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Arquivo : La Bomba

Na final, não tinha como evitar: ouro para os Estados Unidos
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Giancarlo Giampietro

Kevin Durant e LeBron James

Kevin Durant e LeBron James: “We’re togetha!”

A Espanha guardou tudo o que tinha para o fim. Juan Carlos Navarro, enfim, soltando bombas nas Olimpíadas – até que Kobe Bryant o vigiou no segundo tempo. Rudy Fernández estava para todos os rebotes ofensivos, trombando com os astros norte-americanos, tentando fazer cara de mau, cometendo 87 faltas. Seus atletas aprontaram um escarcéu danado com a arbitragem, reclamaram de tudo o que era marcado ou deixava de ser marcado. Queriam o ouro de qualquer jeito, naquele confronto que tanto esperavam – e evitavam. Mas na final não tinha para onde fugir.

Eles jogaram, enfim, o que sabiam, de acordo com o que se esperava a caminho do torneio, como a segunda grande força do basquete mundial e candidata a destronar os norte-americanos. Deixaram o ginásio estranhamente silencioso – quando o locutor histérico da arena permitia, claro –, tenso, irrequieto, com muito suspense: quem venceria??? Jogão.

Acontece que, do outro lado, o talento reunido era enorme, além de muito determinado e bem treinado. Uma artilharia incomparável, com três, quatro ou até cinco atletas espalhados pela quadra com potencial de acabar com a partida em um instante.

São 30 pontos de Kevin Durant, que nunca arremessou livre de três pontos tantas vezes em sua carreira, 19 de LeBron James, 17 de Kobe Bryant e, na hora de desafogar, mais 11 para Chris Paul, todos no segundo tempo. E pensar que ainda faltaram cestinhas como Dwyane Wade, Derrick Rose e Chris Bosh.

17 pontos para Kobe

17 pontos para Kobe

Com tanta gente boa, a defesa adversária não sabe muito o que fazer. Cobre de um lado, descobre o outro, e convive com um aproveitamento de 41% nos tiros de fora, com 45 pontos produzidos desta maneira. Abre sua defesa e permite as infiltrações dos mesmos atletas versáteis, com um aproveitamento de 58% no jogo interno. Chumbo grosso.

O que faltou aos Estados Unidos na final só foi uma defesa mais eficiente, mais intensa, a qual seus superatletas poderiam conduzir – ou será que até eles se cansam numa temporada extenuante dessas? Pode ser. Eles só conseguiram a separação no placar no início do quarto período depois de encaixarem seguidamente boas defesas que resultaram em desarmes. E, de todo modo, não se pode subestimar quem estava do outro lado, porém: a Espanha escalou muita gente habilidosa e experiente para cuidar da bola – foram apenas 11 desperdícios de posse.

Essa estabilidade ofensiva ajudou a alimentar o excepcional Pau Gasol. Que os torcedores do Lakers tenham assistido a esse jogo atentamente, para não se esquecerem do talento formidável de seu pivô. Firme, sem fugir do contato e, melhor, sem perder a cabeça, terminou com 24 pontos, 8 rebotes e 7 assistências. Sete assistências do pivô! Mais do que LeBron e Paul juntos.

Gasol tentou de tudo, mas não contou com a ajuda de seu irmão – esse, sim, mais desequilibrado no jogo, cometendo quatro faltas em 15 minutos de partida, privando a Espanha de sua cartada supersize. No fim, foram os Estados Unidos que venceram a batalha por rebotes, mesmo com Tyson Chandler limitado a oito minutinhos. Palmas aqui para Kevin Love (9 rebas), Durant (mais nove) e LeBron (com sete).

Jogando com esta gana e preparação, vai ser difícil que alguém os derrote. Agora são 62 vitórias e uma derrota na gestão de Coach K, e apenas uma derrota, a da semifinal para a Grécia de Theo Papaloukas e Sofoklis Schortsanitis. O técnico não segue mais com a equipe para o próximo ciclo olímpico, mas Jerry Colangelo fica por lá, com a estrutura mantida. Aí fica difícil de competir, não importando os atalhos que queiram tomar.

O Coach K se despede do Team USA

O Coach K se despede do Team USA

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LeBron James é o primeiro jogador desde Michael Jordan a vencer o título da NBA, com os prêmios de MVP da temporada e das finais, na mesma temporada em que conquista o ouro olímpico. Um ano incrível e redentor para o fenômeno, realmente.

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Kevin Durant terminou as Olimpíadas com 156 pontos em oito jogos, sendo o cestinha (no total) do torneio, batendo um recorde. Em média, Patty Mills foi o melhor, com 21,2 por partida, contra 19,5 do americano, que dessa vez não precisou carregar o time nas costas como aconteceu no Mundial de 2010.

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Na disputa do bronze, não deu o terceiro pódio seguido para nossos vizinhos. Ginóbili e Scola foram até o fim também (37,4 pontos por jogo para os dois, somados), mas não deu. Medalha para Rússia, e um talento como Andrei Kirilenko merecia a dele. Assim como o técnico David Blatt. Se temos nosso técnico argentino, precisou um norte-americano para reformular a seleção russa, realizando o potencial do país.

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A carreira de Anthony Davis, 19, começou bem, não? Um título universitário, quatro meses depois o ouro olímpico. Simbolicamente, a bola terminou em suas mãos. Que venha o futuro.


Após murro e derrota, furioso Batum detona seleção da Espanha
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Giancarlo Giampietro

Batum acerta soco em Navarro

Golpe baixo de Batum em Navarro

Quando você está perdendo a partida e resolve dar um soco (veja animação) em um de seus adversários, com golpe baixo, isso não estaria exatamente de acordo com o ideal espírito olímpico, não? O ala Nicolas Batum não está nem aí, porém: “Se perde você um jogo de propósito, isso é espírito olímpico?”, respondeu já perguntando o francês, ao ser questionado se a agressão em Juan Carlos Navarro feria a cartilha do Barão de Coubertin.

Foi um ataque, então, em todos os sentidos, e com raiva, contra os espanhóis, que teriam, digamos, facilitado a vida do Brasil no complemento da primeira fase olímpica para enfrentar os franceses nas quartas de  final e, principalmente, escapar dos Estados Unidos nas semis.

A essa altura, a imprensa internacional e a própria mídia do país assumem que a Espanha entregou a partida para a seleção de Magnano. Já dissemos que pouco importava.

Para Batum, no entanto, importou, e muito.

 Na mesma entrevista ao intrépido Adrian Wojnarowski, superjornalista do Yahoo! norte-americano,  o jogador do Portland Trail Blazers foi além ao comentar seu murro em Navarro: “Queria dar uma boa razão para ele se jogar”. (Na verdade, ele usa o termo “flop”, que seria o nosso “cavar falta”, fazer teatro para iludir a arbitragem.)

Pegou pesado o francês, que, ironicamente, muitas vezes é criticado na NBA por sua suposta passividade em quadra.

 Não ficou só nisso, aliás: durante a entrevista coletiva posterior ao jogo, o técnico francês Vincent Collet se recusou a responder uma pergunta de um repórter espanhol… Justamente pelo fato de ele ser espanhol.


Teve entrega? Não importa: seleção faz sua parte, derrota Espanha e ruma ao mata-mata
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Giancarlo Giampietro

Seleção aplaudida: quarta vitória na primeira fase

Seleção aplaudida: quarta vitória na primeira fase sobre poderosa Espanha

Vamos colocar assim: dá para considerar no mínimo curiosa a decisão de Sergio Scariolo de manter Marc Gasol sentado por seis bons minutos no quarto final. Ainda mais considerando o carnaval que ele e seu irmão mais velho, que ficou fora por cinco minutos, estavam fazendo na defesa brasileira, e Felipe Reyes não produzia nada. Sergio Scariolo chegou a parar o jogo com 8min05s para o fim, quando sua vantagem havia caído de 11 pontos para quatro. Teve a chance de chamar a cavalaria, mas manteve seu quinteto. Ele só voltaria a pedir tempo aos 4min17s, quando o Brasil assumiu a liderança após bola de três de Leandrinho.

A Espanha entregou o jogo, então?

Sei lá. Não dá para cravar.

E quer saber? De que importa?

Marc Gasol

Marc Gasol marcou 20 pontos, deu 4 assistências e acertou 7 de 10 arremessos e foi punido por Scariolo no 4º período?

Assim como atropelou a apática China na quarta rodada, a seleção tratou de fazer sua parte nesta segunda-feira.

Mesmo que não tenha feito sua melhor partida na defesa, a equipe de Magnano compensou com seu melhor rendimento no ataque, bateu – sem Nenê, diga-se – um adversário que era tido como a segunda principal força das Olimpíadas e só pode ir cheio de confiança para os mata-matas.

Em 40 minutos, a seleção cometeu apenas nove desperdícios de bola, num controle excepcional do ritmo da partida. Buscou os tiros de três pontos muito mais em jogadas pensadas do que forçadas – homens posicionados na zona morta para o disparo em contra-ataque equilibrado, com o passe vindo de dentro para fora, corta-luzes fora da bola para livrar os alas etc. Acertou, no total, 51,4% de seus arremessos de quadra, disparado seu melhor aproveitamento no torneio. (Ingoremos qualquer número que venha do coletivo contra a China, tá?)

Se os espanhóis se empenharam, ou não, para vencer o jogo, eles que respondam a sus compinches.

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Aqui no QG 21, a opinião de uma só cabeça (quase) pensante é a de que, na real, faltou intensidade em boa parte do jogo para ambos os lados. Seria exagero dizer que, em alguns momentos de jogo, parecia muito mais um amistoso do que uma partida valendo algo nas Olmpíadas? Veja os números ofensivos combinados: apenas 25 erros cometidos e convertidos 51% dos arremessos de quadra (64 de 124). Não condiz com o histórico das equipes.

Huertas x Calderón

Huertas pôde descansar mais um pouco

Depois, em bate-papo rápido com o Murilo Garavello, gerente da casa aqui – e, nos bons tempos, um tratorzinho na hora de partir para a cesta, creiam –, ele levantou um ponto a ser levado em conta: com a classificação decidida, nenhum dos treinadores iria se submeter a um alto risco neste jogo. Faz sentido. Por que exatamente você vai gastar todas as suas energias, flertar com o limite para ter o direito de enfrentar França ou Argentina nas quartas?

Daí que, do lado brasileiro, essa pergunta é bem relevante, considerando que Nenê ficou fora do jogo nesta segunda. O pivô do Washington Wizards estava realmente incapacitado de jogar hoje ou foi meramente poupado, para preservar seu pé, para a batalhas maior que teremos na quarta-feira? Se for o segundo caso – como afirma Magnano –, sinal de que a seleção não encarou a Espanha como uma questão de vida ou morto. Mas também nem precisava.

(Se ele realmente voltou a sofrer mais do que a conta com as dores crônicas no pé, aí complicou um bocado. Está certo que nenhum time tem um jogo interior como o da Espanha neste torneio, mas não custa mencionar que Caio saiu excluído de jogo com cinco faltas em dez minutos.)

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Primeiro contra a Rússia. Agora contra a Espanha. Os dois adversários mais fortes da chave. E dois jogos em que Marcelinho Huertas descansou por oito minutos no quarto período simplesmente pelo fato de que sua presença não era necessária em quadra. E dessa vez quem segurou o rojão foi o caçula Raulzinho, que jogou por 16 minutos e foi bem, com seis pontos, quatro assistências e muita energia contra alguns de seus conhecidos de Liga ACB. No quarto período, tendo Larry ao seu lado por três minutos, comandou bem uma sucessão de contra-ataques brasileiros, acelerando a partida para Leandrinho deslanchar – ele marcou 12 pontos em seis minutos.


Notas olímpicas: a fase de Carmelo e os problemas de Prigioni e Navarro
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Giancarlo Giampietro

Juan Carlos Navarro, de fora

De agasalho e cabelo novo, Navarro não ajuda muito a Espanha

Só para desafogar um pouco:

– Isso já vem lá de trás no Pré-Olímpico de Las Vegas-2007, mas nestas Olimpíadas está impossível: como o jogo de Carmelo Anthony se traduz para o basquete Fiba de maneira perfeita. Com a linha de três um pouco mais próxima, contra jogadores menos atléticos do que os que vê regularmente na NBA e os diversos astros ao seu redor, o ala da seleção norte-americana vira uma arma mortal toda vez que recebe a bola, não importando o ponto em que está da quadra. No mano-a-mano, ele pode girar rapidamente e fazer o arremesso. Pode driblar de frente para a cesta, frear e subir, devidamente equilibrado, para chutar sobre os braços estendidos do marcador. Se quiser, também pode levar seu oponente para o garrafão e exibir seu jogo de pés consistente e a base muito forte para chegar até a tabela e completar a bandeja. Então, fica aberto aqui o bolão: quando será que Melo vai errar uma cesta daqui para a frente no torneio?

– A aura de invencibilidade e a vaga previamente garantida na final para a Espanha foram para o buraco de vez com a derrota para a Rússia. Na verdade, sua imagem já estava tudo severamente arranhada pela campanha que vinham fazendo nesta primeira fase, bem mais fraca quando comparada ao que executaram no último Eurobasket com o time completo. Faz muita falta para a seleção um Juan Carlos Navarro inteiro. Com as Bombas caindo, fica mais complicado para o adversário se acertar: como parar seus chutes em flutuação, como subir a defesa até o perímetro e ter de conter ao mesmo tempo o jogo interior com os Gasol e Ibaka? Sem Rubio, sem Navarro, o time espanhol perde muita criatividade em seu ataque, além de dois jogadores que colocam pressão na defesa. Calderón é um ótimo jogador, mas seu jogo é muito menos vertical. Contra a Rússia, Navarro jogou por 23 minutos, mas foi pouco efetivo, com apenas nove pontos, uma assistência e 27% nos arremessos.

– Você imaginaria que o jovem Facundo Campazzo poderia se tornar o principal jogador da Argentina numa Olimpíada? Nem eu. O armador teve de batalhar até o fim para garantir seu lugar no grupo de Julio Lamas, concorrendo com Nicolás Laprovittola e, agora, se vê numa situação  de pressão, dependendo da condição física do veterano Pablo Prigioni. O armador, recém-contratado pelo Knicks, vem sofrendo com cólicas renais nos últimos dias, não deve nem estar treinando direito, e como esses percalços vão influenciar seu basquete para os mata-matas?

 


Prévia olímpica: Espanha se apresenta como a grande resistência à revolução dos EUA
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Giancarlo Giampietro

No título postado acima, a palavra-chave é “grande”.

Se os Estados Unidos estão, digamos, desencanando de jogar com pivôs tradicionais nas Olimpíadas, seja por opção tática ou porque não tinham outra solução, a Espanha ainda aposta em uma versão mais tradicional, com duas torres no garrafão. Os irmãos Gasol estão aí para isso.

Poupado (estrategicamente?) do amistoso desta terça contra os próprios EUA, Marc Gasol está listado oficialmente pela NBA como um jogador de 2,16 m de altura. Já seu irmão mais velho, Pau,  tem 2,13 m. São bem grandes. Sem falar no Serge Ibaka, de 2,08 m, que impressiona mais pela capacidde atlética e envergadura.

Pau e Marc Gasol dividem um toco

Do lado norte-americano, o discurso é de que eles não se importam muito com isso. “Há muitos grandões que não conseguem jogar. Há jogadores mais baixos que são melhores que eles. Já vimos Griffin encarar o Marc Gasol. E esses duelos valem dos dois lados: eles precisam marcar nossa rapidez e velocidade”, afirmou Jerry Colangelo, o chefão da equipe norte-americana, grande responsável sobre a revitalização das seleções do país.

O problema nesse raciocínio é que, além de gigantes, os dois barbudos sabem jogar, e muito. Chutam de média distância. São ótimos passadores. Jogam bem de frente e costas para a cesta. O que deixa os espanhóis bastante confortáveis a respeito.

Em enquete promovida pelo site HoopsHype com seis jogadores da atual campeã europeia, Marc Gasol e José Calderón tentaram esconder o jogo quando questionados sobre qual seria a fraqueza dos grande rivais pelo ouro, mas o restante não se aguentou. “Jogando com Pau, Marc e Serge IBaka, temos uma vantagem importante”, disse Rudy Fernández. “Algumas vezes eles não vão ter pivôs no garrafão, então com Serge e os irmãos Gasol acho que podemos machucá-los um pouco”, disse Juan Carlos Navarro. Sergio Rodríguez e Victor Claver assentiram.

Pau e Marc GasolAgora… A parte em que Colangelo fala sobre o jogo ser disputado dos dois lados não deixa de ser verdadeira também. Mesmo que o Griffin por ele citado tenha se lesionado depois, o conceito pregado pelo cartola e aplicado praticamente pelo Coach K vale da mesma forma. O próprio Rudy Fernández  concordou: “Quando eles atacarem, vamos ter dificuldades, porque eles são menores e se mexem muito bem pela quadra”.

Com Splitter, Varejão e Nenê, o Brasil seria também uma equipe capaz de criar esse tipo de problema para os norte-americanos com seu tamanho. Por outro lado, sabemos que nenhum dos três tem a categoria de um Pau Gasol.

De resto, em termos de garrafão e formações mais tradicionais, não há muito o que temer, não, como analisamos neste post aqui.

Outro ponto importante: não é que os Estados Unidos tenham apenas seus homens de garrafão mais velozes do que a média. Apostar corrida com Russell Westbrook, Andre Iguodala e Chris Paul também não é fácil.

Ficamos, então, diante daquele jogo de gato-e-rato que torna o basquete um esporte taticamente especial.

Prévias olímpicas no Vinte Um:

Coach K promove revolução tática. Mais ou menos como o Barcelona

No torneio masculino, pelo menos nós “voltamos a falar de basquete”

No torneio feminino, as meninas têm a chance de priorizar o time

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