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Arquivo : junho 2014

Toronto, capital norte-americana do basquete brasileiro?
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Giancarlo Giampietro

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Primeiro foi Bruno Caboclo, como já haviam lhe prometido no Draft. Agora, chamam Lucas Bebê para a festa. Em quatro dias, Toronto se tornou a capital norte-americana do basquete brasileiro. Neste domingo de noite, também de modo sorrateiro, a franquia canadense acertou uma troca para despachar John Salmons e seu salário para o Atlanta Hawks, recebendo o armador Lou Williams e os direitos sobre o pivô brasileiro, que jogou a temporada espanhola pelo Estudiantes.

Masai, Bruno e o Brasil

Masai, Bruno e o Brasil

Mais uma cartada surpreendente do gerente geral Masai Ujiri, que vai se revelando um profundo admirador dos garotos brasileiros. Não se esqueçam, como eu já estava deixando passar até ser lembrado pelo Romengão abaixo, que Scott Machado também tem convite para defender o time na liga de verão de Las Vegas, a partir do dia 11 de juho. Vai e os caras do Norte vão se tornar populares por aqui.

O negócio por Bebê ainda não havia sido oficializado até essa postagem, dependendo da aprovação da NBA. Mas parece não haver impedimento legal nenhum, e o Hawks tem pressa: só aceitaram Salmons para dispensá-lo nesta segunda-feira e economizar (só terão de pagar US$ 1 milhão de um salário de US$ 7 milhões), limpando espaço na folha salarial para atrair algum agente livre sexy.

Ainda não temos a palavra do nigeriano Ujiri a respeito da transação, então. Não sabemos ainda se é de seu interesse aproveitar Bebê na próxima temporada. O pivô ainda tem mais um ano de contrato com o Estudiantes, mas, segundo o site Encestando, estaria interessado em procurar novos rumos, seja na NBA ou em um clube de Euroliga. Sua multa rescisória é baixa, de US$ 600 mil e, caso o Raptors tenha interesse, poderá pagá-la na íntegra. A graninha também seria bem-vinda aos espanhóis, que estão com atrasos em sua folha de pagamento.

De qualquer forma, essa troca serve para vermos mais uma vez como são fluidas as coisas na NBA. Um ano atrás, o Hawks estava encantado com o carisma e os talentos de Bebê. Hoje, simplesmente o usaram numa troca para se livrar de salário em busca de nomes mais grandiosos e badalados no mercado – sem a garantia de que vá se dar bem nessa. Isso não quer dizer que o pivô brasileiro tenha perdido valor, que seja menos intrigante do que em 2013.

O que mudou, de certo, foi o contexto do Hawks, time que acabou de selecionar no Draft outro gigante ainda cru e promissor em atividade na Espanha – o cabo-verdiano Walter Tavares, na segunda rodada, um atleta de características muito semelhantes em termos de impacto em quadra, com sua capacidade para proteger e atacar o aro. Tavares, no entanto, vai ficar na Espanha pelo menos por mais um ano. Não há pressa em aproveitá-lo, assim como não havia com Lucas. Vale o registro: pouco depois de terem sido eliminados pelo Indiana Pacers num confronto muito mais dramático que o esperado nos playoffs, o gerente geral Danny Ferry e o técnico Mike Budenholzer estiveram em Madri para acompanhar o carioca de perto. Não sabemos o que conversaram. Só sabemos agora que o Hawks optou por seguir em outra direção.

E como foi a temporada do pivô pelo Estudiantes? Um pouco acidentada, infelizmente, por conta de problemas físicos. Ele pôde disputar apenas 18 partidas, lidando com dores crônicas no joelho devido a uma tendinite. Dores que, em determinado momento, o forçaram a se afastar da equipe por meses. Depois de anotar 7 pontos e pegar três rebotes contra o Bilbao pela nona rodada em dezembro, numa derrota por 72 a 55, Bebê ficou fora de ação por 12 jornadas, de dezembro até a março. Regressou, ironicamente, contra o mesmo Bilbao. Neste vai e vém, o pivô foi aproveitado de modo irregular, óbvio. Só ficou em quadra por mais de 20 minutos em três ocasiões.

O técnico Txus Vidorreta acusou sua passagem pelos Estados Unidos como um fator agravante – lembrando que Bebê passou diversas semanas sob a custódia do Hawks, jogando a liga de verão de Las Vegas e treinando em Atlanta. “Depois de três meses nos Estados Unidos, não está em boas condições. Ele não teve um período de descanso, algo que é necessário antes de enfrentar a pré-temporada. Além disso, chegou com excesso de peso. As equipes da NBA têm o interesse que jogadores como Nogueira ganhem muito peso, quando não deveria ser assim. Querem isso para quando vá para a NBA, se é que vai. No momento, tem contrato com o Estudiantes, e isso está complicando sua preparação”, disse.

Luca Bebê em ação em temporada irregular na ACB

Luca Bebê em ação em temporada irregular na ACB

As boas notícias, porém, existem: com Lucas em quadra, o Estudiantes foi um time bem mais competente, com nove vitórias e nove derrotas (50%, dãr). No geral, a equipe teve campanha de 12 vitórias e 22 derrotas (35,2%), terminando em uma frustrante antepenúltima posição. Sem o brasileiro, o rendimento foi sofrível: 3 vitórias e 13 derrotas (18,5%).

Pois, no pouco que jogou, Bebê foi muito bem. Em termos de eficiência,  deu saltos consideráveis, posicionando-se na elite da fortíssima Liga ACB. Considerando jogadores que tenham ficado em quadra por um mínimo de 250 minutos, o brasileiro foi o quarto atleta mais produtivo do campeonato, atrás apenas de Tibor Pleiss, alemão do Caja Laboral/Baskonia, Blagota Sekulic, montenegrino que estava barbarizando pelo CB Canarias até ser contratado pelo Fenerbahçe, e do sensacional croata Ante Tomic, do Barça.  Como chegou a essa condição? Mantendo alto nível nas finalizações próximas ao aro (bandejas e enterradas, enterradas e bandejas) e sendo um dos principais bloqueadores do campeonato em projeções por minuto (3,38 tocos por 36 minutos, contra 2,64 de Tavares, por exemplo). O único desconto obrigatório aqui: estamos falando de projeções, uma vez que, na temporada real, Bebê foi aproveitado por apenas 16,6 minutos por rodada.

O pivô cobre espaços na defesa, intimida os adversários que queiram infiltrar. Também passa a bola surpreendentemente bem de frente para a cesta, algo que nem sempre é explorado.

Avaliando esses altos e baixos, é complicado de imaginar qual será o próximo passo para Bebê – e qual seria o mais indicado, aliás. A tendinite foi aplacada? Há boas propostas/vagas de clubes da Euroliga (e aqui seria muito melhor em pensar em times um pouco mais fracos, em que o brasileiro fosse parte integral dos planos, em vez de reserva de luxo)? Mais vale buscar a segurança de um contrato na liga norte-americana desde já? O quanto o Raptors o admira?

Lucas Bebê e sua ótima habilidade como finalizador. De Madri para Toronto?

Segundo o jornalista Ryan Wolstat, do Toronto Sun, Masai Ujiri tinha o brasileiro como um dos seus alvos no Draft do ano passado, ao lado de Giannis Antetokounmpo. Não conseguiu fechar nenhuma troca – uma vez que sua escolha estava entregue ao Oklahoma City Thunder, resultando no intrépido Steven Adams –, e teve de fechar os olhos todas as vezes que o Raptors se deparava com o Bucks de Giannis pela frente. Agora, porém, tem a chance de contratar Bebê, num setor com carências.

O lituano Joanas Valanciunas terminou a temporada em alta, mas, em geral, não deu o salto que o clube esperava. É jovem – um mês e meio mais velho que o brasileiro apenas e já com duas campanhas de NBA na bagagem – e o titular indiscutível da posição, todavia. Amir Johnson é pau-pra-toda-obra e alguém que parece ainda nem ter alcançado seu potencial pleno ainda. Tyler Hansbrough poderia ter sido dispensado hoje – mas teve seu contrato confirmado. Patrick Patterson, que jogou tão bem desde que chegou na troca por Rudy Gay, pode ser um agente livre restrito cobiçado, devido ao seu arremesso de três pontos. Chuck Hayes joga muito – para alguém de seu tamanho. E só. Pode ter espaço aí, ou não.

Além do mais, é de se imaginar que a presença do cabeleira no elenco do Raptors ajudaria na transição de Caboclo ao dia a dia na metrópole canadense, como um companheiro para trocar ideias e dividir experiências, ainda que também não fale inglês fluente. Mas isso vai depender dos próprios planos do clube em relação aos seus agentes livres, como o armador Kyle Lowry. A intenção é mantê-lo mas seu preço pode ser inflacionado, especialmente o de Lowry, que foi um dos melhores em sua posição no último campeonato e desperta o interesse de LeBron James do Miami Heat e, dizem, do Los Angeles Lakers. Com cerca de US$ 40 a 41 milhões comprometidos em holerites, já contando o vínculo futuro de Bruno, eles têm muito provavelmente a flexibilidade para assinar com quem queiram e ainda contratar Bebê para já. Vamos aguardar.

Até porque não haveria necessariamente uma urgência para que Lucas produzisse logo de cara. Seria uma peça complementar em um elenco que evoluiu muito sob o comando de Dwane Casey durante o campeonato, especialmente após a saída de Gay. Essa melhora, inclusive, forçou que Ujiri mudasse sua direção. Inicialmente, quando o nigeriano acertou seu retorno ao clube por uma bolada, esperava-se que fosse implodir o elenco. Algo que começou fazendo ao despachar Andrea Bargnani para Nova York. Acontece que o Raptors, em vez de perder, começou a vencer, a ponto de chegar aos playoffs pela primeira vez desde 2008. Daí que agora o cartola pensa em manter essa base competitiva e se virar para desenvolver jovens atletas fora da rotação. É nessa estratégia que entra a surpreendente escolha de Bruno Caboclo. Pode ser aí que se encaixe Lucas Bebê.

*  *  *

Sobre a seleção de Bruno, em tempo: sim, há mais de um mês sabia do forte interesse do Toronto Raptors pelo seu talento. Indiana Pacers, Utah Jazz (seu diretor internacional de scouting, que acabou de se desligar do clube, é um dos responsáveis pela montagem do elenco do Nike Hoop Summitt…) e o Phoenix Suns (Leandrinho?) também estavam na trilha.

Quando o ala declarou seu nome, muitos clubes saíram a sua procura, como relatei aqui. Nesses contatos, chegou a informação, de três fontes diferentes da liga, de que ele teria a promessa que seria escolhido, e que ttudo apontava que fosse realmente o Toronto. Mas ninguém esperava que ele saísse com a 20ª escolha! Isso é fato. Acho que nem mesmo Masai Ujiri acreditava nisso (risos). Minhas fontes, na verdade, acreditavam que ele sairia apenas na 59ª escolha – visto que se tratava de um nome pouco discutido. Em público, no caso.

O venerável Marc Stein, do ESPN.com, contudo, reportou que a promessa do Raptors estava endereçada para o pick 37. Então foi um meio acerto aqui no blog. Que o Toronto tenha conseguido manter isso em segredo diante da mídia norte-americana, é notório, aliás. Nenhum dos sites especializados cogitava a escolha de Caboclo. Nem mesmo na segunda rodada.

Caboclo treina em Toronto. Crédito da foto é de João Fernando Rossi, dirigente do Pinheiros que acompanha o rapaz por lá

Caboclo treina em Toronto. Crédito da foto é de João Fernando Rossi, dirigente do Pinheiros que acompanha o rapaz por lá

Com a proximidade do Draft, porém, os nervos ficam mais tensos. A primeira opção da franquia, o armador local Tyler Ennis, foi escolhida pelo Suns. Na dúvida, Ujiri foi de Bruno logo em 20º, mesmo, relatando depois que o tinha como o segundo calouro em sua lista (claro, daqueles que julgava possível obter) e que temia que ele não estivesse disponível mais de uma hora depois. Vai saber. Ele não quis arriscar.

O agente responsável pelo ala – que era o mais jovem do Draft – ajudou a segurar as pontas para a franquia canadense também. Foi bastante seco em seus contatos com as franquias que o procuravam. Nos últimos dias antes do processo de seleção, havia um companheiro, envolvido na cobertura, que até mesmo especulava se a estratégia realmente não era de que Bruno passasse batido pelo Draft para ter plena possibilidade de escolha no futuro, sem ficar preso a um só clube. O agente brasileiro, agora escoltando o garoto nos Estados Unidos, ajudando-o também como intérprete, havia me dito que não tinha nada de promessa. Como postei na noite: compreensível, havia um plano em curso, e, na guerra fira que é a preparação para o Draft, cada um defende os seus interesses. A lição que fica aqui é a de sempre: declaração oficial nem sempre – ou quase nunca – não é o suficiente.

Minutos depois da escolha de Caboclo, também ouvi de uma fonte de que Caboclo já tinha a garantia de que seria aproveitado de imediato pelo Raptors. Calhou que não era achismo. Durante a apresentação do menino, Ujiri confirmou – depois, inclusive, de admitir que tenha visto o ala, ao vivo, em três ocasiões. O garoto vai trabalhar bastante com a comissão técnica de Casey e deve, aqui e ali, ser aproveitado na D-League. Mas esperem que ele fique muito mais tempo em Toronto, mesmo, já que o time não possui um afiliado particular na liga de desenvolvimento. Hoje, eles dividem esse vínculo com o Fort Wayne Mad Ants com outros 12 clubes (!!!) – uma situação agora bizarra, uma vez que todas as outras equipes  têm parcerias individuais.

*  *  *

O que penso a respeito?

Em primeiro lugar, nunca se pode ignorar o que representa financeiramente a transição para a NBA. É hipocrisia ignorar esse aspecto, ainda que, se tudo ocorresse conforme o esperado (pelo basquete brasileiro), Bruno não teria problemas em tocar uma vida confortável. Mas agora estamos falando de milhões de dólares, e para já.

Tirando isso, que importa, tem o jogo. Sem ele, não há a bufunfa, claro.

Faz mais de meses, especialmente depois da fase final da última LDB, que o burburinho nacional em torno de Bruno estava demais. E com razão. Não é todo dia que se vê um garoto com seus atributos físicos entrar em cena. Agora não é só de envergadura, agilidade e talentos naturais que tais que vive um prospecto. Precisa de tino, força de vontade e um trabalho por trás. E aí ficam os méritos para o Barueri, clube que o teve até 2013, e o Pinheiros, que o contratou no ano passado para acelerar seu desenvolvimento, por meio de trabalhos específicos diários e o simples convívio com o time adulto, que já faz uma baita diferença.

Talvez o ideal fosse seguir nesse ritmo por ora? Era o que o agente Eduardo Resende dizia, há coisa de duas ou três semanas. Que ele ficaria pelo menos mais um ano nessa rotina, antes de pensar em dar algum salto. Jogaria mais com a equipe principal e tal. Acontece que o interesse do Raptors não queria esperar. A franquia canadense confia que possa fazer o jogo do garoto crescer, mesmo que ele não jogue muito em seus primeiros meses – ou até mesmo durante o campeonato inteiro.

Há quem duvide. Um scout da liga disse ao New York Daily News que Bruno não valia nem mesmo uma escolha de segunda rodada. Segundo o que viu do atleta. Pensem que esse tipo de comentário pode sair da boca de alguém que neste exato momento é pressionado por seus superiores sobre um eventual desconhecimento do atleta.

Dos olheiros que ouvi, a frase de consenso foi a seguinte: “Potencial absurdo, mas ainda não sabe muito bem o que está fazendo em quadra. Vai precisar de tempo, mas vale a aposta. Por que não? Muitos calouros americanos mais americanos não dão em nada. E no caso de Caboclo há evidentes qualidades a serem exploradas”. Realmente só não esperavam que fosse sair tão cedo no Draft. As coisas mudam pouco de figura, até mesmo quanto a cobranças de torcedores e mídia, além de adversários mais antenados. Cada ala que tenha saído depois do brasileiro vai tê-lo como alvo.

No ano passado, Giannis Antetokounmpo foi contratado pelo Milwaukee Bucks com planos semelhantes. Acabou que entrou na rotação da equipe rapidamente e terminou a temporada como o novato talvez mais promissor de sua geração. Bruno pode seguir a mesma linha, quiçá, ao menos em termos de ganhar tempo de quadra inesperado? Perguntei aos scouts, e eles só concordavam em uma coisa: que ambos só eram similares em termos de narrativa, história. “Garoto que é uma aberração física e que veio do nada para a NBA”. Mas que o grego já estaria muito mais desenvolvido em alguns aspectos como “feeling” de jogo e sua habilidade com a bola quando foi draftado. São olheiros em que confio, que trabalham para equipes com bom faro para e aproveitamento de jogadores estrangeiros, isso posso garantir.

Aguardemos os relatos de seus treinos e rachas com DeMar DeRozan e Terrence Ross agora mesmo em Los Angeles para ver quais serão as primeiras impressões. Em julho, tem liga de verão. Outra atividade programada será a participação no camp de Tim Grgurich, renomado  treinador que investe muito no aprimoramento de fundamentos e já trabalhou por muito tempo com George Karl, inclusive com Nenê em Denver. Resta confiar agora que os técnicos de Toronto ajudem no progresso do ala para encarar essas diferentes e maiores expectativas. De tudo o que ouço sobre Bruno, da sua parte não vai faltar empenho.

PS: Durante esta Copa, como havia avisado, a atualização do blog fica atrapalhada. Ainda falta escrever sobre Splitter, Spurs, LeBron (de novo!?!) e tal. Ah, seleção também, claro. Está acabando, e logo acessaremos isso. 


Bruno Caboclo mantém nome no Draft da NBA. Com promessa de clube?
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Giancarlo Giampietro

Bruno Caboclo ficou no Draft, com fortes indícios de promessa

Bruno Caboclo ficou no Draft, com fortes indícios de promessa

Vamos com a notícia direta e reta: o jovem Bruno Caboclo, ala do Pinheiros que nem 19 aos completou ainda, manteve seu nome na lista de jogadores inscritos no Draft da NBA, assim como o pivô Lucas Mariano, do Franca e 21 anos. Os atletas estrangeiros tinham até esta segunda-feira para decidir se permaneciam no processo de recrutamento de novatos da liga norte-americana. Discretamente, os promissores atletas, por enquanto pouco mencionados pelos jornalistas especializados na cobertura do evento, seguiram essa linha.

Poderíamos escrever aqui que é uma surpresa. Quer dizer, não deixa de ser uma surpresa, especialmente no caso de Caboclo – poucos olheiros e dirigentes da NBA tinham contato com o rapaz. Se Mariano se apresentou em Treviso por dois anos seguidos, Caboclo não deu as caras, e nem Mundiais de base disputou. A familiaridade que têm com seu jogo é, em geral, mínima. A despeito disso, a decisão de manter o nome na lista de candidatos vai de encontro rumor que o blog ouviu há mais de um mês. O de que ele já teria a promessa de uma franquia de que seria draftado. De um time que disputou os playoffs da Conferência Leste. Fiquem de olho especificamente em Indiana Pacers (#57) e Toronto Raptors (#59).

Veja bem: não li nenhum documento que comprove isso. Na verdade, as coisas nem funcionam assim. Mas ouvi de fontes diferentes da liga, no início de maio, a suspeita de que o o ala do Pinheiros já havia recebido a garantia de que seria escolhido na segunda rodada – sobre Mariano, não tenho informações a respeito. Na época, entrei em contato com o agente brasileiro de Bruno, Eduardo Resende, da EW Sports, que trabalha em parceria com a Octagon, gigante do marketing esportivo dos Estados Unidos. Resende me disse que o ala havia sido inscrito apenas para chamar a atenção dos  clubes de lá. Ganhar exposição. De que não havia a menor intenção de mandar o atleta para os Estados Unidos para já. Que ele ficaria no mínimo mais um ano no Pinheiros, para ganhar cancha, rodagem e trabalhar fundamentos. Que seria bobagem pensar nisso.

Acontece que, no caso de um jogador ser draftado, não há obrigação nenhuma que ele se apresente de imediato ao time que o escolher. Tiago Splitter e Serge Ibaka estão aí para comprovar isso, mesmo tendo sido selecionados na primeira rodada, com maiores expectativas. Na segunda ronda, então, os times tendem a agir com ainda mais liberdade – ou flexibilidade, o termo que preferem. Podem apostar num menino ultratalentoso, pouco burilado, de olho no futuro. Em dois ou três anos, pode não dar em nada. Ou, quiçá, pode vir por aí um novo Manu Ginóbili ou Luis Scola, dois craques que não saíram nem mesmo entre os 50 primeiros de seus respectivos Drafts, e hoje são o que são. Nunca se sabe exatamente, mas pode-se projetar e apostar.

Então temos a seguinte questão: se, desde que o companheiro aqui de UOL Esporte, Fabio Balassiano, deu o furo sobre sua inscrição, havia chances reduzidíssimas – “quase 0%” era a impressão passada – de que  ele continuaria no Draft, o que mudou desde então para que pudesse permanecer ? Ou: será, mesmo, que mudou alguma coisa?

Uma coisa é certa: a partir do momento que o nome de “Bruno Correa Fernandes” apareceu entre os inscritos no recrutamento, a NBA ficou ouriçada. Os profissionais de lá não gostam de se deparar com o desconhecido. Não por medo, mas simplesmente porque, num ambiente extremamente competitivo, com 30 clubes procurando qualquer trunfo possível sobre os concorrentes, a busca por informação é grande. Não saber = fraqueza, posição de desvantagem. Então quem diabos seria esse menino Bruno Caboclo?

Pode parecer estranho, não? Afinal, no ano passado mesmo o ala do Pinheiros foi eleito o melhor jogador do “Baketball without Borders”, camp oficial da liga realizado na Argentina. Foi um sinal de fumaça, e a partir daí alguns clubes começaram a sondar o Pinheiros e jogador – pelo menos cinco franquias o fizeram por meio dos canais oficiais durante a temporada. Mas não foi o suficiente para colocá-lo oficialmente no radar de dirigentes. Daí que os clubes inicialmente fora da alçada tiveram de sair em busca de qualquer informação, qualquer novidadena respeito do jogador. Queriam vídeos, queriam saber sobre o comportamento do jogador e tudo o mais. No caso de um adolescente brasileiro, que nem bem jogou no campeonato principal de seu país? Estamos falando de termos como “obscuro” e, ao mesmo tempo, “intrigante”.

O que os clubes estão vendo nas gravações de jogos a que têm acesso é um garoto ainda muito cru tecnicamente, mas com potencial absurdo. Destacam sua envergadura, altura e atributos físicos incomuns. “A história mostra que prospectos da segunda rodada não vingam. Então por que não apostar em um garoto  assustadoramente atlético?”, pergunta retoricamente um scout, que pede para não ser identificado, em contato com o blog.

Nesse processo, descobre-se que o agente responsável pelas negociações de Bruno em solo norte-americano é Alex Saratsis, o mesmo que representou o grego Giannis Antetkounmpo no Draft do ano passado e que já trabalhou com Jonathan Tavernari, do Pinheiros. Ao entrarem em contato com Saratsis, porém, os clubes tiveram uma ingrata surpresa. O agente não cooperou muito em termos de divulgação de informações de seu cliente. Só souberam que Bruno não faria treinos privados com os clubes no Estados Unidos. Bruno também não participaria do Nike Hoop Summit, em Portland (na época estava contundido), nem do adidas Euro Camp, no qual competiram Cristiano Felício, Lucas Mariano e Rafael Luz. (E aqui cabe um esclarecimento: por terem nascido em 1992, Felício e Luz participam do Draft automaticamente. Eles não entram, nem saem do Draft. Os times podem escolhê-los se bem entenderem. O caso de Mariano é diferente: nascido em 1993, ele teria a opção de retirar o nome nesta segunda, sendo que 2015 seria o limite para ser recrutado.)

A pergunta que muitos clubes fizeram: se Bruno quer ganhar exposição, por que sumiria do mapa desta forma? Por que seguir treinando em dois períodos no Pinheiros, com os meninos de sua idade, mantendo a rotina, em vez de ao menos exibir seus talentos mais perto dos olheiros e aguçar de vez o interesse deles? Sniff, sniff, alguma coisa não batia nessa.

Ainda mais porque Saratsis havia apresentado uma conduta completamente diferente no ano passado, na condução da candidatura de Antetokounmpo – hoje uma sensação do Milwaukee Bucks. “Giannis pelo menos convidou todos os times para irem vê-lo na Grécia e inclusive fez treinos para eles. Agora eles simplesmente evitam? Não falam nada nem sobre contrato etc.”, afirmou um scout. É nesse contexto que as suspeitas sobre uma eventual promessa a Bruno ganham força.

O outro cenário possível na estratégia da Octagon seria o seguinte: a recusa em passar informações sobre Bruno teria simplesmente o intuito de realmente criar o burburinho em torno de seu nome e aí, sim, colocá-lo na lista de alvos para o Draft de 2015, de modo a forçar que todo santo time da liga a viajasse ao Brasil para assisti-lo. Inclusive, a expectativa interna no Pinheiros, aliás, é (era?) a de dar não só a ele, mas também ao ala Lucas Dias e ao armador Humberto mais tempo de quadra, inseri-los para valer na rotação.

Seria um caminha realmente plausível. Os mesmos times da NBA que passariam a acompanhar Bruno com atenção, na verdade, já buscaram informações de imediato sobre ligas para jovens aqui no Brasil. Calendário, o nível de competição. E se até mesmo haveria a chance de assisti-lo in loco ainda neste mês de maio que passou. Com o Pinheiros eliminado do NBB e alguns jogos do Paulista sub-19 largados, ficava mais difícil. Ainda existe a especulação de que alguns clubes tenham vindo para São Paulo para vê-lo de perto mesmo assim, em treinos. Algo que não consegui confirmar.

São conjecturas, temos de admitir. Mas o simples fato de Bruno seguir inscrito dá outra cara para esse relato. Das duas, uma: ou os agentes do garoto se sentem realmente confortáveis de que ele será escolhido por um time, ou estão fazendo uma aposta imensa. Até porque este Draft promete ter uma presença maciça de estrangeiros. Uma breve consulta ao DraftExpress mostra isso: em sua confiável projeção, constam nesta segunda 13 atletas de fora dos Estados Unidos (sem contar canadenses e outros que venham da NCAA ou NBDL). Desses 13, nove sairiam na segunda rodada, justamente a área que imaginamos para Caboclo. A expectativa entre as franquias é de que Bruno seja escolhido realmente entre as posições 50 e 60. Qual poderia ser o time interessado no ala do Pinheiros? Podem anotar: Indiana Pacers e Toronto Raptors são candidatos seríssimos.

Outra opção natural seria o Philadelphia 76ers – mas não por qualquer informação que eu tenha recebido, neste caso, e, sim, por uma questão de lógica. O clube simplesmente tem CINCO escolhas de segunda rodada no recrutamento deste ano – sem contar mais duas no top 10 –, depois de tantas trocas que fez nos últimos anos. Em processo de renovação, a equipe pode juntar todos esses picks e fechar mais transações. Ou simplesmente poderia sair colhendo a torto e a direito jogadores internacionais, sem compromisso ou necessidade de aproveitá-los a curto prazo.  Mais: o San Antonio Spurs, bastante famoso por seus projetos no exterior, também tem duas escolhas no final da segunda rodada. Com um elenco formado e pouco espaço para apostar em calouros para já, poderiam muito bem investir em um adolescente como Bruno, tal como aconteceu como já fizeram com o ala-armador francês Nando de Colo, o ala letão Davis Bertans, entre outros.

E outra: os picks hoje têm dono, mas durante uma noite de NBA, o que não faltam são negociações. Lucas Bebê e Raulzinho, por exemplo, foram draftados no ano passado, usaram o boné de Boston Celtics e Atlanta Hawks e foram dormir como apostas de Hawks e Utah Jazz, respectivamente. É uma área movediça pacas – “como se fosse uma nova loteria”, nas palavras de outro scout.

Resta saber apenas se Caboclo estará disponível para eles ali no final da segunda rodada.

E, de novo: se (quando?) o ala for draftado, isso não quer dizer que vá ser aproveitado de imediato. Ele pode muito bem seguir carreira no Pinheiros. Pode ir para a Europa. Tudo depende da contingência da franquia: espaço no plantel, negociações com agentes livres e, tão ou mais importante, perfil da comissão técnica. Além, claro, do seu progresso.


Que tal falar mais um pouco sobre LeBron James?
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Giancarlo Giampietro

LeBron isso, LeBron aquilo, LeBron, LeBron...

LeBron isso, LeBron aquilo, LeBron, LeBron…

Este era para ser um texto sobre nada. E, ok, já admitamos desde já que essa também não é a melhor forma de se abrir um artigo. Se não há nadinha a ser dito, por que continuar a leitura?

Mas, bem, o ódio que muita gente sente por LeBron James acaba validando a pauta. Neste domingo, o ala do Miami Heat teve um jogo esplendoroso e liderou seu time a uma vitória por 98 a 96. A série final contra o San Antonio Spurs está empatada, com o mando de quadra dos texanos, por ora, revertido.

Se formos pensar bem, o que tem de mais? LeBron jogando bem, o Miami vencendo… Tudo muito normal para quem vem acompanhando os atuais, hã, bicampeões da liga, com o craque que já foi eleito quatro vezes o MVP aprontando das suas. Sobre isso, quantos artigos, matérias e notas já foram escritos? Para que perder tempo para falar novamente sobre isso?

Mas… Quaisquer duas ou três clicadas pelo mundo virtual (real?) é o suficiente para saber que nada do que este jogador específico e seus companheiros fazem quadra parece o bastante, o suficiente.  Quem é do contra, é do contra até o fim, e parece não ter muito jeito. De pouco importam as diversas sessões de 48 minutos de basquete disputadas noite após noite. De pouco importam as evidências, ali escancaradas em alta definição. Se você não quiser enxergar, não vai, mesmo. Se você for pensar apenas na “De-ci-são” tomada pelos caras em 2010, tem grandes chances de refutar o que o clube representa, e o jogo jogado que se dane.

“Ódio” é um termo muito forte? Talvez. Quem sabe ojeriza? Desprezo? Asco? Podemos escolher qualquer termo numa linha de repugnância e similares, mas mantenho minha escolha inicial. A gente realmente vive tempos odiosos. É muita gente espumando por aí, em cruzadas incisivas contra tudo e todos – sempre com a benção do anonimato, claro. Longe de querer viver numa vila, numa cidade, num grupo de pessoas pacatas, dispostas ao “sim, senhor, 100% tamo junto”. Existe, contudo, uma grande diferença entre ter espírito crítico, desconfiado e se deixar dominar pela raiva.

É muita gente que se sente mal, mesmo, por ver o sucesso de um ou outro.  Nesse contexto, LeBron virou um baita alvo. Uma supercelebridade – algo, aliás, que gosta de cultivar – e que, ainda por cima, pratica esportes? Pfff, boa sorte com isso.

Não sou fã das gracinhas e poses que o cara gosta de fazer quando seu time está voando por cima dos adversários. A apresentação do trio parada dura na Flórida também foi de um mau gosto daqueles. Bla, bla bla.

Nada disso tem a ver com o que LeBron executa em quadra. Perguntem a Kawhi Leonard ou Gregg Popovich o que acham a respeito. O ala e o técnico do Spurs têm hoje problemas muito mais graves e complicados para resolver do que discutir o carisma, a conduta ou as fofocas em torno do astro. A partir do tapinha inicial, o fato indiscutível é que eles têm de encontrar uma forma de segurar um sujeito que representa uma das maiores aberrações que o esporte já viu, se não a maior.

Kawhi que se vire com LeBron, com ou sem críticas

Kawhi que se vire com LeBron, com ou sem críticas

Wilt Chamberlain nos anos 60. Magic Johnson com altura de pivô, rasgando a quadra em contra-ataques furiosos e geniais. Michael Jordan roubando o “Air” como sua marca própria. Shaquille O’Neal entortando grandalhões e devorando tabelas. Allen Iverson passando por baixo das pernas do mesmo Shaq. A elegância nos movimentos de alta dificuldade que Kobe executava nos bons tempos. A envergadura interminável de Kevin Garnett. Dirk Nowitzki revolucionário. Eventos atléticos impressionantes, que marcaram época na liga. Agora vivemos o período de se pirar com o que o camisa 6 do Miami Heat oferece, e ele vai longe ainda.

Chega a ser injusto. Para os oponentes, no caso, e também um pouco para o próprio LBJ. Para aqueles que têm de bater frente com o cara, o que fazer? Em 2004 ou 2005, a tática era até simples. Você recua e deixe que ele chute. Mas não como um jogo mental. Você fazia isso simplesmente pelo fato de que o ala realmente não tinha um chute confiável de longa distância. Quem se lembra disso? Em suas oito primeiras temporadas, na verdade, o ala só acertou mais de 35% de seus arremessos de três pontos uma vez, em 2004-05. Hoje, pelas probabilidades, talvez ainda seja a alternativa menos pior, sabendo ainda assim que é uma opção já desconfortável. E não que um simples afastamento resolva tudo.

As passadas são tão explosivas e largas, que ele pode passar com tudo pela primeira barricada. A combinação de força física, arranque, impulsão velocidade e agilidade já faria de LeBron o atleta ideal. Acrescente sua visão de jogo soberba, as mãos grandes e firmes e a experiência acumulada de dez anos na liga, então, e temos um produto que talvez nem mesmo aqueles viciados num videogame pudessem imaginar. Seria muita apelação – e qual a graça de ganhar desse jeito.

E aí que as coisas ficam injustas para ele mesmo. O autointitulado Rei James faz tantas coisas absurdas em quadra,  de maneira tão assídua e, ao mesmo tempo, fácil, que a gente vai esperar tudo sobre ele. Os feitos mais heróicos, as maiores glórias. A cobrança para Mario Chalmers é uma. A de LeBron, outra. Dãr. Mas vem dessa diferença o principal motivo dos anda frequentes ataques ao seu jogo. Aquela coisa de ele não assumir a responsabilidade devida. De sua obrigação de fazer 50 pontos no quarto período de qualquer partida. Afinal, para alguém tão exuberante assim, tudo é possível, não? Não há limites.

Peguem o Jogo 2 das finais, por exemplo. São 35 pontos em 38 minutos, com 14-22 nos arremessos e 100% nos tiros de três. Mais dez rebotes e a defesa assustadora de sempre. Com ele jogando, o Miami Heat teve saldo de +11 pontos – com Bosh e Wade, a conta cai, respectivamente, para -11 e -8. Isso se chama “impacto”. Causa e efeito.  Então como é possível que um cara desse sinta câimbras? Como é possível que ele tolere a ideia de que um passe é a melhor solução?

Nossos tempos são odiosos, mas também egocêntricos. Tanta gente por aí prontinha para se vangloriar. Lutando para serem reconhecidos como diferentes, especiais. No escritório, no bar, em qualquer lugar. Vamos cobrar, então, o que de atletas? Que eles resolvam tudo sozinhos. Quem sabe faz na hora, não espera acontecer. Para LeBron e o público fiel da NBA, a relação fica ainda mais complicada. As comparações são inevitáveis, ainda que pouco produtivas. LeBron joga pela Grandiosidade, e também sabe e não foge disso. O que não o torna alguém individualista na hora de jogar, para desespero de muitos. Ah, porque o Michael Jordan isso. Ah, porque o Kobe Bryant aquilo. Todos se lembram das cestas decisivas de MJ – a pernada para cima de Craig Ehlo, o empurrão em Byron Russell.

São esses os lances que ficam mais gravados e que a liga e as TVs não vão cansar de reproduzir. Essa é a construção, justa, de um mito. Agora, não quer dizer que Jordan, supercompetitivo do jeito dele, obsessivo e viciado em vencer, tivesse cola nas mãos. Se fosse a jogada certa, ele passaria sem problemas. John Paxson agradece:

Steve Kerr é ouro que pode contar uma boa piada a respeito:

Esse tipo de lance quem vai lembrar? Ainda mais se for para distorcer a história de um modo que se possa fazer LeBron passar um carão. E mais: o Spurs é tão celebrado por seu basquete coletivo. E aí surge uma grande estrela que também comunga desse preceito, e o que as pessoas acham? Que é um fracote, claro, um entregão, um amarelão.

Como ousaram dizer após o Jogo 5 da final do Leste contra o Pacers, quando optou por passar para Bosh na zona morta. Na ocasião, o ala-pivô errou o chute. Neste domingo, com 1min17s no cronômetro, ele acertou. Teria Bosh a confiança para fazer o arremesso, estaria ele preparado se ele não soubesse que seu companheiro realmente poderia procurá-lo e encontrá-lo? O mesmo vale para a relação entre Jordan e seus tampinhas chutadores nos tempos de Bulls. BJ Armstrong, Craig Hodges, Paxson, Kerr. Eles ganharam a cumplicidade do astro. Jordan matava, mas também servia.

A vantagem que o número 23 tinha? Jogar numa época sem Twitter, sem rede social, sem 2.0, nem nada disso que aumenta reverberação de qualquer opinião. Obviamente haveria muita gente a desgostar do legendário líder do Bulls. Mas as reclamações paravam na mesa do bar, na janela de casa. Para se alastrar, só se fossem incluídas numa seção de cartas das Sports Illustrateds da vida, ou no recado de algum ouvinte mais atrevido no programa de rádio. De resto, era o show de Jordan, mesmo, na telinha. Uma galera curtindo, admirada, a ponto de, durante o segundo tricampeonato, a agitação nas viagens do Bulls beirar o frenesi da beatlemania. Com LeBron, as coisas são um pouco diferentes. Ele é obviamente é popular. Mas ainda há muita gente perdendo tempo – e saliva –discutindo sobre o nada.


Em jogo fora das CNTP, Spurs abre 1 a 0 nas finais da NBA
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Giancarlo Giampietro

leborn-caimbras

Foi um jogo que fugiu das condições normais de temperatura. A pressão é a mesma de sempre, aquela esperada para a abertura de um duelo de NBA.

O sistema de ar-condicionado do ginásio do Spurs simplesmente pifou, e a arena virou um caldeirão. E nem foi por causa da torcida fanática local. Segundo reportagem da ABC, o termômetro chegou a bater a marca 37ºC durante o quarto período, influenciando a partida muito mais do que qualquer instrução passada pelos treinadores durante o intervalo. Para quem assistia, incluindo os jogadores, o maior bafafa.

Num cenário desses, daria para apelar ao simplismo e dizer que aqueles mais bem preparados fisicamente levariam a melhor. O aficionado por academia e treinamento Ray Allen, por exemplo, nem ligava, correndo a quadra toda como se não houvesse amanhã. Com direito a enterrada em arrancada de um lado da quadra para o outro. Aos 38 anos, impressionaa consistência robótica do ala.

Mas aí o LeBron me passa mal pacas (de câimbras?) no período final e acaba com qualquer tese desse tipo. Sem contar o fato de que Shane Battier não caiu despedaçado em quadra e Boris Diaw nem derreteu.

Foi muito estranho ver um tanque de guerra como LBJ travar em quadra. Depois de dar um respiro no banco, já sentindo os efeitos do calor, e de um pedido de tempo, o superastro voltou para quadra com pouco mais de 7 minutos no cronômetro. Encarou Diaw, bateu pela direita e conseguiu a bandeja. Ao girar para voltar para a defesa, suas pernas de repente não estavam mais lá. O ala ficou petrificado, acusando as dores. Foi se arrastando até a linha do meio e parou por ali, na mesa dos estatísticos. Para chegar ao banco, precisou ser carregado por James Jones e um dos trainers. Bizarro, mas acontece – espero muito que não resgatem o papo de amarelão, e tal.

O Miami vencia por dois pontos, mas já permitia uma (re)aproximação dos anfitriões. Sem LeBron, a vida de Dwyane Wade no ataque já não foi a moleza de sempre. Os chutes livres para Bosh/Lewis/Allen sumiram do mapa. Coincidência, ou não, os turnovers do Spurs também pararam de acontecer. Ajuda bastante não ter um sujeito de 2,05 m zanzando por aí, de braços abertos, com fome de bola. E sai uma vitória por 110 a 95 que não conta em nada o que foi a partida – cuja última parcial foi 36 a 17.

Uma partida que, no fim, não vai indicar muito para os técnicos na sequência da série, dados os fatores extraordinários. Da parte dos grandalhões do Spurs, deu para ver algo interessante: como é imperativo que eles tenham paciência para atacar o aro.

Tim Duncan usou muito desse expediente no primeiro tempo, enquanto no segundo foi a vez de Tiago Splitter. Embora os dois tenham somado absurdos nove desperdícios de ataque, em geral eles foram bem quando acionados mais próximos do aro. Faziam a recepção e em vez de partir feito vaca louca para a cesta. Esperavam. Por um mínimo instante que fosse, para ler qual a reação da defesa pilhada adversária. A ajuda vem de todos os lados, com múltiplos atletas partindo em direções opostas. Alguns podem atacar o pivô, outros já imaginam as possíveis linhas de passe e preparam o bote. Uma simples finta ou hesitação, porém, era o suficiente para limpar o raio de ação e sobrar uma bandeja livre ou por cima de um tampinha.

Duncan terminou, então, com 9-10 nos arremessos e 3-4 nos lances livres, para somar 21 pontos em 33 minutos. Splitter, que começou como titular ao lado do legendário companheiro, teve 5-6 e 4-5, respectivamente, chegando a 14 pontos em 23 minutos. Uma linha estatística excelente para o catarinense, que tanto sofreu contra o time da Flórida no ano passado. Na defesa, será complicado rodar constantemente atrás de Lewis e Chris Bosh, mas, da sua parte, a conta hoje foi favorável. Ainda assim, é mais provável que Diaw ganhe mais minutos, mesmo (33 minutos para alguém que anotou apenas dois pontos, mas influenciou o jogo com muito empenho nos rebotes e sua extraordinária visão de jogo, com seis assistências). Com o ala-pivô francês emparelhado com Manu Ginóbili (16 pontos, 11 assistências, 5 rebotes, 3 roubos de bola e N flashes de brilho em 32 minutos, a equipe ganha muito em versatilidade e dinamismo.

Não pode passar despercebido: Tony Parker se movimentou bem na primeira partida, sem mostrar muito incômodo com o tornozelo esquerdo fragilizado. Ele terminou com 19 pontos, 8 assistências, 4 turnovers e 8-15 nos arremessos

Não pode passar despercebido: Tony Parker se movimentou bem na primeira partida, sem mostrar muito incômodo com o tornozelo esquerdo fragilizado. Ele terminou com 19 pontos, 8 assistências, 4 turnovers e 8-15 nos arremessos. Olho nele. Qualquer escorregão pode ser uma catástrofe para o Spurs

No geral, o time da casa foi bem superior neste jogo interior. Em pontos no garrafão, levaram a melhor por 48 a 36, mas também bateram 11 lances livres a mais. Combine isso com o elevadíssimo aproveitamento nas bombas de três pontos – 13 acertos em 25 tentativas, com quatro jogadores acertando mais de 50% do que chutaram –, e temos um desempenho ofensivo ideal, certo?

Até que daria para dizer isso, não fossem os 22 turnovers cometidos no geral. Tem time que está cheio de jogadores firuleiros, que adoram jogar num mano a mano de pelada de parque. O Spurs, todavia, pode exagerar em sua troca de passes, tentando criar assistências que simplesmente não estão ali, tentando enxergar mais do que devem. Parece estranho escrever isso, né? Que o time passa demais.  Mas é o caso por vezes com o time texano, e algo que é muito perigoso contra um time tão ágil no perímetro. Por outro lado, não foi só na “busca pela perfeição e pela luz” que eles erraram. Vários atletas também erraram passes simples – mas quicados – para os pivôs, mal pensados e executados.

Foram 21 turnovers até 7min31s do quarto período, 22 no geral, sendo 20 em três quartos, se não me engano. Muito mais que os 14,1 por jogo na temporada regular – e mais também que os 15,6 que o Miami costuma forçar. Dos titulares, quatro cometeram pelo menos quatro desperdícios cada, um absurdo. Danny Green foi o único que se salvou neste quinteto, cometendo apenas uma violação. Também pudera: por 41 minutos de jogo, ele estava completamente anulado em quadra. Até que fez a primeira cesta de longe e desembestou daquele jeito. Streaky é pouco.

A vontade era gastar um monte de trocadilhos. Afinal, é piada pronta quando o Miami Heat sofre com o calor. Dava para dizer que os chutadores do Spurs também estavam com a mão pegando fogo. Que LeBron não tinha como congelar em quadra daquele jeito. Que o Gregg Popovich até que estava com a cuca fresca numa sauna daquelas. Etc. Etc. Etc. Waka, waka, waka. Mas, com o relógio batendo 1h14 da matina aqui na base do 21 na Vila Guarani, a infâmia não tem vez. O negócio é arrumar o edredom, esticar a perna e dormir. Quentinho, quentinho da silva.

Tomara que eles paguem as contas! NBA, onde o calor acontece

Tomara que eles paguem as contas! NBA, onde o calor acontece

PS: por motivos de Copa do Mundo da FIFA, na qual estarei envolvido, cobrindo, não sei bem se vai dar para comentar a série jogo a jogo, infelizmente.


As tramas que podem decidir a revanche Spurs x Heat
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Giancarlo Giampietro

Como está o tornozelo de Tony Parker?
O armador revelou durante a semana que já estava com o pé comprometido na semifinal contra o Blazers e que, por isso, acabou machucando os músculos da perna, para tentar compensar as dores nos movimentos. Ainda que venha na sua melhor de fase no que se refere a chutes de longa distância, acertando 35,3% e 37,3% nas últimas duas campanhas, o carro-chefe do francês são as infiltrações, mesmo. Partir para a cesta, com uma ajuda ou outra de corta-luzes, ou usando suas fintas hesitantes, que podem deixar até mesmo LeBron na saudade. Machucar a defesa lá dentro e aí explorar os tiros de fora (com o melhor aproveitamento da temporada). Vale lembrar que, no ano passado, Parker já havia sofrido uma lesão muscular na coxa e que seu time sentiu bastante. É algo que podemos esquecer com facilidade, considerando todo o drama que aconteceu nos jogos finais. Mas, estivesse o armador 100%, será que teria Jogo 7 para entrar na história? Bem, o se não vale para nada, mesmo. Agora, uma temporada depois, o Spurs chega novamente a uma decisão sem que seu principal jogador esteja 100%. arranque de seu armador e suas bandejas, o Spurs vai depender de sua movimentação de bola. E os passes devem ser precisos para lidar com uma defesa hiperatlética – do contrário, o contra-ataque a partir do turnover é mortal. Vimos há pouco, em OKC, como pode funcionar essa gangorra. A diferença é que o Miami tende a adiantar sua primeira linha defensiva muito mais, abafando o armador em situações de pick-and-roll, enquanto o Thunder joga mais recuado, com uma formação mais compacta. Outro diferencial é que Chris Andersen, caso jogue, salta muito, se posiciona bem vindo do lado contrário, mas não é nenhum Serge Ibaka.

No caso de um desastre, Popovich vai confiar, mesmo, em Patty Mills e Cory Joseph? Eles estão preparados?
O desastre: Parker simplesmente não aguentar e ser afastado de quadra, tal como aconteceu no Jogo 6 em Oklahoma City. O Spurs sobreviveu a esse desafio. Mas uma coisa é levar 24 minutos sem o francês, ainda que num ambiente hostil. Outra é conduzir uma ou mais partidas, com o adversário tendo o tempo necessário para fazer seus ajustes e mudar o plano de jogo. Aí o caldo engrossa. No próprio desfecho da série contra o Thunder, o treinador jogou o quarto período e a prorrogação com Ginóbili na armação. O argentino é craque e fez o dele. Em tempo integral, contudo, o desgaste seria muito maior, ainda mais com Cole, Chalmers, Wade e LeBron voando como abutres por cima de sua careca. No ano passado, armando o time nos minutos de descanso de Parker, Manu já sentiu o baque. Nos últimos três jogos, cometeu 15 turnovers, por exemplo. Quinze! Via as jogadas, com o brilhantismo de sempre, mas não conseguia completar o passe. Agora, está melhor fisicamente, é verdade. Mas vai precisar da ajuda dos garotões que o Spurs vem pacientemente desenvolvendo. Mills tem o chute e a experiência – já foi cestinha, em média, de Olimpíada, oras. Joseph é mais explosivo e marca melhor. A combinação ideal seria a fusão dos dois armadores em um, claro. O que não vai rolar. Nesse sentido, a substituição de Gary Neal por Marco Belinelli representa um avanço. Por mais que a torcida do Spurs culpe o italiano para tudo, o ala0armador é tão ou o mais ameaçador no chute de três pontos, podendo esquentar rapidamente e matar diversas bolas seguidas, como tem mais altura e habilidade com a bola, qualidades necessárias para enfrentar a constante blitz de seu adversário. Resta saber se vai recuperar sua confiança, tendo perdido rendimento e tempo de quadra nos mata-matas.

Tiago Splitter pode se impor? Ou: será que ele vai ter a chance de se impor?
O Miami tem sérias dificuldades de lidar com pivôs infiltrados no centro de sua defesa. Desde que, claro, esse grandalhão X consiga ser abastecido. O catarinense tem, então, na teoria boas chances para se estabelecer. Agora… Essa mesma teoria valia para o ano passado, quando ele estava ainda mais confiante, e em nenhum momento conseguiu se estabelecer como força no jogo interior. Há um problema aqui: se for usar alguém como referência interna, o Spurs vai de Tim Duncan. E como seria diferente? Estamos falando de um dos jogadores mais bem fundamentados da história. Se Duncan for estacionar para o post up, não sobra espaço para Splitter agir da maneira que gosta, em cortes no pick and roll. Se essa bola não estiver disponível para o brasileiro, a verdade é que ele fica praticamente sem função no ataque. E o Miami adoraria que o Spurs buscassem a cesta com apenas quatro armas disponíveis. E aí que Tiago paga o preço da concentração total que  os técnicos do Baskonia tiveram em moldá-lo como um pivô de jogo exclusivo próximo ao aro. Ok, não dá para ser tão ingrato assim: obviamente o catarinense se desenvolveu num baita jogador, muito inteligente e eficiente. Mas houve um dia em que o adolescente saído de Blumenau era visto como um possível prospecto na linha de Dirk Nowitzki. Talvez fosse um baita exagero. Talvez ele nunca fosse capaz de acertar nem 35% de seus chutes de fora. Fato é que hoje não há resquício técnico nenhum, nem mesmo a vocação em seu jogo para pontuar distante da cesta: em sua carreira nos playoffs, 67,8% de seus arremessos são executados a menos de um metro do aro. De um metro para três, 29,6% (dos quais ele acertou apenas 29,4%). Sobram, então, 2,6% dos arremessos para tudo o que estiver a mais de três metros de distância.

Rashard Lewis tem mais garrafas para vender?
O outro lado da moeda. Desde a temporada passada que Popovich descobriu que, com a dupla Duncan-Splitter, sua defesa fica muito mais robusta. São mais de 150 partidas já computadas para comprovar isso. Então tem isso: saber como compensar as situações oferecidas pelo jogo dos dois lados da quadra. Perde um pouco ali, ganha um pouco lá, fazendo as contas para ver qual o saldo. Mas tenhamos em mente sempre que, nos playoffs, com tanto estudo e tempo de preparo entre um jogo e outro, alguns segredos ficam mais expostos. E também vale o asterisco: o Miami não é um time como outro qualquer, e não só por ter LeBron, mas, antes de tudo, por sua disposição tática. Aqui não tem um alvo mais declarado e fixo como Dirk, Z-Bo ou LaMarcus para Tiago marcar (o que não quer dizer que freá-los seja fácil). Chris Bosh só joga de frente para a cesta e afastado (nestes playoffs, ele mais chuta de três pontos do que enterra ou faz bandejas). Spoelstra abre seus jogadores e deixa a quadra espaçada para seus dois astros pregarem o horror. No ano passado, quando o técnico foi de Mike Miller em seu quinteto inicial (ignorando qualquer ameaça que Splitter pudesse representar do outro lado), Popovich teve de se dobrar e conceder esta pequena e importante vitória para seu rival. Com um elenco versátil, também adotou o small ball. A tendência é que a série deste ano caia nesta mesma vala – ainda que o gatilhaço já não esteja mais na Flórida. Podemos esperar muito mais Ray Allen em quadra, além de Chalmers e Cole. Mas ainda sobram minutos, que Spoelstra adoraria dar a um esgotado Battier.  Aí que entra Rashard Lewis. Qual versão vai jogar a final? O moribundo de toda a temporada, ou aquele que ressurgiu no desfecho contra o Pacers? Se os tiros do veterano estiverem caindo, e obviamente que nem precisa ser numa escala Miller de 50%, o Spurs vai ter de sambar um pouco mais em suas coberturas.

– Boris Diaw vai ser agressivo?
Esperem, então, para ver muito Boris Diaw nos confrontos, e não tem nada de errado com isso. O francês joga demais. Sempre vamos ficar com uma pulga atrás da orelha, pensando sobre como seria seu basquete se ele se dedicasse um pouquinho a mais na esteira. Mas esse preconceito também por vezes pode inibir que apreciemos adequadamente seus talentos únicos. Para esta temporada, aliás, monsieur Riffiod se apresenta em melhor forma, confiante e produtivo, além de mais eficiente, mesmo com a terceira maior “taxa de uso” de sua carreira – isto é, seu jogo não sentiu o peso de mais responsabilidades. Conquistou, desta forma, o coração de Popovich. “Ainda estou aprendendo como usá-lo”, diz o técnico. Tem muito o que se aproveitar, mesmo: Diaw está acertando mais de 41% de seus arremessos de três pontos nos playoffs, mantendo o alto aproveitamento que teve durante toda a temporada. Além disso, virou uma ameaça séria no jogo de costas para cesta,  cada vez mais concentrado também em pontuar, em vez de apenas passar, passar e passar. Atende, enfim, aos clamores de dúzias de técnicos com que já trabalhou. Claro que o jogo fica mais bonito com atletas solidários interagindo, mas chega uma hora que a bola tem de cair na cesta, e o francês já não parece mais tanto avesso a esse simples conceito. Dependendo da saúde de Parker e Ginóbili, pode ser que o Spurs precise ainda mais do ala-pivô e seus serviços de playmaker, facilitando, servindo e, sim, atacando. Quem vai marcá-lo? Battier tem um último sopro? Lewis? LeBron?

– Por falar em LeBron, ele vai tentar/matar seus chutes de média e longa distância com qual frequência?
Deu certo por um bom tempo no ano passado, então podemos esperar que Pop mantenha a estratégia. Com Kawhi e, especialmente, com Diaw, a ordem deve ser para que recuem e tentem colocar a dúvida na cabeça do craque: vai para o chute, mesmo, ou tentará buscar um companheiro? Vai atacar a cesta e correr o risco de fazer a carga? Mas será que não há espaços, mesmo, para a infiltração? LeBron está habituado a ler o jogo num estalo. Contra o Mavericks em 2011 e contra o Spurs em 2013, porém, foi hesitante, diante das “facilidades” sugeridas pela defesa adversária. Se isso acontecer novamente, de o astro perder alguns segundos para tomar suas decisões e sair de ritmo, a defesa do Spurs já vai se dar por agradecida. Agora, o craque já sabe o que está por vir. Nos Jogos 6 e 7 da final do ano passado, partiu para o ataque e cobrou 21 lances livres, depois de ter somado apenas 19 nos cinco primeiros. A armadilha estava desfeita. Ficamos no aguardo, então, para ver como vai se comportar.

E dá para apostar contra LeBron James?
Kawhi Leonard já se virou contra Kevin Durant e Russell Westbrook na final do Oeste. Encarar LeBron, porém, é algo bem diferente. Durant é um cestinha mortal, mas fisicamente não representa o desafio que é segurar um tanque de guerra em movimento. Com KD, você pode contestar os arremessos e torcer para que não caia – bloquear alguém tão veloz e alto fica difícil. Mas você pode afastá-lo da cesta, você pode incomodá-lo fisicamente. Atletas como Leonard, Matt Barnes e até mesmo o diminuto Tony Allen podem persegui-lo no perímetro e atrapalhar sua movimentação fora da bola. No fim do jogo, o cara pode terminar com 30 pontos, tá certo. Mas os caminhos são mais claros. Contra LeBron, quando ele desembesta a atacar o aro, a combinação de técnica, explosão e força é brutal. Não há como Leonard absorver esse tipo de contato. Na verdade, Kawhi está em quadra apenas como um primeiro obstáculo de uma estratégia coletiva que precisa ser empregada para congestionar a vida do craque. Esse recuo e o convite ao chute é um dos ardis. Mas haja cobertura e ajuda para desencorajar o melhor jogador do mundo. Ele quer mais um anel.

E mais: Danny Green consegue dar conta de um Dwyane Wade que não esteja mancando? Chris Bosh vai se permitir ser alienado no ataque? O preparo físico, a essa altura, faz a diferença? Ou o emocional supera tudo? Porque o Spurs chega bem mais descansado. Spoelstra vai tentar mais uma vez alargar sua rotação, ou jogar com sete, oito caras? Se (ou quando) Ray Allen acertar mais uma bomba de três, como evitar o soluço coletivo de San Antonio? Pode Tim Duncan repetir ou superar os 18,8 pontos e 12,1 rebotes das finais do ano passado?

São muitas questões, e ainda bem que a pressão está em Pop ou Spo para respondê-las. Nós só precisamos nos acomodar no sofá e ver o o desenvolvimento dessas tramas todas, muitas delas interligadas. É um novelo difícil de se desembaraçar, e fica impossível dar um palpite.

PS: por motivos de Copa do Mundo da FIFA, na qual estarei envolvido, cobrindo, não sei bem se vai dar para comentar a série jogo a jogo, infelizmente.


Heat x Spurs: confira a cronologia dos protagonistas da final
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Giancarlo Giampietro

Quando Pat Riley ganhou seu primeiro anel de campeão da NBA, em 1972, dividindo o vestiário com Wilt Chamberlain e Jerry West (treme a terra quando se fala sobre estes nomes, não?), Gregg Popovich estava competindo, ou em vias de competir na peneira que formaria  seleção norte-americana que amargaria a prata olímpica em Munique. Sim, aquela final que se tornou o jogo mais controverso da história da modalidade. Uma temporada depois, Popovich retornaria à academia da Aeronáutica dos Estados Unidos como assistente técnico. Erik Spoelstra não tinha nem dois anos de idade.

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Timmy Duncan, promessa das piscinas

Quando Pat Riley assumiu o Los Angeles Lakers pela primeira vez como treinador profissional, em 1981, cinco anos depois de aposentado das quadras, Tim Duncan tinha cinco anos de idade e vivia em Christiansted, uma das cidades da ilha de St. Croix, das Ilhas Virgens americanas. Popovich estava em sua segunda temporada como treinador da universidade de Pomona-Pitzer, na terceira divisão da NCAA, a qual dirigiu entre 1979 e 87. Mais um dos andarilhos do basquete norte-americano, Tony Parker Sr. tocava sua carreira na Bélgica.

Quando Tim Duncan praticamente desistiu de se tornar um nadador olímpico dos Estados Unidos, em 1989, e, aos 13 anos, começou suas aventuras numa quadra de basquete, Spoelstra era eleito o calouro do ano na West Coast Conference pela universidade de Portland, vindo de uma prestigiada carreira de colegial. Era armador. Riley estava em vias de deixar o Lakers, com mais quatro anéis de campeão. Nas finais daquela temporada, o time foi varrido pelos Bad Boys de Detroit. LeBron James tinha cinco anos e vivia uma infância difícil em Akron, com sua mãe de 21 anos procurando um emprego e um apartamento atrás do outro. Com quatro anos, Tiago Splitter brincava com qualquer coisa em Blumenau.

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Tim Duncan em 1995, longe das piscinas

Quando Manu Ginóbili iniciou sua carreira profissional pelo Andino Sport Club, em 1995, sendo eleito o melhor novato da liga argentina, Duncan estava em seu terceiro ano de universidade, em Wake Forest, construindo sua reputação como um prospecto imperdível. Riley deixou a cabine de transmissão da NBC para assumir o Miami Heat como técnico e cartola – foi um ano de reformulação, no qual seu time somou 42 vitórias e 40 derrotas, o suficiente para chegar aos playoffs e ser varrido pelo Chicago Bulls de Michael Jordan. Spoelstra havia acabado de ser contratado como coordenador de vídeo do clube, indicado por Chris Wallace (hoje o gerente geral interino do Memphis Grizzlies)  e conseguiu se segurar no cargo, mesmo com a chegada de um novo chefe. Popovich era o gerente geral do Spurs, contratado pelo novo proprietário da franquia, Peter Holt, três anos depois de ser demitido pela gestão anterior.

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

Spoelstra, um nerd que fez carreira em Miami

LeBron, calouro no high school

LeBron, calouro no high school

Quando Tim Duncan ganhou seu primeiro título da NBA, em 1999, já sob a batuta de Popovich, LeBron estava se preparando para começar uma das mais badaladas carreiras de um jogador de high school no basquete norte-americano, na St. Vincent–St. Mary High School. Aquela era a primeira de-ci-são polêmica do adolescente. Ele e seus amigos do circuito AAU optaram por uma escola particular,  elitista, em vez de seguir a rota mais usual do colégio público – e dos “manos”.  Dwyane Wade já era uma estrela do prestigiado basquete colegial de Chicago, mas, devido a problemas com suas notas, só tinha ofertas de três universidades: as locais Illinois State, e DePaul, ou Marquette, do estado vizinho de Winsconsin. O Miami de Pat Riley foi mais uma vez eliminado pelo (eventual vice-campeão) Knicks nos playoffs do Leste – Spoelstra dividia seu tempo entre coordenador de vídeo e assistente técnico do figurão. Ginóbili encerrou sua primeira temporada na Itália, jogando pelo Reggio Calabria, na segunda divisão. Tony Parker assinou seu primeiro contrato de profissional com o Paris Basket Racing. Um ano depois, com 15, Tiago Splitter deixaria Santa Catarina rumo ao País Basco, para jogar na base do Baskonia.

Quando Tim Duncan ganhou seu segundo título da NBA, em 2003, já acompanhando por Tony Parker e Manu Ginóbili e ainda ao lado de David Robinson, LeBron James já sabia que sua jornada como profissional começaria justamente na franquia de seu estado, Ohio, em Cleveland. O Draft daquele ano, com LeBron sendo a maior barbada, foi realizado 13 dias depois de o Spurs vencer Jason Kidd e o New Jersey Nets na decisão, 4-2. Com 29 pontos, 11 rebotes, and 11 assistências, Dwyane Wade fazia o quarto triple-double da história dos mata-matas da NCAA por Marquette, entrando de vez na lista dos prospectos de elite. Splitter, aos 18, já disputava seu segundo torneio com a seleção principal, revezando com Nenê e Anderson Varejão no garrafão de um time que sofreu horrores no Pré-Olímpico em Porto Rico.

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Splitter no Mundial de 2006: a boa nota numa campanha fraquíssima do Brasil

Quando Dwyane Wade ganhou seu primeiro título da NBA, em 2006, Shaquille O’Neal jogava ao seu lado, assim como Gary Payton, Jason Williams, Antoine Walker, Alonzo Mourning e Udonis Haslem. Pat Riley havia deixado os escritórios e voltado a dirigir o time, depois da demissão de Stan Van Gundy. O Cleveland de LeBron foi eliminado na semifinal da Conferência Leste pelo Detroit Pistons de Billups, Sheed e Ben Wallace, depois de ter vencido o Washington Wizards de Gilbert Arenas, na primeira rodada. O Spurs perdeu para o Dallas Mavericks no Jogo 7 das semifinais do Oeste, levando uma virada daquelas. Splitter teve médias de 16,4 pontos e 6,6 rebotes no Mundial do Japão, com o Brasil caindo na primeira fase.

Quando LeBron James chegou a sua primeira final de NBA, em 2007, o adversário foi o San Antonio Spurs de Duncan, e seu Cleveland Cavaliers, com Eric Snow, Larry Hughes, Drew Gooden e Zydrunas Ilgauskas no time titular, foi varrido. Em Miami, o Miami Heat também seria varrido pelo Chicago Bulls na primeira rodada da Conferência Leste, vendo seu sonho de bicampeonato atropelado por Andrés Nocioni, Ben Gordon, Luol Deng, Kirk Hinrich e Ben Wallace. Riley ainda era o técnico. Spoelstra, seu assistente. Splitter foi o MVP da Supercopa espanhola e iniciaria uma belíssima temporada na Europa, aos 22 anos, sendo eleito para o quinteto ideal da Euroliga ao final.

Em 2012, LeBron ganhou seu primeiro título, com o Spurs perdendo a final do Oeste para o Thunder. Em 2013, reencontrou Duncan na decisão e deu aquele toco em Splitter, já sabemos. Agora, a partir de quinta-feira, essas diversas trilhas voltam a se cruzar. Mal posso esperar.


Por essa ninguém esperava: a ressurreição de Rashard Lewis
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Giancarlo Giampietro

Rashard Lewis para três! Ainda...

Rashard Lewis para três! Ainda…

Uma coisa é ser paciente, outra é ser teimoso pacas.

Se você for olhar todos os jogos de Rashard Lewis pelo Miami Heat, não daria para entender muito bem aonde Erik Spoelstra estava com a cabeça quando decidiu escalar o ala como titular no Jogo 5 contra o Indiana Pacers, tendo a oportunidade de eliminar de vez seu arquirrival na Conferência Leste. Arrisque, então:

a) Estaria o treinador de sacanagem?

b) Ousaria Spo a encarar um jogo de playoffs como um mero treinamento, para não deixar seus rapazes muito tempo parado, sabendo que a final do Oeste poderia se arrastar?

c) Ou ele simplesmente não tinha mais a quem recorrer?

Vamos de alternativa c), né? Mais plausível.

Udonis Haslem dessa vez foi pouco efetivo contra Indy, ao contrário do ano passado. Chris Andersen estava fora de combate. Shane Battier chegou aos mata-matas em frangalhos. Para Greg Oden ou Michael Beasley, simplesmente… Não rolou, por ora.  As formações mais baixas, com Norris Cole e Ray Allen, se provaram muito mais lucrativas e seriam guardadas para mais tarde, especialmente contra um Pacers que estivesse enfraquecido pela entrada de qualquer reserva. Aí não tem por que mexer com isso. Logo, não restava muito o que fazer.

O jovem Rashard nem acredita

O jovem Rashard nem acredita

Vai de Rashard Lewis, então, que tristeza.

O mesmo jogador que esteve bem abaixo da média de eficiência da liga nos últimos dois campeonatos. Não acertou nem 41,6% dos seus arremessos. De três pontos, caiu de 38,9% no ano passado para 34,3%. Cujas médias foram de 5,2 e 4,5 pontos. Numa projeção por 36 minutos de ação, não melhorou nada sua situação: 13 e 9,9 pontos. Poucos rebotes.

Depois de anotar 10 e 16 pontos em suas duas primeiras partidas pelo time, só voltou a encestar com alguma eficiência na reta final da campanha 2012-13, sendo praticamente uma nulidade de dezembro a março. Apenas em 13 rodadas ele teve duplos dígitos de pontuação. Na atual temporada, essa contagem despencou para oito. Sim, oito. Entre 15 de janeiro e 26 de março, o máximo que ele ficou em quadra foram os 15min26s contra o Charlotte Ainda-Bobcats. Até que passou a jogar um pouco mais nas últimas 15  jogos. Na primeira rodada dos playoffs, somou oito pontos no geral em quatro compromissos contra o mesmo Bobcats. Depois, contra o Brooklyn Nets, foram 13 pontos em cinco capítulos. Na final do Leste, nem entrou em quadra nas duas primeiras partidas. Quando foi escalado para as duas posteriores ,saiu zerado, errando sete arremessos, seis deles de três pontos.

Ainda assim, foi promovido ao time titular.

A ideia, acho: Rashard tem boa envergadura para ameaçar a linha de passe e estava disposto a combater David West. E, do outro lado, supostamente poderia contribuir com um arremesso de longa distância que incomodaria a defesa, abrindo espaços para LeBron e Wade… Pelo menos a fama ele tem, certo?

O engraçado foi que o Indiana respeitou seu chute por quatro partidas, e o ala não parava de acertar, na verdade, o aro, ou a tabela. Quando acharam por bem desencanar de persegui-lo no perímetro, com a certeza de que a bola não cairia de jeito maneira… E pumba! Lewis desembestou a pontuar, fazendo de uma torrente a última gota de confiança que tinha. Aproveitamento de 9 em 16 bolas de três pontos? Inacreditável. Que tal os 31 pontos acumulados, com 18 no Jogo 5, no qual superou o mequetrefe do LeBron? “A primeira eu errei, mas senti que ela saiu bem. Os caras me disseram apenas para seguir arremessando. Quando finalmente acertei uma, estava apenas esperando pela próxima”, afirmou Lewis.

E não só isso. O ala ainda quebrou um galho daqueles marcando David West como poucos fazem – ou tentam fazer: saltar à frente de seu oponente e cortar o ângulo primário de passe para esse trator de ala-pivô. Algo não só inteligente taticamente, para tentar desencorajar a assistência, como também serve como uma medida preventiva para viver uma aposentadoria saudável. Pode doer bastante deixar suas costas para West acertá-la com o cotovelo, mas, se Lewis guardasse a posição básica, recuada, e esperasse o adversário receber a bola, ele iria apanhar de qualquer jeito no garrafão e por um período mais longo.

Em suma: era um cara transformado. Foi uma situação inusitada para Frank Vogel resolver.

Por um lado, temos em quadra um dos maiores arremessadores de três pontos da história da liga (na categoria de sujeitos com mais de 2,05 m de altura, é verdade), que foi eleito um All-Star como escudeiro de Ray Allen em Seattle e o ala-pivô aberto ao lado de Dwight Howard e dirigido por Stan Van Gundy. Na lista da NBA de cestas de três feitas, ele já aparece em oitavo, com 1.787 no total. “Se você dá uma olhada nessa lista e vê os caras que estão nela, você meio que não acredita. De estar na frente desse ou bem atrás daquele”, afirmou. “É um feito e tanto e mostra que deixei minha marca na NBA.”

Por outro, o objeto de análise aqui também é um veterano que já havia trocado até mesmo por um Gilbert Arenas ultrapassado e quebrado – na troca de salários mais absurdos e inúteis que a liga já viu – e que também estrelou um dos raros casos de doping oficializados da ligaao lado de Hedo Turkoglu, seu ex-companheiro de Orlando, por exemplo.

Mal jogou em Washington e foi repassado para New Orleans, que só tinha a intenção de se livrar dos contratos de Emeka Okafor e Trevor Ariza (que estava encostado por lá e acabou se tornando uma peça bastante valiosa para o jovem time do Wizards, diga-se). Oficialmente, o valor de Lewis era de US$ 23,7 milhões (!?!?!?!, numa cortesia de Otis Smith). Mas o então-Hornets-hoje-Pelicans poderia dispensá-lo e economizar entre US$ 9 e 10 milhões. Demitiram sem pestanejar, abrindo caminho para que o ala ou se aposentasse, ou se juntasse a um time verdadeiramente candidato ao título. Aí Pat Riley entrou na jogada. No ano passado, para quem não lembra, ele foi anunciado no mesmo pacote com Ray Allen, seu ex-companheiro de Seattle, numa combinação promissora para o banco do time da Flórida.

Acontece que Lewis não jogou absolutamente nada e acabou salvo justamente Ray-Ray – essa, sim, uma contratação decisiva, de modo que não havia como os críticos se lembrarem do fiasco que representava a outra metade do negócio.

Mas, depois de dezenas de jogos apagados, aqui está Lewis sendo relevante, como um substituto improvável para Shane Battier no criativo sistema do Miami Heat.  O veterano está todo empolgado. Já fala em jogar por mais dois ou três anos. Desde que no time certo. No caso, o Miami, em que suas responsabilidades são bem reduzidas. “Ser um jogador complementar, abrir a quadra para um time que está competindo pelo título é bem menos desgastante do que sair jogando 40 minutos e tendo de trombar e ralar”, afirmou o ala que foi a escolha 32 do Draft de 1998, saindo do high school. “Seu papel fica muito mais fácil, e então fica muito mais fácil também de cuidar do corpo.”

Os dilemas que Frank Vogel teve com Lewis agora ficam para Gregg Popovich. Que Rashard que vai jogar as finais? O moribundo de praticamente duas temporadas, ou aquele renascido por meros dois jogos? É uma pequena peça no grande jogo das finais da NBA, mas que pode ter uma grande repercussão. Não é exagero dizer que 99% da NBA davam o jogador por sumido, ou morto, mesmo, nas últimas temporadas. Menos Spoelstra, aparentemente, que fez valer sua teimosia.


Final da NBA tem revanche em 2014; veja números históricos
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Giancarlo Giampietro

Oi, lembra da gente?

Oi, lembra da gente?

Para os que sobreviveram a mais um thriller daqueles nos playoffs da NBA, com o San Antonio Spurs enfim conseguindo uma vitória em Oklahoma City, segue um post mais curto com alguns números históricos envolvendo os dois finalistas deste ano. Que são os mesmos do ano passado. É hora de revanche para o time texano contra os LeBrons, numa rara ocasião, nos tempos recentes, que a decisão é duplicada em anos consecutivos. No decorrer da semana, até quinta-feira, quando a festa começa, vamos abordar outros temas, como o desafio de Tiago Splitter de se impor em quadra contra um time que foge do padrão, a ressurreição de Rashard Lewis (por dois jogos, que seja…) e qualquer outra coisa que dê na telha. Mas, antes, alguns dados históricos para tentar dimensionar este reencontro:

– As temporadas em que a NBA teve sua final repetida em dois anos, em contagem regressiva: 1997 e 98, com Chicago Bulls x Utah Jazz; 1988 e 89, com Detroit Pistons x Los Angeles Lakers; 1984 e 85, com Boston Celtics e Lakers; 1982 e 83, com Lakers e Philadelphia 76ers; 1978 e 79, com Seattle SuperSonics x Washingotn Bullets;1972 e 73, com Lakers x New York Knicks; e aí, claro, nos anos 60, tivemos 479 confrontos entre Lakers e Celtics. Notem que, de 1990 para cá é apenas a segunda vez que isso acontece.

– No Leste, o Miami consegue sua quarta final seguida, algo que apenas três times haviam conseguido na história: o Lakers, de 1982 a 1985, com Magic, Kareem e um certo Riley (duas vitórias e duas derrotas), o Celtics de Bird de 1984 a 1987 (também com dois canecos e dois vices) e o mítico Celtics nos anos 60, que emendaram apenas dez finais, de 1957 a 1966, perdendo apenas o campeonato de 1958 para o St. Louis Hawks.

– Entre os repetecos de decisões, tirando os amigos apelões de Bill Russell, apenas o Chicago Bulls de Michael Jordan conseguiu vencer ambos os duelos, para amargura de John Stockton e Karl Malone. De resto, todo time que perdeu o primeiro ano, saiu vencedor no segundo.

– Times que chegaram por dois anos seguidos a uma decisão e não conseguiram o título: New Jersey Nets em 2002 e 2003, Jazz, os diversos Lakers de Jerry West e Elgin Baylor dos anos 60, o St. Louis Hawks de 1960 e 61, o Fort Wayne Pistons de 1955 e 56 e o glorioso Knicks de 1951 a 53! O Lakers de 1983 e 84 não conta, já que foi campeão 82 e 85.

– Esta é a décima final com adversários que se reencontram. A maior rivalidade? Dãr. Lakers x Celtics, que jogaram 12 vezes pelo título, com 9 triunfos para os verdes.

– É a sexta decisão para o San Antonio desde 1999, sempre com Duncan e Popovich envolvidos. Para o Miami, a quinta desde 2006, sempre com Wade, Haslem e Riley.

– Desde o Pistons em 1988 e 89, o Spurs foi o primeiro time a retornar a uma final depois de ter perdido o Jogo 7 no ano anterior.

– O Chicago Bulls tem o melhor aproveitamento em jogos valendo pelas finais, com 68,6%, ou 24 vitórias e 11 derrotas dividias entre as trilogias lideradas por MJ e o Mestre Zen. O Spurs é o terceiro da lista, com 65,5% (19-10), enquanto o Heat aparece em sexto, com 58,3% (14-10).

– O primeiro troféu da NBA foi chamado Walter A. Brown Trophy, em homenagem ao primeiro proprietário do Boston Celtics, tido como figura fundamental para a criação da liga que hoje conhecemos. A partir de 1984, Larry O’Brien, comissário entre 1975 e 83, assumiu a bronca. Vai levar quanto tempo para David Stern ser relembrado?


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