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Steve Nash nunca mais: aposentadoria confirmada
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Giancarlo Giampietro

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Mais um termo gasto à exaustão no jornalismo esportivo? “Genial”. Não dá para banalizar uma palavra dessas, gente. Mas, para Steve Nash, cabe perfeitamente. Ou cabia: uma vez que, neste sábado, o armador confirmou que não vai ser mais um jogador de basquete.

Ele pode não ter ganhado um título, mas conduziu alguns dos times mais ofensivos (ou de “melhor ataque”, ou de “ataque mais eficiente”) da história da NBA. Seu Michael Jordan (aquele que barrou Malote/Stockton, Ewing, Barkley e Payton/Kemp no baile) acabou sendo, principalmente, Tim Duncan/Tony Parker – ainda que tenha perdido para Kobe/Gasol/Bynum/Mestre Zen/Artest (2010) e seu compadre Dirk Nowitzki também. Que mal tem nisso? Aqui, segue a recusa de julgar atletas por “vencedores” ou “perdedores”. Existe um vasto universo entre um e outro.

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Que ele tenha confirmado sua aposentadoria neste sábado sem poder entrar em quadra na temporada talvez seja mais doloroso que isso. Principalmente para alguém que gostava tanto de jogar e se empenhou tanto nos últimos 10 anos para tentar manter a forma, lidando com insistentes problemas nevrálgicos e/ou nas costas. O canadense usou e abusou da mágica equipe médica do Suns para isso. Tudo ruiu quando foi para o Lakers. Mas provavelmente a queda aconteceria de modo inevitável, pelo desgaste acumulado. A tal da idade.

No auge, em quatro temporadas, Nash teve aproveitamento de quadra superior a 50% nos arremessos, 40% de três e 90% nos lances livres. O invejável clube dos 50/40/90. Pensem nesses números e lembrem-se que o canadense estava com a bola – ao contrário de um Steve Kerr, que abria na linha perimetral à espera de um passe de Jordan, Pippen ou Kukoc. Talvez tenha sido o melhor arremessador da história da liga. Larry Bird, Jerry West, Nowitzki e Stephen Curry podem falar algo a respeito. É o tipo de coisa que não dá para cravar, mas Nash certamente está nessa discussão.

Ele viu esse passe: reparem em como está seu corpo. Não há equilíbrio algum, a passada foi encurtada e/ou esticada, mas ele fazia mesmo assim. Isso faz parte da capacidade atlética

Ele viu esse passe: reparem em como está seu corpo. Não há equilíbrio algum, a passada foi encurtada e/ou esticada, mas ele fazia mesmo assim. Isso faz parte da capacidade atlética

A capacidade para o chute andava lado a lado com sua habilidade atlética e visão de quadra e… Pera lá! Atlético?! Um cara que provavelmente nem conseguia enterrar? É, pois é. O nível de coordenação motora que o sujeito tinha vale mais que qualquer sprint. A impressão que sempre passou era a de que que seria o melhor levantador no vôlei,o melhor quarterback, o melhor armador no handebol e, quiçá, um camisa 10. É um talento atlético, sim — belo embora, incrivelmente, não seja dos mais visados, o que explica o fato de ele só ter recebido uma proposta de um College minimamente decente nos EUA: a modesta Santa Clara. Fazia o que queria com a bola, o que lhe propiciava realizar os passes “que ninguém via”.

Outro fator que não deve ser subestimado: o quanto Nash tornou aqueles que estavam ao seu redor melhores, craques ou não. Marion, Stoudemire, Tim Thomas, Raja Bell, James Jones, Dragic, Richardson e, claro, Leandrinho – um dos seus grandes amigos. Entre tantos outros. Inestimável contribuição, que faz qualquer dirigente parecer muito mais inteligente. Bryan Colangelo que o diga.

Essas características davam ao cara plena autonomia. Don Nelson e Mike D’Antoni entenderam e aceitaram isso sem problemas. (O que, aliás, é um baita mérito). Não é que seus times não tivessem jogadas cantadas ou “sistemas”. Claro que davam diretrizes. Mas a execução em quadra era muito mais livre do que em 95% dos casos que vemos por aí. Nash pegou a chave do busão e organizou tremendos passeios.

Era um jogador completo? No ataque, sim. Na defesa, sabia fechar espaços, mas tinha muita dificuldade em jogadas de mano-a-mano. Na hora do vamos ver, precisava ser “escondido”. Contra o Spurs, em vez de enfrentar um Tony Parker, por exemplo, ficava com Bruce Bowen na zona morta. Não acho que isso arranhe seu legado – sim, podemos falar de “legado” também. Seu Phoenix Suns revolucionou a liga, e até o algoz Gregg Popovich fala a respeito. Apontar falhas não serve para desmerecer aquilo que se faz bem. Poderíamos aceitar isso numa boa, não? (Russell Westbrook pensa que sim.) Na balança, Nash deu muito mais do que tirou.

Agora, o ex-armador vai se dedicar mais às filhas, ao cinema e ao cargo de gerente geral da seleção canadense. Tem em Curry um herdeiro quase natural — o armador do Warriors tem o drible e o chute e até marca bem mais hoje. Porém, não chega a ser tão intuitivo assim na hora de botar o time para jogar.

De qualquer forma, também tem um basquete genial. Aproveitem o rapaz, que Steve Nash nunca mais.

A foto que Nash escolheu para ilustrar sua carta de despedida

A foto que Nash escolheu para ilustrar sua carta de despedida

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Não é falsa modéstia, mas não esta postagem não faz jus ao jogador que foi Nash. Sua visão de quadra e instinto, a importância do Suns dos anos 00, a derrocada no Lakers eram todos temas que devem ser explorados com mais profundidade. Acontece que não houve tempo para preparar algo melhor – no futuro, dá para falar mais sobre esses tópicos e outros mais. Para esmiuçar a carreira do canadense, a imprensa norte-americana já nos deu grandes textos desde o momento em que ficou claro que ele não jogaria mais. Ao Marc Stein, repórter dos mais próximos ao astro, ele fala como anda sua vida hoje, como aceitou o fato de que não dá mais para jogar e sobre não se importar com qual seria o seu legado. Amin Elhassan conta como era trabalhar no time de um gênio, com detalhes saborosos. Ryan Wolstat, do Toronto Sun, escreve sobrseu impacto no Canadá e coleta números e tweets da NBA sobre ele. Bruce Arthur, do Toronto Star, nos demonstra como a carreira do armador foi uma aberração.

Talvez o melhor, mesmo, seja o próprio Nash contar o que fazia. Em vídeos como este:




Leandrinho faz a alegria do vestiário, diz técnico do Warriors
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Giancarlo Giampietro

Alvin Gentry é uma das figuras mais simpáticas que você vai encontrar no universo da NBA. Fala sério, sim, mas invariavelmente vai soltar um sorriso na entrevista, no contato com seus atletas e, ok, no contato com árbitros, mas de modo irônico. Talvez seja sua principal qualidade e aquela que o faz prosperar na liga, já com 25 anos de experiência no banco de equipes profissionais.

Foi com essa simpatia que o principal assistente técnico do Golden State Warriors parou por alguns minutinhos preciosos para falar com um anônimo repórter brasileiro, depois de ter falado em link ao vivo com o elegante Rick Fox, o ex-campeão do Lakers, hoje a serviço da NBA TV. No fim de semana das estrelas em Nova York, ele faz o papel de treinador do time dos americanos.

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Segundo fez questão de enfatizar ao VinteUm, o ala-armador Leandrinho poderia ser considerado uma versão sua mais jovem – 32 anos mais jovem, para ser mais preciso –, conquistando quem estiver por sua frente.

Esse é um fator muito valorizado no campeonato, tanto ou mais que os números. É o tipo de comportamento que garante ao hoje veterano brasileiro uma oferta atrás da outra no mercado de agentes livres, mesmo que de ano em ano. Desde que viu seu segundo e grande contrato expirar, o ala-armador tem assinado por vínculos de uma temporada. Com o Golden State, foi a mesma coisa, e com um agravante: seu contrato não era garantido.

Golden State Warriors v Utah Jazz

Mas Leandrinho ficou, mesmo que, em determinado momento, tivesse visto o ala Justin Holiday (irmão do Jrue) lhe tomar praticamente todo o tempo de quadra disponível para a reserva, ao lado de Andre Iguodala e Shaun Livingston. Em janeiro, o brasileiro teve média de apenas 8,6 minutos e 4,7 pontos.

Só não deixou a peteca despencar nessa fase de maré baixa. Quando foi chamado de volta por Steve Kerr, estava pronto para render. Em seis jogos em março, suas médias já são: 10,5 pontos e 16,5 minutos, com 45% de aproveitamento nos tiros de três pontos. Em seis dos últimos oito jogos, teve duplos dígitos na pontuação. Quer dizer: não é só de tapinha no ombro e piadas que um jogador sobrevive. Vejamos:

21: Sendo de um site brasileiro, você já pode supor que a primeira pergunta é sobre o Leandro Barbosa, né? Houve umas semanas em que ele perdeu seu espaço no time, vendo o Justin Holiday jogar bem mais. Agora, porém, está fazendo parte da rotação novamente e contribuindo. Qual a importância dele nos seus planos?
Eu gosto de chamá-lo de LB. E o que vejo e digo sempre sobre o LB é que ele é um cara tão bom de grupo e muito profissional. Então teve essa sequência, mesmo, em que ele ficou fora da rotação, mas ia todo o dia para o treino e dava um duro danado para retornar. E nos últimos jogos, sério, ele jogou muito, muito bem e nos salvou em algumas ocasiões, pelo modo como saiu do banco, pontuando.

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Você tem uma relação de longa data com ele, desde os tempos como assistente do Mike D’Antoni. Vendo esse Leandro de hoje e o Leandrinho de antes, que paralelos podemos fazer?
Ele está muito mais tranquilo em quadra, claro. Entende muito mais o jogo, fazendo coisas bastante inteligentes durante uma partida de basquete. Ao mesmo tempo, não perdeu quase nada de sua rapidez, o que é incrível. Para um cara que está há anos na liga, há 12 anos, e passou por uma cirurgia no joelho, e ainda é um dos caras mais rápidos que você vai encontrar na liga. Reforço que ele realmente é um companheiro muito querido por todos.

Já li sobre isso. Sobre como ele é festejado no vestiário quando encontra antigos companheiros? Qual tipo de coisa ele faz para ser tão popular assim?
Acho que se fôssemos fazer uma eleição no nosso time sobre quem seria o atleta mais popular, ele ganharia. É um cara divertido e que está sempre dando atenção a todos. Ele proporciona muita energia para o nosso time, energia no dia a dia para o vestiário, o que é sempre muito bom e importante.

Sobre a equipe como um todo, foi um sucesso nessa primeira metade do campeonato. Você já esteve envolvido com grupos nos mais diversos estágios. Qual a avaliação que tem sobre este grupo?
Para nós, o que interessa é estar jogando um basquete excelente quando chegarmos a abril e maio. Temos o potencial de fazer isso. Mas não dá para esquecer da conferência na qual estamos jogando, a Oeste, que tem um monte de times excelentes.

Correndo o risco de ver um Oklahoma City Thunder pela frente…
Pois é, não quero que eles se classifiquem como oitavo, ok? (Risos)

Talvez sétimo, então? (Risos)
Agora que eles estão saudáveis, vão alcançar um nível muito alto de jogo e terão a chance de subir… Mas a verdade é que são todos times muito bons e vamos encarar um deles, independentemente de quem seja. Vai ser complicado, de qualquer forma.

Golden State Warriors v Utah Jazz

Bom, para fechar: você já havia trabalhado com o Steve Kerr em Phoenix também, com ele no escritório de gerente geral. Estamos falando de um cara que já venceu seus campeonatos como jogador, foi um comentarista popular e agora tem um dos melhores times da liga sob seu comando. Qual o segredo desse cara?
É… Acho que o primeiro fator é que ele é um comunicador excelente e tem um relacionamento excelente com todos, incluindo aí os jogadores. Além disso, obviamente se dedica bastante ao que faz. Ele sempre quis ser um treinador, tinha esse plano de virar um treinador um dia e se preparou para isso. Talvez até por cinco ou seis anos tenha se preparado. Você pega isso e adiciona seu conhecimento de causa, seu conhecimento sobre o jogo, e não vejo como ele não se tornasse um treinador muito bom, assim como fez nos outros cargos que ocupou.


Steve Kerr e Golden State Warriors ignoram a pressão
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Giancarlo Giampietro

Kerr de roupa nova: grandes expectativas

Kerr de roupa nova: grandes expectativas

O mais comum, quando um técnico acaba de assumir o cargo, é pregar paciência. Que ele vai conhecer o elenco, estudar e preparar o terreno. Colocar em prática seus conceitos, e que leva tempo para isso. Ainda mais no caso de alguém que nunca exerceu a profissão antes. No caso de Steve Kerr e o Golden State Warriors, no entanto, as expectativas são as mais altas possíveis, e não há nenhum desconforto a respeito disso.

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Por quê? O que acontece aqui de tão especial?

Bem, em primeiro lugar, estamos falando de um clube que não vem fazendo a menor questão de falar baixo, desde que o especulador financeiro Joe Lacob assumiu o controle da franquia em novembro de 2010, em sociedade com Peter Gruber. Lacob, porém, é quem tem a voz mais ativa no dia-a-dia da franquia. No ano seguinte, prometeu, por exemplo, aos torcedores que a equipe voltaria aos playoffs e que teria um all-star. Nenhuma das duas aconteceu. Não tirou o pé do acelerador, no entanto. Tentou tirar DeAndre Jordan do Clippers, apostou em Mark Jackson como treinador, contratou Jerry “O Logo” West como consultor, acertou com o ex-agente Bob Myers para ser seu gerente geral, despachou Monta Ellis para Milwaukee em troca de um Andrew Bogut desacreditado por lesões etc. Deu uma bela sacudida na estrutura do clube, com ambições desmedidas. Hoje, não vai se contentar com derrotas nem mesmo para potências como Spurs e Clippers nos playoffs.

Do outro lado, o currículo de Kerr é impressionante. O cara foi um vencedor inconteste como jogador – não era protagonista, mas foi peça importante e decisiva em diversas conquistas, tendo sido pentacampeão da NBA, pelo Bulls e pelo Spurs. Ele se aposentou em 2003 e logo virou um popular comentarista de TV nos EUA. Retornou ao Phoenix Suns, o clube que o draftou lá em 1988, como gerente geral em 2007 e ajudou a formar um grande elenco. Desgastado em sua relação com o proprietário Robert Sarver, deixou o clube em 2010 e voltou a trabalhar na TV. com grande sucesso, explicando o jogo com facilidade, humor e vasto conhecimento dos meandros dos bastidores da liga.

Com uma trajetória e personalidade dessas, fora o vínculo do passado, virou o alvo primordial de Phil Jackson para o comando do New York Knicks nesta temporada. O namoro foi longo. O Mestre Zen o queria de qualquer maneira e até já dava o acordo como certo, na verdade. Mas os dias antes da assinatura do contrato acabaram sendo longos demais. O Golden State Warriors se apressou em demitir Mark Jackson e foi com tudo em sua direção. Lacob afirma que eles tinham amigos – e o golfe – em comum. Além do mais, o Warriors tem um elenco muito mais promissor e um dono que consegue suas manchetes, mas está bem distante do patamar de James Dolan.

Ao aceitar o cargo, Kerr fez a lição de casa. Já pegou no batente logo em julho ao dirigir a equipe do Warriors na liga de verão de Las Vegas, para quebrar o gelo. Depois, seguiu num périplo ao redor do mundo para encontrar alguns de seus jogadores, com direito a visitinha a Andrew Bogut na Austrália – onde encontraria também o ex-companheiro de Bulls, Luc Longley, primeiro australiano a jogar na NBA. “Ele inclusive trouxe um iPad para o almoço e me mostrou alguns clipes do Longley fazendo a mesma função que espera de mim, como um facilitador no sistema de triângulos e que gostaria que eu fosse um pouco mais agressivo ofensivamente, com mais jogadas passando por mim, então isso é sempre bom de ouvir”, afirmou o pivô, do tipo de atleta contestador, inteligente, que não vai aceitar qualquer coisa dita em sua direção.

Ter um Jerry West ao lado nunca faz mal

Ter um Jerry West ao lado nunca faz mal: mudança nas estruturas da franquia

Ao que tudo indica, o contato de Kerr com os jogadores foi um sucesso, com habilidade no trato com pessoas e a autoridade que seu histórico no basquete inspira. E era uma aproximação essencial para o técnico, ainda mais depois da polêmica saída de Mark Jackson, outro ex-armador que estreou como treinador também pelo Warriors, vindo da TV e que virou uma figura realmente venerada pelo atual elenco – embora não fosse uma unanimidade, com Bogut sendo uma exceção declarada. Jackson, por outro lado, criou muitos problemas internos, ganhando a fama de personalista.

De qualquer forma, não era uma decisão fácil de se ter tomada. Após a derrota para o Clippers pelos playoffs passados, Curry, por exemplo, saiu em defesa do antigo mentor de modo enfático. “Amo o treinador mais do que qualquer um. Ele estar numa situação em que seu trabalho passa por escrutínio e questionamento é totalmente injusto, e seria definitivamente um choque para mim se algo como uma demissão acontecer”, disse o superastro da franquia.

Mark Jackson ficou no passado. Já?

Mark Jackson ficou no passado. Já?

Pois a guilhotina desceu. Para lidar com uma situação dessas, apenas um nome tão badalado como Kerr poderia dar aos diretores a chance de ao menos tentar convencer o armador a rever sua opinião inicial. O contato com Kerr parece já ajudar para isso. “Ele participou de equipes vencedoras. Já jogou para dois técnicos de Hall da Fama e duas grandes organizações. Ele vai trazer um monte dessas lições, sabedoria e QI de basquete para a mesa”, afirmou Curry. De quebra, o craque ainda lembrou que se trata de outro legendário arremessador da liga – e que talvez pudesse ensinar um truque ou outro para ele também. Opa.

Na hora de sugerir Andre Iguodala como um reserva do time, de modo que ele jogue como o segundo armador da rotação da equipe quando Curry estiver descansando, o novo técnico também mostrou destreza. “Não sei se ele vai começar os jogos por nós, mas sei que ele vai estar em quadra no final”, assegurou.

São todos ótimos indícios de tino para a coisa que Kerr vem apresentando. Em quadra, o time fez ótima pré-temporada e iniciou o calendário oficial também com apresentações convincentes. A pressão fica para outro.

O time: para um plantel com Curry, Thompson, David Lee, o mais comum de se presumir é que a defesa fosse um problema e que o ataque, moleza. Certo? Acontece que, para o Warriors 2013-2014, foi quase o inverso. Com Mark Jackson, o time chegou a evoluir a ponto de ter a terceira defesa mais eficiente da liga, atrás apenas de Indiana e Chicago. Algo chocante. Por outro lado, seu sistema ofensivo foi apenas o 12º mais produtivo. Kerr vai tentar encontrar mais equilíbrio ao time. A ideia, no ataque, é trocar muito mais passes e apostar menos em  lances individuais com seus cestinhas, tendo em vista sua experiência com Phil Jackson e Gregg Popovich no passado.

A pedida: sucesso nos playoffs e… título.

Olho nele: Leandrinho. O brasileiro já está em sua 12ª temporada. O tempo passa, de fato. E passa ainda mais rápido quando estamos falando do ala-armador que jogou por tanto tempo no Phoenix Suns, mas agora chega a seu quinto clube nas últimas quatro temporadas. O ligeirinho assinou um contrato sem garantias com o Warriors, no qual reencontra Steve Kerr. Sua presença no elenco, todavia, era praticamente certa. Vindo do banco, ele assume o papel que era de Jordan Crawford no campeonato passado. A função é a de sempre, aquela que o consagrou na década passada: reforçar o ataque da segunda unidade com tiro de três pontos e velocidade, sendo ainda bastante efetivo. Mas com menos responsabilidades, com algo em torno de 16 minutos por partida. Um ótimo complemento para Shaun Livingston e Andre Iguodala entre os reservas.

Leandrinho reencontra ex-chefe do Suns na Califórnia

Leandrinho reencontra ex-chefe do Suns na Califórnia

Abre o jogo: “É um saco sair do banco. Vou ter uma longa conversa com o treinador. Estou cansado disso, e não dá mais para aguentar isso”, Iguodala, sobre seu novo papel de sexto homem do time. Mas, calma: era tudo em tom de brincadeira.

O veterano aceitou numa boa sua nova posição e já disse inclusive que isso lhe permitiria ajudar os companheiros a marcarem mais pontos e ganharem uma graninha maior. “O Draymond está num ano de contrato vencendo, então vou cuidar de dar a ele um pouco mais. Ele vai fazer um pouco mais de cestas jogando ao meu lado”, disse. “Estou chocado”, avaliou Leandrinho. “Não acho que Andre já tenha ficado nesta posição antes em todo esse tempo em que está na NBA.”

Você não perguntou, mas… as medições avançadas de estatísticas que vão tomando conta da NBA encontraram um modo de comprovar que Curry é, sim, o arremessador mais temido destes tempos. É o cara que mais preocupa as defesas fora da bola, segundo aponta o sistema de câmeras que monitoram o comportamento dos atletas em quadra, o SportVU. Os dados avaliados: “pontuação de gravidade”, que quantifica o quanto um defensor fica grudado ao seu adversário, quando ele não tem a bola em mãos, e “pontuação de distração”, que mostra o quanto o marcador se distancia de seu oponente para fazer a dobra em cima do atleta que está com a bola. A partir da distância calculada pelas câmeras, o analista Tom Haberstoth, do ESPN.com, fez uma média dos dois índices, e o resultado foi o gatilho do Warriors na ponta, acima de Kyle Korver, Kevin Martin, Kevin Durant e James Harden, pela ordem. “Sempre ouvimos que você precisa respeitar o arremessador. Agora podemos identificar isso cientificamente”, escreve. “A ideia não é catalogar os melhores chutadores da NBA, mas, sim, ver quais jogadores puxam mais a defesa fora da bola. O que é fascinante é que essa métrica ignora as estatísticas computadas no jogo e depende somente da medição óptica. Assim está a NBA em 2014.”

latrell-sprewell-wariors-card-1997Um card: Latrell Sprewell. O ala foi um grande cestinha, com um dos primeiros passos mais explosivos que a liga já viu, batendo seus defensores mesmo que eles soubessem que a infiltração era seu carro-chefe, enquanto o chute de três nunca assustou muito. Fora de quadra, se tornou, digamos, um dos personagens mais controversos. No Golden State, ele começou num time promissor. Uma série de lesões e de trocas desastradas – de técnicos e jogadores – e o completo desarranjo da direção, porém, levaram o clube ao fundo do poço na gestão do proprietário Chris Cohan, de 1995 a 2010, período no qual só chegaria aos playoffs em duas ocasiões. O episódio mais triste e assustador dessa era aconteceu em 1997, protagonizado por Sprewell, quando o veterano, descontrolado,  decidiu esganar o técnico PJ Carlesimo durante um treinamento. Literalmente. Carlesimo é daqueles treinadores que não aliviam na hora de apontar erros e correções. Agora imaginem o tamanho da frustração de Sprewell com ele. O pior: depois de agredir o técnico e passar cerca de 20 minutos para o vestiário, o atleta tentou novamente atacá-lo. Ele acabou suspenso por 68 jogos, perdendo US$ 6,4 milhões. O que ela achou excessivo. Em entrevista ao tradicional programa 60 minutes, soltou uma de suas célebres e infelizes pérolas. “Não o estava enforcando tão forte assim. Ele estava respirando”, afirmou. Esse era o tipo de história que rondava a franquia. Ainda que o lateral fosse aprontar muito mais.

Sprewell nunca mais jogaria pelo Warriors e seria trocado para o Knicks. Em 1999, foi uma das peças fundamentais do time que venceu a Conferência Leste de modo improvável e perderia para o Spurs na decisão. Depois, seria negociado com o Minnesota Timberwolves, ajudando Kevin Garnett a avançar pela primeira vez nos playoffs em 2004. Quando recebeu uma proposta de renovação contratual por US$ 21 milhões em três temporadas, a recusou e disse que “tinha uma família para alimentar”. Em 2005, acabou se aposentando forçosamente. As ofertas que tinha eram apenas de salário mínimo. Os times ainda se sentiam atraídos por seu talento, mas afugentados pela personalidade. Spurs e Mavericks estavam entre os interessados. Nunca tiveram uma resposta. Em março de 2006, o repórter Chris Sheridan, então do ESPN.com, decidiu ir atrás do ala. O astro o recebeu de cara fechada na porta de sua casa em Milwaukee e simplesmente ameaçou soltar os cachorros para cima do jornalista.


Sobrinho de Leandrinho tenta a chance na D-League da NBA
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Giancarlo Giampietro

Ricardo Barbosa, sobrinho de Leandrinho, armador, Osasco

Ricardo Barbosa, armador de 20 anos e 1,85 m de altura, está tentando a sorte nos Estados Unidos também. O jogador se inscreveu no Draft da liga de desenvolvimento da NBA, a NBADL – também popularmente conhecida como D-League. Mas quem seria Ricardo? Era a pergunta de um scout da liga principal norte-americana quando veio me informar sobre essa pequena surpresa na lista oficial que recebera pela manhã. Bem, estamos falando de um sobrinho do Barbosa mais famoso em tempos recentes do basquete nacional: Leandrinho.

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A princípio, minha pergunta para o olheiro foi de espanto: Ricardo quem? Também não conhecia, e havia pouca informação disponível por aí no Google. Checar informações nas federações nacionais nem sempre é a tarefa mais fácil, mas com ajuda da comunidade nerd basqueteira, como o pessoal do Mondo Basquete, e de grandíssimos torcedores do Pinheiros, conseguimos juntar as peças.

Quando obtive acesso à lista oficial – agora já divulgada pela D-League com alguns nomes interessantes como Marquis Teague, Erik Murphy, o dominicano Eloy Vargas e o canadense Brady Heslip –, chamou a atenção o agente que o representava: Sam Goldfelder, cujos atletas vão ganhar mais de US$ 57 milhões nesta temporada da NBA. É um cara poderoso, que conta com Blake Griffin como principal cliente. Quando fui conferir quem mais ele representava, lá estava Leandrinho.

Por aqui, pouco se escreveu sobre Ricardo. A primeira ocorrência que encontrei foi um texto do extremamente valioso blog da Liga Nacional de Basquete, o Território LNB. Numa lista de “novos talentos”, identificando nada menos que 25 jovens atletas para serem acompanhados na LDB de 2013. Ô loco. Ricardo, inscrito pelo Pinheiros – clube que seu tio defendeu depois da cirurgia por que passou no joelho, antes de voltar ao Phoenix Suns –, apareceu na posição 18, com a seguinte descrição: “Nascido em 1994, mostrou uma grande evolução da 2ª para a 3ª edição da LDB. Em São Sebastião do Paraíso mostrou muita versatilidade, começou jogando na 2 e assumiu a armação principal do time após a contusão de Gustavoa Ceccato. Boa defesa e, no ataque, um faro pra encontrar os buracos no sistema adversário”.

Ricardo Barbosa, jogando pelo Pinheiros na LDB

Ricardo Barbosa, jogando pelo Pinheiros na LDB

O garoto, que é filho de Arthur, irmão mais velho de Leandro e uma grande influência na trajetória ímpar do ala-armador, não foi aproveitado pelo time principal do clube da capital paulista, no entanto. Antes, na base, havia jogado pelos times menores de Hebraica e Palmeiras.

Neste ano, Ricardo assinou com o time de Osasco. E foi pesquisando no perfil do clube no Facebook que encontramos também o Eduardo Barbosa, irmão mais velho de Ricardo, que já havia ganhado suas manchetes no passado por ter assinado com o Londrina em 2010. Em termos de clube, Eduardo teve na base a mesma trajetória do caçula, tendo estudado também por dois anos nos Estados Unidos. Na equipe paranaense, que passava por situação financeira bastante grave, trabalhou com o técnico Ênio Vecchi. Justamente o comandante de Osasco.

Agora, o jovem atleta tenta dar um grande salto. Ele é um dos cerca de 180 atletas que estão disponíveis para as franquias da D-League selecionarem neste sábado, pela tarde – 11 deles têm experiência de NBA. Entre eles também consta o veterano armador Luther Head, ex-Houston Rockets, companheiro de Deron Williams na universidade de Illinois, e Chris Smith, o irmãozinho do JR. David Stockton, armador revelado por Gonzaga, nunca jogou lá, mas também tem um sobrenome de peso, com pai famoso.

Como funciona o Draft? São loooongas oito rodadas de escolhas para as 18 franquias. Tal como na liga principal, esses picks estão sujeitos a trocas, e tal, com muitas delas já interferindo na ordem de escolha deste ano. As negociações, porém, só podem acontecer até esta sexta-feira. Não estranhem se Ricardo for selecionado pelo Santa Cruz Warriors, filial do Golden State, de Leandrinho. Na campanha passada, eles contaram com Seth Curry, por exemplo. Esse tipo de acordo é normal.

Dos 18 times, 17 têm vínculo exclusivo com, digamos, seus irmãos da NBA. O único fora da brincadeira é o Fort Wayne Mad Ants, justamente aquele de melhor nome, que acaba sendo forçado a abrir espaço em suas fileiras aos demais 13 clubes da liga administrada hoje por Adam Silver. O Toronto Raptors, de Bruno Caboclo e Lucas Nogueira, está no meio dessa confusão, diga-se.

O training camp dos times começa no dia 2 de novembro, enquanto a largada da temporada regular será no dia 14. Na véspera, os clubes precisam definir seu elenco oficial de 10 atletas. A origem dos jogadores não precisa ser apenas via draft. O site oficial explica tudo em detalhes, mas basicamente os times de cima têm direito de “reservar” alguns atletas para seus afiliados (num limite de quatro). Além disso, durante o calendário regular, sabemos muito bem que há constante intercâmbio entre os dois campeonatos. Brasileiros como Vitor Faverani, no campeonato passado, antes de se lesionar, Scott Machado e Fabrício Melo já passaram por essa rota.


Corra, Flamengo, corra: o desafio do 1º jogo nos EUA
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Giancarlo Giampietro

O pequenino Isaiah Thomas é um dos que vão acelerar contra o Flamengo

O pequenino Isaiah Thomas é um dos que vão acelerar contra o Flamengo

Encarar um time de NBA já é um baita desafio do ponto de vista técnico. Quando o Flamengo entrar em quadra nesta terça, em Phoenix, é melhor que respirem fundo. Não só para controlar a ansiedade, mas guardar o fôlego, mesmo, que o Suns promete correr muito. Correr demais, mesmo, atendendo aos pedidos do técnico Jeff Hornacek.

Quem diria, né?

Para esmagadora parte da audiência brasileira, Hornacek foi apresentado como uma das peças metódicas do ultracontrolado Utah Jazz de Jerry Sloan dos anos 90. Era o principal coadjuvante da dupla Stockton-Malone, num time de abordagem bastante sistemática no ataque. No início de sua carreira na liga, porém, Hornacek era um veloz ala-armador a serviço do Suns, um clube que tem tradição no basquete de correria.

Em seu retorno ao Arizona, num dos melhores trabalhos da temporada passada, o treinador insistiu que seu time fizesse da aceleração seu modos operandi. A equipe acabou liderando a tabela de pontuação no contra-ataque, com 18,7 em média por jogo, subindo da 14ª posição que teve em 2012-13. Um progresso e tanto, mas não o bastante para satisfazer o comandante.

Hornacek, sádico, nem sua

Hornacek, sádico, nem sua. Aí é fácil, professor

De certa forma, Hornacek tem razão. O Suns pode ter apresentado um ataque em transição bastante eficiente, mas, em linhas gerais, não foi o time que mais correu na campanha passada. No cálculo de posses de bola por partida, o ritmo de jogo, seu time terminou em oitavo. Para o traning camp deste ano, então, o treinador levou a rapaziada para a altitude de mais de 2.100 m de Flagstaff, no norte do estado, forçando naturalmente a melhora do condicionamento físico de seus atletas.

“Queremos estar entre os três primeiros. A ideia é realmente repor a bola e partir com ela. Colocar pressão nas outras equipes. Temos um elenco grande, então sentimos que é possível. Então é isto: estamos forçando esses caras a alcançar o nível de forma física necessário para que possam correr”, afirmou. “Quando pegamos a bola depois de uma cesta, somos um pouco lentos ao sair para oa taque.

O Suns treinou por dois períodos ao dia em Flagstaff até a realização de um coletivo aberto para os torcedores no sábado. Deram uma palhinha do que podem fazer, embora Hornacek espere mais. “Não acho que eles foram tão rápidos como eu queria. Mas, para um training camp, foi  muito bom.”

Para o primeiro teste do time de Phoenix na pré-temporada, a ideia do treinador é usar diferentes escalações a cada cinco ou seis minutos, para manter o ritmo desejado. Preservar as pernas de Goran Dragic, Eric Bledsoe e do reforço Isaiah Thomas, todos muito velozes com a bola.

Ele espera usar todos os 17 atletas que estão disponíveis, incluindo os jogadores convidados para a fase de treinamento, como o pivô Earl Barron (já de boa rodagem na NBA) e os calouros Joe Jackson, Casey Prather e Jamil Wils. A conferir. O pivô Alex Len, com mais uma fratura na mão, e o ala-pivô Anthony Tolliver, também com a mão lesionada, são desfalques.

Os flamenguistas estão, então, avisados. O amistoso promete ser intenso em muitos sentidos.

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Para contextualizar: desde que foi derrotado pelo Fla no Rio de Janeiro, perdendo a Copa Intercontinental, o Maccabi Tel Aviv já disputou dois amistosos contra adversários da NBA. Perdeu ambos. Nesta terça-feira, enquanto Bruno Caboclo fazia das duas pelo Toronto Raptors, o clube israelense perdia para o Brooklyn Nets: 111 a 94. No primeiro jogo, mais uma surra: 107 a 80 contra o Cleveland Cavaliers de seu ex-treinador, David Blatt.

Em ambos os jogos, o armador Jeremy Pargo, grande destaque individual dos embates no Rio, mostrou que a defesa rubro-negra não precisa se avexar pela dificuldade que passou. Contra o Cavs, o americano somou 18 pontos, 5 assistências e 4 rebotes. Contra o Nets, brilhou com 27 pontos, 7 assistências e 6 rebotes. A Euroliga promete para o jogador.

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Três flamenguistas têm experiência de NBA no currículo: Marquinhos, Walter Herrmann e Derrick Caracter. O pivô americano, que só tem mais três jogos previstos pela equipe carioca, foi o último a jogar na grande liga, em 2011, pelo Los Angeles Lakers. Juntos, eles somam 2.326 minutos de experiência (o equivalente a 48 partidas na íntegra). Herrmann foi responsável por 1.939 desses minutos. No elenco do Phoenix Suns, o trio não vai encontrar nenhum de seus ex-companheiros.

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Leandrinho é ponto comum entre Flamengo e Phoenix. Durante o lo(u)caute da NBA, o ala-armador disputou seis partidas do NBB vestido de vermelho e preto. No Arizona, vocês sabem, ele se tornou um atleta bastante popular. Em oito temporadas pelo clube do Arizona, o ligeirinho acumulou 486 minutos, 12.072 minutos (média de 24,8) e 6.024 pontos (12,4).


Em movimento intrigante, Brasília contrata ala ex-NBA
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Giancarlo Giampietro

Hobson, em rara aparição pelo Milwaukee Bucks. Agora no cerrado

Hobson, em rara aparição pelo Milwaukee Bucks. Agora no cerrado

É difícil redigir manchetes, sabia? Ou títulos. Elas são a mesma coisa, basicamente, mas “manchete” carrega muito mais peso do que “título”, como o pai dos burros – o  atencioso pai de todos nós– conta. “Manchete é o título principal numa edição de jornal” e pode vir “em caracteres grandes, como título de uma notícia sensacional”, na descrição do Michaelis.

Esse aqui de cima vale como título, no qual para muita gente deve se destacar o “ex-NBA”. Que é um tanto sacana, admito, uma vez que o ala americano Darington Hobson, contratado no final de semana pelo Brasília, disputou apenas cinco jogos pela grande liga. Cinco jogos? Ex-NBA? Sensacionalismo na certa. Pois é. Mas convido o amigo e corajoso leitor a embarcar comigo se concentrar mais na primeira parte da frase, no tal do “movimento integrante”. Mais genérico, mas que nos ajuda a contar melhor essa história.

São dois pontos a nos intrigar, na verdade.

Primeiro que Hobson é um jogador muito talentoso, que vai completar 27 anos daqui a uma semana, e que tem tudo para causar um grande impacto em quadras brasileiras por um time de ponta;

Herrmann, uma contratação excepcional para o mercado brasileiro

Herrmann, uma contratação excepcional para o mercado brasileiro

Segundo que, mesmo que tenha ficado muito tempo em quadra  pela NBA, isso ninguém vai lhe tirar de seu currículo, e ainda é muito difícil encontrar alguém com essa grife jogando por essas bandas. De qualquer forma, não é necessariamente o carimbo que importa mais nessa transação. O que pesa mais é o simples fato de os clubes do mercado brasileiro parecerem um pouco mais antenados do que o habitual. Em vez de ficar apenas com a rebarba da rebarba, temos visto algumas contratações um pouco mais relevantes em cenário internacional, que exigiram a atenção de veículos especializados lá fora.

A repatriação de Rafael Hettsheimeir pelo Bauru pode não ser a melhor notícia para os fãs do pivô brasileiro, que talvez esperassem um pouco mais dele, mas é excelente para Bauru e a liga nacional. Mais relevante ainda é a chegada de um craque como Walter Herrmann ao Flamengo – outro ex-NBA, mas que definitivamente tem muito mais em seu histórico profissional a apresentar do que a passagem de três anos pelos Estados Unidos. Campeão olímpico, MVP na Espanha, um baita jogador, ainda que em fase final de carreira. O mesmo Fla que parece ter acertado também no fim de semana a contratação de Derrick Caracter, pivô ex-Lakers (sobre a qual falaremos mais nesta semana, esperando a oficialização, já com a ressalva de que Caracter só disputaria a Copa Intercontinental contra o Maccabi e os amistosos nos Estados Unidos).

Enfim, são quatro contratações que têm muito mais representatividade no mercado da bola (ao cesto). Entre elas, falemos agora um pouco mais sobre a de Hobson, que chega para reforçar consideravelmente a rotação perimetral do Brasília. É preciso ver com qual mentalidade o americano chega ao cerrado. Se chega com perspectiva de dominar (esfomear, leia-se), se está animado, ou o quê. Nunca se sabe. Se for o mesmo Darington de sempre, deve contribuir com algumas características muito interessantes.

Vindo do modesto nível do Junior Colleges, Hobson entrou no radar da NBA durante sua temporada de junior, pela Universidade de New Mexico, em 2009-10. Os Lobos, como são conhecidos, se tornaram O Time da conferência Mountain West nos últimos anos, deixando San Diego State (de Kawhi Leonard) e BYU (Jimmer, Baby, Luiz Lemes e Tavernari) para trás. Têm presença constante nos mata-matas da NCAA, mas com pouco sucesso nacional.

Hobson enterra: não sei bem o quanto de "show" o americano pode entregar no NBB, mas é de se esperar um talento acima da média para o Brasília

Hobson enterra: não sei bem o quanto de “show” o americano pode entregar no NBB, mas é de se esperar um talento acima da média para o Brasília, para tornar a equipe mais coesa

Em sua campanha com a equipe, o ala se tornou o primeiro jogador da história a liderá-la em pontos (15,9), rebotes (9,3) e assistências (4,6). O que já nos conta muito sobre a versatilidade deste atleta canhoto de 2,01 m de altura e corpo lânguido. Ganhou o prêmio de destaque da MWC, um estrondo, ainda mais se considerarmos que foi sua primeira temporada em um campeonato decente, por um time de ponta.

Hobson pode pontuar de diversas maneiras – chute de fora, partindo para a cesta, ainda que de forma errática. Mas, creio, seu diferencial esteja realmente em sua visão de quadra e em seu potencial como “homem de ligação” num quinteto, fazendo de tudo um pouco para tornar um time uma unidade mais coesa. Mantendo esse perfil, é alguém que poderá assessorar, e muito, o armador Fúlvio na organização ofensiva – os chutadores Arthur e Giovannoni devem gostar. Segue aqui, em inglês, um scout de seus tempos de universitário, cortesia do DraftExpress.

Em 2010, Hobson foi escolhido na posição 37 do Draft, pelo Milwaukee Bucks, aos 22. Sua cotação chegou a ser mais alta, mas uma insistente lesão na virilha o atrapalhou bastante no processo de recrutamento. as mesmas dores que o impediram de disputar a liga de verão de Las Vegas pelo clube. Depois de fazer um exame detalhado, os médicos do Bucks descobriram que o jogador, na real, tinha um desalinhamento nos quadris. Acabou passando por duas cirurgias e ficou fora de toda a temporada, tendo seu contrato rescindido. Esse é um fator decisivo para entendermos sua condição de “ex-NBA”.

A franquia do Winsconsin ainda foi leal ao jovem em que apostou. Uma vez recuperado das operações, preparou em 2011 um novo contrato, de dois anos, por US$ 1,4 milhões, mas parcialmente garantido. O ala, porém, só ficou no time até fevereiro de 2012, sem conseguir mostrar muito – foi nesse período que aconteceram suas cinco partidas pela liga, com resultados pouco satisfatórios em uma situação obviamente pouco favorável. Para constar, seus concorrentes por tempo de quadra eram Stephen Jackson, Carlos Delfino, Shaun Livingston e Tobias Harris.

Dispensado, foi batalhar na D-League. Naquela temporada, jogou pelo Fort Wayne Mad Ants – sério concorrente do Rio Grande Valley Vipers como nome mais absurdo de franquia norte-americana. Depois, em 2012-2013, foi companheiro de Scott Machado no Santa Cruz Warriors, pelo qual teve médias de 9,2 pontos, 5,7 rebotes e 4,3 assistências – de novo a versatilidade dando as caras. No ano passado, em busca de melhor pagamento, o americano topou jogar fora do país pela primeira vez, defendendo o Hapoel Migdal Haemek, da segunda divisão israelense, com médias de 15,4 pontos, 10,5 rebotes e 3,3 assistências em 12 jogos. Antes de mais nada, não riam: “segunda divisão israelense” não parece tão ruim quanto parece. Estamos falando de um país pequeno, mas de forte estrutura e competitividade interna bas-que-te-bo-lís-ti-ca.

Agora, aparece Brasília na vida do americano, que, em seu contrato, tem cláusulas que o liberariam para a NBA ou para a Europa, caso apareça alguma proposta que considere mais valiosa. Se no início de carreira como profissional, seus problemas físicos foram sérios o suficiente para abalar suas pretensões, no NBB, agora em forma, Hobson tem o necessário para se destacar, com um estilo que está longe de ser explosivo, mas bastante fluído. É daqueles jogadores que faz o basquete parecer fácil – como no caso de Marquinhos, por exemplo. Alguém que pode ajudar o Brasília a lutar novamente pelo títulos. Títulos que, aí, sim, renderiam manchetes.

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Curiosidade sobre o Draft de 2010 da NBA, que só reforça o quão brutal é a concorrência para ter essa sigla em seu currículo. Dos 30 atletas selecionados na segunda rodada daquele ano, apenas dois estão na liga no momento com contratos garantidos. Dois! Os felizardos são o inigualável Lance Stephenson, agora do Charlotte Hornets, e o já moribundo Landry Fields, que cumpre seu último ano de vínculo com o Toronto Raptors, quase fora do baralho, mas um cara decente, que pode dar uma força a Bruno Caboclo nos treinos.De resto, temos o pivô Jarvis Varnado no Philadelphia 76ers, sempre  à mercê dos planos mirabolantes do gerente geral Sam Hinkie.

Outros dois jogadores estariam nos Estados Unidos se quisessem e seus clubes europeus permitissem: o pivô alemão Tibor Pleiss, hoje do Barcelona, cujos direitos pertencem ao Oklahoma City Thunder, e o ala-pivô sérvio Nemanja Bjelica, do Fenerbahçe, destaque pela Copa do Mundo, vinculado ao Minnesota Timberwolves. São dois caras bem pagos na Europa, mas que logo, logo devem cruzar o Atlântico. Da mesma safra de estrangeiros selecionados? Paulão Prestes, também pelo Wolves.

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Se não estou deixando passar alguém, o NBB 7 vai começar no dia 31 de outubro com quatro jogadores que com experiência na NBA, em partidas oficiais. Alex, Marquinhos e Herrmann fazem companhia a Hobson. Fica pendente uma quinta vaga para Rafael “Baby” Araújo, caso feche mais um contrato.

Outros atletas que já passaram por lá e cá, com uma bela ajuda da turma no Twitter: Leandrinho, o armador Jamison Brewer, ex-Pinheiros e Pacers, o pirado Rashad McCants, aposta ex-Timberwolves totalmente furada do Uberlândia, o ala-armador Jeff Trepagnier, ex-Liga Sorocabana e Nuggets, e os alas Eddie Basden, que até que se deu bem em Franca, Bernard Robinson, ex-Minas e Basquete Cearense, e Chris Jefferies, ex-Raptors e Minas.

Destes, McCants era o mais talentoso e gabaritado, sem dúvida, mas a dor-de-cabeça que ele causa fora e dentro de quadra o tornam proibitivo. Comparando com seus antecessores, Hobson seria, então, o mais promissor dos americanos importados.

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De jogadores draftados, mas que não chegaram a disputar partidas oficiais pela NBA, que tenham dado as caras por aqui, temos Paulão e o pivô DeVon Hardin, ex-Basquete Cearense.

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O caminho inverso, saindo do NBB para a NBA, apenas dois fizeram: Leandrinho, saindo do Flamengo e do Pinheiros, em curtos pit-stops, e Caboclo, esse, sim, a grande história.


Leandrinho x Jordan Crawford: as trilhas se divergem
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho x Jordan Crawford: favor não confundir

Leandrinho x Jordan Crawford: favor não confundir

Eles já foram trocados um pelo outro. Estavam na lista de alvos do Miami Heat neste ano. Agora, uma semana depois de Leandrinho ser anunciado como jogador do Golden State Warriors, o ala-armador Jordan Crawford desembarcou na cidade de Urumqi, capital da região de Xinjiang, que empresta seu nome ao Flying Tigers. Um time da rica, mas ainda varzeana (técnica e taticamente falando) liga chinesa.

Se aceitarmos o mapa mundi em sua visão mais popular, com a Europa convenientemente localizada ao centro, os dois cestinhas estariam cada um em uma extremidade. Se for para ficar com o globo giratório, ‘só’ um Oceano Pacífico os separa. E aí estão Leandro e Crawford, bem distantes, depois de suas trajetórias se cruzarem algumas vezes na central de transferências sempre agitada da NBA.

É uma história curiosa, que ajuda a valorizar o que o ligeirinho brasileiro conquistou nos Estados Unidos. Aos 30, o veterano – um notório boa praça, festejado em todos os vestiários por onde passou – ainda tem cotação para se manter na grande liga, ainda que com preço mais barato e peregrinando de clube em clube. De 2011 para cá, já são cinco times. E aqui só cabe uma observação: assim como aconteceu no campeonato passado, Leandro assina um contrato não-garantido com o Warriors, sobre o qual falaremos mais abaixo. O americano, cinco anos mais jovem, mas com uma trajetória um tanto problemática, se vê obrigado partir para a Ásia.

Leandrinho não teve contrato renovado pelo Suns, mas segue na NBA, dando um jeito

Leandrinho não teve contrato renovado pelo Suns, mas segue na NBA, dando um jeito

Os dois jogadores ocupam basicamente o mesmo nicho de mercado: os chamados combo guards, reconhecidos pelo tino para colocar a bola na cesta, embora nem sempre eficientemente, mas que saem do banco para botar fogo no ataque. Obviamente esse é uma definição bem generalizada. Há muito que se distinguir na abordagem de cada um.

O habilidoso americano é muito mais afeito ao drible, sacudindo o marcador, enquanto seu concorrente depende mais de investidas direta, objetivas, dependendo de sua explosão física. A maneira como jogam é diferente, mas o objetivo final acaba coincidindo.

Um ano e meio atrás, por exemplo, eles foram envolvidos no mesmo negócio, mais precisamente no dia 21 de fevereiro de 2013. Justamente quando estava se fixando na segunda unidade do Boston Celtics, esquentando o motor, Leandrinho sofreu uma grave lesão, com ruptura de ligamento no joelho e tudo, que encerrou sua temporada. Danny Ainge ainda acreditava em algum sucesso nos playoffs naquela que acabou sendo a última campanha de Pierce e Garnett pela franquia e acertou uma negociação por Crawford.

O então jovem ala-armador estava desacreditado na capital norte-americana, visto como um dos personagens principais de todo o caos e o consequente fiasco do Wizards. Ainda assim, tinha esse “fogo” de que o Celtics tanto precisava. Alguém que poderia esquentar a mão em um grande jogo. Ainge confiava que a estrutura comandada por Doc Rivers e a fiscalização de seus veteranos o colocariam na linha. No fim, o time perdeu para o New York Knicks, numa despedida decepcionante para aquele grupo.

Ironicamente, vestido de verde e branco, Crawford praticaria seu melhor basquete, mas só na temporada seguinte, sob o comando de Brad Stevens. Jogando como o dono da bola – os astros haviam se mudado para Brooklyn e Rondo ainda estava lesionado. Restava, logo, ao treinador novato apostar no temperamental ex-reserva, que correspondeu. “Eu me senti em casa por um minuto. Foi a primeira vez que fiquei mais tempo em quadra, tendo a chance de enfrentar os altos e baixo e aprender como se ajustar a isso. Sabe, quando você está jogando mal e pode se recuperar. Foi muito positivo”, afirmou.

Crawford: breve passagem pelo Warriors, agora abrindo vaga para Leandrinho. Ciranda-cirandiha

Crawford: breve passagem pelo Warriors, agora abrindo vaga para Leandrinho. Vamos logo cirandar

Em reconstrução, o Celtics repassou Crawford 363 dias depois numa troca tipla que enviou o cestinha para o Warriors, outro clube que buscava reforços para sua segunda unidade, na esperança de reduzir a carga de Curry e Thompson. Seu impacto, contudo, não foi tão grande assim. Com o seu contrato vencido, foi liberado pelo time californiano para negociar com outros times. Seu nome foi especulado por uma série de franquias – entre elas o Miami Heat, ao lado de Leandrinho, que não renovou com o Suns.

O brasileiro, porém, seguiu outra direção e fechou com o Warriors, justamente para assumir, em teoria, o papel do americano na segunda linha, na rotação com Curry, Thompson e Shaun Livingston, cujas características ele pode complementar tão bem. O espichado armador tem boa visão de jogo, é uma ameaça no ataque de costas para a cesta devido a sua estatura, mas não tem chute (algo que seu novo companheiro oferece). Juntos, os dois também dão muita envergadura para a defesa de Steve Kerr, outro fator que pesa a favor de Barbosa, com quem tem bastante familiaridade, já que foi seu dirigente por muito tempo em Phoenix.

Precisa ver apenas se o paulistano realmente se enquadra nos planos do time a longo prazo. Segundo o jornalista Eric Pinus, do Los Angeles Times e do site Basketball Insider,  apenas US$ 150 mil dos US$ 915 mil de salário de Leandrinho seriam garantidos. A data para que o contrato seja validado em sua totalidade ainda não foi divulgada, mas geralmente não passa de 10 de janeiro. Até esse prazo, o Warriors poderia dispensá-lo, se assim preferir.

Estão no mesmo barco o armador Aaron Craft, um defensor implacável revelado por Ohio State, mas uma negação para arremessar, e os alas Justin Holiday (irmão mais velho do Jrue, do Pelicans) e James Michael McAdoo (calouro de North Carolina, que já foi uma grande promessa, com seleção de base e tudo, mas despencou). Depois de um ano na Hungria, Holiday jogou bem pelo time de verão da franquia, já sob o comando de Kerr. Seria o maior concorrente – mas talvez seja exagero até empregar esse termo.

Na verdade, o Warriors já tem no momento 13 contratos garantidos, o mínimo necessário para carregar numa temporada. Entre esses contratos está o jovem sérvio Nemanja Nedovic, armador que vem falhando em deixar sua marca nos Estados Unidos. Para piorar, ainda sofreu uma lesão durante os treinamentos com sua seleção e foi cortado da Copa do Mundo. Ainda que Nedovic não passe segurança alguma nesse momento, o  gerente geral Bob Myers não precisa efetivar o contrato de nenhum dos atletas do parágrafo acima, diga-se.

Kerr reencontra Leandrinho em Oakland: ótima notícia para o brasileiro

Kerr reencontra Leandrinho em Oakland: ótima notícia para o brasileiro

Mas é extremamente improvável que tenham acertado com um jogador da experiência de Leandrinho apenas para avaliá-lo de perto, e pronto. Presume-se que o aspecto provisório de seu vínculo tem mais a ver com os recentes problemas físicos e lesões do atleta do que por qualquer desconfiança técnica. Durante a Copa, o paulistano comprovou que ainda tem valiosos recursos para oferecer e que está em ótima forma. O ligeirinho se enquadrou no sistema um tanto pétreo desenhado por Magnano e não precisou tentar ser o herói de torneios passados. Num time com Curry e Thompson, certamente não se espera nada nessa linha.

Crawford, por outro lado, é um cara que se sente muito mais confortável para produzir com a bola em mãos. Se a sua criatividade e o seu talento no jogo de um contra um não se discutem, nem sempre se encontra uma boa vaga para acomodá-lo. Não sabemos se ele recebeu alguma oferta concreta na NBA. Aparentemente, o único cheque com um número extenso o bastante para satisfazê-lo veio dos Tigres Voadores de Xinjiang. Fala-se em US$ 2 milhões, mais que o dobro do que vai ganhar o brasileiro. Na China, também vai ter a chance de produzir aquelas estatísticas só vistas em videogame. Obviamente, não seria a primeira escolha dele. Também não dá para dizer se aceitaria um contrato nos moldes do que Leandrinho assinou. Os dois estão realmente em pontos bem diferentes de suas carreiras, e não só geograficamente falando. Que não sejam confundidos, mesmo.


Contido, mas intenso, Leandrinho se reinventa na seleção
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho: 13,6 pontos, 55,3% nos arremessos em 23 minutos

Leandrinho: 13,6 pontos, 55,3% nos arremessos em 23 minutos

Leandrinho já passou por alguns momentos difíceis com a camisa da seleção brasileira. Pessoalmente, me lembro do desfecho da Copa América de 2007, em que teve a bola da semifinal contra a Argentina em mãos e acabou forçando um disparo de três pontos, que não foi dos melhores. Valia uma vaga olímpica, e o deixou o ginásio sozinho, bastante chateado.

Ele havia acabo de fazer uma temporada espetacular na NBA, na qual foi eleito o melhor sexto homem. Antes que os mais sarcásticos façam alguma piadinha a respeito (re-ser-va!!!), é bom lembrar que um certo Manu Ginóbili ganhou o mesmo troféu no ano seguinte. Toni Kukoc e Detlef Schrempf também são outros estrangeiros que entram nessa lista. Nada mal. E foi um prêmio merecido: o “Vulto Brasileiro” havia contribuído com 18,1 pontos e 4 assistências por partida para um Phoenix Suns de artilharia pesada.

A derrota mais dolorida, em 2007

A derrota mais dolorida, em 2007

Não importando que jogasse ao lado de Steve Nash, Amar’e Stoudemire, Shawn Marion, num time extremamente entrosado e completamente heterodoxo, depois de uma campanha dessas, a expectativa em torno do atleta era imensa rumo ao Pré-Olímpico de Las Vegas. Aos 24 anos, tentou assumir essa responsabilidade, com média de 21,i pontos, mas com 16,1 arremessos por partida (6,1 de três, com 37,7% de aproveitamento), e 23 turnovers no total para 28 assistências. Na partida específica pela semifinal, contra os argentinos, vejamos, ele até maneirou: 12 chutes, seis conversões, e 16 pontos, mas com quatro desperdícios de posse de bola.

O que ficou na cabeça, de todo modo, foi aquele chute. Tomou chumbo de tudo que é lado, incluindo deste que aqui escreve. Desde então, a relação do público brasileiro com o ala, na hora de falar exclusivamente de seleção, tem sido um tanto abalada, uma desconfiança que tem com base a propensão para decisões descontroladas com a bola.

Agora, se for para falar do Leandrinho desta Copa do Mundo de basquete, essas críticas já não colam mais. É algo que já se manifestava nos amistosos e que se confirmou nos jogos para valer: passadas cinco rodadas, temos um jogador de perfil bem diferente em quadra.

Mesmo com Magnano, seu volume nos disparos de fora ainda era elevado: tanto no Mundial 2010 como em Londres 2012, ele sustentou média de cinco por partida, com um aproveitamento apenas razoável  (36,6%). A questão não é demonizar meramente o arremesso de longa distância. Mas é difícil imaginar que um atleta vá ficar livre o suficiente no ataque para praticar um volume tão elevado. Além do mais, para alguém com num dos primeiros passos mais acelerados do basquete mundial, acabava sendo desperdício estacionar no perímetro em busca dos chutes.

Neste Mundial, a mentalidade é completamente oposta. Vemos um Leandro Barbosa muito mais concentrado em atacar seu marcador, em sistematicamente explodir em direção ao garrafão. Algo muito bem-vindo, pois são raríssimos os adversários que vão conseguir parar em sua frente. Para atrapalhá-lo, só mesmo de modo coletivo, uma segunda linha atenta, bem postada, para lhe fechar a porta nas infiltrações. Em tráfego, o paulistano já tende a perder rendimento.

Por ora, o brasileiro tem executado suas investidas com muita eficiência, no tempo certo, sem exagerar na dose. É o cestinha do time com 13,6 pontos, mas cometeu apenas três turnovers em cinco jogos e vem convertendo 54,8% de suas bolas de dois pontos (obviamente que nesta conta também entram as bandejas isoladas de um vulto em contra-ataque, mas o número já é expressivo o bastante).

Em geral, ele tentou quase o dobro de chutes de dois em relação aos de três (31 a 16 – e são 9,4 tentativas por jogo, no geral). Porque, sim, as bolas de longa distância ainda estão lá: 3,2 por jogo. Para o mais purista, pode parecer muito, mas basta notar que Marcelinho tem chutado 3,5 por jogo, com metade dos minutos (11,8 contra 23,2), para relativizar. De qualquer forma, basta ver seu aproveitamento neste fundamento, de espetacular 56,2%, pare perceber que a seleção só pode estar mais adequada. Se quiser descontar as três bolas convertidas em três tentativas contra o Egito, tudo bem também: ficaríamos em 6/13 (46,1%). Incluindo esta aqui, que não é a ideal, mas sobrou para ele:

Além da redescoberta eficiência ofensiva, outro fator do jogo de Leandrinho que tem impressionado na competição é sua vitalidade, sua energia. Não que antes não acontecesse. Podem acusar o novo jogador do Golden State Warriors de tudo, menos de alguém que fuja da raia. Pelo contrário. Mas nota-se um atleta muito mais intenso e compenetrado em quadra, fazendo sua envergadura e sua agilidade surtirem mais efeito no campo defensivo, na briga pela bola. Admito que me foge da cabeça agora o jogo em que foi brigar pelo rebote de ataque, talvez tentando uma enterrada de cara e que acabou tomando um tombo feio no meio do garrafão. Foi na estreia contra a França? Enfim, o tipo de lance que influencia uma partida para muito além da bolinha de três ou a do que o “beep-beep” no contra-ataque.

Enfim, é um competidor distinto, mais sereno com a bola em mãos, mas também dedicado a pormenores do jogo, que estava enferrujado nos primeiros amistosos – não jogava desde o dia 4 de março, devido a fratura na mão seguida por cirurgia. Essa parada, aliás, pode também ajudar explicar sua forma física atual, talvez um ou dois degraus acima de muita gente, uma vez que sua “pré-temporada” começou bem antes.

Leandrinho, atacando lá dentro

Leandrinho, atacando lá dentro

A intenção aqui não é eleger o ligeirinho como o “Destaque Oficial da Seleção”. O legal é tentar realmente assimilar as ações de uma equipe que vai ganhar ou perder como conjunto. Não é questão de apelar a um clichê corporativo, que  em muitas ocasiões vira uma blindagem conveniente. Mas verdade é que o na equipe nacional não há um Pau Gasol, um Dirk Nowitzki, um craque que assuma, ou esteja bem preparado para assumir o protagonismo – e são bem poucos os que têm, registre-se. Isso pode fazer falta aqui e ali, em momentos decisivos principalmente, mas também abre as mais diversas perspectivas. Dá liberdade. Na hora de falar sobre os argentinos, obviamente que você tem de pensar em “parar ou atrapalhar Scola”. Para a seleção brasileira, como faz? A ameaça está dissipada. Em teoria, o time pode surpreender nesse sentido, dependendo da criatividade de Magnano e seus atletas.

Acho que, depois de um longo convívio com essa geração, já chegou a hora de maneirar com rótulos, né? De parar com essa busca incessante por heróis – e que, se der errado, viram vilões rapidamente. Jogadores, torcedores e críticos já caíram todos nessa armadilha. Em mais um confronto decisivo com a Argentina, sete anos depois de Las Vegas, com cobranças bem mais comedidas e diante de defensores muito mais lentos, o Leandrinho deste Mundial pode ser ainda mais eficiente para tentar vencer este clássico. Sem alarde e sem forçar a barra.

Histórico de Leandrinho em torneios Fiba após a NBA

Histórico de Leandrinho em torneios Fiba após a NBA


Brasil vence 75% de um jogo de xadrez e se posiciona bem para playoffs
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos, o cestinha, Krstic, o inoperante: dois personagens da vitória brasileira

Marquinhos, o cestinha, Krstic, o inoperante: dois personagens da vitória brasileira

OK, vamos estourar de cara: o fato e o nome do jogo foi Marquinhos. O ala se sentiu como se estivesse no ginásio da Gávea, tranquilão para matar 21 pontos e liderar o ataque brasileiro numa dura e importantíssima vitória sobre a Sérvia pela Copa do Mundo.

Foi 81 a 73, mas poderia ter sido mais. Ou pior, com triunfo para os próprios sérvios, dependendo de uma série de detalhes, que vamos destrinchar logo mais. Antes, explica-se o valor deste triunfo.

Não só significa que os brasileiros venceram dois times europeus nesta primeira fase, como também garante o segundo lugar e assegura um posicionamento, digamos, confortável nos playoffs, pensando longe. Basicamente: evita que eles se deparem com a poderosa Espanha numa eventual quartas de final. Isto é, se chegarem a esta etapa, vão ter, em teoria, um adversário mais fraco para entrar na disputa por medalhas.

Para garantir esse posto, foi preciso passar por um jogo de xadrez. Ou, num populacho, o jogo de gato-e-rato. Partidas de basquete no mais alto nível tendem a ser encaradas deste modo – a não ser no caso em que o adversário é tão superior, que não há artimanhas para desbancá-los. Não era o caso nesta quarta-feira.

Nenê complica a vida de Krstic: pivô sérvio, antes uma estrela no mundo Sérvio, foi limitado a 7 pontos (2/9 nos tiros de quadra) pelos pivôs brasileiros, excelentes marcadores

Nenê complica a vida de Krstic: pivô sérvio, antes uma estrela no mundo Sérvio, foi limitado a 7 pontos (2/9 nos tiros de quadra) pelos pivôs brasileiros, excelentes marcadores

A Sérvia, vejam só, veio para a quadra com uma formação monstruosa de grande. Três pivôs de 2,08m para cima, dois deles pesos pesados, procurando minar o garrafão brasileiro: o inigualável Miroslav Raduljica e o esforçado, mas limitado Vladimir Stimac. Quis descer a marreta no jogo interior e mastigar o aro. No primeiro tempo, deu certo: 9 rebotes ofensivos e 13 lances livres descolados!

Sucesso, né?

Necas. Nada disso: o Brasil venceu por 48 a 32 antes do intervalo. Seria o suficiente para dizer que o jogo estava ganho? Como vocês podem perceber pelo placar final, também não.

Para a segunda etapa, os adversários voltaram do intervalo com uma formação bem mais baixa, leve e técnica, com três armadores – em vez de três armários. Esse time fez a vantagem brasileira se evaporar em cinco minutos (foi 16 a 6 de cara). Rubén Magnano não intercedeu, eles foram pontuando, pontuando, pontuando, até que viraram o placar e chegaram a abrir sete. Os balcânicos começaram a se movimentar muito bem sem a bola, exigindo atenção e agilidade dos brasileiros – o que não acontecia. Foram quebras e quebras defensivas sucessivas, com Huertas envolvido em muitas dessas. É um problema constante no jogo do brasileiro, sabemos.

E o que acontece? Aparentemente senhora de si, a Sérvia voltou a concentrar, canalizar o ataque em seus pivôs. Foi um ajuste bem camarada do técnico Sasha Djordjevic, um dos grandes armadores dos anos 90, mas que priorizou as bolas previsíveis no mano-a-mano para um ancião o trombador Raduljica e um Nenad Krstic irreconhecível de tão lerdo.

Splitter, por conta própria, colocou no bolso o gigante Raduljica. O pivô, que vinha atacando com eficiência nesta Copa, com média de 15 pontos e 59,4% nos arremessos, produziu bem pouco (11 pontos e 5 rebotes, mais quatro turnovers). Seu repertório é feito basicamente de tranco, intimidação físicos e semi-ganchos lentos e mecânicos que só.

O único problema que essas investidas forçaram foi o acúmulo de faltas por parte dos pivôs brasileiros. Nenê ficou pendurado com quatro. Splitter chegou a cometer duas no primeiro período, mas teve sua situação muito bem monitorada pelo técnico argentino. Quando voltou para a quadra no quarto final, estava suficientemente resguardado para contestar o sérvio com vigor, coragem e, muito mais relevante, inteligência. Guardou posição, sem partir para o roubo ou o toco, cavou duas faltas ofensivas e deixou que o oponente se atrapalhasse sozinho. A retaguarda estava resolvida, também com boa participação de Larry para fiscalizar Milos Teodosic (14 pontos e 5 assistências em 25 minutos, saindo do banco).

O figuraça Raduljica não foi efetivo contra os grandalhões brasileiros

O figuraça Raduljica não foi efetivo contra os grandalhões brasileiros

Do outro lado, Marquinhos estava em tarde inspirada. Ele já havia matado suas duas primeiras bolas de longa distância no quarto inicial e carregou essa confiança para os momentos decisivos. Puniu a defesa sérvia nos instantes em que ficou desmarcado e teve a melhor pontuação individual de um brasileiro neste torneio.

O ala foi bem assessorado por Leandrinho no primeiro tempo (11 pontos em 16 minutos, terminando com 16 em 28, sem jogar nos minutos derradeiros) e pelo próprio Splitter no quarto final (10 pontos, 7 rebotes e 6 assistências, com seus deslocamentos irrevogáveis fora da bola e muita visão de quadra – foram deles os dois passes para bombas de três de Marquinhos que diminuiriam o placar de 67 a 60 para 67 a 66). É o tipo de rendimento que o Brasil vai precisar nessa campanha e muito mais sustentável que os tiros de fora de Marquinhos (não dá para esperar que ele vá desafogar o jogo com 6 acertos a cada 9 tentativas, convenhamos).

A combinação dos tiros de fora com o jogo interior é sempre a mais adequada para o jogo de meia quadra e funcionou muito bem, enfim, no quarto período. Se der para atacar em velocidade, em transição, tanto melhor, como aconteceu no primeiro tempo impecável.

O desafio agora é atingir a consistência. Dessa vez o que descambou foi a defesa numa parcial. Somando os primeiro, segundo e quarto períodos, o Brasil teria permitido apenas 41 pontos ao adversário. Excelente. Mas acabou tomando 32 no terceiro, com falhas que não vinham acontecendo.

De qualquer forma, o Brasil, que foi mais time em 75% do jogo, escapou com sua preciosa vitória. Nesta quinta, vai treinar contra o Egito. Depois, é hora de voltar jogar xadrez, mas com a pressão de que cada jogada em falso pode valer a eliminação.


A 11ª vitória seguida da Lituânia. E uma dúvida sobre o Brasil
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Giancarlo Giampietro

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Naquele que foi seu melhor jogo, Larry mal foi usado no segundo tempo. E aí?

Por 18 minutos, o Brasil foi soberano em quadra com sua defesa, mas também aproveitando bem seus ataques. Restando precisamente 1min57s no cronômetro do primeiro tempo, o time vencia por 38 a 21, numa exibição verdadeiramente impressionante contra uma fortíssima Lituânia. Um rival que havia vencido seus dez primeiros amistosos rumo ao Mundial.

Acontece que, dali para a frente, os vice-campeões europeus foram paulatinamente entrando no jogo. Do instante em que Tiago Splitter anotou dois pontos em uma bandeja em diante, os caras venceram por 43 a 23 e chegaram a uma poderosa marca de 11 vitórias em 11 partidas-teste. Foi 64 a 61 o placar final.

São só amistosos, é verdade. Mas vá falar isso para os lituanos. Com 100% de aproveitamento – tendo batido Austrália, Eslovênia, Grécia e Finlândia (duas vezes) –, caminham para lá de confiantes em suas possibilidades.

Para a seleção de Magnano?

Há o que se pensar, sem poder tirar muitas conclusões. Sinto dizer.

Essa derrota poderia muito bem entrar na lista daquelas do “como” – em “Como diabos eles perderam (também) esse jogo?!”, numa pergunta já um tanto disseminada por estas bandas.

Seria uma conclusão fácil, mas um tanto precipitada.

Antes de se concentrar no que se passou em quadra, é preciso entender que a Lituânia deve aparecer acima do Brasil em cada oito ou nove listas de favoritos ao pódio desta Copa do Mundo. Na minha está, e isso apenas quer dizer que é uma seleção forte pacas, com uma rotação robusta, cheia de gente que atua nas grandes ligas europeias há muito, muito tempo, com extensa rodagem experiência e fundamentos excelentes.

Além do mais, não foi um jogo típico da fase do bumba-meu-boi brasileiro, com altos e baixos alternados a cada cinco minutos. Não sei se serve de consolo, mas o Brasil teve nesta quinta 18 grandes minutos e outros 22 não muito bons, mas sem oscilações dentro desses períodos.

Então o que acontece, para levar uma virada dessas?

Acredito que ela ocorreu por dois motivos (fora o fato de eles, do “1 ao 11” – ou, do 4 a 15, pra ficar na numeração Fiba, são tecnicamente superiores):

1) sinceramente, parece que a Lituânia foi pega de modo desprevenido pela intensidade do Brasil na primeira etapa. Não quer dizer que estavam de corpo mole. Mas talvez não estivessem exatamente preparados para o adversário. E aí a gente pode ir longe também: os jogadores brasileiros não são nada desconhecidos. A base é a mesma de Londres 2012. E foram os rapazes tupiniquins que tiveram de viajar para a Europa, se adaptando ao fuso. Então que história é essa de ser pego de calça curta? São pontos todos válidos. Mas, bem, por outro lado, se tratava de um amistoso, né? Neste caso, para um time que já disputara dez partidas – o dobro de seu adversário. Poderiam não estar cansados, mas talvez relaxados? E que talvez nem conheçam tão bem assim, em detalhes, o funcionamento da seleção nacional, embora saibam muito bem como um Tiago Splitter, por exemplo, gosta de atuar? Enfim, foi essa minha impressão. Que, após o intervalo, eles entraram prontos para responder – e conseguiram.

2) O próprio conceito de amistosos e fase de testes em si: até que comecem os jogos para valer, você nunca sabe ao certo quem está escondendo cartas e, ao mesmo tempo, experimentando, ou não. Acreditar nesse tipo de situação também depende de algumas questões levantadas acima: o quanto times tão em evidência como Brasil e Lituânia têm para esconder? Uma ou outra jogada marota? Propostas inteiras de jogo? Não sei bem. Mas o Brasil, por exemplo, não acelerou muito seu ataque em transição, mesmo sendo um time mais veloz em basicamente todas os confrontos particulares, de jogador com jogador. Além disso, Magnano em nenhum momento do segundo tempo repetiu a formação que havia dado mais certo no segundo quarto, justamente quando sua equipe abriu larga vantagem. Ao passo que, do outro lado, a Lituânia também só colocou um quinteto efetivamente fortíssimo nos chutes de três pontos, com Simas Jasaitis, Jonas Maciulis e Ksystof Lavrinovic (ou “Lavrinovic-K”, daqui para a frente) no terceiro quarto – e, vejam só, foi quando cortaram a diferença para mais da metade. Mesmo que as bombas não tenham vindo, eles já representavam uma ameaça a ponto de espaçar a defesa interior brasileira.

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Magnano, segurando cartas, ou jogando tudo de uma vez?

Do ponto de vista brasileiro, é uma dúvida que já julgo crucial. O técnico segue rodando bastante seus atletas, com diversas combinações aplicadas no decorrer dos quatro períodos. Não chega a ser absurdo, pois ainda vivem uma fase preliminar. Mas, por tudo que já li e ouvi sobre construção de rotações, um time geralmente responde com muito mais eficiência quando os atletas passam a saber exatamente seu papel em quadra, o que se espera deles. Da mesma forma que a repetição dos exercícios, da prática desenvolve melhor coesão, entrosamento entre eles, para, aí, sim, se transformarem em unidades. Com o rodízio intenso, vamos atingir esse ponto? Estaria o argentino confiante o bastante com o resultado dos treinos para mexer, mexer, e mexer mais um pouco sem o temor de perder consistência?

Contra a Lituânia, Magnano começou com Huertas, Leandro, Alex, Nenê e Splitter. Aos poucos, foi inserindo os reservas, para iniciar o segundo período com aquela que seria a segunda “unidade”, formada por Raul, Larry, Machado, Hettsheimeir e Varejão. Talvez seja esse o esboço de rotação que vá ser oficializado no Mundial, com a perspectiva de uma troca entre Marquinhos e Machado. Nesse sexto jogo, Marcus foi o último reserva a entrar em quadra. Giovannoni ficou fora o tempo todo.

Fato é que, no segundo tempo, Marquinhos já começava ao lado de Huertas, Leandro, Hettsheimeir e Splitter, num misto do que havia sido utilizado até então. Larry, que havia jogado tão bem o segundo período, foi chamado de volta apenas a quatro minutos do fim. Machado nem foi mais acionado. Isso quer dizer que o comandante ainda está avaliando as suas possibilidades? Provavelmente. Mas não custa lembrar: restam apenas dois amistosos antes do Mundial. E, de tanto que já trabalhou com esse núcleo desde que assinou com a CBB, é de se perguntar o que falta para firmar terreno? O temor: que, na verdade, o padrão no Mundial será não ter padrão, um problema (ao menos aqui na base 21, lê-se como “problema”, sim) que já ocorreu em outras campanhas.

Obviamente você não vai ser rígido ao extremo com seu elenco. Cada adversário pede, ou no mínimo sugere ajustes. Você desenvolve um plano tático, tenta se impor com ele, mas precisa ter jogo de cintura para se adaptar. Agora, esperava mesmo ver um pouco mais de estabilidade nessa perna europeia de amistosos. Perder um jogo não é o fim do mundo, ainda que o time agora tenha 50% de aproveitamento em seis testes. Jogar de igual para igual com a Lituânia é bom sinal, na verdade. Dependendo da sua expectativa – e de quais são os planos concretos de Magnano.

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Esse quinteto (?) reserva do qual Larry fez parte executou uma defesa que foi de deixar qualquer um orgulhoso – mesmo com alguém lento como Machado na formação. Compensa aqui a agilidade e inteligência de um pivô como Varejão, para fazer as dobras e recompor e a explosão física de Larry, que entrou em quadra ligado no 220 V. Mesmo Hettsheimeir movimentou seus pés como raramente se vê, bloqueando armadores que vinham em sua direção, desviando vários passes. A porta estava fechada na cara dos lituanos, que demoraram 4min26s para anotarem os três primeiros pontos na parcial, com um chute de te Maciulis. Esses seguiram os três únicos pontos até a marca de 18min03s. No geral, a parcial foi vencida por 16 a 7.

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Um parêntese sobre Machado, contudo. E, sim, vai parecer um contrasenso, uma vez que ele esteve em quadra no melhor momento da seleção. Mas… há de se tomar cuidado com a forma como ele será usado. No reencontro com algum chapa de Zalgiris Kaunas, não demorou um minuto para que ele fosse atacado no mano a mano por Maciulis, com o lituano usando sua força física para dominar o veterano brasileiro de costas para a cesta, sofrendo a falta para dois lances livres. Foi automático. De modo que ficou difícil de entender porque esse tipo de movimento não foi repetido. Talvez tenha a ver com pressão que Larry colocou em cima da bola e o pandemônio de sempre que Varejão apronta. De qualquer forma, o que temos é o seguinte: contra times que façam bem seu scout, o ala tende a ser atacado. Seja por oponentes mais altos/fortes ou mais baixos/rápidos. Se ele não estiver convertendo as bolinhas de fora (0/3 desta feita…), imagino que será muito difícil mantê-lo em quadra com o jogo valendo classificação.

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Sobre Rafael Hettsheimeir: ele foi o cestinha brasileiro, com 14 pontos em 21 minutos. Depois da badalada exibição contra os Estados Unidos, ele repetiu a dose na Eslovênia ao acertar 4 de seus 7 disparos do perímetro, incluindo os três primeiros. Foi com essas bombas de três, consecutivas, que o Brasil saiu de um placar de 19 a 18 com 9min18s de jogo para 28 a 18 com 11min20s. O oponente não estava realmente pronto para lidar com isso. O assunto já ganhou proporção que pede um texto próprio a respeito. Mas registre-se que, no segundo tempo, os lituanos cuidaram para que o pivô não lhes causasse mais tantos estragos.

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Leandrinho, entrando em forma

Leandrinho, entrando em forma

Os números de Leandrinho não saltam aos olhos: 6 pontos (com 2/7 nos arremessos), 3 assistências, 3 rebotes, 1 roubo de bola. Ainda mais em 25min33s, sendo o brasileiro que mais ficou em quadra neste amistoso. Mas o ala-armador fez uma boa partida, colocando sua capacidade atlética a serviço da defesa, sendo bastante competitivo, recuperando bolas eventualmente perdidas e tudo o mais que leva um time adiante.

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Um lance em especial do segundo período chamou a atenção no ataque brasileiro: Huertas driblava pela zona morta, na direita. Marquinhos cortou em parábola por baixo da cesta, rente ao fundo da quadra e recebeu um passe por trás das costas do armador. Em vez de girar com a bola e partir para o chutinho usual – e a munheca deve ter coçado… –, o ala teve paciência e visão de jogo para ver Anderson, cortando no garrafão, completamente livre. Dois pontos para o pivô, que abriria 15 no marcador (36 a 21), num momento em que o adversário parecia grogue em quadra. Foi o tipo de jogada que evidencia a importância dos deslocamentos sem a bola que tanto se cobra no time.

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Por falar em Huertas… O condutor da seleção fez mais uma partida fraca, no mínimo. Já chegamos a um estágio que é para se preocupar? O titular do Barcelona hoje somou, em 25 minutos, 4 pontos, 4 assistências e 4 desperdícios de posse de bola e a pior marca no saldo de cestas da seleção: 11 pontos negativos. Mais do que os números, chamou a atenção seu desempenho um tanto aerado. De seus quatro turnovers, três foram cometidos de forma incrível, com o experiente atleta saltando com a bola sem ter um destino claro (não sabia bem se passava ou arremessava, entregando-a nas mãos dos adversários). O terceiro erro dessa linha foi no quarto período, em momento crucial. Chegou a reclamar da arbitragem, mas sem muita convicção. Estranho, bem estranho.

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A arbitragem, aliás, foi bastante confusa e, vamos lá, nada mesquinha. Interferiu demais no andamento de um amistoso, apitando 44 faltas. Quem levou a pior nessa foi Splitter, o melhor jogador brasileiro e o único a ficar pendurado com cinco infrações. Em 18 minutos, o catarinense terminou com 11 pontos, 6 rebotes e 2 assistências.