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Arquivo : Blazers

Personagens dos playoffs: Splitter reage
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Giancarlo Giampietro

Tiago Splitter x LaMarcus Aldridge

Tiago Splitter já sabia o que vinha pela frente, mas estava preparado. Depois de lidar com Dirk Nowitzki por sete partidas, era hora de se virar com LaMarcus Aldridge. “Acho que LaMarcus é um Dirk mais jovem, que pode arremessar, infiltrar, jogar no garrafão e fazer muitas coisas. Não será fácil”, afirmou, antes de a semifinal da Conferência Oeste começar.

Difícil, mesmo, foi a vida do líder do Portland Trail Blazers nesta quinta-feira. No geral, também com a contribuição de Tim Duncan, o cestinha viveu uma jornada infernal, matando apenas 6 de seus 23 arremessos de quadra. Dentro desses números, 14 chutes foram contabilizados sob a vigilância do catarinense, dos quais ele acertou apenas dois. Os 14% de acerto valeram como o segundo pior de sua carreira, com um mínimo de dez chutes computados.

Não é questão de patriotada, vocês sabem. Mas, após destacar o que Nenê fez contra o Chicago Bulls, chegou a hora de também dar o devido espaço para o catarinense. Com a cabeça fria e competência, vai dando conta do recado, mostrando que os US$ 36 milhões que o San Antonio Spurs comprometeu em lhe pagar por quatro temporadas fazem sentido. Justamente contra um dos times que tentou convencê-lo a deixar o Texas no ano passado, quando o pivô se tornou agente livre, semanas depois de ter pouco sido utilizado na histórica final contra o Miami Heat.

Splitter poderia estar jogando ao lado de LaMarcus, e não contra

Splitter poderia estar jogando ao lado de LaMarcus, e não contra

“Você se sente bem que alguns times o queiram, e às vezes você até mesmo sente que seria legal tentar algo novo. Você fica com aquela dúvida na cabeça”, disse ao San Antonio Express-News o jogador que teve sondagens firmes do Blazers e do Atlanta Hawks. “Mas eu realmente queria continuar. Essa era a minha primeira opção. Quando tive a chance, abracei. O Spurs fez uma oferta que gostei e é ótima para mim e minha família. Não poderia dizer não.”

Que o Spurs tenha valorizado suas contribuições só poderia contar para recuperar um pouco de sua confiança, especialmente depois de ter jogado apenas 12min30s nos últimos dois jogos contra o Heat na decisão. Praticamente como se ele tivesse jogado apenas um período de oito possíveis.  “Isso sempre vai ficar na cabeça. Não tem como tirar. O que dá para fazer é seguir em frente e pensar apenas na próxima temporada”, disse na ocasião da extensão de seu vínculo com a franquia.

Para quem acompanha à distância, é difícil entender como alguém que tem médias de apenas 19,8 minutos na carreira, com 8,3 pontos e 5,3 rebotes, pode valer essa bolada toda. Ainda mais quando, no ano primeiro ano de seu volumoso contrato, ele regrediu estatisticamente tanto do ponto de vista das métricas avançadas como em produção por minuto. Por causa disso – ou talvez explicando isso, vai saber -, viu seu tempo de quadra se reduzir, depois de ter ganhado  espaço com Gregg Popovich nas suas três primeiras temporadas em sequência. As críticas viriam, naturalmente.

Nos mata-matas, porém, o valor de Splitter fica mais explícito. Numericamente, em nove partidas até esta sexta-feira, ele tem a maior média de minutos de sua carreira, em qualquer fase, com 28,1 por jornada, bem acima dos playoffs de 2013.  Em uma projeção por 36 minutos, sustentaria um double-double de 12,8 pontos e 11,1 rebotes, com presença marcante nas tábuas ofensiva e defensiva. Mas nada no basquete se resume apenas a números.

Contra o Mavs, ele foi o defensor primário de Dirk Nowitzki, que ficou limitado ao seu pior aproveitamento de quadra desde 2007, acertando somente 42,9% de suas tentativas de cesta. Obviamente os méritos não são exclusivos do brasileiro, com um rodízio de defensores e um sistema para atrapalhar o craque. Mas seu papel neste desarranjo do alemão foi inegável, algo que o leitor TristaSP, que tem a insustentável paciência de aturar esse blogueiro, mencionou no ato.

Tal como Duncan, Splitter, menos comprido e mais baixo, diga-se, é um defensor impertinente à base de fundamentos. Não há dúvidas que o pivô é alguém extremamente coordenado e com boa mobilidade para alguém de seu tamanho – basta comparar seus movimentos com os de Robin Lopez, por exemplo. Mas há uma distância considerável em termos atléticos com a elite da classe. Contra um Miami Heat “pequeno” e explosivo, isso pode pesar. Em geral, no entanto, contra as fortes duplas de garrafão do Oeste, suas habilidades fazem a diferença.  Ele dificilmente se deixa iludir com as fintas de seus oponentes, pois quase nunca vai tentar aquele toco espetacular – uma vez que não é o maior saltador da paróquia. Isso não o impede de se colocar entre os melhores defensores diante do aro na temporada regular. Também é difícil ver o catarinense deixar seu posicionamento em busca de uma recuperação de bola, atacando a linha de passes. Dentre todas as suas qualidades, a maior talvez seja a consciência daquilo que é e pode realizar em quadra (já recomendei este link do site Pounding the Rock, inteiramente dedicado ao Spurs, mas não custa sugerir outra vez).

Testemunhar o trabalho do brasileiro no mano a mano com LaMarcus é relativamente fácil. (Quer dizer, que fique claro: fácil para nós observarmos, mas de modo algum uma tarefa de tranquila execução). Terry Stotts desenha jogadas simples para que seu pivô fique isolado num canto da quadra, com mais liberdade para desenvolver seus movimentos, driblando sem se preocupar com a chegada repentina de um marcador extra. No início do quarto período, diante de Boris Diaw, estava funcionando. Popovich convocou Splitter de imediato, e a farra acabou. Nesse ponto, a capacidade de Tiago de minimizar o impacto de seu oponente sem, por enquanto, precisar da marcação dupla, é essencial para o equilíbrio defensivo do Spurs, mantendo os ótimos arremessadores do perímetros mais contidos.

Agora, por outro lado, há muito mais que Tiago possa oferecer em quadra para minar os adversários. Como, por exemplo, os corta-luzes que arma do outro lado da quadra. Algo que não só livra seus companheiros para chutes com mínima liberdade, mas também atormenta e atordoa aqueles que sofrem o impacto. “Os bloqueios deles machucam. Eles fazem bloqueios de verdade, um grande trabalho em preparar e conter nos bloqueios”, afirma o armador Damian Lillard. “Isso te desgasta muito. Perseguir Tony Parker é uma coisa. Ser acertado toda santa vez, tentando fazer isso, é outra. Tira muito de você.”

No ataque, ele também serve como uma excelente válvula de escape para tramas em pick and roll com Tony Parker e Manu Ginóbili, devido a sua inteligência para se posicionar sempre como uma ameaça no corte para a cesta, em ângulos favoráveis para a recepção de passes, atraindo a defesa. “Acho que minha conexão com Tony e Manu nos momentos quando Tim está fora de quadra ajuda muito a equipe a encontrar espaço para nossos chutadores, partindo para a cesta ou fazendo o bloqueio. É uma parte de nosso jogo, e a usamos muito bem na temporada passada.”

Essas intangíveis todas aparecem como itens silenciosos, discretos no contrato oferecido pelo Spurs. São detalhes como esse que justificam o salário de US$ 9 milhões anuais para Splitter. “Tiago é um defensor muito bom no garrafão. Ele também é bom na defesa de pick-and-roll e, se formos falar em ataque, ele joga realmente muito bem com as pessoas que temos e é um ótimo passador para a sua posição”, avaliou RC Buford, gerente geral do clube, o executivo do ano da liga.

Detalhes que obviamente não passaram despercebidos pelo gerente geral do Blazers, Neil Olshey, um caça-talentos de respeito, que ajudou a construir o atual timaço do Clippers e trouxe estabilidade a uma franquia de bastidores um tanto delicados como o Blazers (gerida pelo bilionário Paul Allen, um gênio dos negócios, mas por vezes intempestivo e cheio de cupinchas que podem interferir em decisões de basquete para a qual não estão exatamente preparados).

Antes de ser agraciado com a bizarra concessão de Robin Lopez pelo Pelicans, que tinha a intenção de limpar sua folha de pagamento desperadamente para assinar com Tyreke Evans, o dirigente – e ex-ator (!?!) – estava empenhado em investir no catarinense. Acontece que, assim como havia ocorrido em 2012 com Roy Hibbert e o Indiana Pacers, o Spurs nem permitiu que as conversas fossem adiante. Souberam do quanto o clube do Oregon estava disposto a pagar e já bateram o martelo. Não houve dramalhão nenhum, do jeito que Popovich gosta.

Lopez se encaixou perfeitamente no Blazers, é verdade, trombando com gente mais graúda, dando a LaMarcus o respiro necessário. Nesta série contra o Spurs, porém, na hora de avaliar os jogos nos seus pormenores, talvez seja inevitável para Stotts & Cia. se perder num breve devaneio sobre como seriam as coisas caso tivessem roubado Splitter para o seu lado.


A cesta decisiva – e o migué – de Lillard
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Giancarlo Giampietro

Damian Lillard não quer nada o que ver com isso. O cronômetro a 0s9 do fim, seu time dois pontos atrás do placar? Pffff, tô fora dessa, cara. Não é à toa que ele se coloca lá do outro lado da quadra, com diversos companheiros e adversários posicionados entre ele e a reposição de Nicolas Batum. Podem reparar no vídeo abaixo: o armador do Blazers está vagando pela quadra até que o francês é autorizado a fazer o passe. “La-la-ri-la-lá”, parece estar cantando.

Até que… Partiu!

Quando Chandler Parsons se tocou, já era tarde demais. Um baita migué, daqueles que a gente faz desde que começou a jogar basquete. Lillard fez seu papel direitinho saiu em disparada em sua semiparábola, pronto para fazer o que mais gosta:

Muitos questionaram a decisão de McHale de colocar Parsons em Lillard, em vez de sua peste chamada Patrick Beverley. Bem, o ex-superastro do Boston Celtics fez uma série de bobagens durante todo o confronto, mas não sei bem se essa está conta. Primeiro: Beverley está passando mal há dias, mal treinando direito, provavelmente jogando à base de drogas. As lícitas, no caso. E este era o último instante de um jogo que durou mais de 1h53, depois de algumas duras batalhas já acumuladas nos últimos dias. Além disso, hoje pode soar absurdo, mas Parsons conseguiu se fixar na rotação do Rockets já em seu ano de novato, sendo um cara de segunda rodada de Draft, devido ao seu empenho defensivo. Acreditem, já existiu esse dia. Além do mais, é um cara esguio, ágil e alto. Ideal para atrapalhar a recepção. Né?

Realmente tem o que se discutir aqui. Mas o fato é que, uma vez concluída a jogada, o ala acaba dando razão aos críticos. De modo algum ele poderia ter dado aquela separação inicial para Lillard, com tão pouco tempo no relógio. Nas fotos (mais abaixo), temos a impressão de que ele estava perto para contestar o chute mortal de um craque emergente. Se for pensar no pieque, até que talvez ele tenha se recuperado bem… Só que não. Nada disso: a bola já estava bem distante das mãos de seu adversário quando ele chega para o toco. Pior: nem mesmo um corta-luz foi posicionado no caminho do atleta do Blazers. Não há contato de Mo Williams antes de seu companheiro engatar a quinta.

Com o vídeo congelado em 11 segundos, temos Lillard já praticamente esperneando para mostrar o quão livre ele estava. Já eram no mínimo duas passadas de distância para qualquer marcador mais próximo. E aí que cabe uma outra pergunta para McHale: que diabos James Harden estava fazendo em quadra? Difícil tirar sua superestrela, né? Mesmo quando o figura já é reconhecida como um dos piores defensores de toda a liga. Reparem que Harden fica perdido com Wes Matthews ali na cabeça do garrafão, mesmo que o ala esteja praticamente de costas para a linha de passe.

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Com míseros 0s9 por jogar, obviamente não dá tempo de pensar: “Ferrou”, quando a bola chega às mãos do armador, mesmo que o batalhão de estatísticos do Rockets soubesse que Lillard mata 42% de seus arremessos de três tanto em situações de calmaria ou correria (parado ou em movimento). Mas já era, mesmo.

“Nós falamos especificamente para eles que não era para permitir chutes de três”, disse McHale, culpando seu elenco — muitos acreditam que foi seu último jogo como treinador do time. “Não parece que foi verdade. Um puta arremesso. Um puta arremesso. Ficou livre. Puta arremesso. E lá foi o jogo”, disse Jeremy Lin (em tradução livre demais até, porque obviamente Jeremy Lin não fala coisa feia). “É o pior sentimento que já tive na minha vida”, completou o pobre coitado do Parsons.

Um tiraço para a história, em semanas eletrizantes de basquete. Milhares de pessoas permanecendo no ginásio, dançando, gritando, mesmo com o jogo encerrado há tempos. A primeira vitória numa série de playoffs para o Blazers desde 2000. É claro que Lillard queria a bola.

*  *  *

Por outro ângulo, praticamente dentro da quadra. Reparem nas palminhas:

*  *  *

As fotos:

Ângulo para deixar o chute mais épico (e mais difícil do que foi)

Ângulo para deixar o chute mais épico (e mais difícil do que foi)

Oi, Parsons, bom dia? Lá foi a bola

Oi, Parsons, bom dia? Lá foi a bola

A separação entre Lillard e Parsons

A separação entre Lillard e Parsons

Lillard para a TV

Lillard para a TV

Damian Lillard 2014, Brandon Roy novembro de 2008: bombas contra Rockets

Damian Lillard 2014, Brandon Roy novembro de 2008: bombas contra Rockets

Deixa falar, deixa cantar, deixa rimar. Lillard, senhor de Portland

Deixa falar, deixa cantar, deixa rimar. Lillard, senhor MC de Portland

It's Lillard Time!

It’s Lillard Time!


Personagens dos playoffs: Wesley Matthews (Jr.)
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Giancarlo Giampietro

Quando a defesa é o highlight, fazendo a diferença

Quando a defesa é o highlight, fazendo a diferença

As coisas nunca aconteceram de modo fácil para Wesley Matthews Jr. Mesmo sendo filho de um ex-jogador da NBA. Seu pai, na verdade, talvez tenha sido o primeiro a empurrar o garoto para uma trilha mais exigente, acidentada, ao sair de casa antes mesmo de conhecê-lo.

“Sei que isso me deixou mais durão, mais forte. Não sei se isso é bom ou mau. Mas sei que vou descobrir mais para a frente”, afirmou o ala do Portland Trail Blazers, em longa matéria da Comcast Sportsnet que serviu como uma espécie de terapia, discutindo o relacionamento com o primeiro Wes Matthews, bicampeão pelo Los Angeles Lakers ao lado de Magic Johnson e Kareem Abdul-Jabbar.

Matthews, o júnior, ainda não teve um privilégio desses. Pelo contrário, ele é um dos capitães do grupo daqueles que batalhou um bocado para chegar à NBA e conseguir um contrato (bastante generoso, no seu caso). Quando saiu da universidade de Marquette, passou batido pelo Draft de 2009.

Símbolo de uma geração de Marquette que também mandou Jimmy Butler para a NBA

Símbolo de uma geração de Marquette que também mandou Jimmy Butler para a NBA

Hoje, 22 dos atletas selecionados naquela temporada já estão fora da liga, incluindo cinco que foram escolhidos entre os 30 primeiros. Nesse grupo de excluídos, obviamente são poucos os simplesmente optaram por ficar distantes do basquete profissional norte-americano. Na verdade, dois: o armador Sergio Llull, ídolo do Real Madrid e que nãos e cansa de esnobar o Houston Rockets, e o ala Emir Preldzic, cujos direitos pertencem ao Washington Wizards, mas não deve abrir mão da fortuna que recebe do Fenerbahçe tão cedo.

De resto, os demais 20, com os alas Terrence Williams e Earl Clark e os armadores Rodrigue Beaubois e Jonny Flnn (o sexto colocado!) dentre eles, obviamente trocariam de lugar com Matthews para ontem. O ala do Blazers sabe muito bem disso. Que eram as grandes as chances de ele se ver do outro lado. Por isso, vai aproveitar cada instante em quadra na amalucada série contra o Houston Rockets como se fosse o último. Num comportamento, é preciso dizer, um tanto anômalo nesse embate.

Não é que Blazers ou Rockets, times que somaram 108 vitórias na temporada regular, tenham enjoado de vencer. Fosse o caso, não teríamos três prorrogações em quatro jogos. Agora, por outro lado, se formos levar em conta a média de 234 pontos por jogo — ou mais de 117 por time –,  talvez valesse um esforcinho a mais de ambas as partes, não? Na defesa, digo. Né, James Harden?

Ninguém vai discutir o talento do Capitão Barba com a bola em mãos. Um senhor arremessador, inventivo nos dribles, saindo para todos os lados, explosivo e forte o bastante para romper a primeira linha da defesa e desafiar os grandalhões no garrafão, descolando, por vezes, até mais de 20 lances livres num jogo, ou mais. O drama, porém, fica para o que ele faz do outro lado, na defesa.

Com o passar da temporada, as críticas, justas, ao ala-armador do Rockets foram se acumulando. E o movimento das lâminas de barbear furiosas não ficou restrito aos especialistas, aos cri-cris. Experimente dar uma busca por aí: “Harden + defense”. Saca só, como diria o Maurício Bonato, do Sports+ (ignorem a bola se focalizem no nosso… herói):

Sujeito atencioso, né? Fiscalizador, opressor, faria o Tony Allen morrer. De desgosto, ou vergonha. A gente sabe que Harden tem muitas responsabilidades ofensivas, criando e finalizando. Sua taxa de uso (usage rate, numa tradução beeem livre) por posse de bola é muito elevada, superior a 27% nas últimas duas temporadas e ultrapassando a marca de 30% nos playoffs. Agora querem saber? LeBron James é ainda mais exigido no ataque do Miami Heat… Numa quantidade menor de minutos, tá certo. Mas nada que justifique a imensa diferença na conduta defensiva das duas estrelas. Com o agravante de que o atleta do Rockets não tem de modo algum o status de consagrado.

No ataque, um pouco fora do ar. Blazers não se importa

No ataque, um pouco fora do ar. Blazers não se importa

Em termos de fama, talento e produção, também é óbvio que Harden está degraus e degraus acima de Matthews, o atleta com quem mais bate de frente nos playoffs até aqui. Todavia, com todas as suas limitações – e números bem ruins no ataque até aqui, ainda que numa amostra pequena de quatro jogos -, seu oponente sabe que há muitas possibilidades a mais num jogo de basquete do que somar 30 pontos por partida. Se ele não vem conseguindo reproduzir contra Houston aquilo que ele fez muito bem na temporada, vai compensando com agressividade, fome de bola do outro lado da quadra. “Nasci para isso”, afirma o ala.

Voltando no tempo: Matthews não foi selecionado por nenhuma franquia no Draft, mas forçou a porta até garantir sua vaga no elenco do Utah Jazz, disputando todas as 82 partidas da temporada 2009-2010, com a reputação de bom defensor e de alguém que sabe exatamente o que tem de fazer em quadra. Agente livre ao final do campeonato, recebeu uma bolada do Blazers com um contrato de seis anos e mais de US$ 35 milhões.

(Aliás, sua trajetória impressionou tanto os dirigentes da liga, incomodados talvez por terem deixado passar uma figura dessas, que a universidade de Marquette emplacou uma série de seus rapazes nos últimos anos. Ele virou o símbolo de uma equipe que, se não revelava supercraques e nem recebia os colegiais mais badalados, ao menos fornecia gente madura, bem fundamentada, pronta para o que der e vier. Para comparar, desde que ele assinou com o Jazz, seis atletas já ganharam uma oportunidade. Antes, na década anterior, apenas três dos Golden Eagles foram aproveitados, Dwyane Wade sendo uma grande exceção.)

Em Portland, Matthews chegou a confessar: estava relaxando um pouco, e até seus amigos percebiam e o provocavam. Que ele já não era mais o leão de antes. Deu um duro danado nas férias, voltou para a atual campanha com tudo, e Terry Stotts só pôde aplaudir, uma vez que seu rendimento ofensivo também era muito bom. Contra o Rockets, parte desta receita não vinha dando certo (com 12 para 34 nos arremessos), até se recuperar no domingo, matando 8 em 15 tiros de quadra. Se a bola não está caindo, contudo, isso não vai impedir que ele se empenhe em fazer seu trabalho. Completo.

“O Wes é durão, cara”, afirmou o armador e jovem líder Damian Lillard. “Ele marca desta forma toda noite, não importando quem seja. Não vou falar que isso tira energia dele no ataque. Tem vezes que a bola simplesmente não cai. Ele tem feito um ótimo trabalho defendendo James. Sabendo dessa série, conversamos sobre como alguns caras teriam de fazer um sacrifício. E o Wes está colocando seu coração e sua alma em tornar as coisas difíceis para James Harden, e isso vem dando resultado para nosso time.”

Não quer dizer que Matthews esteja anulando, varrendo o astro do Rockets de quadra. Mas tem tornado realmente sua vida mais difícil. E não só isso. No eletrizante Jogo 4, o ala fez diversas jogadas para dar a vitória ao seu time, à revelia de seus 21 pontos. Antes de seu roubo de bola no finalzinho, no meio da quadra, Matthews já havia participado do lance em que manteve o Blazers vivo no jogo, brigando por duas vezes pelo rebote e no abafa para cima de Jeremy Lin, que deu a Mo Williams o direito de fazer a cesta que aparece em qualquer clipe de melhores momentos.

De qualquer forma, sua postura combativa em quadra acabou recompensada com seu desarme para cima de Patrick Beverley no meio da quadra, ao final da prorrogação, numa dobra de marcação de certa forma com desfecho espetacular. Aquele mergulho em direção à bola que fica bonito em slow motion. Muitos queriam estar ali, mas foi Matthews que deu um jeito de chegar lá.


Gerald Wallace, os resmungos e a fuga da realidade
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Giancarlo Giampietro

Toda a depressão e os resmungos de Gerald Wallace

Toda a angústia, depressão, os resmungos e os milhões de dólares de Gerald Wallace

Pode sorrir, Pau Gasol. Que o troféu de Maior Chorão da Temporada 2013-2014 da NBA não é seu.

A honraria vai para Boston dessa vez. Obviamente ainda há muito jogo pela frente até chegarmos a abril, mas dificilmente alguém vai conseguir bater o Gerald Wallace nessa disputa.

O jogador que um dia já foi conhecido como “Crash”, por sua capacidade atlética incrível, muita energia e a ferocidade em quadra, brigando por rebotes, distribuindo tocos, aterrorizando os adversários, hoje é um pesadelo apenas para o departamento de relações públicas da franquia mais vitoriosa da liga norte-americana.

Wallace basicamente virou o melhor amigo dos setoristas da Beantown. Os jornalistas que seguem o Celtics sabem: se está faltando assunto, basta abordá-lo no vestiário, na zona mista, em qualquer lugar. Eles só precisam estar certos de que há espaço suficiente na memória do celular para gravar a conversa, ou que a Bic azul clássica está com carga suficiente para gastar o bloquinho. É aquela coisa: “Senta, que lá vem história”.

Quando escrevemos aqui sobre o quão egocêntrica ou ególatra a rapaziada da NBA pode chegar não é por pouca coisa. Nos vestiários, no dia a dia de viagens e muitos jogos, esse é um dos principais problemas que gerentes gerais e treinadores precisam controlar. Quando o Celtics perde tanto como foi em sua recente viagem pela Costa Oeste, fica ainda mais difícil.

A liga, em geral, reúne a elite da modalidade. Para o sujeito chegar lá, precisará ter superado muitos obstáculos desde pequeno, não importando o talento natural. Muitos desses caras foram tratados como reis dos 15 aos 19 anos, vindos das mais diversas regiões dos Estados Unidos, cada um senhor de seu universo (“Sr. Basquete de Iowa” etc.). A bajulação só aumenta a partir do momento em que viram profissionais. Se você não se cuidar, a cabeça vai longe, bem longe, a ponto de se perder completamente a conexão com o que se passa ao seu redor.

Wallace já não aguenta mais, gente

Wallace já não aguenta mais, gente

No momento, é nesse estado que está Wallace, que não para de resmungar, de modo descontrolado, sobre tudo, absolutamente tudo o que acontece com o Celtics nesta temporada.

Anotando:

– “É mais , se sentir desrespeitado. O que aconteceu? Ninguém se prontificou a dizer, avisar que você seria trocado. Foi do nada: bam! Você vai para um time que está se dilacerando, pensando em reconstruir. É um lugar difícil para se estar depois de 13 ou 14 anos na liga. Fiquei chateado com o modo como o Brooklyn fez. Sei que faz parte, mas é duro.”

– “Tenho de começar de novo, resgatar toda a minha reputação novamente.”

– “Você fica sentado no banco, jogando apenas 17 ou 18 minutos por partida, assistindo, sabe que ainda pode jogar, e vê caras entrando na sua frente que não se esforçam em quadra, não respeitam o jogo e não pensam primeiro na equipe. Isso meio que te frustra, te deixa puto. Mas tem de lidar com isso.”

– “Não estou acostumado a ficar no banco no início dos jogos e nos momentos decisivos.”

– “Esta temporada é um tapa na cara.”

– “Somos o time que é só conversa. Falamos sobre como temos de melhorar. É fácil falar e fazer no treino. Mas os treinos não têm nada a ver com nada em te fazer melhorar. Na hora em que acendem a luz, quando o jogo realmente conta, na hora de fazer o time melhor, não fazemos.”

– “O Denver estava fazendo tudo certo. Do jeito que eles jogaram, do modo como nós jogamos como time, as coisas que fazemos, não merecemos ganhar as faltas que eles ganharam.”

– “Chega de fazer reunião. Chega de papo. Chega disso tudo. Chega de discutir, fazer barulho, reclamar, gemer, de tudo isso.”

– “Acho que um time estava pronto para jogar, e o outro estava preparado para aproveitar o Natal.”

Tudo documentado.

Mas, antes de avançarmos com seu chororô, vale uma digressão.

Uma digressão daquelas, já aviso.

Quem aí está interessado em conhecer um pouco da biografia do ala?

Wallace não se enquadra necessariamente nesse perfil de, vá lá, estrelinha. Não foi daqueles que a vida toda só ouviu elogios e caminhou sobre pétalas e tapete vermelho. Nascido na minúscula e inconfundível Sylacauga, nos confins do Alabama – é supostamente o segredo mais bem cuidado do estado, vejam só! –, ele cresceu jogando numa região que valoriza muito mais o golfe ou o automobilismo (estamos falando do condado de Talladega, cenário perfeito para Will Ferrell tirar um sarro da Nascar americana). No geral, o Alabama também é muito mais conhecido por sua produção de grandes jogadores e times de futebol americano.

Aqui, Ricky Bobby - A Toda Velocidade. Lá, Talladega Nights: The Ballad of Ricky Bobby

Aqui, Ricky Bobby – A Toda Velocidade. Lá, Talladega Nights: The Ballad of Ricky Bobby

Não que o estado, apenas o 23º mais populoso do país, com 4,8 milhões de habitantes segundo a estimativa mais recente do ano pasado, não tenha revelado basqueteiros proeminentes. Quem não se lembra dos dias em que Charles Barkley brincava que se candidataria até, mesmo, a governador por lá? Bem, ao Chuckster fazem companhia Robert “Sete anéis” “Big Shot Bob” Horry, o monolítico Artis Gilmore, os irmãos Chuck e Wesley Person, Jeff “Não sou, nem nunca fui irmão do Karl” Malone e Ben Wallace, aquele fenômeno defensivo da década passada. Nada mal.

Por sua carreira duradoura e produtiva na NBA, Wallace ganhou o direito de se incluir na lista acima, entre os principais expoentes regionais. Mas não se enganem: é em futebol americano e corridas que seus conterrâneos estão antenados. De modo que a badalação em torno do ala nunca foi daquelas, mesmo que ele, em seu último ano de High School, tenha ganhado o prêmio de Jogador do Ano Naismith, entrando numa relação que conta com gente como Kobe Bryant, LeBron James, Dwight Howard, Chris Webber, Jason Kidd (mas também Damon Bailey, Dajuan Wagner, Shabazz Muhammad, Donnell Harvey, entre outros que não vingaram, por diversos motivos; isto é, depende da fornada).

Artis Gilmore, produto do Alabama

Artis Gilmore, produto do Alabama

Fiel, talvez demais, a sua terra natal, decidiu jogar na universidade de Alabama, mesmo numa época em que os colegiais poderiam pular diretamente para a liga principal. Os Crimson Tide também foram muito mais celebrados por seus feitos no futebol americano, sendo um dos dez times mais vitoriosos da história na NCAA nessa modalidade, do que pelo basquete, no qual eles não se cansam de apanhar de Kentucky na SEC (Conferência Sudeste). Da NBA de hoje, apenas outros dois jogadores passaram por lá: Mo Williams, que se reinventa como sexto homem no Blazers, e o esforçado, mas limitado Alonzo Gee, ala do Cavs.

Com média de apenas 9,8 pontos, 6 rebotes e pouco mais de um toco e um roubo de bola por partida, mostrou basicamente o potencial que tinha pela frente, mas sem deixar scouts e gerentes gerais malucos. Ainda assim, aos 19 anos, se inscreveu no Draft de 2001, aquele que ficou marcado pelo amontoado de pivôs adolescentes recém-saídos do high school,  mas também contou com o influxo de muitos estrangeiros: Pau Gasol em terceiro, Vladimir “Mais Um Futuro Nowitzki” Radmanovic em 12º, Raúl López em 24º e o desconhecidoTony Parker em 28º. No meio de tantas novidades, o ala foi escolhido na 25ª colocação, pelo Sacramento Kings. (Para constar, Gilbert Arenas foi a 30ª escolha, o que na época queria dizer segunda rodada).

Na capital californiana – sim, Sacramento –, Wallace entrou em um elenco fortíssimo. O Kings vivia seu auge, brigando pelo topo da Conferência Oeste com o Lakers de Shaq, Kobe & Phil. Era um timaço, de jogo vistoso, dirigido por Rick Adelman, com Webber como o craque, mas muita gente talentosa, inclusive, nas alas. Turkoglu era reserva de Peja. Christie também estava em alta. Diante desses caras, não havia espaço para um novato ainda muito cru tecnicamente. Foi escalado, então, em apenas 54 jogos, com média inferior a dez minutos. Foi o décimo atleta mais usado pelo hoje treinador do Wolves.

O problema é que passou mais um ano, e outro, e… O cara seguia mais tempo sentado no banco do que atacando o aro. Em 2004, então, para o bem ou para o mal, ele mudaria de vida. Ele foi selecionado para o primeiro time do Charlotte Bobcats, no chamado Draft de expansão, no qual as outras franquias têm o direito a proteger até oito jogadores de seu elenco. O restante? Fica ao alcance de quem está chegando. E Wallace caiu nesse balaio. Daquela lista original, apenas um atleta está na liga ainda hoje: Zaza Pachulia, o pivô cabeçudo e lesionado do Milwaukee Bucks.

Para alguém que havia jogado tão pouco, porém, o que poderia haver de mal numa situação dessas? Ok, o Kings jogava pelo título. Em Charlotte, era sabido que o projeto demoraria a chegar a um nível de respeitabilidade (estamos esperando até agora, aliás). Não haveria restrição alguma para Wallace, só 22, arregaçar as mangas e ir ao trabalho. De espectador passou a terceiro que mais jogou pelo Bobcats. Teve a chance de se apresentar como um jogador dinâmico, daqueles que estufa a linha estatística, com detalhe especial para seus números de rebotes, roubadas e tocos. Em 2005-06, por exemplo, antes de se lesionar, tinha média de dois por jogo em cada um desses quesitos, algo que só dois jogadores na história conseguiram reproduzir num campeonato: David Robinson e Hakeem Olajuwon.

Com carta branca e liberdade, evoluindo temporada após temporada, a despeito de uma constante troca de companheiros, fez seu nome, com agilidade, impulsão, explosão e a fome pela bola, sofrendo uma ou outra concussão no caminho. Até que, em 2009-10, agora com Larry Brown no comando e Michael Jordan já proprietário do clube, ajudou o Bobcats chegar aos playoffs pela primeira vez na história e, no meio do caminho, se viu premiado com uma seleção para o All-Star Game, votado pelos técnicos. Sim, o “Crash” era enfim uma estrela.

De lá para cá, acho que você já deve estar mais familiarizado com o que se passou em sua carreira. Então vamos rapidamente: o Bobcats regrediu, os veteranos foram trocados – e Wallace já era um deles, indo para o Portland. O time tinha uma base promissora, mas acabou se implodindo, levando a cabeça do técnico Nate McMillan junto. Foi, então, repassado ao Brooklyn Nets, atendendo pedido de Deron Williams (e, dizem, Dwight Howard). Teve seu contrato renovado por US$ 40 milhões e quatro temporadas.  Só durou mais uma lá, envolvido na negociação com o Celtics por Pierce e Garnett.

Ufa.

E aqui voltamos.

Ao ponto em que Wallace se desconectou da realidade.

Com uma trajetória dessas, dá para entender. O sujeito deu um duro danado para se virar “al-guém” na liga. “Você está de volta para o ponto que em que já esteve em Charlotte”, diz o ala. “Os árbitros não te respeitam mais, assim com os outros times.”

Não imaginava que passaria alguns de seus brilhantes últimos anos num time que é um saco de pancadas e não vai brigar por grandes coisas tão cedo, como o próprio Danny Ainge afirma.

Mas… Hã… Espere um pouco: de onde saiu “brilhantes últimos anos”?

Para um jogador que tem médias de 4,2 pontos, 3,3 rebotes, 2,5 assistências em 22,1 minutos, acertando 36,1% de seus lances livres (!?) e , acho que o termo não se encaixa, né? É o que ele vem oferecendo ao Celtics neste campeonato. E o que dizer dos 7,7 pontos, 6,8 rebotes, 3,1 assistências e 39,7% nos arremessos do ano passado em Brooklyn? Também não anima nada, ainda mais com um salário de US$ 10 milhões por ano – sozinho, recebe mais que Avery Bradley, Jared Sullinger, Kelly Olynyk e Vitor Faverani juntos, e ainda sobra troco.

Gerald Wallace, Crash, G-Force, já não é mais o mesmo

Gerald Wallace, Crash, G-Force, já não é mais o mesmo

Tem mais: não é nem um caso de jogador que esteja passando pouco tempo em quadra, obrigado a ficar fora para a turma dos mais jovens brincar. Numa projeção por 36 minutos, seus números seguem abaixo da mediocridade. Em termos de eficiência, também, lá foi ladeira abaixo, com o pior índice de sua carreira, pior até mesmo que os anos de soneca em Sacramento.

Privado de sua capacidade atlética, 12 anos depois de ter entrado para o mundo maravilhoso e perigosamente fantasioso da NBA, Wallace não conseguiu se reinventar como jogador. Tenta ser o mesmo de antes, mas não consegue. Há diversos garotos chegando, como ele, ávidos por sua oportunidade. Fica esse descompasso.

Com base em sua experiência, o jogador teria certa autoridade para se pronunciar em entrevistas e no vestiário e tentar mexer com os brios de muitos de seus jovens colegas. Mas o fato é que, de acordo com o que ele produz em quadra, fica um pouco difícil de a mensagem ser compreendida de forma devida.

Os jornalistas adoram, ao menos.


NBA: 10 caras que abrem o ano novo de bem com a vida
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Giancarlo Giampietro

Kevin Johnson e Jeff Hornacek... Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Kevin Johnson e Jeff Hornacek… Quer dizer, Bledsoe e Dragic pelo Suns

Quem está abrindo 2014 estourando champanhe sem o menor arrependimento? Quem nas quadras da NBA está passando pela virada de ano cheio de confiança, satisfeitos com o papel em suas equipes e se valorizando no mercado?

Os LeBrons, Durants e Loves do mundo vão estar sempre bem, é sabido. Não há que se preocupar com eles. Pode ser outono, primavera, feriado, longas viagens, esses caras vão produzir sem parar. Então, por mais que eles desafiem qualquer bom senso estatístico, seria redundante gastar estas linhas aqui para falar deles.

Então vamos nos concentrar num tipo de atividade que – vocês já devem ter percebido – dá mais prazer neste espaço: fugir dos holofotes e prestar atenção nos caras que muito provavelmente poderiam dar um passeio por Manhattan passando despercebidos. Talvez a altura fosse algum indicador, mas não o suficiente para congelar toda a Times Square.

Dessa vez, não estamos falando necessariamente de gente como Jordan Crawford ou Josh McBobs, dos que buscam a sobrevivência na liga. Mas de um pelotão intermediário que jogou muito nas última semanas do ano que se foi e entram em 2014 de bem com a vida:

Thaddeus Young, ala do Sixers.

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Thad Young, difícil de segurar em contra-ataques

Michael Carter-Williams é a bola da vez em Philly, e não há muito o que se fazer a respeito. Quando entra em quadra, o armador influencia o jogo de diversas maneiras, no ataque ou na defesa. Foi um achado para Sam Hinkie no Draft, ainda mais em 11º. Tudo em seu desempenho até aqui indica que vá se tornar um craque.

Mas, na hora que o Sixers vai surpreender alguém, Thaddeus (de “Youngs” já estamos cheios, não é verdade?) também tem talento para ser uma figura decisiva.

Pegue os últimos quatro jogos da equipe, por exemplo. Depois de uma derrota vexatória contra o Nets por 130 a 94 – e, sim, apanhar desta maneira para o patético time de Jason Kidd já se arquiva aqui no blog como “vexatório” –, Young elevou seus números a um patamar de saltar aos olhos. Marcou 110 pontos, pegou 35 rebotes, , conseguiu dez roubos de bola e acertou42 de seus 76 arremessos. Em médias: 27,5 pontos, 8,75 rebotes, 2,5 roubos e 55,2% de aproveitamento*.

(*PS: assim como em todos os números citados no post, estão computados apenas jogos até 31 de dezembro de 2013, por motivos de… Lentidão de sistema, digamos.)

Está certo que a concorrência não era das mais ferrenhas: Nets de novo (vitória por 121 a 120, no troco), Bucks, Suns e Lakers. O estilo de jogo também ajuda: três desses times gostam de correr, que é o que o ala mais sabe fazer, e o time do Brooklyn ficou automaticamente mais leve com a lesão de Brook Lopez.

Mas não deixa de ser impressionante.

Em meio ao projeto de reformulação do Sixers, Thaddeus pode estar querendo uma troca, ou não, mas com esse tipo de atuação é provável que termine a temporada em outra cidade, mesmo.

(Agora um segredinho: os números se inflaram desta forma também desde o retorno de Carter-Williams de uma infecção cutânea na perna. Não é acaso.)

Kyle Lowry, armador do Raptors.
Outro jogador envolvido em rumores de troca em dezembro. Também não se trata de coincidência, é possível dizer. Desde que o time canadense despachou Rudy Gay para a capital californiana, os boatos se concentraram em Lowry: ele seria o próximo a negociado. Mas o que estava em andamento se emperrou.

O baixinho que já foi um pitbull na defesa, mas hoje se interessa muito mais pelo ataque foi cobiçado pelos trapalhões de Nova York. Mas a reputação (positiva) de rapina de Masai Ujiri acabou atrapalhando. Até James Dolan se opôs a pagar o tanto que o Raptors pedia. Uia. Isso é o mesmo que dizer que o ex-presidente Lula teve arroubos de modéstia num discurso.

Paralelamente a essa disputa entre nova-iorquinos, o Raptors acabou se acertando, para espanto de alguns, mas não de todos. Bill Simmons, o SportsGuy da ESPN, chegou a comparar o ala a um câncer. O time que se livra dele melhora instantaneamente, notou. Ouch.

Com a bola girando mais em quadra, Lowry vem se soltando. Reparem em seus números a partir do confronto de 8 de dezembro com o Lakers, o primeiro sem Gay. A quantidade de turnovers despencou, as assistências decolaram e os pontos e bolas de três vão sendo computados com muito mais frequência.

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Lowry se sentiu em casa no Garden. Será que vai jogar mais vezes lá?

Um jogo em específico vale o destaque: a vitória sobre o Knicks, no Madison Square Garden, claro, dia 27. Não só por ele ter marcado15 pontos e 11 assistências, mas também pelo fato de a torcida dos Bockers ter gritado seu nome das arquibancadas. “Foi esse tipo de acontecimento sobre o qual você nem sabe o que dizer direito. Tipo, é muito legal”, disse o armador. “Se algo acontecer, que aconteça. Mas até que chegue esse dia, sou um jogador do Raptors e vou dar duro aqui.”

James Johnson, ala do Memphis Grizzlies.
Antes de falar sobre o que se passa no presente, aqui convém revisitar o passado desse jogador, que, até pelo nome básico, até pode ser um desconhecido do público em geral. James quem?

Bem, vocês sabiam que ele tem algumas semelhanças com Zlatan Ibrahimovic? De alguma forma, explico: se o atacante sueco é faixa preta de taekwondo, Johnson já foi (é?) um belo lutador de kickboxing. E os dois tiram proveito das habilidades desenvolvidas nas artes marciais para fazer algo de diferente em seus respectivos esportes. Jogo de cintura, agilidade nos pés, elasticidade – imagino que se ganhe tudo isso, né, Ibra?

JJ, o Kickboxer

JJ, o Kickboxer

Uma rápida olhadela nos números do ala indicam isso. É um dos que mais acumula roubos de bola e toco na liga há tempos, em médias por minuto. Pegue, por exemplo, o que ele vem somando pelo Grizzlies por aqui. Em sete partidas, com 23,1 minutos, tem 1,3 bloqueio e 1,4 roubada em média. Em 36 minutos, subiria para 2,2 e 2,0, respectivamente. Andrei Kirilenko está orgulhoso.

E por que só sete jogos pelo Grizzlies, se já estamos em janeiro? Bem, ele começou a temporada na D-League. Na verdade, antes disso, o versátil ala participou do training camp com o Atlanta Hawks, mas o gerente geral Danny Ferry não achou por bem mantê-lo no elenco – talvez por considerar que suas características se dupliquem com as de DeMarre Carroll.

Jogando pelo Rio Grande Valley Vipers, a filial do Rockets, sua produção foi a seguinte: 18,5 pontos, 9,1 rebotes, 4,7 assistências, 3,4 tocos e 1,9 roubo. É muita coisa, mesmo numa liga em que não se pratica muita defesa e num time que joga em ritmo acelerado demais da conta.

E como um talento desses vai parar na liga de desenvolvimento? Digamos que Johnson nunca foi dos jogadores mais disciplinados. Tanto fora de quadra como em ação, fardado. Ele pode pecar um pouco no posicionamento defensivo, na hora de forçar algumas infiltrações descabidas, confiante de que suas habilidades atléticas dão um jeito para tudo. Por isso não sobreviveu em Chicago (foi draftado pelo Bulls em 16º em 2009), Toronto e Sacramento.

Mas também há o outro lado da moeda: por ser um jogador de características pouco tradicionais, difíceis de ser enquadradas, para um técnico que vá querer escalar seus jogadores de 1 a 5 pode ser difícil encontrar sua pocição. Vai de 3? Ou 4? Uma bobagem, mas que em muitos casos pode influenciar demais os rumos de uma carreira.

Fato é que, para um time moribundo com o do Grizzlies, ele oferece energia muito necessária. Até o dia 5 de janeiro, o clube precisa decidir o que fazer com Johnson. Se ele passar dessa data no elenco principal, seu contrato será garantido até o final da temporada. Acho que não há muita dúvida aqui sobre o que fazer, não?

Goran Dragic, armador do Phoenix Suns.
Ele começou mal pelo Phoenix Suns, depois jogou bem como reserva do Phoenix Suns, foi trocado ainda assim pelo Phoenix Suns, jogou no Texas até que voltou para o Phoenix Suns. A relação do armador esloveno com a franquia do Vale do Sol, como já vimos, não é das mais estáveis.

Daí que, quando o time contratou Eric Bledsoe antes da atual temporada começar, não demorou para que todo o mercado da NBA tenha se preparado para a possibilidade de Dragic voltar a ficar disponível. Jeff Hornaceck, porém, não tinha nada com isso.

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

Dragic e Hornacek: entrosamento no renovado Phoenix Suns

O novo surpreendente técnico da eqiupe vem justificando qual era o seu plano desde o princípio: que Dragic e Bledsoe poderiam reeditar a sensacional parceria que ele teve com Kevin Johnson na virada dos anos 80 para os anos 90. Pela mesma franquia, diga-se, que, em 1988-89, alcançou a final da Conferência Oeste, perdendo para um Los Angeles Lakers que lutava pelo tricampeonato (e seria superado pelos autênticos Bad Boys de Detroit).

“Quando Ryan (McDonough, o novo e igualmente surpreendente gerente geral do Suns) me ligou, eu disse a ele: ‘Ei, Eric parece com o Kevin Johnson, quando ele estava jogando aqui em Phoenix, e Goran é mais ou menos como eu era’. Passamos de um time com 25 vitórias para 55. Não acho que nenhum de nós pensou realmente que, quando trocamos por Eric, teríamos de nos desfazer de Goran”, afirmou Hornacek, eleito o melhor técnico do Oeste em dezembro e que vem se mostrando uma das melhores entrevistas da liga.

Vai saber se foi isso, mesmo, que passou pela cabeça do treinador, ou se ele apenas está desenvolvendo uma retórica que, ao mesmo tempo que protege o esloveno, também envolve o sucesso do time nesta temporada. O próprio Dragic ficou um pouco desconfiado.”Quando estava na Europa e descobri, pensei: ‘Ok, agora tenho competição’. No fim, falei com Jeff, ele me disse que nós provavelmente iríamos a maior parte dos minutos juntos.”

Eles estão jogando, mesmo, e o fato é que a dupla armação se encaixou muito bem, ainda mais com tantos chutadores ao redor para espaçar o ataque. Por ser mais jovem e a novidade no time, é natural que Bledsoe chame mais repórteres ao seu encalço. Ramona Shelburne, do ESPN.com, contou uma baita história a respeito.

Mas Dragic, do seu lado, vem jogando muito bem, obrigado. Segundo levantamento do estatístico John Schuhmann, do NBA.com, quando o time tem apenas o esloveno em quadra, os números ofensivos são muito melhores do que com Bledsoe sozinho com os dois em parceria, que age pela melhor defesa. (Agora precisaria checar os adversários que estão por trás dessas contas.)

Dragic está jogando sua melhor temporada na liga, com o melhor aproveitamento nos arremessos, a maior média de lances livres cobrados, a menor de desperdícios de bola. Eficiência alto padrão, e a presença de Bledsoe para ajudar a desafogar as coisas ajuda muito para isso, claro. “Está cada vez melhor com Eric, jogo após jogo. Sei o que ele vai fazer com a bola e ele sabe o que eu vou fazer”, afirma.

No Suns, vale também a menção para o ala Gerald Green, que tem aproveitado os espaços abertos por seus dois armadores. Neste período, tem médias de15 pontos e quase quatro chutes de três pontos por jogo (3,7). O jogador que já teve de apelar para Rússia e China para tentar se encontrar como jogador de basquete e regressar aos Estados Unidos,  recuperou o rendimento de sua breve passagem pelo Nets na temporada 2011-12. Mantendo essa produção, vai deixar a troca que enviou Luis Scola ao Pacers cada vez mais desequilibrada a favor do time do Arizona. Quem diria, Larry Bird, quem diria?

Tyreke Evans, ala-armador do New Orleans Pelicans.
Como novato, Evans terminou sua temporada com médias superiores a 20 pontos, 5 rebotes e 5 assistências. Em toda a história da NBA, quais os únicos jogadores que atingiram esse tipo de rendimento? Michael Jordan, LeBron James e Oscar Robertson.

Bom para você?

Evans para a cesta, de 6º homem

Evans para a cesta, de 6º homem

A galera em Sacramento acreditava ter recebido seu próprio Messias, alguém pronto para resgatar os  anos dourados de Webber, Bibby, Divac e Peja. O que aconteceu a partir de 2008-09? O Kings seguiu perdendo de todo mundo, basicamente. Uma equipe horrorosa, na qual Evans se afundou também. De repente, sua temporada de calouro passou de proeza estatística para o devaneio de um fominha.

Daí que, quando o Pelicans investiu US$ 44 milhões por quatro anos de contrato com o ala, poucos entenderam. A sensação era de que ele merecia muito menos – e que não ficava muito claro o que o clube estava pensando, uma vez que já tinha Jrue Holiday e Eric Gordon no elenco, jogadores que gostam de segurar a bola por um bom tempo também.

Se o jovem time ainda busca um melhor acerto, especialmente na defesa, apostando agora na contratação de Alexis Ajinça, no ataque o desenvolvimento é realmente positivo – eles têm a sexta melhor ofensiva. E a contribuição de Evans tem sido importante para isso, mesmo que seu desempenho na linha de três pontos seja desastroso e que sua pontaria de dois pontos também esteja muito abaixo do esperado.

Acontece que o volume de jogo que Evans tem ao sair do banco de reservas tem sido o suficiente para compensar a pontaria desacertada. Com uma projeção por 36 minutos de 18,3 pontos, 6,3 assistências e 6,7 rebotes – que basicamente supera o que fez como novato –, se firmou como um candidato ao prêmio de sexto homem da liga. Curiosamente, quando Dell Demps, ex-Spurs, conversou com o atleta, ele vendeu esse papel como uma interessante possibilidade a ser estudada pela jovem pretensa estrela. Manu Ginóbili seria o exemplo. Evans gostou da ideia – está colhendo frutos, agora, com o maior índice de eficiência de sua carreira. Podendo ser decisivo também:

Com Gordon mais uma vez afastado por contusão por cinco jogos, o ala-armador tem brilhado, com 20,2 pontos, 8,2 assistências e 5,6 rebotes. Uma dessas exibições foi especial para o atleta: no dia 23 de dezembro, ele ajudou o Pelicans a vencer por 113 a 100 o bom e velho Kings, em Sacramento. Foram 25 pontos e 12 assistências.

“Quandoe stava com a bola, ouvia o Isaiah Thomas dizendo o que ia fazer. Eu fazia a mesma coisa e ainda assim fazia a cesta. Mas você sabe: era apenas diversão”, disse Evans.

Brandon Knight, armador do Milwaukee Bucks.
O rapaz não teve dó alguma do arrebentado Los Angeles Lakers. Na última terça-feira, na despedida de 2013, usou o Staples Center como palco para o jogo de sua vida na NBA até aqui, marcando um recorde pessoal de 37 pontos –18 deles apenas num terceiro quarto devastador em que ele parava em qualquer ponto da quadra, arremessava e balançava a redinha.

Ok, considerando que um Jordan Farmar manco e o lento-quase-parando Kendall Marshall eram seus principais marcadores, a quantia pode não parecer muita coisa. Mas Knight estava batendo na pronta já. Nas sete partidas antecedentes, ele já havia estabelecido médias de 20,7 pontos, 6,0 assistências e 5,8 rebotes. O aproveitamento, está bem, foi de apenas 43% de quadra, mas já superior aos 40,1% que tem na temporada ou os 40,9% de sua carreira.

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Knight: acima da média apenas na quina esquerda da quadra e na cabeça do lance livre. De resto? Aprendendo

Sim, Knight ainda está longe de ser um grande arremessador, ou uma ameaça assustadora no ataque. Só tem 22 anos, porém, e pela primeira vez tem carta branca para criar e se virar na NBA. Vale o teste para o Bucks, um time que viu suas metas completamente despedaçadas já no primeiro mês de campanha,

Mais um do Bucks: Khris Middleton. O ala foi repassado de Detroit a Milwaukee como contrapeso na negociação de Brandon por Brandon (Jennings). O ala revelado pela universidade de Texas A&M era tido como um prospecto de potencial considerável por alguns scouts, mas não dos mais badalados. Depois de um ótimo ano como segundanista na NCAA, se recusou a entrar no Draft e viu sua cotação despencar na temporada seguinte, toda detonada por uma lesão no joelho. Dessa vez, não se importou e se inscreveu no recrutamento de 2012. Terminou selecionado pelo Pistons em 39º, já na segunda rodada.

Num elenco cheio de alas jovens, recebeu minutos mais na metade final da temporada e passou, francamente, despercebido. Ele ainda teve flashes na liga de verão de Orlando deste ano, mas Joe Dumars não se importou em cedê-lo para ter um armador que julga de ponta para comandar sua equipe.

Em meio a tantas lesões no Winsconsin – Carlos Delfino, coitado, ainda nem pisou em quadra –, Middleton teve sua chance e a agarrou firme. Agora ao lado de Giannis Antetokoumpo (que já pede há tempos um post só dele), vem formando uma dupla de alas de muito potencial. Somem aí o ala-pivô John Henson, e o senador Herb Kohl queria ver seu time vencendo agora. Mas pode ter ganhado muito mais que isso para o futuro.

Wesley Matthews, ala do Portland Trail Blazers.
Matthes ficou pê da vida quando soube do número 130 durante as férias. Era essa a sua posição no ranking  anual de melhores jogadores da liga que o ESPN.com publica.

“Meus amigos já estavam me provocando e me deixando animado para a temporada. Eu estava me preparando para voltar extremamente faminto, como se não tivesse comido um hambúrguer há várias semanas (nota do editor: : D).  Mas quando saiu o ranking da ESPN? Aquilo foi maluco. Aquilo foi puro desrespeito”, afirmou em entrevista ao The Oregonian.

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Wesley Matthews, matando tudo de 3

Essa á frase de alguém fulo, totalmente fulo com tudo e todos. O ala levou para o pessoal. “Nunca me deram o benefício da dúvida na minha vida, então por que começariam agora?”, completou, numa pergunta retórica. Treinou individualmente com o assistente técnico Nate Tibbetts – que viajou até a cidade do jogador, diga-se –, trabalhou duro e tentou expandir seu jogo para além do rótulo de “bom arremessador de três pontos”.

O resultado a gente está vendo. É mais um que curte a temporada mais eficiente de sua carreira, matando acima da média da liga em praticamente todos os cantos da quadra – ainda que se destaque, mesmo, pela periculosidade nos tiros de longa distância, com 43,1% de suas tentativas.

Damian Lillard e LaMarcus Aldridge são os líderes da passeata ruidosa que faz o Blazers neste campeonato, mas Matthews, cheio de som e fúria, também faz valer o piquete.

Trevor Ariza, ala do Washington Wizards.
Se você for fazer um levantamento estatístico do quão eficiente o atlético Ariza foi durante a sua carreira, vai reparar que, do modo como está jogando hoje, ele só fez quando dirigido por Phil Jackson em Los Angeles, entre 2008 e 2009. Naquela época, ele também buscava um novo contrato, a primeira grande bolada de sua carreira.

Se a gente for descontar que fica difícil para Randy Wittman qualquer comparação com o Mestre Zen, sobra um paralelo para a versão 2013-14 de Ariza: sim, ele está novamente prestes a se tornar um agente livre. Tsc, tsc.

Descontadas as motivações que o ala possa ter, não dá para negar que ele esteja fazendo de tudo para ajudar o Wizards em sua tortuosa e tão aguardada trilha de volta aos playoffs do Leste. Em termos de índice de eficiência, só fica atrás do já imponente John Wall e de Nenê.

Da ocasião em que o Wizards chegou ao Rio de Janeiro, reconheço que o conselho publicado para o espectador presente na Arena HSBC era se concentrar na forma de arremesso de Martell Webster – e que para todos simplesmente ignorassem o que saísse de Ariza. Pois o ala deu um tapa na cara da sociedade crítica. Ele, que nunca havia acertado mais que 33,5% de seus chutes de três em sua carreira, elevou gradativamente seu acerto pelo time da capital aos mais que decentes 43,4% deste ano – sem diminuir a carga (são 5,8 disparos por partida).

E um rendimento desse faz toda a diferença. Pois o ala segue um personagem dinâmico em outras facetas do jogo, com sólidos números de rebote e assistências para sua posição e incomodando bastante nas linhas de passe.

Sobre o alto percentual de três pontos, o campeão da NBA em 2009 deu crédito a John Wall. “Ele sabe que estaremos correndo ao seu lado. Sabe aonde estaremos. Se a defesa se fechar, ele sabe tem a nós para recorrer e passar a bola para fora”, disse.

Por um punhado de dólares a mais, nada mal. Nada mal, mesmo.


15 times, 15 comentários sobre o Oeste da NBA
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Giancarlo Giampietro

Spurs x Blazers

O Blazers cria ainda mais confusão no Oeste Selvagem da NBA

A série começou ontem, com o tenebroso Leste. Agora falamos dos primos ricos.

Antes de passar por cada franquia, em castas, é mandatória a mesma menção de ontem: sobre o quão patética vem sendo a porção oriental da liga norte-americana, com apenas três times acima da marca de 50% de aproveitamento, enquanto, do lado ocidental,  apenas quatro estão no lado negativo. Isso muda tudo na hora de avaliar o quão bem um time está jogando ou não num panorama geral. Ter de enfrentar Sixers, Magic, Bucks e… (!?) Nets e Knicks mais vezes do que Warriors, Wolves, Grizzlies e… (!?) Suns ajuda muito para inflar os números de sua campanha. É como se fosse um imenso ***ASTERISCO***.

Os dois ainda no topo, ainda que em segundo e terceiro
Pela consistência que apresentam nas últimas duas temporadas, ainda me sinto obrigado a separar as duas franquias, mesmo que estejam, na manhã desta quarta-feira, atrás do Portland Trail Blazers na tabela.

San Antonio Spurs: pode muito bem ainda haver resquícios de um trauma psicológico daqueles. É quase inevitável. Mas a fase de ressaca, ressaaaaca, mesmo, das brabas, se encerrou em algum ponto das férias. Porque o Spurs de Gregg Popovich simplesmente não vai parar de vencer, mesmo que Tim Duncan venha devagar desta vez, depois de uma temporada na qual ele desafiou qualquer noção que tenhamos sobre esse processo chamado envelhecimento. Sério: desde 1997, o time não sabe o que é terminar um campeonato com aproveitamento abaixo de 64,6% (!!!). Custa acreditar? Confiram esta lista aqui. Então, se alguém um dia falar em “padrão de excelência” para você, pense no que é o time de Duncan, Pop, Parker e Manu, como a comparação ideal. Neste ano, a turma de Tiago Splitter está no top 4 de melhores defesas (2ª, atrás do Pacers, que não conta mais) e ataques (4º, atrás de Portland, Miami e Houston). E-qui-lí-brio.

Oklahoma City Thunder: Nada mudou muito por aqui, gente. Eles ainda têm dois dos dez melhores jogadores da liga, que podem decidir as coisas no ataque quando bem entendem e um conjunto muito atlético para fechar seu garrafão e sustentar a quinta defesa mais eficiente do campeonato. Esses são dados bons o bastante para colocá-los na briga com qualquer cachorro grande. Mas a má notícia é que… Bem, até quando Scott Brooks vai depender tanto dos talentos individuais de seus dois cestinhas? No geral, o Thunder é apenas o 17º time que mais distribui assistências na liga. Dos favoritos ao título, só o Indiana Pacers está abaixo (em 21º, com uma dependência de Paul George, sim, mas também com jogadas mais tradicionais de costas para a cesta com Roy Hibbert, o que desacelera as coisas). O que isso significa? Enquanto depender das jogadas de isolamento para Durant ou Wess, Brooks está esperando que os dois se desenvolvam e elevem o ataque por conta própria. É possível, claro – ninguém pode julgar Durant como um cara acomodado, e cara já está num nível tão alto que simplesmente não tem muito o que se melhorar. A não ser, claro, que esperemos que ele acerte 75% de seus arremessos de quadra. Fora isso, contata-se  a notável evolução de Reggie Jackson como o terceiro cestinha do time – uma das consequências da lesão de Russell Westbrook. Jeremy Lamb e Perry Jones III também estão caminhando, mas ainda falta muito para que sejam confiáveis sob pressão. Ah, e o Steven Adams, com seu jogo enérgico, físico e atrevido, já está no top 5 de inimigos públicos. Vindo da Nova Zelândia, sendo um novato, é um feito e tanto.

Chumbo grosso
De como a Conferência Oeste é absurdamente competitiva.

Portland Trail Blazers: ok, ok, para os fãs do Blazers – e eu sei que vocês tão por aí, sim –, já pode parecer um ultraje. E pode ser, mesmo. Porque (vai) chega(r) uma hora em que você tem de deixar as dúvidas de lado e abraçar  a equipe da Rip City como uma realidade nesta temporada. São 18 vitórias e quatro derrotas, aproveitamento de 81,8% (o segundo melhor), +6,3 pontos de saldo (quarto), nove vitórias e duas derrotas seja em casa como na estrada (as segunda e melhores marcas, respectivamente). Por mais que possam perder um pouco desse ritmo, o quanto seria? O Blazers sofreu todas as duas quatro derrotas contra adversários da mesma conferência, mas também já somou dez vitórias nessas mesmas condições. Seu rendimento em quadra hoje é praticamente inverso ao do Pacers: tem o ataque mais eficiente e apenas a 22ª defesa. LaMarcus Aldridge nunca pontuou ou reboteou tanto assim em sua carreira. Damian Lillard elevou seu aproveitamento de três pontos, diminuiu seus turnovers e melhorou na defesa – todos passos cruciais para o armador se tornar uma força a ser temida aos 23 anos. Nicolas Batum se tornou uma ponte perfeita entre o armador e o pivô. Wesley Matthews está jogando demais da conta. E, por fim, Robin Lopez, Maurice Williams e Dorrell Wright solidificaram a rotação. Então, quer dizer: talvez seja uma questão de tempo para os caras subirem de andar. Vamos ver.

Houston Rockets: tudo aqui é matemático. O Rockets é dos times que mais bate lances livres e arremessa de três pontos na liga, eliminando aqueles chutes considerados de menor eficiência. Para isso, eles vão correr, correr e correr, com a expectativa de chegar ao ponto desejado em quadra antes que a defesa se estabeleça (uma combinação do legado dos Sete Segundos ou Menos do Phoenix Suns com a onda estatística analítica que vem tomando os escritórios das franquias, veja só). James Harden dá as cartas nesse sentido. E, dentro desse plano de jogo, estão encaixando a presença singular que é Dwight Howard, com tudo aquilo que ele te oferece de bom (rebote, cobertura defensiva, corta-luzes e enterradas) e mau (a choradeira de sempre e a necessidade de se afirmar como um superpivô ofensivamente, coisa que não é). Por mais antipatia que possa ter ganhado desde a última temporada regular, fato é que sua presença acrescenta muito em quadra, mesmo que não seja o mesmo de três anos atrás. Então Omer Asik (um dos nossos preferidos desde a última encarnação) que nos desculpe: pode fazer o bico que for, mas a vida é assim. Jeremy Lin se redescobriu como um sexto homem mais finalizador, Chandler Parsons está preparado para receber um bom aumento e o intrigante Terrence Jones deu uma acalmada nos rumores de troca.

Los Angeles Clippers: elenco é para isso, né? Para usar, para dar segurança. E ainda bem que a epidemia se limitou aos alas (JJ Redick, Matt Barnes e o competente novato Reggie Bullock), pois era o ponto mais forte da rotação de Doc Rivers. Ok, perder três de uma vez quebra qualquer treinador, e é por isso que você já está ouvindo sobre Stephen Jackson, o Capitão Jack Maluco, mas imagine se o pronto-socorro fosse para Blake Griffin ou DeAndre Jordan? Alguém aí estaria preparado para confiar 30 minutos para Ryan Hollins, BJ Mullens ou Antawn Jamison? Pois é, nem eu. Daí que se faz urgente, mas urgente demais a contratação de mais um pivô completo, ou que pelo menos saiba defender e converter lances livres. Não só como apólice de seguro, mas para poder dar um descanso aos titulares, mesmo, ou rendê-los no final de um jogo equilibrado em que Jordan não possa sofrer faltas de jeito algum. Jordan está ganhando mais confiança de Rivers, com a maior média de minutos de sua carreira, mas precisa de ajuda, para bancar ou melhorar a décima defesa mais eficiente da liga. E não dá para saber bem se Lamar Odom seria a resposta aqui.

Denver Nuggets: com todo o tato e delicadeza do mundo, o prestigiado e novato Brian Shaw está tentando mudar o Denver Nuggets. Tanta sutileza tem duas razões: 1) pegar leve com George Karl e o regime anterior, por (?) ética; 2) conduzir uma revolução em quadra também não é das coisas mais fáceis, ainda mais quando se tem de lidar com jogadores que podem ter dificuldade para acompanhar a bola e, ao mesmo tempo, saber em que ponto da quadra está. É complicado. Por outro lado, o time pode compensar a falta de disciplina ou inteligência defensiva com muita energia, rodando diversos jogadores – 12 deles já ganharam mais de 100 minutos –, aproveitando-se da altitude no mando de quadra e se mantendo no páreo. Quando as defesas não estão preocupadas em parar Ty Lawson, vem Nate Robinson do banco, os dois baixinhos com velocidade e alta periculosidade. Timofey Mozgov saiu da hibernação, e jogando bem. Falta uma previsão para o retorno de Danilo Gallinari  e que Wilson Chandler acerte os ponteiros de seu relógio.

Dallas Mavericks: longa vida a Dirk Nowitzki! E bem-vindo seja o novo Monta Ellis! O baixinho topetudo vai tentando provar ao mundo que todas as críticas que recebeu durante sua carreira em Oakland e Milwaukee não passavam de uma tremenda injustiça com um dos maiores cestinhas de todos os tempos um espevitado cestinha.  Ele vem com a terceira melhor marca nos arremessos de quadra de sua carreira e a melhor desde 2008, ano em que jogava, coincidentemente, por um novo contrato. Com 37,3%, ele também nunca havia chutado tão bem assim do perímetro. Selecionando melhor seus arremessos, mas pondo pressão contínua para cima das defesas, o “Monta Ball” vem ajudando a dar um novo fôlego ao craque alemão, que está pegando menos rebotes, mas elevou suas médias nos arremessos, também recuperado de lesões que chacoalharam seus últimos dois anos. Os dois juntos, auxiliados pela mão certeira de José Calderón, comandam o sétimo ataque mais eficiente. O problema é a defesa, a sexta pior da liga, que precisaria de um Shawn Marion um pouco mais novo, além de um Tyson Chandler – e não de um Samuel Dalembert – para fechar espaços.

Golden State Warriors: o time é talentoso, mas a margem de segurança não é das maiores. Digo, o banco é bastante limitado. Então, quando sai um faz-tudo como Andre Iguodala, em quem se aposta muita coisa (o aperto da defesa, mais movimentação de bola no ataque, explosão nos contragolpes, alívio para Stephen Curry), tudo fica um pouco mais difícil. Ser o time de toda a liga que mais partidas fora de casa disputou até agora também interfere na campanha, ainda mais para um grupo que tem tanto respaldo em seu ginásio. Desde que Iguodala volte bem e relativamente rápido de sua lesão na coxa e que os tornozelos de Curry e Bogut aguentem bem, ainda não é hora para se alarmar, mesmo que estejam no momento fora da zona dos playoffs. Se os segundanistas Harrison Barnes e Draymond Green evoluírem, então, melhor ainda.

Memphis Grizzlies: de todos os aspirantes ocidentais a grandes resultados nesta temporada, aqui está o time na maior enrascada. A troca de Lionel Hollins por Dave Joerger, por enquanto, só surtiu efeitos negativos, especialmente em na contenção, sem pegada nenhuma no momento – tinham a segunda melhor retaguarda na temporada passada e agora são apenas a 18ª. Marc Gasol não voltará tão cedo e, por mais que Kostas Koufos se esforce nos rebotes e seja grande igual, não tem a mesma leitura de jogo e voz sobre seus companheiros. Não obstante, no ataque, o time ainda não consegue ameaçar de longa distância (sua mira de 33% é apenas a 23ª entre 30 concorrentes), e a vida de Zach Randolph anda mais sofrida – mais utilizado no ataque, ele presta ainda menos atenção na defesa. As equações de John Hollinger certamente não contavam com a baixa de seu melhor jogador, mas é bom o ex-analista tentar agora outros cálculos para não ser achincalhado na Grindhouse.

Minnesota Timberwolves: por que o Wolves estaria em melhor situação que o Grizzlies se, mesmo com time mais ou menos completo, eles estão atrás na classificação? Bem, alguns indícios: seu saldo de +4,0 pontos é maior que o dos cinco que estão logo acima na tabela. Além disso, seu calendário nos primeiros 22 jogos foi o terceiro mais complicado da temporada. A equipe não está no topo nem ofensivamente, nem defensivamente, mas parte de uma sólida base (está curiosamente em 12º nas duas listas). Kevin Love retornou com tudo, embora com baixo rendimento nos arremessos. O que é pega é que, num time com tão poucos chutadores de média e longa distância, o ala-pivô acaba sendo o responsável por desafogar o próprio jogo, se é que faz sentido isso (sobe a plaqueta para o auditório: “RISOS!”). Mas, sério: Kevin Martin chuta bem que só, mas Corey Brewer não está matando nada, Chase Budinger ainda não estreou e Ricky Rubio é uma negação nesse quesito. O que temos, então, é um time que consegue ser pior que o Grizzlies no fundamento (32,9%), o sétimo pior do campeonato. Ainda assim, com um ataque agressivo, que cobra 27,1 lances livres por jogo (quarto melhor), eles dão um jeito de compensar essa deficiência.

A maior surpresa da liga
Não, ninguém esperava por isso.

Phoenix Suns: nem mesmo o gerente geral Ryan McDonough, Discípulo de Danny Ainge em Boston, o jovem cartola tem uma visão bastante pragmática das coisas. Não se importava em gerenciar um saco de pancadas este ano desde que ganhasse um bom novato no próximo Draft. Mas ele, tal como seu ex-chefe, parece ter acertado em cheio na contratação de seu treinador. Jeff Hornacek é aspirante a treinador do ano desde já, e talvez nem importasse que seu renovado time estivesse ocupando um inacreditável oito lugar no Oeste Selvagem. Ele já teria uma candidatura de respeito ao fazer o Phoenix Suns – de todos os times, o PHOENIX SUNS!!! – defender, além de ter resgatado um pouco de seu poderio ofensivo. Eles estão em 16º agora, mas ficaram por várias semanas no top 10, e essa queda se deve muito ao desfalque de Eric Bledsoe por alguns jogos. Bledsoe, aliás, que vai justificando o investimento, compondo uma dupla de armadores muito promissora com Goran Dragic. Os irmãos gêmeos Morris têm formado uma dupla dinâmica no banco – e entrosamento era o mínimo que a gente esperava deles, né? –, Miles Plumlee surgiu do nada e  PJ Tucker é um dos operários que merecia mais atenção. Agora, será que eles têm fôlego para competir até o fim? Será que isso seria interessante? Será que McDonough vai permitir isso?

No limbo
Nem muito para cima, nem muito para baixo. É difícil fazer qualquer prognóstico…

Los Angeles Lakers: olha, ninguém dava muita bola, mas Mike D’Antoni vinha fazendo seu melhor trabalho desde os tempos de Suns. Vejamos, sem Kobe, Nash, eles mais venceram do que perderam. Com Jordan Farmar, Steve Blake, Wesley Johnson, Xavier Henry, Jodie Meeks Nick Young e Jordan Hill. Agora… Como ele estava conseguindo isso? Bem, aplicando seus sistema. Correndo muito (com o terceiro ritmo mais intenso do campeonato). Agora, com Gasol e Kobe baleados, será que isso funciona? Dificilmente. E ele conseguirá montar um time produtivo de outra forma? Bem, Gasol abertamente já duvidou disso. E, sobre o espanhol, todavia, pairam grandes dúvidas. O que acontece? Ele não é mais o mesmo por que D’Antoni não sabe usá-lo, ou D’Antoni não o explora mais por que o pivô não consegue? Consultando os números, vemos que ele vem sendo envolvido  como nunca antes aconteceu no ataque do Lakers. Mesmo: mais até que na época dos triângulos do Mestre Zen. Com 33 anos, o espanhol tem sido ainda menos eficiente do que na campanha passada, mesmo sem Dwight Howard para congestionar o garrafão. Seu percentual de quadra é disparado o pior da carreira.  Se o time ficar perdido entre acomodar suas estrelas e tentar abastecer um bando de anônimos, a campanha pode não dar em nada.

– New Orleans Pelicans: se eles estivessem no Leste,  estariam em quinto. No brutal Oeste, porém, são antepenúltimos. Com o time inteirão, já seria difícil beliscar uma vaga nos playoffs. Ficar sem o emergente Anthony Davis – melhor em praticamente todas as estatísticas básicas – por muito tempo? Essa disputa sai ainda mais cara – e o Philadelphia 76ers segue tudo isso com muita atenção. A garotada está atacando bem (sexta melhor ofensiva da liga), com muita gente habilidosa e chutadores rodeando no perímetro – especialmente o insano e único Ryan Anderson. Defensivamente, contudo, vão de mal a pior, com a quinta pior marca, e as coisas ficam ainda menos promissoras sem a envergadura e agilidade do Monocelha.

A turma do fundão
Um está confortável aqui. O outro já não aguenta mais.

Sacramento Kings: com novo proprietário, novo gerente geral, novo técnico e uma torcida que, sim, já não atura mais tantas participações no topo do draft. O estafe recém-empossado sabe disso e vai procurando fazer troca atrás de troca para melhorar o talento disponível. Derrick Williams e Rudy Gay até se enquadram nessa teoria, comparando com quem saiu. Mas o que eles têm em comum? São dois jogadores muito mais concentrados em seu próprio arremesso do que numa proposta mais coletiva. Basicamente: sai um, entra outro, e o Kings só continua com fominhas em sua escalação. Que os dois reforços não atrapalhem, contudo, o que DeMarcus Cousins e Isaiah Thomas vêm fazendo – é meio chocante, mas os dois estão entre os dez jogadores mais eficientes nestes primeiros meses. O rendimento da dupla não traduziu em muitas vitórias, é verdade, mas sua tabela foi a segunda mais dura até agora.

Utah Jazz: a única pessoa em Salt Lake que deve estar preocupada com o que vem acontecendo é o técnico Ty Corbin, na berlinda. De resto, vai tudo de acordo com o plano. O gerente geral Dennis Lindsey quis abrir espaço para seus jogadores mais jovens. Chega uma hora em que você precisa ver o que há de concreto naquilo que chamamos de “potencial”. Daí que, dos dez que mais minutos receberam minutos nos primeiros 23 jogos, só dois passaram dos 30 anos e cinco deles não passaram dos 24 ainda. Se, no meio do caminho, eles forem perdendo, não tem muito problema – ainda mais sabendo agora que Jabari Parker é mórmon. O Utah joga, no momento, para perder, e a tabela mais difícil do campeonato contribui para isso. Há uma razão para se contratar  um Andris Biedrins.


NBA: Divisão Noroeste, para curtir e chiar
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Giancarlo Giampietro

NBA 2013-2014: razões para seguir ou lamentar os times da Divisão Noroeste

Cada equipe tem suas particularidades. Um estilo mais ofensivo, uma defesa mais brutal, um elenco de marmanjos cascudos, outro com a meninada babando para entrar em quadra. Vamos dar uma passada agora pela última divisão da série, a Noroeste, mirando o que pode ser legal de acompanhar e algumas coisas que provavelmente há de se lamentar. São observações nada científicas, estritamente pessoais, sujeitas, então, aos caprichos e prediletos de uma só cabeça (quase) pensante:

DENVER NUGGETS
Para curtir:
Ty Lawson, mais uma das formiguinhas atômicas da NBA e talvez a melhor delas: aqueles jogadores que sabemos que nem de 1,80m passam, mas são listados assim da mesma forma. Este baixinho sabe fazer de tudo um pouco, mas correr é sua especialidade.

– Nate Robinson como reserva de Lawson. Acreditem: nenhum treinador acorda bem no dia sabendo que sua defesa vai ter de ligar com uma coisa dessas. Pressão por 48 minutos, sem parar.

Kenneth Faried, o Manimal.

– Os feitos extraordinários de JaVale McGee.

Timofey Mozgov volta a jogar: este cara não é uma piada, podem confiar.

Andre Miller dando um pouco de estabilidade, o mínimo que seja, a essa turma muito louca (e jovem).

Brian Shaw, e aí? Pintou a chance.

Para chiar:
– O desmanche de um time singular e intrigante.

– Danilo “Gallo!!!” Gallinari afastado por tempo indeterminado de quadra.

– As constantes pequenas e chatas lesões de Wilson Chandler.

– Uma rotação redundante e insana de pivôs duplicados, sem química alguma.

– Os feitos extraordinários (e estúpidos) de JaVale.

Randy Foye… Sério, não pode ser titular de nenhuma equipe.

– O eterno potencial de Anthony Randolph jamais colocado em prática por mais de duas semanas ininterruptas.

Evan Fournier x Jordan Hamilton x Quincy Miller: ninguém joga os minutos devidos, nenhum deles pode mostrar do que são realmente capazes.

MINNESOTA TIMBERWOLVES
Para curtir:
– Vixe, a lisa é longa… Vamos tentar nos controlar.

– O que dizer de um Kevin Love em forma? Fundamento e inteligência marcantes. Arremessador perigoso de todos os cantos, um passador extremamente perigoso debaixo da cesta e no perímetro –ou até mesmo na reposição de bola depois de uma cesta. Também o reboteiro mais talentoso da liga.

Ricky Rubio e as assistências que só ele vê. Bônus: a facilidade que tem para pressionar e roubar a bola, com braços cooooompridos e mãos muito ágeis. Vejam o vídeo abaixo, por favor. Tudo isso aconteceu e apenas um  jogo, nesta quarta de noite:

Kevin Martin usando os infinitos ângulos de deslocamento em quadra para receber o passe em boa posição para a conversão.

Nikola Pekovic arrebentando com a fuça de quem possa ousar se meter em seu caminho. Expresso montenegrino.

Corey Brewer, saçaricando por toda a quadra, compensando de alguma forma a perda de Kirilenko.

Rick Adelman, bastante discreto, muito competente, sempre se ajustando ao que tem em mãos, em vez de forçar goela abaixo um “sis-te-ma”.

José Juan Barea, a ameaça que ninguém espera. É como se ele fosse um Ty Lawson porto-riquenho, com todas as devidas proporções.

Para chiar:
– A praga das contusões. Deixem essa rapaziada em paz!

Derrick Williams, lost in translation.

– Toda a fome de Shabazz Muhammad, aquele que dominou nas “categorias de base” ao jogar com um RG falsificado.

Love ainda sem fechar todos os espaços devidos na defesa: não é porque você não é uma presença intimidadora, que não possa ser um marcador capaz.

– O talento de Alexey Shved à deriva.

OKLAHOMA CITY THUNDER
Para curtir:
– Tudo o que estiver ligado a Kevin Durant. A leveza enganadora de seus movimentos de alta periculosidade. Evoluindo a cada temporada, mesmo sendo o segundo melhor jogador do planeta. Afinal, há um LeBron pela frente para ser ultrapassado.

– No fim, até que Russell Westbrook faz falta, não?

Serge Ibaka e seu arremesso trabalhado com esmero.

– Arroz, feijão e Nick Collison.

– O calouro Steven Adams já arranjando um montão de inimigos com poucas semanas de liga, de tanto que enche a paciência ao atacar a tabela ofensiva.

Reggie Jackson, pronto para outra.

Para chiar:
– A perda de James Harden. Ainda.

Kendrick Perkins, o único assistente técnico escalado como titular de um time que sonha com o título.

– Tá, mas ainda podemos travar os dentes quando Westbrook tenta alguns chutes horrendos com cinco segundos de posse de bola, a média distância.

Derek Fisher passou muito do ponto já.

Jeremy Lamb ainda aprendendo: não é culpa dele, definitivamente, mas Durant e Westbrook precisam de ajuda para agora. Vai dar tempo?

Ibaka por vezes passando muito mais a imagem de um jogador durão do que a consistência requerida.

Hasheem Thabeet, um gigante sem ter quem marcar.

PORTLAND TRAIL BLAZERS
Para curtir:
LaMarcus Aldridge e seu arremesso de turnaround impossível de se marcar. É como se a bola saísse da altura do telão central.

Damian Lillard dizendo todas as coisas certas depois de um ano de badalação. Estrela? Só se for provando em quadra.

Nicolas Batum, o homem (perfeito) de ligação entre Lillard e Aldridge.

– As baratas e precisas contratações de Mo Williams e Dorrell Wright para o banco.

Joel Freeland usando o cérebro para sobreviver na liga.

– A torcida hipponga apaixonada de Portland.

Para chiar:
– A preguiça de Aldridge para expandir seu jogo. Não vale pedir troca quando você não faz o máximo possível para levar sua equipe a um patamar mais elevado.

– A falta de concentração de Lillard na defesa. Até ele sabe. Viu os vídeos de sua campanha de calouro e se admitiu envergonhado.

Thomas Robinson dando trabalho nos bastidores, mesmo sem ter o que apresentar em sua defesa em quadra.

– Que tipo de jogador exatamente é Victor Claver?

UTAH JAZZ
Para curtir:
Gordon Hayward, livre para criar e tomar conta do time. Imaginem o culto a este rapaz em Salt Lake City. No ataque, ele pode fazer de tudo.

Enes Kanter e Derrick Favors progredindo lado a lado, para formar uma dupla de pivôs à moda antiga.

Alec Burks também recebendo mais chances para provar seu talento em jogos de verdade.

– O poste Rudy Gobert surpreendendo o cestinha mais desavisado.

Para chiar:
Trey Burke privado de meses importantes de adaptação, e John Lucas III como titular.

– A falta de inventividade por parte de Ty Corbin, que, ao mesmo tempo que falha em colocar o velho sistema de Sloan em prática, não consegue desenvolver nada de novo para seus promissores jogadores.

– A decadência completa – e irrefutável? – de Andris Biedrins, o letão bronzeado, mas infeliz, traumatizado com seu lance livre.

– O velhaco Richard Jefferson tentando, mas sem conseguir.

– O nome Jazz não estar em New Orleans.


Oden tenta reprisar em Miami o final de carreira de pivô legendário da NBA
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Giancarlo Giampietro

Bill Walton, capitão Blazer por pouco tempo

Desde os tempos de colegial, ele já era anunciado como mais um da linhagem dos superpivôs norte-americanos, inevitavelmente comparado a Kareem Abdul-Jabbar. Foi o número um do Draft da NBA via Trail Blazers. Sua imagem ficou abalada precocemente por uma série de lesões e, depois de celebrado em Portland, acabou descartado. Até que um time com tradição de títulos resolveu apostar nele. O cara se juntou ao “Big Three”, sem muita pressão – o que pudesse entregar em quadra já seria lucro, ao lado de tantos craques.

É, foi assim, em 1985-86, pelo Boston Celtics de Bird, McHale e Parish, que o legendário Bill Walton conseguiu um último suspiro em uma carreira que estava prometida, destinada a ser uma das maiores, mais dominantes da liga, mas cujos sonhos, a despeito do título em 1977, foram frustrados pouco a pouco, à medida em que seu corpo foi se quebrando, num sofrimento que parecia não ter fim.

Walton, glórias tardias pelo Boston

Walton e Oden: agonia Blazer

Mais de 20 anos depois, com um Sam Bowie no meio do caminho, os fiéis torcedores de Portland agora repetem esse processo e veem Greg Oden tentando reprisar a trajetória de Walton com o Miami Heat.

Troféu e queda
O ruivo, esguio e multitalentoso Walton se tornou jogador do Blazers em 1974. Excelente defensor, era daqueles que dava o toco não só no momento certo, mas como na direção precisa para se iniciar o contra-ataque, ágil na cobertura e no fechamento de espaços. No ataque, um passador de inteligência incrível, com domínio de qualquer fundamento que você possa imaginar. Com esse repertório, chegou ao clube, que nunca havia disputado os playoffs, como uma espécie de Messias.

Na universidade, jogando pela mítica UCLA de John Wooden, o pivô havia capitaneado duas temporadas regulares com resultados perfeitos: 30 vitórias e nenhuma derrota, participando da maior série invicta do campeonato: 88 partidas. Um time bicampeão e eternizado. Não havia como, então: era uma aposta certeira para transformar o Blazers de saco de pancadas a um time dominante.

Não fossem seus problemas médicos que começaram já aos 22 anos. Já nas duas primeiras temporadas ele sofreu com fraturas múltiplas (do pé ao nariz), limitado a apenas 86 partidas de 164 possíveis, pouco mais da metade. Sua equipe, claro, seguiu fora dos mata-matas, mesmo num período de declínio técnico da NBA, com o talento norte-americano dissipado entre a liga e a ABA.

Até que, em 1976-77, mesmo perdendo mais 17 jogos, trabalhando com mais um treinador histórico, Jack Ramsay, Walton conseguiu se recuperar fisicamente. Liderou o campeonato em rebotes (14,4) e tocos (3,2), somando ainda 18,6 pontos, 3,8 assistências em 34,8 minutos, para ganhar um dos títulos mais especiais da história, varrendo o Lakers de Abdul-Jabbar na final do Oeste e batendo na grande decisão o Philadelphia 76ers de Julius Erving, Darryl Dawkins e George McGinnis – e de Doug Collins (!) Mike Dunleavy (!!), Joe “Pai do Kobe” Bryant (!!!), além do inesquecível World B. Free, o precursor do #mettaworldpeace em nomes forjadamente utópicos.

Este time simbolizaria o que de melhor o basquete poder oferecer, com jogadores repartindo a bola feito socialistas, o talento de um complementando o do outro, fazendo com o que o conjunto fosse maior que a soma das partes – habilidade por habilidade, o Sixers era, disparado, o favorito ao título. Com Walton, a equipe parecia a caminho de dominar a liga. Mas os problemas físicos do pivô não cessaram, os egos cresceram a partir da conquista, a diretoria se viu pressionada a buscar outras alternativas e, rapidamente, o sonho se deteriorou. O ponto positivo dessa triste história é que ela nos proporcionou um relato imperdível no livro “The Breaks of the Game“, do jornalista David Halberstam. Aqui, o Sports Guy discorre com o brilho de sempre tanto sobre a obra como o falecido autor. Não houve tradução para o português, infelizmente, mas é possível ao menos ler Halberstam em uma definitiva biografia de Michael Jordan, relançada pela Editora 34.

Walton, NBA e contracultura

Walton, em tempos de angústia

Em 1977-78, o time chegou a vencer 50 de seus primeiros 60 jogos. Até que Walton sofreu uma fratura no pé. Sua produção era tão impressionante que, mesmo tendo disputado apenas 58 partidas, foi eleito o MVP da temporada. Retornando nos playoffs, o pivô voltou a se lesionar e, a partir daí, mergulhou em um período infernal, com seguidas decepções, até que entrou em conflito com os médicos e diretores do Blazers, crente de que estariam mentindo sobre seus diagnósticos, forçando que ele jogasse em condições distantes das ideais.

Walton não jogou em 1978-79 e, desiludido, se transferiu para o Clippers, que ainda tinha base em San Diego, aonde ironicamente iria encontrar Joe Bryant e World B. Free e mais alguns elementos que em nada lembravam seus ex-companheiros de Blazers – destaque para Sidney Wicks, um pretenso astro que viu sua média de pontos regredir temporada após temporada desde os 24,5 que fez como novato. Após participar de 14 jogos em 1979-1980, ele perdeu as duas temporadas seguintes também em razão de fraturas nos pés. Somou, enfim, 155 jogos entre 1982 e 1985 (de 246 possíveis), já de volta a Los Angeles com a franquia, mas sem conseguir elevar o time, que terminou os três anos na 11ª posição da conferência. Nesse período, chegou a cogitar o suicídio.

Um outro time perfeito
Sair do Clippers para o Boston Celtics, em 1985, era como trocar hoje o Charlotte Bobcats pelo San Antonio Spurs ou Miami Heat. Algo desse nível. Foi o que aconteceu com Bill Walton. Não deveria, então, haver sujeito mais sorridente naquele campeonato, depois de ele ser trocado por Cedric Maxwell e uma escolha de Draft que resultaria em Arvydas Sabonis. Ironicamente, essa escolha seria repassada ao… Portland Trail Blazers, claro.

Na Beantown, o ruivão se juntou a Bird, McHale, Parish, Dennis Johnson, Danny Ainge, Scott Wedman (e, ok, Greg Kite) para formar aquele que seria um dos maiores times da história. Para grande parte dos orgulhosos torcedores do Celtics, essa é considerada ao menos a melhor equipe que tiveram, superando os esquadrões de Bill Russell nos anos 60. Eles tiveram o terceiro ataque mais produtivo, a defesa menos vazada e conseguiram 63 vitórias, contra 19 derrotas – a melhor campanha da temporada regular. Mas estes números talvez não façam justiça ao que jogaram.

Nos playoffs do Leste, sofreram só uma derrota na semifinal para o Atlanta Hawks de Dominique Wilkins, tendo varrido o Chicago Bulls do jovem Michael Jordan, apenas em sua segunda temporada na liga, com média de, glup!, 43,6 pontos no confronto. Na final, tiveram a sorte (ou o azar, no ponto de vista de alguns fãs, que juram que eles esmigalhariam os arquirrivais) de enfrentar o Houston Rockets, que havia surpreendido o Lakers no Oeste. Com Hakeem Olajuwon também como um segundanista e o pirulão Ralph Sampson (outro que se lesionaria constantemente e não realizaria seu potencial), os texanos tinham um time muito promissor (e que naufragou mais adiante, servindo como exemplo numa caçada antidrogas da liga…), mas que não foram páreo para uma supermáquina como a de Boston. Vejam este massacre, no terceiro quarto do Jogo 5 da decisão:

Contra as “Torres Gêmeas”, Walton foi uma presença tranquilizadora para o Boston, dando bom descanso a McHale e Parish. Aliás, foi o seu papel durante toda a temporada, para ganhar o prêmio de melhor sexto homem. Foi um encaixe perfeito: Walton já não tinha mais condições atléticas para carregar uma equipe, ao passo que o Celtics poderia muito bem contar com uma ajudinha extra para um combate que nunca chegou a acontecer nos playoffs contra Jabbar. Feliz em quadra, cabeça em dia, milagre médico: Walton só ficou fora de duas partidas naquela temporada, estabelecendo um recorde pessoal. “Ele só joga quando quer, algumas vezes precisamos implorar para ele jogar”, brincaria Bird anos mais tarde.

Este acabou sendo seu campeonato informal de despedida. Na temporada seguinte, voltou a se lesionar. Ainda voltou para os playoffs, mas impossibilitado de causar qualquer impacto. E aí, sim, o Celtics voltaria a enfrentar o Lakers, perdendo por 4 a 2.

Remake
Obviamente, os paralelos entre Oden e Walton ficam limitados a coincidências: 1) era uma grande promessa colegial, comparado a Jabbar; 2) foi selecionado pelo Blazers como número um do Draft; 3) passou mais tempo na enfermaria, vivendo anos completamente conturbados; 4) tenta um recomeço com um time de ponta, liderado por outro big 3, de LeBron, Wade e Bosh. Em quadra, ele nunca chegou nem perto de produzir como o legendário pivô, nem mesmo esteve num time candidato a título. Também é bem mais jovem.

De qualquer forma, embora o ruivo tenha sido privado do auge, sem conseguir, estatisticamente, competir com os grandes pivôs da história, a história de Oden pode ser ainda mais triste, considerando que nem mesmo pôde desfrutar do início de sua carreira, perdendo toda a temporada de novato e sendo escalado, desde que ingressou na liga, em apenas 82 partidas no total, entre 2008 e 2009.

Qualquer contribuição que o pivô possa fazer o Miami neste próximo campeonato já será vista como enorme lucro para Pat Riley (técnico do Lakers em 1986 e 1987, aliás) – e, sem dúvida, virá como alívio, consolação e, quiçá, uma recompensa para alguém que teve de superar uma profunda depressão,  como se estivesse proibido a jogar basquete. Bill Walton certamente estará na torcida.


Campeão asiático, Irã está no Mundial. E o que mais sobre o 1º torneio classificatório?
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Giancarlo Giampietro

Haddadi ali com o bração aberto

Irã: WE ARE THE CHAMPIONS! Via @HamedHaddadi

A profecia se fez como previsto: 2013, e Hamed Haddadi lidera o Irã a mais um título do campeonato asiático da Fiba. Como MVP, claro.

Daria para fazer aquela autopromoção básica, né? Sacar aquele bacaninha, supimpa “conforme antecipamos”, mas isso já está mais batido que a própria rotina de glórias e dominância do pivô no vasto continente. Pensou em basquete de seleções na Ásia, pensou em Haddadi, meus amigos.

Na final, já com a vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014 garantida, o iraniano se aproveitou da ausência do americano Marcus Douthit e trucidou os pivôs das Filipinas, os donos da casa, somando 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos. Escreveria aqui que ele teve sua jornada de Shaquille O’Neal, mas nem isso vale, já que converteu 71,4% de seus lances livres.

Agora, descentralizando um pouco o post, fugindo da sombra de Haddadi, vale destacar que a final em Manila não foi exatamente um passeio para o país do Oriente Médio. O primeiro tempo terminou com uma vantagem de apenas um ponto (35 a 34) para os visitantes. Até que as parciais de 27 a 19 e 23 a 18 nos quartos seguintes resolveram a parada (85 a 71).

Foi um contraste de duas abordagens ofensivas distintas.

Os filipinos, por Deus!, arremessaram 34 vezes da linha de três pontos, contra 35 de dois. Por uma mísera e infeliz bolinha de dois que eles não conseguem a maioria absoluta das tentativas do meio da quadra. Um pecado certamente lamentado por Porto Rico e muitos patrícios. Não importando de onde dispararam, o fato é que a turma deixou os dois aros significativamente avariados, com uma pontaria de apenas 31,9% no geral – se de fora eles fizeram 29,4%, não dá para dizer que havia uma bola de segurança interna (apenas 34,3%).

Já os iranianos ao menos tinham Haddadi para desequilibrar. Com ele, acertaram 61,4% dos chutes de dois pontos, para compensar os desastrosos 17,6% de longa distância (3/17, uma blasfêmia). Eles também se atrapalharam todos com a bola, cometendo 19 turnovers.

De todo modo, mesmo com essa carência evidente no seu jogo de perímetro, é de se admirar o fato de que o Irã tocou sua campanha sem contar com a ajuda de nenhum estrangeiro, algo cada vez mais raro em competições internacionais. Jogaram, mesmo, e de forma competente, com seus Davoudichegani, Afagh e Jamshidijafarabadi, para pesadelo dos locutores nacionais.

Coreia é bronze!

Coreia do Sul de Eric Sandrin está na Copa também

O mesmo vale, aliás, para a Coreia do Sul, que beliscou a terceira vaga ao bater Taiwan na disputa pelo bronze, por 75 a 57. Quer dizer, se formos levar ao pé-da-letra, havia um estrangeiro no time: o veterano ala-pivô Lee Seung-Jun, de 35 anos, também conhecido como Eric Sandrin, norte-americano filho de uma coreana e que andou jogando até mesmo pelo Brasil na década passada – foi parceiro de Sandro Varejão e Ratto no Brasília. Andarilho, passou também por Luxemburgo e Portugal até se estabelecer lá por perto de Seul. Então é como se ele fosse um Scott Machado veterano.

Para os torcedores saudosistas do Portland Jail Blazers, a nota triste fica pela ausência do gigante Ha Seung-Jin. Xuim. Nesta preliminar, o sul-coreanos ensinaram aos filipinos como se faz, convertendo 45,8% de seus arremessos de três pontos (pontaria superior ao que tiveram de dois, 43,9%). Inicialmente, esse número seria um alívio. Tudo o que gostaríamos de escrever aqui era que, a despeito de toda essa mudança climática e da revolução 2.0, ainda poderíamos respirar em paz sabendo que um time coreano ainda chuta bem de fora. Mas, no geral, eles tiveram rendimento de apenas 34% no campeonato (66/194), algo alarmante. Estamos todos fritos, mesmo.

Quer dizer: todos menos Haddadi.

*  *  *

A China, com todo a grana, astros (ou ‘astros’, coff, coff!) da NBA importados para sua liga nacional, protagonizou a grande façanha do Campeonato Asiático, ao ficar sem vaga direta para a Copa do Mundo. A equipe passou por um papelão na fase de quartas de final ao perder Taiwan por 96 a 78. Justo para quem! Nessa partida, os chineses venceram o primeiro tempo por dez pontos de vantagem, mas tomaram uma virada escandalosa no terceiro período (31 a 12). Para registrar, o pivô Yi Jianlian perdeu alguns jogos no torneio devido a uma contusão, mas esteve em quadra nos mata-matas. Em cinco jogos, ele teve médias de 17,4 pontos e 6,6 rebotes em apenas 24,6 minutos por partida. Na hora de distribuição dos quatro convites para o torneio, porém, é bem provável que a Fiba lhes reservem um.

*  *  *

Interessante a classificação das Filipinas para o Mundial. O país é doente por basquete, a ponto de entender que JaVale McGee é uma espécie de Deus – vejam que coração bom têm os católicos de lá. Kobe Bryant anda por lá neste momento, enfrentando tempestade e tudo, LeBron James fez uma visita-relâmpago há pouco, e a capital Manila conta com uma arena de primeiro nível, que, depois de receber o torneio continental neste mês, vai acolher um amistoso de pré-temporada entre Rockets e Pacers, no dia 10 de outubro.

Mall of Asia Arena

A Mall of Asia Arena, com capacidade para 16 mil espectadores

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Os torneios qualificatórios regionais continuam nesta semana com o clássico entre Austrália e Nova Zelândia, na Oceania. O primeiro jogo será na quarta-feira, em Auckland, e o segundo, domingo, em Canberra. Com Patty Mills, Joe Ingles, David Andersen, Matthew Dellavedova e a revelação Dante Exum no elenco, os Boomers são claramente os favoritos. Pelos Tall Blacks, nada de Steven Adams (jovem pivô selecionado na 12ª posição do Draft da NBA pelo Oklahoma City Thunder) e do veterano Kirk Penney. Destaque para o ala-armador Corey Webster, um cestinha explosivo, e para o ala faz-tudo Tom Abercrombie.


Na tabela 2013-2014 da NBA, os jogos (alternativos) que você talvez queira ver
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Giancarlo Giampietro

Com olançamento sempre adiantadíssimo de tabela, agora da temporada 2013-2014, a NBA já reservou em seu calendário – sem nem consultá-los, vejam só! – algumas noites ou madrugadas de suas vidas. E nem feriado eles respeitam, caramba.

Já é hora, então, de sentar com o noivo, avisar a namorada, checar se não é o dia da apresentação do filho, e que a universidade não tenha marcado nenhuma prova para essas datas: Kobe x Dwight, retorno de Pierce e Garnett com Boston, o Bulls abrindo a temporada contra os amáveis irmãos de Miami, Kobe x Dwight, as tradicionais visitas de LeBron ao povoado de Cleveland, Nets x Knicks, revanche Heat x Spurs, Kobe x Dwight etc. etc. etc. Não precisa nem falar mais nada a respeito.

Mas, moçada, preparem-se. Que não ficaria só com isso, claro. A liga tem muito mais o que oferecer para ocupar seu tempo de outubro a junho. Muito mais. Colocando a caixola para funcionar um pouco – acreditem, de vez em quando isso acontece –, dá para pescar mais alguns jogos alternativos que talvez você esteja interessado em assistir, embora não haja nenhuma garantia de que eles vão ocupar as manchetes ou a conversa de bar – porque basqueteiro também pode falar disso no bar,  sem passar vergonha. Pode, né?

Hora de rabiscar novamente a agenda, pessoal. Mexam-se:

– 1º de novembro de 2013: Miami Heat x Brooklyn Nets
Depois de encarar o Bulls na noite de abertura, de descansar um pouco diante do Sixers, lá vem o Nets para cima dos atuais campeões logo em sequência. Essa turma de David Stern não toma jeito. Querem colocar fogo em tudo. Bem, obviamente esse jogo não é tão alternativo assim, considerando as altíssimas expectativas em torno dos rublos do Nets. Mas há uma historieta aqui para ser acompanhada em meio ao caos: será que Kevin Garnett, agora que não se veste mais de verde e branco, vai aceitar cumprimentar Ray Allen? Quem se lembra aí de quando o maníaco pivô se recusou a falar com o ex-compadre no primeiro jogo entre eles desde que o chutador partiu para Miami? Vai ser bizarro para os dois e Paul Pierce, certamente. Assim como a nova dupla de Brooklyn quando chegar a hora de enfrentar o Los Angeles Clippers de Doc Rivers em 16 de novembro.

No hard feelings? KG x Allen

E o KG nem aí para esse tal de Ray Allen ao chegar a Miami

1º de novembro de 2013:  Houston Rockets x Dallas Mavericks
Sim, uma noite daquelas! Mas sem essa de “clássico texano”. O que vale aqui é o estado psicológico de Dirk Nowitzki e o tamanho de sua barba. Contra o Rockets, o alemão vai poder se perder no tempo, divagando no vestiário sobre como poderiam ser as coisas caso o plano audacioso de Mark Cuban tivesse funcionado: implodir um time campeão para sonhar com jovens astros ao lado de seu craque. Dois astros como Harden e Howard, sabe? Que o Houston Rockets roubou sem nem dar chance para o Mavs, que teve de se virar com um pacote Monta Ellis-Samuel Dalembert-José Calderón e mais cinco chapéus e três botas de vaqueiro para tentar fazer de Nowitzki um jogador feliz.

Hibbert x Gasol

E que tal um Hibbert x M. Gasol?

– 11 de novembro de 2013: Indiana Pacers x Memphis Grizzlies
Vimos nos playoffs: dois times que ainda fazem do jogo interior sua principal força, e daquele modo clássico (pelo menos que valeu entre as décadas de 70 e 90), alimentando seus pivôs, contando com sua habilidade e físico para minar os oponentes*. Então temos aqui David West x Zach Randolph e Roy Hibbert x Marc Gasol. Só faça figas para que eles não esmaguem o Mike Conley Jr. acidentalmente. Candidatos a título, são duas equipes que estão distante dos grandes mercados, mas merecem observação depois do que aprontaram em maio passado.  Não dá tempo de mudar. (*PS: com a troca de Lionel Hollins por Dave Joerger, o Grizzlies deve adotar algumas das diretrizes analíticas de John Hollinger, provavelmente buscando mais arremessos de três pontos, mas não creio que mudem taaaanto o tipo de basquete que construíram com sucesso nas últimas temporadas e, de toda forma, no dia 11 de novembro, talvez ainda esteja muito cedo para que as mudanças previstas sejam totalmente incorporadas pelos atletas.)

– 22 de dezembro de 2013: Indiana Pacers x Boston Celtics
O campos da universidade de Butler está situado no número 4.600 da Sunset avenue, em Indianápolis. De lá para o ginásio Bankers Life Fieldhouse leva 17 minutos de carro. Um pulo. Então pode esperar dezenas e dezenas de seguidores de Brad Stevens invadindo a arena, com o risco de torcerem para os forasteiros de Boston, em vez para o Pacers local, time candidato ao título. Sim, o novo técnico do Celtics é venerado pela “comunidade” de Indianápolis e esse jogo aqui pode ter clima de vigília. (E, sim, mais um jogo do Pacers: a expectativa do VinteUm é alta para os moços.)

– 28 de dezembro de 2013: Portland Trail Blazers x Miami Heat
Se tudo ocorrer conforme o esperado para Greg Oden, três dias depois do confronto com o Lakers no Natal, ele voltará a Portland já como um jogador ativo no elenco do Miami Heat, deixando o terno no vestiário, indo fardado para a quadra. Da última vez em que ele esteve no Rose Garden, foi como espectador, sem vínculo com clube algum, sendo vaiado e aplaudido, tudo moderadamente. E se, num goooolpe do destino, o jogador chega em forma, tinindo, tendo um papel importante nos atuais bicampeões? Imaginem o tanto de corações partidos e a escala de depressão que isso pode – vai? – gerar na chamada Rip City.

– 13 de março de 2014:  Atlanta Hawks x Milwaukee Bucks
O tão aguardado reencontro entre Zaza Pachulia com essa fanática torcida de Atlanta, que faz a Philipps Arena tremer a cada jogo do Hawks. Não dá nem para imaginar como eles vão se comportarem na hora de acolher de volta esse cracaço da Geórgia, ainda mais vestindo a camisa do poderoso Bucks de Larry Drew – justo quem! –, o ex-técnico do Hawks. E, para piorar as coisas, o Milwaukee ainda tentou roubar desses torcedores o armador Jeff Teague. Não vai ficar barato! (Brincadeira, brincadeira.) Na verdade, an 597otem aí o dia 20 de novembro, bem mais cedo no campeonato, que é quando Josh Smith jogará em Atlanta pela primeira vez com o uniforme do Detroit Pistons. Neste caso, os 597 torcedores do Hawks presentes no ginásio e que consigam fazer mais barulho que o sistema de som vão poder aloprar o ala sem remorso algum quando ele optar por aqueles chutes sem-noção de média distância, desequilibrado, com 17 segundos de posse de bola ainda para serem jogados.

Ron-Ron tem um novo amigo agora

Ron-Ron agora vai acompanhar Melo em Los Angeles

– 25 de março de 2014: Los Angeles Lakers x New York Knicks
Já foi final de NBA, Carmelo Anthony seria um possível alvo do Lakers no mercado de agentes livres ao final da temporada, Mike D’Antoni não guarda lembrança boa alguma de seus dias como técnico Knickerbocker. São muitas ocorrências. Mas a cidade de Los Angeles tem de se preparar mesmo é para o retorno de Ron Artest ao Staples Center. Na verdade, o ala já terá jogado na metrópole californiana em 27 de novembro, contra o Clippers, mas a aposta aqui é que apenas quando ele tiver o roxo e o amarelo pela frente que suas emoções vão balançar, mesmo. E um Ron-Ron emocionado pode qualquer coisa. Nesta mesma categoria, fiquem de olho no dia 21 de novembro para o reencontro de Nate Robinson, agora um Denver Nugget, com seus colegas do Bulls, a quem ele jurou amor pleno. Robinson também é uma caixinha de… Fogos de artifício, e não dá para saber o que sai daí. Ele volta a Chicago no dia 21 de fevereiro.

– 12 de abril de 2014: Charlotte Bobcats x Philadelphia 76ers
O Sixers lidera os palpites das casas de apostas a pior time da temporada. O time nem técnico tem hoje – o único nesta condição –, seu elenco tem uma série de refugos do Houston Rockets, eles vão jogar com um armador novato que não sabe arremessar e lá não há sequer um jogador que possa pensar em ser incluído na lista de candidatos ao All-Star Game. Desculpe, Thaddeus Young, nós amamos você, mas tem limite. E, Evan Turner, bem… Estamos falando talvez da última chance. Então, no quarto confronto entre essas duas equipes na temporada, Michael Jordan espera, desesperadamente, que o seu Bobcats esteja beeeeem distante do Sixers na classificação da Conferência Leste. Se não for em termos de posições, que aconteça pelo menos em número de vitórias. Do contrário, é de se pensar mesmo se, antes de o time voltar ao nome Hornets, não era o caso de fechar as portas.

– 16 de abril de 2014: Sacramento Kings x Phoenix Suns
Como!? Deu febre?!? Não, não, tá tudo bem. É que… no crepúsculo da temporada, essa partida tem tudo para ser uma daquelas em que ninguém vai querer ganhar. Embora os torcedores do Kings tenham esperanças renovada com um nova gestão controlando o clube, a concorrência no Oeste ainda é brutal o suficiente para que eles coloquem a barba de molho e não sonhem tanto com playoffs assim. Ou nem mesmo com uma campanha vitoriosa. Fica muito provável que esses dois times da Divisão do Pacífico estejam se enfrentando por uma posição melhor no Draft de Andrew Wiggins (e Julius Randle, Aaron Gordon, Jabari Parker, Dante Exum e outros candidatos a astro). Então a promessa é de muitos minutos e arremessos para os gêmeos Morris em Phoenix, DeMarcus Cousins mandando bala da linha de três pontos, defesas de férias e mais esculhambação.