Vinte Um

Arquivo : Labissiere

Georginho conclui Hoop Summit com cotação pré-Draft ainda em suspense
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A talentosa seleção internacional do #HSU2015, com George usando a camisa 5

A talentosa seleção internacional do #HSUM2015, com George usando a camisa 5

Conforme o vice-presidente de um clube da Conferência Oeste disse ao blog na semana passada: o Nike Hoop Summit seria “crucial” para as pretensões de Georginho rumo ao Draft da liga norte-americana. Neste sábado, a seleção internacional, da qual o brasileiro fez parte, derrotou os Estados Unidos num jogo bastante equilibrado, por 103 a 101, definido realmente na última posse de bola.

Entrei em contato neste sábado com este mesmo executivo para saber qual teria sido o saldo do evento para a revelação do Pinheiros. A resposta dele foi um pouco mais cautelosa e reflexiva. Afinal, estamos falando de garotos. No caso do paulista de Diadema, um garoto de 18 anos. Nada pode ser tão definitivo assim. “Ele teve altos e baixos durante a semana, normal. Ainda é muito cedo para cravar qualquer coisa”, disse.

>> Não sai do Facebook? Curta a página do 21 lá
>> Bombardeio no Twitter? Também tou nessa

Quer dizer: o Hoop Summit poderia ser crucial para George dependendo de seu desfecho. No caso de ele se atrapalhar muito em quadra, ou de arrebentar com a concorrência. Não aconteceu nem uma coisa (a confirmação como calouro de primeira rodada ou a decolagem, nem outra (torpedear seu status). As opiniões se dividiram, deixando o status do garoto ainda em suspense. Algo também já esperado, por se tratar de um prospecto inexperiente, que está sendo estudado com mais afinco agora. Para falar do jogo? O brasileiro foi titular. Anotou a primeira cesta do duelo, num tiro de três pontos. Depois, criou uma boa situação de finalização para um companheiro. Parecia iniciar bem. Muito bem. No final, porém, acabou sendo o terceiro atleta menos utilizado pelo técnico canadense Roy Rana, com 12min51s.

O que aconteceu? Bem, para os que estão mais acostumados com seu jogo, sabe-se que Georginho gosta de jogar com a bola em mãos. Criar a partir de situações de pick and roll e infiltrações. Contra uma defesa atlética e entrosada como a americana, porém, Rana aparentemente não se sentiu confortável ou confiante de entregar a armação para o brasileiro. Ela foi entregue ao armador candense Jamal Murray (30 pontos, 5 assistências e 23 arremessos em 27 minutos) e ao ala multiuso australiano Ben Simmons, grande sensação do jogo (13 pontos, 8 assistências e 8 rebotes). Dois caras de potencial absurdo – e também significativamente mais experientes. Ao lado do pivô haitiano Skal Labissiere, outro talento impressionante, com 21 pontos e 8 rebotes em 28 minutos, carregaram a equipe.

Ben Simmons vai jogar por LSU na próxima temporada. Possível astro

Ben Simmons vai jogar por LSU na próxima temporada. Possível astro

O problema é que, mesmo quando Murray ou Simmons estavam fora, Georginho também mal tocou na bola. O italiano Frederico Mussini, que joga na primeira divisão de seu país e também tem muito mais rodagem de elite, e o sérvio Stefan Peno também tinham prioridade na condução. No final, o brasileiro estava deslocado em quadra, sem poder mostrar o que tem de melhor. Parecia mais utilizado por Rana por propósitos defensivos, devido a sua envergadura e agilidade. Tanto que foi acionado pelo técnico a dois segundos do fim, quando os americanos tentariam uma última bola para empatar ou virar o jogo. Interessante, mas muito pouco e injusto num evento desses.

“Ele parece muito mais confortável quando está com a bola em mãos, e não teve a chance de fazer isso na partida. Seria legal se ele tivesse mais oportunidades de conduzir um pico and roll, por exemplo”, diz o scout 1 (para efeito de distinção das fontes, sem poder identificá-las pelo nome, vou adotar uma numeração, ok?). “A única vez que pôde driblar a bola e partir para a cesta, conseguiu criar um arremesso livre para um companheiro.”

Georginho acabou deslocado em quadra, sem muitas chances para mostrar seu talento

Georginho acabou deslocado em quadra, sem muitas chances para mostrar seu talento

De qualquer forma, o jogo em si não é o que pesa mais na avaliação dos olheiros. A maioria esteve por lá durante toda a estadia em Portland, podendo observar os garotos em cinco dias de treino. O conjunto da obra é o que conta. Neste ponto, entram os altos e baixos do prospecto brasileiro. Conversei com cinco fontes independentes para tentar entender como foi o evento para ele. Vamos lá, então.

A semana começou mal, com dois dias fracos de treino. O jogador parecia um tanto deslocado, e a impressão que se tinha era a de que mal se comunicava com os companheiros. A dificuldade em se expressar em inglês, ainda que, do seu lado, garanta entender tudo o que lhe falam em quadra.

Aqui, já vale um bom aparte. Era meio que esperada essa dificuldade de adaptação imediata, mesmo que ele tenha feito bons treinos na academia IMG, com uma equipe experiente na preparação de jovens atletas. Na Flórida, George estava ao lado de Lucas Dias e de treinadores exclusivamente dedicados a ele. Em Portland, estava acompanhado pela elite de sua geração, caras que muito provavelmente nunca havia visto antes. Caras de diferentes lugares do mundo, de diferentes línguas. Comunicação, aqui, sempre seria um problema, e para todos.

Além do mais, há o fator pressão. Você está num ginásio rodeado por mais de 100 profissionais da NBA. Não é exatamente uma semana de aprendizado, mas muito mais de exibição. Ao menos era essa a mentalidade da maioria dos jogadores convocados. Fica difícil de estabelecer química em quadra quando o que impera é o cada um por si. Uma situação que ficou clara em diversos momentos da partida deste sábado e que estava exacerbada nas primeiras sessões, nas quais lagunas atletas podem ter chamado a atenção por suas habilidades individuais, mas nas quais a qualidade do basquete praticado era péssima. Algo generalizado, frise-se.

Outra: há um considerável desnível técnico se formos comparar os melhores jogadores em ação na LDB nacional com os talentos que encontrou nos Estados Unidos. Obviamente. Ter mais minutos no NBB teria ajudado muito mais, diga-se. Então leva um tempo para assimilar o que e quem está ao seu redor. Algo também totalmente natural.

Juntando tudo isso, o que temos é um terreno pedregoso para um jogador que tem apenas dois torneios intercontinentais em seu currículo – a Copa América Sub-18 e o Nike Gloal Challenge. “Ele pareceu totalmente assustado e longe de estar pronto”, afirmou outro olheiro, o scout 2. “Acho que a língua atrapalha. Ele obviamente não está acostumado ao nível de competição que encarou aqui”, disse o scout 1, que ressalta como a equipe era, em geral, bem mais qualificada que o normal. “Esta é a primeira vez em nove anos que vejo esse jogo na qual a equipe internacional é muito mais talentosa que a dos Estados Unidos.”

>> Semana crucial, enquanto a concorrência cresce
>> Apresentando Georginho, o próximo alvo da NBA
>> Lucas Dias: da impaciência ao desenvolvimento
>> Georginho e Lucas Dias vão declarar nome no Draft

>> Técnico americano avalia o potencial da dupla

Com o passar dos treinos, porém, o nível de seu basquete passou a subir. Estava mais solto para influenciar o jogo do modo que seus atributos físicos incríveis propiciam. Sim, não podemos nos esquecer das medições do brasileiro, com a maior envergadura e alcance com os braços esticados para um armador qualificado como “armador” inscrito no Draft. Todos salivaram. Esse fator isolado, contudo, não garantiria uma sólida carreira. Precisa botar em prática.

“Sua forma de arremesso é um pouco estranha, mas é muito mais efetiva do que eu esperava. Seu drible também é bom, natural. Ele tem bons instintos na hora de avançar com a bola. Mas por vezes comete algumas decisões ruins no passe. Ele mostrou flashes durante os treinos, mas também pareceu confuso algumas vezes. O jogo correu um pouco rápido para ele no início”, avalia o scout 1, que obviamente teve uma impressão mais positiva do jogador. Curiosamente, o dirigente do início do texto repetiu a mesma expressão: “Mostrou flashes, mas em alguns momentos os jogos pareceram muito rápidos para eles”.

As estatísticas oficiais da partida, divergentes da planilha apresentada pela USA Basketball em seu site

As estatísticas oficiais da partida, divergentes da planilha apresentada pela USA Basketball em seu site

O chapa Jonathan Givony, presidente do DraftExpress, site especializado de maior respaldo entre os olheiros da NBA, atestou a evolução gradual de Georginho. “Ele finalmente começou a sair de sua concha. (No treino de sexta), nas primeiras posses de bola, ele atacou o aro num movimento decidido para tentar uma enterrada, e não parecia tímido de modo algum disparando a partir do perímetro durante todo o coletivo. Assim como o resto do time, ele tentou fazer acontecer mais cedo no cronômetro, usando seu corpo alto e forte para entrar no garrafão e sofrer faltas. Defensivamente, ele tinha uma presença constante, topando a troca de marcação e ficando com jogadores mais altos (como Ben Simmons), sem conceder nada, o que dá uma flexibilidade excelente ao seu time. É impossível não ver o quão talentoso ele é”, escreveu, antes do jogo.

Georginho, nas quadras de treino do Trail Blazers

Georginho, nas quadras de treino do Trail Blazers

O scout 2 já se mostra mais pessimista: “Os atributos físicos estão ali, mas isso não é o bastante. Ele é compridão e tudo, mas não achei que ele tenha jogado bem aqui. Deu para ver que no jogo os técnicos e companheiros não confiaram nele”.

Um consenso entre as fontes consultadas é de que a palavra-chave é “paciência”. Isto é: algo básico para falar de um jogador jovem quem mal é utilizado na primeira divisão do basquete brasileiro. Ao contrário do que afirmou, por exemplo, Dan Barto, o treinador que trabalhou com o brasileiro na IMG. “Ele está longe de ser um produto finalizado. A única questão é se algum time vai ter a paciência para deixá-lo crescer com suas dificuldades iniciais e se desenvolver com tempo de quadra e com seus erros, que não devem ser lá muito divertidos no começo”, escreveu Givony.

O executivo acha que sua cotação “caiu um pouco”, mas que tudo dependia do ponto de vista do observador. Givony, por exemplo, o listava como o 30º prospecto mais talentoso do Draft. Manteve essa posição. Chad Ford, especialista do ESPN.com, o tinha em 74º antes do Hoop Summit, mas agora o coloca como o 56º.

“Nunca estive nessa onda de primeiro round para ele”, diz o scout 2. “Então não foi decepcionante para mim. Ele seria um prospecto de segunda rodada para alguém que se impressione com sua envergadura. Mas posso estar errado, claro. Acredito que vá levar um longo tempo mesmo para que ele possa produzir. O que você vai precisar é de uma equipe que tenha uma vaga aberta no elenco e, ao mesmo tempo, controle seu próprio clube na D-League. Nem sempre é fácil achar isso”, disse o scout 2. “Provavelmente ele não esteja na primeira rodada neste momento, mas nunca se sabe. Ainda acho que seria melhor para ele entrar no Draft e deixar o Brasil. É o melhor para o seu desenvolvimento”, disse o scout 1, com ênfase em “deixar o Brasil”. “Jogar na Europa também não seria uma ideia ruim.”

Alguns pontos importantes para se destacar: percebam que essas são opiniões de algumas vozes no mundo da NBA. Mais de 100 avaliadores da liga estiveram em Portland. As opiniões vão divergir ainda mais se você abrir o leque. Como sempre digo: basta um time se apaixonar por um jogador para toda previsão mudar, e sei que um clube já havia se encantado pelo brasileiro no ano passado, enquanto estudava Bruno Caboclo. Mais: ainda não sabemos quais prospectos exatamente vão concorrer ao Draft e nem a ordem final dos times. Cada detalhe tem influência numa ciranda tão volátil como essa.

Por ora, no entanto, o armador retorna ao país. Nesta segunda-feira, já se apresenta a Marcel de Souza no Pinheiros, com o time enfrentando o Brasília pelos mata-matas do NBB. Também deve participar de partidas do Paulista Sub-19. Depois, ficará no aguardo de convites dos clubes da NBA para os exigentes treinos privados. Etapa na qual o mesmo vice-presidente afirma que será igualmente importante no processo de recrutamento e na qual o brasileiro terá mais chances de mostrar seu potencial. Está cedo ainda, e o tempo sempre estará ao lado de Georginho.

Atualização: recebi neste domingo pela manhã um feedback breve de mais um scout: “Nossa equipe avaliou que ele pode ser uma escolha de segunda rodada este ano devido ao seus atributos atléticos, mas que levaria um tempo para contribuir: coisa de 2 a 3 anos”.


< Anterior | Voltar à página inicial | Próximo>