Vinte Um

Arquivo : Carlos Nunes

Período pré-NBB expõe o basquete brasileiro que agoniza rumo a eleição na confederação
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Quando chegar o mês de março de 2013, Carlos Nunes, atual mandatário, e Gerasime Bozikis, nosso presente de grego, estarão completando quase um ano de campanha, tendo corrido todo o país para tentar convencer seus eleitores, os presidentes das federações estaduais, de que são a melhor opção é o que temos mesmo para presidir a CBB, e paciência.

A esta altura, espera-se que o NBB esteja pegando fogo, com o auxílio de sua principal parceira, os jogadores brasileiros na Espanha e nos Estados Unidos estarão na reta final das temporadas regulares desgastantes, e o basquete pode, superficialmente, apresentar como um produto atraente para o mercado.

O presidente talvez tenha a cara-de-pau de usar estes elementos em seu discurso, como se tivesse algum dedo seu nessa história. Já o candidato de oposição (? – fica a interrogação aqui, já que ele tinha ‘Carlinhos’ como um de seus principais articuladores) poderia resgatar como arma eleitoral o período que estamos vivendo agora, primeira semana de novembro, nestes dias de vacas magérrimas pré-campeonato nacional, não fosse ele também um dos principais responsáveis por este cenário arruinado.

Festa de Campo Mourão

Campo Mourão desbancou o Joinville de Vecchi

A trajetória do Joinville rumo ao NBB 2012-2013 serve como uma amostra do que acontece na modalidade longe da TV, aquele cenário que não tem a ver com a capacidade de Rubén Magnano como treinador ou com o dons naturais de alguns de nossos superatletas. O basquete que agoniza longe de qualquer falácia eleitoral, de propostas mirabolantes e, talvez, utópicas, considerando nosso material humano em termos de cartolagem.

Para não preparar sua equipe dependendo apenas de um Campeonato Catarinense limitado a cinco participantes (confiram o primor de regulamento), o Joinville participou do Campeonato Sul Brasileiro neste último final de semana.Seria uma bela ideia de competição, não? Um jeito de movimentar estados com potencial incrível para revelar talentos.

Mas aí você vai checar a tabela e fica sabendo que estamos falando de quatro competidores. E dale “apenas”, “só” no texto. Trata-se, então, na verdade, de um Quadrangular Sul Brasileiro – para constar, o Campo Mourão, do Paraná, venceu o time de Ênio Vecchi na última rodada e foi campeão. Não que fosse também um quadrangular extremamente equilibrado. Um dos inscritos, Caxias do Sul  terminou com saldo de 120 pontos negativos. Em três jogos.

Agora siga a pista:

1) Caxias fica no Rio Grande do Sul.

2) O presidente Carlos Nunes vem de lá.

3) Logo…

(Pausa para os comerciais.)

(Já voltamos!)

Este é apenas um caso. O Campeonato Carioca de basquete, pela participação do Flamengo e pela riquíssima tradição do estado e de sua capital na modalidade, é o que acaba sendo mais exposto ao ridículo com seus quatro participantes, dois deles figurantes. Mas o que dizer do Campeonato Mineiro, que conta com cinco integrantes só porque o Minas Tênis decidiu inscrever seu time principal e sua equipe sub-22 ao mesmo tempo? E o que dizer do Campeonato Capixaba? Cliquem aqui, vejam a classificação e tentem entendê-la. Para não falar da Liga de Basquete Feminina,  em que, com a saída de Blumenau, apenas seis clubes estão no páreo. É a liga nacional feminina, gente. Tenha dó.

Reforço via Cuba

O ala-armador cubano Allen Jemmott é um dos reforços que o novo técnico de Vila Velha tem para entrosar com poucas semanas de treino

Os problemas não se resumem também ao mundo além das fronteiras do NBB. O Cetaf/Vila Velha anunciou como reforço há pouco o pivô Rodrigo César, ex-Minas e Uberlândia. Ele é o nono jogador a ser contratado visando o campeonato nacional. O que quer dizer que ainda faltam três semanas para o início da competição, e a equipe não tem um elenco formado para o técnico Daniel Wattfy, outro recém-contratado, dirigir. “Nunca trabalhei com nenhum dos jogadores já contratados pelo Vila Velha. Então o desconhecimento é geral. Mas vamos tentar dar um mínimo padrão de jogo até a estreia. O time terá de se ajustar ao longo do campeonato, não tem jeito”, diz o treinador.

“Os jogadores precisam estar empenhados, cada treino precisa ser útil. O fundamental é fazer o simples nos primeiros jogos, dentro da nossa capacidade. Temos que ver como está a adaptação dos estrangeiros. Sabemos que a última temporada foi dura para o clube, mas vamos tentar subir alguns degraus, encarando as equipes intermediárias, porque as líderes já seria mais difícil. Venho de um trabalho semelhante no América (de São José do Rio Preto), em que também enfrentamos equipes de muito mais investimento e fomos competitivos”, prossegue. “Mas estamos otimistas, com uma expectativa boa.”

Nas entrelinhas, o discurso oferece um contexto bem adverso para justificar qualquer otimismo por parte do treinador. Mas Wattfy é o comandante do barco, precisa confiar em seu trabalho e tem de motivar seus jogadores de alguma maneira. Não dá para entrar numa luta já com o discurso derrotista, ué.

Difícil, mesmo, é encontrar otimismo para rever as questões de ordem maior.


Presidente da CBB questiona metas do governo, mas se perde ao falar da seleção feminina
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

 Ontem foi dia de rebater o candidato da oposição à presidência da CBB, o presente de grego que tivemos, durante anos e anos e que agora quer voltar. Foram tantos pontos de questionamento que parece que pior que aquilo não dava para ficar. Mas dá, sim. Dá quando sabemos que a confederação ou ficará com Bozikis, ou com o candidato da situação, que também tropeçar nas próprias palavras em entrevista ao R7. Carlos Nunes, Carlos Nunes… Ele quer a reeleição. Ai.

Carlos Nunes, presidente da CBB

Carlos Nunes, ex-aliado do presente de grego, agora tropeça por conta própria

A pergunta é direta e vital para aquele que já preside a entidade. A resposta vem murchinha e com um cinismo que impressiona: “Mais resultados, trabalhar mais com a base, mais ajuda do governo, saber o que ele quer realmente no esporte…”.

Sempre o governo. A grana do governo.  O mesmo governo que já cedeu a Eletrobrás como patrocinadora? Ah, tá. A mesma desculpa de sempre.

Em termos gerais, claro, quanto mais sólidos os investimentos em educação, escola pública, parques, centros olímpicos etc., maior a chance de termos um craque. Mas em qualquer modalidade, né? Não especificamente o basquete. Tirando a Lituânia, que governo trabalharia especificamente para o basquete?

E, se não falha a memória, a presidenta não acabou de assinar um cheque trilhardário há alguns dias para todo o esporte? Mas, antes de o governo saber o que espera do esporte, será que e a CBB sabe o que quer do basquete?

Quer mais ajuda, mesmo! Porque tá precisando.

Ainda mais porque os R$ 22 milhões orçamentários não servem pra tocar uma confederação de ponta, explicando então os empréstimos, o saldo negativo, o balanço que flerta com a falência da entidade nos últimos anos. Se quiserem discutir que o valor é pouco para sustentar as operações, que mandou assinar e topar esse tipo de valor? Num quadriênio rumo a uma Olimpíada em casa, não dava para barganhar mais?

Aí, quem sabe, com mais dinheiro, talvez ele consiga coordenar dois departamentos de uma vez. Porque sua gestão foi totalmente incompetente no que diz respeito ao feminino. “Para a feminina foi mais difícil, pelas dificuldades que tivemos e que todo mundo sabe”, afirmou.

Clarissa x Seimone Augustus

Fatou citar também a surra que as meninas levaram dos EUA em jornada dupla em Washington

Se todo mundo sabe, então é de se supor que ele, Hortência e asseclas sabiam também em 2009, não? Das duas uma: ou não sabiam, ou falharam em se preparar. Não tem desculpa. “A preparação é diferente da masculina. Foi difícil conseguir adversárias para ter uma preparação mais adequada. E ainda temos o cancelamento dos Sul-Americanos… Não tivemos países para jogar. A feminina, só teve o Chile para amistoso.”

Quer dizer, então, que o Brasil se deu mal nas Olimpíadas porque simplesmente não conseguiu jogar contra times de ponta. Como se elas não tivessem ido para a Austrália, né? Ou que não tivessem enfrentado a França, naquele fim de semana inesquecível do corte de Iziane. Por que o presidente, então, diria que só enfrentamos o Chile? E, realmente, um ou dois amistosos preparatórios fariam tanta diferença assim no resultado final? Ese foi o ponto mais importante? Ou será que mais relevante não era ter mantido uma linha técnico-tática durante todo o ciclo? Em vez de trocar a cada temporada?

Deve ser bobagem isso. Já que tínhamos um projeto bem claro: chegar a Londres para um torneio ritualístico, de passagem, de experiência para as meninas rumo ao Rio, com as jovens Karla, Chuca, Adrianinha e Silvia todas escaladas na rotação de Tarallo. Tássia, Nádia e Franciele, das mais experientes, ficaram entre as que menos jogaram. Damiris, grande aposta, foi limitada a menos de 20 minutos por partida. Isso tem tenome: planejamento. “A masculina tem mais condições que a feminina, já tem base pronta. A feminina vai passar por renovação”, disse Nunes. Ué, mas o ciclo anterior, nas palavras de Hortência, não era justamente para isso?

A julgar por essa entrevista, com tantas imprecisões, choradeira e palavras vagas, não dá para se animar muito para uma reviravolta no cenário feminino. “Queremos ganhar o Sul-Americano, nos classificar para a Copa América, para o Mundial, e no Mundial ficarmos entre as quatro, pelo menos. Queremos ser semifinalistas no Mundial da Turquia 2014”, assegurou.

Percebem a incoerência? Primeiro diz que a preparação do time feminino é mais difícil. Que vem renovação, blablabla. Depois, diz que espera uma semifinal de Mundial daqui a dois anos! Depois-depois, volta a se desdizer ao falar sobre Olimpíadas: ” Queremos o ouro, no masculino. No feminino, claro que também queremos o ouro, mas se ficarmos entre as quatro…  (estaria bom)”. Então é assim: no Mundial, que é daqui a dois anos, ele quer “pelo menos” ficar entre as quatro – isto é, brigar por medalha. No Rio de Janeiro, daqui a quatro anos, jogando em casa, a casa de Érika e Clarissa, por exemplo, a demanda seria menor. Faz todo sentido do mundo.

Então fica a pergunta reforçada: o que a CBB realmente espera do basquete brasileiro?

 


Discurso do candidato Grego distorce campanhas das seleções brasileiras
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Não faz tanto tempo assim, gente. São quatro anos só que separaram Gerasime Bozikis, nosso presente de Grego, da presidência da CBB. De modo que quem acompanhou para valer sua gestão não se esqueceu de nada. Então pega mal pacas quando você lê a entrevista do candidato ao R7 e dá de cara com aberrações com esta aqui: “Por falta de uma melhor comunicação e de um fluxo contínuo de informações para a mídia e a comunidade do basquete, acabaram ganhando corpo várias críticas que na realidade não procediam. Creio que o saldo é extremamente positivo”.

Presente de Grego

CBB vai receber seu presente de Grego mais uma vez?

(Como se falta de comunicação, numa confederação nacional, já não fosse um defeito gravíssimo, mas bora lá.)

O saldo positivo de que fala Bozikis seria no lado competitivo da CBB e suas seleções durante sua administração. Que foram tantos títulos e façanhas que não tínhamos do que reclamar. Fala sério, difícil saber até por onde começar.

Melhor, então, rebater ponto a ponto:

Levamos a seleção feminina a todas as Olimpíadas e conquistamos uma medalha de bronze  em Sydney 2000, porém, não tivemos a mesma performance com a seleção masculina, fato que felizmente aconteceu em Londres 2012.
>> Em 2000, jogadoras como Janeth, Alessandra, Helen ainda estavam no auge – ou muito perto disso. Ser medalhista com essa turma é uma coisa. Ser medalhista com o que levamos a Londres é outra. O fato de a seleção feminina ter chegado esfacelada aos últimos Jogos é produto da incompetência da gestão de Hortência no departamento, mas também diz muito sobre o trabalho de base feito na gestão anterior, não? Afinal, eles jogaram com as veteranas até elas não poderem mais, enquanto nenhuma transição era feita. Sobraram Iziane, Adrianinha e não muito mais que isso para ciclo olímpico 2009-2012.

Mas, se prestarmos atenção, nas equipes brasileiras masculinas que disputaram os Pré Olímpicos de 2003/P.Rico e 2007/Las Vegas, onde enfrentamos os EUA (o que não aconteceu ano passado) e fomos eliminados, nove dos atletas que disputaram as Olimpíadas estavam lá, inclusive o Nenê.
>> Tá… Mas e daí? O que isso tem a ver com alguma coisa? O quê? Não vai o Grego querer dizer que sua CBB foi a responsável pela cultivação de Leandrinho, Nenê, Huertas, Splitter e toda essa galera, né? E, pior: se nove dos atletas que jogaram em Londres estavam em seu time, o que aconteceu de errado para eles não se classificarem? Oi? Cadê o mérito a ser destacado na declaração do ex-presidente? De novo: oi??? E vale esmiuçar este trecho aqui:

Nájera, do México

Pega leve, Nájera: mexicanos na frente

Onde enfrentamos os EUA (o que não aconteceu ano passado) e fomos eliminados.”
>> Isso é verdade. O presente de Grego teve o azar de a USA Basketball desandar justamente durante seu reinado na confederação brasileira. De todo modo, não custa lembrar que em 2003, não foi apenas atrás dos EUA que o Brasil ficou no Pré-Olímpico. Na verdade, a seleção terminou em SETIMO naquele torneio, atrás também de Argentina, Porto Rico, Canadá, Venezuela e, não obstante, o México. Ai, caramba! Em 2007, ao menos livramos nossa honra e superamos canadenses, venezuelanos e mexicanos para terminar em QUARTO. Ou seja: matematicamente, não foi só a presença dos EUA nos torneios que tirou os rapazes das Olimpíadas. Agora, calma, que tem muito mais…

Vencemos vários PAN-AMERICANOS, COPAS AMÉRICAS, Sul-americanos nas diversas categorias Feminino e Masculino, 2° no Mundial Sub 21 Fem e 4° no Mundial Sub 19 Masc.”
>> Vixemaria. Respirando fundo, tomando um baita fôlego, vamos lá: o Brasil ganhou Pans e Copas Américas! Explêndido, né? Torneios que muitas vezes os mesmos EUA supracitados nem disputavam! Ou disputavam com a molecada da universidade! Torneios dos quais Ginóbili, Nocioni, Oberto e outros craques argentinos passavam longe! E o Brasil escalando quase tudo o que tinha de melhor, com a exceção de Nenê. Vejam, por exemplo, o elenco brasileiro campeão da Copa América de 2005. Agora confiram a Argentina num raro momento em que eles não contaram nem mesmo com Scola e Prigioni. Porto Rico não tinha Arroyo, Barea e Santiago. Etc. Etc. Etc. Sobre o vice-campeonato mundial sub-21 feminino, basta dizer que esta é uma das histórias mais tristes que temos: boa parte daquela equipe já está FORA do esporte.

Também organizamos 2 mundiais FIBA no Brasil (S.Paulo e Natal) e criamos o Campeonato Feminino, a Escola Nacional de Treinadores, o Basquete do Futuro Eletrobrás.”
>> Ah, verdade: o Mundial feminino de 2006! Aquele que não tinha público durante a semana, sofria com as goteiras do Ginásio do Ibirapuera, deixando o secretário da Fiba pê da vida. Esse mesmo. Foi uma bela tacada trazê-lo para cá, não há dúvida, mas sua precária realização foi inesquecível. A Escola Nacional de Treinadores, convenhamos, não tem influência positiva alguma sobre nada do que acontece no Brasil – mas sejamos justos: isso também não é culpa do candidato. Do Basquete do Futuro… Nem sei o que dizer. Porque é outro programa que  tem pompa, soa bonito, mas sem resultados práticos divulgados.

Nacional masculino de basquete 2006

Nezinho faz a bandeja por Ribeirão no campeonato que não teve um campeão: profissionalismo

Olha, a gente podia continuar com este exercício até amanhã. Todas essas réplicas aqui foram a apenas uma resposta de Bozikis.

Ele ainda se orgulha de ter profissionalizado o Nacional masculino de basquete, por exemplo. Aí você consulta ao Google só pra testar a memória e dá de cara com a seguinte frase no verbete da edição de 2006 na Wikipedia: “O 17º Campeonato Nacional Adulto Masculino de Basketball não teve campeão”. Mais direto impossível, né? 🙂

Ele ainda se orgulha de ter criado o “comitê de clubes”, num gesto tão democrático que emociona. “Passamos a direção para a LIGA NACIONAL de BASQUETE (LNB) no momento certo e de forma correta”. Atente para “momento certo e de forma correta”, frase que também pode ser lida como “demorei horrores para largar o osso”. Era para o NBB já ter sete, oito anos de disputa.

E por aí vamos até saber que  o candidato tem três palavrinhas mágicas para sua chapa: “la disciplina, la unión, lo trabajo, lo profissionalismo…” Ops, brincadeirinha. Sao estas aqui: reflexão, modernização e transparência.

Em termos de reflexão, realmente temos muito que fazer a respeito.

*  *  *

Em tempo, um ponto importante que não pode passar em branco. Para vender sua campanha, o presente de grego enfatiza, entre outros tópcos, os seguintes: “Desenvolver um novo projeto de gestão empresarial para a CBB com a participação dos Presidentes das Federações” e “Aoiar as Federações economicamente na sua estruturação e dar o suporte necessário”. São os preidentes das federações que elegem o próximo mandatário da CBB.

Ah, tá. Faz sentido.

*  *  *

Em tempo: não venham vocês acharem que o blogueiro tem uma quedinha pelo atual presidente da CBB, Carlos Nunes, que busca a reeleição. Cliquem aqui, por favor.


Presidente da CBB expõe Hortência e fala em contratar australiano para a seleção feminina
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Tom Maher, coach

Tom Maher dirigiu a Grã-Bretanha e, para Nunes, deveria assumir a seleção

Nada como uma organização bem azeitada, em que sua cúpula fale a mesma língua. Ou que, pelo menos, não se exponha tanto publicamente, que guarde os debates para seus QGs, né?

Só tirem a CBB (Confederação Brasileira de Basquete) dessa.

Em passagem – desastrada, para variar – por João Pessoa, em campanha por sua reeleição na presidência da entidade, Carlos Nunes falou novamente mais do que deveria. Geralmente funciona assim mesmo: o presidente mal aparece em público. Quando fala aos microfones, só sai rojão. Dessa vez ele expôs uma de suas profissionais de confiança, Hortência, diretora do departamento feminino.

“Como opção minha, e esta é uma responsabilidade que trago para mim, eu entendi que era Hortência quem tinha as condições necessárias para levar o time a uma posição melhor nas Olimpíadas. No fim, acabou acontecendo o que aconteceu. Cabe-nos agora avaliar o que deu errado”, afirmou o cartola em entrevista ao GloboEsporte.com.

Tipo… “Deu no que deu”. É até engraçado. Mesmo.

Mas, calma lá: Nunes afirma que, “a princípio”, sua diretora continua no cargo, mas que “novos nomes devem se juntar ao grupo”.

Se Hortência continuar mesmo na administração, vai ter de batalhar para manter sua escolha da vez de técnico, Luís Claudio Tarallo, no cargo. Segundo o presidente da CBB, ela defende a continuidade no comando da seleção adulta, depois de uma campanha pífia em Londres-2012.

Não seria agora, afinal, que ela trocaria um treinador, né?

Oooops.

Bem, voltando: se Hortência continuar e se optar por seguir com Tarallo, pode ter sua opinião contrariada pela hierarquia e ter de engoliar a seco. Enamorado pela proteção que Rubén Magnano lhe dá em seu cargo, Carlos Nunes defende a contratação de um treinador estrangeiro também para dirigir as meninas. O nome seria o australiano Tom Maher, que dirigiu a Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos e já fez grandes campanhas nos últimos 20 anos.”Sou muito simpático à ideia de trazer o treinador australiano”, afirmou.

Entre nós, é um grande técnico.

Também aqui entre nós todos: precisava jogar as coisas no ventilador assim mesmo?


Presidente da CBB reaparece em editorial com pérolas em tom de campanha
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Tudo é uma questão de recuperar o orgulho tupiniquim

Os bastidores do basquete brasileiro já estavam agitadíssimos há muito tempo, mas, passadas as Olimpíadas, como o Bala já publicou, agora é hora de a campanha presidencial da CBB vir à tona, escancarada, e ai de quem ficar na frente.

Nessas horas, vale usar até mesmo o site da confederação, né? Bah, que mal tem?

Toca lançar, então, um editorial nesta quinta-feira no mais alto tom de candidato, rompendo um silêncio que durava desde o desastrado anúncio das convocações de Nenê e Leandrinho em antecipação a Rubén Magnano.

Veja o que assina Carlos Nunes: “Basquetebol, orgulho nacional mais uma vez”.

Por acaso estamos falando da mesma modalidade que saiu como quinto lugar no masculino e venceu apenas uma partida no feminino?

Porque aqui é preciso todo o cuidado do mundo – ou, pelo menos, do Brasil – para que não se misture as coisas. Que um time tenha jogado bem, batido de frente com as potências do torneio e tal, e isso seja entendido como o resgate do orgulho nacional (hein?!) me parece um senhor exagero, desde já. Mas, vá lá. Tem gente que considera mesmo essa avaliação factível. Esses precisam entender que o desempenho de duas seleções nacionais não reflete, de modo algum, uma bonança do esporte no país.

Por mais que o presidente da CBB discorde: “No esporte como praticamos, a derrota não é uma escolha. Medalha no peito ou não, nosso orgulho está em alta. Jogamos para vencer. Sempre”. E desde quando é virtude que um time jogue um torneio para vencer? Não é o óbvio? Se essa é uma indireta para os espanhóis, a derrapada de um não deve transformar a mera obrigação competitiva do outro em ato heróico… Quanta falácia, quanta pachequice.

Presente de Grego e Carlinhos, amigos?

Em seu memorando, Nunes gasta dois longos parágrafos enaltecendo a suposta superestrutura da entidade e paparicando a equipe dos marmanjos. No meio do terceiro parágrafo é que vieram seus tão aguardados comentários sobre a seleção das meninas. Vejamos:  “O feminino jogou de igual para igual contra potências mundiais, num grupo dificílimo. Das quatro semifinalistas, três jogaram contra o Brasil”, começa. Ok, este é numericamente um fato: por outro lado, para quem viu os jogos com o mínimo de senso crítico – será que ele assistiu? será que ele sabe o que é isso? –, ficou bem claro que Austrália e Rússia já não eram as mesmas poténcias de outrém.

E o que mais? “Desempenhos como os de Érika e Clarissa são sementes que plantamos, num trabalho sério e profissional de nossa diretora Hortência, do qual colheremos frutos. As derrotas servem para apresentar lições e fortalecer para o futuro. É isso que faremos”, sentencia. Peraí. Se bem entendemos esse trecho, o cartola quis dizer que Érika, uma pivô que já era uma força da Natureza no Mundial de 2006 e chegou a Londres com 30 anos, foi um produto de sua administração? Ou, quando ele diz “nós plantamos”, talvez esteja se referindo a si e a Gerasime Bozikis, nénão? Seu ex-comparsa, da gestão anterior, da qual tomou parte. Aí faz sentido. Claro!

Se bem que… Hã… Talvez, não.

Afinal, Carlinhos e o nosso presente de grego são concorrentes hoje.

Desculpem a confusão, ok? Mas, como suas trajetórias se confundem e a incompetência é a mesma, fica difícil separar em miúdos.

Voltemos ao editorial, então, sem esquecer a conveniente omissão do caso Iziane – essa semente ninguém plantou, então? – e sem deixar de destacar o prestígio direcionado a Hortência, que, deduzimos, s parece garantida até a reeleição, pelo menos.

Para arrematar, um Grand Finale: “Como disse Rubén Magnano, depois do jogo contra a Argentina, o bambu não cresce do dia para a noite. Além dos já consagrados, novos talentos vão surgir em nossas divisões de base, através de estímulos às federações, aos Nacionais e à Escola Nacional de Treinadores. Em 2016, uma grande festa no Rio de Janeiro vai consagrar de vez o basquete como orgulho nacional”.

É realmente uma pérola: “Bambu não cresce do dia para a noite”. Como se a apropriação dessa metáfora realmente nos forçasse goela abaixo a ideia de que 24 horas representariam os três anos de um trabalho. Conta outra, por favor.

Mas o mais revelador, mesmo, é o verbo “surgir”. Pois não é assim que funciona o basquete brasileiro? Quem explica talentos como Nenê e Damiris? Realmente muito bem empregado, já que “surgir” passa muito mais a noção de casualidade do que de planejamento, não?

Na mosca, presidente.


Retrato olímpico: nos esportes coletivos, basquete tem o recrutamento mais centralizado
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

O UOL Esporte acabou de publicar agorinha mesmo um infográfico que mostra onde nasceram os atletas olímpicos do Brasil. Ótimo para saber quais são os pólos produtores do esporte brasileiro.

Começamos por um gráfico maior, somando todas as modalidades com participação nacional. Sete estados não conseguiram produzir sequer um atleta olímpico para Londres-2012: Acre, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins, Rio Grande do norte e Sergipe. Notamos também a maior concentração de atletas oriundos das Regiões Sudeste e Sul, em especial de São Paulo e  Rio de Janeiro, únicos com mais de 20 atletas:

Estados brasileiros com atletas olímpicos

Agora, no Vinte Um, nada mais do que aceitável que o segundo item pesquisado tenha sido… O futebol!

Não, né?

Começa com “b”:

Estados brasileiros com jogadores do basquete na Olimpíada

Apenas o Distrito Federal (oi, Karla!) e seis estados estão representados, todos interligados e pertencentes às Regiões Sul e Sudeste, faltando apenas o Rio Grande do Sul – justamente o estado que revelou (gasp!) nosso presidente da CBB, Carlos Nunes – para entrar na festa, o que é de abrir os olhos, considerando o potencial dos ginásios gaúchos. O Carlinhos, porém, pode se gabar de presidir a única entidade com um jogador importado de Chicago, vejam só. Que luxo.

Vamos com o handebol:

Estados brasileiros com jogadores de handebol na Olimpíada

Em primeiro momento, poderia até parecer covardia colocar o primo de segundo grau do basquete aqui (na escolinha, a lógica não era a de que “quem joga um, sabe jogar o outro”?), já que ele mal passa na TV, que apenas as seleções têm cobertura (quase) regular nos jornais e programas esportivos etc. Pois o handebol se equipara ao basquete no total de estados listados, sete, com uma vantagem: conseguiu trocar três estados do Sudeste por três do Nordeste: Maranhão, Paraíba e Pernambuco.

Agora aquele esporte tão temido pelos basqueteiros, supostamente o nosso arquirrival por atenção do público, o…

Estados brasileiros com jogadores de vôlei na Olimpíada

Sim, o vôlei!

Não doeu tanto assim, vai?

São sete estados e o Distrito Federal como forno. Um a mais que o basquete apenas, mas ao menos puxando alguém de Pernambuco e outro de Goiás. As cores estão bem concentradas, mas não tanto assim como vimos dois mapas acima.

Para efeito de comparação, o esporte mais popular do Brasil consegue ser bem mais plural mas nada mais natural:

Estados brasileiros com jogadores de futebol na Olimpíada

São 12 estados, o único dos coletivos com alguém que tenha vindo do Norte (Ganso neles!) e dissipação bem maior pelo Nordeste também.

ARREMATE: Uma ressalva é a de que estamos falando de amostras pequenas, de 20 a 40 atletas  reunidos por modalidade – de todo modo, supostamente essa esses pequenos grupos compõem justamente as elites de cada uma delas; outra: pode ter gente que tenha nascido no Sul e se criado no Nordeste e vice-versa.

Agora, pelo primeiro mapa, o geral, já dá para notar que o esporte brasileiro depende muito de seu quinhão Sul-Sudeste, onde o dinheiro (ainda) circula com mais facilidade, em especial seus dois maiores estados. Pode parecer algo lógico: quanto mais gente, mais chance de produzir atletas. Mas, houvesse uma política séria de desenvolvimento em qualquer estado aleatório voltado para uma determinada modalidade, quem sabe o ciclo não pudesse ser quebrado?

Quanto ao basquete, comparativamente não chega a ser caracterizado como um oásis de incompetência, mas fica mais uma vez constatado algo de que todos sabíamos: a incapacidade da CBB em expandir o esporte pelo país nas últimas décadas. Em termos de ocupação territorial, é o que está mais defazado em Londres. E, a título de marketing e propaganda, a gestão atual deu um ‘azar’ danado com a exclusão da maranhense Iziane, não é verdade?

*  *  *

A divisão precisa dos basqueteiros olímpicos brasileiros: 12 de São Paulo, 4 do Rio de Janeiro, 2 do Paraná e 1 de Minas Gerais, Santa Catarina, Espírito Santo, Distrito Federal e, ops, Illinois.

*  *  *

Dos 12 representantes paulistas na delegação do basquete brasileiro, seis vieram da capital, cinco do interior e uma da Grande São Paulo (Chuca, de Mauá). Apenas Adrianinha nasceu em Franca. No Rio de Janeiro, Marcelinho, Marquinhos, Érika e Clarissa são todos da capital.