Vinte Um

Arquivo : Sergio Llull

Dois finalistas, duas jornadas diferentes na Europa, um título marcante
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Giancarlo Giampietro

O show do Real Madrid

O show do Real Madrid

O que dá mais confiança? Um atropelo contra seu arquirrival ou uma vitória de virada com cesta nos últimos segundos? Difícil dizer, ainda mais para quem acompanhou os dois belos jogos desta sexta-feira pela semifinal da Euroliga, mas o certo é que Real Madrid e Maccabi Tel Aviv vão para a decisão de peito estufado, em busca de uma conquista marcante.

Aí você fala: “Ô, cara, e que título não seria marcante? Seu bobo alegre”.

Tudo bem, tudo bem, pode falar.

Mas é que realmente há razões muitas razões para ambos os finalistas celebrarem, para tornar o troféu a ser entregue no domingo mais especial do que o normal.

O Real, por exemplo. A equipe jogou o basquete mais bonito, vistoso e, ao mesmo tempo, eficiente de toda a temporada. E pode incluir aqui NBA, ACB, NBB e qualquer sigla de sua preferência. Os caras cumprem uma temporada histórica, cheia de brilho, que merece todos os troféus possíveis para completá-la. Se for para interromper um jejum que já dura 18 anos, tanto melhor – a última vez que conquistaram o continente foi em 1995, e pensar que a turma do futebol merengue reclama que a Champions não sai desde 2002…

Nesta sexta, no segundo jogo do dia, os madridistas aplicaram mais uma clínica gratuita e impiedosa, vencendo seu confronto por inacreditáveis 100 a 62. Já seria um placar absurdo contra qualquer oponente, o maior em semifinais da Euroliga. Mas quando você sabe que o Barcelona estava do outro lado, as coisas ganham contornos épicos – também foi o maior em Superclássicos em competições europeias, superando os 21 pontos na temporada 1993-94.

Esse é um termo que tem corrido um sério risco de cair num poço banal. Qualquer coisa hoje é épica, qualquer zé mané pode ser eleito um mito graças a uma pedrinha atirada de modo que ela quique na água sem afundar. Mas se a gente pega um Real que chegou a vencer 31 partidas consecutivas e já ganhou a Supercopa e a Copa do Rei em solo espanhol, com ambas as finais contra o mesmo Barça, e soma nessa conta o atropelo cometido em Milão, tudo fica muito grandioso, mesmo.

O Real, a essa altura, luta muito mais do que pelo título. O time de Pablo Laso luta para estourar a porta da história, entrando com tudo, como Cosmo Kramer costumava entrar no apartamento do Jerry. Com pompa e de modo estrondoso. Não será apenas uma equipe listada em meio a tantos outros campeões. Será um grupo relembrado para sempre, mesmo que não consigam repetir taças e o mesmo rendimento avassalador nas próximas campanhas.

O que não quer dizer que não houvesse um suspense para mais um duelo com o Barça em Milão. Marcelinho Huertas e seus companheiros haviam acabado de bater seu principal oponente no fim de semana passado, interrompendo uma sequência de três triunfos dos merengues.

Foi uma vitória com alguns asteriscos (Felipe Reyes, um líder e ainda um baita jogador, não jogou e Rudy Fernandez foi excluído por duas faltas técnicas e o Real tinha a liderança da liga nacional assegurada), é verdade, mas era algo que com o devido contexto colocava o favoritismo do clube blanco em dúvida. Afinal, o Barcelona já havia feito a melhor campanha do Top 16 da Euroliga e vinha numa arrancada na Liga ACB, com o maior saldo de cestas das últimas dez rodadas. Além disso, eles surraram o Real em quadra – embora o placar final tenha sido de 86 a 75, durante a partida a vantagem chegou aos 20 pontos. Tudo isso fazia a semifinal continental ainda mais e mais e mais interessante.

No primeiro quarto, um empate por 20 a 20 aumentava a tensão. O Real apresentou um ataque travado por uns seis, sete minutos – com um jogo atipicamente individualista, com poucas trocas de passes e precipitações na hora de concluir. Do outro lado, a equipe cometia muitas faltas, dando ao adversário o luxo de bater lances livres já a partir da marca de 6 minutos, enquanto Huertas brilhava em suas conexões com Ante Tomic.

Até que Laso chamou do banco de reservas seu MVP, Sergio Rodríguez, um pouco mais cedo do que o usual. E o panorama da partida se alterou drasticamente. O barbudo botou pressão para cima do armador brasileiro, levou ainda mais vantagem contra Victor Sada, e a intensidade de seu time começou a entrar nos conformes. Reyes e o tunisiano Salah Mejri também deram um bom empurrão na equipe, enquanto Nikola Mirotic atacava de modo exuberante, deixando qualquer pessoa ligada ao Chicago Bulls com água na boca.

O primeiro tempo terminou com uma vantagem já mais confortável, de oito pontos (47 a 35), mas era muito difícil prever o que viria a acontecer na segunda etapa. O Barça não conseguiu marcar mais de 14 pontos nos dois quartos, enquanto o Real acumulou 28 e 27. Um espanco, como diria Maurício Bonato. E as pancadas vinham de todos os lados.

Rodríguez foi mais uma vez fenomenal, 21 pontos em 20min51s, sem falar do aproveitamento de 4-5 (80%) nos chutes de três e as seis assistências, dos sete lances livres cavados e toda encheção que ele causa na defesa. Mirotic terminou com 19 pontos em 24 minutos, matando 6 de 8 arremessos de quadra e também foi presença constante na linha de bonificação. Reyes, Sergio Llull e um contido Rudy Fernández também superaram os 11 pontos. Só o caçula Daniel Diez, que entrou em quadra nos últimos 3min21s não fez cesta. Mais números: 60,5% nos chutes de dois (contra 43,6%), 48,3% de três, num número elevado de tentativas, 29, mas com bolas majoritariamente equilibradas (contra 27,8%) e 17 assistências para meros oito turnovers.

Os atletas do Barcelona perderam a compostura em quadra, ficaram desnorteados. Foi um nocaute literalmente técnico. Ainda tentaram apelar para a catimba e algumas faltas mais duras aqui e ali. Kostas Papanikolau, que lutava pelo tricampeonato, chutou a placa de publicidade e bateu boca com torcedores. Ficou feio.

Então percebem como esse título seria algo maravilhoso para o Real, né?

Tyrice Rice e Alex Tyus, decisivos no quarto período em vitória incrível

Tyrice Rice e Alex Tyus, decisivos no quarto período em vitória incrível

Agora, o Maccabi também te seus argumentos. Em Israel, estão acostumados a reinar de modo absoluto, mas ultimamente alguns concorrentes impertinentes vêm dando trabalho. No ano passado, o Maccabi Haifa, liderado por Gael Mekel – hoje reserva do Mavs –, ousou destroná-los na liga nacional. Nesta temporada, o time azul e amarelo ocupa a liderança, mas constantemente pressionado. É algo que incomoda, muito. Mas muito mesmo. Quase como uma nuvem de pernilongos carniceiros.

Em meio a esse desconforto, o clube chegou a perder quatro partidas seguidas – entre liga israelense e Euroliga –, e houve, acredite, quem especulasse ou pedisse a demissão de David Blatt. Algo inconcebível. Para ver como ficam mal-acostumados com o sucesso.

Pois bem. Sofrendo um pouco, o Maccabi conseguiu se desvencilhar de Bayern de Munique e Lokomotiv Kuban, e avançou aos mata-matas com a terceira colocação de seu grupo no Top 16, atrás de CSKA e Real. Nas quartas, derrubaram o Olimpia Milano para assumirem a condição de estraga-prazeres oficial do torneio continental, tirando os anfitriões do Final Four da competição, numa série encerrada em 3-1, mas com jogos duríssimos.

Mesmo os jornalistas locais mais camaradas admitem que este elenco de Blatt é o mais fraco do time de Tel Aviv a chegar ao Final Four nos últimos anos. De qualquer forma, depois de algumas semanas de turbulência, conseguiram se colocar entre os quatro melhores, encerrando um intervalo de dois anos.

Contra o CSKA, eu os colocava como azarões. E por três quartos o time moscovita fez valer esse palpite, chegando a abrir 15 pontos no placar. Na parcial final, no entanto, o armador Tyrese Rice, mais uma dessas formiguinhas atômicas – quase xará e sósia de Ty Lawson –, resolveu barbarizar. O baixinho se esbaldou contra Milos Teodosic, invadindo o garrafão russo quando bem entendia. De pouquinho em pouquinho, seja com suas bandejas ou com os rebotes ofensivos de Alex Tyus – livre, uma vez que os pivôs tinham de sair para tentar bloquear Rice, e a rotação defensiva de Ettore Messina não estava afiada o bastante para reagir rapidamente.

Aliás, um parêntese: após o fiasco de Zeljko Obradovic com seu milionário e caótico Fenerbahçe, dessa vez foi a vez de outra lenda viva do basquete europeu patinar. Um tanto impaciente durante a temporada, soltando os cachorros a toda hora, especulado como possível alvo do Utah Jazz, Messina claramente não soube potencializar todo o talento que tinha ao seu dispor. E, neste quarto período, deixou as coisas saírem totalmente de controle.

Demorou a pedir tempo, fez poucos ajustes e não encontrou um meio de frear Rice. Está certo que o armador Aaron Jackson, um defensor muito mais indicado que Teodosic, foi retirado lesionado nos minutos decisivos. Mas não há muitas desculpas além dessa para justificar o colapso do CSKA. Até que o mesmo Rice fez a cesta da vitória a 5s5 do fim, aproveitando-se de um desperdício de posse de bola infantil dos oponentes, com Victor Khryapa entregando o ouro bandido (aliás, valeu, Czar! A reputação agradece…). O clube russo ainda conseguiu deixar Sonny Weems (fora de sintonia no ataque, talvez cansado por perseguir Rick Hickman na defesa, anulando mais um dos destaques da fase final apontado por um certo bobão) livre na linha de três para um último chute, em vão.

O Maccabi perdeu o jogo praticamente todo e, completamente desacredito, aqui está na decisão. Então não há como eles não acreditarem que o título é possível, mesmo que o Real Madrid tenha feito uma apresentação soberba logo na sequência.

Confiança é uma coisa complicada, da qual não se pode duvidar. Pode equilibrar as coisas entre uma máquina de fazer cestas e um patinho feio nada pelas beiradas.

Se for para dar um palpite, fico mesmo com o Real. Só não digam aos rapazes de David Blatt que seria mais justo que a taça fosse para os espanhóis. Aos trancos e barrancos, também se constrói uma história marcante.


E o melhor time de basquete do mundo hoje é…
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Giancarlo Giampietro

O Indiana Pacers defende que é uma maestria. Mas, não, não estamos falando da rapaziada de Frank Vogel. E não adianta se deslocar para a Costa Oeste americana, por mais que o San Antonio Spurs de Gregg Popovich siga funcionando muito bem, obrigado.

Para ver o melhor time de basquete do mundo hoje, saindo de Indianápolis, o jeito é levantar voo, deixar a Flórida para trás, cruzar o Oceano Atlântico e, atenção tripulação, se preparar para o pouso na capital espanhola.

Real Madrid 2013-2014, um esquadrão com resultados impressionantes

Real Madrid 2013-2014, um esquadrão com resultados impressionantes

O Real Madrid está jogando demais nesta temporada.

Ok, você pode até argumentar que eles não ganhariam nunca uma série melhor-de-cinco-ou-sete do Miami Heat de LeBron James ou mesmo do Pacers. Provavelmente não venceriam, mesmo.

Mas que hoje, se formos abstrair o nível de competição, sem querer comparar Euroliga, Liga ACB ou NBA, numa realidade paralela em que só exista o basquete geral, puro – com o perdão da viagem, e sem o uso de lisérgicos –, o Real é a equipe que está praticando o melhor jogo no planeta.

Foi essa a impressão que tive ao sair da cabine de transmissão do Sports+ há três semanas, após uma de suas exibições pela Euroliga: um atropelo para cima do Zalgiris Kaunas, em Madri (95 a 67).

Só não deu para escrever a respeito na hora por falta de tempo. Além do mais, era preciso um pouquinho de prudência também, e avaliar outros times, outros torneios, ponderar um pouco. Agora, pronto.

Dois parágrafos acima, o termo “exibição” não foi gratuito: mais que jogando, o Real hoje está se apresentando ao público. Pode parecer um tanto exagerado, deslumbrado, mas recomendo: se não é assinante do Sports+ (que transmite a Euroliga com exclusividade*), ou do Bandsports (Liga ACB, o campeonato espanhol), vá a qualquer First Row, Roja Directa online da vida e reserve uma horinha ou mais de seu tempo para ver.

É um time extremamente veloz, de jogo solto, uma característica acentuada desde que Pablo Laso assumiu o clube depois de uma passagem um tanto frustrante do bambambã Ettore Messina. Não tem um brutamontes no time. Felipe Reyes, o eterno reboteiro, que adora o jogo de contato físico, talvez seja quem mais chegue perto desta definição, mas, para os que o conhecem de outros carnavais, sabe que seria exagerado julgá-lo desta maneira. E o gigante grego Ioannis Bourousis pode até parecer um quebra-ossos, mas tem jogo mais refinado, voltado para o perímetro, com bom arremesso.

Aliás, bons chutadores não faltam no elenco. Seu aproveitamento na Liga dos Campeões do basquete hoje é de 42,3% de longa distância, com três atletas convertendo 50% ou mais de seus disparos: o jovem ala Daniel Diez, o próprio Borousis, Dontaye Draper e o ridículo Nikola Mirotic, com 64% (!? – falemos mais sobre Mirotic depois).

(Quem fica mordido com isso é o Sergio Llull. O talentoso armador espanhol, cobiçado e cortejado há anos pelo Houston Rockets, é o segundo que mais chuta entre os madridistas, por mais que converta apenas 28,6% de suas tentativas. É um caso sério, aliás. Em suas primeiras seis temporadas no campeonato, teve aproveitamento de 34,9%, é verdade. Mas esse já seria um rendimento muito baixo para a Europa. E ele não para de chutar, algo que irrita ainda mais quando vemos o quão explosiva é sua passada rumo ao garrafão. Agora levante a mão quem já ouviu história parecida em algum canto do NBB?)

Voltando: sobre a velocidade do Real. Não é que eles saiam correndo a quadra feito malucos com as calças pegando fogo. De acordo com o  site gigabasket.org, eles usam em média 75,5 posses de bola por partida – a terceira marca mais acelerada da competição, coladinho no próprio Zalgiris e no Budivelnik Kiev e não muito distante do pelotão que se estende até o oitavo lugar. A média de toda a liga, para se ter uma ideia, é de 72,8.

Sergio Rodríguez está jogando o fino com seu visual Los Hermanos

Sergio Rodríguez está jogando o fino com seu visual Los Hermanos

De qualquer forma, quando você assiste a um jogo deles, tem a impressão de que  estão por todos os lados, dominando a quadra em sua totalidade. A bola e os atletas não param. A troca de passes e posições é incessante, de um lado para o outro, do garrafão para o perímetro externo, da linha de fora para a zona pintada.

No final, temos o time que mais deu assistências na até aqui (189, contra 177 do segundo colocado, o Lokomotiv Kuban, 152 do terceiro, o Olympiacos, ou 148 do décimo, o Fenerbahçe, para se ter uma ideia). Eles também lideram o ranking de assistência a cada turnover, o da mira de três pontos, estão em segundo em aproveitamento de dois pontos, são quarto em rebotes e enterradas e oitavo em total de lances livres cobrados.

Está bom?

Não, porque tem mais: a agilidade e intensidade do time também contam para um excepcional rendimento defensivo – é aquele que também mais acumulou tocos e roubos de bola, com uma postura bastante agressiva, que coloca muita pressão em cima da bola, para facilitar seus contra-ataques.

Com toda essa exuberância estatística, o clube merengue lidera o Grupo B com nove vitórias em nove rodadas. Ao lado do Olympiacos, que está na dianteira do Grupo C, são os únicos invictos da Euroliga, com a melhor campanha.

Aqui cabe outra intervenção, então: epa, grupos? Sim, grupos: os 24 clubes estão divididos em quatro chaves na primeira fase. Mas isso não torna injusto confrontar campanhas diferentes, ainda mais se apegando a tantos números? Sim, sim. O Fenerbahçe, por exemplo, encabeça o Grupo A, com sete vitórias e duas derrotas, mas vá olhar seus adversários. O time do legendário Zeljo Obradovic está lidando com superpotências como Barcelona e CSKA Moscou, dois dos maiores orçamentos do continente e candidatos perenes ao título. O Real, por outro lado, tem no Anadolu Efes seu principal adversário. Não dá para comparar, mesmo.

Bourousis, o brutamontes, ou quase, do Real

Bourousis, o brutamontes, ou quase, do Real

Mas aí vai uma réplica, então: não é que o time de Laso está apenas vencendo sem parar. Eles, na verdade, estão trucidando a concorrência. Em nove jornadas, somaram 212 pontos de saldo – média de 23,5 por jogo. Seu ataque é feroz: 803 pontos acumulados, 89,2 por partida.

É um domínio sem precedência numa competição dessas e que ganha ressonância na Liga ACB. Em casa, o Real Madrid tem dez vitórias em dez rodadas – enquanto o Barça já perdeu três vezes. Além disso suas médias de pontos são de 89,4 somados por jogo, para um saldo 22,8 a cada triunfo. É impressionante.

Como construir algo desse nível, com essa intensidade? Bem, Laso tem em mãos um elenco em que aquele papo todo de que “aqui não há titulares, somos todos um time, unha e carne” se sustenta. Sua rotação é extensa, com 11 jogadores ganhando tempo consistente. Os minutos são divididos entre os 25min52s de Rudy Fernández aos 11min52s do armador Dontaye Draper – o caçula Diez, o 12º jogador, recebe 6min02s em média e vai aproveitando as surras que o time aplica para ir para a quadra.

Os jogadores abraçaram a causa. Não há relatos de gente reclamando, chorando por mais minutos, arremessos, ainda que muitos deles sejam mais do que capacitados para carregar qualquer equipe. Aqui, o papel de cada um está bem definido. Pegue, por exemplo, o modo como o treinador utiliza seus armadores. O americano Draper joga bem a ponto de ser naturalizado para defender a Croácia em competições de seleção – veja bem o país… Não estamos falando de qualquer Azerbaijão ou Catar. No Real, ele começa praticamente todos os terceiros períodos, sem ganhar um minuto sequer na primeira metade de jogo, dividida entre Llull (geralmente no primeiro quarto) e Sergio Rodríguez (no segundo).

Llull e o Real Madrid estão motivados a deixar o Olympiacos para trás

Llull e o Real Madrid estão motivados a deixar o Olympiacos para trás

Esse tipo de entrosamento e planejamento está longe de ser algo de fácil ou simples execução – basta observar a dificuldade que Xavier Pascual, no Barcelona, e o próprio Messina, no CSKA Moscou, vêm tendo neste início de temporada para administrar elencos igualmente volumosos e talvez mais caros.

No caso do Real, além do sucesso em quadra – que jogador vai ousar reclamar em meio a uma campanha dessas? –, há outro fator que ajuda o controle de Laso sobre o grupo: a frustração pela derrota na decisão da temporada passada para o Olympiacos. A equipe abriu 17 pontos de vantagem no primeiro quarto, mas tomou uma virada desconcertante, deixando escapar um troféu que não erguem desde 1995. A frustração virou determinação.

Para os merengues, chegou a  hora. De serem os melhores – ao menos da Europa.

*  *  *

Na segunda fase da Euroliga, os 16 clubes restantes estarão divididos em dois grupos, e o Real vai ter adversários mais fortes pela frente para ser testado. A essa altura, contudo, desnecessário dizer que a preocupação é toda desses próximos rivais. Chegou a hora de falar um pouco sobre alguns dos Galácticos do basquete:

– Quem vai querer lidar com um Nikola Mirotic hoje em dia? O MVP de outubro da Euroliga está impossível: 62,8% nos chutes de dois, 64% de três e 86,8% nos lances livres. Tipo arma letal. Tem médias de 15,0 pontos, 5,3 rebotes 1,2 roubo de bola, 1,0 toco e1,2 assistência em 24 minutos. Com esse tipo de dominância, seu próximo passo parece realmente a NBA. É essa a expectativa do Chicago Bulls, que o draftou em 2011. Num momento tão duro para a torcida órfã de Derrick Rose, o rendimento do ala-pivô deve servir de alento. Dinheiro não seria um problema: caso decida ir para os Estados Unidos, uma vez que seu salário, pelo tempo de espera, já não precisaria mais seguir os limites impostos na escala tradicional dos novatos.

Sergio Rodríguez é, hoje, o melhor armador do mundo fora da NBA. Maduro, mas sem perder a criatividade, sai do banco para comandar a segunda unidade de Laso, desequilibrando as partidas combinando talento e agressividade, dos dois lados da quadra. Soma 11,7 pontos, 5,3 assistências, 1,7 roubo de bola em pouco mais de 20 minutos de média, com 55,3% nas bolas de dois pontos e 47,4% nas de 3. Afe.

– Num time com tanta gente boa, Rudy Fernández é aquele que se comporta como o astro, digamos – o topete está sempre muito bem alinhado. Fica muito claro em sua postura marrenta em quadra e na adoração da torcida.  Embora sua personalidade irrite um pouco, não há como negar que seu jogo é bastante vistoso e basicamente exemplifica o estilo da equipe: leve, atlético, com facilidade para se deslocar com e sem a bola. Médias de 13 pontos, 4,4 assistências e 3,3 rebotes, matando 59,5% dos chutes de dois e 93,3% dos lances livres.

Sergio Llull não está na sua melhor fase no ataque, mas é o melhor defensor da equipe no perímetro. Quando usado ao lado do xará Rodríguez, faz da vida dos armadores adversários um inferno, pressionando demais o drible.

Tremmell Darden chegou ao clube no meio da temporada pessada, sem poder jogar a Euroliga – vindo do Zalgiris Kaunas. O americano formado pela Niagara University caiu como uma luva no quinteto inicial, cumprindo muito bem um papel de “glue guy”, com vigor físico, energia e agilidade para complementar Fernández nas alas.

– O tunisiano Salah Mejri e o norte-americano Marcus Slaughter dão gás e asas à rotação de pivôs de Laso, complementando muito bem o jogo terrestre e raçudo de Felipe Reyes.

Jaycee Carroll seria um ótimo concorrente para disputar um torneio de três pontos em qualquer lugar do mundo. Sai do banco ao lado de Rodríguez e seria uma resposta do Real aos Ben Gordons do mundo. Quando está quente, saia de baixo.

*PS: Ok, abram espaço para o merchan: acompanho o time de transmissão do canal com os chapas Maurício Bonato, Rafael Spinelli, Marcelo do Ó e Ricardo Bulgarelli. É o canal 28/228 (HD) da Sky, com transmissões basicamente todas quintas e sextas-feiras e reprises espalhados pela programação. Lá você também segue muitos jogos da NBA, como o Indiana Pacers x Miami Heat da semana passada.


Final Four da Euroliga: os jogadores vinculados a clubes da NBA
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Giancarlo Giampietro

Ante Tomic faz farra

Ante Tomic crava contra os ex-companheiros de Real Madrid. Deixaram escapar…

Basicamente? A grande maioria dos jogadores que vão estar em quadra neste fim de semana pelo Final Four da Euroliga teria condições de fazer parte da rotação de um time de NBA. Alguns, como titulares. Outros? Completando o banco. Mas é inegável o talento. Vamos  publicar mais um post sobre o assunto, mas falando, claro, mais sobre a liga europeia do que a norte-americana. Aqui, seguem alguns atletas que já foram selecionados no Draft:

Sergio Llull (Real Madrid): o armador espanhol de 25 anos  foi a 34ª escolha do Draft da NBA de 2009, via Denver Nuggets, mas para o Houston Rockets, que desembolsou US$ 2,25 milhões (!!!) só para adquirir seus direitos. Essa é a compra mais cara de um pick na segunda rodada do recrutamento de calouros da liga. Então, sim, dá para dizer que Daryl Morey aguarda ansiosamente o dia em que poderá por as mãos neste explosivo jogador, um atleta de calibre da NBA que vem melhorando a cada temporada. O problema? Existe a possibilidade de que ele demore muito para cruzar o Atlântico, se é que vai fazer um dia. Seu contrato com o Real vai até 2014 e ele já deu a entender que não veria impedimento para estender esse vínculo. Estatísticas.

Nikola Mirotic (Real Madrid): o ala-pivô naturalizado espanhol tem 22 anos apenas, mas já é uma estrela na Europa e estaria pronto para defender o Chicago Bulls (que o selecionou em 2011 com a 23ª escolha) agora mesmo nos playoffs não tivesse um detalhe: o contrato com o Real até 2016. Mas os fãs do Bulls podem ficar tranquilos: a expectativa é que, no meio do caminho, ele negocie uma rescisão para tentar a NBA. Ainda precisa melhorar como um passador, mas sabe colocar a bola na cesta com tiros de média e longa distância e movimentos mais desenvolvidos próximo do garrafão. Sólido reboteiro e presença incômoda na defesa devido a sua envergadura. Estatísticas.

Kostas Papanikolau (Olympiakos): inicialmente draftado pelo New York Knicks no ano passado em 48º, teve seus direitos adquiridos pelo Portland Trail Blazers na negociação que mandou Raymond Felton e Marcus Camby de volta a Manhattan. Tem contrato até 2014 com o clube ateniense e estaria na mira do Barcelona. Eleito “a estrela ascendente” da temporada, aos 22 anos, é um ala muito forte e atlético que refinou seu arremesso a tal ponto que chega ao Final Four com aproveitamento de absurdos 52,7% na linha de três pontos. Bom reboteiro e defensor na posição. Estatísticas.

Ante Tomic (Barcelona): croata de 26 anos e 2,17 m de altura, escolhido pelo Utah Jazz na 44ª posição do Draft de 2008. Eleito o melhor pivô da temporada, com justiça. Vestindo a camisa do Barça, em muitos momentos relembra Pau Gasol em seus movimentos no garrafão. Tem um jogo de pés bastante criativo, girando para os dois lados, em direção ou no sentido contrário da cesta, podendo compensar algum desequilíbrio com munheca certeira (aproveitamento de 66,7%, terceiro melhor do ano). Tem contrato até 2015. Não está claro se tem interesse em jogar na NBA, mas seria um desperdício o Utah não tentar. Estatísticas.

Sasha Kaun (CSKA Moscou): existem lenhadores canadenses e existem lenhadores russos também, claro. Formado na universidade de Kansas, pela qual foi campeão ao lado de Mario Chalmers e Darrell Arthur em 2008, Kaun regressou para Moscou para construir uma firme carreira como uma força defensiva. Agora, se apresenta também como um jogador que precisa ser marcado perto do aro, tendo convertido 72,8% nos arremessos de dois pontos, algo elevadíssimo. Só uma coisa: na hora em que ele for cobrar lances livres, melhor fechar os olhos (51,6% e 49 air-balls segundo estatísticas extraoficiais). Kaun poderia dar uma força para Anderson Varejão em Cleveland, mas renovou seu contrato por três anos com o CSKA. Estatísticas.

Há também o caso de Erazem Lorbek, que hoje tem seu “passe” vinculado ao San Antonio Spurs, que está numa outra lista de jogadores que a NBA não conseguiu aproveitar:

* O Canal Sports+, da Sky, transmite nesta sexta-feira e no domingo todos os quatro jogos do Final Four da Euroliga. Transmissões na sexta e sábado a partir de 12h45 (horário de Brasília). Divido os comentários com Ricardo Bulgarelli. A naração fica por conta dos companheiros Maurício Bonato, Ricardo Bulgarelli e Marcelo do Ó, como foi durante toda a temporada.


Os europeus que a NBA não consegue ou conseguiu aproveitar
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Giancarlo Giampietro

Fran Vázquez garante que, dessa vez, esperou pela NBA até o último momento antes assinar com o Unicaja Málaga por dois anos e tentar atrapalhar a vida de nosso Augusto. As propostas só não vieram.

Fran Vázquez, NBA Draft 2005

Vázquez só usou o boné do Magic, mesmo

No caso desse pivô espanhol, é melhor que não pronunciem o nome dele na arena de outro mundo do Orlando Magic, porque seu vínculo, ou melhor, não-vínculo com a equipe da Flórida é uma das vergonhas de sua história recente. Ele foi selecionado na 11ª posição do Draft de 2005, mas nunca jogou sequer um minutinho de azul e branco. Ele preferiu passar seis temporadas pelo Barcelona.

Uma cortesia do ex-gerente geral do clube, Otis Smith, que selecionou Vázquez sem nunca ter conversado direito com o jogador, sem saber seus planos, o quanto confortável ele estaria em fazer a transição para a liga norte-americana, sobre o quão disposto ele estaria a deixar seu país naquele momento ou em qualquer momento de sua vida.

Sete anos depois? Ele bem que tentou, mas a nova diretoria do Magic já não estava mais tão interessada assim, enquanto Smith curte algumc ampo de golfe por aí.

Ninguém sabe ao certo como seria a trajetória de Vázquez, hoje com 29 anos, se ele tivesse assinado de cara. Teria se entrosado bem com Dwight Howard? O par certamente teria um potencial defensivo. Mas isso vai ficar sempre no ar e no estômago dos vizinhos de Mickey Mouse.

Pensando no espanhol, essa é uma boa hora para lembrar alguns dos europeus que foram selecionados pelas franquias nos anos que passaram e nunca chegaram a cruzar o Oceano, pelos mais diversos motivos:

Frédéric Weis, pivô francês, aposentado desde o início de 2011, mundialmente conhecido pela enterrada inacreditável de Vince Carter na final das Olimpíadas de Sydney-2000. Acontece que, um ano antes daquele, digamos, incidente, ele havia sido escolhido pelo New York Knicks na 15ª colocação do Draft de 1999. Detalhe: um posto depois, o Chicago Bulls escolheu o jovem Ron Artest, da universidade de St John’s, produto do Queens (assim como Scott Machado) e o anti-herói preferido do Vinte Um.

Então quer dizer: os fãs do Knicks já não perdoariam Weis facilmente por essa suposta traição. Desde que foi eternizado por Carter, porém, Weis foi uma carta fora do baralho nova-iorquino. Ele só foi útil em uma pequena troca feita em 2008 na qual seus direitos foram repassados ao Houston Rockets em troca de Patrick Ewing Jr.! Não dá para ser mais irônico que isso, dá?

Relembre, se preciso, “le dunk de la mort”:

Sofoklis Schortsanitis, o Baby Shaq grego! Cujo nome sempre foi um desafio para narradores e repórteres de Internet escrevendo os relatos de Brasil x Grécia na correria. (Oi!). O mais massa-bruta de todos, um terror no pick-and-roll simplesmente porque são poucos os que têm coragem de parar em sua frente quando ele recebe a bola partindo feito locomotiva para a cesta. Máquina de lances livres. Ganha uma boa grana na Europa, mesmo não tendo o condicionamento físico para atuar de modo eficiente por mais de 25 minutos por partida. Ele foi draftado pelo Clippers em 2003, na segunda rodada (34). Em 2010, quando venceu seu contrato com o Olympiakos, se aprsentou ao time californiano, mas foi recusado precocemente, algo estranho. Hoje seus direitos pertencem ao Atlanta Hawks.

Sofoklis Schortsanitis, locomotiva

Quem vai segurar Sofoklis Schortsanitis?

Erazem Lorbek, pivô esloveno que recusou o assédio firme do San Antonio Spurs neste ano, renovando com o Barcelona, para o bem de Tiago Splitter. Embora um pouco lento para os padrões da NBA, sem dúvida conseguiria se fixar, aos 28 anos, no auge. É extremamente técnico. Bons fundamentos de rebote, passe e arremesso – seja via gancho próximo do aro ou em chutes de média e longa distância. Seus direitos foram repassados ao Spurs pelo Pacers (que o selecionaram na segunda rodada do Draft de 2006, em 46º) na troca que envolveu George Hill e Kawhi Leonard.  Curiosidade: Lorbek chegou a jogar uma temporada por Tom Izzo em Michigan State, mas optou por encerrar sua carreira universitária para lucrar na Europa desde cedo.

Sergio Llull, armador espanhol, ainda aos 24 anos. Então dá tempo, ué, para ele jogar pelo Houston Rockets, não? Claro. Desde que ele não aceite a – suposta – megaproposta de renovação de contrato do Real Madrid, que lhe estariam oferecendo mais seis anos de vínculo, com um sétimo opcional. Sete!!! Parece negociação dos anos 60 até. Se esse acordo for firmado, o gerente geral Daryl Morey vai ter de se conformarm com o fato de ter pago mais de US$ 2 milhões por uma escolha de segunda rodada (34ª) no Draft de 2009 para poder apanhar esse talentoso jogador, um terror na defesa e cada vez mais confiante no ataque.

Dejan Bodiroga

Bodiroga, multicampeão na Europa

Dejan Bodiroga, ex-ala sérvio, para fechar no melhor estilo. Sabe, uma coisa me causa inveja: quando ouço as histórias daqueles que viram os grandes brasileiros de nossa era dourada. De não ter visto Wlamir, Ubiratan, Rosa Branca e cavalaria. Já aposentado, egoísticamente, Bodiroga entra para mim nessa categoria agora: “Esse eu vi (pelo menos)”.

Não sei qual o apelido dele na sérvia, mas deve ter algo derivado de mágico. Bodiroga foi selecionado pelo Sacramento Kings em 2005, na 51ª posição, mas nunca esteve perto de jogar na NBA. Seu estilo era muito peculiar, e também sempre houve a dúvida sobre como ele poderia traduzir seu jogo para uma liga muito mais atlética – ainda seria uma estrela? No fim, o sérvio nunca pensou em pagar para ver.

Na Europa, defendeu Real Madrid, Barcelona (no qual já atuou com Anderson Varejão), Panathinaikos, diversos clubes italianos. Pela seleção, foi três vezes campeão do Eurobasket, medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta-1996, bicampeão mundial. Em clubes, ganhou quatro Euroligas. Com 2,05 m de altura, mas de modo algum um jogador de força, ele era praticamente um armador com essa altura toda. Um passador incrível, um grande arremessador, conseguia também sucesso surpreendente também no mano-a-mano, investindo até mesmo contra defensores mais ágeis e fortes, devido a uma série de truques com a bola e muita inteligência. Um gênio. Aos 39 anos, já está aposentado e trabalha como cartola..


Nada de entregar: Espanha batalha no segundo tempo e está na semifinal
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Giancarlo Giampietro

Marc Gasol vibra contra a França

Marc Gasol entrou um pouco mais cedo no quarto final e decidiu

O quarto período avançava equilibrado, e lá estavam Marc Gasol, Rudy Fernández e Juan Carlos Navarro novamente enterrados no banco de reservas. Mas dessa vez dá para cravar: a Espanha não entregou a vaga nas semifinais para a França.

😉

Os campeões europeus fizeram mais uma partida apática no primeiro tempo, com problemas defensivos tanto como ofensivos. Vai ver que, ao justificar a derrota para o Brasil no encerramento da primeira fase, alegando que tem em seu elenco uma série de jogadores avariados fisicamente, o técnico Sergio Scariolo não estivesse blefando tanto assim. (E, de novo: se estava, a seleção não tinha nada com isso, embora não tenha se esforçado tanto assim.)

Ou estava, mesmo. No segundo tempo, sua equipe apertou o cerco, permitiu apenas 22 pontos em 20 minutos – tendo levado no quarto período apenas seis. Foi um desempenho bem  mais de acordo com o que a Espanha mostrou nos últimos anos.

Pois era difícil de entender: eles estão com o time completinho, incluindo o contratado Serge Ibaka pare formar, teoricamente, o melhor garrafão de Londres-2012. Sua base atua junto há mais de uma década. Nunca faltou intensidade para esta seleção, que, quando escalou Pau e Marc Gasol, se habituou a dominar os adversários nas últimas temporadas, esbarrando apenas nos Estados Unidos em Pequim-2008.

Neste torneio, no entanto, estavam correndo o risco nesta quarta de se despedirem com três vitórias e três derrotas, o que só faria crescer a frustração olímpica de seu país, que tanto precisa de glórias na capital inglesa para amenizar (naquelas) sua penúria financeira.

Supostamente, Navarro e Marc Gasol não estão disputado o torneio na melhor forma – daí os minutos poupados no início do quarto final? Rudy Fernández também passou por uma cirurgia nas costas no último mês de março. Seriam, então, três titulares baleados. Mas a grande força da equipe era justamente o volume de seu plantel, podendo selecionar 12 atletas que jogam nas duas principais ligas nacionais do mundo, a NBA e a ACB, oras.

Sergio Llull tratou de provar essa força no segundo tempo, perseguindo e anulando Tony Parker, sem aceitar o corta-luz de Boris Diaw. O armador zerou no quarto período, limitado a apenas quatro chutes, todos errados.

Nos minutos finais, a envergadura dos irmãos Gasol também fez a diferença. A França buscou as infiltrações, mas suas investidas eram contestadas pelos dois gigantes. Do outro lado, Marc foi quem apareceu para o desafogo. Uma bandeja sua a 40 segundos do fim abriu uma vantagem de cinco pontos. Num jogo tão equilibrado como esse, com duas defesas muito intensas, os cinco pontos eram uma enormidade, de modo que o destempero de Ronny Turiaf e Nicolas Batum só veio para confirmar o triundo daqueles que enfim jogaram como campeões.

Agoram, com muito custo, a Espanha conseguiu o que queria: está na semifinal, sem ter os Estados Unidos pela frente. Revanche marcada contra a Rússia.


Atiçados, EUA promovem blitz em último amistoso e atropelam a Espanha
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Giancarlo Giampietro

A Espanha provocou.

A torcida e os reservas vibravam com as andadas marcadas contra Kobe Bryant. Serge Ibaka, reforço contratado no ano passado, cravava e fazia pose no garrafão. Cabreiro, Kevin Durant não se conformava e amassava o aro. LeBron James também se precipitava e cometia turnovers. Coach K parava o jogo por precaução.

Oito pontos de vantagem contra os norte-americanos?

Vamos!

E foram, mesmo. A Espanha ainda venceu o primeiro quarto por 23 a 21, mas os Estados Unidos voltaram mudados para quadra e concluíram sua série de amistosos pré-olímpicos com mais uma vitória em Barcelona: 100 a 78 (vantagem bem mais largo do que fizeram contra Brasil e Argentina). Jogaram duro até o fim e só se contentaram quando chegaram ao placar centenário.

Carmelo Anthony, Team USA

Carmelo queimou a redinha no 1º tempo

Depois do tempo de Krzyzewski, começou a blitz. Sai Chris Paul, entra Deron. Entra Russell Westbrook. Entra Andre Iguodala. Volta Durant. Volta Kobe. Não para: a pressão fica absurda em cima da bola.

No ataque, equilibrando a balança, Carmelo Anthony, que vinha sendo questionado, só não fez chover no ginásio catalão. Marcou 22 pontos só no primeiro tempo, contra 25 do restante dos seus companheiros, para colocar os visitantes na frente. Não perderiam a liderança nunca mais. É complicado: quando não é Durant, vem Anthony. Quando não tem Anthoy, vem James. E segura.

No terceiro quarto, com um inefetivo Tyson Chandler preso no banco e os três alas-pivôs escalados – Durant, Melo e LeBron –, a diferença chegou a 20 pontos.

Para não ficar tão feio assim, o técnico Sergio Scariolo enfim começou a mexer seus pauzinhos. Passou a defender por zona, com as pestes chamadas Victor Sada e Sergio Llull na cabeça do garrafão, devolvendo um pouco a pressão na linha de passe. Por um tempo, os americanos, agora só com reservas em quadra, se enroscaram, e a vantagem caiu um bocado.

Quando iniciou o quarto final, com a cavalaria de novo a postos e Scariolo retirando sua defesa por zona (que só retornou nos minutinhos finais, para mais testes), o jogo já estava no papo. O amistoso, pelo menos.

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O segredo do técnico Sergio Scariolo, que dirige a Espanha? Guardou Marc Gasol a partida toda novamente. O pivô do Memphis Grizzlies está com esse problema físico há um bom tempo, pode ser sério, mas e se for jogo de cena? De modo que os EUA ainda não sabem o que é enfrentar a Espanha com Ibaka e os irmãos Gasol na rotação. Felipe Reyes, envelhecido, foi presa fácil.

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De resto, difícil acreditar que a Espanha tenha tirado tanto o pé assim. Perder em casa desse jeito não seria a melhor despedida antes de partir para as Olimpíadas, por mais que os irmãos Gasol tenham dito ao New York Times na véspera que não iam mostrar tudo. “Kobe não gosta de perder para ninguém, mas eu gostaria de deixá-lo vencer amanhã e derrotá-lo em Londres. Isso seria o ideal”, afirmou Pau.

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LeBron não cansa de surpreender. Impressionante: em alguns momentos marcou Pau Gasol, no mínimo cinco centímetros mais alto e bem mais comprido, no mano-a-mano, sem ajuda, no centro do garrafão, sem perder posição. Do outro lado, quando os dois se enfrentaram, não houve como o pivô do Lakers parar na frente do trator do Miami Heat.

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Vamos combinar: a partir de agora, quando o Coach K colocar em quadra Westbrook, Durant, LeBron e Carmelo ao mesmo tempo, vamos chamar aqui de Team Freak, ok? O ritmo fica alucinante, com Deron ou Paul armando.