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Arquivo : Sasha Vujacic

Euroligado: uma derrota basta para a crise
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Giancarlo Giampietro

São apenas três rodadas, faltam mais sete nesta primeira etapa. Mas, se você for parar um tico para ver o que se passa nos quatro grupos da temporada regular da Euroliga, transmitida no Brasil com exclusividade pelo canal Sports+, vai ver que algumas coisas já vão ficando mais claras. Quer dizer, que alguns clubes já começam a despontar, e, neste caso, você pode falar do Barcelona de Marcelinho Huertas e do CSKA Moscou, que não está nada órfão de Ettore Messina. Os melhores times deste princípio de campeonato. Não só pelas três vitórias em três semanas, mas muito mais pela qualidade de seus resultados. O Real Madrid, por sua vez, depois de sofrer nas duas primeiras partidas, se reencontrou em quadra para atropelar o Nizhny Novgorod em casa, vencendo por 39 pontos e batendo recordes. Enquanto isso, o Fenerbahçe, que novamente promete mundos e fundos…

O jogo da rodada: Panathinaikos 91 x 73 Fenerbahçe

Panathinaikos x Fenerbahçe, 2014-2015, Euroliga

Bom, já dá para ver que foi uma surra, que o time da casa não teve muita dificuldade. Então por que escolher esse? Devido ao simbolismo do sempre especial retorno de Zeljko Obradovic a Atenas e a influência  que o resultado pode ter no decorrer da temporada. Foi mais uma partida do Grupo da Morte, o C, para dar muita confiança ao Panathinaikos, que em tese correria por fora na chave, devido ao orçamento reduzido – a crise é braba, mesmo.

Para os que não estão muito acostumados com o basquete europeu, Obradovic é praticamente a encarnação de um deus grego para a torcida verde. Ele serviu ao clube de 1999 a 2012, conquistando cinco edições da Euroliga e 11 ligas nacionais, incluindo nove em sequência. Depois de um ano sabático, ele foi convencido pelo projeto intere$$ante do Fener a voltar para o torneio. Não foi o primeiro reencontro com o ex-time. Na campanha passada, a recepção foi das coisas mais impressionantes que já vi. Nesta quinta, a farra foi a mesma. O técnico sérvio agradeceu: “Quero agradecer ao povo do Panathinaikos pelo modo como eles me trataram novamente hoje. É algo especial para mim estar aqui”, disse. Para, depois, começar a desancar sua equipe.

Obradovic em Atenas? Festa só para um lado

Obradovic em Atenas? Festa só para um lado

“Sinto vergonha da imagem deixada por meu time”, disse. “É minha responsabilidade. Escolhi esses jogadores, e é meu trabalho. Tenho de mudar algumas coisas. Se vai ser possível, ou não, só o futuro vai dizer. Os torcedores estabeleceram um novo recorde de compras de carnês de ingressos na pré-temporada. Eles nos acompanham e realmente se importam com a equipe. O que posso dizer para eles agora?”

Uma observação: o Fener havia vencido suas duas primeiras partidas da chave. É o fim do mundo, né? (Risos.) Mas aí você checa a tabela da cada vez mais competitiva liga turca, e vê que lá eles também sofreram uma derrota em três rodadas, perdendo para o Royal Hali por 70 a 66. O Hali tem quatro americanos de ponta para os padrões europeus, mas foi uma zebra ainda assim. No caso do revés para o Panathinaikos, isso pode custar caro, com Olimpia Milano e Bayern de Munique fungando no cangote, também com ambiciosos planos.

Então, meus amigos, aqui estamos novamente. O Fener torrando aos montes, apostando num técnico legendário e um elenco totalmente abarrotado. O desafio parece ser o mesmo: convencer tantos atletas renovados a sacrificarem seus números, minutos, pontos em prol do time. Fazer a bola rodar mais, encontrando o melhor arremesso – já que opções não faltam. Enfim, transformar egos em um produto de basquete.

Os brasileiros
Marcelinho Huertas – no complicadíssimo Grupo C, o Barcelona teve nesta sexta-feira aquele que supostamente seria a partida mais fácil da chave: duelo com o Turow Zgorzelec, da Polônia, em casa. E foi isso mesmo: vitória por 86 a 67, com placar favorável em todos os quatro períodos. Titular absoluto, Huertas fez um pouco de tudo em quadra, em 26 minutos: 6 pontos (em dois disparos de três), 5 assistências, 6 rebotes e 2 roubos de bola. O ala-pivô Justin Doellman foi o cestinha, com 20 pontos em 25 minutos, para o clube catalão que, ao lado do CSKA, é o que faz a melhor largada na competição até agora.

Huertas pressiona na defesa: Barça larga bem

Huertas pressiona na defesa: Barça larga bem

JP Batista – o Limoges sofreu sua segunda derrota, ao cair por 75 a 69 em Málaga diante do Unicaja – um lugar no qual é muito difícil de se jogar. O pivô pernambucano somou 8 pontos, 5 rebotes e 4 assistências em 21 minutos, convertendo 4-8 arremessos de quadra. Melhor: sua participação foi decisiva nos principais momentos de sua equipe na partida. O campeão francês chegou a abrir seis pontos no início do segundo tempo, mas os anfitriões desembestaram a partir daí anotando 23 pontos contra apenas 2 dos adversários, abrindo vantagem de 13 pontos ao final do terceiro quarto. Na parcial final, resistiram a uma pressão dos visitantes.

JP, e seu tradicional semigancho no garrafão

JP, e seu tradicional semigancho no garrafão

Lembra dele?
Sasha Vujacic (Laboral Kutxa/Baskonia) Depois de destacarmos Andrew Goudelock aqui, na primeira rodada, agora é a vez de outro ex-jogador do Lakers, o ala-armador esloveno que, nos tempos (?) glórios foi inexplicavelmente apelidado de (?) “A Máquina”. Vujacic, na verdade, virou uma figura cult em Los Angeles por todas as lendas ao seu redor, incentivadas por Phil Jackson, diga-se. Essa história de máquina tem a ver com o aproveitamento que tinha de quadra nos treinamentos. Segundo consta, era um verdadeiro leão de treinos. Não errava um arremesso. Na hora do jogo, as coisas mudavam um pouco, ainda que Sasha, ex-namorado de Maria Sharapova e tal, nunca tenha sido reconhecido como um cara tímido. Pelo contrário, como provou nas finais de 2010, convertendo lances livres importantíssimos no sétimo jogo contra o Celtics.

Vujacic, em dia de maquininha

Vujacic, em dia de maquininha

A verdade é que, em Los Angeles, num time bastante estruturado, com Kobe Bryant, Derek Fisher e outros veteranos tomando conta da posição, não sobrava muito espaço para o atleta que teve média de 14,3 minutos em sua carreira pelo Lakers. Em 2011, foi trocado para o então New Jersey Nets e teve muito mais tempo de quadra. No ano do lo(u)caute, voltou para a Europa, pelo Anadolu Efes. Na temporada passada, teve uma curtíssima passagem pelo Los Angeles Clippers. Agora, fechou com o clube basco, ocupando vaga aberta pela dispensa de Orlando Johnson (ex-Pacers e Kings).

Ele fez sua estreia na sexta-feira e ajudou numa dura vitória sobre o Galatassaray, por 91 a 90, em casa, com 13 de seus 14 pontos no primeiro tempo. O esloveno jogou  por 21 minutos, acertando 50% de seus arremessos de quadra, incluindo 3-6 em três pontos.  O herói de verdade da partida, no entanto, foi o pivô Colton Iverson, que anotou a cesta da vitória a menos de 3 segundos do fim. O pivô americano, que foi draftado pelo Boston Celtics no ano passado e vai para sua segunda temporada na Europa, anotou 17 pontos e pegou seis rebotes em 24 minutos.

Uma jogada: vejam essa combinação espetacular de pick-and-roll entre Jeremy Pargo e Alex Tyus…

São várias coisas para se tomar nota. Uma: reparem em como Tyus parte feito um animal em direção ao aro, depois de fazer o corta-luz. Duas: ele já sabe o que pode (vai?) acontecer. Três: você precisa acelerar, mesmo, cortar com intensidade. Quatro: o passe foi um tanto forte e muito alto. Cinco: o sujeito ainda faz o domínio e desce com essa machada para a cesta. Incrível, e eleita a melhor da semana.

Em números
1.000 –
mais uma semana, mais um registro histórico para Dimitris Diamantidis. O capitão do Panathinaikos ultrapassou a barreira das mil assistências em sua carreira (chegou a 1.009) nesta quinta, dando dez passes para cesta contra o Fener. Só para deixar claro: ele já era o recordista do torneio nesse fundamento. Veja um belo clipe editado pela Euroliga para celebrar a marca, de qualquer maneira:

92,3% – o pivô americano D’Or Fischer, do UNICS Kazan, acertou agora 12 de seus 13 arremessos. O que vale um aproveitamento de 92,3%. Nem Steve Kerr no lance livre conseguia algo assim. Nesta semana, o time russo, dos novos ricos do basquete europeu, venceu o Dínamo Sassari por 85 a 62, em casa. Fischer acertou seis em sete, terminando com 14 pontos e 9 rebotes em 22 minutos.

41 – Vassilis Spanoulis precisou jogar 41 minutos e mais 26 segundos para que seu Olympiakos vencesse o estreante e modesto Neptunas Klaipeda por 85 a  81, na prorrogação, fora de casa, após empate por 76 a 76 no tempo regular. O ídolo grego usou da melhor forma possível seu tempo de ação, com 34 pontos, 7 assistências, 5 rebotes e 11-21 nos arremessos, com direito a 6-11 nos arremessos de longa distância. Craque demais.

Vassilis Spanoulis, MVP da rodada. Sai da frente

Vassilis Spanoulis, MVP da rodada. Sai da frente

34 – foi o índice de eficiência atingido pelo americano Brian Randle na vitória do Maccabi sobre o Alba. Ele marcou 25 pontos em 29 minutos pelo time israelense, o vice-campeão da Copa Intercontinental. Além disso, foram cinco rebotes, três tocos e duas assistências, numa grande exibição, também bastante versátil. Será um cara importantíssimo nesse processo de reconstrução do time.

1,53 – a média de ponto por minuto do americano Jaycee Carroll, uma das muitas armas do Real Madrid, contra os novatos russos no Nizhny. Também com nacionalidade do Azerbaijão, numa dessas bizarrices do mercado da bola – e dos passaportes –, Carroll  barbarizou na quinta-feira, com 32 pontos em 21 minutos, acertando 7-9 de longa distância e 10-14 no geral.

Tuitando:

Cuma!?

O jornalista turco revela essa interessante negociação entre o clube espanhol e o gigante turco. O armador francês Thomas Heurtel se valorizou muito depois da Copa do Mundo e está em seu último ano de contrato. O Baskonia precisa de mais um atleta que crie mais oportunidades de cesta por conta própria, o perfil de Hickman. O problema é que o americano saiu do campeão Maccabi para ganhar uma fortuna em Istambul. Vamos acompanhar essa. O italiano Marco Crespi, técnico do atual Laboral Kutxa, já tem uma história de sucesso com Hickman. Os dois trabalharam juntos na Itália, ganhando uma Leaga Due pelo Scavolini Pesaro.

Quando o Real encaixa seu jogo, é isso, mesmo. Vem recorde por aí, devido ao ritmo da equipe, agredindo constantemente o adversário com atletas talentosos, velozes e um elenco bastante volumoso. Das 33 assistências, nove foram do MVP da edição 2013-2014, Sérgio Rodríguez, enquanto seus companheiros de seleção Rudy Fernández e Sérgio Llull terminaram, respectivamente, com seis e cinco.


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