Vinte Um

Arquivo : Cavs

Já são 7 derrotas, e LeBron chega cercado ao Jogo 3
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Giancarlo Giampietro

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Após uma derrota pelo Jogo 3 das finais do aaaano passaaaaado, já são sete triunfos consecutivos para o Golden state Warriors em confrontos com o Cleveland Cavaliers, com ou sem Kyrie Irving e Kevin Love em quadra. Nunca um time de LeBron James havia perdido tantas partidas em sequência para o mesmo oponente. Nos últimos dez jogos, o Cavs, um dos melhores ataques da liga, não conseguiu passar da marca de 100 pontos. Nesta temporada, em quatro partidas, a defesa dos atuais campeões também limitou o astro a 33 cestas em 80 tentativas, ou 41,5%.

“Eles nos bateram em todos os quesitos, nós não vencemos nada. Em nenhum ponto do jogo levamos a melhor. Eles nos detonaram”, afirmou o ala, logo após a surra que levaram pelo Jogo 2. É difícil para mim apontar o que não está funcionando e no que poderíamos trabalhar agora. Não dá mais para ter lapsos mentais. Esses caras vão te colocar em muitas posições desconfortáveis do ponto de vista mental, em que você vai ter de procurar entender o que fazer. E eles fazem você pagar se não entender.”

Sim, parece claro que o Warriors encontrou um modo de cercar LeBron. Por maior que tenha sido o sucesso de sua equipe nos playoffs da Conferência Leste, alcançando a segunda final em dois anos sem suar muito, a verdade é que ela não iria a lugar nenhum sem que o craque fosse dominante em quadra. No momento em que foi contido, seus companheiros também se viram contra a parede. Essa é uma conclusão a que LeBron certamente não imaginava chegar dois anos depois de ter deixado Miami para, supostamente, retornar para casa – e, claro, curtir um novo ciclo de sua carreira ao lado de duas estrelas mais jovens que tinham tudo para aliviar a pressão sobre seus ombros e articulações desgastadas, enquanto Dwyane Wade e Chris Bosh envelheceriam em South Beach.

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A torcida de Cleveland estava ansiosa para a revanche contra o Warriors, dessa vez com Irving e Love em forma. A esperança e, no caso de alguns, a aposta era de que tudo seria diferente. Que a virada sofrida em 2015 só se justificava pelo fato de o time ter jogado todo despedaçado, com o camisa 23 sobrecarregado, sem pernas ou recursos para reagir. E cá estamos: com a série encaminhada para o Ohio, e o Jogo 3 marcado para esta quarta-feira, o rival californiano tem confortável vantagem de 2 a 0, ainda mais expressiva quando o placar das duas primeiras partidas apontou um saldo de 48 pontos, sem que os reforços tenham influenciado em nada o rumo do confronto. Para ser mais preciso, Love mal jogou o segundo tempo do último duelo, vetado pelo protocolo de concussão da liga. Para ser justo, a presença do ala-pivô não teria feito diferença nenhuma.

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Goste ou não, o destino do Cavs gira em torno de LeBron, e não só em termos de negócios. Em quadra, já são dois anos completos com esse núcleo, e o time ainda não encontrou uma forma orgânica de jogar sem que as ações comecem e terminem com seu veterano astro. Contra o Detroit Pistons e, depois, detonando Atlanta Hawks e Toronto Raptors, os caras praticaram um basquete realmente empolgante, solidário, dominante. Não foi um engodo. Em todas as séries, porém, não há como negar também que LBJ não enfrentou resistência nenhuma.

Na primeira rodada, foi até bonitinho o esforço corajoso do novato Stanley Johnson, com provocação e tudo. Mas nem ele, muito menos Marcus Morris e Tobias Harris tinham condições de acompanhar a estrela adversária. Em quatro jogos, James teve médias de 22,8 pontos, 9,0 rebotes, 6,8 assistências e 48,7% nos arremessos, com 3,0 turnovers. Depois, enfrentando a segunda melhor defesa da liga, o ala também não deu bola. Por mais uma varrida, foram 24,3 pontos, 8,5 rebotes, 7,8 assistências, 50,7% de quadra e 4,3 turnovers – coletivamente, o Hawks montou um forte sistema de contenção, mas, com os chutadores de Cleveland on fire, sobrou para Kent Bazemore (muito mais baixo e mais fraco) e Paul Millsap (ainda bem mais lento) o ônus de lidar com o craque em mano a mano. Na final do Leste contra o Toronto Raptors, com um DeMarre Carroll arrebentado, o estrago foi ainda maior, com 26,0 pontos, 8,5 rebotes, 6,7 assistências e impressionantes 62,2% de acerto e apenas 2,3 turnovers, em seis partidas. Em suma: Pistons e Hawks até forçaram desperdícios de posse de bola, mas não serviu para nada.

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Já o Warriors conta com Andre Iguodala (e um pouco mais, claro). O experiente defensor obviamente não está anulando seu oponente. Isso não vai acontecer. Mas tem feito de tudo para atrapalhá-lo e diminuir sua eficiência. Em Oakland, os números de James continuaram volumosos em uma primeira vista: 21,0 pontos, 10,0 rebotes e 9,0 assistências. Mas aí você pega o seu aproveitamento nos chutes (42,1%) e o número de turnovers (5,5) e percebe como a marcação do Warriors tem surtido efeito. Mesmo quando força a troca, o astro do Cavs tem se enroscado com Klay Thompson ou mesmo Draymond Green.

O natural aqui é se concentrar em Iggy, e os números o favorecem. Nos últimos 10 duelos, LeBron acerta apenas 35,1% de seus arremessos quando o ala é o seu marcador primário. Foram apenas 32 cestas em 91 tentativas. Nesta final, especificamente, o aproveitamento é de 40%. No Jogo 2, foram 17 posses de bola em que o ala ex-Sixers o defendeu. Aí preparem-se, que os dados são ainda mais impressionantes: LBJ só tentou três cestas, acertando uma. De novo: apenas uma cesta em 17 jogadas. E sabe do que mais? Todos os sete turnovers que cometeu no jogo aconteceram com Iguodala em ação. Demais.

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Em sua coletiva, Tyronn Lue procurou não dar muita atenção ao cara. Fez os elogios básicos, de praxe, mas disse que as dificuldades de James tinham mais a ver com o sistema de Steve Kerr e seu assistente Ron Adams, do que pela atuação de um só jogador. Sim, no basquete é assim: são realmente cinco atletas de um lado e cinco do outro. Na defesa, então, nem se fala. O coletivo é muito mais influente que um só atleta, ainda que um só atleta possa fazer desse coletivo algo muito mais forte. O Golden State sabe o que fazer.

Kyrie Irving e Kevin Love despertam mais preocupação com Matthew Dellavedova e Timofey Mozgov, mas, ainda assim, o time tem conseguido fazer as dobras para importunar o craque. Em jogadas de post up, Andrew Bogut e Draymond Green têm feito ótimo trabalho de cobertura, fechando o aro. Em ataques frontais, o defensor mais próximo recua um pouco e tenta atacar seu drible.  O que pega para o Cavs é que a maior parte desses marcadores tem muita agilidade para recuperar sua posição rapidamente, sem perder de vista os chutadores. Mesmo quando supera a primeira barricada defensiva para entrar no garrafão, LeBron tem se complicado. Nas duas primeiras partidas, converteu 12 de 22 tentativas na área restrita (54,5%). Bem abaixo de sua média na carreira (72,5%) ou das últimas duas campanhas (72,2%).

Neste caso, porém, houve uma grande diferença entre os Jogos 1 e 2. No primeiro, acertou apenas 6 de 14 em suas infiltrações. No segundo, teve mais sucesso, com 6 de 8. Isto é, de suas sete cestas de quadra, apenas uma não aconteceu nas imediações do aro – mas foi uma bola de fora. O que nos leva a um problema destacado durante todo o campeonato: a penúria de LeBron como arremessador de longa distância. ele acertou apenas 30,9% de seus disparos de três nesta campanha. Desde 2013, ano de seu segundo título, seu aproveitamento vem caído consistentemente. Naquele ano, acertara 40,6%. Se for pegar apenas o rendimento dos playoffs, ele ainda teve 40,7% de conversão em 2014, mas agora tem acertado apenas 32,4%. Então ninguém vai contestar LBJ lá fora. Na temporada regular, você convive com isso. Nos playoffs, com os jogadores mais bem preparados, estudados, não.

Em seus primeiros mata-matas por Cleveland, LeBron também não representava ameaça no perímetro. Mas estamos falando de dez anos atrás. Naqueles tempos, não havia como ficar à frente do ala, que arrancava para a cesta com um primeiro passo absurdamente explosivo, acompanhado de crossover. Hoje, os defensores mais disciplinados e atléticos já podem acompanhá-lo mais de perto. Ainda mais dando espaço para o chute. Não quer dizer que seja fácil. Mas está bem menos complicado. A consequência? O Warriors consegue manter os demais marcadores grudados em seus respectivos pares. Aí Channing Frye e JR Smith têm de botar a bola no chão ou tentar arremessar por cima da “barreira”. Tudo muda.

Assim como o Cavs deste ano mudou em relação ao do ano passado, pelo menos no papel, com Kyrie Irving e Kevin Love. Quer dizer, esperava-se qeu iria mudar. O armador, em quem se confiava tanto como um diferencial, não criou absolutamente nada em Oakland. Com 33,3% nos arremessos e mais turnovers do que assistências (6 x 5), tem feito algo que Matthew Dellavedova cobriria com tranquilidade. Em iniciativas  individuais, a partir do drible, ele converteu apenas 4 de 27 arremessos, algo estarrecedor. Quando chutou a partir de um passe, matou 8 de 9. Já o ala-pivô estava sendo abastecido, agressivo, mas buscando a melhor forma de atacar uma defesa agressiva e versátil. Até sofrer aquela cotovelada de Harrison Barnes na parte de trás da cabeça e ser afastado pelo departamento médico da liga. E não é uma questão de individualismo. No ranking dos principais passadores desses primeiros dois jogos, Draymond Green lidera de longe, com 66 de média. Irving surge em segundo, com 54,5. LeBron é o terceiro, com 54. Love é o sexto, com 29 pouco abaixo de Curry. Ainda assim, o que vimos foi um ataque travado, previsível, e a diferença se nota no número geral de passes, com 271 em média para o Cavs contra 293 para o Warriors. (O pior: com Irving em quadra, a defesa do Cavs sofre).

Houve um tempo em que não importava quem estava ao lado de LeBron, em Cleveland. Fosse Eric Snow, Daniel Gibson, Damon Jones, Sasha Pavlovic, Delonte West… O ala era imponente o bastante para carregar o seu time, mas não rumo ao título. Até que esbarrava em Celtics, Magic e Spurs. Todo mundo tem limites. Foi a mesma coisa no ano passado. O Cavs mudou sua escalação, trocou de técnico, poupou LeBron, e nada. Já são sete partidas agora contra o Warriors, e, mais velho,enfrentando uma defesa muito forte, esperando ajuda, o craque não encontrou uma saída.

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Oscar aplaude o Warriors. Mas tudo o que o time faz?
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Giancarlo Giampietro

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É para quem pode. Arremessar e também fazer outras coisas tantas em quadra

Quem por aí teria a curiosidade de ouvir o que Oscar Schmidt tem a dizer sobre o Golden State Warriors e seus Splash Brothers, ou caras que estão detonando recordes em arremessos de três pontos pela NBA? Aqui está, numa cortesia da equipe do Esporte Ponto Final, que gravou uma série de entrevistas com os grandes campeões brasileiros rumo ao #Rio2016:

É interessante ouvir o Mão Santa a respeito, já que se trata certamente de um dos cinco maiores arremessadores da história do basquete. E alguém cuja habilidade para “meter bola” se tornou extremamente divisiva com o passar do tempo, por essas questões de simplificação que acometem o esporte.  Sabemos como, em retrospecto, o tema se tornou espinhoso no basquete brasileiro, da predisposição ao arremesso de longa distância. Como muitos acreditam que uma das maiores vitórias da história do país, a do Pan de 1987, seria também uma tragédia em termos de legado.

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A seleção liderada por Oscar e Marcel, recheada também por ótimos e veteranos coadjuvantes, conseguiu a proeza de bater os Estados Unidos de virada em Indianápolis, com uma chuva de arremessos de três pontos. A partir daquele momento, a vocação para o perímetro teria virado uma epidemia, contaminando futuras gerações.

O relato do New York Times foi este: “Marcel de Souza e Oscar Schmidt, que foram responsáveis por 55 dos 65 pontos do Brasil no segundo tempo, lideraram uma reação tempestuosa para capturar a vitória, por 120 a 115. (…) Os Estados Unidos acertaram 2 de 11 em três pontos, enquanto o Brasil teve 10 de 25. No geral, o Brasil acertou 45% dos arremessos, mas converteu 23 de 45 no segundo tempo. Os EUA ficaram em 16-46. Schmidt, 29, disparou de três pontos de praticamente todos os cantos da quadra e marcou 46 pontos — 35 no segundo tempo –, e o Brasil superou uma desvantagem de 16 anos”.

Para quem não viu, segue o jogo na íntegra:

Entre 1987 e 2016, o jogo mudou, claro. Se o assunto é o uso do tiro de três pontos, então, é como se fossem dois esportes diferentes, gente. Em Inianápolis-87, Oscar e Marcel estavam arremessando há apenas três anos do estabelecimento da linha perimetral pela Fiba – sim, para o basquete internacional, aconteceu apenas em 1984, cinco anos depois da NBA.  Hoje, vendo o que se pratica em todos os cantos do mundo, é engraçado até que a marca de 25 tentativas de três pontos tenha causado tanto alvoroço à época.

Neste domingo, em sua segunda vitória pelas finais da liga americana, o Warriors tentou 33 chutes de longa distância. Em 48 minutos, é verdade. Fazendo a média, daria 27 arremessos em 40 minutos. Apenas dois a mais. Mas já vimos, durante os playoffs do Leste, o próprio Cavs quebrar recordes. No Jogo 2 pela semifinal contra o Atlanta Hawks, os LeBrons acertaram 18 cestas de fora só no primeiro tempo. Ao final do jogo, terminaram com 25, em 45 tentativas – praticamente uma por minuto. O chute de três é parte obrigatória do esporte, hoje, contra grandes defesas. A quadra  de basquete ficou  muito mais curta, contra formações mais fechadas, com marcadores muito mais atléticos e longilíneos que no passado.

Oscar deve ter assistido a essas partidas e se sentido vingado. De certa forma, é o que diz na entrevista acima: “Marcar este time do Golden State não é para qualquer um. Eles jogam de uma maneira muito eficiente. A minha geração jogava assim, e a gente era criticado por todo mundo. Quem mete bola não precisa de rebote. Começa daí. No Golden State, ninguém tá nem aí”.

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O camisa 14, está registrado, é um dos craques mais eloquentes e enfáticos que o esporte pode encontrar. Sua verve pode muitas vezes gerar desconforto e descambar para um universo em que o termo “exagero” é um eufemismo, se é que isso faz sentido. Há diversos casos em que ele usou seu microfone e trombone para cometer injustiças, como quando instigou a crucificação de Nenê em praça pública, no Rio de Janeiro, há três anos. Independentemente de sua opinião, amigo e amiga internauta, quanto ao pivô, não dá para discordar que foi na pior hora, já que era um amistoso histórico de pré-temporada no país, festa para a qual havia sido, oras, convidado pela liga americana. Foi imperdoável para alguém que deveria ser um embaixador. Há diversas formas de se criticar alguém. Oscar preferiu julgar o são-carlense.

Mas, aconteceu, já passou (ou assim espero). Voltando ao tópico do Warriors, tiros de três, Splash Brothers e tal. Isolada assim, a frase destacada de Oscar fica mais do que propícia para ser desmontada, se for levada ao pé-da-letra. Por exemplo: neste domingo, mesmo, o Warriors superou o Cavs em rebotes ofensivos, coletando 12 durante o Jogo 2.

Mas, de certa forma, lendo nas entrelinhas, o maior cestinha da história das Olimpíadas tem razão: o time de Steve Kerr não é conhecido por muitas virtudes. Entre elas, não consta a habilidade reboteira. Entre os nove times dos playoffs, está na nona posição em aproveitamento nas duas tabelas, por exemplo. Contra Cleveland, o que está acontecendo é uma exceção: devido a uma questionável tática de troca de marcação depois de corta-luzes, seu adversário se tornou vulnerável na tábua defensiva.

JR Smith: a vida de arremessador não anda tão bem contra a defesa do Warriors. Contra marcação de alto nível, não basta matar bola (a não ser no caso de Splash Brothers ou Oscar, claro). Precisa atacar de outras formas, e o ala do Cavs não tem tanto repertório assim

JR Smith: a vida de arremessador não anda tão bem contra a defesa do Warriors. Contra marcação de alto nível, para os mortais, não basta apenas matar bola.. Precisa atacar de outras formas, e o ala do Cavs não tem tanto repertório assim

Além disso, basta espiar qualquer clipe de melhores momentos desta equipe californiana, para se ver uns 300 arremessos de três em transição sem que não houvesse ninguém no rebote. Eles têm a confiança e licença para isso. Assim como Oscar tinha.”Fiquei livre aqui, vou arremessar. Não importa se tem, ou não, rebote”, afirma o Mão Santa, na sequência. No finalzinho de sua declaração, então, Oscar foi quase profético: “(Curry e Thompson) São imarcáveis. Precisa pelo menos dois caras para marcar cada um, e vai sobrar alguém livre. E esse cara vai meter bola também”. Foi exatamente uma das táticas que Tyronn Lue escolheu para tentar conter os Splash Brothers, com algum sucesso, é verdade, mas cujos efeitos colaterais são devastadores: diversos companheiros livres para castigar sua defesa da mesma forma, seja com os disparos de fora de Draymond Green ou com uma fila de bandejas e enterradas para Iguodala, Bogut, Barnes, Ezeli, Livingston e todo o mundo.

É aqui, de todo modo, que mudamos o tom, para o texto não parecer uma apologia indefectível aos arremessos tresloucados que, sim, podem fazer mal a uma seleção brasileira ou a qualquer equipe. Existem arremessos de três e existem arremessos forçados de três. Assim como existem arremessos de três forçados com Curry e Thompson, e existem arremessos de três forçados com Dion Waiters e JR Smith. O ala do Cavs torturou as defesas do Leste nos mata-matas, mas agora não tem praticamente liberdade nenhuma para agir, de modo que sua capacidade de acerto nos tiros de fora não tem servido para muita coisa. Vale o mesmo para Channing Frye.

Esse é o risco da generalização, de todos os lados. Um Arremesso de Três Pontos, por si só, não é Bom ou Mau. Depende da situação e de quem está chutando. Dá para entender porque exista ainda muita gente torcendo o nariz para o que o Warrios vem praticando. Há os mais teimosos, mesmo, presos ao saudosismo. Mas também há quem se preocupe, razoavelmente, com o impacto que esse time pode causar. Pegue o Philadelphia 76ers, por Deus. A equipe acertou apenas 33,9% de seus arremessos na temporada regular, bem abaixo dos 41,6% do Warriors e, ainda assim, sob a batuta do matemático Sam Hinkie e do técnico Brett Brown, não pararam de chutar. A ponto de ocuparem a nona colocação no ranking da liga. Algo absurdo para um elenco que não tem nenhum chutador que desperte o temor de alguma defesa (Robert Covington ainda não adquiriu esse status, convenhamos). Vai acontecer também com futuras gerações. Vale ficar de olho na trajetória do garoto Lonzo Ball, angelino que vai jogar por UCLA na próxima temporada, por exemplo. Seu pai incentiva a ‘loucura’, digamos, como nos conta Danny Chau, no novíssimo The Ringer.

Os irmãos Ball (sério) tentam seguir a trilha de Curry. Arte: The Ringer (link acima)

Os irmãos Ball (sério) tentam seguir a trilha de Curry. Arte: The Ringer (link acima)

E outra: não é que o Warriors vença apenas por sua habilidade nos disparos de fora. Esse foi um elemento crucial no sofrido triunfo sobre OKC, o diferencial naquela grande virada, mas não a única razão. Sua defesa elevou sua intensidade na hora da salvação também, combatendo cestinhas como Durant e Westbrook. Está acontecendo o mesmo agora com LeBron, Irving e Love. Nesse ponto a história do Golden State e a da seleção dos anos 80 diverge. Aquele time contava com ótimos defensores, com Israel ao centro do garrafão, inclusive, mas dependia realmente de seus gatilhos para avançar, ao passo que os atuais campeões da NBA já mostraram que são capazes de triunfar mesmo em jogos “feios”, de baixo percentual de acerto.

Nem todo time pode ser o Golden State. Em tempo: não é porque Curry e Thompson matam bolas de fora a partir do drible, de muito longe, que eles só façam cesta assim. Calha que essas bolas antes impossíveis são as que ficam na memória – e nos highlights, claro. As velozes trocas de passe, a constante movimentação dos atletas facilita, e muito, a vida dos pontuadores. Ainda assim, relevando sistemas, pouquíssimos jogadores serão como Steph Curry. Ou Oscar. O modus operandi deles faz sentido no vídeo e nas planilhas estatísticas, apenas por causa de habilidades fenomenais. São caras para serem adorados, mas quase impossíveis de se copiar.

No caso do ícone brasileiro, o que também não podemos esquecer é que, no auge, não estava incluído na lista dos jogadores mais interessados em marcar. E que, além disso, se deixava levar por seus recursos técnicos rumo ao individualismo excessivo, de que ele era o cara certo para resolver a parada no ataque, e que os demais se virassem para sustentá-lo desta maneira. Curry, por mais talentoso que seja, não poderia ser mais diferente. Primeiro que vem fazendo um esforço constante em melhorar como defensor, e sua evolução está clara nestes playoffs. Em termos de mentalidade, é uma das figuras mais solidárias que você vai encontrar na liga. Basta ver a interação que tem com seus companheiros no banco, mesmo em jornadas na qual não tenha produzido tão bem. Também seria interessante ouvir o que Oscar diria a respeito.

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Não é apenas o 2 a 0 para o Warriors. Mas como aconteceu
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Giancarlo Giampietro

Draymond, o MVP da série em Oakland

Draymond, o MVP da série em Oakland

Depois de um jogo desses, as finais da NBA se tornam o conto de dois times. O Golden State Warriors exuberante, exultando confiança voltando a justificar todos os seus recordes e seu lugar na história, após triunfar por 110 a 77 pelo Jogo 2, neste domingo, e abrir 2 a 0 na série. Do outro lado, um Cleveland Cavaliers desmoralizado, em frangalhos, tendo que assimilar a surra que tomou e controlar seu vestiário para evitar uma autoimplosão.

LeBron James, Tyronn Lue e Kyrie Irving vão ter que pensar em muita coisa até esta segunda-feira de manhã, quando vão pegar o voo de volta para Ohio. E aí é usar o trajeto de retorno para pensar mais um pouco. Chegando lá, tem mais vídeo para analisar, muitas coisas para acertar nos treinos até quarta-feira. E talvez nem esse tempo todo seja suficiente? É a conclusão mais precipitada que a que poderíamos chegar após um segundo tempo chocante em Oakland, vencido por 58 a 33. Isso com Stephen Curry fora de quadra, devido ao excesso de faltas, quase tendo uma convulsão no banco de reservas de tanto vibrar e curtir cada jogada maravilhosa de seus companheiros.

Os Splash Brothers conseguiram fazer mais do que 20 pontos, juntos, mas não é que tenham chegado ao nível das apresentações que perturbaram o Oklahoma City Thunder na reta final do Oeste. Dessa vez Curry e Klay Thompson acumularam 35 pontos. Uma quantia que seria excelente para qualquer dupla do Philadelphia 76ers, mas que, falando de quem estamos falando, poderia ter sido atingida em um só quarto, se tanto. E a série está 2 a 0.

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O Cavs está contra a parede, precisando lidar com o fato de que, nas últimas 16 decisões da liga em que viu uma equipe com duas vitórias em duas partidas, esta equipe saiu campeã 15 vezes. O último clube a levar um tombo desses foi o Dallas Mavericks em 2006, contra o Miami. Na história, o aproveitamento é de 28 títulos em 31 finais nesse contexto.

Para tentar ser o quarto a buscar a virada, os campeões do Leste não precisam só corrigir uma defesa porosa, que, ao final de 96 minutos de basquete, não é capaz ainda de entender quais as rotações necessárias após se fazer uma dobra contra Curry ou Thompson. Não é apenas isso. Seu ataque também despencou perante uma defesa opressora do Warriors.

Steph se divertiu no banco. Mais uma vitória sem precisar de Curry brilhante

Steph se divertiu no banco. Mais uma vitória sem precisar de Curry brilhante

Os visitantes ficaram abaixo da crítica, ou dos 40% de aproveitamento nos arremessos novamente, com 51 erros em 79 tentativas (35,4%). Também foram mais 17 turnovers, contra 15 assistências. Kyrie Irving anotou apenas 10 pontos e converteu só 35,7%. Na série, está com 33,3%. Kevin Love tinha apenas 5 pontos em 21 minutos, até sair de quadra com sintomas de concussão. JR Smith e Channing Frye, aqueles que colocaram fogo nos playoffs do Leste, não estão produzindo nada também. Mas não é só o elenco de apoio que está em falta, ainda que devendo muito mais. LeBron James acumulou seus números, todos eles – os do bem (19 pontos, 9 assistências, 8 rebotes e 4 roubos de bola) e os do mal (10 arremessos desperdiçados em 17 tentativas e 7 turnovers).

Não vai adiantar LeBron carregar esse time das costas. Ele já fez isso no ano passado, e deu no que deu. Mais: não parece que o craque, hoje, esteja em condição de assumir uma tarefa hercúlea dessas. Andre Iguodala não sai do seu pé quando está em quadra. O Cavs pode forçar a troca defensiva, e Klay Thompson também está fazendo um bom trabalho em mano a mano. É aqui que faz falta o arremesso de longa distância para LBJ. As opções estão limitadas. Ele tem de abaixar a cabeça (metaforicamente ou não) e atacar, tentar ganhar terreno com os músculos. Funciona em uma sequência ou outra, mas, no geral, o Warriors vem fazendo ajustes, sabendo como tirá-lo dos trilhos. Esse parágrafo, nos próximos dias até o Jogo 3, vai ter de ganhar seu próprio espaço como um artigo mais abrangente.

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Mais: Leandrinho voltou a ser um vulto. Na melhor hora

Pelo Warriors, já citamos com os Splash Brothers não passaram dos 40 pontos, e ainda assim a equipe californiana chegou a 110 pontos, com um extenso gargabe time no quarto final. Como? Bem, começa com um Draymond Green impossível, em sua versão cestinha desta feita, com 28 pontos em 34 minutos e 20 arremessos, com cinco chutes de longa distância convertidos. Como o jogador completíssimo que se tornou – é craque, sim –, ainda contribuiu com sete rebotes e cinco assistências. Passados oito quartos de finais, deve ser o favorito ao prêmio de MVP das finais.

Mas teve mais, como 26 assistências. Dos 12 jogadores utilizados por Steve Kerr nesta noite, só Brandon Rush não pontuou. Leandrinho foi mais uma vez fogoso que só e oportunista, para chegar aos 10 pontos, depois de converter seus cinco primeiros arremessos. O ligeirinho estava com 10-10 na série, até então, até errar os últimos dois chutes. Andre Iguodala, Shaun Livingston e até Ian Clark, no garbage time, somaram 7 pontos. Por aí foram, rumo 54,3% de quadra e 45,5% de três, com 15 conversões. Só Varejão não participou.

Talvez nem precisasse de tantos pontos assim. Quer dizer: obviamente não precisava – não quando seu adversário parou em 77. Mesmo que o Cavs tivesse acertado dois ou três chutes a mais, não teria feito diferença nenhuma, assim como seus 20 turnovers.  Aí Steve Kerr está mais do que certo em dizer, a cada entrevista, que o sucesso nessas duas primeiras partidas se deve a sua defesa. Com agressividade, esforço e consciência, de quem precisa ser contestado, de quem pode cortar para um lado e para o outro, não. Seu time seclassificou para a final com uma herança bendita entregue por OKC. Kevin Durant, Russell Westbrook, Steven Adams & Cia. testaram esses caras ao limite. Depois do sufoco que passaram, acuados, espremidos em quadra, tudo parece um pouco mais fácil.

Estaria David Blatt acompanhando tudo? No ano passado, a equipe voltou para Cleveland com um empate de 1 a 1, sendo que sua derrota aconteceu na prorrogação, em mais um daqueles últimos suspiros do Warriors, evitando a derrota certa. Ficaram muito perto de ver esse placar geral de 2 a 0 a seu favor.  Agora, não são apenas duas derrotas, mas 48 pontos de desvantagem em dois jogos, com todos tentando entender o que aconteceu

Em sua coletiva, ao menos, LeBron assumiu sua parte, seus erros. Não teve dedo apontado para Irving, reservas, Blatt, nem nada. É o primeiro passo para o Cleveland tentar uma reação. Em sua jornada pelo Leste, sempre foram seus inimigos mais perigosos. Nas três primeiras rodadas dos playoffs, não foi problema nenhum. Tem de ver se a fogueira de vaidades não vai se acender. É tudo de que não precisam agora, já que estão enfrentando muito mais do que qualquer adversidade interna. Tem um timaço na oposição, se havia dúvida ainda.

Ao final do Jogo 2, em 2015, a Oracle Arena não estava tão festiva assim

Ao final do Jogo 2, em 2015, a Oracle Arena não estava tão festiva assim

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Leandrinho voltou a ser um vulto em quadra. Na melhor hora
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Giancarlo Giampietro

Leandro Barbosa, Warriors, Game 1, NBA Finals

Antes de se mandar para New Orleans, Alvin Gentry havia nos dito como Leandrinho era uma figura importante no vestiário do Golden State Warriors. Ethan Sherwood Strauss, setorista do Warriors para o ESPN.com, também fez um perfil nesse sentido, falando sobre como o ala é adorado pelos seus companheiros, de como, numa temporada longa como a da NBA, faz bem ter um boa praça desses por perto, para desanuviar o ambiente em tempos mais tensos – se é que a coisa fica tensa para este timaço. Quando víamos Stephen Curry ensaiar, na lateral da quadra, passos que, talvez, em sua cabeça, parecessem os de samba, depois de uma cesta do brasileiro, era a confirmação visual de tudo isso.

Esse expediente não seria novo. É só pensar nos elencos do hexacampeonato do Chicago Bulls nos anos 90 e pinçar os anciões que se sentavam lá no final do banco. James Edwards, Robert Parish, Bill Wennington, mesmo. Jack Haley, John Salley… São vários personagens escolhidos a dedo por Jerry Krause e/ou Phil Jackson como ombro amigo, figuras sóbrias, que já haviam visto de tudo pela liga e davam uma força para os treinadores, ajudavam na condução dos negócios, digamos. O papel que cabe a um Kendrick Perkins ou um Nazr Mohammed hoje, por exemplo.

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Na quinta-feira, porém, pela abertura das finais da NBA, Leandrinho mostrou que tem mais o que oferecer para os atuais campeões do que a simpatia, o humor e a harmonia interna. Para um reserva, com 11 pontos em 11 minutos, acertando todos os cinco arremessos, viveu uma noite perfeita numa noite em que os Splash Brothers não jogaram nada, sendo fundamental na vitória sobre o Cleveland Cavaliers.

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Foi uma jornada como a dos bons e, glup!, já velhos tempos de Brazilian Blur, o Vulto Brasileiro, quando “Barbosa” estava construindo sua fama pelo inesquecível Phoenix Suns de Nash, Marion, Stoudemire, D’Antoni e, principalmente, de Sete Segundos ou Menos. Naquele tempo, antes mesmo de Russell Westbrook, Derrick Rose e John Wall entrarem na liga, era difícil encontrar jogador mais veloz.

Lembro sempre de uma manhã na redação do UOL Esporte, ‘abrindo’ o site – quando chegam os primeiros redatores caçando as primeiras notícias –, e sempre haveria um relato da NBA para se fazer. E teve um jogo desses entre Suns e Houston Rockets em que o cara arrebentou. Tracy McGrady, do outro lado, estava maravilhado. Na tentativa de qualificar o brasileiro, o astro o chamou de “Speedy Gonzalez”, que, vocês sabem, é o Ligeirinho na adaptação do desenho por aqui. Foi antes de “Brazilian Blur” ser oficializado. Valeu, T-Mac. Desde então, “ligeirinho”, em caixa baixa, virou adjetivo obrigatório para mim na hora de escrever qualquer texto sobre Leandrinho.

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Como Matthew Dellavedova pôde ver, o ala ainda tem, sim, arranque para pontuar nos grandes jogos. É só ver na sequência de clipes abaixo do texto. Foram algumas infiltrações completamente insanas, nas quais voltou a mostrar sua habilidade para encontrar ângulos improváveis para a finalização. Fazia tempo, confesso, que não via dessas bolas um tanto malucas, mas que funcionaram durante toda a sua carreira. Muito provavelmente em um desses lances, aliás, sentiu algum desconforto nas costas, que o obrigou a ir ao vestiário mais cedo para ser examinado. Por sorte, dele, de Kerr e dos Splash Brothers, não era nada grave.

Para cima de Delly

Para cima de Delly

“LB foi ótimo. Ele ainda é muito rápido. Talvez não tão rápido como era cinco anos atrás, mas ainda é um cara que adora correr para cima e para baixo. Ele entrou e nos deu uma grande força”, disse Steve Kerr, que foi seu gerente geral em Phoenix. “Conseguiu algumas bandejas de primeira, umas bandejas difíceis, e embalou. E aí ele fez aquela de três na zona morta. Simplesmente teve um jogo excelente. Com 11 pontos em 11 minutos e meio, dá para dizer que foi uma produção bem boa.”

Em toda a temporada, Leandrinho passou da marca de 10 pontos em 12 partidas apenas (?). Ele não chegava a dígitos duplos há quase dois meses. A última havia sido no dia 3 de abril, com 13 pontos em vitória sobre o Portland Trail Blazers, por 136 a 111, com seis cestas em oito tentativas e 23 minutos de ação. Seu recorde no campeonato foi de 21 pontos sobre o Suns, claro, no dia 27 de novembro, com oito cestas em nove tentativas, também ficando 23 minutos em quadra em triunfo por 135 a 116.

Reparem nos minutos e nos placares. Foram duas das tantas surras que o Warriors aplicou durante a temporada, abrindo espaço para a entrada e produção de seus reservas. Bem diferente de um Jogo 1 das #NBAFinals. Quem imaginava? Talvez nem Kerr, ainda mais quando ele havia feito apenas 14 pontos no total contra OKC pelas finais do Oeste. No final, fez os mesmos 11 pontos de Curry e dois a mais que Thompson.

LeBron James também não estava contando com isso. Quando Leandrinho acertou um chute em flutuação e elevou a vantagem do Warriors para 14 pontos nos dois primeiros minutos do quarto período, o craque do Cavs estava preparado para voltar ao jogo e sorria nervosamente, talvez incrédulo. Pois, Leandrinho, sozinho, havia superado todos os reservas de Cleveland em pontuação. Depois,  para variar, James detonaria a segunda unidade de seu time (caras que têm jogado tão tem o campeonato inteiro, diga-se), afirmando ser “inadmissível” que o banco do Warriors tenha vencido o embate por 45 a 10. “Quando isso acontece e você ainda cede 25 pontos em 17 turnovers, não importa o que alguém faça ou deixe de fazer, vai ser difícil vencer, especialmente fora de casa. “Não importa o que você faz com Steph, Klay ou Draymond. Permita 45 pontos ao banco e 25 pontos via turnovers, na estrada, e você não tem um bom ingrediente para vencer.”

Essa sequência arrasadora do Golden State foi propulsionada por Leandrinho, Shaun Livingston (um dos nomes do jogo), Andre Iguodala (taí o outro nome da partida…) e dois titulares: Draymond e Harrison Barnes. Uma formação alternativa de seus quintetos mais baixos, sem Festus Ezeli ou Marreese Speights para acompanhar os demais reservas. Mais uma boa cartada de Kerr, que não perdeu a confiança em seus suplentes, mesmo quando sua equipe enfrentava tamanha pressão contra OKC. “Ele vai muito bem na hora de sentir nossa temperatura e encontrar quais são os duelos favoráveis para nós e nos colocar em uma posição em que possamos brilhar”, afirmou Livingston, sobre o técnico.

No caso do ligeirinho brasileiro, o duelo nem era tão favorável assim. Dellavedova é uma desgraça (em muitos sentidos…) quando persegue alguém. Só ficou complicado para o australiano correr atrás de um vulto. Se, por acaso, o tivesse atingido, aí teria de se ver com furiosos oponentes. No banco do Warriors, melhor não mexer com Leandrinho.

*   *   *

Aqui estão as cinco cestas de quadra do ala, numa cortesia do Coach Nurse, do BBALLBREAKDOWN, estrela do Twitter em noite de grandes partidas.  Vocês têm de seguir o cara.

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Leandrinho! Livingston! É a final da NBA com reservas ditando o jogo
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Giancarlo Giampietro

(Atualizado às 9h)

Shaun Livingston=Curry e Thompson, por uma noite

Shaun Livingston = Curry e Thompson, por uma noite

Ok, podem falar, sabichões: todo mundo sabia que, com LeBron James, Stephen Curry, Klay Thompson, Kyrie Irving e Kevin Love em quadra, o Jogo 1 das finais da NBA seria decidido por Shaun Livingston e Leandrinho. Estava óbvio isso. Não adianta ficar se gabando por aí na reunião de trabalho ou no balcão da padaria.

(…)

Pois é. Tivemos uma noite de quinta-feira de subversão com o Golden State Warriors vencendo o Cleveland Cavaliers por 104 a 89, em casa. Na qual Shaun Livingston, sozinho, marcou o mesmo número de pontos dos Splash Brothers: 20. Sim, o Warriors venceu um jogo totalmente estranho de #NBAFinals em Curry e Thompson acertaram apenas 8 de 27 arremessos em conjunto. Graças a uma grande atuação defensiva e à contribuição decisiva da segunda unidade de Steve Kerr no quarto período.

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Depois de sofrer contra Dion Waiters (!) pela final do Oeste, Livingston retomou a boa forma da temporada regular e acertou praticamente tudo o que tentou da sua zona preferida de quadra, à meia distância (80%, com 8-10). Leandrinho também botou fogo no jogo ao converter todos os seus cinco arremessos e terminar com 11 pontos em 11min25s, numa média incrível. O brasileiro acertou chutes em flutuação, de média e longa distância e até contestado pelo árbitro Kenny Mauer (abaixo). Foi uma de suas melhores apresentações em muito tempo, na melhor hora. Ruben Magnano tomou nota. Os dois certamente não sentem falta dos braços enormes dos atletas de OKC ao redor na contenção.

No geral, os reservas do Warriors marcaram 45 pontos contra 10 dos suplentes do Cavs, a maior diferença em uma partida pelas finais em 50 anos. Sim, Leandrinho, por conta própria, marcou um ponto a mais que a concorrência. Ainda nessa linha bizarra de estatísticas, Curry e Thompson não constaram nem entre os quatro cestinhas do Golden State nesta noite, com Draymond Green (16 pontos),  Harrison Barnes (13) e Andre Iguodala (12) à frente. Curry anotou 12, empatando com o ligeirinho brasileiro. Klay parou nos 9. Sem os chutadores em quadra, foram 11 minutos de jogo para o Warriors e 12 cestas em 17 chutes, com 12 pontos de saldo.

“Temos falado sobre a profundidade de nosso elenco pelos últimos dois anos. Nós contamos com um monte de pessoas. Usamos um monte de pessoas, e sentimos que temos muito talento no banco que pode entrar e pontuar quando precisamos. Então foi um grande sinal que possamos vencer nas finais sem que nossos dois caras tenham grandes jogos. Mas não é realmente tão surpreendente assim para nós. Esse tem sido o nosso time por dois anos”, afirmou Kerr, que realmente tirou essa lição de suas experiências com Phil Jackson e, principalmente, Gregg Popovich.

Desta forma, os atuais campeões se tornaram a primeira equipe desde o Detroit Pistons de 2005 a ter sete atletas a ter sete atletas com 10 ou mais pontos em uma partida pelas finais. Irônico isso, considerando que o Detroit é reconhecido como a exceção da regra da liga, como um time que se sagrou campeão sem uma superestrela (no ano anterior, diga-se).

Claro que o Warriors não seria grande coisa sem Steph Curry. Mas o time não vive só dos arremessos e jogadas maravilhosas do armador, isso está claro. Que o diga Andre Iguodala, que teve mais uma dessas atuações que tende a ficar em segundo plano na manchete, mas que talvez tenha sido ainda mais importante.

Leandrinho fez um ponto por minuto

Leandrinho fez um ponto por minuto

 Não é por acaso que o ala tenha saído de quadra com o maior saldo de pontos da noite, com +22, um pouco acima se Livingston (+20) e Green (+18), que também fez uma bela exibição. O veterano cuidou de LeBron James do jeito que dá. O craque do Cavs quase acumulou um triple-double (23 pontos, 12 rebotes e 9 assistências em 21 arremessos e quase 41 minutos). Mesmo se tivesse alcançado a marca lindona com mais um passe para a cesta, seria basicamente um ouro de tolo. Na hora em que o jogo desandou, Iggy estava lá para importunar. Ele terminou 22 posses de bola como o marcador de LeBron, e o astro do Cavs tentou apenas dois arremessos nessas ocasiões, acertando um. Do outro lado, ainda deu 6 assistências. Você põe na balança os sete rebotes também, e entende como é possível um reserva ser eleito o MVP das finais.

Em tempo: acho que Matthew Dellavedova enfim descobriu que, com Iguodala, não é para mexer. O australiano, cujo fã-clube conta com minha inscrição, exagerou, digamos, em sua competitividade ao dar um soco nas partes baixas do ala, no terceiro período, iniciando, quase sem querer, uma arrancada dos campeões do Oeste. “Temos alguns caras que têm de jogar um pouco sujo e fisicamente para ganhar a vida com isso e alimentar a família. Então tenho de respeitar isso”, ironizou o ala do Warriors.

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Em que pese a atuação firme de Iguodala, LeBron foi um tanto passivo na noite, é verdade, além de também ter ido mal em duelos com Draymond Green, contra quem só acertou um de sete arremessos. Dava a impressão de que a prioridade de LBJ era inserir Kyrie Irving e Kevin Love se primeira na série, dada a expectativa gerada pela participação de ambos, devido à ausência do ano passado. Compreensível, aliás. Nenhum dos cestinhas foi bem. Irving liderou o jogo com 26 pontos, mas errou 15 de 22 arremessos e teve nove possas de bola em que o time inteiro o viu cruzar a linha de quadra e arremessar, sem efetuar sequer um passe. Compensou tanto aro, tanto bico, em tese, ao matar 11 lances livres. Já Love fez 17 pontos em 17 arremessos, pegou 12 rebotes e não conseguiu punir a defesa do Warriors quando marcado por atletas mais baixos no garrafão. Em suma: dá para visualizar um camisa 23 mais agressivo no domingo.

Do outro lado, não sei bem o que aconteceu. Os Splash Brothers não jogaram absolutamente nada, e, sinceramente, não dá para apontar um grande mérito da defesa do Cavs. Não é que tenham oferecido mais resistência do que OKC apresentou pela final do Oeste. Se foi ressaca, salto alto, distração, só eles vão saber dizer.

O que limpa a barra da dupla é que o Warriors como um todo defendeu muito mais, o que não é novidade. Os visitantes cometeram 17 turnovers e só acertaram 38,1% dos arremessos e 33,3% de fora. As panes que o Cavs têm na hora de marcar são o suficiente para que sejam punidos até mesmo pelos reservas do Warriors. São muitos lapsos em trocas de marcação que deixam os oponentes na cara da cesta. Isso tem a ver com sistema de um e a falta de para o outro. Cleveland vai ter de marcar muito mais se quiser conquistar o primeiro título da história da cidade na liga.

Tudo vermelho (ou quase) para o Cavs na abertura das finais

Tudo vermelho (ou quase) para o Cavs na abertura das finais

Em seu camarote, cercado por milionários do Vale do Silício, o proprietário do Warriors, Joe Lacob, após sua desastrada bravata à revista do New York Times, deve ter sorrido, nervosamente. Não deixa de ser um testemunho sobre a cultura vencedora propagada pelo clube. Mérito aqui também especialmente para Kerr, pela confiança no elenco mesmo nas horas de maior aperto.

O Cavs desperdiçou uma grande chance. Mas foi apenas o Jogo 1, e bizarro. No qual os técnicos foram conservadores em suas escalações, respeitando basicamenteas rotações da temporada regular. No qual os atletas pareciam se testar por muito tempo – por mais que estudem o oponente em detalhes, há muitas teorias que só vão ser comprovadas em quadra, mesmo. No qual o Warriors sempre esteve no controle, com exceção daquele momento em que no terceiro período em que a apatia de seus titulares levou Kerr a um ato de fúria, quebrando prancheta com uma investida que deixaria o mestre Pai Mei orgulhoso. E, por fim, no qual não teve bombardeio de três, com ambos os times chutando abaixo de sua tórrida média dos mata-matas: apenas 16 se 48 tentativas. Pouco para os dois times que lideraram a temporada em cestas de longe.

O que vimos, de todo modo, é a confirmação dos temores quanto à defesa do Cavs e a diferença geral do elenco. Com múltiplos jogadores que atuam com firmeza dos dois lados da quadra, o Warriors está equipado para vencer qualquer tipo de partida. Mesmo aquela em que seus astros não estão bem dispostos assim.

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Cavs chega bastante modificado para a revanche contra o Warriors
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Giancarlo Giampietro

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“Jogamos sem Kyrie Irving e Kevin Love. Jogamos sem Kyrie Irving e Kevin Love. Jogamos sem Kyrie Irving e…”

Quando confrontado com a derrota por 4 a 2 nas finais de 2015 para o Golden State Warriors, o  torcedor do Cleveland Cavaliers não se cansou de repetir isso, quase como um mantra.  Sim, todos nós lembramos que as duas jovens estrelas se lesionaram nos playoffs. Love não passou da primeira fase. Irving arrebentou o joelho desgraçadamente logo na primeira partida das finais.

O Cavs, então, vai para a revanche contra o Warriors, mas, de uma certa forma, podemos até dizer que este é um novo time. De lá para cá, muita coisa mudou. Irving e Love estão fisicamente prontos para a batalha. Timofey Mozgov, que o Czar o tenha, ainda estava vivo. Tristan Thompson estava jogando por um contrato. David Blatt foi para a guilhotina, depois de prolongado motim promovido pelas forças reais no vestiário.  Já Anderson Varejão, diabos, agora está no outro vestiário.  A presença do Big 3 em quadra e a de Tyronn Lue no banco sugere, de fato, uma série completamente diferente, quando confrontada com o que o Cavs tinha. O quanto essas alterações serão positivas, ou não, a gente precisa esperar para ver.

Claro que é melhor jogar com o Big 3 formado. Mentalmente, o time também parece bem mais preparado, com LeBron decidido a escutar o novo técnico e aparentemente apaziguado com os companheiros mais jovens, depois de muitas rusgas nos últimos dois anos. A questão é que o adversário segue o mesmo do outro lado, um timaço, representando os mesmos problemões. Então a conclusão a que podemos chegar é a de que, para o Cavs chegar ao título, não basta jogar melhor que a equipe do ano passado. Isso não importa muito, já que eles precisam, mesmo, jogar melhor em relação ao Golden State.

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Nesse sentido, acho que nem dá para levar em conta o que aconteceu na temporada regular, já que Blatt ainda era o comandante em janeiro, quando se enfrentaram pela segunda e última vez, com uma surra aplicada pelo Golden State. O Cavs não é o mesmo nem de cinco meses atrás. Com Lue, conforme já registrado aqui em diversas ocasiões, o time melhorou seu aproveitamento ofensivo, mas perdeu muito de sua força na defesa.

Há um ano, foi com marcação muito agressiva e dominando os rebotes que os LeBrons fizeram frente ao Warriors no ano passado. pelo menos pelas três primeiras partidas, com uma vantagem de 2 a 1 na série, roubando mando de quadra, sendo que a primeira derrota aconteceu na prorrogação. Sem dois de seus três principais cestinhas, a receita seguida no ataque foi a de um jogo lento. Cruzavam a linha central se arrastando. Aí era bola no LeBron, com poucos chutadores espalhados pela quadra, e Tristan Thompson e Mozgov devorando a tabela. Na contenção, muita pancadaria e chega-pra-lá. O que aconteceu, depois, foi que Steve Kerr encontrou um meio de liberar Curry das amarras de Dellavedova e Thompson e, em sua cartada decisiva, fez maior uso de sua “Escalação da Morte”.  Ganhou em velocidade e flexibilidade para vencer três jogos seguidos e fechar a fatura.

Para este ano, a grande questão desta revanche é, se… o Cavs vai defender bem?

É uma pergunta que parece trivial, até meio tonta, mas que precisa ser respondida de modo positivo e enfático em quadra. Do contrário, vão entrar num tiroteio com Golden State, e aí haja confiança em seus arremessos para triunfar na série. Andre Roberson, Kevin Durant, Serge Ibaka, Steven Adams são a prova viva. Esses caras todos de OKC não poderiam ter dado mais trabalho aos cestinhas do Warriors e, mesmo assim, perderam.

Dellavedova e Shumpert podem pressionar Curry e Thompson antes do chute em busca de turnovers. LeBron é outro terror em linhas. Mas a pressão está em cima de Kyrie Irving e Kevin Love, que, por mais talentosos que sejam, não chegam a esta decisão reconhecidos como grandes defensores. Love até se posiciona bem na cobertura, no fechamento de espaços. Mas é um dos piores marcadores da liga em situações de pick-and-roll, com uma movimentação lateral nada ágil, e você pode ter certeza de que o Warriors vai procurá-lo em quadra sempre que possível para agredir. Já Irving peca por uma falta de comprometimento que beira o james-hardeniano. Claro que, na hora de enfrentar um Stephen Curry, o orgulho vai falar mais alto e ele tentará fazer um bom papel no mano a mano. O que vai pegar mais são as ações em que terá de ficar grudado ao armador em movimentações longe da bola, podendo se distrair facilmente. JR Smith, por enquanto, tem se comportado como um bom soldado, mas a gente nunca sabe o que esperar do cara.

Outra: na hora de pôr as peças no tabuleiro, não adianta também pensar apenas em embates individuais, já que tanto o Warriors como o Cavs vão movimentar seus jogadores sem parar e forçar trocas, buscando desequilíbrios. Isso gera aquela disputa de gato x rato sempre interessante, com o posicionamento ofensivo influenciando diretamente o defensivo. Pensem, por exemplo, numa posse de bola que termine com LeBron atacando Draymond Green e que, por ventura, sua tentativa de tiro em flutuação gire no aro e caia nas mãos de Barnes. Pode ser que Love esteja com Iguodala, que já saiu em disparada. Obviamente o ala-pivô não vai consegui-lo acompanhar na corrida. E aí faz como? O defensor mais próximo do ala terá de se deslocar. E alguém vai ter de cuidar de quem ficou livre. Tudo vai acontecer muito rapidamente. As coberturas precisam estar automatizadas, como numa grande engrenagem.

Nesse ponto, a mudança de Mozgov para Frye na escalação faz bem, já que o pivô chutador vai correr para a defesa a partir da linha de três pontos, e não debaixo da tabela, como no caso do russo. A recomposição será mais rápida – por outro lado, Frye pode ser marcado facilmente por Harrison Barnes, e aí lá vem a “Escalação da Morte” para cima de você, complicando a transição ao mesmo tempo. Dureza.

Frye ajuda muito no ataque, mas pode chamar a "Escalação da Morte". Impasse

Com a mão quente, Frye ajuda muito no ataque, mas pode chamar a “Escalação da Morte”. Impasse

Em meia quadra, com os corta-luzes brutais de Andrew Bogut e Festus Ezeli, ou mesmo com os bloqueios entre os astros da “back court”, o Warriors vai tentar liberar seus chutadores. Qualquer desatenção, e lá está Klay Thompson livre na zona morta para fazer o disparo, em meia quadra, ou em transição. Como vimos na final de conferência, ele nem precisa de muito espaço para castigar uma defesa. Você pode substituir Thompson por Curry nessa sentença, que vai dar na mesma: bomba. Então o que se pede é um esforço coletivo, que se defenda como unidade. Algo que os campeões do Oeste fazem muito bem. E que ainda não vimos o Cavs fazer com consistência. Vai ser um desafio, e tanto.

Se tivermos situações de “crunch time”, com o placar apertado nos minutos finais, será curioso ver também que tipo de missão LeBron terá na defesa. No ano passado, como já dissemos, ele estava sobrecarregado, e o melhor era deixá-lo com Andre Iguodala ou Harrison Barnes, mesmo, para respirar um pouco já que todo o ataque dependia de sua energia. Agora, com Irving e Love ao seu redor, é de se esperar que ele não vá ter de fazer tudo por conta, ainda que centralize as ações do time. LBJ poderá respirar fundo de quando em quando – toma lá, dá cá. Poderia, então, assumir uma tarefa mais custosa na contenção? Tipo defender Draymond Green numa formação mais baixa?

Não que o ala-pivô preocupe tanto do ponto de vista individual. Mas é que, se assumir essa bronca, o ídolo do Cavs seria automaticamente envolvido em muitas das tramas do oponente, crescendo a possibilidade de que fique com Curry após uma troca. Kevin Durant topou esse desafio em diversas ocasiões nas últimas semanas, e teve sucesso. Cinco, seis anos atrás, LeBron fazia o mesmo diante de um infernal Derrick Rose. Tem tempo já que isso aconteceu, porém, e, mesmo que queira, talvez ele não consiga mais lidar com os tampinhas. Tyronn Lue, Mike Longabardi (coordenador defensivo) e o veterano vão ter de descobrir isso durante a série. Mas uma formação mais baixa não é justamente o que o Warriors mais quer? Elenco por elenco, os atuais campeões estão mais equipados, com muito mais versatilidade. Por essas e outras, chegam como favoritos ao título.

No que depender de Curry, é para o Warriors correr mais e mais. E chutar mais e mais

No que depender dos Splash Brothers, é para o Warriors correr mais e mais. E chutar mais e mais

O que não quer dizer que também não tenham tópicos espinhosos para resolver. Assim como Russell Westbrook, Kyrie Irving vai atacar Curry sem parar, tentando desgastar o MVP na defesa. Se não tem os músculos da aberração de OKC, tem velocidade para incomodar e muito mais capacidade como chutador. Vocês se lembram de como Bogut recuava no garrafão após Wess quebrar a primeira linha defensiva? A prioridade era proteger o aro a todo custo e induzir o armador ao chute em flutuação. Na sequência final da série, funcionou muito bem. Contra Irving, essa tática seria impossível. Irving e Love dão muito mais poder de fogo ao Cavs. Detroit, Atlanta e Toronto estão aí para concordar. Channing Frye só reforçou essa artilharia e chega à decisão como a encarnação do Tocha Humana.

A movimentação de bola também avançou bastante. Os chutadores e os deslocamentos constantes tendem a inibir a dobra para cima de LeBron e abrem corredores. No ano passado, o craque era acionado quase sempre de costas para a cesta, próximo ao garrafão, sujeito até, sem exagero, a marcação quíntupla, com todos os defensores recuados, um pouco distantes de seus atletas, para tentar pressioná-lo. A tendência é que tenha mais facilidade para agir agora. E isso é um problema. Ele já está no clube dos trintões, mas segue como o jogador mais dominante fisicamente em toda a liga. Isso causa impacto geral no desempenho ofensivo do time, devido a sua visão de jogo. Uma coisa abastece a outra: os chutadores dão espaço para LeBron, e LeBron é o homem certo para abastecer esses chutadores. Os marcadores de Golden State estão cientes de que vão precisar se movimentar bem mais do que faziam contra o Thunder. Vão sentir cansaço? Mas não foi para eles renderem nas finais que o time administrou os minutos da temporada regular? Talvez eles cheguem num nível de intensidade ainda maior, catapultados por OKC.

Por isso, a tendência é que o Cavs ainda tente jogar da forma mais lenta, controlada possível, com a diferença de que seu ataque já não é mais tão previsível. Quanto mais arremessos eles converterem, melhor. Antes de responder com “dãr”, pense que isso vale não só para aumentar a contagem do time no placar, mas também para tentar frear o contra-ataque do Warriors. No caso de erro, de aro, temos um dilema: o Cavs tem Kevin Love como um grande reboteiro ofensivo. Tyronn Lue vai preferir que ele ataque a tabela, como fizeram de modo incessante os superatletas de OKC, ou que volte para a defesa imediatamente após um disparo? O mesmo raciocínio vale para Thompson, que não fez uma boa série contra o Toronto de Bismack Biyombo, mas tem a oportunidade para se redimir agora. Basta jogar com a voracidade que apresentou no ano passado, antes de ser premiado com um contrato de mais de US$ 80 milhões. Há uma brecha para ser aproveitada. Bogut estava caindo aos pedaços contra OKC – pelo menos foi o caso contra o imponente Steven Adams. Ezeli voltou a ser um pivô extremamente inseguro com a bola em mãos. Anderson Varejão é uma incógnita. Será que Mozgov poderia dar as caras na final para tentar pressionar esses grandalhões?

Agora, pode ser que Steve Kerr nem mesmo use tantos pivôs assim. Existe a dúvida se Bogut será mantido no time titular. É certo que Iguodala, depois de aquecer contra Kevin Durant, vai dedicar boa parte de seu tempo a LeBron, procurando ao menos atrapalhar o craque, como aconteceu contra KD pelo Jogo 6 da final do Oeste, já que é impossível anulá-lo. Talvez o mais prudente seja realmente utilizá-lo desde o início, e aí precisa ver se o australiano ou Harrison Barnes lhe fariam companhia. Foi com sua “Escalação da Morte”, com Iguodala, Barnes e Green, que desequilibrou na final de 2015, valendo o título. A eficácia desse quinteto contra o Cavs já está comprovada. Mas aquele era outro Cavs. Né?

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Relembre como foi a vitória do Warriors sobre o Cavs em 2015
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Giancarlo Giampietro

LBJ que se prepare: Warriors tem diversos defensores para tentar segurá-lo

Na hora de dar palpites em outubro do ano passado, era aquela coisa: você lembrava de tudo o que havia acontecido na temporada anterior, como Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers haviam chegado às finais e… Por que não apostar em um repeteco? Da parte do Cavs, era bem mais fácil. O Miami Heat tinha no papel um elenco interessante, o Chicago Bulls, creiam, ainda era visto como uma ameaça, mas no geral era difícil pensar em outro campeão para o Leste. Do outro lado, o reforçado San Antonio Spurs realmente representaria um senhor desafio para o Warriors, mas os atuais campeões não haviam perdido nenhum jogador relevante em sua rotação e voltaria mais confiante, com sua jovem base ainda progredindo. Então, de novo: por que não?

Talvez pelo retrospecto da liga. Após ficar 14 anos sem que uma final se repetisse, desde as séries entre Bulls e Jazz em 1998-99, a NBA só viu uma revanche acontecer em 2013-14, entre Spurs e Heat. Se formos pensar, porém, na dominância dos LeBrons no Leste,  sejam eles de Cleveland ou Miami, agora com seis decisões seguidas, um reencontro só não aconteceu mais cedo devido ao que o Oeste tem de randômico, com sua competitividade absurda.

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Mas o Warriors tinha aquele quê a mais, se você me permite a expressão afrescalhada. E aqui estamos, com os dois times se reencontrando 12 meses depois. Os atuais campeões buscando o bi e a consolidação de sis imagem como time histórico, ali ao lado desse mesmo Bulls da segunda metade dos anos 90. Já o Cavs… Bem, o Cavs quer por fim a toda uma MALDIÇÃO que paira sobre uma cidade. É coisa séria, galera.

Quando falamos em repeteco, porém, vale mais pelo nome das equipes envolvidas. Entre junho de 2015 e este de agora, mesmo, muita coisa mudou, pelo menos em Cleveland. (Isso fica para outro texto, logo mais.)

O torcedor do clube também não se cansou de repetir durante todo o campeonato: “Jogamos sem Kyrie Irving e Kevin Love. Jogamos sem Kyrie Irving e Kevin Love. Jogamos sem Kyrie Irving e…”, quase feito um mantra. Sim, todos nós lembramos que as duas jovens estrelas se lesionaram nos playoffs. Love não passou da primeira fase. Irving arrebentou o joelho desgraçadamente logo na primeira partida das finais. Agora eles estão prontos para a batalha. David Blatt, porém, foi para a guilhotina, depois de prolongado motim promovido pelas forças reais no vestiário. Timofey Mozgov, o Czar o tenha, estava vivo. Já Anderson Varejão, diabos, agora está no outro vestiário. Abaixo, se precisarem refrescar a memória,  vocês podem recuperar todos os textos que escrevi sobre a final de 2015, com links ou resumos.

– Jogo 1: 44 pontos para LeBron, e o Warriors fez boa defesa
E mais:
Iguodala, o reserva de US$ 12 mi que roubou a cena

“Sabe, quando um cara marca 44 pontos, é engraçado dizer que o defensor fez realmente um bom trabalho, mas acho que Andre foi extremamente bem contra LeBron”, afirmou Steve Kerr, em sua entrevista pós-Jogo 1 das #NBAFinals, aliviado pela vitória suada, na prorrogação, do Golden State Warriors. Não dá para saber se o técnico já havia dado uma espiada em estatísticas mais detalhadas da partida, que apontam que Andre Iguodala foi de fato um defensor incômodo para o astro do Cleveland. Não custa repeti-los: quando confrontado pelo sexto homem do time da casa, James acertou apenas 9 de 22 arremessos (40,9%). Em situações de meia quadra, foi ainda melhor: apenas 4 cestas em 14 arremessos (28,5%).

Agora, o que o treinador não precisava nem dizer era que o Warriors vai conviver muito bem com a ideia de ver LeBron arriscar 38 arremessos por jogo, tal como aconteceu nesta quinta-feira, correspondendo a 40% das tentativas de cesta do Cavs. Foi essa a estratégia adotada pelo clube californiano, sem sofrer nenhuma alteração, mesmo que o astro tivesse, no terceiro quarto, média de um ponto por minuto. A tática tinha, claro, o objetivo da vitória no primeiro jogo, mas também trabalha com a ideia de desgastar a principal arma do oponente, pensando na continuidade da série.

Calma, Delly. Não é rúgbi

Calma, Delly. Não é rúgbi

>> Jogo 2: Tenso, brigado… foi um duelo para Dellavedova

Pode aparecer oportunismo dizer isto, mas o Jogo 2 destas #NBAFinals estava muito mais para um Matthew Dellavedova do que para um Stephen Curry – ou, pelo menos, para esta versão de Steph Curry. Foi uma partida de contato físico, afeito ao aguerrido australiano que, mais uma vez, se ralou em uma série de lances decisivos e ajudou o Cleveland Cavaliers a empatar a série em 1 a 1, com mais uma prorrogação.

Bola perdida no garrafão em meio a gigantes? Lá estava o Dellavedova nela, alerta, para depois se estirar em quadra. LeBron é barrado no baile, e o chute de James Jones não caiu? Sem problema: sem impulsão nenhuma, com 1,93 m (oficial), o armador vai para o rebote ofensivo e, no mesmo movimento, cava a falta. Vai para o lance livre e converte os dois, sem pestanejar. E por aí vai. Nos lances mais preciosos, de 50/50, o “Delly” fez sua presença se notar e, nem que por alguns instantes que fossem, afastou da cabeça do torturado torcedor do Cavs a memória de que Kyrie Irving já não vai mais participar desta série. Irving, cujo talento no ataque ele jamais vai poder substituir, mas cuja ausência pode compensar ao seu modo, na defesa. “Estamos jogando as finais da NBA. Se você precisa procurar motivação extra, provavelmente não deveria nem estar jogando”, afirmou durante entrevista coletiva na qual ele estava sozinho no pódio, como se fosse o maioral do Cleveland.

>> Jogo 3: Cavs vence e vira a série, dominando. Ou quase
E mais
: Blatt ainda não levou o título. Mas merece aplausos

O Cleveland Cavaliers baterecordes e recordes com sua defesa para cima do Golden State Warriors. Depois de se tornar o primeiro time a segurar o adversário com menos de 90 pontos em 48 minutos nesta temporada, o Cavs agora o limitou a 37 pontos no primeiro tempo, sua pior marca durante os playoffs. Para se ter uma ideia, foi uma quantia também que a equipe californiana havia marcado em um só quarto 18 vezes em sua campanha.

Há muito mais números para acrescentar aqui, como, por exemplo, o rendimento do Warriors nos arremessos de três pontos, tão caros ao seu sistema ofensivo. Na temporada regular, o time converteu 39,8% de seus chutes de longa distância. Nos playoffs da Conferência Oeste, a marca foi de 38%. Nas finais, estamos falando de apenas 31,3%, número baixo para qualquer medida, especialmente para os Splash Brothers. Sinceramente, nem precisa apelar a qualquer número para afirmar que o Cavs tem sido o time superior nestes primeiros três jogos, vencendo o terceiro por 96 a 91 para assumir o comando da série. O que não quer dizer que as coisas já estivessem resolvidas. O Warriors tirou 14 pontos de vantagem em menos de seis minutos e meio no quarto período, chegando a encostar  em 81 a 80 a 2min45s. Stephen Curry despertou e começou a entender como atacar a forte defesa do Cleveland.

LeBron x Iguodala, Cavs x Warriors

>> Jogo 4: Cavs entrou de All In. O Warriors tinha mais fichas
E mais: O (outro) jogo de equipe do Warriors contra rival limitado

No pôquer, all in quer dizer algo como “tudo ou nada”. É quando o jogador pega as fichas que tem e empurra tudo para o meio da mesa. Ou rouba o monte, ou já era. O mestre do carteado pode até oferecer uma explicação mais rica, mas a essência é essa. O Cleveland Cavaliers pegou o termo emprestado e o usou como um trocadilho ao elegê-lo como lema para os playoffs. Virou algo como: “Todos juntos nessa, vamos lá, dando tudo”.

Pois, nesta quinta-feira, o Cavs até que tentou lutar no segundo tempo, mas não conseguiu impedir que o Golden State Warriors vencesse por 103 a 82 para igualar as #NBAFinals em 2 a 2, voltando para casa agora para fazer valer seu mando de quadra no próximo domingo. Steve Kerr estava em pressionado demais para esse confronto mas conseguiu se desvencilhar com um movimento bastante agressivo, corajoso, e, ao mesmo tempo, talvez o único que lhe restasse para tentar virar o tabuleiro, praticamente abolindo a escalação de um pivô tradicional, o famoso cincão, no seu time. Tirou Andrew Bogut do time titular e inseriu Andre Iguodala. Estava oficializada a “Escalação da Morte” do Warriors.

>> Jogo 5: A Apresentação que estava faltando para o MVP Curry

Stephen Curry estava precisando de uma partida dessas. Para fazer justiça ao seu campeonato magnífico. Não que estivesse jogando mal. Nas últimas duas partidas, já havia feito algumas coisas memoráveis. Mas estava faltando uma atuação seminal, assim como foi toda a sua campanha. Nas palavras de Everaldo Marques… Bingo! Aconteceu neste domingo, e o Golden State Warriors agora está a uma vitória do título, tendo vencido o Cleveland Cavaliers por 104 a 91.

LeBron James conseguiu o segundo triple-double nestas #NBAFinals, mas foi privado da comemoração, diferentemente do que havia acontecido no Jogo 2, quando saiu de Oakland com o mando de quadra ao seu favor. Aquela foi mais uma exibição primorosa do astro, o melhor jogador desta série decisiva, sem dúvida. Até mesmo coadjuvantes como Matthew Dellavedova e Andre Iguodala já tiveram seus momentos definitivos. Numa série sensacional, com suas idas e vindas, faltava, então, uma exibição magnífica do MVP da temporada. E aí vieram os 37 pontos em 42 minutos, com sete bolas de três pontos em 13 tentativas.

Iguodala, o MVP das finais. Curry, o melhor da temporada

Iguodala, o MVP das finais. Curry, o melhor da temporada

>> Jogo 6: Warriors é o queridinho da América. Nem sempre foi assim

Eles estrelaram contra LeBron James as #NBAFinals de maior audiência nas transmissões da ABC. Stephen Curry foi alçado ao rol dos jogadores mais populares da liga. O estilo de jogo é vistoso, frenético, empolgante. Eles se tornaram os queridinhos da América, antes mesmo da conquista do título nesta terça-feira, com uma vitória por 105 a 97 sobre o Cleveland Cavaliers para fechar a série.

Não tem muito o que ser dito sobre este Jogo 6, em relação ao que se passou nos últimos duelos (comentários linkados logo abaixo). O Cavs fez o que podia com o que havia de disponível. David Blatt não conseguiu criar um fato novo na série – e sabe-se lá qual fato poderia ser esse, com um banco de reservas muito limitado devido aos desfalques de Kyrie, Love e Varejão e a surtada básica de JR Smith, dos profissionais milionários mais imaturos que a gente vai ver por aí. Não dava para esperar nada de Mike Miller, Shawn Marion ou Kendrick Perkins.

O Golden State realmente venceu como conjunto. É nessa hora que vale a pena recuperar o histórico de alguns dos personagens. Quem são esses caras, afinal? E aí que se dá conta de que nem sempre foi assim. Nem sempre foram as figuras mais aplaudidas do pedaço. Muitos daqueles que hoje são celebrados já ouviram muitos “nãos” na carreira, a começar pelo MVP da temporada regular.

Outros dois textos que seguem valendo? Uma retrospectiva das trajetórias de Warriors e Cavs até uma final de NBA. São duas das franquias que mais foram castigadas em uma liga extremamente competitiva, seja por azar ou incompetência pura:

>> Golden State: décadas de trapalhada antes entre duas finais
>> Tudo por LeBron: os malabarismos para convencer o astro

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Brasileiros do Warriors estavam prontos no Jogo 7. Mas e as finais?
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Giancarlo Giampietro

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Quando Steve Kerr se mostra disposto a iniciar com os reservas um quarto período de um jogo que pode resultar na eliminação e no fim da luta pelo bicampeonato, o recado para o elenco do Golden State Warriors é simples: estejam prontos. Uma hora pode ser que chegue a sua vez.

Na pedreira que foi a final do Oeste, os brasileiros do time californiano tiveram de se apegar a esse mantra. Tenha fé. Com o passar do duro confronto com o Oklahoma City Thunder, o técnico foi enxugando sua rotação, e os minutos de Leandrinho e Anderson Varejão ficaram mais escassos.

O ala foi para a quadra nos sete confrontos e teve 2,0 pontos, em 6,1 minutos, com 46,2% de aproveitamento em 1,9 chute. pivô participou das últimas seis partidas, mas foram apenas 21 minutos, ou 3,5 em média, com seis pontos e seis rebotes no total. Ele pôde tentar três arremessos e converteu dois deles.

Até que, num Jogo 7, mesmo depois de a tática dar errado na partida anterior, Kerr voltou a arriscar, ainda que numa posição mais confortável e com um certo ajuste. Bem, em vez de correr atrás do placar, o Warriors estava liderando por sete pontos. Além disso, o técnico procurou antecipar a entrada dos reservas. Em vez de abrir o quarto final, entraram para fechar o terceiro período no qual a equipe da casa estava esmagando o rival. Com 2min34s, Anderson Varejão foi para o lugar de Festus Ezeli. Menos de 20 segundos depois, Leandrinho substituiu Andre Iguodala.

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Acompanhando o jogo também por Twitter, a reação da mídia americana foi de surpresa geral. Que o treinador estaria ousando demais. Num instante, porém, foram obrigados a rir de si mesmos. A vantagem pulou de seis para 13 pontos, com sete anotados em sequência pelo quinteto alternativo de Kerr.

Varejão cavou uma falta ofensiva, fez uma bela bandeja e ainda deu duas assistências, sendo uma delas para Leandrinho. Isso não é coisa de outro mundo, claro. São jogadores de NBA, afinal, nã? Mas, para quem estava jogando e entregando tão pouco, foi como uma tempestade perfeita, mesmo.

O que dá para tirar de positivo dessa história é que Leandro e Anderson estavam prontos e animados para contribuir. Isto é, se comportaram como profissionais, sem se deixar levar pela frustração de ver alguns jogaços daqueles pelo banco, depois de terem vivido, os dois, grandes momentos pelos playoffs. Há coisa de seis, sete anos, que seja. Essa reação é parte da explicação para que a dupla esteja há tanto tempo na liga já — o ala desde 2003 e o pivô, 2004.

Se eles serão aproveitados durante a decisão contra o Cavs? Provavelmente não terão muitos minutos, não. Vai depender do andamento do confronto. Na cabeça de Kerr, o ideal é que Stephen Curry e Klay Thompson não beirem os 40 minutos de ação. Shaun Livingston não foi nada bem contra OKC. A brecha para Leandrinho vai vir daí. Ajuda muito o fato de o Cleveland não ter nenhum ala tão alto no perímetro em seu elenco de apoio. Pelo contrário. O ligeirinho costuma jogar ao lado de Iguodala e Livingston, que seriam os condutores de bola primários. Se as inserções de Iggy mudarem drasticamente, devido à missão LeBron, isso também poderia afetar a situação do companheiro.

Já Varejão vai ficar basicamente à espera das faltas de Andrew Bogut, Festus Ezeli e Draymond Green. Marreese Speights só vai interferir aqui se o Warriors estiver precisando de espaçamento no ataque. Também precisa ver qual o plano de Tyronn Lue. Mozgov será reativado? Ou ele vai manter sua rotação de pivôs com Love, Thompson, Frye e LeBron/Jefferson? Quanto mais alto o time, melhor. Para o capixaba, a ansiedade deve ser imensa, por razões óbvias. É uma revanche toda distorcida.

Sobre a situação inédita que vive o pivô: conforme vocês já devem ter lido umas 400 vezes já nesta terça, segundo pesquisa do salvador Elias Sports Bureau, o veterano é o primeiro a ter jogado na mesma temporada pelos dois finalistas da liga. Por isso, em tese, já pode ser considerado o primeiro campeão, antes mesmo de a bola subir nesta quinta-feira.

Varejão cava falta de ataque no Jogo 7. Passou confiança para Kerr?

Varejão cava falta de ataque no Jogo 7. Passou confiança para Kerr?

Mas não é exatamente assim. Pelo menos não por enquanto. Na eventualidade de o Cavs se vingar, o clube teria de decidir se presentearia seu ídolo (é tão recente a saída dele, que não dá nem para escrever “antigo” ou “ex”). O regulamento da liga não determina, nem sugere um caminho. Teria de ser um gesto de cortesia por parte do proprietário Dan Gilbert. Levando em conta o prestígio do veterano por lá, é de se supor que não se recusariam. Mas vai saber. Eles têm ainda uma série toda pela frente, e obviamente que o brasileiro preferiria ganhar um por conta própria, pelo que vai fazer agora, não pelo que fez até fevereiro.

Imagine, na próxima semana, quando voltar a Cleveland às vésperas do Jogo 3, o tanto de microfones que não estarão à sua frente. “Como foi entrar no vestiário de visitantes? Como é se ver novamente como adversário de LeBron? Gostaria de voltar ao clube? Ainda fala regularmente com os companheiros? Vai comemorar se fizer gol?”…

Em 12 anos de estadia na cidade, se tornou o jogador mais popular da franquia que não se chame LeBron. Fazendo as coisas que o Brasil, país em que a imagem do cestinha (ainda) é cultuada, demorou para apreciar. Do tipo: se atirar por cima da primeira fileira de cadeiras para resgatar uma bola, brigar desesperadamente por rebotes, correr a quadra feito um louco, e a cabeleira sacudindo, aceitar sacrificar o corpo para receber a carga de alguém de mais de 120kg. Por aí.

Após período vencedor em Cleveland, Varejão volta a ser oposição a LBJ

Após período vencedor em Cleveland, Varejão volta a ser oposição a LBJ

Quem não vai querer, sinceramente, contar com um jogador desses? O cara que não só está predisposto a fazer o serviço sujo, como faz isso muito bem.  Cavs concordou em lhe pagar mais de US$ 70 milhões em contratos.

Mas por que ele não está mais lá? Justamente por estes 12 anos se serviços prestados, que cobram seu preço. Outro preço, como as constantes lesões. Torções, fraturas, e por aí vamos. Quando LeBron retornou em 2014, trouxe Kevin Love de carona e ainda tinha um Tristan Thompson para agenciar. O brasileiro não teve nem tempo para se adaptar ao novo elenco. Em dezembro, sofreu uma ruptura no tendão de Aquiles que encerrou sua temporada.

Quando o Cavs, já com Timofey Mozgov no garrafão, se peparava para enfrentar o Warriors pelas finais, o pivô tinha esperança de ser liberado pelos médicos, mas foi convencido a se resguardar. Para a atual temporada, se apresentou em forma, mas não conseguiu entrar na rotação. Em fevereiro, então, foi envolvido em troca tripla, indo para Portland. Como eles dizem lá: nada pessoal, são apenas os negócios. Sua vaga foi assumida por Channing Frye, que deu boa contribuição nos playoffs e terá um papel relevante na revanche. Dificilmente poderíamos escrever o mesmo sobre Anderson se ele tivesse continuado no primeiro clube americano.

Como vimos, porém, Varejão também não vem sendo aproveitado em Oakland. A questão é ter paciência, aguardar o chamado e fazer o máximo, muito mais o que se viu pelo Jogo 7 do que no restante da série contra OKC, mesmo que em um minuto e meio. Para o torcedor do Cavs, certamente seria uma experiência bastante estranha.

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Com astros de volta e boa defesa, Raptors dá graça ao Leste
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Giancarlo Giampietro

Lowry fez grande jogo para ajudar Biyombo

Lowry fez grande jogo para ajudar Biyombo

Havia duas premissas ainda pendentes pelos #NBAPlayoffs do Leste:

– Uma hora a bola de três pontos do Cleveland Cavaliers iria parar de cair. Pelo menos com aquela frequência que castigou o Atlanta Hawks, com a segunda melhor defesa da liga, pelas semifinais.

– Uma hora Kyle Lowry e DeMar DeRozan iriam reencontrar o rumo pelo Raptors, de preferência juntos. Nem que fosse na próxima temporada (risos).

Calhou que, para dar graça à final de conferência, ambas se realizaram nos últimos dias em Toronto, com o time canadense empatando a série em 2 a 2 ao bater o Cavs por 105 a 99, nesta segunda-feira, num jogão. A primeira era realmente inevitável. A segunda? Sinceramente, um enorme mistério para mim, de tentar entender como a dupla de All-Stars pudesse cair tanto assim.

*   *   *

O Cavs converteu 50,7% de suas 152 tentativas de longa distância, em quatro partidas, pela varrida. Dá para dizer até que seria impossível sustentar um rendimento desses por uma longa sequência. Contra o Toronto, nestes mesmos quatro jogos, a mira já caiu para 33,3% em 123 chutes. Isso tem um pouco a ver com sorte, como naqueles em que a bola gira, gira e espirra. Mas não acontece só ao acaso.

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Numa liga com o nível da NBA, há grandes arremessadores, claro. Se eles ficarem sozinhos em quadra, o aro nem será incomodado. É justamente esse o problema: há grandes arremessadores, mas também existem excelentes defensores do outro lado, que, durante os playoffs, são abastecidos de relatórios de scouting ultradetalhados.

Os jogadores da casa estavam bem informados para este Jogo 4. Não é só uma questão de empenho, embora sem movimento, não há como parar nenhum adversário da liga. Que os jogadores correram muito, não há dúvida, em movimentos muito bem sincronizados. Mas também souberam contra quem é quando correr. Que LeBron James e Kevin Love tenham tido mais liberdade, relativamente, em relação a Kyrie Irving e JR Smith, é plano. Dos males, o menor. Os dois melhores chutadores do time titular de Cleveland foram obrigados a por a bola no chão em diversas ocasiões devido à atenta aproximação e contumaz contestação dos defensores pelo perímetro.

Cercando LeBron nos arredores do garrafão, com Biyombo vindo na dobra. Só cuidado com o pick-and-roll

Cercando LeBron nos arredores do garrafão, com Biyombo vindo na dobra. Só cuidado com o pick-and-roll

Isso só foi possível também pelo fato de Dwane Casey, que em 2011 havia lidado com LeBron como coordenador defensivo do Mavericks, ter maneirado nas dobras ostensivas para cima do craque. Parece arriscado, depois de o veterano, mesmo cinco anos mais velho, ter feito estragos nas duas primeiras partidas. O ataque do Cavs, porém, fica muito mais perigoso quando o bombardeio de três funciona. O elenco vai te punir se você fizer a dobra com frequência, devido à artilharia ao seu redor. Não tem jeito.

Você obviamente não vai deixá-lo operar no mano a mano sempre, especialmente quando recebe a bola de costas para a cesta, na entrada do garrafão. Aí tem de vir a ajuda, mesmo, de preferência quando LBJ já tenha iniciado o movimento, para tentar no mínimo anuviar sua visão de quadra.

No geral, porém, o melhor é designar um marcador para o camisa 23 (DeMarre Carroll, mesmo baleado, e o indisciplinado James Johnson), e manter os demais atletas posicionados entre seu caminho para a cesta, sendo Bismack Biyombo a referência aqui, e a linha de passe para os chutadores. É um modo de montar uma espécie de parede em torno da zona pintada, sem perder de vista a linha perimetral. Não precisa ser tão apertado assim :

Com esse bloqueio bem armado e coordenado em suas coberturas, o time canadense levou 16 pontos de LeBron, mas só deixou que uma só cesta de quadra ocorresse após passe direto do astro. O Cavs, como um todo, só matou 3 em 22 chutes de fora. Nos dois jogos em casa, o Raptors levou apenas 91,5 pontos e permitiu ao Cavs apenas 41,4% nos arremessos e 32,9% de fora.

*   *   *

Do outro lado, talvez o segredo tenha sido que o aro estava bem mais largo que o normal. Só assim para entender. Lowry e DeRozan se tornaram os primeiros companheiros de equipe a passar da marca de 30 pontos e 60% de aproveitamento pelas finais de conferência desde Charles Barkley e Dan Majerle pelo Suns em 1993.

Técnica ou taticamente, podemos falar de alguns ajustes. Patrick Patterson e Luis Scola capricharam nos corta-luzes para liberar seus cestinhas. Lowry, no primeiro tempo, foi acionado mais vezes fora da bola, deixando a criação com DeRozan. O ala-armador, por sua vez, fez de tudo para poder partir à cesta contra JR Smith, em vez de LeBron. Mas, obviamente, isso não explica tanto.

Assim como Lowry fez durante a série contra o Miami, DeRozan resolveu dar uma esticada em suas atividades em quadra, arremessando até tardão, para ver se recuperava seu ritmo. O horário era tão estranho que chegou a ser barrado por uma segurança do ginásio. Foi isso que virou o jogo? Como fato isolado, claro que não. Aí tem aquela coisa de confiança, momento, uma zona cinzenta em meio à qual nem mesmo os atletas conseguem se expressar com precisão. Só sabemos que, por uma noite, tudo voltou a funcionar como antes, como na temporada regular.

“Tem uma coisa sobre nós: convivemos com o que tem de mau e bom em qualquer dia. Isso é a vida. Não dá para ficar muito cabisbaixo quando as coisas não estão funcionando, mas você entende que o treino que faz durante as férias, durante toda a temporada,  é para momentos como este. Você tem de estar pronto”, filosofou DeRozan, sobre quem Toronto tem o seguinte dado: nos seis jogos em que o ala fez 25 pontos por estes playoffs, a equipe está invicta. “Sempre disse a este cara (Lowry) que, enquanto tivéssemos uma oportunidade de seguir jogando, temos uma oportunidade de nos redimir. E acho que chegou a hora. Tudo acontece por um motivo.”

Foram 35 pontos para Lowry e 32 para DeRozan. Ambos fizeram 14 cestas de quadra e, juntos, erraram apenas 15 chutes em 43 tentativas. É só ver o quadro abaixo e ver também que eles não alteraram tanto assim sua seleção de arremessos:

Mesmo nos minutos funcionais, não teve pane, histeria, nem nada.  Os dois cestinhas conseguiram controlar a situação, em ataques individualistas, da mesma forma como fizeram em todo o campeonato.

Quem precisa, de todo modo, tomar um pouco de cuidado com a sanha no ataque é DeMarre Carroll. O ala forçou a barra na vitória desta segunda-feira, terminando com mais arremessos (12) do que pontos (11, quantia que poderia até ser menor se não tivesse sido brindado com uma falta de JR Smith quando tentava um de seus sete chutes de longa distância). Não que o ala esteja proibido de olhar para a cesta. Não pode ser mais um Andre Roberson. Mas houve um momento no terceiro período em que ele decidiu que era o caso de ralar com Kyrie Irving por quatro posses de bola seguidas, e essa não foi uma boa ideia. Foi num momento em que o time da casa perdeu a concentração, se desarranjou em quadra e quase pôs tudo a perder.

*    *    *

De tão habilidoso, Irving dá um jeito de driblar e converter seus disparos mesmo pressionado e desequilibrado. Se for de dois pontos, porém, o Raptos tem de conviver com isso, e aconteceu diversas vezes com Cory Joseph, por exemplo.

Nesse terceiro quarto, causou estragos por toda a quadra, ajudando a reduzir a larga vantagem de 18 pontos do Raptors pela metade. Depois, a segunda unidade com Channing Frye, Richard Jefferson e Matthew Dellavedova terminou o serviço.

Frye, por sinal, é o chutador que manteve o embalo desde o duelo com Atlanta. O veterano pivô está acertando 57,5% de seus disparos. Nos dois jogos em Toronto, ele matou 7 em 12 chutes de três, dando toda a razão à decisão de David Griffin de contratá-lo para o lugar de Anderson Varejão.

Sua presença em quadra foi fundamental para o Cavs até mesmo assumir a liderança do placar pelo quarto final, no qual os visitantes acertaram seus primeiros 11 arremessos, de modo incrível. O primeiro erro aconteceu só a 4min12s do fim. Sete desses arremessos foram de Frye, na zona morta, e Jefferson, se aproveitando dos espaços abertos, resultando em 17 pontos dos 27 pontos da equipe.

A presença de um pivô com esse tipo se habilidade pode bagunçar toda uma defesa. Mas Casey também falhou em fazer algum ajuste aqui. Mesmo depois de pedidos de tempo e de mais de sete minutos levando cesta após cesta, manteve Bismack Biyombo como o marcador de Frye, o que significava que estava muito longe da cesta, deixando a defesa interior do Raptos órfã, desguarnecida. Era o caso de colocar o congolês em LeBron na meia quadra ou em Jefferson, para ficar mais próximo do garrafão. Steve Kerr já fez muito disso com Andrew Bogut.

Nesta sequência quase demolidora para as pretensões de Toronto, o ataque do Cavs se alternou em duas jogadas simples que não encontravam simplesmente nenhuma resistência, devido ao afastamento do pivô africano no perímetro.

O pior, quando Biyombo foi enfim deslocado, era ver os defensores de Toronto ainda dando liberdade ao pivô nos minutos finais, ignorando não só a mão quente como sua altura. Para contestar um cara de 2,11m de altura, não dá para sair atrasado. De modo que foi irônico que o primeiro chute errado do Cavs tenha saído justamente de suas mãos.

Casey precisa mudar sua abordagem nesse tipo de situação para o decorrer da série. Mesmo que seu time tenha sobrevivido e levado apenas três pontos nos últimos 4min12s de jogo (1-10 nos arremessos). Uma questão nesse sentido envolve Biyombo: neste momento, o congolês está empolgado pacas, tendo coletado 40 rebotes e dado sete tocos nas últimas duas partidas . Mas é de se pensar quanto ele tem de gás sobrando para encarar a resposta dos oponentes em termos físicos. Fato é que o Toronto, se quiser avançar, vai precisar vencer ao menos um jogo em Cleveland – na temporada, clube canadense leva melhor no confronto direto por 4 a 3, mas ainda não triunfou na condição de visitante.

Da parte do Cavs, depois de belas apresentações e 10 vitórias seguidas, agora é a hora de administrar dois reveses consecutivos. Poderia ser muito pior, convenhamos, se o Raptors tivesse completado sua lavada. Se existe algo que esse elenco nos ensinou nos últimos dois anos, é que não têm as melhores cabeças para enfrentar adversidades. Dessa vez souberam lidar com os problemas de imediato, reagindo já em quadra. De zum-zum–zum, só rola algo em torno de Kevin Love, mesmo, pelo fato de o ala-pivô ter ficado no banco durante todos os 12 minutos do quarto período. Estava com o pé direito colorido ao pisar sobre o de um árbitro (!), mas o técnico Tyronn Lue disse que não foi esse o motivo pelo chá de cadeira. Love errou alguns arremessos completamente livre no primeiro tempo, mas seguiu agressivo na segunda metade, ainda que pouco efetivo (10 pontos em 14 arremessos e 31 minutos).

Não vale individualizar nada aqui, todavia. Os problemas no retorno a Cleveland passam mais por um acerto coletivo. O Cavs arremessou 41 bolas de longa distância neste Jogo 4, mesmo contra uma defesa mais ligada. Se vão insistir no bombardeio, precisarão encontrar outros ângulos e possibilidades. Sorte não é tudo nessa vida. Ou, sei lá, de repente Lowry e DeRozan voltam a amassar o aro. Aí fica tudo mais fácil, claro, para LeBron jogar sua sexta final seguida pelo Leste.

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Biyombo faz a limpa no garrafão para encerrar série invicta do Cavs
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Giancarlo Giampietro

Biyombo sobe para contestar e coletar tudo perto do aro

Biyombo sobe para contestar e coletar tudo perto do aro

Sabe quanto Bismack Biyombo está recebendo pelos serviços prestados ao Toronto Raptors nesta temporada? Coisa de US$ 2,8 milhões. Uma boa grana para quem não tem média nem de 6,0 pontos por jogo, certo?  Mas uma pechincha para quem pode pegar 26 rebotes numa partida de playoffs e ainda dar quatro tocos para levar o Toronto Raptors a uma vitória por 99 a 84, encerrando a série invicta do Cleveland Cavaliers pelos playoffs da NBA.

Contra adversários do Leste, os LeBrons não perdiam há 17 partidas. Dessa vez o astro supremo da conferência e seus comparsas esbarraram na muralha Biyombo e numa defesa surpreendentemente consistente em geral do único time canadense da liga. O pivô congolês está se sentindo tão bem como patrulheiro de garrafão que decidiu adotar aquele célebre (ou infame?)  gesto de Dikembe Mutombo Mpolondo Mukamba Jean-Jacques Wamutombo ao bloquear um arremesso, balançando o dedo indicador enorme de um lado para o outro: “Não vem, que não tem, mermão”.

(Para constar, Mutombo autorizou o compatriota a fazer essa galhofa toda. Para quem andava sumido, este parece ser o ano de revival para o aposentado pivô, que já havia dado às caras em jogos do Atlanta pelos playoffs e ainda ‘adivinhou’ que o Sixers ganharia a primeira escolha do Draft na semana passada.)

Neste sábado, os atacantes do Cavs só decidiram encarar a marcação direta de Biyombo em oito ocasiões. Em 39 minutos de ação, muito pouco. Isso se chama intimidação. Destas oito tentativas, só conseguiram a cesta duas vezes. Todos os arremessos foram contestados.

Não à toa, os visitantes só anotaram 20 pontos no garrafão. Segundo um dado impressionante da ESPN, essa foi a menor quantia para Cleveland desde que LeBron retornou na temporada passada. Nos primeiros dois jogos, o craque havia feito praticamente o que bem quisesse, e seu time teve avassaladora média de 53 pontos na zona pintada. Em 19 tentativas de infiltração, o Cavs conseguiu apenas uma (!) cesta, contra 17-29 pelos Jogos 1 e 2.

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Você fecha o garrafão, não deixa LBJ criar tanto assim (cinco assistências em 38 minutos) e, assim, impede que chova bolas de três na sua cabeça. O Cleveland errou 27 se 41 arremessos de fora (34,1%). Pela primeira vez nestes mata-matas, saiu de quadra com menos de 100 pontos e 40% de aproveitamento nos chutes – e foi bem abaixo disso, na real, com 35,4%.

Primeiro o africano contestou, inibiu. Depois, tratou de fazer a coleta do que sobrou. No caso, seus 26 rebotes, igualando Dwight Howard e Hakeem Olajuwon pela maior marca dos playoffs nas últimas 30 temporadas. Foram 18 defensivos. Sozinho, Biyombo pegou apenas dois a menos que todos os seus companheiros juntos ou três a menos que o time titular do Cavs, que conta com dois excepcionais reboteiros como Tristan Thompson e Kevin Love (médias de 11,5 e 8,5 pela carreira). Foi um esforço fundamental para o Raptors se recuperar na tábua, depois de perder as duas partidas anteriores por uma média de 15 rebotes.

O congolês foi tão dominante que o veterano Dahntay Jones, 15º homem da rotação do Cavs, tentou desestabilizá-lo no quarto período com um gesto no mínimo estranho. Para sorte de Dwane Casey, seu pivô manteve a calma.  O técnico reclamou: “Não estão dando faltas nele. Ele tem sido atingido. Teve uma jogada em quase tivemos uma briga, e foi numa jogada de matar. Não sei se isso está acontecendo pelo modo tão físico duro como ele joga, mas ele está apanhando. Mérito para ele, pois achei que ia perder a cabeça quando recebeu a falta técnica, mas seguiu jogando. Para tentar empatar a série, provavelmente ainda sem Jonas Valanciunas, Casey não poderia perder o congolês de modo nenhum, mesmo que ele ainda não incomode muito no ataque (o que levou o Charlotte e Michael Jordan a desistirem dele muito cedo).

Não tem muito como dar voltas aqui: desde a época pré-Draft, há boas suspeitas entre os scouts sobre a real idade de Biyombo, de 23 anos. Haveria tempo para ele progredir como arma ofensiva, em tese. Mas não parece que ele tenha instintos e habilidades para avançar tanto assim, e isso já nem importa mais. Sua força defensiva já é o suficiente para lhe sustentar em times ambiciosos da liga, como provou durante toda a temporada, como uma das grandes pechinchas da liga. Para pontuar, depois de a dupla Kyle Lowry e DeMar DeRozan somarem 52 pontos, com 51% de aproveitamento de quadra, a equipe canadense só espera que seus All-Stars produzam com um mínimo de qualidade e consistência nas próximas partidas – algo que, de modo até perplexo, não vem acontecendo.

Dessa vez, contra o Cavs, Biyombo contou com uma força de DeMarre Carroll e da turma do perímetro nesta empreitada. Um pivô atlético, determinado, confiante pode fazer a diferença no centro do garrafão, mas não vai cuidar de tudo sozinho. Não foi ele quem limitou Kyrie Irving e Kevin Love a 4-28 (14,3%) se quadra. Foi um esforço de sua equipe, do qual foi parte essencial.

Biyombo sai de pivô menosprezado em Charlotte para peça importante em final de conferência

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Com salário de US$ 15 milhões – cinco vezes mais, aliás, que o congolês –,  o ala foi contratado justamente para isso: atrapalhar os LeBrons, Carmelos e Georges do Leste. Acontece que não se recuperou devidamente de uma lesão no joelho sofrida nos playoffs do ano passado. Há momentos em que parece se arrastar em quadra, sem a agilidade que o levou ao sucesso em Atlanta. Contra Carroll, James acertou apenas duas de sete tentativas. Contra os demais defensores, teve aproveitamento de 70% (7-10). De acordo com a ESPN, em Cleveland, LBJ não havia tomado conhecimento de Carroll, convertendo 9-10 contra ele.

Ainda pensando em custo x benefício, Amir Johnson, o jogador substituído por Biyombo na rotação de Casey, saiu de Toronto para embolsar US$ 12 milhões em Boston, mais de 400% a mais que o africano. Spencer Hawes, que chegou ao Charlotte em troca por Lance Stephenson, ganha quase o dobro. Já escrevi aqui, mas o gerente geral Masai Ujiri acertou tanto na contratação de Biyombo, que talvez seja difícil mantê-lo no elenco para a próxima temporada. O Raptors vai atrás de reforços, assim como qualquer outro clube que precise de ajuda na defesa. Independentemente do desfecho da série contra o Cavs, o pivô está muito valorizado.

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