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Spoelstra dá o troco em Popovich, poupa astros e ainda vence em San Antonio
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Giancarlo Giampietro

Vocês se lembram quando Gregg Popovich foi a Miami e poupou, de uma vez só, Tony Parker, Tim Duncan e Manu Ginóbili, né? Causou o maior reboliço na NBA, levantando a questão ética se um técnico pode, ou não, tirar seus jogadores da lista oficial sem nenhuma lesão para justificar tal iniciativa, considerando que muita gente pode ter pago o ingresso apenas para ver determinado atleta, sem contar os interesses das emissoras de TV. Pois bem, o Spurs acabou multado por David Stern, e foi uma facada de US$ 250 mil.

Tony Parker x Norris Cole e Shane Battier

Tony Parker dessa vez jogou. E o Spurs sofre uma derrota que é para deixar Popovich cabisbaixo

Na ocasião, os atuais campeões sofreram para ganhar do mistão do Pop, vencendo por 105 a 100, em jogo decidido apenas no último minuto, com direito a uma virada do time da casa no quarto período – eles perdiam por três pontos ao final da terceira parcial. Tiago Splitter, aliás, jogou muito, com 18 pontos e 9 rebotes, desfrutando da condição de ponto focal da ofensiva de seu time pelo menos por uma rodada.

Neste domingo, quatro meses depois, num movimento de aguçada audácia e ironia, Erik Spoelstra deu o troco em seu renomado companheiro de profissão, bastante admirado – ou famigerado – por esse tipo de truque. Spo foi para San Antonio e, tome!, deixou LeBron James, Dwyane Wade (e Mario Chalmers) fora da partida. E, melhor, venceu o jogo: 88 a 86.

Chris Bosh dessa vez, sim, jogou como um superastro, somando 23 pontos, 9 rebotes, 3 assistências e 2 tocos, matando 9 de eus 15 arremessos, três deles da linha de três pontos, o último deles a 1s9 do fim, para dar a seu time uma vitória que praticamente lhe garante a vantagem do mando de quadra em todos os playoffs.

Bosh contou ainda com a ajuda dos 12 pontos e 5 assistências de Mike Miller, titular no lugar de Wade, além dos 7 pontos, 3 rebotes, 3 assisstências e 4 (!!!) tocos de Rashard Lewis, que ficou com a vaga de LeBron no quinteto titular.

Esse é um resultado que mostra que o Miami já tem, sim, seu sistema, que funciona por conta própria. Que também valoriza os jogadores coadjuvantes e os enche de confiança para os playoffs – assim como o técnico do Spurs já fez com Danny Green, Kawhi Leonard, Gary Neal e outros tantas vezes. E, mais do que isso, responde a Popovich na mesma moeda.

Você vai esconder o jogo?

(Pop não só usou a oportunidade de sabotar uma partida de alta exposição para atacar Stern e a direção da liga, devido a uma sequência massacrante de tabela e viagens pela qual passava sua equipe, como também evitava mostrar suas cartas diante de um eventual adversário na luta pelo título.)

Spoelstra, jogando como cachorrão, respondeu a trucada que levou no final de novembro. Pediu seis e ainda levou o monte, deixando Pat Riley orgulhoso que só.


Garnett corta relações com Ray Allen, que já vestiu a camisa do Heat
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Giancarlo Giampietro

Kevin Garnett jura que não tem mais o número do celular de Ray Allen. E aí o jornalista de Boston Steve Bulpett faz uma observação esperta: “O número não mudou. Então faça as contas”.

O pivô e líder do Celtics simplesmente cortou relações com o ala, que pulou a cerca para defender o rival Miami Heat. O mesmo time que o havia derrotado numa série dramática pela final da Conferência Leste em maio. Imagino a reação de alguém irado como o KG ao ver esta foto aqui:

Ray Allen e seus novos amiguinhos

Ray Allen e os novos amiguinhos: de certa forma, uma foto constrangedora

“Não estou tentando me comunicar com ele. Estou apenas sendo honesto com todo mundo aqui. Não é que eu deseje a ele algo pior ou nada disso, é só que isso acontece”, afirmou Garnett ao receber a mídia local para a abertura do training campda franquia mais vencedora da história da NBA.

“Escolhi não me comunicar com ele. É uma decisão que tomei pessoalmente. Sou muito próximo de Ray, conheço sua família, mas tomei a decisão de seguir em frente. É isso. Estou agora me concentrando em JT (Jason Terry), Courtney Lee e os novos caras que estão aqui. Não queria vir aqui para responder um monte de perguntas sobre Ray Allen. Obviamente iria responder uma vez e então me concentrar nos caras que estão aqui no ginásio e no que é o presente. É isso”, completou.

Kevin Garnett, orgulho de Boston

Soletrando com Garnett: C-e-l-t-i-c-s

Garnett tem um contrato de mais três anos com o Celtics, que só espera que ele consiga sustentar o nível que apresentou na última temporada, crescendo durante o campeonato a ponto de voltar a ser aquele marcador implacável na zona interior da fortíssima defesa de seu time.

No mundo abarrotado de ególatras da NBA, KG se destaca como uma das personalidades mais fortes. Tira os adversários do sério, mas é adorado por seus companheiros. Rajon Rondo, que não se dá com ninguém, diz que é seu melhor amigo na equipe. Por isso fica a expectativa sobre como o garotão Fabrício Melo vai se relacionar com o cara. Pode ser uma influência extremamente positiva, pelas cobranças e incentivos, mas ao mesmo tempo pode ser destrutivo, como já falou o técnico Doc Rivers. Depende de como rola a química.

Quem estava de olho na negociação do Celtics com o pivô era o ala Paul Pierce, que afirmou que chegou até mesmo a cogitar sua aposentadoria caso Garnett não retornasse. Sobre Ray Allen, Pierce disse apenas, sorrindo, que gostaria que, se fosse para ele sair de Boston, que fosse para o Clippers, clube que, inclusive, ofereceu mais dinheiro ao arremessador e também se candidata ao título este ano.

Mas Allen optou pelo Miami, onde agora está escoltado por LeBron James e Dwyane Wade. Imagine o tanto de chutes livres um dos maiores gatilhos da história vai ter…Por isso ele se diz extremamente confortável com sua nova vizinhança: “Uma vez que você veste o uniforme, nunca vai se olhar e tentar entender que uniforme você tem. Não importa”, afirmou. “É mais o modo como as outras pessoas o veem ou o enxergam. Daqui para a frente, a coisa mais importante para mim é o que faço por esse uniforme, a cidade e os torcedores que represento. Espero ver mais pessoas que gostam do Heat do que as que odeiam o Heat.”

Simples assim.

(Eu, hein.)

*  *  *

Não que Allen não possa jogar onde queira. Mas é realmente muito estranha a foto postada acima, não? LeBron e Wade cresceram odiando a geração do “Big 3” de Boston, cansados de apanhar (em muitos sentidos) deles nos playoffs. Allen também é conhecido por ser um jogador muito, mas muito competitivo – daí as rusgas e faíscas que tinha com Kobe Bryant quando jogava em Seattle, de simplesmente não tolerar que o astro do Lakers o superasse. E agora está ele apoiado no ombro de LeBron, para surfar a última onda de sua carreira.

No fim, quem sai ganhando com isso é o público: os pegas entre as duas equipes nem precisavam mais de tanta pimenta assim, né?

*  *  *

Em Miami, o técnico Erik Spoelstra já se disse positivamente impressionado com o que o ala Rashard Lewis vem mostrando nos treinos. Segundo o pupilo de Pat Riley, Lewis mal conseguia agachar nos últimos dois anos para abraçar seus filhos, com o joelho – e sabe-se lá o que mais – estourado. Mas que agora estaria se movimentando com leveza, lembrando o cara que dava um trabalhão peo Orlando Magic, abrindo a quadra para Rashard Lewis.

Tem aquela coisa: os caras não jogam há meses. Então essa é a hora em que todo mundo está saudável. “Nunca me senti assim antes” – o lema dos atletas na apresentação. Aí dá janeiro, fevereiro, e todo mundo aparece quebrado de novo. Pode ser o caso de Lewis, que jogou mancando as últimas duas temporadas.

Agora… Se ele e Allen conseguirem contribuir com, vá lá, 60% de seus talentos, a barra vai ficar muito pesada para a concorrência.