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Arquivo : Maccabi

O Maccabi campeão que deprimiu o poderoso Real
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Giancarlo Giampietro

Festa em Tel Aviv: em prédio, o placar da final. Mais que basquete...

Festa em Tel Aviv: em prédio, o placar da final. Mais que basquete…

“Esta Euroliga fomos nós que perdemos. Se tivéssemos feito as coisas um pouco melhor, seríamos campeões”, afirmou Felipe Reyes. “É uma das derrotas mais difíceis na minha carreira. A equipe que ganhou da nossa não é melhor do que o nossa. Estamos f*****dos.”

Primeiro: o capitão do Real Madrid e um dos símbolos da geração dourada do basquete espanhol realmente soltou esta última frase on the record para resumir o que ele e seus companheiros sentiam nos vestiários em Milão após a derrota para o Maccabi Tel Aviv na final do campeonato continental. Para quem o viu receber o troféu de vice-campeão com o maior desdém, já numa fossa danada, não chega a ser uma surpresa o uso, enfim, de impropérios em entrevistas. Justo com os atletas merengues, um grupo de caras certinhos que pouca emoção deram a matérias que procuravam exaltar uma temporada (quase?) histórica do clube.

Agora, com toda a sua experiência, aos 34 anos, disputando sua décima Euroliga, Reyes sabe, ou deveria saber muito bem que nem sempre o melhor time vai vencer por aquelas bandas. O formato do Final Four já abre naturalmente espaço para os azarões ou coisas atípicas – o Real, mesmo, não vai bater o Barcelona por mais de 30 pontos todos os dias. Há muitos fatores que podem levar a diversas, supostas injustiças. Mas o espanhol que experimente dizer isso diretamente a David Blatt ou Tyrese Rice, o MVP da fase decisiva, aquele mesmo que não tomou conhecimento de nenhum defensor madridista que se aventurasse em pará-lo.

Talvez Blatt pudesse fazer uma concessão: que, no papel, um por um, o elenco do Real de fato daria uma surra no que ele tem ao seu dispor. Quiçá admitisse, mesmo, na esportiva, embora não tenha obrigação nenhuma de fazê-lo. Foi seu time o campeão. E isso, para sua realização e a de milhares e milhares de fanáticos, é o que importa, no fim.

Yarone Arbel, um chapa israelense que acompanha o time e o campeonato há anos, colunista no site da Euroliga e scout profissional, já havia dito no Twitter, de modo um tanto premonitório: A única chance do Maccabi ganhar este jogo é dar uma de… Maccabi. Não será sobre o basquete”.

Foi um comentário que segue a linha do que disse Reyes, horas mais tarde. Sim, o melhor time, como demonstrado durante toda a temporada, era o Real. Acontece que esse Maccabi que chegou a Milão era um monstro completamente diferente daquele que estávamos acompanhando durante as semanas, meses anteriores. Eles estavam transformados.

O clube chegou a perder quatro partidas consecutivas em março, o que é caso para crise institucional. A boataria dava conta de que Blatt estaria absurdamente ameaçado em seu cargo. O time penou para chegar aos mata-matas, mas aí veio um momento mágico, que encaminharia sua jornada para outra direção.

No mesmo Mediolanum Forum, o Maccabi abria o confronto com o emergente Olimpia Milano, sem a vantagem do mando de quadra. Empolgada, atlética, em alta, a equipe da quadra vencia o jogo por 12 pontos, restando algo em torno de quatro minutos no confronto. Ou sete pontos com menos de dois minutos. Os israelenses conseguiram uma virada inacreditável, vencendo na prorrogação. Durante as entrevistas pós-título, o treinador, seus jogadores e os dirigentes concordaram: aquele foi o momento em que passaram a acreditar que algo “especial” estaria por vir (foi a palavra usada por todos).

Veio mesmo. Quando subiram para a quadra no Final Four, estava diante deles. Foram nove mil torcedores do clube em Milão? Há quem diga até 10 mil. Uma quantia muito maior do que a torcida dos outros três clubes juntos. Impressionante, ainda mais por incluirmos aqui Barcelona e Real Madrid – o CSKA tem um nome pesado, mas, depois de transmitir seus jogos por duas temporadas no Sports+, está claro que seus admiradores não podem ser confundidos como “seguidores”.

E não há como o time entrar em quadra, do outro lado do Mediterrâneo, e não se empolgar com aquele mar de camisetas e bandeiras azul e amarelas na arquibancada. Impossível passar incólume por isso e não se sentir ainda maior. Há quem possa achar piegas a frase, mas não vejo como evitá-la: ali, o Maccabi, sim, era mais que um clube.

Se formos pensar, testemunhamos algo parecido neste NBB, com a ascensão do Mogi durante os playoffs. Guardadas as devidas proporções, claro. A torcida veio junto, o time cresceu. Ou: o time cresceu, a torcida veio junto. Difícil dizer o que acontece primeiro. O que sabemos é que, de maneira indiscutível, os dois juntos tornam a criatura mais temerosa.

Vejam as fotos das comemorações em Tel Aviv:

De cima, estava assim

De cima, estava assim

De perto, dava para ver isso

De perto, dava para ver isso

Até que...

Até que…

No meio da baderna, Guy Pnini ergue a taça

No meio da baderna, Guy Pnini ergue a taça

Na Euroliga, o Real era superior financeira e tecnicamente, mas não tinha isso ao seu lado. Como clube, seu adversário era maior.

(Sobre o jogo em si, comento, meio atraso, um pouco mais tarde.)


Dois finalistas, duas jornadas diferentes na Europa, um título marcante
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Giancarlo Giampietro

O show do Real Madrid

O show do Real Madrid

O que dá mais confiança? Um atropelo contra seu arquirrival ou uma vitória de virada com cesta nos últimos segundos? Difícil dizer, ainda mais para quem acompanhou os dois belos jogos desta sexta-feira pela semifinal da Euroliga, mas o certo é que Real Madrid e Maccabi Tel Aviv vão para a decisão de peito estufado, em busca de uma conquista marcante.

Aí você fala: “Ô, cara, e que título não seria marcante? Seu bobo alegre”.

Tudo bem, tudo bem, pode falar.

Mas é que realmente há razões muitas razões para ambos os finalistas celebrarem, para tornar o troféu a ser entregue no domingo mais especial do que o normal.

O Real, por exemplo. A equipe jogou o basquete mais bonito, vistoso e, ao mesmo tempo, eficiente de toda a temporada. E pode incluir aqui NBA, ACB, NBB e qualquer sigla de sua preferência. Os caras cumprem uma temporada histórica, cheia de brilho, que merece todos os troféus possíveis para completá-la. Se for para interromper um jejum que já dura 18 anos, tanto melhor – a última vez que conquistaram o continente foi em 1995, e pensar que a turma do futebol merengue reclama que a Champions não sai desde 2002…

Nesta sexta, no segundo jogo do dia, os madridistas aplicaram mais uma clínica gratuita e impiedosa, vencendo seu confronto por inacreditáveis 100 a 62. Já seria um placar absurdo contra qualquer oponente, o maior em semifinais da Euroliga. Mas quando você sabe que o Barcelona estava do outro lado, as coisas ganham contornos épicos – também foi o maior em Superclássicos em competições europeias, superando os 21 pontos na temporada 1993-94.

Esse é um termo que tem corrido um sério risco de cair num poço banal. Qualquer coisa hoje é épica, qualquer zé mané pode ser eleito um mito graças a uma pedrinha atirada de modo que ela quique na água sem afundar. Mas se a gente pega um Real que chegou a vencer 31 partidas consecutivas e já ganhou a Supercopa e a Copa do Rei em solo espanhol, com ambas as finais contra o mesmo Barça, e soma nessa conta o atropelo cometido em Milão, tudo fica muito grandioso, mesmo.

O Real, a essa altura, luta muito mais do que pelo título. O time de Pablo Laso luta para estourar a porta da história, entrando com tudo, como Cosmo Kramer costumava entrar no apartamento do Jerry. Com pompa e de modo estrondoso. Não será apenas uma equipe listada em meio a tantos outros campeões. Será um grupo relembrado para sempre, mesmo que não consigam repetir taças e o mesmo rendimento avassalador nas próximas campanhas.

O que não quer dizer que não houvesse um suspense para mais um duelo com o Barça em Milão. Marcelinho Huertas e seus companheiros haviam acabado de bater seu principal oponente no fim de semana passado, interrompendo uma sequência de três triunfos dos merengues.

Foi uma vitória com alguns asteriscos (Felipe Reyes, um líder e ainda um baita jogador, não jogou e Rudy Fernandez foi excluído por duas faltas técnicas e o Real tinha a liderança da liga nacional assegurada), é verdade, mas era algo que com o devido contexto colocava o favoritismo do clube blanco em dúvida. Afinal, o Barcelona já havia feito a melhor campanha do Top 16 da Euroliga e vinha numa arrancada na Liga ACB, com o maior saldo de cestas das últimas dez rodadas. Além disso, eles surraram o Real em quadra – embora o placar final tenha sido de 86 a 75, durante a partida a vantagem chegou aos 20 pontos. Tudo isso fazia a semifinal continental ainda mais e mais e mais interessante.

No primeiro quarto, um empate por 20 a 20 aumentava a tensão. O Real apresentou um ataque travado por uns seis, sete minutos – com um jogo atipicamente individualista, com poucas trocas de passes e precipitações na hora de concluir. Do outro lado, a equipe cometia muitas faltas, dando ao adversário o luxo de bater lances livres já a partir da marca de 6 minutos, enquanto Huertas brilhava em suas conexões com Ante Tomic.

Até que Laso chamou do banco de reservas seu MVP, Sergio Rodríguez, um pouco mais cedo do que o usual. E o panorama da partida se alterou drasticamente. O barbudo botou pressão para cima do armador brasileiro, levou ainda mais vantagem contra Victor Sada, e a intensidade de seu time começou a entrar nos conformes. Reyes e o tunisiano Salah Mejri também deram um bom empurrão na equipe, enquanto Nikola Mirotic atacava de modo exuberante, deixando qualquer pessoa ligada ao Chicago Bulls com água na boca.

O primeiro tempo terminou com uma vantagem já mais confortável, de oito pontos (47 a 35), mas era muito difícil prever o que viria a acontecer na segunda etapa. O Barça não conseguiu marcar mais de 14 pontos nos dois quartos, enquanto o Real acumulou 28 e 27. Um espanco, como diria Maurício Bonato. E as pancadas vinham de todos os lados.

Rodríguez foi mais uma vez fenomenal, 21 pontos em 20min51s, sem falar do aproveitamento de 4-5 (80%) nos chutes de três e as seis assistências, dos sete lances livres cavados e toda encheção que ele causa na defesa. Mirotic terminou com 19 pontos em 24 minutos, matando 6 de 8 arremessos de quadra e também foi presença constante na linha de bonificação. Reyes, Sergio Llull e um contido Rudy Fernández também superaram os 11 pontos. Só o caçula Daniel Diez, que entrou em quadra nos últimos 3min21s não fez cesta. Mais números: 60,5% nos chutes de dois (contra 43,6%), 48,3% de três, num número elevado de tentativas, 29, mas com bolas majoritariamente equilibradas (contra 27,8%) e 17 assistências para meros oito turnovers.

Os atletas do Barcelona perderam a compostura em quadra, ficaram desnorteados. Foi um nocaute literalmente técnico. Ainda tentaram apelar para a catimba e algumas faltas mais duras aqui e ali. Kostas Papanikolau, que lutava pelo tricampeonato, chutou a placa de publicidade e bateu boca com torcedores. Ficou feio.

Então percebem como esse título seria algo maravilhoso para o Real, né?

Tyrice Rice e Alex Tyus, decisivos no quarto período em vitória incrível

Tyrice Rice e Alex Tyus, decisivos no quarto período em vitória incrível

Agora, o Maccabi também te seus argumentos. Em Israel, estão acostumados a reinar de modo absoluto, mas ultimamente alguns concorrentes impertinentes vêm dando trabalho. No ano passado, o Maccabi Haifa, liderado por Gael Mekel – hoje reserva do Mavs –, ousou destroná-los na liga nacional. Nesta temporada, o time azul e amarelo ocupa a liderança, mas constantemente pressionado. É algo que incomoda, muito. Mas muito mesmo. Quase como uma nuvem de pernilongos carniceiros.

Em meio a esse desconforto, o clube chegou a perder quatro partidas seguidas – entre liga israelense e Euroliga –, e houve, acredite, quem especulasse ou pedisse a demissão de David Blatt. Algo inconcebível. Para ver como ficam mal-acostumados com o sucesso.

Pois bem. Sofrendo um pouco, o Maccabi conseguiu se desvencilhar de Bayern de Munique e Lokomotiv Kuban, e avançou aos mata-matas com a terceira colocação de seu grupo no Top 16, atrás de CSKA e Real. Nas quartas, derrubaram o Olimpia Milano para assumirem a condição de estraga-prazeres oficial do torneio continental, tirando os anfitriões do Final Four da competição, numa série encerrada em 3-1, mas com jogos duríssimos.

Mesmo os jornalistas locais mais camaradas admitem que este elenco de Blatt é o mais fraco do time de Tel Aviv a chegar ao Final Four nos últimos anos. De qualquer forma, depois de algumas semanas de turbulência, conseguiram se colocar entre os quatro melhores, encerrando um intervalo de dois anos.

Contra o CSKA, eu os colocava como azarões. E por três quartos o time moscovita fez valer esse palpite, chegando a abrir 15 pontos no placar. Na parcial final, no entanto, o armador Tyrese Rice, mais uma dessas formiguinhas atômicas – quase xará e sósia de Ty Lawson –, resolveu barbarizar. O baixinho se esbaldou contra Milos Teodosic, invadindo o garrafão russo quando bem entendia. De pouquinho em pouquinho, seja com suas bandejas ou com os rebotes ofensivos de Alex Tyus – livre, uma vez que os pivôs tinham de sair para tentar bloquear Rice, e a rotação defensiva de Ettore Messina não estava afiada o bastante para reagir rapidamente.

Aliás, um parêntese: após o fiasco de Zeljko Obradovic com seu milionário e caótico Fenerbahçe, dessa vez foi a vez de outra lenda viva do basquete europeu patinar. Um tanto impaciente durante a temporada, soltando os cachorros a toda hora, especulado como possível alvo do Utah Jazz, Messina claramente não soube potencializar todo o talento que tinha ao seu dispor. E, neste quarto período, deixou as coisas saírem totalmente de controle.

Demorou a pedir tempo, fez poucos ajustes e não encontrou um meio de frear Rice. Está certo que o armador Aaron Jackson, um defensor muito mais indicado que Teodosic, foi retirado lesionado nos minutos decisivos. Mas não há muitas desculpas além dessa para justificar o colapso do CSKA. Até que o mesmo Rice fez a cesta da vitória a 5s5 do fim, aproveitando-se de um desperdício de posse de bola infantil dos oponentes, com Victor Khryapa entregando o ouro bandido (aliás, valeu, Czar! A reputação agradece…). O clube russo ainda conseguiu deixar Sonny Weems (fora de sintonia no ataque, talvez cansado por perseguir Rick Hickman na defesa, anulando mais um dos destaques da fase final apontado por um certo bobão) livre na linha de três para um último chute, em vão.

O Maccabi perdeu o jogo praticamente todo e, completamente desacredito, aqui está na decisão. Então não há como eles não acreditarem que o título é possível, mesmo que o Real Madrid tenha feito uma apresentação soberba logo na sequência.

Confiança é uma coisa complicada, da qual não se pode duvidar. Pode equilibrar as coisas entre uma máquina de fazer cestas e um patinho feio nada pelas beiradas.

Se for para dar um palpite, fico mesmo com o Real. Só não digam aos rapazes de David Blatt que seria mais justo que a taça fosse para os espanhóis. Aos trancos e barrancos, também se constrói uma história marcante.


Em quem ficar de olho no F4 da Euroliga: Hickman e sua jornada
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Giancarlo Giampietro

Ricky Hickman, Maccabi Tel Aviv, Euroliga

Para quem ainda não está farto de tanta emoção, com o que se vem passando nos playoffs completamente alucinantes da NBA e com tantas surpresas no NBB, então é hora de abrir os braços para uma carga extra de drama – e basquete refinado – neste fim de semana. Mais especificamente na sexta-feira e domingo, com o Final Four da Euroliga.

A gente pode falar de Barcelona e Real Madrid, que fazem mais um clássico de matar, ou das constantes potências CSKA e Maccabi, que história não falta. Na verdade, vamos tratar desses clubes, sim, entre hoje e amanhã. Mas, antes, prefiro gastar um tempo com os protagonistas em quadra.

Sim, os melhores jogadores do mundo, inclusive os europeus, estão do outro lado do Atlântico. Parker, Nowitzki, irmãos Gasol, Pekovic, Gortat e tantos mais. Mas não quer dizer que o segundo maior torneio de clubes do mundo fique só com as sobras. Há diversos atletas que assinariam contratos na NBA sem a menor dificuldade, sendo peças relevantes, mas que, por circunstâncias diversas – entre as quais se destaca invariavelmente a adoração de fanáticas torcidas e alguns milhões de euros na conta –, seguem jogando perto de casa.

Navarro e sua breve parceria com Pau Gasol em Memphis. Frustração

Navarro e sua breve parceria com Pau Gasol em Memphis. Frustração

Peguem, por exemplo, Juan Carlos Navarro. Desnecessário falar sobre o currículo, a reputação e o talento de La Bomba. Em sua única temporada nos Estados Unidos, ele não chegou a ser maltratado como Vassilis Sponoulis foi por Jeff Van Gundy em Houston, mas sofreu demais em um ano perdido do Memphis (60 derrotas!), no hiato entre os times de Hubbie Brown e Lionel Hollins. Ainda viu seu grande amigo Pau Gasol ser trocado. Um ano depois, correu de volta para Barcelona, aonde é rei, talvez chocado com a barbárie.

Este é um caso emblemático. Mas há diversos nessa linha: Erazem Lorbek, cortejado pelo Spurs ano após ano, mas que segue no Barça; Dimitris Diamantidis, o mito alviverde do Panathinaikos; Nikola Mirotic, o segundo grande sonho de qualquer torcedor do Bulls que se preze (o primeiro, claro, sendo um Derrick Rose 100%); sem contar os diversos americanos ignorados pelos Drafts da vida, mas que construíram e lapidaram toda uma carreira no velho mundo (Keith Langford, Daniel Hackett, Joey Dorsey, Ricky Hickman, Tremmell Darden, Aaron Jackson, Bryant Dunston etc. Etc. Etc).

Não dá para cravar que todos eles seriam bem-sucedidos num ambiente muito mais exigente do ponto de vista atlético, em que suas façanhas europeias talvez sejam ignoradas, tendo eles que batalhar novamente a partir do zero por respeito e o decorrente tempo de quadra. Dependeria muito da franquia, da diretoria e, claro, do técnico – sem contar a adaptação muitas vezes complicada, como Tiago Splitter e Mirza Teletovic podem testemunhar.

Há que prefira, então, evitar o risco, ficando numa zona de conforto, já bem remunerado. Mas também há aqueles que são simplesmente subestimados, mesmo, não vendo a hora de receber uma boa proposta, mas sem necessariamente estarem dispostos a assinar pelo salário mínimo da NBA, como fez Pablo Prigioni em seu primeiro ano de Knicks, já na reta final da carreira.

Pensando apenas nos quatro semifinalistas, vamos listar abaixo alguns craques que merecem ser observados com atenção, mas sem a menor preocupação se dariam certo ou não na NBA. Bons o suficiente para serem apreciados pelos que já fazem agora. Essa é uma lista que já deveria ter sido escrita antes, para relembrar o belíssimo campeonato que fez Andrés Nocioni, a versatilidade da dupla Emir Preldzic e Nemanja Bjelica, do Fenerbahce, o próprio Dunston, vigoroso pivô do Olympiakos, eleito o melhor defensor da temporada, o jovem italiano Alessandro Gentile, revelação do Olimpia Milano e candidato ao Draft deste ano, e muito mais.

Antes de chegar aos caras, um lembrete para contextualizar: para os que estão (bem) mais acostumados com a NBA, lembrem que o basquete Fiba é jogado em 40 minutos, e não 48. Logo, o tempo de quadra de uma partida da liga norte-americana é 20% maior, de modo que as estatísticas em geral são mais infladas por lá, fazendo alguns dos números abaixo parecerem tímidos. Além disso, a abordagem ofensiva das equipes de ponta da Europa tende a ser diferente, com mais jogadores assumindo responsabilidades, dividindo a bola, mesmo as que têm grandes cestinhas, que poderiam muito bem carregar um time nas costas.

E, ok, aqui entra o momento da propaganda: o evento será transmitido com exclusividade pelo Sports+, canal 28/128 da SKY, com este blogueiro lelé na equipe de equipe, ao lado do ultrafanático e informado Ricardo Bulgarelli e os narradores Maurício Bonato, Rafael Spinelli e Marcelo do Ó, que, cada um ao seu modo, ajudam a dar emoção ao jogo.

Vamos lá, enfim, a alguns destaques do F4, sem necessariamente ser os melhores do campeonato, mas apenas uma lista que dá na telha. Free style, mano, com pílulas publicadas nos próximos dias:

Ricky Hickman, armador do Maccabi Tel Aviv. 
28 anos, 12,8 ppj, 2,8 apg, 52,1% de 2 pts

Em Tel Aviv, é verdade: qualquer jogador que vista a camisa do Maccabi já pode ser considerado um astro. Nem que o apelo seja apenas local. Para Ricky Hickman, não importa nenhum asterisco, nem nada disso. A partir do momento em que assinou com a superpotência israelense em 2012, relevando algumas propostas financeiras mais atraentes, as coisas enfim passaram a fazer sentido, depois do tanto que remou. Agora, dois anos depois, no Final Four da Euroliga, é hora de curtir o basquete em alto nível.

Ok, para ser mais justo, vale dizer que o armador já havia disputado, na temporada anterior, o All-Star Game da Lega Basket, a liga italiana de pallanacestro. Um campeonato que já foi mais vistoso, mas que ainda merece o respeito. Mas chegar, enfim, a um clube de Euroliga, ainda mais um com essa tradição, era enfim a ratificação do sucesso em sua carreira. Depois de muita espera.

Vejam este currículo: PVSK Pecs na Hungria em 2007; em novembro do mesmo ano, transferência para o CS Otopeni Bucareste. Terminada a campanha, rumbora para  a Alemanha, nem que seja para defender time B do BG 74 Göttingen, numa liga regional. Em dezembro de 2008, assina-se, então, o Giessen 46ers, que hoje está na segunda divisão do país.

(Aqui vale um parêntese para falar sobre o Giessen: os caras já foram de elite e ganharam cinco títulos nacionais, o último nos anos 70, porém. Em seu perfil de Wikipedia, no entanto, o orgulho fica pelo fato de o clube ter contado com o pivô americano Kevin Nash em seu elenco.

Kevin quem? Nash, hoje um astro da luta livre “profissional”, mas que foi pivô lá atrás. Jogou pela universidade do Tennessee, onde se formou em psicologia e da qual foi expulso em 1980 por ter, claro, saído na mão com o técnico Don DeVoe. Largou, então, a NCAA e foi jogar por dinheiro, até se aposentar em 81, defendendo o 46ers, devido a uma lesão no joelho. Aproveitou a estadia na cidade de Giessen e se alistou em uma base americana, servindo por dois anos com tropas da OTAN. Como se não bastasse, também trabalhou numa linha de produção da Ford e foi gerente de um clube de strip. Até entrar para o fantástico mundo da luta livre. Fim de um longo parêntese completamente absurdo, voltamos ao currículo, diabos.)

Ricky Hickman, versão Finlândia

Ricky Hickman, versão Finlândia

Se as coisas não ficam tão bem em tablado germânico, que se mude então para a Finlândia, para defender o Namika Lahti (prazer em conhecê-lo. Aí, em 2010-11, torna descer a Europa novamente, agora para a Itália, na Segundona de novo, pelo Junior Casale. Em 2011-12, enfim, hora de brilhar em um campeonato decente, pelo Scavolini Pesaro, na elite italiana. Foi essa a trajetória de Hickman até aqui. Imagine quantos já não teriam largado as coisas na hora de jogar uma liga amadora alemã…

Pelo Pesaro, Hickman foi para o jogo das estrelas, mas foi seu compatriota e companheiro de time, o acrobático e um tanto errático James White, quem foi agraciado com o grande salto, assinando com o New York Knicks.  Sua recompensa, contudo, veio logo em sequência.

No Maccabi, o americano tem um papel um pouco parecido com o de Vasilis Spanoulis no Olympiakos, ou Juan Carlos Navarro no Barcelona, embora com estilo diferente. Ele é uma válvula de desafogo para o ataque, produzindo muito bem no mano a mano, com habilidade no drible e um primeiro passo avantajado. Só não peçam, contudo, que mate o jogo de três. Seu aproveitamento em dois anos de Euroliga é de apenas 33,8%. Não chega a ser péssimo, ainda mais que muitos chutes são contestados ou em situações de pressão, contra o cronômetro.

Mas é que esse jogador – que também consta da lista de estrangeiros com passaportes fantasiosos, tendo defendido a Geórgia no último Eurobasket, sem, contudo, se chamar Hickmanoshivili –. rende muito mais quando bate para a cesta, quebrando a primeira linha defensiva e bagunçando o sistema adversário.

A partir de suas infiltrações, ele chama a ajuda dos defensores e abre a quadra para os diversos chutadores que David Blatt gosta de escalar. É isso que o brilhante treinador espera de seu armador, especialmente quando Sofoklis Schortsanitis estiver respirando – ou transpirando – no banco de reservas. Agressividade e responsabilidade. Para quem já passou por tanta coisa na carreira, não há o menor problema.


Steven Adams, o novato mais odiado da NBA
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Giancarlo Giampietro

Steven Adams, cara, só a cara de bom moço

Steven Adams, cara, só a cara de bom moço

A atual classe de novatos da NBA nunca chegou a empolgar muito, nem mesmo antes do Draft. Gerentes gerais e scouts eram bastante pessimistas na hora de avaliar o talento do grupo de jogadores disponíveis. Bem, neste caso, as previsões estavam certas. Não há muito com o que se animar, não.

Apenas três jogadores têm média superior a 10 pontos por partida – Michael Carter-Williams (17,5), Trey Burke (13,5) e Victor Oladipo (13,4) – curiosamente, os únicos três candidatos que podem aspirar ao prêmio de calouro do ano, e não (somente) por encabeçarem a tabela de cestinhas de sua geração.

Agora, não quer dizer que os momentos relevantes da trupe mais jovem está limitado a essas três revelações citadas acima. Aqui e ali, aparecem alguns flashes de potencial. O Milwaukee Bucks que o diga com sua aberração atlética helênica que tem nome de Giannis Antetokounmpo (dados sobre o garoto estão sendo coletados,e  jajá ele ganha sua própria manchete, podem esperar).

De todos eles, aquele que mais vai fazendo barulho pelas coisas erradas – ou certas, depende do ponto de vista – é o Steven Adams. O pivô do Oklahoma City Thunder é uma das surpresas da temporada, tendo conseguido espaço na rotação de um time candidato ao título, quando muitos o consideravam meramente um prospecto a longo prazo.

Está preparado para embarcar nessa viagem pelo universo deste neozelandês atrevido?

Vamos juntos, o Vinte Um infoooooooooooorma pra vocêeeee, na voz do Nilson César:

– Vocês sabiam que Steven Funaki Adams é o filho mais novo de um batalhão de 18 irmãos!? Dá um elenco inteiro de NBA e três deles ainda precisariam ser lamentavelmente dispensados ao final do training camp.

– Imaginava que, dentre esses 18 irmãos, aos 20 anos, daquele tamanho todo, ele é o caçula?

– Aliás, se estamos falando de tamanho, que tal a altura dessa galera? Os homens têm média de 2,06 m, enquanto a das mulheres dá 1,83 m. Apesar da estatura, apenas outro dos irmãos Adams seguiu carreira no basquete, Sid Adams Jr., que joga na minúscula liga neozelandesa.

Valerie, a Adams mais laureada por enquanto, e de longe

Valerie, a Adams mais laureada por enquanto, e de longe

– Entre as irmãs, consta uma tal de Valerie Adams. É, a Valerie Adams atual bicampeã olímpica no lançamento de peso. Sim, a mesma que também sustenta um tetracampeonato mundial na modalidade, recordista em distância atingida (21,24 m) e em sequência de títulos na competição (desde Osaka 2007, sendo que já havia ficado com a prata em Helsinque 2005). Além do mais, em 2009, ela esteve aqui pertinho de nós, competindo no Grande Prêmio do Rio. Obviamente se despediu dos cariocas novamente como a vencedora.

– O pai dessa turma toda era o Sid Adams, um velho marujo da Marinha Real britânica. Vejam só.

– Sid navegou por aí e teve cinco diferentes mulheres. A mãe de Steven é de Tonga.

Isto é Tonga, no meio do Pacífico. Vamos todos?

Isto é Tonga, no meio do Pacífico. Vamos todos?

– Sid morreu em 2006, quando Steven ainda era um adolescente de 13 anos. O pivô afirma que estava desandando legal sem tê-lo ao redor, como referência, até que um dos manos mais velhos, Warren, assumiu os controles das coisas. Warren o levou da pequena cidade de Rotorua para a capital Wellington. Foi lá, numa academia de basquete, que ele começou a jogar para valer. Até para extravasar as emoções e energias.

– O coordenador da academia conseguiu que Steven se matriculasse numa escola privada local, a Scots College. Que hoje o relaciona como um de seus alunos de honra, claro, ao lado do All Black Victor Vito, de um governador da Irlanda do Norte, de um satirista e de um autor. Orgulho kiwi.

– Steven até começou a jogar pelo Wellington Saints da liga local, a NBL. Em 2011, foi eleito o novato do ano, mas o campeonato ficou muito pequeno para suas qualidades atléticas. Aí o rapaz pegou as trouxas e cruzou o pacífico em direção aos Estados Unidos. Fez um estágio na escola preparatória de Notre Dame, bastante tradicional no trato com basqueteiros – alô, Michael Beasley, Ryan Gomes e Shawn James. Não conhece o Shawn James? Pegue qualquer partida do Maccabi Tel Aviv no Sports+ para ver. Vale a pena.

– Estudando e treinando, Steven conseguiu a nota necessária para se inscrever na universidade de Pittsburgh. Os Panthers até que mandaram alguns jogadores decentes para a NBA nos últimos anos, como os ursões DeJuan Blair e Aaron Gray, o esforçado Sam Young e o delicado Mark Blount. Nenhum deles, contudo, foi uma escolha de primeira rodada – ainda que Blair só tenha caído no colo de Greg Popovich devido a exames de última hora que apontavam problemas estruturais em seus joelhos. O último jogador a ter deixado o time de Pitt e entrado na ronda inicial do recrutamento de novatos da liga foi o armador Vonteego Cummings (26º em 1999), um cara que não agradou nada em uma fase tenebrosa do Golden State Warriors no início da década passada.

– Nada disso importou. Adams demorou um pouco para se ajustar ao basquete universitário e, da metade de sua primeira e única temporada em diante, se soltou e começou a elevar sua cotação entre scouts e dirigentes, para os quais já havia se apresentado em um dos campos de treinamento da adidas em 2010. Treinou muito bem em sua turnê pelos Estados Unidos, impressionou as franquias com suas entrevistas particulares e acabou, com a 12ª escolha, se tornando uma das peças que o Thunder recebeu em troca de James Harden.

– Para quem o consideraria um mero projeto – seu físico e capacidade atlética impressionam, mas os fundamentos ainda deixam a desejar (veja o quadro abaixo) –, é surpreendente, sim, que esteja recebendo mais de 15 minutos em média por jogo. E pode ter certeza de que ele está aproveitando ao máximo cada instante em quadra. Com muita energia, saltitante, ele causa um fuzuê sempre que acionado para render o já ancião Perk.

Adams nem se mete a besta de querer tentr uma cesta que não seja realmente nos arredores do garrafão, e mesmo ali de perto tem dificuldade de finalizar. Ainda há muito o que evoluir nesse sentido, seja por entender o tempo certo para buscar os dois pontos, ou pelo desenvolvimento físico, para ganhar estabilidade por ali

Adams nem se mete a besta de querer tentr uma cesta que não seja realmente nos arredores do garrafão, e mesmo ali de perto tem dificuldade de finalizar. Ainda há muito o que evoluir nesse sentido, seja por entender o tempo certo para buscar os dois pontos, ou pelo desenvolvimento físico, para ganhar estabilidade por ali

– “Você já viu minha irmã?”, questionou o pivô neozelandês, respondendo a uma pergunta com outra interrogação, depois de se enroscar em quadra com Larry Sanders um dia desses. Estavam querendo saber se Adams, por acaso, não tinha noção do perigo de querer arrumar encrenca em meio aos gigantes da NBA. Para quem foi o caçula numa família de gigantes, moleza.

– Sem contar a óbvia paixão do pivô pelo rúgbi, o esporte que ele mais praticava até descobrir o basquete. “Os dudes no rúgbi ficam empilhados, levam um soco, joelhada e tudo isso “, afirma. “Eles poderiam estar sangrando, estarem machucados, mas ainda têm de jogar.”

– Sanders, na verdade, foi o quarto jogador a ser excluído neste campeonato depois de algum entrevero com o calouro do Thunder. O pivô do Milwaukee Bucks acertou uma cotovelada no rapaz, e a arbitragem viu. Mas sabe do pior/melhor? Seu oponente continuou jogando – e que fase a do Larry Sanders, aliás. O mesmo aconteceu com o espevitado Nate Robinson, com Jordan Hamilton, coadjuvante do Nuggets, e até mesmo com um pamonha como Vince Carter. Adams aparentemente consegue sempre dar a primeira, ao mesmo tempo em que evita o flagrante. O vídeo com Carter deixa isso claro. Jogo sujo ou duro?

Liderado por um Kevin Durant em fase esplendorosa, o Thunder tem tudo para ir muito longe nos playoffs. É nos mata-matas que os jogos ficam mais pesados, em que os adversários se estudam e se desgastam com a repetição dos confrontos durante os dias. O nosso estimado kiwi vai estar envolvido nessa. Faça as contas…. Sim, se você ainda não embarcou nesta viagem meio maluca com Adams, pode ter certeza de que ele vai chegar até você, de um jeito ou de outro. Só não se incomode com o cotovelo.


Menos um gênio no basquete: Theodoros Papaloukas se aposenta
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Giancarlo Giampietro

Papaloukas

Theo Papaloukas, bicampeão europeu pelo CSKA

Muitas conversas sobre o basquete, aqui mesmo em diversas ocasiões, podem terminar em como tal jogador é rápido, veloz como uma flecha, um vulto que você mal vê passar, como veio a ser conhecido Leandrinho nos Estados Unidos, por exemplo.

De ágil, ligeirinho, no sentido físico, Theodoros Papaloukas não tinha nada. No raciocínio, porém? Poucos podiam ler o jogo em um só flash como ele. E é esse tipo de jogador cerebral, sagaz que o basquete perdeu neste domingo, quando o ídolo grego anunciou sua aposentadoria depois  da conquista do terceiro lugar da Euroliga pelo CSKA Moscou, aos 36 anos.

Papaloukas, Hellas

Papaloukas dava um jeito

Um armador de 2,00 m de altura já é uma raridade. Com seu físico de ala-pivô? Mais difícil ainda. E que ele venha a ser um jogador de ponta? Que me lembre, em tempos recentes, só Papaloukas, mesmo – Anton Ponkrashov, da Rússia, seria um paralelo, mas sem metade da esperteza ou habilidade da lenda grega.

Uma vez que você se acostumasse com o nome e esquecesse as piadinhas infames inerentes, só dava para se admirar mesmo com esse armador que fez uma das melhores duplas da história ao lado de Dimitris Diamantidis – dupla que, com o passar dos anos e o desenvolvimento de Vassilis Spanoulis, virou um trio de luxo para a seleção grega.

Foi com essa turma que os helênicos puderam subir ao topo dos torneios promovidos pela Fiba na década passada, ganhando o título europeu de 2005 e o vice-campeonato mundial em 2006, quando derrotaram os Estados Unidos na semifinal. Era apenas o início do projeto governado por Jerry Colangelo, e o Coach K ainda se familiarizava com os macetes do jogo além das fronteiras dos Estados Unidos.

E de macetes Papaloukas estava cheio. A semifinal contra os EUA, mesmo, acaba sendo um dos grandes exemplos de como o armador podia ser o melhor jogador em quadra ainda que passasse a impressão de que se arrastava de uma cesta para a outra. Ele promoveu, com Diamantidis e Spanoulis, uma clínica de pick-and-rolls com Sofoklis Schorstanitis, desmontando a defesa norte-americana. Em 33 minutos, deu 12 assistências (quantidade incomum para um jogo Fiba) e somou ainda oito pontos e cinco rebotes (todos defensivos, um luxo para alguém de sua posição, que podia fazer a coleta e já sair jogando com a bola direto, economizando aqueles segundos em que o pivô precisa encontrar seu organizador para puxar um contragolpe).

Na meia-quadra, a mera troca de marcadores no P/R também era impossível porque o armador ou ala que ficasse com o Baby Shaq seria esmagado debaixo do aro. Por mais que não fosse dos mais explosivos no arranque, o grego fazia um bom papel atacando a cesta porque, mesmo que a cobertura chegasse em tempo para contestá-lo, ele podia usar seu tamanho e força para aguentar o tranco e converter a bandeja ou o chute em flutuação. E, se o treinador opositor ordenasse que a ajuda viesse das alas, estes marcadores extra precisavam ser de altos e/ou atléticos, uma vez que, com seus 2,00 m, o grego consegcontra os EUA, eles mataram 8 em 18 tentativas, 44,4%).

Se tiver coragem, aqui está o jogo  na íntegra, falando grego:

Foi realmente um pesadelo para os americanos: entre os segundo e terceiro períodos, a segunda unidade grega causou estrago, resultando em um placar de 63 a 45 nessas duas parciais. Bem, esse era um Papaloukas no auge. No mesmo ano, foi eleito o MVP do Final Four da Euroliga, ganhando o primeiro de dois títulos pelo CSKA, além de ter sido eleito o jogador europeu da temporada. Em 2007, foi o MVP de toda a Euroliga. Entrou também para o time da década da Euroliga (2001-2010). O currículo não tem fim, então paremos por aqui.

Papaloukas no auge

Papaloukas vibra na vitória histórica sobre os EUA no Japão

Só faltava ao armador um arremesso de longa distância respeitável. Ele termina sua carreira na Euroliga com um aproveitamento fraco, de 29,9%. Só em 2004-2005, ele acertou acima dos 40%, com 41,2%, mas isso nem pode contar já que, no total, ele arriscou apenas 17 tentativas. Era um problema crônico, que também se refletia em seu lance livre (69.2% no total). Que ele tenha vencido tantos títulos com um chute desses só serve como testemunho de seu controle mental sobre o jogo, ditando o ritmo das partidas com um drible consistente, movimentos de hesitação e afins.

Em entrevista ao site Eurohoops, Papaloukas diz se sentir afortunado. “Minha carreira começou em uma equipe de quarta divisão regional em Atenas, no Ethnikos Ellinoroson e vivi todas essas experiências com a seleção grega e o CSKA, o Olympiakos e o Maccabi. Uma carreira assim é uma benção e um privilégio”, disse. Na verdade, o privilégio foi todo nosso, né?

O ídolo grego afirmou ainda que vai ser difícil, claro, deixar o basquete para trás e viver uma vida normal por um tempo. Não sabe o que vai fazer de sua vida agora, se segue no envolvido com o jogo de alguma forma.  O que a gente sabe apenas é que ele não precisa ter pressa nenhuma para tomar essa decisão. Isso é algo de que nunca precisou para marcar época.


Em desfecho eletrizante, Euroliga define seus confrontos de quartas de final
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Giancarlo Giampietro

Olympiakos, de Papanikolau?

Foi suado, mas os campeões do Olympiakos seguem na briga para defender o título

Tá acabando, gente. Ou quase.

Nesta quinta-feira a Euroliga meio que concluiu sua segunda fase, o Top 16, de maneira eletrizante.

Por que “meio”?

Porque nesta sexta-feira os pangarés da Turquia, Fenerbahçe e Besiktas, ainda se enfrentam em um clássico de Istambul. Mas, como eles só apanharam durante toda essa etapa, o desfecho deste jogo não serve para nada, não exerce nenhuma influência sobre a continuação do campeonato.

Então, ok, dá para dizer que o Top 16 está encerrado, sim, e que foi uma última rodada de tirar o fôlego, e que agora temos de nos preparar para a fase de mata-matas, que tem tudo para pegar emprestada a imprevisibilidade dos Grupos E e F e apresentar confrontos para mexer com algumas das bases de torcedores mais apaixonadas da Europa.

Vamos, então, tentar contar em partes o que aconteceu no segundo maior torneio de basquete do mundo entre clubes.

A começar da notícia, em si: os duelos das quartas de final. Que são…

Barcelona x Panathinaikos
Real Madrid x Maccabi Tel Aviv
CSKA Moscou x Caja Laboral
Olympiakos x Anadolu Efes

Barça, Real, CSKA e Olympiakos têm mando de quadra num formato melhor-de-cinco (2-2-1), e a disputa começa já na próxima semana, com embates de terça a sexta-feira. Segura!

Difícil escolher um confronto mais equilibrado entre os quatro. Vamos analisá-los no decorrer dos próximos dias, a começar pelo supostamente favorito Barcelona (melhor campanha disparada da fase regular, mas com alguns desfalques importantes) contra o Panathinaikos neste sábado.

*  *  *

Esquadrão Barça

Barça, a melhor campanha da fase regular: 22 vitórias e só 2 derrotas

Como chegamos até aqui?

O Grupo E classificou , pela ordem, CSKA, Real, Anadolu e Panathinaikos – pelo caminho ficou o Unicaja Málaga, de Augusto Lima, que teve alguns bons momentos, mas, em geral, foi pouco utilizado em sua temporada pré-Draft da NBA.

Na última rodada, os quatro já estavam classificados, mas o drama era a luta pela segunda posição, valiosíssima, pela vantagem de definir em casa.O Real liderou a chave por diversas rodadas, mas acabou cedendo a ponta com uma derrocada no final, sendo derrotado nas 21ª, 22ª e 23ª jornadas, se recuperando apenas na última jornada, batendo o Anadolu por 20 pontos em Madri. O time terminou com 10 vitórias e 4 derrotas, contra 9 e 5 dos gregos e turcos. Os moscovitas tiveram 11 e 3, respectivamente.

Pelo Grupo F, teve muito mais drama.O Barça, absoluto, já estava classificado, e como líder. De resto, eram cinco times batalhando por três vagas. Maccabi e Olympiakos estavam empatados com 8 vitórias e 5 derrotas. Abaixo vinham Kimkhi Moscou, Caja Laboral e Montepaschi Siena com 7 triunfos e 6 reveses. E que saber do que mais? Havia dois confrontos diretos marcados para esta semana: Caja x Siena e Kimkhi x Olympikaos. Haaaaaja coração, amigo.

Acabou que o Caja, ex-time de Tiago Splitter e Marcelinho Huertas, bateu o Siena em casa por 76 a 64 em Vitória. O polonês Maciej Lampe barbarizou, com 27 pontos e 9 rebotes, acertando 12 de seus 19 arremessos. Vale mencionar também os 13 pontos e 13 rebotes (!) de Andrés Nocioni, sempre um leão. É aquilo: se você vai para a guerra – ou um jogo decisivo, digamos, de vida ou morte –, quem não vai querer um Nocioni ao seu lado? O clube basco, cujo nome original seria Baskonia, liderou de ponta a ponta, apesar dos esforços do armador/escolta americano Bobby Brown, um dos destaques individuais da Euroliga. Seria muito surpreendente se Brown não aparecer no elenco de algum clube da NBA no ano que vem, ou até mesmo neste ano.

O outro duelo imperdível aconteceu entre Olympiakos, atual campeão, e o Kimkhi, em Atenas, com vitória dos vermelhos por 79 a 70, um jogo mais duro, com os atletas do time russo tentando uma recuperação no segundo tempo, em vão. E, não, não foi Vassilis Spanoulis a carregar o time grego desta vez. Mas, sim, o ala Kostas Papanikolau, com 21 pontos e 12 rebotes e seis disparos certeiros em seis tentativas de longa distância. Afe. Para os torcedores do Blazers, olho nele: seus direitos na NBA pertencem ao clube de Portland. Uma derrota poderia ter eliminado o Olympiakos. Com a vitória, conseguiram o segundo lugar, ultrapassando o Maccabi.


Equipe sensação da Euroliga encara seu maior desafio: a luta contra a falência
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Giancarlo Giampietro

Paul Davis enterra

Paul Davis, MVP da quarta semana do Top 16, mas sem salários

Um dos melhores times da Euroliga corre o risco de se declarar falido, ou algo perto disso, nos próximos dias ou semanas. Uma pena, pois estamos falando justamente da maior surpresa do torneio até aqui, o Khimki Moscou.

Quer dizer, vamos relativizar essa história de surpresa. Talvez seja melhor trocar por sensação. Porque uma equipe que pode escalar Zoran Planinic, Vitaly Fridzon, Sergei Monya, Matt Nielsen, Paul Davis, James Augustine, Kresimir Loncar e, ufa!, Petteri Koponen tem de ser cotada para brigar de igual para igual com qualquer um.

De todo modo, em termos de nome e porte, de fato não há como colocar “Khimki” na mesma sentença de Barcelona, Olympiakos, Maccabi ou Montepaschi. E, ao tomarmos nota do que se passa com o clube nesta temporada, realmente não tem como comparar o clube com essas instituições, mesmo: o time moscovita está devendo salários aos seus jogadores há três meses.

Calma, que dá para piorar. Segundo informações passadas de dentro do vestiário para diversos veículos russos há casos de jogadores que não recebem, tipo, desde outubro. O que equivale a “desde-o-início-do-campeonato”.

Literalmente uma dureza.

Durante a semana, cansados de promessas não cumpridas pelo presidente Andrey Nechaev, os atletas anunciaram uma greve. Para o bem do torneio e até para evitar um vexame do basquete russo, decidiram ir para quadra na sexta para receber – e aniquilar – o Maccabi. Mas se recusaram a treinar nas dependências do clube e prometeram que não jogam neste fim de semana pelo campeonato russo. O que aconteceu é que a diretoria montou um elenco bem caro, mas sem ter os patrocínios e recursos necessários para bancá-lo. Uma situação bizarra para um clube que esteja disputando a Euroliga.

No confronto com o Maccabi, houve uma tensão no ar. Os jogadores demoraram para ir para a quadra, atrasando o início da partida em mais de dez minutos. Foi um recado claro para o clube e, neste caso, também para a direção da liga, de que as coisas não estão bem por lá. Que providências serão tomadas não está claro ainda.

KC Rivers sobe para a bandeja

KC Rivers, cestinha que sai do banco para o Khimki

Em jogo, naturalmente o Khimki começou mais devagar, um tanto desligado, permitindo muitos contra-ataques para a equipe israelense (destaque para o ala Lior Eliyahu, cujos direitos na NBA pertencem ao Minnesota Timberwolves). Do segundo quarto em diante, porém, tomado pela adrenalina da partida, o time da casa foi avassalador 69 pontos contra apenas 42 do oponente, vencendo de lavada: 88 a 67.

Paul Davis, veterano americano com bastante experiência no basquete espanhol e que já foi uma aposta do Clippers, teve uma atuação completamente dominante no segundo tempo, terminando com 16 pontos, 9 rebotes e 5 tocos, anulando o talentoso compatriota Shawn James, do Maccabi. De tão bem que jogou o jovem finlandês Koponen (direitos na NBA pertencem ao Mavs), Planinic, que é o craque do time e vive uma fase excpecional, nem precisou ficar em quadra por tanto tempo, limitado a 25 minutos.

“Falando francamente, não esperava que conseguiríamos jogar juntos de um modo tão perfeito como esse. Estou muito feliz pelo trabalho que fizemos em quadra hoje”, afirmou o técnico Rimas Kurtinaits, legendária figura do basquete lituano e ex-soviético e um dos integrantes das poderosas e históricas seleções da URSS formadas nos anos 80. Arremessava tão bem, aliás, que em 1989 foi convidado para participar do torneio de três pontos do All-Star Weekend da NBA em 1989.

O lituano realmente tem do que se orgulhar. Essa foi a 18ª vitória seguida do Khimki jogando em Moscou, contando partidas do torneio continental, da liga russa e da Liga VTB, que reúne equipes do Leste europeu e da Escandinávia (nota: é muito legal escrever e ler Escandinávia, não?). No Top 16 da Euroliga, estão em terceiro no Grupo F, com três vitórias em quatro rodadas, atrás dos invictos Caja Laboral e Montepaschi Siena, mas acima de Barça, Olympiakos e do próprio Maccabi.

Nada mal, e jogar isso fora seria realmente um baita desperdício.

*  *  *

Algumas notas sobre a Euroliga:

– Com sete vitórias seguidas, o Caja Laboral (ou Baskonia) é o time do momento. Com um jogo muito solidário e um elenco recheado de jovens peças emergentes na Europa, o time joga muito mais solto  desde a saída do cerebral, mas quase tirano Dusko Ivanovic, que foi substituído pelo croata Zan Tabak, ex-pivô que já foi um sparring de Hakeem Olajuwon no Houston Rockets campeão da NBA nos anos 90. A linha de frente formada por nosso amigão Andrés Nocioni, Nemanja Bjelica e Maciej Lampe, com o suporte de Tibor Pleiss (alemão draftado pelo Thunder) e Milko Bjelica é muito forte e versátil.

– No Grupo E, os lanternas são dois clubes alemãos: Alba Berlin, cujo plantel está num patamar abaixo, e Bamberg, excessivamente dependente do talentosíssimo cestinha Bostjan Nachbar. Ambos perderam seus quatro jogos no Top 16. Na chave F, são dois trucos na lanterna, também com quatro reveses: Besiktas e Fenerbahçe.

– A campanha do Fener é a maior decepção desta fase, aliás. Eles pensavam em título. Agora já correm sério risco de nem conseguir a classificação para as quartas de final. Com um elenco estelar, mas sem liga alguma, a pressão é enorme para cima do técnico Simone Pianigiani – mentor de campanhas arrebatadoras do Siena nos últimos anos. Bo McCalebb não lembra em nada o jogador das últimas temporadas, David Andersen já não consegue apanhar mais nenhum rebote, e os promissores Bojan Bodanovic (croata) e Emir Preldzic (turco) ainda não têm cancha suficiente para liderar a equipe. O técnico italiano precisa encontrar alguma forma de fazer esse time jogar.

PS: encontre o Vinte Um no Twitter: @vinteum21.


Há muito basquete além da NBA: a Euroliga começa a pegar fogo
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Giancarlo Giampietro

Sonny Weems, da NBA para o CSKA

O superatlético Sonny Weems substitui Andrei Kirilenko em Moscou

Por Rafael Uehara*

(Nota/Ótima notícia no Vinte Um: convidado do blog durante o mês de dezembro, o Rafael veio para ficar. Semanalmente, ele vai publicar um artigo por aqui. Aproveitem!)

O mundo não acabou, mas 2012 sim, e, com a virada do calendário, as principais ligas do mundo começam a pegar fogo nessa arrancada em direção ao fim da temporada. No caso da Euroliga, principal competição de clubes do continente Europeu, isso é sinalizado pelo TOP 16, que teve sua segunda rodada disputada na semana passada. Com a mudança de formato a partir dessa temporada, a segunda fase da Euroliga terá 14 rodadas para definição dos oito classificados para as quartas de final, ao invés de apenas seis em anos anteriores. Há ainda muito chão pela frente, mas já é possível se ter uma ideia de quais times são concorrentes legítimos ao título e quais precisam de mudanças drásticas para voltar à briga.

O Barcelona de Marcelinho Huertas foi à Rússia na semana que passou e perdeu apenas pela segunda vez na competição, 65-78 para o BC Khimki, mas não há dúvida de que a máquina catalã é a força mais respeitável do basquete europeu no momento. Mesmo com um elenco composto de menos jogadores de pedigree defensivo como no ano passado, liderado pelo técnico Xavi Pascual, o Barcelona está a caminho de igualar marcas históricas registradas em 2011-2012. De acordo com o site gigabasket.org, o Barcelona tem permitido apenas 88,8 pontos a cada 100 posses do adversário, marca muito similar ao 87,3 da temporada passada, o que é fantástico especialmente considerando que o time substituiu Boniface N’Dong, Fran Vázquez e Kosta Perovic por Ante Tomic e Nathan Jawai no pivô.

Juan Carlos Navarro, La Bomba

Um Barça menos dependente de Navarro no ataque para tentar o título

Tomic e Jawai foram incorporados ao time em uma tentativa de adicionar maior criatividade ao ataque, que sofreu demais contra o Olympiacos no Final Four do ano passado. Pascual fez as mudanças necessárias, incluindo maior envolvimento de Huertas, e o resultado tem sido um time muito menos dependente de Juan Carlos Navarro e Erazem Lorbek e que tem marcado em média três pontos por cada 100 posses a mais do que na temporada anterior. Graças à boa química entre Huertas, Jawai e Tomic no pick-and-roll, o Barcelona lidera a Euroliga em pontos no garrafão. Com esse ataque renovado e uma defesa histórica, o time catalão é, em minha opinião, o principal favorito ao titulo.

Talvez os rivais de Madri estejam no mesmo nível. O Real Madrid de Pablo Laso também está tendo um ano fantástico. Entre supercopa da Espanha, campeonato espanhol e Euroliga, os merengues perderam apenas quatro jogos até o momento, sendo um deles para o Barcelona semana passada. Com uma filosofia oposta aos inimigos catalães, o Real tem se estabelecido como o ataque mais feroz do continente. No momento, é apenas o terceiro classificado em pontos por posse (marcando em média 109,7 a cada 100), mas isso é porque o Montepaschi Siena e o Zalgiris Kaunas estão fazendo campanhas históricas em termos de eficiência. Com a adição de Rudy Fernandez (um talento fora de série no continente) e o desenvolvimento de Nikola Mirotic (a caminho de se tornar o melhor ala-pivô na Europa), o Real não tem como ser parado, apenas contido. Mas esse já era mais ou menos o caso na temporada passada. O que faz do time merengue um concorrente legítimo ao titulo este ano é a melhoria em prevenção, setor no qual o time subiu de 13º para terceiro em pontos permitidos por posse.

É o que diferencia o Real Madrid do Montepaschi Siena, por exemplo. O Siena tem o melhor ataque do continente, marcando em média 115 pontos a cada 100 posses de bola. Bobby Brown tem sido fantástico e lidera a competição com 252 pontos em 12 jogos após uma exibição magnífica de 41 pontos em apenas 18 tiros de quadra contra o Fenerbahçe, em Istambul semana passada. O Siena tem superado as expectativas pra esse ano. Devido a problemas financeiros do patrocinador, Banco di Monte Paschi, o time teve que se despedir de medalhões como Simone Pianigiani, Bo McCallebb, Rimantas Kaukenas, David Andersen, Nikos Zisis e Ksystof Lavrinovic e remontar um elenco com soluções mais baratas do que a torcida estava acostumada. O Siena começou o TOP 16 com duas vitórias, sobre Maccabi e Fenerbahçe, mas ainda é difícil vê-lo como concorrente ao título. Com a terceira pior defesa da competição, e a expectativa é que em algum momento sua falha retaguarda pesará.

Kaukenas fazendo das suas

Kaukenas encontra espaço para a bandeja pelo ataque sensacional do Zalgiris

Já o Zalgiris Kaunas de Joan Plaza não pode ser visto da mesma forma. Havia muitas dúvidas com relação à idade avançada do elenco e como esse time defenderia, mas o atual campeão lituano é o sexto colocado em pontos permitidos por posse, mesmo que apenas Tremmell Darden e Ibby Jabber sejam atletas de porte físico invejável. Essa aplicação no setor defensivo, mesmo que não seja de elite, tem sido o suficiente para dar suporte ao segundo melhor ataque do continente. É uma dinâmica curiosa e fenomenal: o Zalgiris marca a segunda maior taxa de pontos por posse e, ao mesmo tempo, tem a menor taxa de posses por jogo. Isto é, faz o máximo com menos. Plaza formatou uma maneira de jogar que minimiza os fatores idade e a falta de porte físico do time. Será interessante ver se o clube lituano conseguirá impor seu ritmo de jogo contra Real Madrid e CSKA Moscow, dois dos times mais atléticos do continente e dos poucos com atletas ao nível de NBA. Mas o que eles já têm feito até agora é suficiente para se estabelecer como força a ser respeitada.

Falando em CSKA Moscou, o time de Ettore Messina (que voltou pra casa após três anos divididos entre o Real Madrid e o Los Angeles Lakers) vem, quietinho em seu canto, fazendo a melhor campanha da liga até o momento. O CSKA tem sido muito menos dominante do que aquele time liderado pelo fantástico Andrei Kirilenko ano passado, mas venceu 11 de seus 12 jogos até o momento e é o quinto colocado em ataque e segundo em defesa. Talvez sejamos nós que tenhamos prestado menos atenção. Sonny Weems também é talento de NBA, mas empolga menos do que o sempre enérgico e impactante Kirilenko. A combinação de Weems e Dionte Christmas nas alas é o que diferencia o CSKA dos demais times do continente. Poucos têm a capacidade atlética da dupla. O sistema ofensivo ao redor de Nenad Krstic mudou, mas o pivô sérvio tem mantido sua excelência. Tem saído do banco apenas porque seu companheiro de posição Sasha Kaun está totalmente recuperado de uma lesão séria no joelho sofrida 18 meses atrás e Messina agora apresenta uma sutil uma queda por atletas de primeiro nível, depois de sua experiência nos Estados Unidos.

Em Israel, o Maccabi Tel Aviv de David Blatt começou o TOP 16 com duas derrotas para o Siena e o Caja Laboral, a última por um ponto em casa na semana passada. Vindo pra temporada, a dúvida era como esse time iria marcar pontos após as saídas de Keith Langford e Richard Hendrix. Mas, com um ataque certeiro em tiros de meia distancia e uma defesa que tem permitido o menor número de pontos no garrafão, a potência israelense está a caminho de fazer o papel que fez ano passado; timinho difícil de bater nas quartas de final. Mais que isso será uma surpresa considerando as limitações do elenco, mesmo que se há alguém capaz de tirar um final four desse time, esse alguém é David Blatt.

E por último, mas não menos importante, o atual campeão Olympiacos. A temporada começou meio estranha para os vermelhos de Piraeus, com duas derrotas nos primeiros três jogos e a saída do pivô Joey Dorsey do time após desavenças com o novo técnico Georgios Bartzokas, que substitui o legendário Dusan Ivkovic, aposentado. Mas as coisas se acertaram a partir dali. O Olympiacos ganhou sete jogos seguidos na Euroliga para terminar a primeira fase com vitórias em 10 jogos. Além disso, bateu o rival Panathinaikos no campeonato grego. A defesa se endireitou e o importantíssimo Kostas Papanikolaou se apresentou melhor depois de um primeiro mês muito tímido. O TOP 16 começou com derrota em Vitória para o Caja Laboral, rejuvenescido depois da demissão Dusko Ivanovic, mas os vermelhos se recuperaram com vitória sobre o Besiktas em casa. É difícil saber, porém, o quanto Dorsey fará falta nas fases finais. Ele foi peça fundamental na corrida ao título ano passado e seu substituto Josh Powell é um jogador de características totalmente diferente.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.


Hettsheimeir também teria de batalhar para entrar na NBA
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Giancarlo Giampietro

Cavs, Mavs. Troque um cê por um eme, e seriam esses os clubes da NBA mais interessados em contratar Rafael Hettsheimeir, segundo informação do site espanhol Tubasket que reproduzimos aqui na sexta-feira passada.

Rafael Hettsheimeir enterra pela Seleção

Hettsheimeir cresceu para o basquete brasileiro no Pré-Olímpico de Mar del Plata em 2011

Faltou, no post anterior, apenas replicar o mesmo exercício que fizemos com Scott Machado, mostrando o quão difícil ainda está para o armador realizar seu sonho de criança na liga.

Direto ao ponto: para Hettsheimeir, os prospectos de descolar um contrato garantido, um contrato de verdade com o Cavaliers ou com o Mavericks também não são muito animadores.

Veja por quê:

– O time de Cleveland acabou de renovar com o ala Alonzo Gee e agora tem 18 jogadores em seu elenco: os armadores Kyrie Irving, Jeremy Pargo e Donald Sloan; os alas-armadores Dion Waiters e Bobbie Gibson; os alas Gee, CJ Miles Omri Casspi, Luke Walton, Luke Harangody e Kelenna Azubuike; e os pivôs Tristan Thompson, Samardo Samuels, Kevin Jones (ainda não oficializado), Jon Leuer, Tyler Zeller, Anderson Varejão e Michael Eric.

Três desses aqui precisam ser dispensados até o início da temporada: Azubuike, Jones e Eric não têm vínculos assegurados até o fim do campeonato; imagino que Sloan e Samuels devam estar na mesma barca. Teoricamente, então, são cinco brigando por essas vagas.

Rafael entraria nesse páreo: se estiver disposto a batalhar seu contrato e estiver com o joelho firme, bom para competir em um mês, certamente teria condições suficientes para se afirmar. Mas, considerando seu status no basquete europeu, não parece o melhor cenário de fato para o prosseguimento de sua carreira.

– Em Dallas, 15 já estão alinhados e todos com contrato garantido pelo menos até o fim do ano: os armadores Darren Collison, Delonte West, Rodrigue Beaubois; os ala-armadores OJ Mayo, Dominique Jones e Jared Cunningham; os alas Vince Carter, Shawn Marion, Jae Crowder e Danthay Jones; os pivôs Dirk Nowitzki, Elton Brand, Chris Kaman, Brandan Wright e Bernard James.

Hettsheimeir teria, então, de jogar muito no training camp e na pré-temporada para forçar sua entrada na equipe. De modo que, ou Donnie Nelson teria de articular uma troca de um jogador por nada – daquelas por uma escolha de segundo round do Draft, dinheiro, os direitos sobre um europeu aposentado ou um saco de batatas –, ou Mark Cuban teria de aceitar assinar um cheque para, digamos, um Bernard James da vida, e pagar ao pivô militar até o final da temporada mas sem poder usá-lo. Bastante improvável essa segunda alternativa, ainda mais que o trilhardário agora entrou para o rol dos menos gastões da liga.

Então, neste primeiro momento, tudo depende de dois fatores: o quão determinado Hettsheimeir estaria em jogar na NBA, não importando as condições contratuais, em contraponto com sua cotação no mercado europeu. Ao final da temporada passada, especulava-se o interesse de clubes da Euroliga – como o poderosíssimo Maccabi Tel-Aviv –, o que definitivamente não estaria tão mal.

Agora, devido a sua cirurgia, isso pode ter esfriado. E também, vai saber, pode pintar um clube da NBA empolgado de última hora.

Estamos de olho por aqui.

*  *  *

No caso de Scott e Hettsheimeir: seria interessante o Brasil chegar a sete representantes na liga norte-americana? Claro – isso se Leandrinho conseguir seu emprego, o que vamos abordar daqui a pouco aqui no Vinte Um. Mas desde que eles estejam jogando, né? Por mais que existam ótimos programas de desenvolvimento de atletas em algumas franquias, que exista a D-League para os mais inexperientes, essas duas alternativas não são necessariamente as melhores. O basquete europeu pode estar sofrendo com os efeitos da crise econômica mundial, mas ainda é competitivo e técnico o bastante para se apresentar como uma alternativa que não deveria ser menosprezada.