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NBA: o que curtir ou chiar nos times da Divisão Sudoeste
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Giancarlo Giampietro

Cada equipe tem suas particularidades. Um estilo mais ofensivo, uma defesa mais brutal, um elenco de marmanjos cascudos, outro com a meninada babando para entrar em quadra. Depois das Divisões Sudeste, Atlântico e Central, vamos dar uma passada agora pela Sudoeste, mirando o que pode ser legal de acompanhar e algumas coisas que provavelmente há de se lamentar. São observações nada científicas, estritamente pessoais, sujeitas, então, aos caprichos e prediletos de uma só cabeça (quase) pensante:

DALLAS MAVERICKS
Para curtir:
– Quando Dirk Nowitzki dá aquele passo maroto para trás e, mesmo com um pé só plantado, consegue o equilíbrio necessário para matar um chute de média distância lindo que só.

Rick Carlisle tirando o máximo do que tem disponível.

José Calderón e seu jogo de mínimos erros, sem deixar de botar seus parceiros em boas condições para fazer a cesta.

– E o Gal Mekel, esse israelense surpreendente, aprendendo tudo rapidinho com o espanhol.

Monta Ellis jogando num time vencedor… Quer dizer… Será?!

Shawn Marion ainda encontrando um jeito de apanhar seus rebotes, atrapalhar cestinhas, mesmo que seu nível de capacidade atlética ainda não seja mais o de Keanu Reeves no Matrix.

DeJuan Blair fazendo das suas na tabela ofensiva.

– As decolagens de Brandan Wright.

Para chiar:
– Os efeitos do tempo contra um jogador espetacular como Nowitzki. É desses que deveria durar para sempre.

Samuel Dalembert achando que pode, mas sem proteger direito o garrafão.

Monta roubando arremessos de Dirk na hora de decidir um jogo.

– A fragilidade física de Wright.

HOUSTON ROCKETS
Para curtir:
– O barbeiro de James Harden.

– E, ok, também a inteligência de Harden para atacar a partir do pick-and-roll, partindo para a cesta de modo incessante, carregando os pivôs adversários de faltas.

– Um Dwight Howard saudável.

Jeremy Lin provando que é muito mais que uma andorinha de um só verão.

Patrick Beverley, com seu baixo salário e talento diverso, lembrando a todos o valor de um bom serviço de scout.

– A versatilidade de Chandler Parsons e Omri Casspi nas alas.

– Qualquer instante de Donatas Motjeunas em quadra.

Para chiar:
– Os caprichos e pataquadas de um Howard, saudável ou não.

Omer Asik relegado a segundo plano depois de ótima campanha.

– O percentual combinado no acerto de lances livres entre Asik e Howard.

– Aqueles que ainda não (!?) perdoam Lin pelo que foi a Linsanidade.

MEMPHIS GRIZZLIES
Para curtir:
Marc Gasol, como o melhor pivô da família na NBA, e um pacote de fundamentos completo para um sujeito deste tamanhão todo. Craque.

Tony Allen sem parar, Tony Allen sem parar, Tony Alem sem parar…

Zach Randolph x Blake Griffin.

Mike Miller livre do gelo nas costas e sobrevivendo graças a seu lindo arremesso.

– Acompanhar o desenvolvimento de um time a partir de preceitos analíticos de John Hollinger.

Para chiar:
– A saída de Lionel Hollins.

– O soneca Tayshaun Prince, que já não assusta mais ninguém no ataque.

– A carência no tiro de três pontos para dar mais folga a Z-Bo.

NEW ORLEANS PELICANS
Para curtir:
– Monocelha!

– A evolução de Anthony Davis, que tenta justificar tanto otimismo por parte dos scouts da liga.

– Ver no que dá o experimento Holiday-Gordon-Evans. Em princípio, pode faltar bola para os três. Mas e se eles se ajeitarem, com três bons condutores, atacando de diversas formas?

– O posicionamento defensivo da rapaziada de Monty Williams.

Al-Farouq Aminu correndo a quadra como um doido varrido.

– Os jogos em que Brian Roberts deixa todos seus companheiros bem mais ricos envergonhados.

Para chiar:
– A turma do perímetro esfomear e não passar para o Monocelha.

– Pivôs limitados para fazer companhia a Davis.

– Os dias em que Tyreke Evans pode ser dos jogadores mais frustrantes da liga.

Aminu ainda sem saber direito o que fazer com a bola no ataque.

Austin Rivers relegado a um papel mínimo depois da evolução que apresentou no verão.

SAN ANTONIO SPURS
Para curtir:
Tim Duncan ainda batendo LaMarcus Aldridge em jogadas de transição, encapaçando os ganchinhos de corrida para a direita, protegendo o aro, tentando de tudo em busca de mais um título.

– A velocidade e controle de bola de Tony Parker em modo mais que agressivo.

– Os pick-and-rolls finalizados por Tiago Splitter.

– A evolução, passo a passo, de Kawhi Leonard.

– Entrevista de Gregg Popovich em rede nacional.

– Ver que o sexto sentido de Manu Ginóbili ainda funciona, mesmo que seu corpo já o traia muitas vezes.

– Os passes imprevisíveis de Boris Diaw, Manu e De Colo.

Patty Mills arrebentando em quartos períodos de surras pra o Spurs. E sua disputa contínua com Cory Joseph.

Para chiar:
– Qualquer resfriado que possa afetar a produção de Duncan.

– As inevitáveis diversas lesões de Ginóbili e os momentos em que sua cabeça pede uma coisa, mas a o corpo não responde do modo apropriado.

– Os flagras de Diaw em qualquer hamburgueria de San Antonio.


Pressionado, Fabrício Melo recomeça em Dallas e tenta cumprir promessa
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Giancarlo Giampietro

“Você simplesmente não acha tantos jogadores grandes que sejam tão talentosos como ele. Está na mesma categoria de Al Jefferson e DeMarcus Cousins em termos de seu nível de habilidades ofensivas. Ainda há algum trabalho a ser feito defensivamente e nos rebotes, mas sua evolução é evidente por conta de seu contínuo aprimoramento no condicionamento físico.”

Foi isso o que escreveu Jerry Meyer, analista do Rivals.com – um site especializado no recrutamento de jogadores colegiais nos Estados Unidos –, lá nos idos de 2009, sobre um jovem pivô Fabrício de Melo, que ainda tentava se acostumar a ser chamado de “Fab Melo” por seu mais novo treinador, Adam Ross, na Weston Sagemont Upper School, na Flórida. O brasileiro iniciava sua jornada em quadras norte-americanas e causava uma baita impressão.

Fabrício, tipo Boogie Cousins

Nos tempos de promessa colegial e comparações

Depois de uma avaliação dessas, você pode até duvidar das credenciais de Meyer, mas saiba que ele não estava sozinho nesta barca. Ao concluir sua formação colegial, foi convocado para as principais partidas festivas nesta categoria. Ao lado de Kyrie Irving, Harrison Barnes, Tristan Thompson e outros, por exemplo, disputou o tradicional McDonald’s All-American de 2010.

Três temporadas depois, porém, as comparações com Jefferson e Cousins soam surreais, enquanto o termo “promissor” aparece cambaleante ao lado de seu nome. Embora ainda jovem, aos 23 anos, abrindo apenas sua segunda temporada na NBA, já não seria um exagero dizer que o atleta vê sua carreira a perigo, em uma corrida contra o tempo que se iniciou, na verdade, desde que decidiu tentar a vida de jogador de basquete, mais tarde que o normal para os padrões americanos. Nesta semana, ele abre a pré-temporada como jogador do Dallas Mavericks, mas sem contrato garantido.

“Melo começou aqui (nos Estados Unidos) aos 18. Ele tinha 20 como um calouro de universidade. Faz uma grande diferença em termos de desenvolvimento. Acreditar que ele possa ser um um jogador de NBA agora é uma expectativa injusta”, afirma Amin Elhassan, analista do ESPN.com e ex-integrante de diretorias do New York Knicks e do Phoenix Suns. Para comparar: com os mesmos 20 anos (completados em agosto), Andre Drummond já vai para sua segunda temporada de Detroit Pistons.

De basquete organizado, num ambiente verdadeiramente estruturado, o pivô tem quantos anos? Cinco? Se você for considerar os treinos e jogos colegiais dos Estados Unidos como competição nesse nível, a conta seria essa. Mas Elhassan questiona até mesmo isso. “Ele jogou em Sagemont, no sul da Flórida. Não é que ele estivesse enfrentando jogadores de alta classe”, diz.

E um agravante: no Brasil, passou a encarar o basquete como algo a ser testado para valer aos 15, depois de um ano em que deu bela espichada, ultrapassando os 2 metros de altura. “Como todo brasileiro, eu jogava futebol. Mas reparei que era sempre o último a ser escolhido nas peladas. Aí comecei a jogar basquete e me apaixonei”, disse, com o bom-humor de sempre, em entrevista ao MegaMinas que juro que estava neste link aqui, até ficar fora do ar.

Leva mais tempo para os pivôs desenvolverem seus jogos. Quando eles começam tarde no esporte, esse processo de aprendizado fica ainda mais lento. No caso de Fabrício, ele acabava compensando essa falta de recurso técnico dominando fisicamente os atletas de sua idade em ligas colegiais inferiores da Flórida. Foi o suficiente para inflar seu status, com a NBA aparecendo precocemente como uma plausível meta. “Sei que Fab tem o objetivo pessoal de jogar na NBA. Muitos garotos têm esse sonho e, para a maioria, não é algo razoável. Com ele, hesito em dizer, mas seu objetivo é atingível. Com o tempo, ele será capaz de desenvolver habilidades do nível de NBA”, disse Ross, seu primeiro técnico nos EUA, em janeiro de 2010.

Bem, hoje sabemos que a própria liga reconheceu essas habilidades do pivô, com Danny Ainge lhe dedicando 22ª escolha do Draft de 2012. Mesmo tendo o rapaz passado dois anos na universidade de Syracuse, na qual o técnico Jim Boeheim investe muito na defesa por zona, algo ainda não muito comum na NBA e ainda limitado em suas regras. Quer dizer: era mais um desafio para Melo, fazer sua presença sentir efeito num jogo com espaçamento bem diferente e contra jogadores muito mais experientes e capacitados. “Ele tem algumas ferramentas físicas intrigantes, mas é difícil assimilar a velocidade e as demandas intelectuais do jogo quando não se tem muita experiência. Tem potencial, mas enfrenta dificuldade com o entendimento do jogo”, diz Elhassan.

Para Ainge, chefão do Celtics, essas dificuldades foram tão alarmantes que ele decidiu abortar o projeto apenas uma temporada depois de sua seleção. Fabrício apareceu em apenas seis partidas pelo Celtics na última campanha, acumulando apenas 36 minutos de ação (o equivalente a três quartos de uma partida). No total, foram apenas sete pontos, a mesma quantidade de faltas que cometeu. Na D-League, teve momentos melhores, como na sequência de partidas em que somou 15 pontos, 16 rebotes e um recorde de 14 tocos contra o Erie Bayhawks e 32 pontos, nove rebotes e nove tocos contra o Idaho Stampede. No total, teve médias de 9,8 pontos, 6,0 rebotes e 3,1 tocos (melhor da liga), em apenas 26,2 minutos.

Fabrício Melo, quase dominante na D-League

Pelo Maine Red Claws, alguns minutos, mas sem convencer Ainge

Não foi o suficiente, porém. Toda a paciência recomendada por analistas foi completamente ignorada pelo cartola e por uma crítica e torcida bastante exigentes. “Ele provou ser pouco mais que um projeto a longo prazo, na melhor das hipóteses”, sentenciou o Boston Globe. Duas semanas depois de adquirir o brasileiro, o Memphis Grizzlies também o dispensou, sem nenhuma intenção de desenvolvê-lo sob a tutela de um Marc Gasol. Nenhum clube o recolheu no período de waiver, como destaquei aqui. Seu status caiu tanto, que uma projeção do ESPN.com o apontou como o segundo pior jogador para a temporada 2013-2014.

Agora, em Dallas, Fabrício tem algumas semanas para tentar mudar essa percepção de “fiasco” em torno de seu jogo. Precisa convencer Mark Cuban, Donnie Nelson, o novo gerente geral Gersson Rosas e – por que não? – Dirk Nowitzki de que vale o investimento. É um tipo de experimento em que a franquia texana tem certa experiência. Que o digam DeSagana Diop, DJ Mbenga e Ian Mahinmi, três casos de pivôs fisicamente impressionantes, mas sem muitos recursos técnicos, que foram contratados como jovens agentes livres na gestão de Nelson.

O jeito é pensar a longo prazo, mesmo. Qualquer contribuição do brasileiro para a próxima temporada seria surpreendente (veja mais abaixo), mesmo que a companhia para o astro alemão não seja das mais inspiradoras no garrafão – temos aqui o temperamental Samuel Dalembert, o magricelo Brandan Wright, o frustrado DeJuan Blair e o sargento Bernard James.

Mbenga jogou por sete anos na NBA. Diop talvez tenha se despedido da liga na temporada passada, 11 anos depois de ser draftado. Mahinmi entra em sua quinta campanha, com mais dois anos, no mínimo, de contrato garantido. Será que Fabrício conseguirá ao menos seguir uma trilha dessas?

Pesquisando artigos sobre o início então promissor do mineiro nos Estados Unidos, surgiu também esta frase de seu primeiro treinador, falando sobre o sonho olímpico de seu jovem atleta. “Assim que (a sede de 2016) foi anunciada, ele me telefonou e estava muito empolgado. ‘Coach, o Rio ganhou. Eu vou. Vou estar lá'”, relembrou.

Esta não chega a impressionar tanto como a comparação feita pelo scout, sobre Cousins e Jefferson. Mas, hoje, também está longe.

Acompanharemos qual o desfecho deste conto.

* * *

O Mavs tem no momento 15 jogadores com contratos garantidos. Isto é, para permanecer no elenco texano, Fabrício vai ter de jogar muito em treinos e amistosos para que Mark Cuban e a comissão técnica decidam dispensar alguns destes salários, mesmo tendo que pagá-los na íntegra durante a temporada. Considerando que dez destes atletas acabaram de ser contratados como agentes livres (numa reformulação daquelas), é bem improvável que aconteça. De modo que o brasileiro teria de se contentar em jogar pela filial da D-League, o Texas Legends, que tem Donnie Nelson como um dos proprietários e Eduardo Nájera como técnico, além de Del Harris, Spud Webb e a pioneira Nancy Lieberman na diretoria.

* * *

Os arquivos online também renderam uma anedota de Fabrício em seleções brasileiras de base. Sul-Americano Sub-17 de 2007, em Guanare, na Venezuela. Fabrício foi convocado, ao lado de Augusto Lima, Vitor Benite, Rafael Luz. Todos nas listas recentes de Rubén Magnano. Menos o mineiro, que não foi chamado nem mesmo na pré-lista do argentino para a Copa América. O técnico era José Henrique Saviani, com o ex-armador Cadum como assistente e Lula Ferreira como supervisor. Neste torneio, o pivô foi o que recebeu menos minutos pela seleção, que terminou numa amarga quarta posição. Perderam para Argentina e Uruguai nos mata-matas.


Ranking põe 2 pivôs brasileiros entre os 20 piores jogadores da NBA, mas qual deles deve se preocupar?
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Giancarlo Giampietro

Fab Melo, o Fabrício

Fabrício não pôde mostrar muita coisa como novato, e seu status despencou em um ano

O melhor da NBA já sabemos quem é. Começa com K, quer dizer, com L. Com “L”, tá, pra ficar claro? Todos sabemos.

E que tal brincar de falar sobre os 5oo (5 x 100) melhores jogadores da NBA? Foi o que o ESPN.com decidiu fazer mais uma vez, a partir desta semana, e o início desta insanidade afetou diretamente os pivôs Fabrício Melo e Vitor Faverani, listados supostamente entre os piores jogadores da liga. O impacto deste ranking para os dois deveria ser nulo – para um deles, contudo, acaba sendo muito preocupante.

Antes de comentar a parte que os atinge, vale gastar algumas linhas sobre o projeto em si.

Empilhar 500 jogadores é algo tão maluco, mas tão maluco – e absurdo, e apelativo, e… Interessante? –, que, se quisessem adotar uma prática sadomasoquista, poderiam divulgar o resultado com um nome por dia, e assim passaríamos quase um ano e meio acompanhando o projeto.

Mas o site americano não precisa disso. O que eles vão fazer é pegar as cinco centenas de jogadores que seu imenso estafe ranqueou e dividi-las em blocos, de modo que a coisa dure apenas umas duas semanas, se tanto. A ideia, claro, é que acabe quando os training camps estiverem prestes a começar. Matam, assim, dois coelhos, dois pobres coelhos de uma vez: não só cobrem um período no qual, para eles, a notícia mais interessante pode ser a próxima briga que um Goran Dragic vá descolar na Europa, como arrumam um jeito de levar sua polêmica para dentro da cobertura geral da liga. Kobe e Dwyane Wade já reclamaram, por exemplo. Kobe, que começa com K, assim como Kevin, de Durant.

Faverani para el mate

Faverani nem jogou na NBA ainda e já se vê metido em lista de polêmicas, ou quase-polêmicas

Aí começa aquela bagunça que só, agitando bares, escritórios, condomínios, sem contar a paróquia. Isso gera tráfego, audiência, e pode até para o jornalista brasileiro oportunista: “Cara, você não vai acreditar, mas o idiota do Vinte Um chegou a pensar em colocar o Kobe ou o Durant na frente do LeBron como o bambambam da NBA? Tem noção?!”, reclama um. E do outro lado do Skype o outro responde: “Afe, vôclicá, caramótoupeira”, e pronto. Talvez percam alguns segundos digitando algum comentário bombástico. Habemus cliques e cliques, e assunto pra conversa.

Mas não é de Kobes e LeBrons que vamos falar, não. Do ponto de vista tupinambá, o ranking mal começou e já atingiu dois brasileiros: Fabrício, ex-Boston Celtics, e Victor Faverani, um novíssimo Boston Celtic.

Para Vitor, que ficou na posição 481 da lista, isso não representa nada. Coisa alguma. Bulhufas.

Como você vai ranquear um jogador que nunca pisou numa quadra de NBA? E, por mais amplo que seja o painel de eleitores, com mais de 200, é de se duvidar que 5% (dez, no caso) tenham gastado mais do que cinco minutos do pivô em ação pelo Valencia. Mas nem no YouTube. Então… Como exatamente eles vão dar para o paulista uma nota  maior ou menor do que a de DeSagana Diop, o veterano pivô que está logo acima na tabela, como o número 480? Diop, que somou 0,7 pontos e 1,9 rebote em 10,3 minutos pelo Charlotte Bobcats no campeonato passado – e que em sua carreira nunca teve média de mais de 20 minutos. Não faz sentido.

Ainda assim, Diop, selecionado em 2001 pelo Cleveland Cavaliers num histórico Draft – o mesmo de Tyson Chandler, Eddy Curry e Kwame Brown –, conseguiu dar um jeito de permanecer na liga até hoje, acumulando 13 temporadas de experiência. Nada como os 2,13 m de altura. A mesma de Fabrício Melo, que ficou na… Tipo… Em… 499º, também conhecido como penúltimo lugar. Atrás dele? Apenas Royce White. O que, aliás, parece até piada – e não se enganem, os jogadores reparam, sim, nesse tipo de “produto editorial”.

White é um ala-pivô cujas habilidades intrigantes nunca puderam ser testadas pelo Houston Rockets em seu ano de novato, tornando-se muito mais famoso por sua luta/campanha a favor do reconhecimento de doenças mentais como algo sério e relevante e que deveria ser enquadrado na política da NBA da mesma forma que lesões em articulações etc.  Não é nenhum absurdo, mas o modo como ele conduziu a campanha foi desastroso, para dizer o mínimo, virando chacota entre dirigentes e torcedores e uma anedota durante a boa campanha do Rockets. Acabou trocado para o Philadelphia 76ers. Sixers, que na verdade estava mais interessado em obter os direitos sobre o pivô turco Furkan Aldemir como contrapartida.

Fabríco Melo no ataque, ou quase

Fabrício, marcado por Steve Novak. Diz muito?

Pois é. Esse figura recebeu uma nota 1,50, contra 1,55 de Melo. Para constar: a pontuação ia de 0 a 10, com o intuito de avaliar a expectativa em torno do “nível geral de cada jogador para a próxima temporada da NBA”. Fabrício caiu de 389 para penúltimo. E aqui o ranking se torna relevante porque confirma uma percepção negativa em torno do jovem brasileiro ao redor da liga. Seu status não poderia estar mais baixo no momento.

De certa forma, poucos viram o brasileiro jogar no último ano também. Vestido de Celtic, ele ficou em quadra por apenas 36 minutos em toda a campanha 2012-2013. Não dá nem uma partida inteira de Fiba. Como avaliá-lo, então, de uma forma justa? Muito difícil. Daí que o fato de ele ter sido dispensado pelo Celtics não pegou nada bem e o empurrou ladeira abaixo. Afinal, era o clube que estaria mais interessado em seu desenvolvimento e, principalmente, mais informado a seu respeito, não? E, se Danny Ainge desistiu tão rápido, que tipo de mensagem isso passa para seus concorrentes e para quem cobre o assunto?

E há mais ingredientes: depois de apenas uma campanha, o pivô foi trocado pelo Boston Celtics para o Memphis Grizzlies. De imediato, a franquia gerida por fanáticos por estatísticas decidiu por dispensá-lo – isto é, estavam mais interessados nas possibilidades estratégicas que a negociação proporcionava, do que em adotá-lo como um novo projeto. E o que aconteceu depois? Nenhuma franquia sequer se candidatou a recolhê-lo durante o período de waiver. Nenhuma, nem mesmo aquelas abaixo do teto salarial que ainda precisam preencher seu elenco. Mesmo sendo ele ainda jovem, com apenas um ano na liga e um gigante que não se encontra todo dia por aí. Até que, por fim, o Dallas Mavericks decidiu convidá-lo para seu training camp, mas sem nenhuma obrigação contratual.

Vamos discutir mais sobre o pivô e sua curiosa trajetória no basquete norte-americano em breve, reunindo material desde seus tempos como um badalado colegial na Flórida. Na cabeça do mineiro de Juiz de Fora, porém, estes tempos já não podem contar para mais nada. É hora de engolir a seco essa cotação baixíssima, encarar o duro e reformular sua reputação para ontem. Não se trata mais de brincadeira.

*  *  *

Scott Machado, ainda sem clube, mas flertando com um retorno ao time do Warriors na D-League, ficou com a 463ª posição, grudado em… Lamar Odom. Os dois tiveram a mesma nota: 2,05, assim como, ironicamente, Ian Clark, ala-armador que roubou tempo de quadra do brasileiro nova-iorquino durante a liga de verão de Las Vegas e acabou descolando um contrato garantido do Utah Jazz. Um arremessador excepcional.

*  *  *

A ideia era publicar na quinta-feira um artigo sobre a influência dos jogadores norte-americanos no EuroBasket, mas um problema técnico me fez perder… Hã… Basicamente todos os números que levantei dos “gringos”. Daqueles momentos em que você perde a fé na tecnologia. Vamos ver se dá ânimo de fazer de novo.


Na tabela 2013-2014 da NBA, os jogos (alternativos) que você talvez queira ver
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Giancarlo Giampietro

Com olançamento sempre adiantadíssimo de tabela, agora da temporada 2013-2014, a NBA já reservou em seu calendário – sem nem consultá-los, vejam só! – algumas noites ou madrugadas de suas vidas. E nem feriado eles respeitam, caramba.

Já é hora, então, de sentar com o noivo, avisar a namorada, checar se não é o dia da apresentação do filho, e que a universidade não tenha marcado nenhuma prova para essas datas: Kobe x Dwight, retorno de Pierce e Garnett com Boston, o Bulls abrindo a temporada contra os amáveis irmãos de Miami, Kobe x Dwight, as tradicionais visitas de LeBron ao povoado de Cleveland, Nets x Knicks, revanche Heat x Spurs, Kobe x Dwight etc. etc. etc. Não precisa nem falar mais nada a respeito.

Mas, moçada, preparem-se. Que não ficaria só com isso, claro. A liga tem muito mais o que oferecer para ocupar seu tempo de outubro a junho. Muito mais. Colocando a caixola para funcionar um pouco – acreditem, de vez em quando isso acontece –, dá para pescar mais alguns jogos alternativos que talvez você esteja interessado em assistir, embora não haja nenhuma garantia de que eles vão ocupar as manchetes ou a conversa de bar – porque basqueteiro também pode falar disso no bar,  sem passar vergonha. Pode, né?

Hora de rabiscar novamente a agenda, pessoal. Mexam-se:

– 1º de novembro de 2013: Miami Heat x Brooklyn Nets
Depois de encarar o Bulls na noite de abertura, de descansar um pouco diante do Sixers, lá vem o Nets para cima dos atuais campeões logo em sequência. Essa turma de David Stern não toma jeito. Querem colocar fogo em tudo. Bem, obviamente esse jogo não é tão alternativo assim, considerando as altíssimas expectativas em torno dos rublos do Nets. Mas há uma historieta aqui para ser acompanhada em meio ao caos: será que Kevin Garnett, agora que não se veste mais de verde e branco, vai aceitar cumprimentar Ray Allen? Quem se lembra aí de quando o maníaco pivô se recusou a falar com o ex-compadre no primeiro jogo entre eles desde que o chutador partiu para Miami? Vai ser bizarro para os dois e Paul Pierce, certamente. Assim como a nova dupla de Brooklyn quando chegar a hora de enfrentar o Los Angeles Clippers de Doc Rivers em 16 de novembro.

No hard feelings? KG x Allen

E o KG nem aí para esse tal de Ray Allen ao chegar a Miami

1º de novembro de 2013:  Houston Rockets x Dallas Mavericks
Sim, uma noite daquelas! Mas sem essa de “clássico texano”. O que vale aqui é o estado psicológico de Dirk Nowitzki e o tamanho de sua barba. Contra o Rockets, o alemão vai poder se perder no tempo, divagando no vestiário sobre como poderiam ser as coisas caso o plano audacioso de Mark Cuban tivesse funcionado: implodir um time campeão para sonhar com jovens astros ao lado de seu craque. Dois astros como Harden e Howard, sabe? Que o Houston Rockets roubou sem nem dar chance para o Mavs, que teve de se virar com um pacote Monta Ellis-Samuel Dalembert-José Calderón e mais cinco chapéus e três botas de vaqueiro para tentar fazer de Nowitzki um jogador feliz.

Hibbert x Gasol

E que tal um Hibbert x M. Gasol?

– 11 de novembro de 2013: Indiana Pacers x Memphis Grizzlies
Vimos nos playoffs: dois times que ainda fazem do jogo interior sua principal força, e daquele modo clássico (pelo menos que valeu entre as décadas de 70 e 90), alimentando seus pivôs, contando com sua habilidade e físico para minar os oponentes*. Então temos aqui David West x Zach Randolph e Roy Hibbert x Marc Gasol. Só faça figas para que eles não esmaguem o Mike Conley Jr. acidentalmente. Candidatos a título, são duas equipes que estão distante dos grandes mercados, mas merecem observação depois do que aprontaram em maio passado.  Não dá tempo de mudar. (*PS: com a troca de Lionel Hollins por Dave Joerger, o Grizzlies deve adotar algumas das diretrizes analíticas de John Hollinger, provavelmente buscando mais arremessos de três pontos, mas não creio que mudem taaaanto o tipo de basquete que construíram com sucesso nas últimas temporadas e, de toda forma, no dia 11 de novembro, talvez ainda esteja muito cedo para que as mudanças previstas sejam totalmente incorporadas pelos atletas.)

– 22 de dezembro de 2013: Indiana Pacers x Boston Celtics
O campos da universidade de Butler está situado no número 4.600 da Sunset avenue, em Indianápolis. De lá para o ginásio Bankers Life Fieldhouse leva 17 minutos de carro. Um pulo. Então pode esperar dezenas e dezenas de seguidores de Brad Stevens invadindo a arena, com o risco de torcerem para os forasteiros de Boston, em vez para o Pacers local, time candidato ao título. Sim, o novo técnico do Celtics é venerado pela “comunidade” de Indianápolis e esse jogo aqui pode ter clima de vigília. (E, sim, mais um jogo do Pacers: a expectativa do VinteUm é alta para os moços.)

– 28 de dezembro de 2013: Portland Trail Blazers x Miami Heat
Se tudo ocorrer conforme o esperado para Greg Oden, três dias depois do confronto com o Lakers no Natal, ele voltará a Portland já como um jogador ativo no elenco do Miami Heat, deixando o terno no vestiário, indo fardado para a quadra. Da última vez em que ele esteve no Rose Garden, foi como espectador, sem vínculo com clube algum, sendo vaiado e aplaudido, tudo moderadamente. E se, num goooolpe do destino, o jogador chega em forma, tinindo, tendo um papel importante nos atuais bicampeões? Imaginem o tanto de corações partidos e a escala de depressão que isso pode – vai? – gerar na chamada Rip City.

– 13 de março de 2014:  Atlanta Hawks x Milwaukee Bucks
O tão aguardado reencontro entre Zaza Pachulia com essa fanática torcida de Atlanta, que faz a Philipps Arena tremer a cada jogo do Hawks. Não dá nem para imaginar como eles vão se comportarem na hora de acolher de volta esse cracaço da Geórgia, ainda mais vestindo a camisa do poderoso Bucks de Larry Drew – justo quem! –, o ex-técnico do Hawks. E, para piorar as coisas, o Milwaukee ainda tentou roubar desses torcedores o armador Jeff Teague. Não vai ficar barato! (Brincadeira, brincadeira.) Na verdade, an 597otem aí o dia 20 de novembro, bem mais cedo no campeonato, que é quando Josh Smith jogará em Atlanta pela primeira vez com o uniforme do Detroit Pistons. Neste caso, os 597 torcedores do Hawks presentes no ginásio e que consigam fazer mais barulho que o sistema de som vão poder aloprar o ala sem remorso algum quando ele optar por aqueles chutes sem-noção de média distância, desequilibrado, com 17 segundos de posse de bola ainda para serem jogados.

Ron-Ron tem um novo amigo agora

Ron-Ron agora vai acompanhar Melo em Los Angeles

– 25 de março de 2014: Los Angeles Lakers x New York Knicks
Já foi final de NBA, Carmelo Anthony seria um possível alvo do Lakers no mercado de agentes livres ao final da temporada, Mike D’Antoni não guarda lembrança boa alguma de seus dias como técnico Knickerbocker. São muitas ocorrências. Mas a cidade de Los Angeles tem de se preparar mesmo é para o retorno de Ron Artest ao Staples Center. Na verdade, o ala já terá jogado na metrópole californiana em 27 de novembro, contra o Clippers, mas a aposta aqui é que apenas quando ele tiver o roxo e o amarelo pela frente que suas emoções vão balançar, mesmo. E um Ron-Ron emocionado pode qualquer coisa. Nesta mesma categoria, fiquem de olho no dia 21 de novembro para o reencontro de Nate Robinson, agora um Denver Nugget, com seus colegas do Bulls, a quem ele jurou amor pleno. Robinson também é uma caixinha de… Fogos de artifício, e não dá para saber o que sai daí. Ele volta a Chicago no dia 21 de fevereiro.

– 12 de abril de 2014: Charlotte Bobcats x Philadelphia 76ers
O Sixers lidera os palpites das casas de apostas a pior time da temporada. O time nem técnico tem hoje – o único nesta condição –, seu elenco tem uma série de refugos do Houston Rockets, eles vão jogar com um armador novato que não sabe arremessar e lá não há sequer um jogador que possa pensar em ser incluído na lista de candidatos ao All-Star Game. Desculpe, Thaddeus Young, nós amamos você, mas tem limite. E, Evan Turner, bem… Estamos falando talvez da última chance. Então, no quarto confronto entre essas duas equipes na temporada, Michael Jordan espera, desesperadamente, que o seu Bobcats esteja beeeeem distante do Sixers na classificação da Conferência Leste. Se não for em termos de posições, que aconteça pelo menos em número de vitórias. Do contrário, é de se pensar mesmo se, antes de o time voltar ao nome Hornets, não era o caso de fechar as portas.

– 16 de abril de 2014: Sacramento Kings x Phoenix Suns
Como!? Deu febre?!? Não, não, tá tudo bem. É que… no crepúsculo da temporada, essa partida tem tudo para ser uma daquelas em que ninguém vai querer ganhar. Embora os torcedores do Kings tenham esperanças renovada com um nova gestão controlando o clube, a concorrência no Oeste ainda é brutal o suficiente para que eles coloquem a barba de molho e não sonhem tanto com playoffs assim. Ou nem mesmo com uma campanha vitoriosa. Fica muito provável que esses dois times da Divisão do Pacífico estejam se enfrentando por uma posição melhor no Draft de Andrew Wiggins (e Julius Randle, Aaron Gordon, Jabari Parker, Dante Exum e outros candidatos a astro). Então a promessa é de muitos minutos e arremessos para os gêmeos Morris em Phoenix, DeMarcus Cousins mandando bala da linha de três pontos, defesas de férias e mais esculhambação.


O show de Haddadi: cult na NBA, pivô iraniano é uma estrela dominante no mundo Fiba
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Giancarlo Giampietro

Hamed Haddadi, versão supervô

Haddadi domina, Haddadi destrói: um superpivô no campeonato asiático

Ok, ok. Admito. Tem uma queda pelo termo cult  que pode deixar o Vinte Um algo repetitivo. É uma palavra importada que já apareceu certamente em posts passados e, pode cravar, vai voltar a ser publicada. Mas não tem jeito também, né? O basquete está cheio desses caras O que a gente poderia até fazer era buscar sinônimos, tipo “figuraça”, mas, para falar de Hamed Haddadi, o gigante iraniano, ficamos com a primeira opção, mesmo.

É apropriado, afinal. Dessa forma que o pivô era tratado nos seus tempos de Memphis. E pudera! O primeiro iraniano da NBA, perdido lá no meio do Tennessee, assimilando a cultura americana ao lado de cavalheiros como Zach Randolph, Tony Allen e tal. Imagine a confusão na cabeça do cara: da criação envolta pelo Islã a uma cidade batalhadora, tomada por caipiras trabalhadores no interior dos Estados Unidos, mas acompanhado da influência hip-hop do vestário da maioria dos clubes da liga. Você aprende primeiro a dizer “yo!”, depois bom dia. Dá uma salada daquelas.

Daí que não tardou muito para Haddadi ser adotado pelos jogadores e torcedores como um xodó do Grizzlies, aclamado sempre que saía do banco – em caso de extrema urgência ou de uma sacolada de seu time, diga-se, para render Marc Gasol. Mas tudo bem: não é todo dia que você se depara por aí com alguém de 2,18 m de altura, vindo do Irã e com uma predileção para palavrões, pose marrenta e que vai com tudo para cima dos rebotes, que é o que ele faz de melhor, qualidade demonstrada nos Mundiais e Jogos Olímpicos da vida.

Antes de apresentar seu cartão de visitas nesses torneios de primeira, quem haveria de conhecer Haddadi? Ele não jogou na Europa, não foi draftado por nenhum clube americano, nem chegou perto disso, na verdade. Num basquete extremamente globalizado, em que JaVale McGee se torna um ícone nas Filipinas, a relação dos países islâmicos com os principais centros do mundo ainda está pobrinha. Claro que há americanos por lá, treinadores estrangeiros com as seleções ou clubes, mas na contramão não tem muita coisa. Temos o tunisiano Salah Mejri, que já fez testes pelo New York Knicks e que acabou de ser contratado pelo Real Madrid, Haddadi e pouco mais (alguém aí sugere outro exemplo, façavor?).

Então, Haddadi neles.

E aonde queremos chegar?

Tudo isso começou com uma breve checagem no site da Fiba, e a mensagem de que o pivô estava fazendo estragos na Copa Ásia (“Copa da Ásia”, “Torneio Asiático de Seleções”, “AsiaBasket”, escolha a nomenclatura que lhe mais fizer a cabeça, por favor) deste ano. Enquanto o Brasil ainda se prepara para sua Copa América, lá do outro lado do hemisfério as forças do basquete já estão se escalpelando há tempos.

No momento, estamos nas quartas de final, e o Irã de Haddadi segue firme e forte rumo a mais uma classificação. Lá, Haddadi é quem manda, galera.

O pivô vem com médias de 17,4 pontos, 8,6 rebotes, 65,3% nos arremessos e 1,8 bloqueio, tendo jogado apenas 101 minutos em cinco partidas. Tá tudo dominado! Considerando ara dar mais emoção até, o cara ainda resolveu atirar uma bola de três pontos – algo que levaria Lionel Hollins à loucura em Memphis – e, a-ham, a converteu.

Sob a liderança do seu grandalhão, o Irã vai descendo marretadas na cabeça dos nanicos que tem enfrentado. Malásia, Coreia do Sul, Índia, Bahrein, é até sacanagem. De qualquer foram, não despreze o Haddadi, tá? No Mundial de 2010, na Turquia, por exemplo, ele teve médias de 20 pontos e 8,6 rebotes, aí contra gente de alto nível.

Mas o que acontece para ele ser um estouro no mundo Fiba e, na NBA, ser conhecido mais feito mascote do que jogador? É que na liga norte-americana suas, digamos, deficiências atléticas ficam muito expostas. Marcar um pivô como Nenê já seria muito difícil para o sujeito. Pensem, então, na hora em que, enfrentando o Wizards, ele precisasse conter um John Wall avançando no mano-a-mano, verticalmente, depois de um corta-luz? Na verdade, impensável.

Não valeria a pena então pensar numa carreira fora dos Estados Unidos? Lembrando: Haddadi no momento está sem contrato na NBA, depois de ter sido trocado na temporada passada de Memphis para Toronto e, depois, para Phoenix, e, dali, para a rua – embora ninguém possa se comover tanto com o iraniano, que desde 2008 já embolsou US$ 7,4 milhões em salários na liga americana.

Em uma liga europeia, aos 27, Haddadi teria tudo para ser uma estrela. Nos Estados Unidos, vai de cult mesmo.


Cultura “batalhadora” do Memphis Grizzlies fica sob ameaça após derrota no Oeste
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Giancarlo Giampietro

Tony Allen, the grit

“Grit & grind”.

Estou pensando até agora em qual seria a melhor tradução para a expressão eternizada por Tony Allen em Memphis. Virou sinônimo do basquete apresentado pelo Grizzlies nos últimos anos. Seria algo como “na raça” em português, essa coisa de “dar o sangue”, mas não sei bem se tem uma combinação desses termos que dê conta do que Allen quis dizer numa entrevista célebre em 8 fevereiro de 2011, após uma vitória na prorrogação sobre o Oklahoma City Thunder, por 105 a 101.

Nessa partida, o ala contribuiu com 27 pontos, cinco roubos de bola e três tocos, jogando por 40 minutos. Uma explosão estatística, porque era como estivesse tudo represado, mesmo. O veterano campeão pelo Boston Celtics não tinha um papel tão certo na rotação de Lionel Hollins, mas ganhou tempo de quadra considerável devido a uma lesão de Rudy Gay e uma suspensão para OJ Mayo.

“Só coração, afirmou naquelas entrevistas na saída de quadra. “Grit. Grind.”

E aqui estamos de novo. Ao pé da letra, isso poderia ser: “Grão. Moagem.” : )

Mas é claro que ele não estava falando sobre fazer café, né? Coloquialmente, tem algo a ver como “coragem, bravura” para um, “triturar, desgastar, encher o saco” para o outro. Aí as coisas começam a fazer mais sentido.

No fim, porém, a tradução exata nem importa. Basta assistir a Allen e seus companheiros em quadra, que você entende rapidinho. O ala é um dos defensores mais insuportáveis – para os atacantes, diga-se – de toda a NBA. Isso se não for o mais impertinente, mesmo. Com mãos e pés extremamente ágeis, adora colar nos componentes, fungando no cangote a toda hora, em busca da bola ou de um desequilíbrio. Um pitbull babando para todos os lados. Jogando com o coração.

Aos poucos, esse comportamento foi conquistando Memphis, uma cidade conhecida por seu espírito operário, brigador, raçudo. Saca?

Quando Allen usou essas palavras, consciente ou involuntariamente, deu o passo definitivo para se tornar uma figura cult para os torcedores do Grizzlies – sim, eles existem –, que vestem camisetas personalizadas com a face do jogador, gritam seu nome sem parar durante as partidas e se matam de rir com entrevistas malucas e tweets crípticos na conta aa000g9 –, de “Anthony Allen”  e o número 9, enquanto o excesso de zeros significariam para… Vai saber. A atitude do atleta também influenciou seus companheiros de time e se enquadrou perfeitamente com o modo como Hollins imaginava sua equipe. As coisas se encaixaram: plano tático, dedicação do elenco, apoio do público.

Uma sinergia que muitas vezes corremos o risco de ignorar, seja pelo distanciamento, de não viver exatamente o que se passa em uma determinada cidade, seja pela realidade ainda bastante incipiente do NBB, ou pela concentração apenas no que se passa em quadra. Mas não se pode ignorar de modo algum que, na liga norte-americana, há duas facetas para se avaliar, tanto o clube (esportivo), como a franquia (negócios). São raros os caros que combinam ambos com sucesso. O Memphis Grizzlies conseguiu: seu produto tem uma identidade competitiva e mercadológica.

Grit & Grind, Mephis, Grit & Grind

“Nós não blefamos”, também virou campanha durante os playoffs para o Grizzlies

Conseguiu e agora encara um período de férias que pode ser crucial para sua prosperidade.

O proprietário anterior, Michael Heisley, fazia de tudo para fingir que não era muquirana, mas cortava gastos sempre quando podia, na estrutura da franquia. O novo dono, Robert Pera, não esconde de ninguém que pretende instituir um modelo de administração rentável. Seu estafe não vai cometer nenhuma loucura financeira, confiando que, com a visão analítica de John Hollinger a alguns bons caçadores de talentos, poderá formar um time barato e, ao mesmo tempo, na ponta, sem jogar todo esse trabalho fora.

Essa visão será duramente testada agora: o xodó Tony Allen e o técnico Hollins são agentes livres; ao mesmo tempo, a diretoria do clube não tem intenção alguma de levar sua folha salarial para além do aceitável – leia-se, a folha salaria pode até exceder o teto estabelecido pela NBA, mas não pode subir tanto assim a ponto de ultrapassar a linha da chamada “luxury tax”. Se fizerem isso, não só teriam de pagar impostos, taxas para a liga, como deixariam de receber o dinheiro recolhido de outros gastões como Lakers, Nets e Knicks. Para não ter perigo, hoje bancam apenas a 25ª folha da liga – ou a sexta mais barata.

Depois da campanha que a equipe cumpriu no Oeste, com uma defesa fortíssima e um elenco que acabou enfraquecido devido a trocas para se livrar de salários, Hollins está em alta, no topo da lista de Clippers e Nets, dois times que sonham com o título e que podem inflacionar seu preço. Sabe-se que o treinador não desfruta da melhor relação com a nova administração, questionando publicamente sua fixação por estatísticas. Há quem diga também que seu estilo confrontador, contestador pode ser difícil de ser controlado internamente, criando problemas de relacionamento com seus jogadores – Zach Randolph, outro que não tem sua permanência garantida devido ao volumoso salário, já não teria tanta paciência assim. Mas a torcida (“a comunidade”) o adora. É uma situação delicada.

Keep calm como?

Vão ficar calmos como agora, com tantas incertezas?

E há o caso de Allen. O ala ganhou em média US$ 3,15 milhões nas últimas três temporadas. Uma bolada para qualquer profissional, mas bem abaixo de seu valor de mercado. Pensem que seu companheiro Tayshaun Prince levou US$ 6,7 milhões neste ano (e vai levar mais US$ 15 milhões nos próximos dois anos). Em Boston, seu ex-time, Courtney Lee foi pago com US$ 5 milhões. Caron Butler ganhou US$ 8 milhões. Rip Hamilton embolsou US$ 6 milhões. Dá para ter uma ideia. Imagina-se que ele e seus agentes estejam prontos para pedir um aumento para ele ficar no clube, que tem cerca de US$ 57 milhões comprometidos já para 2013-2014 – é o que está aqui, descontando a grana de Jerryd Bayless, que também deve se tornar agente livre, com a luxury tax prevista para algo em torno de US$ 70 milhões. Assinar com Allen e reforçar o ataque exterior com arremessadores, uma carência evidente nos mata-matas, cuidando para que os gastos no futuro também não saiam do controle.

“Eu nem entendo o lado dos negócios”, disse o ala em meio ao confronto com o Spurs. “Quando chegar julho, alguém vai ter de se sentar comigo e explicar. Tudo o que sei é que sou um Grizzly e acredito que vou ser um Grizzly no final. Eu sangro azul. Acho que eles vão me manter aqui. Se não fizerem, entendo. Mas eu nem penso sobre isso. Eu apenas jogo. Eu amo estar em Memphis. Amo a cidade. Espero ficar.”

Será que correriam o risco de desagradar aos seus torcedores permitindo a saída de Allen e Hollins? Será que o Grizzlies seria o mesmo time sem eles ou um deles? Essa seria apenas uma decisão romântica ou de negócios? Em Memphis, já temos prova de que os dois aspectos estão interligados. “

Eu já vi nosso time de dois modos. Nós éramos terríveis, e o apoio dos torcedores era bem ruim. E agora está no auge, nunca foi assim. Não quero voltar ao que era antes”, disse Mike Conley Jr., um dos preferidos e intocáveis da nova gestão – quando assumiu, Pera e alguns de seus principais dirigentes convidaram o armador, Marc Gasol e só para um jantar. “Acho que seria fantástico se pudermos estabilizar o que temos e apenas seguir em frente. Obviamente com Lionel e o que ele já fez, todos os rumores envolvendo Zach… Zach é uma parte desta cidade, Tony é uma parte da cidade. Não seria a mesma coisa sem eles aqui.”

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Leitura imperdível para compreender em detalhes a mudança por que passou a franquia nos últimos anos: o glossário do Grizzlies (em inglês),  para aqueles que estavam chegando a Memphis de última hora nestes playoffs, assinado por Chris Herrington. É bem engraçado. O jornalista conta que ainda hoje é possível ver os torcedores usando uniformes de Allen Iverson, cara que disputou apenas (!) três partidas por lá até ser dispensado, embora ainda pudesse fazer isto:

 Tarantino e RodríguezOutros destaques são o iraniano Hamed Haddadi, que foi despachado para Toronto este ano e depois repassado para Phoenix (“I drop-step. I go around Shaq. I dunk that shit”) e o apelido que o ginásio do Memphis ganhou: The Grindhouse, apelido sugerido por um torcedor a Tony Allen no Twitter.

Grindhouse foi como se tornaram conhecidos os cinemas norte-americanos que rodavam os exploitation films em suas sessões, aqueles filmes apelativos, que nem toda família pode se reunir para ver – até por isso também foi o título do projeto nerd conduzido por Quentin Tarantino e Robert Rodríguez, que lançaram em 2007 dois-filmes-em-um, embora ao Brasil eles tenham chegado separados.

Neste caso, pensando no ginásio, a despeito da fisionomia de Haddadi ou das entrevistas bizarras de Allen, não há nada muito bizarro desta maneira, como a mulher com uma metralhadora no lugar de uma perna. Dá para voltar até mesmo ao sentido literal, de que seria a casa em que os oponentes são triturados. Certamente nenhuma equipe olhou sua tabela deste ano e acreditou que uma visita a Memphis seria tranquila e acolhedora.

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Este aqui seria o hino preferido de Tony Allen para os jogos do Grizzlies:


Spurs varre Grizzlies e alcança 5ª final na era Duncan, a primeira com um relevante Splitter
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Giancarlo Giampietro

Timmy!

Tim Duncan está de volta a uma final de NBA depois de seis anos. Já não era hora

Segundo o próprio Tim Duncan, parecia uma eternidade. No caso, desde a última participação do San Antonio Spurs nas finais da NBA. Mas a espera acabou nesta segunda-feira com a quarta vitória em quatro jogos contra o Memphis Grizzlies, e, para o veterano, já não era sem tempo. Afinal, vejam só o absurdo: a última participação do clube texano na disputa direta pelo título havia acontecido em 2007. Não era sem tempo, então, hein, Timmy!?

Desde que o clube selecionou o pivô no Draft de 1997, haviam sido quatro decisões. Agora em 2013, 14 anos depois da primeira, eles agora partem para a quinta, com o jogador e o técnico Gregg Popovich como os únicos presentes em todas edições – enquanto Tony Parker e Manu Ginóbili chegam a este patamar pela quarta vez.

Não tem jeito. A competência acaba sendo premiada.

Entre 2007 e agora, é de se supor que por muitos momentos bateu a tentação de desmontar esse trio de estrelas. Especialmente em 2011, quando a equipe teve a melhor campanha da Conferência Oeste e acabou eliminada pelo mesmo Grizzlies logo na primeira rodada. Isso depois de eliminações para Dallas Mavericks (também na abertura dos mata-matas) e Phoenix Suns (nas semifinais) nos anos anteriores.

Mas Popovich e o gerente geral RC Buford, comandando as operações esportivas na franquia de propriedade de Peter Holt, se mantieram frios e pacientes. Em vez de mexer com seu núcleo central – mesmo enfrentando uma negociação contratual difícil com Tony Parker no meio do processo –, foram fazendo testes e trocas com os jogadores ao redor deles, até encontrar um equilíbrio ideal ao redor deles.

No ano passado, as coisas pareciam novamente bem encaminhadas, até que esbarraram no salto de qualidade de Kevin Durant e Russell Westbrook durante a final do Oeste. Neste ano, não tiveram a chance de uma revanche contra o Oklahoma City Thunder, que foi eliminado pelo Grizzlies na segunda rodada, já sem Wess, lesionado e operado. Pois os valentes de Memphis não foram páreo para a categoria e energia de um revigorado Spurs.

Depois de mudar sua identidade com o passar das temporadas, assimilando muito da filosofia do Phoenix Suns dos “Sete Segundos Ou Menos”, o time de Popovich retomou sua força defensiva, sem perder a destreza ofensiva, e chegou forte aos mata-matas. Forte em muitos sentidos, incluindo a saúde, sem nenhuma grave lesão aparente para seus principais jogadores.

Com o físico em dia, sobraram ao Spurs técnica, experiência, a cabeça e a determinação para despachar o Grizzlies em quatro jogos, com um placar de 93 a 86 no triunfo derradeiro.

Splitter x Z-Bo

Splitter: relevância muito além dos números

Técnica: seu elenco é muito mais volumoso do que o do Grizzlies, que disputava sua primeira final de conferência (experiência). Cabeça: com Tiago Splitter entre os destaques aqui, desestabilizaram as fortalezas Marc Gasol e Zach Randolph, que não conseguiam operar em uma zona de conforto durante toda a série. Determinação: explícita a cada contra-ataque, seja no ataque ou defesa, com os homens de preto – ou cinza – povoando os dois lados da quadra, sempre em maior número do que os adversários, e nas declarações de Tim Duncan e demais veteranos, que não viam a hora de voltar ao grande palco.

Agora eles esperam o desfecho da dura batalha entre Miami Heat e Indiana Pacers no Leste. Para os texanos, o interesse é que eles obviamente estendam o confronto por mais algum tempo. De todo modo, o início das finais da NBA tem data marcada: não antes do dia 6 de junho. Já é um bom período de descanso para os homens de Popovich.

Depois de tanto tempo, da “eternidade” por que teve de passar, porém, difícil vai ser conter a ansiedade de Tim Duncan. Este garotão de 37 anos.

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Tony Parker foi absolutamente dominante nesta segunda, com 37 pontos contra o Grizzlies – 29 deles no segundo tempo, com um aproveitamento incrível de 15 arremessos convertidos em 21 tentados. Depois de sofrer uma torção de tornozelo na reta final da temporada regular, o francês se mostra completamente em forma, o que torna o ataque do Spurs algo muito mais poderoso. A forte defesa de Lionel Hollins não soube como lidar com a movimentação incessante do armador. Parker foi um terror tanto a partir do drible como na movimentação fora da bola, se aproveitando dos corta-luzes firmes e diversificados de seus pivôs. Splitter se destacou aqui, dando duas assistências para o companheiro.

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A linha final de Tiago Splitter neste quarto jogo: 9 pontos, 2 rebotes, 3 assistências e 4 tocos, em 30 minutos. São números que não contam nem a metade da importância do brasileiro no confronto. Especialmente o par de rebotes. Supostamente, para um pivô, seria uma quantidade ridícula. Mas aí, realmente, é preciso ver o jogo para ver o que aconteceu de fato em quadra. Duelando contra pivôs de forte presença na tábua ofensiva, Zach Randolph em especial, o catarinense por muitas vezes se via obrigado a, prioritariamente, bloquear Z-Bo, buscar o contato e afastar o adversário da zona pintada. Ainda assim, o gordote apanhou quatro rebotes ofensivos. Mas foi um esforço e tanto por parte do pivô, numa atuação inspiradora que foi replicada por seus companheiros. Como Parker, mesmo, disse na entrevista pós-jogo, Splitter, Bonner, Diaw e Duncan devem estar saindo de Memphis com alguns bons hematomas. Tudo por uma boa causa.

No geral, o QI excepcional de Splitter ficou em evidência neste confronto, sendo constantemente elogiado pelos narradores americanos, e com razão. Ele fecha muito bem os espaços na defesa e também sabe como se deslocar do outro lado com a mesma facilidade, se apresentando como uma opção constante para os companheiros próximo da cesta. O melhor: muita gente está acompanhando seu desempenho neste momento. Prestes a se tornar um agente livre, o brasileiro caminha para receber um bom aumento.


Na NBA, sobram as três melhores defesas (e o Miami Heat) na disputa pelo título
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Giancarlo Giampietro

Pesadelo para Melo

Carmelo pode dizer uma coisa ou outra sobre a defesa do Indiana Pacers

“De-fe-sa!”, “de-fe-sa!”

“De-fe-sa!”, “de-fe-sa!”

“De-fe-sa!”, “de-fe-sa!”

Fora o pianinho clássico acompanhando um ataque nos instantes finais, eternizado nos games Lakers vs Celtics, temos entre os clichês do basquete esse grito, que se disseminou por tudo que é lugar em que pingue uma bola de basquete a partir das transmissões globalizadas da NBA. Há mesmo as torcidas que cantam só por cantar mesmo, talvez utopicamente, com a vã esperança de que seu time-peneira vá esboçar alguma reação na hora de proteger a cesta.

Bem, na temporada 2012-2013 da liga norte-americana essa brincadeira deu certo. Entre os quatro times que ainda lutam pelo título, estão as três defesas mais eficientes do campeonato, pela ordem: Indiana Pacers, Memphis Grizzlies e San Antonio Spurs. O quarto? O Miami Heat, claro, nono melhor nesse quesito.

Consideramos aqui a medição que foi primeiro elaborada por Dean Oliver, que integra o departamento de estatísticas da ESPN americana e já trabalhou na diretoria do Denver Nuggets, e encampada e levemente alterada por John Hollinger, vice-presidente do próprio Grizzlies. As estimativas abordam o número de pontos numa média de 100 posses de bola. Isso por quê?

Gasol & Allen

Marc Gasol e Tony Allen, dois dos melhores defensores da liga em suas posições

Bem, cada clube tem o seu próprio ritmo de jogo. Se uma equipe corre mais com a bola, atacando com menos segundos gastos a cada posse, a tendência é que ela sofra mais pontos, mesmo, não? Isso não quer dizer necessariamente que, na média, sua defesa seja a pior – talvez apenas mais vazada.

(Por outro lado, alguém pode argumentar que, no caso do time que adota um jogo mais metódico, gastando o cronômetro, já esteja se protegendo desde o princípio, controlando a bola ao máximo. Obviamente isso não pode ser descartado, mas sigamos adiante com a defesa-por-posse.)

Na temporada regular, o Pacers de Frank Vogel permitiu apenas 99,8 pontos a cada 100 posses de bola, seguido pelo Memphis Grizzlies (100,3) e pelo San Antonio Spurs (101,6). O Miami Heat terminou com 103,7.

Para se ter uma ideia de quão bom é o índice firmado pela turma de Paul George e Roy Hibbert, a distância entre o Pacers e o Heat (de 3,9 pontos) seria maior que a que existiu entre os atuais campeões de Miami e o Toronto Raptors (3,8), apenas a 22ª defesa da liga.

De acordo com a máxima de que “são as defesas que vencem o título”, poderíamos indicar, então, o Pacers como o favorito?

Bem, nem tanto. Sua proteção de garrafão deixa as coisas bem encaminhadas, mas essa ainda não é a resposta definitiva. Façamos uma pausa, antes de avaliar os quatro finalistas, para perguntar se o mote do parágrafo acima é inteiramente verdadeiro.

*  *  *

Um estudo conduzido pelo analista Neil Pane, uma das almas angelicais por trás do Basketball-Reference, indica que, sim, as melhores retaguardas têm mais condições de ganhar o troféu, comparando historicamente os rendimentos coletivos dos dois lados da quadra.

Segundo suas contas, um time que tenha uma defesa medíocre e um ataque com 10 pontos acima da média da liga, teria 32,3% de chances para conquistar o caneco. Por outro lado, se a sua equipe mantiver um ataque medíocre e tiver uma defesa que sofra 10 pontos abaixo da média, sua probabilidade de título sobe para 80,1% – e mesmo uma equipe que sofra 7 pontos a menos do que a média do campeonato teria um candidatura mais sólida, com 39,1%.

Tiago Splitter x Dwight Howard

Splitter ajudou o Spurs a se tornar uma das melhores defesas da NBA novamente

Agora, para comprovar que seu levantamento não é pouco, Paine fez as mesmas contas excluindo o avassalador Boston Celtics de Bill Russell, que defendia muito e penava para fazer cestas em alguns anos, podendo desequilibrar o balanço do ponto de vista histórico. Fazendo uma pesquisa só a partir da fusão NBA-ABA em 1976, a distância entre ataque e defesa cai consideravelmente, mas ainda pende para a contenção. O melhor ataque tem 43,8%, de chances, enquanto a melhor defesa, 63,9%.

É difícil, porém, atingir a meta de dez pontos acima ou abaixo da média. Quanto menores esses números, menor a distância na chance de título também. Por exemplo: se um time faz 3,0 pontos a mais da média, a expectativa seria de 1,9%; se sofre 3,0 pontos abaixo, o número seria de apenas 2,4%.

“No entanto, a contínua proeminência da defesa, mesmo quando descartamos a dinastia do Celtics da amostra, sugere que as equipes devam priorizar a excelência deste lado da quadra se querem vencer um campeonato”, escreve Paine.

Ponto destacado e anotado. Mas ainda não é tudo.

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Phil Jackson, o homem dos 11 anéis de campeão da NBA, nunca se cansa de enfatizar que as coisas estão totalmente interligadas: um bom ataque e uma boa defesa. Quanto menos precipitações (arremessos forçados e turnovers) você tiver tentando a cesta, melhores suas condições de armar sua retaguarda, propiciando menos contra-ataques, voltando com equilíbrio.

E “equilíbrio” seria a palavra-chave, mesmo, tanto do ponto de vista conceitual como estatístico, como escreveu nesta semana o analista Kevin Pelton, da ESPN, outro representante da crescente comunidade nerd do basquete. Reduzindo seu campo de pesquisa de 1980 para cá – o ano em que a linha de três pontos foi pintada nas quadras da NBA e também um marco extremamente relevante nessas contas –, constatou que 14 campeões tinham o melhor saldo de cestas da temporada (mais de 40%), sabendo dosar um bom ataque e uma boa defesa.

“É difícil encontrar exemplos de times com uma fraqueza em cada lado da quadra vencendo um campeonato. Nos últimos 33 anos, apenas dois times venceram o título com uma unidade abaixo da média durante a temporada regular: o Los Angeles Lakers 2000-2001 (fraco na defesa) e o Detroit Pistons 2003-2004 (fraco no ataque)”, escreveu Pelton.

O Lakers de 2001 foi uma anomalia na carreira de Phil Jackson, que envelheceu uns bons anos tentando administrar a conturbada relação entre Kobe Bryant e Shaquille O’Neal. Depois da conquista de seu primeiro título, o time deu aquela relaxada, despencando de melhor defesa na campanha anterior a 21ª, apesar de manter a mesmíssima base, que funcionava direitinho no ataque (segundo melhor índice). Absurdo, né? Acontece que, chegando aos playoffs, decidiram ligar o turbo e venceram 15 de 16 partidas, cedendo apenas um triunfo para o Philadelphia 76ers de Iverson e Larry Brown na primeira partida da decisão. Já o Pistons de 2004 teve Rasheed Wallace, seu melhor atleta, por apenas 22 partidas, depois de ele ser adquirido numa das trocas mais desequilibradas da história durante o campeonato.

O Oklahoma City Thunder teve o melhor saldo de cestas deste campeonato, com +9,2, mas suas aspirações ao título se encerraram com a lesão de Russell Westbrook. O Miami Heat aparece em segundo, com +7,9. O Spurs seria o quarto, com +6,4, enquanto Grizzlies e Pacers seriam sétimo e oitavo, com +4,1 e +4.

LeBron x Rose

A postura defensiva perfeita de LeBron James para segurar até um Derrick Rose

Na campanha dos rapazes de Erik Spoelstra, todavia, é possível encontrar alguma semelhança com aquele Lakers do início da década passada, começando o ano um pouco devagar (mas nem tanto) e esquentando as turbinas na metade do campeonato. No dia 1º de fevereiro, eles perderam a 14ª partida na temporada. Em 17 de abril, fecharam a conta com apenas mais dois reveses, engatando neste período sua incrível sequência de 27 vitórias. Durante esse período, seu lado de cestas foi de +11,9, o que seria a melhor marca da liga de longe, devido a uma melhora significativa na defesa, já entre as cinco mais eficientes neste período. Motivados pela busca do recorde histórico de triunfos consecutivos, viraram outra equipe. A mais equilibrada e com mais chances de título.

Descartando todos os dados enumerados acima, esse favoritismo do Miami não é novidade alguma e talvez pudesse ser explicado de modo mais simples pela soma de “LeBron” + “James”.

Só que, numa liga extremamente competitiva e rica, com recursos sendo empregados dos modos mais diversificados, as coisas dificilmente vão se desenrolar assim, de um modo tão fácil.

Com suas fortíssimas defesas, porém, Pacers e Grizzlies, com DJ Augustin, Sam Young, Ian Mahinmi, Keyon Dooling, Tayshaun Prince entre outras nulidades ofensivas em suas rotações, já derrubaram três dos cinco melhores ataques da liga (Knicks, Clippers e Thunder) e se colocaram na briga, ao menos com uma chance de surpreender.


Lesão de Westbrook expõe limitações técnicas e táticas do Thunder
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Giancarlo Giampietro

OKC KO

Kevin Durant, Scott Brooks, e a eliminação

LeBron James entende perfeitamente. Chega uma hora que todo grande talento se depara com um limite.

Bem, obviamente o astro que vemos hoje vestindo o uniforme do Miami Heat é ainda superior àquele do Cleveland Cavaliers. Mais concentrado no jogo interior, com movimentos mais elaborados. Seu aproveitamento nos arremessos, de todos os setores da quadra, só cresce. O número de turnovers diminuiu. O de rebotes e assistências seguem volumosos.

Muito dessa evolução se deve ao seu maior comprometimento com o jogo, ou pelo menos com uma abordagem mais inteligente e agressiva em quadra. Mas não para nisso. Seu crescimento também passa pela criatividade de Erik Spoelstra. E o técnico se sente mais confortável em criar ao chegar para o treino e ver o alto nível dos atletas que Pat Riley reuniu em seu elenco.

Nos tempos de Cleveland, LeBron que se virasse com Larry Hughes, Donyell Marshall, Damon Jones, Eric Williams, Ira Newble e quem mais estivesse disponível de momento. Era uma dureza, um cenário que exigia ao máximo de seu protagonista. Uma situação que Kevin Durant, para surpresa geral, teve de enfrentar nos playoffs deste ano.

Surpreendente pois o Oklahoma City Thunder sempre foi considerado uma das equipes mais talentosas da NBA. Por um lado, seu plantel contava com três dos jogadores mais brilhantes da nova geração. O que estava ao redor deles, porém, talvez nunca tenha sido devidamente questionado ou avaliado. Afinal, estavam lá para complementar os jovens astros. Acontece que o clube primeiro se desfez de James Harden antes de a atual temporada começar, num movimento que hoje é um desastre. Para completar o estrago, Russell Westbrook sofreu uma grave lesão na primeira rodada dos mata-matas contra o Houston Rockets. Sobrou só Durant.

Reggie Jackson x Mike Conley

Reggie Jackson teve de fazer as vezes de Westbrook contra o Grizzlies

Só, mesmo.

O armador Reggie Jackson, substituto de Wess, fez o que pôde a essa altura de sua ainda jovem carreira – 13,8 pontos, 6,2 rebotes, 3,8 assistências e 50% de quadra, com lances que ora evidenciaram seu potencial, ora escancaravam sua inexperiência.

Serge Ibaka desapareceu no ataque por loooongos períodos, ressuscitou nos jogos finais contra o Memphis Grizzlies, mas se provou uma aberração atlética que é ainda muito limitada ofensivamente.

E o Kevin Martin, aquele que deveria suprir a pontuação do Sr. Barba no banco? Venerado pela comunidade estatística, foi bem durante a temporada, mas, nos playoffs, quando mais exigido na hora de a onça beber água, jogou feito um peso pena, no sentido literal e figurativo. Um sujeito com um basquete inócuo, com seu badalado aproveitamento de quadra despencando para 38%, sem bater para a cesta ou criar para seus companheiros.

De Resto? Melhor respirar fundo. A partir do momento em que foi marcado, Derek Fisher, 38, bateu o recorde informal de air balls estabelecido por Jerry Stackhouse pelo Brooklyn Nets – o veterano havia acertado seis de seus primeiros oito arremessos de longa distância contra o Grizzlies, em duas partidas, e terminou com 5 em 20 nas últimas três. Thabo Sefolosha ficou extremamente limitado ao perfil de “defensor-e-atirador-da-zona-morta”, para alguém que, quando despontava na Europa, se projetava como um atleta que faria de tudo um pouco em quadra. Jeremy Lamb e Perry Jones nunca foram acionados. E, se Nick Collison não consegue jogar por conta, o que dizer, então, de Kendrick Perkins e Hasheem Thabeet? Argh. (Perk e Fisher, especialmente, já passaram da hora.)

Kevin Durant x Marc Gasol

Chegou uma hora que Durant cansou de chutar diante da forte defesa de Memphis

Sobrou para o Durant, Por quatro jogos contra o Rockets e dois contra o Grizzlies, ele se virou bem, liderando sua equipe a três vitórias. Nos últimos três jogos da semifinal, porém, o gás foi acabando e a cabeça, pesando. Um cestinha completo, que ataca de todos os pontos da quadra com uma categoria e eficiência impressionantes, começou a amassar o aro, com rendimento completamente aquém de sua capacidade e histórico. Dos seus últimos 27 lances livres, acertou 18 – aproveitamento de 66,6%, algo que deixaria Dwight Howard feliz, mas não satisfaz um jogador que mata 88,4% em sua carreira e matou 90,5% na temporada. Nos tiros de quadra, a queda foi ainda pior: acertou apenas 15 arremessos em 48 tentativas (31,25%), comparando com 47,5% desde 2007-2008 e 51% neste ano.

Pior que é quase inevitável que apareça um herói disposto a criticar Durant, atirando ao vento aquela palavra de sempre: “amarelão”. Alguém que possa ignorar suas médias de 30,8 pontos, 9 rebotes, 6,3 assistências, 1,1 toco e 1,3 roubo de bola e que não descansou um minuto sequer nos jogos 4 e 5 e pôde respirar por 11 minutos entre os jogos 1 e 3. Como ele bem disse durante o confronto: “Acho que assumi mais a responsabilidade de pontuar, facilitar as jogadas e ir para o rebote. Claro que, quando você perde seu All-Star, sente falta. Mas não tem desculpa. Ainda temos de fazer o trabalho”.

Chega uma hora, todavia, que a exaustão é o seu maior oponente.

Mas não o único.

*  *  *

Scott Brooks conseguiu intensificar os esforços defensivos de sua equipe, que teve a quarta melhor retaguarda da temporada. Do outro lado, um rendimento ainda superior: tiveram o segundo ataque mais eficiente, perdendo do Miami Heat nesse quesito por um décimo. Dá para se questionar isso?

Curto e grosso? Sim.

Se o empenho e posicionamento defensivo de sua equipe são realmente invejáveis, o ataque deixa muito a desejar por ser tão rudimentar: passe para o Durant, passe para o Westbrook, e deixe que eles resolvam. Não é à toa que  apenas 16,7% de suas posses de bola durante a campanha 2012-2013 terminaram em uma assistência, a nona pior de toda a liga, enquanto o Miami Heat tem a terceira melhor (18,5%) e o San Antonio Spurs, a melhor (19.2%).

O time aposta tanto em sua duplinha que, por incontáveis minutos, acaba representando… A-ham… Pausa para limpar a garganta… A-ham… Acaba representando a epítome do estilo de jogo individualista que supostamente predominaria na liga. Porque é fácil, mesmo, cair na tentação, quando você tem dois craques como esses no mesmo quinteto. Seria apenas limpar um lado da quadra para deixar os dois monstrinhos agirem. Eles têm estilos diferentes: Wess passa feito locomotiva, Durant tem mais classe. Mas o resultado é mortal, invariavelmente.

Westbrook fez falta

Momento de despedida de Westbrook dos playoffs e uma revelação sobre o Thunder

Na maratona de jogos que é a temporada regular, nem sempre os times, especialmente as dragas de sempre, têm condições ou recursos para se preparar detalhadamente para um oponente. De modo que a capacidade individual de Durant e Westbrook pode desequilibrar e arrebentar com a concorrência facilmente. Quando chegam os mata-matas, a marcação fica mais apertada, os oponentes são estudados de modo minucioso. Para complicar, quando Westbrook foi para a mesa de cirurgia, levou em sua trouxinha 50% do ataque de sua equipe, que não passou dos 100 pontos sequer uma vez diante do Grizzlies.

Aí, ok. É a hora em que você fala que o Thunder estava enfrentado uma das defesas mais sufocantes da NBA. Justamente. Não chega a ser novidade nenhuma que um candidato ao título terá de enfrentar, em algum momento de sua campanha, um time que proteja seu garrafão tão bem como fazem os rapazes de Lionel Hollins (e David Joerger, seu coordenador defensivo, pouco falado).

Talvez com Westbrook as coisas tivessem sido diferentes? Pode ser. Mas, nem mesmo com a queda do armador Brooks resolveu mudar seu plano tático, resolvendo simplesmente substitui-lo por Reggie Jackson, na prática um novato para esse tipo de situação. De novo: ele foi bem, considerando o contexto, mas não representa de modo algum a ameaça que era Wess no mano-a-mano, ainda que apronte coisas desse tipo no contra-ataque (situação nem diferente do jogo cinco contra cinco):

Também podem alegar o seguinte: mas, gente, os caras foram vice-campeões do Oeste no ano passado! Sim, foram. Mas quem se lembra da reviravolta no confronto com o Spurs, na última final de conferência? A molecada do Thunder estava se metendo em uma enrascada, encurralados pelas táticas de Popovich, até que, de supetão assim, resolveram passar a bola.

Veja aqui um depoimento de Nick Collison no ano passado, retirado de um texto de nossa prévia encarnação, que detalhava o processo de crescimento pelo qual a equipe passava: “Temos esses caras que são os melhores no planeta em ir para a cesta, mas as equipes tentam tirar isso de nós, então temos de tomar a decisão certa com a bola. É um equilíbrio tênue entre ser agressivo e tentar pontuar, algo de que precisamos a toda hora, mas também fazer as jogadas certas. Estamos fazendo as jogadas certas nos últimos dois jogos”.

Durant se tornou um passador mais frequente,  ainda mais depois das lições que tomou de LeBron James nas finais, em treinos particulares e nas Olimpíadas. Na última temporada, concluiu 15,5% de suas posses de bola em assistências, bem acima dos 11,6% de 2011-2012 ou dos 9,7% de quando era novato. Quer dizer, o astro está fazendo sua parte. Falta, mesmo, uma proposta tática que incentive mais movimentação fora da bola, troca de passes no coletivo e ataques por ângulos diversificados.

Talvez seja o degrau que falte para o Thunder subir, desde que estejam inteiros e saudáveis. O problema é que nem os times conseguem completar a escalada, ainda mais num ambiente extremamente competitivo com o da NBA.  Um ambiente que pode roubar facilmente de Durant aquele sorriso antes constante e que desapareceu neste mês de maio.

“Nós sentimos a falta dele”, disse o ala, sobre Westbrook. Do Larry Hughes que não seria, mesmo.

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Vejam o quadro:

Esses são os percentuais de arremesso de Kevin Durant durante toda a temporada. As cores vermelhas indicam os pontos em que seu rendimento é inferior ao da média da liga, enquanto o setor em amarelo representa algo na média e os verdes, acima.

Agora, no vídeo abaixo, para onde o cestinha caminha – ou é levado – na hora em que tem a bola em mãos, restando pouco menos de dez segundos, e o Grizzlies defendendo uma vantagem de apenas dois pontos?


Blake Griffin é a última adição a uma vasta lista de enfermos nos playoffs da NBA
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Giancarlo Giampietro

Marc Gasol x Blake Griffin, Memphis Grizzlies x Los Angeles Clippers

Blake Griffin é a última adição a uma tortuosa lista de enfermos da NBA

Blake Griffin entrou em quadra um pouco mais tarde que os companheiros de Clippers, sem nenhuma explicação. Bateu bola normalmente, procurou agrediu também como o de costume no primeiro quarto, mas ele simplesmente não conseguiu ser o mesmo durante a quinta partida da série contra o Memphis Grizzlies, que conseguiu a virada, fazendo 3 a 2 com uma grande vitória em Los Angeles.

Acontece que o (outro) clube de Los Angeles havia conseguido um milagre até esta terça-feira: na era de fontes anônimas amplificadas por Twitter e comunicação instantânea,  esconderam por mais de 24 horas o fato de que o ala-pivô era dúvida para a partida e que, se fosse para jogar, seria no sacrifício, devido a uma grave torção de tornozelo que sofrera na véspera. O jogador pisou no pé de Lamar Odom durante um exercício de garrafão e teve de se submeter a tratamento até minutos antes do confronto. Daí o atraso. Pois esse milagre, o da recuperação em tempo recorde, o clube não pôde fazer.

Uniformizado, mas nada pronto, foi limitado a apenas 20 minutos no total, seis no segundo tempo, e ainda encontrou um jeito de contribuir pelo menos com quatro pontos, cinco rebotes e cinco assistências, mostrando que sua mínima presença já atraía a defesa do Grizzlies, podendo, então, servir aos seus companheiros com sua habilidade mais subestimada: a visão de jogo/passe. Mas simplesmente não era o mesmo Blake Griffin: ele não bateu um lance livre enquanto esteve em quadra e penava com o jogo físico de Zach Randolph.

O astro do Clippers é apenas o caso mais recente – porque, pelo jeito, não dá pra falar em “último caso” – de lesões que vão interferindo de maneira direta e assustadora nos playoffs da NBA.

Se formos vasculhar o elenco dos 16 times que chegaram ao mata-mata, difícil encontrar alguém que esteja realmente 100%.

Vamos lá:

OESTE

– O Oklahoma City Thunder perdeu Russell Westbrook possivelmente para o resto dos playoffs devido a uma ruptura de menisco, tendo passado por uma cirurgia no sábado. Detalhe: a aberração atlética do Thunder nunca havia perdido um jogo sequer em toda a sua carreira, incluindo colegial e universidade, devido a qualquer tipo de problema físico.

Spliter is down

Splitter: tornozelo e desfalque

– O San Antonio Spurs precisou juntar os cacos ao final da temporada, com Tony Parker e Manu Ginóbili baleados. Eles parecem bem agora, mas o clube texano tem sorte de ter varrido o Lakers rapidamente para poder ficar um tempo a mais descansando e reabilitando Tiago Splitter, que sofreu uma torção de tornozelo esquerdo e perdeu o fim da primeira série. O clube espera que ele possa voltar para a segunda rodada.

– O Denver Nuggets já não conta mais com os serviços de Danilo Gallinari, cuja campanha foi encerrada ainda na temporada regular também por conta de danos em seu menisco. Além disso Kenneth Faried sofreu a sua própria torção de tornozelo, perdeu o primeiro jogo contra o Warriors e só foi lembrar nesta terça-feira o maníaco que é, subindo para cravadas e rebotes de tirar o fôlego.

– No Memphis Grizzlies, Marc Gasol tem de medir esforços para não agravar um estiramento muscular no abdome.

– O Golden State Warriors perdeu o ala-pivô David Lee por todo resto de campanha, devido a uma lesão muscular no quadril. Além disso, não pôde escalar o ala Brandon Rush durante todo o campeonato por conta de um joelho arrebentado.

– Se você for falar de lesões com Mike D’Antoni, o técnico do Los Angeles Lakers, é melhor tirar o lenço do bolso e se preparar para um dilúvio. Kobe Bryant estava fora de ação por conta de uma ruptura no tendão de Aquiles. Steve Nash precisou tomar injeções peridurais para enfrentar o Spurs, com lesões musculares e dores nas costas. Seu substituto, Steve Blake, também ficou no banco por conta de uma lesão na coxa. Pau Gasol teve de se virar com uma fascite plantar e tendinite nos joelhos. Ron Artest voltou para quadra sem nenhuma força na perna devido a uma cirurgia de reparo no menisco.

– Jeremy Lin desfalcou o Houston Rockets no último duelo com o Thunder e é dúvida para o quinto jogo por conta de um músculo do peito.

Acha que é pouco? Vamos, então, ao…

LESTE

Dwyane Wade está com problemas no joelho, e o Miami Heat ao menos teve o luxo de poupá-lo do quarto confronto com o fraquíssimo Milwaukee Bucks, conseguindo assim a quarta vitória e a varrida.

– O New York Knicks enfrenta o Boston Celtics sem poder contar com Amar’e Stoudemire – embora ainda haja a esperança de que ele volte para uma eventual e bem provável semifinal de conferência. Pablo Prigiini perdeu um jogo da série com o tornozelo torcido. Tyson Chandler está com dores no pescoço e nas costas, com sua mobilidade claramente avariada.

Rose, de terno o ano todo

O mistério de Derrick Rose: irmão mais velho diz que armador está a “90%”

– O Indiana Pacers precisou apagar de seus planos qualquer contribuição que esperava de Danny Granger neste ano. Com tendinite no joelho, ficou em tratamento por mais de quatro meses, tentou voltar a jogar em cinco partidas em fevereiro, mas não tinha jeito mesmo. Mais um que foi para a faca. George Hill tem de maneirar em seus movimentos por conta de uma contusão no quadril que causa dores na virilha.

– O Chicago Bulls é como se fosse o Lakers desta conferência. Minha nossa. Derrick Rose ainda não passou um minutinho em quadra em uma longa, longa, loooooonga recuperação de uma cirurgia no joelho (ligamento cruzado). Joakim Noah vai mancando com sua fascite plantar. Kirk Hinrich estourou a panturrilha. Taj Gibson voltou contra o Brooklyn Nets de uma torção no joelho, mas sem danos mais sérios.

– No Atlanta Hawks, Josh Smith tem problemas no joelho e no tornozelo, Al Horford, na coxa, Devin Harris, no pé, e Zaza Pachulia fora do campeonato depois de passar por uma cirurgia no tendão de Aquiles.

– Por fim, o Boston Celtics não conta com Rajon Rondo (ligamento cruzado do joelho) e Jared Sullinger (cirurgia nas costas). Entre as diversas contusões de Kevin Garnett, a última a incomodar está no quadril.

Chega de tortura?

Tenho quase toda a certeza do mundo de que deixei escapar alguma lesão ou contusão neste balanço. E outra: essas são as questões físicas declaradas pelos times e jogadores. Vai saber o que cada um está escondendo no momento.

É realmente necessária uma reflexão por parte da liga a respeito. Sua temporada de 82 jogos chega a ser desumana, considerando o nível de esforço físico exigido no esporte hoje em dia.

Como seriam os playoffs da NBA se todos os times estivessem 100%? O Miami Heat provavelmente ainda seria o grande favorito ao título, tá certo. Mas a gente nunca vai poder realmente saber.