disputado a decisão de 2007. São os únicos remanescentes daquela campanha, com a diferença de que o craque do time tirou férias prolongadas em South Beach no meio do caminho.

37 – Shawn Marion, quem diria, é o jogador mais velho dos dois elencos que disputam o título. O ala que um dia foi conhecido como Matrix, devido a sua incrível habilidade atlética, nasceu em 7 de maio de 1978. O pivô Brendan Haywood, também do Cavs, é o segundo mais velho, com 36 anos (faz aniversário em novembro). Quer saber quem é o vovô no elenco do Warriors? Leandro Mateus Barbosa. Sim, o Leandrinho, nascido em São Paulo no dia 28 de novembro de 1982.

35,8% – É o percentual de arremessos do Golden State Warriors que vem atrás da linha de três pontos, acima da dos 31,1% que havia tentado durante a temporada regular. O Cavs aparece logo em sequência, todavia, até num empate técnico, com 35,6%. Em termos de aproveitamento, o Golden State tem acertado 38%, o segundo melhor. O Cleveland é o quinto, com 35,9%. Em termos de chutes da zona morta, o famoso corner three, o Warriors vem convertendo 46,4%, contra 40,2% do Cavs.Curiosamente, os dois times são aqueles que melhor se defendem contra arremessos de longa distância. O Cavs permitiu aos seus oponentes apenas 28,1% de acerto aos seus oponentes, enquanto o Warriors levou 31%. Vale destacar, no entanto, que ambas as equipes enfrentaram alguns times fracos nesse fundamento, como Boston Celtics, Milwaukee Bucks, Memphis Grizzlies e New Orleans Pelicans.

31,2 – Foi a média de pontos de Stephen Curry na série contra o Houston Rockets, valendo o título do Oeste. LeBron James anotou 30,3 pontos. Nos mata-matas, as médias foram de, respectivamente, 29,2 e 27,6. Na temporada regular, 23,8 e 25,3.

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30,5% – É o percentual dos arremessos que o Golden State busca na área restrita ao redor do aro. O jogo lá dentro, mesmo, com os chutes de maior eficiência, e o aproveitamento do time de Steve Kerr nesta área é de 63,9%. Os números do Cavs são, novamente, muito semelhantes: respectivamente 29,8% de seus chutes próximos ao aro, com rendimento de 61,9%. Na hora de comparar esses dados, é importante lembrar apenas que cada time enfrentou adversários diferentes.

Klay para três: o segundo que mais acertou de fora nestes playoffs

Klay para três: o segundo que mais acertou de fora nestes playoffs

28,5% – O Cleveland Cavaliers coleta 28,5% dos reboetes ofensivsos em suas partidas, mesmo com Kevin Love caindo no meio do caminho. O Golden State Warriors aparece em segundo, com 27,5% (o Dallas Mavericks, com 28,1%, aparece entre eles, com muito menos jogos). Tristan Thompson é quem tem o melhor aproveitamento neste fundamento entre aqueles que disputaram ao menos duas séries, com 13,4% das rebarbas quando está em quadra. Timofey Mozgov aparece em terceiro, com 12,1%.

21,6 – O Golden State Warriors tem marcado 21,6 pontos por contra-ataque nesta fase decisiva, com o maior rendimento. É uma vantagem significativa em relação ao Cleveland Cavaliers, o penúltimo, com apenas 7,4. O interessante é que quando o Cavs sai em transição, é na boa: convertendo 1,27 ponto por investida em transição,  a melhor nesta fase.

14,7 – Sem Kevin Love, com Kyrie Irving estourado… Tem sido um LeBron James muito mais agressivo. O craque do Cavs lidera os playoffs em 14,7 infiltrações com a bola por jogo, ocupando a primeira colocação nesse tipo de ataque. Stephen Curry tem 7,8 infiltrações, sendo o 15º na lista. Para comparar, James bateu para a cesta 9,8 partidas para a temporada regular, contra 5,7 de Curry.

LBJ, atacando o aro na hora do vamos ver

LBJ, atacando o aro na hora do vamos ver

10,7 – LeBron partiu para a finalização em jogada individual, isolado em quadra, em 140 posses de bola nos playoffs, com média de 10,7 por jogo. Mais que o dobro do Chef Curry (51 posses em 14 partidas, média de 3,6). Curry, porém, tem melhor aproveitamento, acertando 42,1% de seus arremessos nesse tipo de ocasião, contra 32,5% de James.

10 – Em 15 partidas nestes playoffs, Draymond Green já conseguiu 10 double-doubles. Ótima fase? Grande esforço? Para se ter uma ideia, em 240 compromissos pela temporada regular da NBA, o ala-pivô havia conseguido apenas dois duplos-duplos. Suas médias nos mata-matas subiram de 11,7 pontos, 8,2 rebotes e 3,7 assistências para 14,0, 10,8 e 5,3, respectivamente.

7 – O Cavs chega para brigar pelo título com sete triunfos em sequência – um abaixo de sua melhor marca nos playoffs.

5 – De 29 partidas feitas por Warriors e Cavs nestes playoffs, eles perderam apenas cinco. A campanha combinada de 24 triunfos e 5 revezes é a melhor desde os finalistas de 1991: o Chicago Bulls de Phil Jackson e Michael Jordan e o Los Angeles Lakers de Mike Dunleavy e Magic Johnson. Naquela ocasião, somavam, respectivamente, 22 e 4. Com um detalhe: a primeira rodada dos mata-matas era definida em sistema melhor-de-cinco. Tanto o Bulls como o Lakers varreram seus primeiros oponentes (Knicks e Rockets) por 3 a 0. O Bulls havia perdido apenas uma partida, pelas semifinais, contra o Philadelphia 76ers de Charles Barkley. Avançando para 2015, o Cavs cedeu dois jogos no duelo com Chicago pelas semis, enquanto o Warriors perdeu duas vezes para Memphis e uma para Houston.

Está difícil de ganhar do Warriors em Oakland

Está difícil de ganhar do Warriors em Oakland

3 – Com mando de quadra na série final, o Golden State Warriors sofreu apenas três derrotas em casa nesta temporada, em 49 jogos. É a melhor campanha de um anfitrião neste ano, e uma das melhores da história entre os finalistas. Apenas dois times entraram na decisão com menos derrotas: o Boston Celtics de 1986, rumo ao título, perdeu apenas uma vez no antigo Garden, para o Portland Trail Blazers, por 121 a 103, e o Chicago Bulls de 1996, o das 72 vitórias, que sofreu apenas dois reveses em sua jornada. Duas equipes legendárias.

0,7 – Com três assistências a mais na final do Leste contra o Atlanta Hawks ou 0,7 em média, LeBron James teria sido o primeiro jogador na história a ter médias superiores a 30 pontos, 10 rebotes e 10 passes para a cesta numa série de playoff. Acabou terminando com 30,3, 11,0 e 9,3, respectivamente.

0 – Nenhum jogador do Warriors disputou uma edição das finais da NBA. Zero, mesmo. Seria este um dado preocupante? Talvez. Mas, entnao, qual foi o último time a chegar a uma decisão nessas condições? O mesmo Bulls aqui já citado, o de 1991, com Michael Jordan, Scottie Pippen, Horance Grant, Bill Cartwright e John Paxson todos estreando. É que os Bad Boys do Detroit Pistons simplesmente não os deixava avançar. Quando o Bulls passou, levou. Em Cleveland, LeBron James já vai para a sua quinta final consecutiva, é verdade – sendo o primeiro atleta da liga a conseguir essa façanha desde diversos nomes do dinástico Boston Celtics em 1966. James Jones, seu amigão, o assessorou em todas as quatro decisões anteriores também. Mike Miller jogou nas de 2011 a 2013. Kendrick Perkins foi campeão pelo Celtics em 2008 e vice-campeão em 2012, enquanto Shawn Marion ganhou a de 2011.