Vinte Um

Arquivo : julho 2015

Teria Rafael Luz feito o bastante para se garantir na armação da seleção?
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Giancarlo Giampietro

O Brasil fez grande campanha no Pan-Americano, jogando seu melhor basquete desde que o técnico Rubén Magnano assumiu a seleção. Um jogo que aliou a marcação agressiva de temporadas anteriores em cima da bola, mas com excelente cobertura e o garrafão trancado. Foi no ataque, porém, que as coisas fluíram de um modo bastante salutar — e há muito esperado –, com solidariedade, explorando os recursos individuais de um elenco que pode não ter tanta grife, mas mostrou que tem um potencial interessantíssimo. Entre os destaques, está Rafael Luz, um armador que nos deu no Pan indícios de seu constante progresso em quadras espanholas. Uma evolução que vem com tempo de jogo, e no mais alto nível da Europa. Rafael deixou o Obradoiro após dois anos, e saiu aplaudido pela torcida, como capitão. O que ele fez de especial rumo ao ouro em Toronto e no que o ainda jovem jogador pode trabalhar? Vejamos:

Scout por Rafael Uehara, especial para o VinteUm

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Contexto
Titular absoluto na Era Magnano,  Marcelinho Huertas descansou para poder priorizar o Pré-Olímpico, enquanto  Raulzinho foi vetado pelo Utah Jazz durante a fase de preparação. Com isso, Rafa Luz foi ganhou mais espaço e pôde comandar a seleção no Pan Americano. Se havia alguma apreensão em torno dessa situação, o que vimos foi um armador guiando o time a cinco vitórias em cinco jogos e à medalha de ouro.

Criação
Rafael ainda tem dificuldade em penetrar o garrafão em situações de meia-quadra, contra a defesa armada, pois lhe falta aceleração pra cortar para dentro quando o oponente o força para os lados. Isso lhe implica problemas, então, para criar separação do marcador quando ataca em linha reta para a cesta. Ele também não é o tipo de driblador que costuma levar vantagem no um contra um.

Porém, Rafa é excelente ao movimentar a bola e fazer o com que a bola ataque continue andando. Está constantemente passando a bola para a frente no contra-ataque e rodando a bola rapidamente ao redor do perímetro, dando ritmo ao time. Logo, embora sua capacidade para infiltração não seja ameaçadora, Luz cria para os seus companheiros ao antecipar as rotações da defesa rival e com passes bem calibrados. Ele deu assistências em 31,7% das cestas que o Obradoiro marcou enquanto estava em quadra na temporada passada e registrou 17 assistências em cinco partidas no Pan. Não é pouco. Além disso, sua predisposição ao passe pode influenciar um ataque de um modo que os números não computem.

Rafael não ganha o garrafão com facilidade, mas influencia o jogo de outras maneiras

Rafael não ganha o garrafão com facilidade, mas influencia o jogo de outras maneiras

Por outro lado, armadores que são bem ativos com esse tipo de estratégia correm bastante risco com relação à perdas de posse, e com o Rafael não é diferente. Ele perdeu a bola em 28,7% das posses do Obradoiro em seu tempo de quadra.

Tiros de longe
Na semana passada, Rafa tentou a maioria dos seus tiros de longa distância. Ele joga sob controle e não é superagressivo arriscando tiros criados por ele mesmo e também não é o tipo de arremessador que dá um pique no fundo de quadra, recebe o corta-luz e consegue armar o seu tiro rapidamente. Mas Rafael é mais um arremessador bom o suficiente para acertar seus disparos sem marcação, o que faz o oponente hesitar ao deixá-lo livre. Isso gera mais espaço para o restante do ataque.

Ele acertou quarto dos 11 tiros de três pontos que tentou no Pan e 35,5% de seus 62 disparos de três pontos na liga espanhola na temporada passada, o que já representou uma evolução após ele ter convertido apenas 27% de 196 tentativas nos três anos anteriores.

Rafael é agressivo na defesa

Rafael é agressivo na defesa

Defesa
Rafael é um defensor mediano, podemos dizer. Ele tem bom porte físico para a posição e se esforça bastante, quase sempre pressionando o armador adversário a quadra toda, mas não tem a condição atlética pra fazer uma grande diferença nesse lado da quadra, contra adversários de primeiro time. Falta envergadura para contestar tiros de meia distância efetivamente e cortar passes com frequência.

Em geral, ele consegue enfrentar bem o corta-luz, o contornando por cima, mas falta aceleração para se recuperar na jogada e limitar a ajuda do pivô quando o adversário corta pra dentro e ataca o garrafão. Armadores mais velozes como Juan José Barea e Jose Acosta constantemente o tiraram  da jogada e partiram pra cima de um Augusto, ou de um Hettsheimeir totalmente expostos.

Conclusões
Rafael Luz ainda não está no time dos grandes e inquestionáveis jogadores, mas, após uma sólida temporada no Obradoiro da Espanha e sua exibição em Toronto, ele deve ter ganhado mais algum crédito com a comissão técnica do Ruben Magnano.  Sua participação foi bem segura no Pan. Mais: talvez tenha se estabelecido como a segunda opção mais confiável da posição após Huertas, o que já é um grande avanço para um atleta que esteve quase sempre perto da nota de corte da seleção durante a gestão do técnico argentino.


Nada de férias! Como foi o verão de Lucas Bebê?
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Giancarlo Giampietro

É verão!

No Hemisfério Norte, digo. A estação do ano mais comemorada pelos caras lá de cima, que tanto sofrem durante inverno e outono com temperaturas abaixo de zero, e tal. Se aqui no Brasil estamos bastante mal acostumados com temperaturas calorosas durante boa parte do ano, em terras austrais a chegada das férias e do sol ganha proporções milagrosas. Eles arrumam as malas e vão para a estrada, mesmo, para curtir até o último dia que der. Que o diga Chevy Chase.

Para Lucas Bebê, porém, depois de tanto frio que passou em Toronto, andando pelos subterrâneo, e tudo mais, não tem coisa nenhuma de férias. O pivô foi para Las Vegas, mas a trabalho, em uma das três summer leagues que a NBA promoveu neste ano. Bebê, ou Nogueira para eles, teve a chance de jogar um pouco mais pelo Fort Wayne Mad Ants no ano passado, até se lesionar. Agora, assim como Bruno Caboclo, a despeito de uma temporada um tanto conturbada, tenta mostrar que pode contribuir para o time na próxima temporada. Será que ele impressionou? Vamos examinar.

Scout por Rafael Uehara, especial para o VinteUm.

Lucas Bebê, 22, ainda um projeto para o Toronto?

Lucas Bebê, 22, ainda um projeto para o Toronto?

Assim como com Bruno Caboclo, foi decepcionante o quão pouco tempo de quadra Lucas Nogueira teve na temporada passada. Foram apenas 23 minutos com o Toronto Raptors e 80 minutos com o Fort Wayne Mad Ants. (Dê uma olhada no post sobre o Bruno para entender melhor porque os jogadores do Toronto não tiveram oportunidades na liga de desenvolvimento).

Vale lembrar também que na temporada 2013-2014, Lucas enfrentou problemas físicos na Espanha e jogou apenas 297 minutos com o Estudiantes. Somando as últimas quatro temporadas, ele mal esteve em quadra por 1.000 minutos, o que não é um dado nada bom para uma idade tão importante para desenvolvimento. Lucas não pode de maneira alguma ser considerado velho, mas é de se preocupar que, já aos 22 anos, ele tenha passado tão pouco tempo em quadra.

Vale mencionar que Lucas parece ter usado esse tempo livre (de partidas) da melhor maneira possível. Ele se apresentou na liga de verão mais forte e com habilidades individuais um pouco mais desenvolvidas – ambos fatores que eram preocupações com relação à sua transição para o melhor basquete do mundo.

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Porém, por mais que treinos para aprimorar o porte físico e as habilidades individuais sejam importantes, o tempo de quadra ainda é o principal fator na evolução de um jogador jovem e, por isso, foi importante ver Lucas se apresentar bem nos 118 minutos que recebeu de rodagem na semana passada em Las Vegas.

Passes: Quando foi draftado, a projeção para Lucas era que ele poderia se tornar um desses pivôs modernos que pouco tocam na bola e não participam do processo de criação diretamente, mas que finalizam em pick-and-rolls extremamente bem e protegem o garrafão na defesa.

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Bebê já mostrou que tem habilidades para além da capacidade atlética

Porém, ele me surpreendeu bastante com sua habilidade de passar a bola em Vegas, especialmente porque o fez de todas as formas. Lucas não só manteve a cabeça erguida quando estava de costas para a cesta em post-ups, fazendo bons passes para alas cortando na diagonal, mas também se mostrou capaz de passar em movimento e de frente para a cesta – recebendo a bola no pick-and-roll e também em situações high-low, quando subia até o topo do arco e fazia o passe para o ala-pivô embaixo da cesta.

De acordo com o site RealGM, Lucas deu assistências em 17,5% das cestas que o Toronto marcou enquanto ele estava em quadra nessa última semana – uma marca altíssima entre pivôs. Embora, é preciso dizer que a média de três perdas de posse por jogo que ele registrou não seja algo para se ignorar.

Finalizações: É de se mencionar, porém, que Lucas se concentrou bem mais em flutuar no perímetro após o corta-luz do que partir para frente do aro e dar opção para a ponte aérea e isso é um tanto preocupante. Essa nova habilidade de passar a bola que o Lucas desenvolveu é muito boa, mas não pode vir às custas do fator ameaçador que ele representa ao redor do aro.

Como o oponente nunca o marcava quando ele flutuava fora do garrafão, Lucas tentou alguns tiros de meia distância e converteu um ou outro quando foi deixado totalmente livre, mas nada que deva ser levado muito a sério nesse momento. O que também é o caso de suas jogadas em post-up, pois ele ainda não tem força suficiente para recuar seu adversário.

É importante levar em consideração também que o pivô disputou a maior parte dos seus minutos junto com o Ronald Roberts, um ala-pivô que não abria até a linha dos três pontos e fazia com que o garrafão ficasse cheio demais. Ainda assim, foi um pouco desconcertante o quão pouco o Lucas cortou pra frente da cesta com convicção após o corta-luz, especialmente pelo fato de ele ter jogado com Delon Wright – um calouro, é verdade, mas formado em Utah e já um dos armadores mais bem desenvolvidos neste ambiente da liga de verão. Fora isso, nas vezes que o fez, Lucas mostrou dificuldade na recepção dos passes em tráfego.

Lucas foi muito bem nas duas tábuas

Lucas foi muito bem nas duas tábuas

Defesa: Lucas não foi perfeito defendendo pick-and-rolls, se mantendo todo erguido em vez de dobrar os joelhos, além de demonstrar não ter agilidade suficiente para marcar jogadores menores no mano-a-mano no perímetro. Quando recuado, todavia, foi muito bem protegendo a frente da cesta.

Graças à combinação de envergadura e agilidade saindo do chão, foram 13 tocos em cinco partida para ele. Mais que isso: de acordo com o NBA.com/stats, Lucas contestou em média 6,8 tiros de dois pontos por jogo – a terceira maior marca da liga de verão. Seus braços longos também cortaram vários passes. O Toronto permitiu apenas 77,8 pontos por 100 posses defendidas quando o brasileiro estava em quadra, marca que é excepcional.

Rebotes: Parte do motivo pelo qual Bebê foi um defensor de bastante impacto se deve a sua produção nos rebotes. Lucas ainda não é consistente brigando por posição em baixo da cesta, mas sua facilidade de salto e seus braços longos o ajudam a alcançar a bola em pontos mais altos. Ele resgatou 27,4% dos tiros perdidos pela oposição – a 11ª maior marca da liga de verão. Também foi muito produtivo no ataque, resgatando 14% dos tiros perdidos pelo Toronto.

Conclusões (por Giancarlo Giampietro): Bebê é três anos mais velho que Caboclo. Do ponto de vista de seu progresso, é um pouco preocupante que a diretoria e a comissão técnica do Raptors ainda o vejam como um projeto de médio prazo, no mínimo, a despeito do impacto evidente que ele pode ter em um jogo de basquete. Se havia alguma perspectiva de que ele seria mais aproveitado no próximo campeonato, a contratação de Bismack Biyombo foi uma bela ducha de água fria. Biyombo chega para fazer o papel que o brasileiro talvez pudesse muito bem cumprir: cerca de 15 a 20 minutos vindo do banco, protegendo o aro, atuando de modo firme no rebote e sendo uma peça marginal no ataque. O pivô da República Democrática do Congo é muito mais forte e também mais atlético que o carioca, é verdade. Teve sólido impacto por Charlotte nesses quesitos. Mas será que não valeria uma chance para Bebê – que, no ataque, pode oferecer muito mais? Talvez a turbulência na campanha de novato tenha custado em minutos agora. O jeito é o pivô erguer a cabeça, treinar mais e mais, arrebentar na D-League e tentar desbancar Biyombo durante a temporada.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos. Análises sobre os jogos da seleção brasileira durante o Pan só no Twitter, ok?


Nada de férias! Como foi a liga de verão de Bruno Caboclo?
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Giancarlo Giampietro

É verão!

No Hemisfério Norte, digo. A estação do ano mais comemorada pelos caras lá de cima, que tanto sofrem durante inverno e outono com temperaturas abaixo de zero, e tal. Se aqui no Brasil estamos bastante mal acostumados com temperaturas calorosas durante boa parte do ano, em terras austrais a chegada das férias e do sol ganha proporções milagrosas. Eles arrumam as malas e vão para a estrada, mesmo, para curtir até o último dia que der. Que o diga Chevy Chase.

Para Bruno Caboclo, porém, depois de tanto frio que passaram em Toronto, andando pelos subterrâneo, e tudo mais, não tem coisa nenhuma de férias. O ala foi para Las Vegas, mas a trabalho, em uma das três summer leagues que a NBA promove neste ano. Pela primeira vez em muito tempo, teve a chance de jogar bons minutos, dia após dia, para tentar mostrar serviço ao técnico Dwane Casey e ao gerente geral Masai Ujiri. Mostrar que, a despeito de uma temporada um tanto conturbada, aproveitou o trabalho individual com os técnicos do time. Então dá para entender a ansiedade de muita gente aguardando suas atuações em sua segunda participação na Liga de Verão de Las Vegas. Que tipo de novas artimanhas ele poderia exibir? Como estaria sua fluência ofensiva? Sua curva de desenvolvimento?  Vamos examinar.

Por Rafael Uehara, especial para o VinteUm

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

Caboclo, e o penteado diferente. E o jogo?

O contexto: Bruno Caboclo esteve em quadra por apenas 87 minutos oficiais na temporada passada; 23 com o Toronto Raptors na NBA e 64 com o Fort Wayne Mad Ants da liga de desenvolvimento.

Quando a franquia canadense surpreendeu a todos ao escolhê-lo com a 20ª escolha da primeira rodada do draft, o comentarista da ESPN Fran Fraschilla classicamente opinou “he is two years away from being two years away”. Já se tinha mais ou menos uma ideia que Bruno veria pouco tempo de quadra entre os melhores do mundo.

Mas o fato de ele também ter jogado muito pouco na liga de desenvolvimento foi bastante decepcionante. A razão é porque o Toronto era um dos times que não tinha franquia própria na liga de desenvolvimento e dependia de um acordo com a franquia de Fort Wayne. Diferente das franquias que pertencem a times da NBA e são usadas com o principal foco em desenvolver jogadores, técnicos e estratégias para a matriz, Fort Wayne se mantém viva atraindo o público e patrocínio da região e o faz tentando competir pelo título. Logo, põe em quadra quem acha que o ajuda a ganhar e o brasileiro de 19 anos que mal tinha experiência na liga brasileira não se encaixava nesse critério.

Afundado no banco de reservas em sua primeira temporada. Era o esperado, porém

Afundado no banco de reservas em sua primeira temporada. Era o esperado, porém

A boa notícia é que o Toronto acaba de comprar uma franquia para disputar a liga de desenvolvimento na próxima temporada, o que vai proporcionar ao Bruno todo o tempo de quadra que ele precisa para começar a tentar alcançar o potencial que todos veem nele, o que é vital porque é muito provável que ele mais uma vez não faça parte dos planos de Dwane Casey neste próximo ano ainda.

Os Raptors acabaram de contratar DeMarre Carroll e ainda contam com DeMar DeRozan, Terrence Ross, James Johnson e Norman Powell no elenco. Mesmo com as saídas de Lou Williams, Greivis Vasquez (Casey gostava de ter dois armadores em quadra em algumas situações) e rumores de que o time será mais agressivo usando um de seus alas como ala-pivô em formações menores, ainda é difícil ver o Bruno como parte da rotação.

Especialmente considerando que ele não impressionou muito na liga de verão de Las Vegas na semana passada. Geralmente se espera um salto de produção das escolhas do primeiro round indo do primeiro para o segundo ano, possível de se ver logo na liga de verão. Giannis Adetokunbo ainda não é grande coisa, mas foi de qualquer forma uma peça importante em um time que se classificou para os playoffs no Leste, e mostrou já na liga de verão do ano passado o que estava por vir. Mas esse não foi bem o caso com Bruno, que não foi eficiente com seus tiros e não teve oportunidades de mostrar habilidades a mais do que aquelas esperadas.

De longa distância: no momento, o que Bruno faz com maior freqüência em quadra é o tiro de longa de distância. É um atleta com bom porte físico, mas não se apresentou para contra-ataques muito. Tocou na bola mais na meia-quadra mesmo e sempre se posicionava no lado oposto à bola, sem participação na criação de jogadas contra a defesa armada — isso ficava por conta do armador Delon Wright e do ala-armador Norman Powell, calouros recém-draftados, mas muito mais experientes e habilidosos que o brasileiro. Sua função era de atirador e como resultado, 63% de suas tentativas foram tiros de três pontos.

Caboclo conseguiu descolar um bom número de lances livres, mesmo não sendo muito criativo com ab ola

Caboclo conseguiu descolar um bom número de lances livres, mesmo não sendo muito criativo com ab ola

Bruno tem boa mecânica em seus lançamentos, mas dispara de maneira um pouco metódica, pouco fluida, e essa fração de segundo que ele perde para acionar o arremesso faz bastante diferença contra os atletas do melhor basquete do mundo – mesmo aqueles da liga de verão que estão sofrendo para arranjar emprego como 15º homem de um elenco. Por ora, Bruno tem muito mais capacidade para acertar tiros sem contestação do que lidando com qualquer tipo de defesa. No geral, converteu apenas 10 dos seus 36 tiros de três pontos nos cinco jogos que disputou.

Trabalho com a bola: Bruno teve algumas oportunidades de criar em situações em que o armador penetrava e o achava em posição de tiro ao redor do perímetro. Marcadores dão o pique para contestar o tiro, e, com uma ameaça de chute, cria-se a chance de partir para dentro.

O caçula ainda não tem muita explosão com a posse da bola e dificilmente criou a separação necessária para agredir. De todo modo, o ala consegue chegar ao aro ou arranjar lances livres devido ao seu porte físico. Tem longas passadas e vai da linha dos três pontos até o aro em dois dribles e dois passos. Também não é qualquer aala que consegue parar o impulso de alguém que mede 2,06 metros e pesa 96 quilos.

Bruno converteu 10 cestas de dois pontos em 21 tentativas e cavou em média 4,6 lances livres a cada 36 minutos em quadra, ambas as marcas bem promissoras. Porém, por outro lado, seu controle de posse é bem mediano e ele ainda tem muito pouco reconhecimento do jogo ao seu redor, sofrendo ao tentar criar para seus companheiros de time – registrando apenas quatro assistências nas cinco partidas e 11 perdas de posse.

Defesa: devido a seu porte físico e envergadura, espera-se que Bruno se desenvolva em bom defensor. Mas no momento ele ainda não é grande coisa. Individualmente, ele até consegue impedir a penetração de jogadores do seu próprio tamanho, mas não se mostrou capaz de permanecer na frente de jogadores menores.

Marcando o pick-and-roll, Bruno teve dificuldade de ir por cima do corta-luz e se recuperar com velocidade. Talvez seja possível que ele seja grande demais para esse tipo de estratégia, sendo melhor ir por baixo e usar sua envergadura para contestar tiros de longa distância.

Bruno também teve alguns lapsos que lhe custariam tempo de quadra em qualquer outro ambiente que não fosse a liga de verão. Em determinado lance de jogo contra o Chicago Bulls de Cristiano Felício, resolveu deixar um arremessador do nível de Doug McDermott completamente livre no canto e partiu para dentro do garrafão sem a menor razão. A bola eventualmente chegou às mãos de McDermott, que acabou errando, mas que não se deve deixar de modo algum sozinho nesse tipo de situação. Um lapso que realmente não seria perdoado em um ambiente mais exigente como a temporada regular nos playoffs, em que as vitórias valem (e custam) tanto, especialmente para um time com ambições de ir longe nos playoffs.

Conclusões, por Giancarlo Giampietro: durante toda a  temporada passada, os dirigentes e técnicos do Toronto Raptors afirmaram que o principal objetivo com Caboclo era aclimatá-lo à América do Norte, à cultura da NBA. Como este blog já reportou, talvez o garoto tenha se sentido até bem demais fora de quadra, com algumas questões disciplinares que deixaram o clube preocupado.  e que, do ponto de vista esportivo, iriam se concentrar no desenvolvimento de seu corpo. Ele já aparece mais forte, mesmo. Ainda assim, isso não quer dizer que não tenham trabalhado em quadra, especialmente com o técnico Jama Mahlalela. Em Las Vegas, então tivemos a chance de ver como está seu progresso dentro das quatro linhas. O que se nota é que ele ainda não está pronto para fazer parte da rotação do Raptors, mesmo que o plano fosse que ele jogasse mais já no segundo ano. Isso só deve acontecer pela franquia da Liga de Desenvolvimento, mesmo, o Raptors 905, hospedado em Mississauga. Caso o ala aceite essa situação, sem se ver desprestigiado por estar jogando na liga menor, terá uma boa oportunidade de expandir seu jogo para além da dinâmica de “correr e se posicionar no lado contrário à espera do chute de três”. É de se esperar que, depois de tanto reclamarem da dinâmica do Fort Wayne Mad Ants, vão deixar o brasileiro agora à vontade para arriscar e errar, até que os acertos se tornem mais frequentes. Cabe ao brasileiro abraçar essa situação e tentar tirar o melhor dela, para adicionar mais elementos ao seu jogo e mostrar potencial para além dos atributos físicos.

Rafael Uehara é paulistano e colaborador de diversos sites estrangeiros. Você pode acompanhar mais de seu trabalho no Bball Breakdown  e no Upside Motor. Ou, se preferir, em seu próprio blog, o Baskerball Scouting. Pode segui-lo no Twitter.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos. Análises sobre os jogos da seleção brasileira durante o Pan só no Twitter, ok?


Raulzinho é a mais nova adição ao núcleo jovem do Utah Jazz. E aí?
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho esperou por dois anos, mas chegou a hora de botar no papel. Nesta quinta-feira, o armador assinou por três anos com o Utah Jazz para ser o sétimo brasileiro na NBA de hoje — e o 14o. na história. Existe uma grande diferença entre ser um jogador draftado pela liga e com um  contrato. “Achei que era um sonho sendo realizado quando fui selecionado, mas agora vejo o que é o sonho de verdade”, disse o armador já diante dos repórteres de Salt Lake City, no último dia da liga de verão local.

Com o acordo oficializado, então é a hora de tentar entender o que cerca a vida de “Raul Neto” (HA-OOL, nos ensinam) em seu novo clube e o quanto esta movimentação pode interferir em seu desenvolvimento.

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De cara, o que temos de informação: parece uma declaração óbvia para um clube que foi seguiu em seu encalço no Draft de 2013, mas a diretoria do Utah Jazz realmente adora seu prospecto de 23 anos. Durante a cobertura do All-Star Game em Nova York, tive a chance de conversar com o repórter Jody Genessy, setorista do clube pelo Desert News. Ele disse que o time não via a hora de trabalhar diretamente com o jovem atleta. A chance chegou, e as atividades já vão começar nesta semana, em Las Vegas. Segundo Genessy, porém, ele não vai jogar a liga de verão local, mas, sim, treinar com um grupo de veteranos do time.

(Um parêntese aqui: fico no aguardo pela reação de Rubén Magnano… O técnico, que apostou lá atrás num ainda adolescente Raulzinho,  esperava um papel de protagonismo para o atleta nos Jogos Pan-Americanos, e seria realmente interessante acompanhá-lo nessa empreitada. Ficou a ver navios nessa. A expectativa da CBB era a de que o armador se reapresentasse até esta sexta-feira para embarcar rumo a Toronto. Não rolou, por motivos óbvios. A dúvida: ele ainda vai jogar o Pan, mesmo perdendo tanto tempo de preparação? O torneio começa dia 20. Suponho que já esteja fora, e aí precisaria ver quem seria chamado para substitui-lo. Provavelmente alguém a serviço na Universíade, ficando a eventual vaga entre Gui Deodato, Deryk, Gegê, ou Henrique Coelho.  Vai rolar alguma mágoa? De todo modo, a seleção já está bem servida com Rafael Luz, Ricardo Fischer, Larry Taylor e Vitor Benite. Os dois mais jovens têm uma bela oportunidade para mostrar serviço agora.)

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Voltando ao Utah Jazz, Raulzinho entra em um clube com elenco jovem e cheio de potencial para fazer barulho na próxima temporada. Se a campanha depois do All-Star Game serve de algum indício, o time vai brigar por uma vaga pelos playoffs em 2016, já que venceu 19 de suas últimas 29 partidas, com um aproveitamento de 65,5%. Sétimo colocado neste ano, o Dallas Mavericks teve 61,0% de rendimento, enquanto o New Orleans Pelicans, oitavo, ficou com 54,9%.

Capitaneada pelos braços infinitos de Rudy Gobert, a equipe passou a ter a defesa mais dura de toda a liga, e de longe. Há quem acredite que esse tipo de progresso em meio a um campeonato não se traduz automaticamente para o seguinte, uma vez que os adversários vão se debruçar em estudos e já desenhar os ajustes necessários. Ação e reação.

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Engraçado: mesmo depois de assinar com o Utah Jazz, Raulzinho chegou a ser barrado por um segurança da arena do clube durante a rodada final da liga de verão local nesta quinta à noite. Teve de apelar aos novos companheiros para ter acesso liberado a área restrita

Ainda assim, o núcleo do Utah também naturalmente vai evoluir, como se espera com atletas tão jovens. Gordon Hayward (o principal criador do time, versátil e confiante), Derrick Favors (em progressão gradual e segura, rumo ao All-Star, se é que alguém repara ou liga) e, principalmente, Gobert cresceram uma barbaridade durante a campanha e ainda têm mais o que render. Esses são os principais nomes, hoje, mas o elenco que o gerente geral Dennis Lindsey reuniu oferece diversas alternativas para o técnico Quin Snyder. Os alas Alec Burks e Rodney Hood já tiveram seus lampejos. O canadense Trey Lyles, muito bem cotado desde o colegial, acabou de chegar para reforçar o jogo interior.

E ainda tem o prodígio australiano Dante Exum, aparentemente efetivado como armador titular, tendo apenas 19 anos. Para uma escolha número cinco de Draft, é natural que a cobrança seja em outro patamar. Nesse sentido, a primeira campanha entre os profissionais foi tímida, para dizer o mínimo. Os críticos mais apressados, no entanto, ignoram o contexto. Se Bruno Caboclo teria dificuldades em deixar a LDB e a reserva do Pinheiros para se provar nos Estados Unidos, o que dizer de um carinha que jogava com adolescentes na Austrália? Que Exum tenha começado 41 jogos como titular e segurado as pontas na defesa, com sua agilidade e envergadura, já é um feito e tanto.

Basta observá-lo em quadra por um ou dos minutos para salivar com seu potencial — por mais talentosos que Hayward, Favors e Gobert sejam, esse garoto pode se tornar algo maior, pasme. Não é garantia, mas ainda há muito o que sair dali, e Snyder tem reputação excelente no trabalho de fundamentos com os atletas. Em sua primeira partida nesta temporada de verão, encarando defensores encardidos como Marcus Smart e Terry Rozier, do Boston, Exum já botou para quebrar, até sair de quadra com uma torção no tornozelo. Estamos falando do dono da posição, mesmo.

Para desgosto de Trey Burke, que tinha plena fé de que chegaria à NBA para ser um armador de ponta. O baixinho, que custou duas escolhas de Draft ao Utah também em 2013, ainda não conseguiu encontrar uma zona de conforto em meio aos cachorrões. Seus dribles de hesitação não são o suficiente para conseguir a separação mínima para seus arremessos. Em duas temporadas, ele só acertou 37,4% de seus arremessos de quadra, 32,4% na linha de três, e não é que tenha compensado tantos erros com um bom número de lances livres (só cobra 1,8 por partida) ou controle de jogo apurado (mira muito mais a cesta que seus companheiros). Sair do banco, como pontuador, talvez seja o seu destino, ainda que precise elevar sua eficiência para cumprir bem esse papel.

Ninguém da franquia vai falar abertamente a respeito, até para não avariar ainda mais sua cotação, mas não é segredo que o clube tenha se decepcionado com Burke. Os scouts mais otimistas esperavam que estivesse saindo um líder da Universidade de Michigan, um jogador com personalidade e recursos técnicos para compensar o que fica devendo em físico. Não aconteceu até o momento. Ainda que só tenha 22 anos, ele não evoluiu nada entre a primeira campanha e a segunda. Dá para dizer que tenha regredido, inclusive. Se for para investir tanto em alguém, a bola da vez vem da Austrália.

Como fica Raulzinho nessa, então? Em tese, ele foi contratado para ser o terceiro armador da equipe. Foi o que a diretoria lhe passou, ao sondar a possibilidade de ele deixar o basquete espanhol para cruzar o Atlântico. Na NBA, porém, as coisas avançam com uma velocidade impressionante, e talvez baste uma proposta razoável por Burke para que o brasileiro seja promovido.

Se for para falar em hipóteses, no entanto, talvez o mais simples seja o próprio jogador desbancar a concorrência no dia a dia de treinos. Admiradores dentro do clube ele já tem. Agora resta confirmar essas sensações na prática. O que o atleta entrega desde já é a visão de quadra fora do comum, a predisposição ao passe, característica que cai bem a qualquer grupo, mas principalmente no tipo de ataque que Snyder projeta. É um perfil que já difere. “Só quero aprender a cada dia. Quero melhorar meu jogo. Ainda não falei com o técnico, mas vai ser a escolha dele os minutos que jogarei. Estou aqui para fazer meu trabalho”, afirmou o armador.

Mesmo que, num primeiro momento, encontre dificuldades, acredito que, a longo prazo, a decisão de encarar a nata do esporte nos Estados Unidos é a mais indicada. Por quê? Raul sempre foi um armador muito arrojado. A experiência na Espanha foi muito valiosa para que aprenda a cadenciar as coisas, a maneirar em seu ritmo de jogo, mas por vezes pode ser um tanto amarrada. É com um jogo agressivo que ele pode render mais. A despeito da capacidade atlética bem mais elevada que ele vai encarar daqui para a frente, as dimensões mais espaçadas e a própria velocidade do jogo tendem a favorecê-lo, a deixá-lo mais solto. E fazer coisas do tipo:

Em Utah, o armador vai ter de melhorar de modo significativo seu arremesso de três pontos para ter mais chances (em sua carreira pela Liga ACB, converteu míseros 22,9% em suas tentativas). Na defesa, o trabalho de pernas no deslocamento lateral será exigido como nunca viu antes. Enfim, há muito o que aprimorar, para além de seu talento natural. Vamos esperar para ver. Por enquanto, Raulzinho vai curtindo seu sonho. Para valer.

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O ridículo triângulo amoroso (e odioso) entre Jordan, Clippers e Mavs
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Giancarlo Giampietro

O Clippers tripudia ao anunciar renovação de DJ

O Clippers tripudia ao anunciar renovação de DJ

Bem, o texto do final de semana estava mais ou menos certo, né? No fim, Dirk Nowitzki, Mark Cuba, Rick Carlisle, Chandler Parsons e até mesmo DeAndre Jordan acreditam que o pivô já era jogador do Dallas Mavericks. Mas o grandalhão, depois de se comprometer com o clube texano, deu para trás nesta quarta-feira e, no primeiro instante em que os atletas podem assinar seus contratos, decidiu renovar com o Los Angeles Clippers.  A parte que o artigo não falhou: o vaivem de Jordan só reforça a tese do quanto a cabeça de um jogador pode flutuar no momento de tomar uma decisão dessas. Tão relevante do ponto de vista financeiro, esportivo e, enfim, pessoal.

Num universo com tanto dinheiro correndo solto e egos à deriva, parece que o mais prudente, mesmo, é esperar a tinta aparecer no papel. Mesmo que Wojnarowski, Stein e qualquer outro repórter de primeiro escalão tenha, hã, cravado a notícia. Embora, dando um passo para trás, percebe-se que ninguém errou. Jordan realmente disse que iria para Dallas. Apenas se arrependeu, ou foi convencido a se arrepender, se é que isso faz sentido. De qualquer forma, em meio a esse dramalhão todo, os jornalistas foram os que menos passaram ridículo, e não se trata de mero corporativismo.

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O maior carão, ou a maior cara-de-pau, mesmo, fica por conta de DJ, que passou do limite. Complexidades de uma tratativa à parte, o jogador extrapolou em sua infantilidade. Já seria muito feio, uma estrondosa quebra no código de ética da liga, ele mudar de ideia e fechar com o Clippers. Muito pior, no entanto, foi o jogador nem ter se dado ao trabalho de atender o telefone, responder as mensagens de texto, SnapChat, Whatsapp, sinal de fumaça e sabe-se lá qual outra ferramenta de comunicação os caras de Dallas tenham usado. Preferiu ficar jogando cartas e videogame com seus ex-futuros-novos-companheiros de L.A, em casa, em Houston. Interrompeu o diálogo na terça-feira, e pronto. Isso é patético, com o perdão da expressão — e, aqui, ainda caberiam vários adjetivos tão ou mais fortes. Não é que ele tenha sido pressionado a tomar uma decisão em 30 segundos antes de dizer sim ao Mavs. Já havia tido tempo o suficiente para ruminar a ideia desde a eliminação do Clippers na semifinal de conferência

E não. Também não foi a primeira vez que uma prima donna da NBA concordou com um negócio e, depois, seguiu outro rumo. Que me lembre, o caso mais emblemático nessa linha foi o de Carlos Boozer, Cleveland Cavaliers e Utah Jazz, há uns bons dez anos já. O ala-pivô, então uma jovem força produtiva no garrafão, havia combinado com a gestão anterior do Cavs: que eles rescindissem seu contrato paupérrimo de novato para que, como agente livre, assinasse um novo acordo que fizesse jus aos seus números em quadra. Aí veio a punhalada: Boozer topou receber uma fortuna em Salt Lake City. Foi um episódio mais sórdido, nota-se. Mas é aquela história de Brasília: não é que alguém já tenha feito antes, que isso vá justificar a repetição do erro.

Da maneira em que os negócios da NBA estão estruturados, essa é uma falta gravíssima. Bobby Marks, ex-assistente de Billy King na administração do Brooklyn Nets, reforça:  “Assim como no beisebol, há certas regras que não estão escritas, e isso foi uma grande violação dessas regras. Uma vez que um jogador se compromete com um time, você segue em frente”. O cara, aliás, é uma conta obrigatória para se seguir no Twitter.

O Mavs já estava fazendo planos e planos com Jordan. Desde as mais simples jogadas a grandes tacadas de marketing e relações públicas. Em menos de uma semana, uma franquia pode avançar com seus projetos de modo significativo. Mas a grande perda vem no campo esportivo. Com a assinatura também de Wes Matthews (que, já avisou, mantém o que estava acertado), acreditavam que tinham uma boa base para competir no Oeste. Agora eles têm um rombo imenso para cobrir, e poucas opções no mercado. Enes Kanter, Jordan Hill, Kevin Seraphin, o próprio Boozer… Boa sorte nessa.

Por isso, Mark Cuban ficou mudo nesta quarta. Pois é: DeAndre Jordan já pode adicionar em seu currículo a proeza de ter sido o primeiro homem na face da terra a ter deixado o proprietário do Mavericks sem palavras. Nem o chefão David Stern era capaz disso. Outro que deve demorar um bocado para se pronunciar é Chandler Parsons, que estava cantando aos sete ventos sua habilidade na persuasão dos atletas, brincando que seria o gerente geral do clube no futuro. O papel dele no suposto convencimento de Jordan realmente era muito interessante. Só comemorou a vitória um tanto antes.

A maior crueldade: um constante reclamão, habituado a peitar a liga, Cuban nem mesmo tem o que fazer agora. Oficialmente, os clubes não podem fechar nada durante o período de moratória nas transações com agentes livres, embora isso aconteça em toda negociação. Ironicamente, aliás, o magnata já foi multado pela NBA por ter se pronunciado sobre o pré-acordo com Jordan antes do permitido.  Se Cuban está deprimido no momento, imaginem como esteja a cabeça de Dirk Nowitzki.

O alemão já está em evidente declínio, mas ainda pode ser um atleta valioso num esquadrão. Sem um armador de ponta, com dois alas voltando de cirurgias gravíssimas, um garrafão anêmico e poucas alternativas no mercado, é de se perguntar como o Mavs vai fazer para se reforçar. Sua missão é combater diariamente os adversários da Divisão mais letal da NBA. Na conferência, Utah e Phoenix (oi, Tyson Chandler, tudo bem?) querem subir. Faz como? Um possível caminho é a implosão de suas estruturas e um mergulho de cabeça num projeto de reformulação. Matthews e Parsons poderiam tirar o tempo que quisessem para voltar às quadras, por exemplo. Com o craque Nowitzki se encaixaria nessa, não dá para saber. Sua lealdade ao time é louvável, mas, no decorrer dos anos, ele já se mostrou muito mais inquieto do que Tim Duncan. Quem não se recorda de sua mensagem logo que Dwight Howard anunciou que estava indo para o Rockets, em detrimento do Mavs? “Bem-vindo de volta, Devin Harris”, escreveu, não sem sarcasmo.

Da parte do Clippers, eles saem com o grande prêmio e mantêm seu fortíssimo núcleo intacto — e até reforçado pela chegada de Paul Pierce. (Sobre Lance Stephenson, vamos esperar para ver. ) No entanto, não há como ignorar o papelão que nos proporcionaram. Mais um. O simples fato de o clube ter voltado a investir no jogador depois do acerto com o Mavs nos diz que estavam superconfiantes em que renovariam com o jogador, ignorando os melindres que o incomodavam, e que, a partir daí, saíram desesperados para reconquistá-lo.

Daí toca reunir o contingente numa missão de Comandos em Ação: o chefão Steve Ballmer, Doc Rivers, o ‘bro’ Blake Griffin, Paul Pierce, JJ Redick e, mais importante, Chris Paul embarcaram para Houston e tomaram conta da casa do pivô. Segundo relatos, Paul era o mais comovido na situação, dizendo que não tinha ideia de que suas cobranças diárias estavam alienando o camarada. Que achava que eles eram irmãos e que, por isso, certas liberdades poderiam ser tomadas. A maioria deles ficou no QG de DJ até a meia-noite, para garantir que, de última hora, ele não assinasse, talvez, com o Philadelphia 76ers. Vai que…

Enquanto as horas iam passando, os membros da comitiva jogavam mensagens (nem tão) cifradas nas redes sociais, abusando de fotos e emoji. Griffin era o mais abusado. Primeiro cornetou a mobília dos Jordans. Depois, brincou que estava em uma cabana no quintal. Será que Nowitzki o segue? Faz parte do jogo, claro, mas não deixa de ser um desrespeito, considerando a ética que estava sendo esmagada naquele momento.  Carente que só — e foi essa carência que inicialmente o empurrou na direção do Mavs –, Jordan deve ter se extasiado. Contrato assinado.

Quem também merece um texto só seu nessa novela é o agente Dan Fegan. O mesmo de Dwight Howard, aquele que queria, e não queria sair de Orlando. Aquele que estava encantado com Hollywood. O mesmo de DeMarcus Cousins. O mesmo que é falado nos corredores da liga como um dos maiores rapinas da paróquia. Um cara de cartela influente de clientes, assustador nas negociações. Com que clima Mark Cuban vai poder sentar à mesa com ele agora? E os demais clubes? Ou ele também foi alijado das tratativas?

A reação em cadeira desse causo poderia arranhar sua reputação. Talvez a NBA agora decida, enfim, rever esse período de moratória para que os novos vínculos sejam firmados. Já o Clippers talvez se veja em situação desconfortável na hora de se comunicar com a concorrência, que obviamente não aprova o que aconteceu. Jordan vai enfrentar jornalistas sedentos nos próximos meses e pode se tornar uma figura ridicularizada a cada cidade que visitar. Mas não dá para sermos ingênuos, mais uma vez, nessa. O dinheiro do novo contrato de TV vai jorrar nos próximos anos, a competitividade da liga só vai aumentar, e esse triângulo amoroso/odioso vai virar uma anedota. Ao menos isso a gente pode cravar.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


LaMarcus é do Spurs; DeAndre, do Dallas. Por que demorou tanto?
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Giancarlo Giampietro

LaMarcus Aldridge é do San Antonio Spurs, e o Golden State Warriors já sabe que a campanha em busca do bicampeonato ficou, desde já, muito mais complicada. É o tipo de acordo que balança novamente as estruturas de poder da liga, embora não possa ser considerado bombástico, pelo fato de ser algo relativamente esperado por boa parte dos concorrentes. Segundo consta, o pivô ainda havia ido para a cama indeciso. Comunicou o Portland que estava, mesmo, de saída, mas ainda pensava no Phoenix Suns. Repetindo: o Phoenix Suns!

Pois é. De um lado, um clube que conquistou cinco títulos de 1999 para cá. Com Tim Duncan e Gregg Popovich garantidos. Com Kawhi Leonard de contrato novíssimo. Do outro, um clube que foi duas vezes vice-campeão na história e que não joga os playoffs desde 2010. Que tem alguns jogadores jovens interessantes, mas nem mesmo conta com a base mais promissora em uma conferência brutal (Utah Jazz acho que leva esse título, enquanto o Minnesota Timberwolves parece o destino ideal para daqui a alguns anos).

LaMarcus, Pop e Ime Idoka dão uma volta em Los Angeles durante namoro cheio de dúvidas para o pivô

LaMarcus, Pop e Ime Idoka dão uma volta em Los Angeles durante namoro cheio de dúvidas para o pivô

Então, pera lá: qual é exatamente a dúvida aqui?! Foi natural questionar o que se passava pela cabeça de LaMarcus nos últimos dias. Aparentemente, não havia o menor sentido titubear entre Spurs e Suns.

Mas aí é que é importante compreender que a decisão de um jogador pode estar cercada pelas mesmas incertezas de qualquer profissional. A diferença é que, na hora de eu ou você trocarmos de emprego, não vai ter uma #WojBomb para anunciar e nem mesmo cinco pessoas interessadas no que você vai fazer no dia seguinte a0 de limpeza da mesa.

Ao que tudo indica, a apresentação da diretoria e técnicos do clube do Arizona foi surpreendente e tentadora, a ponto de balançar o pivô.  Como eles conseguiram se conectar com Aldridge, ao contrário do prestigioso Los Angeles Lakers, descartado imediatamente? Entender a oferta do Suns seria, então, um meio de desvendar o que se passava pela cabeça do atleta durante esse processo.

Aí entrou em cena o jornalista John Gambadoro, da rádio Arizona Sports, um cara bem informado sobre os bastidores da franquia local, para dar algumas pistas: 1) Aldridge tem aversão à posição 5, de patrulheiro de garrafão, e acreditava que, em San Antonio, pode ficar encarregado desse serviço sujo, enquanto o Suns havia acabado de contratar Tyson Chandler, presença inesperada na reunião com o clube; 2) em Phoenix, ele seria a referência indiscutível em quadra, podendo manter sua produção estatística (e a satisfação de ser o cara); 3) estaria também em um time bem competitivo — se não para conquistar o caneco, mas ao menos num patamar semelhante ao do Blazers, com chancds –, o que o livraria da imagem de “mercenário” e “caça-título”; 4) por fim, o fator extraquadra, no qual ele também seria tratado como a grande estrela, recebendo mensagens inclusive do prefeito de Phoenix nesta sexta-feira, um mimo que lhe fez falta nos últimos anos em Portland, depois da ascensão de Damian Lillard.

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Esses quatro pontos podem ser facilmente rebatidos, claro. Mas não podemos dizer se está certo ou errado ponderá-los. Teria LaMarcus exagerado em seu ciúmes quanto a Lillard? Talvez, até porque essa coisa de carisma é um tanto inerente, não? Quem tem, tem. Para atingir a popularidade, nem tudo se projeta e se constrói. Sobre sua questão em ser denominado pivô e ter a atribuição de trombar com os jogadores mais pesados: o talentoso cestinha poderia se questionar se esse conceito de cincão ainda existe, mesmo, ou se vá ser duradouro. Ok, bater de frente com Bogut e Asik deve doer uma barbaridade. Mas esses já são casos raros.

Nessa categoria mastodôntica, todavia, ainda se enquadra DeAndre Jordan, outro agente livre texano que tinha suas questões pessoais para matutar ao decidir se trocaria o Los Angeles Clippers pelo Dallas Mavericks. Sua mágoa com Chris Paul é realmente do tamanho que muita gente especulou durante a temporada. Nas palavras oficiais, claro, todos desmentiam. Até que chegou o momento de negociar um novo contrato, com o pivô virando as costas até mesmo para seu melhor amigo, Blake Griffin, de tanto desgosto que tinha pelas intensas cobranças do armador. Além disso, sonhava com um papel de maior destaque no ataque, em vez de apenas colher as rebarbas de CP3 e Griffin. Estava convicto de que poderia causar estragos no jogo de costas para a cesta e em mais situações de pick and roll.

Simbolismo puro

Simbolismo puro

Será? Doc Rivers, na tentativa de segurar o grandalhão que ele tanto ajudou a evoluir nos últimos dois anos, segundo consta, não prometeu nada nesse sentido. Teria menosprezado as habilidades do jogador, ou apenas constatado suas limitações? O Mavs se aproveitou dessa brecha e, em sua apresentação, usou a prancheta de Rick Carlisle para mostrar de que modo eles planejavam envolvê-lo no sistema ofensivo. Além disso, trouxe Dirk Nowitzki para a reunião. Fez o pivô se sentir mais querido.

No final, Aldridge tomou a decisão aparentemente mais lógica e fechou com o Spurs. Vai ter a chance de dividir a quadra com uma lenda como Tim Duncan pelo menos por um ano e carregar a tocha a partir daí, com a ajuda de uma estrutura incrível nos bastidores, a orientação de Gregg Popovich e uma força emergente como Kawhi. O que o clube texano não lhe proporciona é a visibilidade e o tratamento de estrela — não pelo fato de ser um mercado pequeno (Kevin Durant joga em OKC, e seu rosto está por todos os lados), mas simplesmente porque, em San Antonio, as coisas simplesmente funcionam de um modo diferente. As preocupações são outras. Jordan, por outro lado, foi com o coração e agora vai se testar seus limites sem a assessoria de Paul e Griffin, também de volta ao Texas, mais próximo de casa. Foi uma bobagem deixar um time que seria automaticamente candidato ao título por uma equipe que nem armador titular tem? Esportivamente, dá para dizer que sim. Só não dá para ignorar esse componente emocional.

Durante o flerte desses com outras equipes, Aldridge e Jordan expuseram suas preocupações, aflições e predileções. Você pode entender isso tudo como um capricho de jogadores mimados, e tal. Recomenda-se, todavia, dar sempre um passo para trás e tentar entender o que está acontecendo, em vez de simplificar as coisas com adjetivos chulos. Algo que anda em falta no mundo de hoje, a julgar pelas seções de comentários inflamadas em qualquer www. Independentemente da interpretação aos fatos, o que se constata depois das negociações dos pivôs, o que eles nos ensinam, uma vez mais, é sobre a complexidade do dia a dia da NBA — e de qualquer grande liga esportiva, afinal de contas. Eles jogam, nós cornetamos. Eles vivem, e nós também.

PS: um contrato de freelancer que começou neste mês deixará a atualização do blog um pouco intermitente durante a disputa dos Jogos Pan-Americanos.


Cesta da Jamaica! O novo capítulo da crise com Fiba, e a humilhação da CBB
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Giancarlo Giampietro

Carlos Nunes nos holofotes agora, com o pires na mão

Carlos Nunes nos holofotes agora, com o pires na mão

“Fiba recusa proposta da CBB e seleções de basquete podem até ser suspensas”. A essa altura, vocês já leram a matéria de assinatura tripla aqui do UOL Esporte que revela o mais novo capítulo da saga que agora humilha o basquete brasileiro no mundo inteiro. Jornalistas americanos, espanhóis, argentinos, gregos… Já estão todos repercutindo a pindaíba nacional. A última é que as equipes brasileiras podem ser suspensas de atividades internacionais nos próximos meses. Isso inclui a Copa América e até mesmo a Copa Intercontinental entre Bauru e Real Madrid. Ah, e alguém falou de vaga olímpica?

Se não bastasse o fato de a seleção brasileira ter perdido para Uruguai e Jamaica – não dá realmente para ignorar que todo esse causo tem origem em derrotas históricas em quadra, em 2013 –, agora é a hora de passar carão do ponto de vista de *gestão*, estendendo suas mazelas financeiras para o âmbito internacional, devendo dinheiro justamente para seu, digamos, ‘chefe’. Dá para dizer que não é a atitude mais esperta, ainda mais no atual contexto.

Já escrevi aqui no mês passado: “A CBB escolheu a pior hora para ficar em dívida com a Fiba, que vive um de seus períodos mais agitados nos bastidores, com a ideia de expansão de sua marca (e do basquete, quiçá). A troca do nome de Campeonato Mundial para Copa do Mundo, o deslocamento da competição para um ano ímpar, fugindo de eventual conflito com a Copa do futebol, a trabalhosa proposta de alteração no calendário de seleções, com inclusão de eliminatórias… Tudo com alcance global, em larga escala. Mas as mexidas não param por aí, fazendo um movimento agressivo apara reassumir o controle da Euroliga, sob o comando de um agora incisivo secretário geral Patrick Baumann”. Geralmente acusamos as federações de serem ineptas, inertes. Neste momento, a Fiba está em alvoroço, independentemente da pureza de seus motivos. Eles querem bufunfa, claro. Da CBB, dos clubes europeus e de todo mundo – e os cartolas brasileiros deveriam saber disso.

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A entidade agora exige uma solução (leia-se “pagamento”) até 31 de julho. Afinal, a logística da Copa América (feminina e masculina) depende disso. Uma reunião vai ser realizada durante os Jogos Pan-Americanos, em Toronto, de 21 a 25 de julho, para saber o que se fazer. Até lá, deve acontecer alguma correria por aqui para se levantar o máximo de bufunfa possível, talvez adiantando cotas de patrocínio – prática que só serve para deixar a confederação mais estrangulada no futuro.

Derrota na Copa América de 2013 fica mais e mais cara

Derrota na Copa América de 2013 fica mais e mais cara

O pior: o convite foi vendido para a CBB em janeiro de 2014. Há um ano e meio. Desde então, a confederação simplesmente não encontrou um meio de pagar a quantia de US$ 1 milhão em sua totalidade, se estrepando enquanto o câmbio decolava no ano passado, é verdade. Até agora, pagaram apenas US$ 300 mil. A última proposta foi de parcelar a parcela: os US$ 700 mil restantes (que equivalem a duas prestações do ingresso na Copa do Mundo). De novo: desde fevereiro de 2014, tiveram 17 meses para se preparar, e não o fizeram. É difícil de entender isso.

Será que a intenção era dar um calote, acreditando que tudo passa nessa vida, sem imaginar que a Fiba jamais ameaçaria tirar uma potência (do passado) como o Brasil dos Jogos Olímpicos? Bom, vamos supor que não, pela boa-fé. Até por termos todos os fatos expostos sobre a falência de seu escritório, que hoje já deve R$ 13 milhões na praça, a despeito dos constantes pedidos de socorro ao Governo para custeio das operações de suas equipes em viagens internacionais.

Até por conta dessa penúria, o mais prudente era realmente aceitar a eliminação da Copa do Mundo e tirar o time de quadra, mesmo que a seleção tenha sido competitiva na Espanha. Entrar pela porta dos fundos, só para manter uma sequência de participações nos Mundiais não vale este vexame. Sim, é um vexame, não importando o desfecho desta história. Mesmo que a Fiba arrefeça, não vejamos o sorriso de sempre, como se nada tivesse acontecido. Como se fosse uma vitória. No futebol, convencionou-se a expressão “gol da Alemanha”, certo? Aqui, encerramos com “mais uma cesta da Jamaica”.


Quem dá mais? O Pelicans! Com um contrato gigantesco para Davis
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Giancarlo Giampietro

O Monocelha janta com a família, o agente, o GM Dell Demps e seu novo técnico Alvin Gentry. Quem será que pagou a conta? Ala-pivô do Pelicans se torna o jogador mais bem pago da NBA, por enquanto

O Monocelha janta com a família, o agente, o GM Dell Demps e seu novo técnico Alvin Gentry. Quem será que pagou a conta? Ala-pivô do Pelicans se torna o jogador mais bem pago da NBA, por enquanto, com R$ 90 mi por ano a partir de 2016

Quando o escritório da NBA ouviu  à meia-noite em  Nova York (23h em Brasília, 19h em Los Angeles), as companhias aéreas e de telefonia vibraram. Assim como os hotéis e aquelas lojinhas de conveniência e presentes de última hora. Sabe aquelas que vendem bugigangas para quem esqueceu de comprar algo para o aniversariante, e tal? OK, no mundo bilionário da liga, esse ramo de negócios não lucra tanto. De resto, os outros três setores da economia americana curtem e muito o 1º de julho. É que os times estão liberados a abrir negociações (oficiais) com os agentes livres da liga. A primeira madrugada de visitas e teleconferências já foi agitada. Vejamos um resumo comentado do que aconteceu até agora:

– A principal notícia foi a extensão que Anthony Davis ganhou do New Orleans Pelicans. O acerto em si já era esperado. A surpresa ficou para quem ainda não havia se dado ao trabalho de calcular o quanto nosso prezado Monocelha poderia ganhar em seu segundo contrato. Saiu por estimados US$ 145 milhões em cinco anos (a partir de 2016), o que fará do ala-pivô o jogador mais bem pago da liga. Por ora, claro, até que LeBron possa assinar seu primeiro vínculo com o Cavs no novo mercado da NBA, a partir do ano que vem, e que Kevin Durant decida o que fazer da vida também em 2016. No câmbio de hoje, dá algo em torno de R$ 450 milhões (sem deduzir os impostos). Algo como R$ 90 milhões por ano. Toda uma dinastia de Monocelinhas já está com a poupança garantida, e o mundo inteiro sorri que é uma beleza. Como se chega a um valor exorbitante desses? É que o Pelicans *concordou* em pagar o máximo de salário possível para o jogador – o que, de acordo com as regras de hoje, se equivale a 30% do teto salarial de um clube, como seu “jogador designado”. Não importando o valor desse teto. Logo, com as projeções de subida da folha de pagamento para o norte de US$ 100 milhões em 2017, Davis vai poder levar uma bolada, e tanto. Em caso de mais uma eleição para o All-Star Game (o que, sabemos, vai acontecer), você chega ao que se tem de maior projeção em dividendos para um atleta. PS: ao final da quarta temporada da extensão, em 2020, o jovem astro poderá virar agente livre.

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– O segundo maior contrato foi firmado entre San Antonio Spurs e Kawhi Leonard. Nenhuma surpresa também. O valor é de US$ 90 milhões por quatro anos, o que atesta a opinião firme de Gregg Popovich de que o ala é o futuro do clube na era pós-Duncan, mesmo que ele não tenha jogado tão bem a série contra o Clippers. Kawhi ainda está no princípio de seu desenvolvimento como estrela. Acontece. Agora o Spurs espera sua vez para cortejar LaMarcus Aldridge. Para contratar o ala-pivô, porém, RC Buford e o Coach Pop terão de fazer algumas manobras complicadas e dolorosas, incluindo pagar ainda menos para Duncan e Ginóbili, talvez renunciar aos direitos sobre Danny Green e realizar uma troca envolvendo Tiago Splitter, Boris Diaw e/ou Patty Mills, sem receber nenhum salário de volta etc. Por falar em Danny Green, o ala já recebeu várias ligações. A primeira foi do Detroit Pistons. O Knicks também já agendou reunião. O Spurs teme perder o ala.

Sobre LaMarcus Aldridge: os dois primeiros times a se reunirem com ele em Los Angles foram Lakers e Rockets. Não significa que eles tenham a prioridade. O Lakers tem espaço em sua folha salarial e pode assinar um contrato na casa de 25% do teto salarial (o que daria US$ 18,8 milhões no próximo campeonato) com o pivô do Blazers. Na sala com Aldridge, estavam Jeannie e Jim Buss, os donos da franquia, Kobe Bryant, Byron Scott, o gerente geral Mitch Kupchak, o ídolo e comentarista dos jogos do clube James Worthy, além dos espíritos de Wilt Chamberlain e George Mikan e bonecos bubblehead de Shaq, Jerry West e Kareem Abdul-Jabbar. A comitiva do Rockets tinha dirigentes e Kevin McHale e James Harden. Para ter o pivô, o clube também precisaria se desfazer de alguns salários. Mavericks, Suns, Raptors e Knicks ainda vão conversar com ele. O Blazers ainda está no páreo, mas não haverá um encontro formal entre as partes. Convenhamos: um já conhece bem o outro. O pivô é hoje a figura mais cobiçada da liga (e seu pacote técnico justifica tamanho frenesi). É uma situação muito confortável: poderá escolher um time entre opções muito diferentes. Difícil de imaginar, no entanto, que não fique entre Lakers, Spurs e Blazers. A saída de Portland parece cada vez mas provável, de todo modo. E aí ficaria um dérbi bastante contrastante entre o glamour de Los Angeles e o ambiente caseiro de San Antonio. Depende do que o jogador quer.

– Quem está à espera de LaMarcus é Greg Monroe, considerado o plano B para muitos. Ele já bateu um papo com Knicks e Bucks em Washington, vai receber metade da delegação do Lakers hoje e ainda tem Blazers e Celtics na fila. A expectativa geral é a de que ele vá fechar um acordo com o New York. Ficar em Detroit está fora de cogitação. O pivô está disposto a assinar um vínculo mais curto, talvez de apenas dois anos, para manter suas opções em aberto, mesmo correndo riscos de que alguma lesão possa atrapalhar os planos de longo prazo. De qualquer forma, ciente de que o mercado vai bombar a partir de 2016, talvez seja uma decisão esperta. Se escolher direito seu próximo clube, Monroe vai seguir acumulando números bonitos para o currículo, ainda que seu jogo não inclua a defesa, e estará pronto para receber um contrato volumoso para a segunda metade de sua carreira. O sistema de triângulos é uma boa para seus recursos técnicos. Assim como faria bem a Patrick Beverley, um agente livre subestimado ao meu ver. Um dos melhores defensores em sua posição, bom chutador e que, em Nova York, não precisaria ser um armaaaaador – daqueles que retém a bola por muito tempo.

– Procurando um homem de garrafão desesperadamente, o Lakers também agendou para esta semana uma reunião com Kevin Love. Nos bastidores, a previsão é de que ele fique em Cleveland, e isso teria sido informado ao time californiano. Mas há quem ainda acredite que o ala-pivô possa deixar o clube. Creio que seja difícil. Pelo menos não para este ano. Em relação ao Cleveland, tudo quieto. Quer dizer, mais ou menos, já que LeBron James, em tese, é agente livre. Foi mais um movimento planejado para estrangular a diretoria do clube, no caso, para se renovar com Tristan Thompson sem sustos e seguir as diretrizes de mercado que o jogador quiser. Entre elas, Tayshaun Prince?! Estava pronto para detonar mais um dos pitacos do GM LeBron, até que… o Spurs apareceu entre os interessados no veterano. (Risos). (E aí não dá para entender mais nada, mesmo.) Enquanto isso, JR Smith se sente desprestigiado pelo Cavs. Alô, JR, terra chamando!

– Outro alvo do Lakers, sabemos, é DeAndre Jordan. Byron Scott e Mitch Kupchak cruzaram o país na madrugada para falar com Greg Monroe na capital americana e voltariam ainda nesta quarta para LA para se reunir com o pivô. Alguém falou em jet lag? Quem primeiro abriu tratativas com Jordan, no entanto, foi o Dallas Mavericks. O ala Chandler Parsons, segundo consta, não desgrudou do grandalhão por nenhum momento nos últimos dias e está tentando todas as artimanhas para que o jogador retorne ao Texas (é natural de Houston, porém). O Knicks também pretende negociar com o gigantesco Jordan, mas Mavs e Clippers são vistos como os favoritos.

– O Dallas também foi atrás do ala Wes Matthews, e as negociações avançaram. Aqui, sim, temos uma surpresa. O Mavs parece operar com a certeza de que o queridinho de Portland vai se recuperar 100% de uma lesão grave como a ruptura do tendão de Aquiles. Não é algo tão simples assim, gente. O clube teria oferecido US$ 12 milhões anuais. Ele quer US$ 15 mi. Não sei bem se é um bom negócio. Com Dirk idoso e as dúvidas sobre a resistência física de Parsons, o time precisava de alguém mais criativo no ataque? Ou estão confiando no trio Felton-Harris-e-eventualmente-Barea ainda?

– Quem se mandou do clube foi o ala Al-Farouq Aminu, que fechou um contrato de US$ 30 milhões por quatro anos com o Blazers. Essa foi um tanto bizarra, a despeito do ganho de investimento que os clubes terão a partir do ano que vem. O jogador que defende a Nigéria no mundo Fiba é um cara de muita vitalidade, versátil, que causa impacto nos rebotes e fez ótima série contra o Rockets.ue Mas q não acerta nem 30% dos arremessos de três em sua carreira e ainda não teve um rendimento consistente para justificar essa grana. Em Portland, vai reencontrar o gerente geral que o Draftou pelo Clippers, Neil Olshey, de todo modo. O lance é que esse valor obrigatoriamente inflaciona o preço de diversos atletas semelhantes, como DeMarre Carroll, Jae Crowder e afins. Imagino que Danny Ainge, que tanto quer Crowder, tenha gelado ao saber da notícia. Carroll, por sua vez, pode muito bem pedir o dobro agora (US$ 15 milhões por ano) ao Hawks. Mesmo Danny Green vai querer uma fortuna depois dessa.

– Mais dois caras ex-Mavs e que estão em negociações curiosas? Rajon Rondo e Monta Ellis. O Sacramento Kings foi para cima de Rondo, liderado pelo recrutamento de Rudy Gay, um dos raros casos de atleta que se dá bem (e muito bem) com o armador. São muito próximos, assim como Josh Smith. Que galera, hein? Rondo estaria disposto a assinar um contrato curto com o Kings na tentativa de regenerar sua reputação na liga depois do papelão que fez em Dallas – e, tão ou mais importante, o baixo nível de produção em quadra. Agora… Ter Rondo, Boogie, Karl e Ranadive sob o mesmo teto? Vira um hospício. Bem distante da Califórnia, o Indiana Pacers vai receber Monta Ellis, outra figura problemática, nesta quarta. Especula-se que vão oferecer um contrato de US$ 32 milhões por três anos. Larry Bird já lidou com Lance Stephenson por alguns anos, então talvez não se preocupe em domar o ego de Ellis, um cestinha obviamente talentoso, mas que marca pouco e acredita ser melhor que Stephen Curry. Ao menos, na retaguarda, Paul George e George Hill poderiam compensar suas deficiências.

– Outros negócios quase certos: o ala Khris Middleton tem um contrato de US$ 70 milhões e cinco anos encaminhado com o Milwaukee Bucks. Pode parecer muito para um jogador pouco badalado. Mas Middleton contribui dos dois lados da quadra, é jovem e se encaixa bem no esquema de Jason Kidd, ao lado de Giannis, Jabari & Cia. Envergadura. O Brooklyn Nets também vai renovar com Brook Lopez (US$ 60 milhões/3 anos) e Thaddeus Young (US$ 50 milhões/4 anos). Valores OK para um clube que está de mãos atadas enquanto não se livrar de Joe Johnson e Deron Williams.


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