Vinte Um

Arquivo : fevereiro 2014

Contusão de Nenê ameaça Wizards, mesmo no patético Leste
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Giancarlo Giampietro

Nenê, Wizards, NBA

“Estamos todo assustados.”

“O elenco do Wizards respira fundo, aguardando os resultados.”

“Isso é tãaaaaaaaaaaao Wizards.”

Foi mais ou menos este o resumo da página do HoopsHype que abriga (quase) todos os tweets/contas de Twitter decidados ao Washington Wizards, durante esta segunda-feira, com jogadores e jornalistas reunidos. Ambos os grupos não aguentavam mais de ansiedade para que saísse o resultado da ressonância magnética pela qual o pivô Nenê passou, depois de ter torcido o joelho no domingo, em vitória sobre o Cleveland Cavaliers.

Não foi o pior desfecho possível, mas foi ruim o bastante para deprimir torcedores e colocar em risco a classificação da equipe para os playoffs. O brasileiro sofreu uma contusão no ligamento colateral medial do joelho esquerdo e vai ficar fora das quadras de quatro a seis semanas. Se a previsão mais otimista se realizar, ele retornaria com 10 a 12 jogos restando no ano. Se for perder um mês e meio, talvez sobrem duas ou três partidas. O clube da capital norte-americana encerra sua temporada no dia 16 de abril, contra o Boston Celtics.

Desde que contratou Nenê, o Wizards já se habituou aos constantes problemas físicos que o pivô enfrenta. O que não quer dizer que a rapaziada não vá sentir o baque: com o são-carlense afastado, o time perdeu 34 de 42 jogos. Isto é, perdeu 80% das vezes em que jogou sem o cara. Se repetirem esse tipo de rendimento, podem muito bem ficar fora do grupo dos oito melhores menos piores do patético Leste.

Vamos lá: o time liderado por John Wall tem hoje 50% de aproveitamento, com 28 vitórias e 28 derrotas. O suficiente para valer a quinta colocação – no Oeste, estaria em nono. O oitavo lugar na conferência, o Atlanta Hawks, tem 26 triunfos e 29 reveses. Primeiro time fora da zona de classificação, o Detroit Pistons tem, respectivamente, 24 e 34. Cinco vitórias a mais desse, cinco derrotas a mais daquele, e Andre Drummond poderia fazer sua estreia nos mata-matas neste ano.

Nada disso está garantido, claro. A  esperança do Wizards é a mesma de franquias em desarranjo como Knicks e Cavs: numa disputa em que todos os concorrentes mais perdem do que ganham, tudo é possível.

Mas, sim, as equipes de Manhattan e Cleveland – com proprietários estressados, crises internas, elenco desbalanceado, dois técnicos Mikes contestados e rendimento na casa de 30%, acreditem –  agora têm um motivo a mais para sonhar com uma vaga. No catadão de seus tweets, o tom deve ter sido completamente diferente.

*  *  *

A lesão de Nenê veio na pior hora possível, e não só do ponto de vista da luta pelos playoffs do Wizards. O pivô estava em ótima fase. No sábado havia feito uma das melhores partidas de sua carreira. Para os brasileiros em geral, maré braba: neste exato momento, manhã de terça-feira, todos os cinco jogadores do país estão fora de ação por problemas físicos (costas para Varejão, panturrilha para Splitter, torção no dedão para Leandrinho e joelho para Faverani).

*  *  *

Os possíveis substitutos para o brasileiro?Internamente, o francês Kevin Seraphin, o aríete Trevor Booker e o veterano Al Harrington vão dividir os minutos.Nenhum dos três é conhecido exatamente pela consistência ou pelo impacto na defesa, que deve sentir muito – Nenê tem baixa médias de tocos, mas isso não significa nada quando se leva em conta seu ótimo posicionamento, fechando muito bem os espaços, a inteligência no bloqueio de rebotes, a agilidade para contestar os armadores no pick-and-roll, entre outros verdadeiros atributos de um bom marcador.

No ataque, Seraphin tem um bom gancho girando para a direita e vai ‘masomeno’ nos tiros de média distância. Booker é bem mais eficiente na hora de pontuar.  Harrington, retornando após parar por três meses por conta de problemas no joelho, tem um jogo mais diversificado (41,9% nos três pontos, por exemplo), mas jogou tão pouco neste campeonato que é complicado falar sobre seus números. No domingo, contra o Cavs, ele e Seraphin deram conta do recado, de alguma forma.

A diretoria do Wizards também discute contratações emergenciais. Lou Amundson, DeSagana Diop (!) e Drew Gooden foram especulados. O nome de Gooden, que por um longo período de férias após ser anistiado pelo Milwaukee Bucks, aparece com mais força e acaba sendo o mais intrigante, mesmo. O pivô revelado pela universidade de Kansas entrou na liga no Draft de 2002. Curiosamente, o mesmo de Nenê.


Nenê protagoniza melhor momento brasileiro na temporada
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Giancarlo Giampietro

Nenê sobe livre para a enterrada triunfal, depois de Wall limpar a quadra

Nenê sobe livre para a enterrada triunfal, depois de Wall limpar a quadra

Não dá para dizer que a temporada 2013-2014 seja a mais auspiciosa para os brasileiros na NBA. Não que estejam terrivelmente mal. Nada disso. Mas tem faltado um pouco de brilho, barulho, grandes momentos – talvez pelo fato de a turma ter se assentado em situações cômodas, de estabilidade.

De todo modo, neste sábado, Nenê ao menos conseguiu registrar um grande momento para a legião de exportados, realizando um dos melhores jogos de sua já longínqua carreira na liga norte-americana. Na verdade, o melhor momento, e justo com ele, sempre afeito a dar o mérito aos companheiros. Um cara que não curte muito esse negócio de se gabar em entrevistas – isso, claro, quando ele topa falar com algum repórter. Mas dessa vez não havia muito como ele escapar dos microfones e gravadores.

O pivô marcou 30 pontos na vitória do Washington Wizards sobre o New Orleans Pelicans, igualando sua melhor marca pessoal. Mais: fez a cesta do triunfo, uma enterrada com 0s9 no cronômetro, bem em cima da buzina, mesmo, para definir o placar de 94 a 93. “Apenas rezei”, afirmou o são-carlense, em mais um gesto típico, sempre evocando termos religiosos para suas ações em quadra. “Queria encerrar o jogo com a bola nas minhas mãos. Eles fizeram isso, colocaram nas minhas mãos. O John foi fantástico: uma infiltração daquelas, e ele me encontrou.”

Veja a jogada aqui, eleita pela turma da NBA como a melhor de uma noite cheia de jogos (e, de brinde, veja a enterrada poderosa do brasileiro na 10ª posição, deixando o Monocelha na saudade):

Esses foram apenas os famosos “highlights”, né? Mas, se você quiser saber exatamente o estrago que Nenê fez na defesa do Pelicans, melhor assistir a este compacto com suas cestas de quadra (e algo a mais):

O pivô estava simplesmente com as mãos pegando fogo, tendo convertido 13 de 19 arremessos de quadra. Para quem não clicou no vídeo, a boa nova foi sua confiança na conversão dos chutes de média distância. Na temporada, este vem sendo seu aproveitamento:

Em amarelo: Nenê arremessando de acordo com a média da liga em praticamente todo o perímetro interno, sendo mais eficiente na cabeça do garrafão e dois ou três passos para a direita. Não por acaso, região em que encaçapou diversas vezes contra o Pelicans

Em amarelo: Nenê arremessando de acordo com a média da liga em praticamente todo o perímetro interno, sendo mais eficiente na cabeça do garrafão e dois ou três passos para a direita. Não por acaso, região em que encaçapou diversas vezes contra o New Orleans

Quer dizer, Nenê já precisa ser respeitado na hora de subir para o jump-shot. Se conseguir, de alguma forma, elevar seu rendimento, seu impacto no ataque do Wizards seria mortal: 1) é difícil parar John Wall em suas infiltrações, no mano a mano, de modo que o pivô (Greg Stiemsma, por exemplo, em diversos dos lances acima)  também precisa recuar um bocado no garrafão para fechar a porta; 2) Marcin Gortat é um ótimo finalizador debaixo do aro e também chama a atenção da ajuda, da cobertura; 3) o mais ilustre dos Hilários do esporte tem liberdade para receber o passe e finalizar; se for para matar, deixa os defensores praticamente diante de constante xeque-mate após xeque-mate.

Agora, voltando à discrição de Nenê. Vasculhando os sites norte-americanos, ou mesmo os locais de Washington, foi difícil encontrar mais declarações do brasileiro. Vamos aqui com as únicas duas:

– “Foi uma vitória fantástica” – a básica.

– “Não, não, não. Isso não está certo” – o pivô descrevendo o que pensou quando Anthony Davis (aliás, mais um jogo sensacional para este jovem craque) converteu dois lances livres nos segundos finais para por o time visitante na frente do placar.

A enterrada de outro ângulo

A enterrada de outro ângulo

E só. Se alguém tem outra na manga, favor endereçar em telegrama urgente. É impressionante e diz muito sobre seu comportamento – com a ressalva de que o elenco do Wizards se mandou rapidamente do ginásio, com um voo marcado para Cleveland, aonde jogam novamente neste domingo.

Mas o sumiço do pivô também fala bastante sobre a moral que John Wall tem na capital norte-americana. (Claro, essa não é uma surpresa, já que é, agora oficialmente, o All-Star da franquia.) Sua assistência para a enterrada triunfal de Nenê foi o grande chamariz nos relatos da partida. E, de fato, merecia destaque. “John fez duas jogadas no fim que você não consegue ensinar”, afirmou o técnico Randy Wittman. “Ele partiu para a cesta querendo a bandeja. Estando um ponto abaixo, com o relógio correndo, ele ficou sob controle, para fazer aquela última jogada para o Nenê. Foi uma boa execução no momento  decisivo.”

É… Vejam que Wall atrai a atenção de marcação tripla no garrafão, limpando um espaço precioso para a decolagem de seu pivô. “Eu queria ir para um arremessos”, confessou o armador. “Mas vi Anthony Davis se aproximar. Então pensei em passar por trás para Gortat. Mas aí vi (Jeff) Withey chegar ao mesmo tempo, e então vi Nenê por ali, e e era o passe mais fácil e mais seguro. Por sorte, ele conseguiu fazer a cesta a tempo.”

Fica bem claro o amadurecimento do número um do Draft de 2010. Demorou um pouco mais, mas ele chegou lá, sem perder o embalo da temporada passada, na qual ficou afastado por um longo período devido a complicações no joelho.

O Wizards se mantém na zona de classificação da Conferência Leste, ainda que não consiga de jeito nenhum ultrapassar a marca de 50% de aproveitamento. Wall é quem lidera essa campanha, mas, sem Nenê, pode ter certeza de que não conseguiriam. Por mais que ele diga pouca coisa a respeito.

*  *  *

Varejão e Splitter, de novo lidando com questões físicas

Varejão e Splitter,  lidando com questões físicas

Um bom momento para checar como estão os demais brasileiros, né?

Tiago Splitter vem sofrendo novamente com suas já famosas lesões na panturrilha, o tipo de problema físico que precisa ser muito bem cuidado, para que não vire algo mais grave, que possa lhe atrapalhar nos playoffs. Com Gregg Popovich, porém, não há esse risco. Na semana passada, o catarinense se viu incluído numa lista nada agradável, elaborada pelo jornalista Bill Simmons, editor-chefe e fundador do inigualável Grantland e comentarista da ESPN: a dos 30 piores contratos da liga. Simmons autaliza esta relação anualmente e incluiu o pivô na 23ª posição. “Eu sempre levo pro lado pessoal quando o Spurs paga mais do que deve para alguém. O Spurs é supostamente o clube mais esperto da liga! Por favor, RC Buford! Você é um modelo a ser seguido!!! Você deu US$ 36 milhões para alguém que nem conseguia ficar na quadra nas finais de 2013???? Justo você?? Por quê????”, exclamou, questionou, aloprou.

Splitter recebeu um contrato de US$ 36 milhões por quatro anos. Uma bolada. Mas Simmons não apresentou muitos argumentos para atacar o negócio, além do fato de o jogador ter penado contra o Miami na decisão para questionar esse montante – como se ele fosse o único pivô a ter enfrentado dificuldade contra o time da Flórida . Naturalmente, o comentário despertou uma certa indignação entre os torcedores do Spurs. O blog Pounding the Rock saiu em defesa do atleta, de modo racional. O mesmo blog já havia elaborado um artigo excelente para detalhar a importância do pivô para a defesa texana. Há coisas que os números realmente não contam, ao menos na superfície. Por outro lado, é preciso dizer que Tiago vive sua pior temporada desde o ano de novato, de acordo com medições estatísticas mais avançadas ou em projeções por minuto, mesmo depois de ter descansado durante as férias, sem ter disputado a Copa América. Não quer dizer que esteja mal, mas que pode render mais.

Anderson Varejão estava começando a embalar no garrafão do Cleveland Cavaliers e… Está fora de quadra desde 9 de fevereiro, por conta de alguma contusão/lesão/questão/dor nas costas. O Cavs não divulgou exatamente qual o problema do capixaba, deixando os blogueiros da cidade ressabiados. A ESPN chegou a noticiar que ele teria tomado uma injeção de cortisona, mas o gerente geral David Griffin negou a informação. Em contato com Sam Amico, repórter da FoxSports, contudo, o dirigente confirmou que ao menos um tipo de injeção foi aplicada. Só não quis confirmar qual.

O pivô estreou na temporada um pouco mais tarde, se reabilitando da assustadora embolia pulmonar que o tiro das quadras na temporada passada. Seu tempo de quadra vinha sendo mais controlado, se comparando com os três campeonatos anteriores, mas aos poucos ele vinha recebendo uma carga maior de minutos. Em 2014, tinha médias de 10 pontos, 10 rebotes, 3,3 assistências e 1,5 roubo de bola. Até que parou. Neste sábado, sabe-se que ele não treinou.

– Para Leandrinho, só o fato de já somar 18 partidas na temporada 2013-2014 já é uma vitória, superando uma série de dúvidas sobre seu retorno depois de uma lesão grave no joelho. Prova de sua dedicação, seriedade, devoção aos treinamentos. Aliás, um aspecto muito subestimado na carreira do ligeirinho – não foi só talento natural que o levou ao sucesso nos Estados Unidos. Posto isso, o ala-armador tem perdido rendimento em fevereiro. Depois de abrir o mês marcando 13 pontos em dois jogos seguidos (ambas derrotas, para Chicago e Houston), converteu 17 no total em suas últimas quatro partidas, em seis cestas de quadra, tendo ficado fora da surra do Suns para cima do Spurs, na sexta, abrindo vaga para o calouro extremamente promissor Archie Goodwin. O baixotinho Ish Smith foi o beneficiado.

– Em um ano em que o Boston Celtics joga mais para perder do que para ganhar, a estreia do técnico Brad Stevens na NBA foi considerada pela mídia norte-americana como um dos poucos pontos positivos. É elogiado pelo quanto se prepara para cada confronto, pela eficiência de suas jogadas após pedidos de tempo, pela evolução de Jordan Crawford em suas mãos, entre outros pontos. Agora, no que se refere a Vitor Faverani, acho que o jovem treinador erra, e feio. Dar tempo de quadra para um veterano como Kris Humphries, no último ano de contrato, em detrimento de uma aposta para o futuro, não faz muito sentido. E não é que o pivô gaúcho tenha afundado a equipe quando jogou.  Agora, caminhando para os meses finais de temporada, Faverani se recupera de uma torção no joelho esquerdo. Em três jogos completos pela D-League, teve médias de 16,3 pontos, 12 rebotes, 3,6 assistências e 2 tocos, em cerca de 32 minutos. A ressalva de sempre: os números nesse campeonatos são sempre inflados, pelo ritmo de pelada de muitas partidas. De qualquer forma, Faverani entregou. Agora é ver se consegue voltar para quadra rapidamente e se vai receber mais uma chance adequada de Stevens.

*  *  *

Enquanto isso, na D-League…

Scott Machado, novamente Warrior

Scott Machado, novamente Warrior

– Superada (?) a frustração da dispensa pelo Utah Jazz, Scott Machado voltou à alçada do Warriors, defendendo novamente a filial da franquia em Santa Cruz. Dessa vez, porém, ele é reserva de Seth Curry, o irmãozinho do Steph. Antes que acusem o clube de nepotismo, saibam que o armador tem média de 19,5 pontos por jogo e 6,4 assistências, mesmo que não tenha colocado em prática seu grande arremesso de três pontos (32,5% de longa distância… cai a eficiência quando ele passa mais tempo com a bola, claro). O gaúcho de Nova York tem médias de 20,8 minutos, com 8,6 pontos, 3,4 assistências, 3,1 rebotes e apenas 33,3% nos chutes de quadra…

Fabrício Melo passou um bom tempo em inatividade (inexplicavelmente, diga-se) e assinou com o Texas Legends, a filial do Dallas Mavericks, clube que o cortou no training camp, lembrem-se, numa situação que nunca lhe foi muito favorável. Ainda preciso sentar um dia à frente do YouTube para ver em que tipo de forma está o pivô mineiro, mas depois de fazer ótimas partidas no ano passado pelo Maine Red Claws, seus números na atual campanha por enquanto são tímidos: 4,1 pontos, 3,6 rebotes e horrendo 38,6% nos arremessos em apenas 13 jogos (13,6 minutos). É reserva do imortal Melvin Ely, hoje com 35 anos. Um cara que entrou na NBA no mesmo Draft de Nenê (2002), rodou por várias franquias (Clippers, Hornets/Pelicans. Spurs, Nuggets…) e nunca teve média superior a 25 minutos por jogo.


Larry Bird não pára quieto, e agora Evan Turner que se vire
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Giancarlo Giampietro

Danny Granger e Evan Turner estrelando em... A Troca

Danny Granger e Evan Turner estrelando em… A Troca

Evan Turner foi o número dois do Draft de 2010, logo abaixo de John Wall e oito postos acima desse tal de Paul George. Depois de construir uma sólida carreira por Ohio State, evoluindo a cada temporada, o ala era visto como um tiro certo naquele recrutamento: alguém que chegaria para resolver no perímetro. No fim, se tornou mais uma de uma longa lista de segundas escolhas que não renderam conforme o esperado em seus primeiros anos de carreira.

Está certo que, em Filadélfia, ele nunca encontrou a situação certa para por em prática suas habilidades. Jrue Holiday, Andre Iguodala e, agora, Michael Carter-Williams são todos atletas que curtem dominar a bola, criando por conta própria ou para os companheiros. Sim, exatamente o que Turner mais gosta de fazer.

Agora… Se o ala enfrentou dificuldades, isso também pode indicar que encara o jogo de uma forma limitada, sem conseguir se adaptar ao que está ao redor. Basicamente, por não se movimentar da maneira adequada fora da bola e ser (ainda!) um péssimo arremessador de longa distância. Além do mais, com um ou dois passos dentro do zona interior, continua sem fazer lá muita coisa:

Nesta temporada, Turner atingiu a média da liga (amarelo), no máximo, em dois quadrantes

Nesta temporada, Turner atingiu a média da liga (amarelo), no máximo, em dois quadrantes

Agora, pior, mesmo, é ver que nem próximo da cesta ele consegue usar sua envergadura e altura para finalizar com precisão. No fim, parece que a única jogada saudável para o atleta, no momento, é uma semi-infiltração pela direita, brecando para o chute em elevação. Muito pouco, para alguém supostamente tão talentoso e com tanto volume de jogo. Sua capacidade no drible é indiscutível, algo que pode encantar e, ao mesmo tempo, iludir – o quanto de produção sai dali?

Turner e seu arremesso tenebroso. Com a mão esquerda, parece que está bloqueando a si próprio

Turner e seu arremesso tenebroso. Com a mão esquerda, parece que está bloqueando a si próprio

Além do mais, considerem que o Sixers foi o time que mais correu nesta temporada, com média superior a 102,5 posses de bola por partida (comparada com as 96,1 do Pacers). Na correria, a ideia é pegar as defesas menos preparadas, armadas para a contestação de seus arremessos. Ok, funciona bem melhor quando se tem um Steve Nash na condução dos contragolpes, mas o fato é que Turner só usou esse ritmo acelerado para inflar suas estatísticas (mais ritmo, mais posses de bola, mais arremessos…), sem nenhum acréscimo em aproveitamento. Ele tem médias de 17,4 pontos, 6 rebotes, 3,7 assistências, mas ainda, em termos de eficiência, segue abaixo da linha mediana da liga.

Aos 25 anos, fica a dúvida sobre o quanto pode evoluir ainda. De todo modo, se Larry Bird decidiu apostar (mais uma vez!), quem é que vai duvidar? Fica a expectativa agora sobre como Frank Vogel vai usar Turner em sua rotação, uma vez que Paul George e Lance Stephenson são tão ou mais controladores do que Jrue, Iggy ou MCW – e colocar Tuner ao lado dos dois diminuiria, e muito, o espaçamento de quadra, limitando os ângulos para as infiltrações dos dois jovens astros.

Talvez os diretores do Pacers confiem no seu programa de desenvolvimento de talentos – e pensem no cara como um plano B para o caso de perderem o futuro agente livre Stephenson ao final da temporada. Talvez queiram Turner para diminuir um pouco a carga de minutos de George e Stephenson nesta reta final antes dos playoffs.  Ou talvez a troca só diga algo significativo, mesmo, sobre Danny Granger.

O veterano havia disputado apenas cinco partidas no campeonato passado. Demorou um tempão para voltar nesta edição, com problemas no joelho. O clube aguardou exatamente 29 jogos para ver se ele conseguia, de alguma forma, relembrar ao menos 60% do que foi no passado – no auge, em 2009, foi um All-Star. Provavelmente seria o suficiente para lhe manter como sexto homem, completando a rotação de perímetro fortíssima. Não aconteceu – e, na avaliação da franquia, fica evidente, não vai acontecer tão cedo.

É muito vermelho para o gosto de quem luta pelo título

É muito vermelho para o gosto de quem luta pelo título

O ala conseguiu, de alguma forma, abaixar sua média nos arremessos de dois e três pontos, seja pelas métricas mais tradicionais ou pelas ditas avançadas. O aproveitamento de 33% nos disparos de fora ainda é superior ao de Turner, mas não o suficiente para convencer Bird a mantê-lo na base, ainda mais com a mobilidade bastante limitada e a incapacidade de produzir rumo ao aro.

Como o legendário Bird já disse, é tudo ou nada para o Pacers este ano. Se Granger não estava preparado para ajudar a equipe nos próximos meses, especialmente a partir de abril, que tentassem outra direção – ainda que estranha, a princípio. Com o título e só o título como plausível meta, qualquer noção de lealdade pelos serviços prestados vai para o espaço. Bye, bye, Danny, foi bom enquanto durou.

Granger vai se apresentar ao Sixers nos próximos dias. Sua turma já está espalhando na imprensa que seu desejo é apenas assinar a papelada e rescindir o contrato, para ficar livre e beliscar uma vaguinha em outro concorrente ao título. Estão de olho: Thunder, Spurs e… Heat  que, glup!, acabou de despachar Roger Mason Jr. para Sacramento justamente para abrir uma vaga em seu elenco.

Só faltava oa ala seguir Ray Allen e se mudar para South Beach. Teoricamente, um movimento muito improvável. Seu relacionamento com George, David West, demais companheiros e membros da comissão técnica é hoje ainda muito mais amistoso do que o do chutador com Boston. Na sua despedida, por exemplo, fez questão de abraçar um por um que estava presente no ginásio. Agora imaginem se acontece? Como se a eventual disputa Miami x Indiana precisasse de mais ingredientes picantes…

De qualquer maneira, para um time que está no topo da Conferência Leste – agora bastante pressionado, é verdade –, o Indiana ainda se mostra irrequieto, se mexendo sem parar, tentando achar a combinação perfeita para destronar os LeBrons. Vamos ver se Evan Turner se encaixa nessa. Ele vai ter de se virar. A essa altura, seu status de número dois do Draft já não serve mais para nada.

(PS: sobre o pivô Lavoy Allen, não há muito o que dizer. Só deve entrar em quadra no caso de alguma gripe suína se espalhar por Indianápolis.)


Andrew Bynum, a aposta enigmática de Larry Bird
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Giancarlo Giampietro

Bynum x Bosh: algo para se ver nos playoffs? E aí, Bird?

Bynum x Bosh: algo para se ver nos playoffs? E aí, Bird?

Quando o Indiana Pacers avançou rapidamente com a contratação de Andrew Bynum, não foram poucos os que entenderam o acerto como uma medida preventiva por parte atual líder da Conferência Leste. Prevenção em muitos sentidos, dentre os quais se destacaria sorrateiramente a intenção de tirar o pivô da alçada do Miami Heat. Poxa, os caras já estão se virando com o Greg Oden – qual o motivo, então, de dar a Pat Riley a chance de reabilitar dois gigantes talentosos?

Larry Bird, o Jesus do basquete em Boston e chefão do Pacers, não achou a menor graça nessa lógica. Ao menos foi o que disse: “Não temos dinheiro para jogar fora assim e deixá-lo sentado no banco. Essa talvez seja uma das coisas mais estúpidas que já ouvi”.

Se ele está falando, quem somos nós para discordar, né? Mesmo que a cada jogo entre Indiana e Miami as coisas fiquem mais quentes, na esteira de dois confrontos eletrizantes em duas temporadas seguidas pelos playoffs da liga, com os treinadores e jogadores falando abertamente sobre cada elenco/time está moldado para bater o outro…

Mas tudo bem. É o que está colocado publicamente. E, de qualquer forma, Bird menciona algo indiscutível: a despeito da capacidade que a franquia tem para competir pelo topo no Leste, o Pacers está bem distante da elite em termos de arrecadação. Eles até se viram com boa administração, algumas apostas certeiras no Draft e um programa sólido de desenvolvimento dos atletas. Só não dá para fazer aviãozinho com notas de cem e distribuir em seja lá qual for a praça central de Indianápolis.

Agora, mesmo que a ressalva do legendário ex-jogador seja aceita, diante dessa lógica de economia apertada, a pergunta ainda se faz necessária: se não podem queimar a grana, vale, ao menos, apostar?

Porque Bynum, a essa altura, é, sim, uma aposta. De um milhão de dólares.

* * *

Orgulhoso, Andrew Bynum fez questão de espalhar a informação por toda a NBA: ele não assinaria contrato algum que fosse pelo salário mínimo da liga. Mesmo que estivesse desempregado, dispensado imediatamente pelo Chicago Bulls, depois da troca por Luol Deng. Mesmo que já tivesse embolsado US$ 6 milhões na temporada, para ficar em quadra exatamente por 420 minutos pelo Cavs – fazendo as contas, dá mais de US$ 14,2 mil a cada 60 segundos de jogo.

Podem falar que o cara é um sanguessuga, mercenário, depravado, o que for. Mas, assim como Kobe se recusou a ganhar menos em sua extensão contratual, para teoricamente ‘ajudar’ o Lakers, Bynum simplesmente não aceitou ganhar o piso – que é, por exemplo, o que o Phoenix Suns vai pagar a Leandrinho pelo restante do campeonato.

Típico. De jogador mais jovem da história da liga a pivô dominante, passando por muitas lesões e lições desde que foi selecionado pelo Lakers no Draft de 2005 – o último em que foi permitida a entrada direta dos adolescentes de high school e no qual foi ensanduichado, acreditem, por Ike Diogu e Fran Vázquez! –, o pivô se firmou como um dos personagens mais singulares numa liga CHEIA desses tipos. Até mesmo Phil Jackson se viu encafifado em diversas ocasiões tentando entender o sujeito.

Bynum e um de seus possantes

Bynum e um de seus possantes

Quando Bynum foi afastado pela diretoria do Cleveland Cavaliers nesta temporada, o Mestre Zen, mesmo depois de alguns anos separado do jogador, propenso a reflexões sobre o Cosmo e a Vida, não foi capaz de avaliar com propriedade o que se passa com o cara. “Fico relutante em julgar as intenções dele no basquete. Ele é um homem com muitos interesses e que tem uma vida fora do jogo”, disse. “Mas ele gosta de competir.”

Na época, para tentar limpar a barra de tantas calças enlameadas, diretores e treinadores do Cavs vazaram descaradamente diversas informações (ou “opiniões” travestidas de fatos) sobre como o pivô era uma figura apática no cotidiano da equipe e de como já não parecia ter mais o mínimo desejo de estender sua carreira. Coincidentemente ou não, foi a mesma linha de raciocínio que o seguiu durante sua passagem patética pela Filadélfia, cuja única contribuição para o Sixers só foi a estética capilar diversificada do lado de fora da quadra.

E vale a ênfase no “fora de quadra”, aliás. É o que mais se ouve sobre Bynum, como o próprio Jackson ressaltou.

É bastante curiosa, aliás, a reação generalizada aos “interesses do jogador para além do basquete”, como um viés crítico – obviamente não é o caso do treinador mais vitorioso da liga, que sabe muito bem: nem todos são maníacos feito Kobe Bryant. De qualquer forma, para aqueles de visão mais cerrada, é como se um advogado ou um dentista não pudessem pensar em outra coisa que não a lei, contratos, cáries e resina.

Um perfil da Sports Illustrated (daqueles imperdíveis, clássicos a partir da impressão) já detalhou suas diversas paixões. Como carros e o automobilismo em geral, por exemplo. Suspeita-se que, no mundo da NBA, talvez seja um dos poucos que acompanhe a Fórmula 1 para valer e vá identificar Rubens Barrichello numa pista de esqui em Aspen. Sabemos que ele também gosta bastante de futebol e já chegou a adiar uma importante cirurgia para acompanhar a Copa do Mundo de 2010 de perto – aí, sim, o Mestre Zen ficou fulo da vida.

O quanto essas coisas servem como distração? Ou, por outro lado, o quanto a “mente aberta” de Bynum poderia ajudá-lo a prosperar em sua profissão de verdade?

Kareem Abdul-Jabbar – 1) o maior cestinha da NBA; 2) ex-assistente do Lakers pessoal para Bynum; 3) co-piloto de aviões nas horas vagas – tenta nos ajudar a entender um pouco mais sobre isso. “Quando trabalhei com Andrew, eu o descobri como alguém brilhante e dedicado, mas que se entendiava com a natureza repetitiva do trabalho com os fundamentos do basquete, algo muito importante para que ele fosse bem-sucedido”, disse. “Na minha opinião, Andrew é o tipo de pessoa que tem uma batida diferente, é como se fosse um ‘baterista diferente’. Então não vamos saber os fatos até que Andrew decida nos dizer exatamente qual o problema (em Cleveland) e que compartilhe seus pensamentos a respeito.”

Abdul-Jabbar e o poder da mente com Bynum

Abdul-Jabbar e o poder da mente com Bynum

Quem também pode contar um pouco mais sobre o “homem Andrew Bynum” é Darvin Ham, alguém com um currículo muuuuuito mais modesto que o de Jabbar, mas que sempre foi daqueles jogadores prediletos dos técnicos por onde quer que tenha passado e que trabalhou como seu treinador da mesma forma. “Realmente passei muito tempo com ele em sessões de um contra um e também fiquei em trabalhos de grupo. Ele não é, mesmo, um cara que cria problemas. Ele apenas quer ficar sozinho, na dele, jogando basquete. Simples assim”, disse o hoje integrante da comissão técnica do Atlanta Hawks.

“Ele é um cara inteligente. Tem essas ideias sobre novas maneiras de treinamento. Umas coisas que ele sugeria para mim. Tivemos uma chance de conversar nas últimas férias, e ele simplesmente me deixou embasbacado pelo nível de como ele pensa as coisas”, continuou Ham.

Daí que ele foi questionado sobre quais técnicas novas seriam essas para se trabalhar com jogadores ou pivôs? “É uma atividade de ninja que poucos já viram e que ninguém dominou ainda. Vamos colocar as coisas desta maneira. E ele foi um dos melhores pupilos nisso. Abraçou isso totalmente.”

Técnicas ninja completamente secretas?!

Calma, não se assustem, pede o assistente do Hawks.

“É uma pena que ele tenha passado por tantos problemas físicos, mas agora estou feliz. Fico feliz de ver que alguém se prontificou a seguir em frente e foi atrás dele. No ambiente certo, mas sem querer dizer que outro lugar era o ambiente errado… Quando ele está focado, ele se foca de verdade.”

*  *  *

Larry Bird, seja na versão de jogador, técnico, dirigente, comentarista ou amigo de bar, é daqueles que não alivia em nada. Sai falando “verdades” na fuça de qualquer um. Obviamente, ao negociar com o pivô e seu agente, deve ter exposto quais condições ou tipos de conduta que não serão aceitas em seu quintal. Definitivamente não vai tolerar muito do que se ouviu sobre seus maneirismos em Cleveland.

Segundo consta, Bynum por diversas vezes entrou em conflito com Mike Brown e seus assistentes, sem aceitar bem o que se passava em quadra. Desafiava a comissão ao quebrar jogadas e rotações defensivas nos treinos. Ficava com cara de poucos amigos no banco ou no vestiário. Esse tipo de coisa que irrita no dia a dia.

Bynum gostava, ou não, de treinar com o Cavs? Dava trabalho?

Bynum gostava, ou não, de treinar com o Cavs? Dava trabalho?

Agora, também é preciso dizer que, no Cavs, o grandalhão não era o único resmungão ou forrrgado a atrapalhar a pretensa arrancada do time rumo aos playoffs. Bynum já foi dispensado, Deng chegou para tentar ensinar boas maneiras aos rapazes, e as derrotas não pararam de acontecer. Na mais recente visita desta cambada a Nova York, consta que diversos jogadores caíram na noite ao lado de JR Smith – e de quem mais, oras? – na véspera da partida. Tomaram mais uma sova daquelas (21 pontos).

As coisas estão pegando fogo por lá. O gerente geral Chris Grant foi demitido. Os rumores não cessam. O Akron Beacon Jorunal publicou que, “se não acontecer nenhuma virada significante antes da data final para trocas, este elenco vai passar por uma reformulação”. Para quem tiver um tempinho sobrando e o mínimo de interesse sobre o inferno que ronda Anderson Varejão, também vale a leitura. Dion Waiters, o talentoso e tinhoso ala-armador, já estaria nas últimas, com um temperamento de supercraque e produção extremamente irregular que alienam qualquer um. Mas até mesmo o queridinho Kyrie Irving também não passa despercebido. “Seu comportamento tem irritado companheiros e outros membros da organização”, diz a reportagem. Sim, Luol Deng não poderia estar mais deslocado.

Esperava-se que Irving e Waiters, pelo prestígio com que chegaram na NBA, seriam dois jogadores a liderar uma reação do Cavs, que colocariam fim ao luto pela partida de LeBron James – e seus talentos – para a Flórida. Em vez disso, os corajosos torcedores da combalida franquia são obrigados hoje a ouvir Bynum falando este tipo de coisa: “Não é que não tenha dado certo. Aconteceu apenas que a atmosfera por lá não era daquelas que promovem energia positiva”.

Agora bem distante desse ambiente, num time muito mais sereno e que é sério candidato ao título, o pivô tem a chance de recuperar sua imagem, já arranhada pelo ano sabático que passou em 2012-2013 e por algumas intempéries que deixavam Kobe e Gasol malucos em Los Angeles.

*  *  *

Você pode apelar aos números, pode passar horas e horas diante da TV ou laptop, vendo basquete que não acaba mais. É assim que se entende e se ama o jogo. Mas, para um time prosperar, as ações que se passam longe das câmeras e calculadoras também são igualmente importantes. A famosa química fora de quadra. A cultura de vestiário.

Na construção do atual elenco, Bird, traumatizado pelos assustadores acontecimentos em Auburn Hills há mais de dez anos, enfatizou por anos e anos a contratação de sujeitos de “bom caráter”, “comprometidos com o clube a comunidade” e tudo isso. Mesmo que custasse o desmanche de uma base muito talentosa e que tivessem de passar por um longo processo de reformulação, foi por esse caminho que ele seguiu. Acostumada a jogar os mata-matas desde os tempos de Reggie Miller novato, a equipe chegou a ficar quatro anos fora dos playoffs na década passada. Foi preciso paciência.

Paul George tinha apenas 14 anos quando Artest e Ben Wallace quase fizeram David Stern infartar. Há um distanciamento claro aqui. Mas o progresso que testemunhamos tanto do ala como de Roy Hibbert e Lance Stephenson tem influência direta desse trabalho que Bird desenvolveu a partir de 2005. Assim como a composição de uma das melhores defesas de todos os tempos. Não se trata de mera falácia. Para se armar um paredão desses, é preciso que um atleta cubra o outro, e isso vai além de conceitos táticos, embora Frank Vogel ainda não receba os créditos devidos pelo que armou. Fato é que, todavia, neste plano de longo prazo, a franquia juntou aos poucos as peças que formam o timaço de hoje, tendo sempre em vista uma só diretriz pessoal.

Para os que cobrem regularmente o Pacers 2013-14, a sinergia no discurso dos jogadores e a camaradagem entre eles são grandes marcas e se impõem jogo após jogo, treino após treino. Não que sejam todos santos. Stephenson já aprontou das suas, inclusive como um reservão há dois anos no primeiro grande embate com o Heat, provocando LeBron James. Agora uma figura importantíssima para o time, o ala-armador se acalmou.E muito disso tem a ver com o contato diário com Bird e jogadores bastante sérios como David West e Luis Scola, entre outros, que metem medo ao seu jeito. As costelas dos adversários têm marcas a respeito.

É nesse contexto que a enorme e controversa figura de Bynum será inserida. Nem mesmo nos tempos de títulos com o Lakers o pivô teve contato com um ambiente regrado, controlado desses. Como vai reagir? E, talvez mais importante, como os donos do pedaço encaram sua chegada?

George x Granger: disputa só no game no vestiário do Pacers

George x Granger: disputa só no game no vestiário do Pacers

Paul George foi o mais receptivo, durante a repercussão da negociação, embora colocando uma ou outra vírgula aqui e ali. “Não dá para deixar passar um talento gigante desses, e espero que ele seja capaz de nos ajudar, vindo com uma atitude para aceitar nosso programa”, afirmou o jovem astro. “Ele vai ter de provar muita coisa para si mesmo, se ele quer jogar, ou não. Se ele vier pronto para isso, pronto para trabalhar bastante, realmente acreditando em nosso programa, não temos nenhum problema de tê-lo por aqui. Esperamos que, no segundo em que ele entrar no vestiário, que todos o recebam de braços abertos e que ele sinta a química da equipe. Temos um grupo muito próximo aqui. Vamos saber de cara se ele está comprometido conosco, ou não.”

Não parece, realmente, um discurso de irmandade? Seria Bynum capaz de aprontar tanto a ponto de bagunçar com isso? Seria dispensado de imediato, ao menor sinal de alerta?

David West e George Hill, por exemplo, não quiseram falar de imediato sobre o assunto. “O que o Larry disse? Se você tem alguma questão, vá perguntar para ele, ou Frank”, afirmou o ala-pivô. “Pergunte para o Frank”, reforçou o armador, em contato com o Star, de Indianápolis.

Bem, Frank Vogel, aquele que vai tentar fazer o que Mike Brown fracassou em duas ocasiões – dobrar Bynum –, estava bem mais sorridente que seus atletas. “Ele sabe que aqui é o lugar certo. Acreditamos também que oferecemos o lugar certo para ele. Ele expressou (durante as tratativas) que quer se encaixar no time, e essa foi a palavra que queríamos ouvir, considerando nossa mentalidade de que o que conta primeiro é o time”, afirmou.

Tudo isso é muito bacana, mesmo, mas não impediu que o próprio Vogel ligasse com urgência para Brian Shaw, seu ex-braço direito e outro a trabalhar no Lakers com Bynum, para se informar mais a respeito do grandalhão antes que qualquer cheque fosse assinado. Qual foi a resposta?

“Acho que muito do que se fala sobre ele… Ele é um bom sujeito. Não é má pessoa”, disse.

(Parêntese 1: Reparem que, tal como Darvin Ham, Shaw interrompe seu discurso e redireciona a frase para algo mais direto.)

“Acho que ele passou por algumas situações em qe ele realmente não respeitava o treinador e o programa.”

(Parêntese 2: Essa foi uma baita espetada em Mike Brown, e vale relembrar que muitos esperavam e/ou torciam para que Shaw fosse contratado como o sucessor de Phil Jackson no Lakers… Mas continuemos.)

“Sei que, em sua vida pessoal, ele vem lidando com algumas coisas com sua mãe. Então ele ficou meio que distraído, o que é algo você espera, levando em conta essas coisas.”

*  *  *

No release para anunciar a contratação, a equipe de comunicação do Pacers fez questão de incluir esta frase aqui do bebezão: “Será ótimo ficar na reserva de Roy, e eu farei qualquer coisa para ajudar este time”. Bem conveniente, né? Que gesto bonito. “Não foi uma decisão difícil. Acho que é o lugar certo para mim e, com toda a honestidade, acredito que temos a melhor chance para vencer.”

Ok, vamos dar um voto de confiança, então. Que ele se dedique ao máximo e desencane de jogar boliche com o joelho estourado. Já ajudaria bastante. Mas, pensando em quadra, que tipo de Bynum vai se apresentar em Indiana?

Sonhar com seus números e atuações dos bons tempos de Los Angeles Lakers, quando chegou a ter médias de 18,7 pontos e 11,8 por jogo, parece delírio. Mas será que, num time muito mais bem estruturado, ele consegue render (muito) mais do que fez em pouco tempo de Cleveland? Bird e Vogel esperam que sim. Porque o que ele apresentou nos primeiros meses da temporada não deixa muita gente animada, não. Vejamos, por exemplo, seu aproveitamento ofensivo:

Em uma palavra: desastre. Bynum teve muita dificuldade para converter seus arremessos de perto da cesta, como as manchas vermelhas mostram no gráfico

Em uma palavra: desastre. Bynum teve muita dificuldade para converter seus arremessos de perto da cesta, como as manchas vermelhas (abaixo da média da liga) mostram no gráfico

Agora, segue seu quadro de arremessos na temporada 2011-2012:

Em 2011-2012, sua última temporada inteirona, o vermelho se espalha por todos os lados, mas próximo da cesta, a área mais importante, vemos um aproveitamento muito melhor. Muito melhor

Em seu último campeonato em que estava inteiro, ou algo perto disso, o vermelho se espalha por todos os lados, mas próximo da cesta, a área mais importante de atuação, vemos um aproveitamento muito superior.

Além de ser muito mais eficiente nas finalizações próximo da cesta – quem não se lembra das ponte aéreas de Gasol para o cara? –, é importante comparar a diferença  no volume de chutes de média distância entre os dois gráficos, constando-se um padrão de jogo bem diferente . Sem explosão ou mobilidade, Bynum se viu afastado do garrafão. Mas, mesmo ali perto, não foi nada ameaçador. Na defesa, ele pode ficar ainda mais exposto a jogadas em pick-and-roll, sem conseguir se deslocar adequadamente para o lado, e, de certa forma, precisará ser protegido pelo sistema, sem precisar subir tanto em quadra.

Em termos estatísticos, suas médias despencaram tanto do ponto de vista de índices de eficiência (que podem ser comparados aos de seu segundo ano na liga, quando tinha apenas 19 anos) como nas projeções de produção por minuto. Definitivamente não estamos mais diante de uns dos três ou cinco melhores pivôs da liga. Ainda assim… Seus números são bem mais palatáveis que os do francês Ian Mahinmi, que, silenciosamente, vem fazendo uma campanha horripilante de ruim, nos 16 minutos em média que recebe para dar um descanso a Hibbert. Temos aqui, enfim, algo concretamente positivo a falar sobre o investimento.

E Frank Vogel está muito mais otimista, na verdade, do que qualquer blogueiro pé-rapado e abelhudo. “Ele tem uma mobilidade muito boa e deu a entender que pode ser uma força”, disse o técnico, com base nas análises de seu estafe sobre as atuações do grandalhão neste campeonato. “Ele pareceu bem.”

É de se imaginar que o treinador queira ver seu novo gigante atuando desta maneira:

No dia 30 de novembro, Bynum, mesmo pesadão, conseguiu se impor diante de Joakim Noah (também baleado, diga-se, sem ter feito uma pré-temporada adequada) e do chatíssimo Chicago Bulls, com 20 pontos, 10 rebotes e 5 tocos. Mesmo com tempo limitado, ele ainda emendaria mais três jogos sólidos em seu primeiro momento de brilho desde 2013 – e que durou pouco. Em Indiana, todavia, a carga será muito mais leve.

Mahinmi, prestes a ceder 16 minutos para Bynum

Mahinmi, prestes a ceder 16 minutos para Bynum

Vogel e sua comissão tentarão trabalhar o jogador de uma forma que ele se aproxime ao máximo de um fac-simile de Hibbert, nos minutos que tiver ao seu dispor. Que consiga, de alguma forma, proteger a cesta, sem se expor ao máximo no perímetro. Mas convenhamos que, para o Pacers, pensando no confronto que interessa, a final do Leste, eles realmente esperam que o reforço não tenha tanto tempo de quadra. Quanto mais Hibbert ao centro da defesa, melhor para brecar os LeBrons de Miami.

Sim, o Pacers vai passeando no Leste, a despeito de um ou outro tropeço recente, mas essa excepcional campanha só vai valer para alguma coisa se eles passarem pelo time da Flórida no final do ano. É só nisso que eles pensam, admita ou não Larry Bird.

A abordagem do presidente do clube é de tudo ou nada neste ano. “Não estou preocupado sobre o ano que vem, e nem tenho um ano todo pela frente. Estamos aqui e agora, e vamos fazer de tudo para que posamos avançar o mais longe possível. Sabemos que efrentaremos uma dura competição, mas, se tivermos a chance de melhorar nossa equipe, vamos fazer isso”, afirma.

O Indiana será uma equipe melhor com o enigmático pivô?

Erik Spoelstra, do seu lado, garante que não está  preocupado. “Estamos concentrados apenas em nós neste momento. Estou certo de que (a contratação) chama muitas manchetes e diversas histórias. Ele combina com o estilo deles, de terem um garrafão alto e físico, mas, pensando do nosso ponto de vista, isso não nos afeta em nada”, afirma o técnico do Heat.

Sim, definitivamente Andrew Bynum, hoje, não é um problema ou solução para os atuais bicampeões. Larry Bird não quis saber de permitir isso. Agora, para quem não tem tanto dinheiro para fazer estripulias no mercado, ele só espera que daqui a alguns meses sua aposta se mostre bastante lucrativa.


Notas sobre a NBA: Boozer, Gasol no mercado e mais
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Giancarlo Giampietro

Durant vai subindo na lista de cestinhas. Gervin sabe disso

Durant vai subindo na lista de cestinhas. Gervin sabe disso

Por vezes, a sucessão de fatos pode ser tão atribulada que o trem passa e você não consegue nem se agarrar na última porta do vagão derradeiro. Então vamos apelar aqui, mais uma vez, para o formato de pequenas notas, para tentar dar conta de alguns episódios interessantes da NBA que aconteceram nos últimos dias, período no qual a prioridade foi a definição do pagamento de mais de R$ 2,6 milhões por uma vaga na Copa do Mundo de basquete. Com um aviso, desde já: sobre Andrew Bynum no Indiana Pacers, o assunto é muito importante para a temporada para ser resumido em dois ou três parágrafos. Estou preparando outro texto a respeito, que espero publicar entre quinta e sexta-feira:

Carlos Boozer quer jogar MAIS pelo Chicago
Quando li o pivô do Bulls reclamando de sua ação cada vez mais reduzida nos quarto períodos, não deu para não rir. Que fique claro: não era bem um deboche de alguém chamado Carlos, nascido em Aschaffenburg, numa base militar americana na Alemanha, e que cresceu no Alaska – aliás, essa combinação sempre foi fascinante para mim. Boozer obviamente já não faz por mercer os US$ 15 milhões que fatura por temporada, se é que um dia valeu toda essa bolada. Frustrada por não conseguir contratar nem LeBron, nem Wade e nem Bosh, acabaram pagando uma fortuna por um jogador cheio de limitações. A desatenção, falta de empenho e lentidão do cara na defesa sempre custaram muito caro aos seus times, ainda mais em fase de playoffs. Além do mais, sua voracidade perto da tabela também foi minguando com o decorrer dos anos. Mas, bem, o riso não tinha a ver diretamente com isso, e, sim, com o fato de que uma das maiores críticas que Tom Thibodeau enfrenta na liga é a maneira como explora ao máximo seus principais jogadores, fazendo-os encarar maratonas brutais durante a temporada. E está aqui um caso de cara que, na verdade, está reclamando por jogar de menos.

Carlos Boozer, orgulho do Alaska

Carlos Boozer, orgulho do Alaska

Boozer falou um monte durante a semana, manifestando seu descontentamento pelo fato de ter ficado duas partidas seguidas sentadinho no banco durante a parcial final. “Acho que eu deveria estar na quadra, mas é a escolha dele”, disse. “Eu jogo. Não dirijo. Então ele decide isso. Mas, honestamente, ele tem feito isso desde que cheguei aqui, de não me colocar no quarto período. Tem vezes que vencemos, mais do que perdemos.  Mas é sua escolha.”

Hã… De fato. O Bulls mais vence com Thibs do que perde. Mesmo sem Derrick Rose. Mesmo sem Luol Deng. Mesmo sem… Bozzer no quarto final. Como ele próprio admite. Então… Qual exatamente o problema?

Taj Gibson não só é 49 vezes um melhor defensor que o titular do time (tá vendo como realmente não interessa nada essa coisa de quem começa, ou não, jogando, como Ginóbili já se cansou de nos ensinar?), como também vem evoluindo gradativamente no ataque, de modo que, na hora em que a coisa aperta, a decisão mais simples para o treinador é emparelhá-lo com o JoJo em quadra e fazer de sua retaguarda um pesadelo para a concorrência.

(Para constar, nesta terça, Boozer teve uma noite produtiva contra o Phoenix Suns e teve o prazer de jogar no quarto período por mais de três minutos! Ele substituiu Gibson com 3min46s no cronômetro e cedeu seu lugar para o reserva aos 34s. Booooa, garoto.)

Plantão médico do Los Angeles Lakers informa.
Olha, já é sabido todo o ódio que Mike D’Antoni pode despertar nas pessoas. Em muitas pessoas. Hoje, na esmagadora maioria das pessoas, especialmente aquela que tenham alguma queda por Kobe e o Lakers. Mas como é possível dirigir um time desses com algum sucesso? Um time que em NENHUMA partida da temporada teve todo o seu elenco disponível para bater uma bola?

Justo na hora em que se preparava para acolher dois Steves de uma vez e um Jordan em sua escalação, o técnico perdeu Pau Gasol novamente. O pivô vinha em sua melhor fase em muito tempo, mas vai ficar afastado por sete partidas devido a uma contusão na virilha.

E quem realmente achava que a coisa ia parar por aí?

Que os enfermeiros se preparem, já temos mais enfermos. Blake mal voltou contra o Minnesota Timberwolves e já sofreu uma… Ruptura no tímpano! O veterano armador ainda seguiu jogando, saindo zerado de quadra depois de 31 minutos e apenas dois arremessos tentados. Inacreditável. Além disso, o ala Jodie Meeks, talvez a figura mais estável do time em meio a mais um ano totalmente dominado pelo caos, sofreu uma séria lesão de tornozelo e saiu de quadra num pé só.

Nash, que vai completar 40 anos na sexta-feira e fez apenas seu sétimo jogo no campeonato, somou sete pontos e nove assistências em 25 minutos, dez a mais do que estava combinado para que ele jogasse.

Ainda bem que só faltam uns 150 dias para o próximo Draft.

Gasol no Phoenix Suns? Será?
O ESPN.com deu a história, e depois os jornais locais foram adiante. Está confirmada a negociação entre as duas equipes. O Lakers tentando se livrar de Gasol, para não pagar as pesadas multas do teto salarial, e, ao mesmo tempo, buscando mais alguma(s?) escolha(s?) de Draft para este ano ou próximo. O Suns, que supostamente apenas conduziria a temporada na maciota, de olho em mais algumas revelações no recrutamento de novato, se viu obrigado a mudar sua abordagem, diante de um sucesso inesperado. Qualquer estrela que fique disponível nas próximas semanas, até o dia 20 – o prazo final para trocas este ano –, tende a despertar o interesse da franquia.

Gasol, um belo reforço para o Suns. Ou não?

Gasol, um belo reforço para o Suns. Ou não?

No momento, eles estão na seguinte parte do processo de barganha: o Lakers quer, além de Emeka Okafor (o famoso “expiring contract”), uma ou mais escolhas de Draft de primeira rodada. Do outro lado, já ciente do valor que Okafor teria para as finanças de seus antigos rivais, o Suns bate o pé e diz que não está muito disposto a dar nada de tanto valor assim pelo espanhol. Será que fechariam o negócio se pudessem ceder apenas o pick do Pacers deste ano (muito provavelmente o último da primeira rodada)? Será que envolveriam apenas os de segunda rodada? Isso não está claro.

A diretoria do Arizona também quer aguardar o retorno de Gasol, ainda que os caras em LA digam que sua contusão não é muito séria. Lembrando que o pivô também está no seu último ano de contrato. O Phoenix o “alugaria” até o final do campeonato, na esperança de brigar para valer nos playoffs do Oeste. Kobe diz amar Gasol, mas a relação do atleta com a diretoria e a comissão técnica já está, vá lá, bem esgarçada.

De todo modo, também vale a pergunta: se o espanhol reclamou tanto do sistema de Mike D’Antoni nos últimos meses, como reagiria ao ritmo de jogo do Suns, que segue a mesma linha? Seria simples birra contra o seu atual treinador? Regitre-se que na tabela dos times que mais correm na temporada, o Lakers está em terceiro e o Suns, em sexto. As habilidades de Gasol, sua idade e problemas físicos… Nada disso indicaria que ele seria uma boa combinação para o estilo de jogo que Jeff Hornacek tem promovido. Por outro lado, a mera possibilidade de adquirir alguém tão talentoso (experiente e vitorioso) é tentadora demais, claro.

Vamos esperar pelo desfecho dessa queda-de-braço.

– Kevin Durant, mais que homem de gelo.
Sabe o George Gervin?

Foi um ala que jogou por San Antonio tanto na extinta ABA como na NBA, entre os anos 70 e 80. Segundo consta, foi um dos maiores cestinhas de sua geração. Entre 1977 e 82, foi cestinha em quatro campeonatos. Juntando as duas ligas, ele aparece na 14ª colocação geral entre os matadores. O talento para fazer cestas lhe rendeu o apelido de Iceman. Tinha a ver com o sangue frio para definir as jogadas. Mas o que repercutia em seu jogo não era apenas o faro para pontuar, mas também o modo como ele fazia, com movimentos atléticos e elegantes próximo da cesta. Nos clipes históricos de promoção, ele é quase companhia obrigatória ao legendário Dr. J. Para quem quiser se esbaldar, seguem 30 minutos de lances de um confronto entre os dois, com direito a Bill Russell na transmissão:

Pois o San Antonio Express teve uma saudável ideia de pauta, mesmo que fosse para falar bem daquele oponente que promete aterrorizar Tim Duncan & Cia nos playoffs: gravar uma entrevista com Gervin para falar sobre o maior cestinha dos dias de hoje, Kevin Durant, alguém que ainda precisa anotar 12.813 pontos na NBA para igualá-lo na tabela histórica. Parece e é muito. Mas, no embalo que o jogador de OKC está, seriam necessárias apenas mais cinco temporadas para que isso acontecesse. KD vai fazer apenas 26 anos em setembro. Afe.

Mas, bem, o Express chamou Gervin e ouviu o que (não?) queria: aos 61 anos, Gervin é um senhor admirador de Durant, e já acha bobagem que qualquer um queira compará-lo ao garoto. Nessa ordem, mesmo. Em sua concepção, o cestinha da temporada já o deixou para trás. “Ele é um fenômeno. Um cara de seu tamanho, que pode colocar a bola no chão, arremessar tão bem como ele faz. Isso o torna imarcável. As pessoas o comparam a mim, ouço muito isso. Mas a única razão para isso é porque ele é magro, sabe driblar e pontuar. Ele faz de um jeito diferente do meu. Arremessa mais de longe. É umas três ou quatro polegadas mais alto. Imarcável. O único cara que pode pará-lo é ele mesmo. Eu não era ruim. Mas foi há muito tempo, você sabe. Minha carreira me deixa realmente confortável. Mas ele é especial. Fico feliz de ainda estar por aí e ainda poder ser comparado a ele.”

Ainda sobre Durant, no decorrer de sua grande sequência de jogos com 30 pontos ou mais – que terminou, de verdade, apenas contra o Washington Wizards, uma vez que contra Nets ele nem participou do quarto período, com o jogo já resolvido –, existe na imprensa americana uma busca incessante para encontrar um apelido para Durant. Durantula já foi ventilado, mas é horrível. Agora vieram com “Slim Reaper”, algo como o Ceifeiro Magro. O craque não gostou. Não quer ser identificado com algo que lembre a morte. Prefere simplesmente KD.

Que continuem tentando. Só não vale Iceman.

– Kirilenko e o sucesso. Tudo a ver.
Quem, por milagre e muita paciência, acompanha o blog desde sua última encarnação, sabe da admiração profunda que se tem pelo russo Andrei Kirilenko nos arredores da Vila Bugrão, aonde está fincada a base do conglomerado 21. Aqui está uma prova. Mas, não, não se confirmam os rumores de que a fachada deste imponente edifício esteja tomada por um painel com todos os diferentes e alegres cortes de cabelo do astro.

Antes de a temporada começar, na hora de projetar os atuais times, para mim, a presença de AK-47 no elenco do Brooklyn era tão decisiva como a de um Paul Pierce ou um Kevin Garnett para um ousado Brooklyn que assumia o espírito de tudo ou nada – ainda que tenham pago uma suspeita pechincha para contratar o compatriota do bilionário Mikhail Prokhorov.

O modo como Kirilenko pode influenciar um jogo está expresso em suas estatísticas históricas. Você não encontra com facilidade por aí alguém capaz de sustentar médias de 12,2 pontos, 5,6 rebotes, 2,8 assistências e, mais importante, 1,8 toco e 1,4 roubo de bola. A versatilidade do ala é impressionante. Esse é um caso em que os números traduzem perfeitamente o que ele faz em quadra, com movimentação muito inteligente, capacidade atlética e envergadura que fazem a diferença.

O segredo russo para tudo no Brooklyn Nets?

O segredo russo para tudo no Brooklyn Nets?

Posto isso, na atual campanha, sua primeira pelo Nets, limitado por muitos problemas físicos, ele vem jogando apenas 18,1 minutos. Ele ainda não converteu sequer um chute de três. O lance livre despencou para 66%. Numa projeção por 36 minutos, seu rendimento é inferior ao que apresentou pelo Timberwolves na temporada passada.

Agora… Quer saber um dado instigante? Com Kirilenko fardado, o time de Jason Kidd tem 12 vitórias e 5 derrotas. Sem ele? 9-20. Em termos de aproveitamento, a variação é de 70,5% para 45%. Ou podemos colocar desta forma: é a diferença entre ser terceiro ou oitavo neste patético Leste. E não é que tenham batido só times fracos durante os 17 jogos com o russo (conte aí duas vitórias contra Miami e Atlanta e triunfos também sobre Oklahoma City, Golden State e Dallas).

É uma estatística e tanto, não?

Mas claro que, para avaliar qualquer dado, é preciso um pouco de calma. Kirilenko ficou um longo tempo fora de quadra, tentando entrar em forma, ainda não está 100% e voltou exatamente no momento em que Kidd conseguia encontrar uma identidade para seu time, mesmo com a – ou por causa da – lesão de Brook Lopez, fazendo a eficiência de sua defesa decolar. Nesse sentido, AK-47, ainda que a 60% de sua capacidade já ajuda bastante na defesa, podendo cobrir diversos tipos de oponentes, dando liga nas coisas.

E acreditem: essa é uma opinião imparcial.


Brasil conhece grupo. Obrigação é bater Irã e Egito para avançar
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Giancarlo Giampietro

Em 2010, o Brasil (com Splitter, diga-se) superou o Irã. Reencontro 4 anos depois

Em 2010, o Brasil (com Splitter, diga-se) superou o Irã. Reencontro 4 anos depois

Extra! Extra! Saíram os grupos da Copa do Mundo de basquete!

O Brasil? Bem, o convidado e gastão Brasil caiu no Grupo A, ao lado de Espanha, França e Sérvia!

Dureza, hein?

Mas calma: Irã e Egito completam a chave. São seis integrantes, dos quais passam quatro para os mata-matas. Então, de cara, o que a gente pode dizer?

Que é obrigação bater Irã e Egito e passar de fase.

Por outro lado, era “o-bri-ga-ção” superar Jamaica e Uruguai na Copa América, e deu no que deu.

Avaliar, hoje, 3 de fevereiro de 2014, a força dos países que vão ao Mundial é nada mais que um exercício hipotético. Não temos a menor ideia de quem vai se apresentar, ou não, para o Mundial.

De certezas, mesmo, o que temos é que os Estados Unidos são os grandes favoritos ao bicampeonato. Mesmo sem LeBron, Kobe, Carmelo, Wade ou Chris Paul. E que não dá para perder do Egito. Por favor.

Um tropeço contra os faraós seria algo inimaginável. E contra o Irã? Bem… Para quem já advogou a favor da Finlândia no fim de semana, mantenho a coerência e recomendo calma, tranquilidade, paz e serenidade na hora de falar dos caras.

Obviamente seria pior ter os finlandeses na chave. Os escandinavos, pelo que praticaram no último Eurobasket, não podem ser considerados de modo algum como galinhas mortas. Agora, dá para dizer também que, entre os países mais fracos, o Irã, que ocupa a 20ª colocação no Ranking da FIBA, é bem mais encardido que Coreia, Filipinas, Nova Zelândia, Senegal e Egito.

O que sabemos sobre os iranianos?

Essa é uma boa hora para recuperar dois posts do ano passado, durante a disputa dos torneios continentais. Na Ásia, o Irã atropelou todo mundo. Foram nove vitórias em nove jogos rumo ao título. Na final, eles bateram os anfitriões filipinos por 85 a 71. Na semifinal, superaram Taiwan (que havia eliminado a China…) por 79 a 60.  Quem lidera a equipe é o pivô Hamed Haddadi, ex-Memphis Grizzlies, Phoenix Suns e Toronto Raptors. Tratado como figura cult na NBA, ele é um cara dominante no mundo Fiba. Na decisão asiática, ele somou 29 pontos, 16 rebotes e 2 tocos, matando 12 de 15 arremessos de quadra, em 29 minutos.

Esses números e o retrospecto na Ásia podem parecer assustadores, mas é preciso se levar em conta que o continente ao oriente não tem nem de perto a mesma competitividade que testemunhamos aqui nas Américas, por exemplo.

Se o Brasil tiver força máxima, ou algo perto disso, espera-se uma vitória tranquila. Como aconteceu no Mundial da Turquia em 2010. Quem se lembra? No começo de trabalho com Magnano, a então revigorada seleção, marcando bem, pressionando a bola, saiu vencedora de quadra na primeira fase por 81 a 65. O elenco tupiniquim era: Huertas, Nezinho, Raulzinho, Alex, Leandrinho, Machado, Marquinhos, Giovannoni, Murilo, Varejão, JP e Splitter. Nenê se apresentou, mas se desligou por motivo de lesão.

Não há motivos para esperar um desfecho diferente no torneio deste ano, na cidade de Granada, ao Sul da Espanha, em território que já foi dominado por uma dinastia islâmica.  Agora, de novo: é preciso quem Magnano vai convocar, aqueles que vão se apresentar e tudo isso.

A gente fala em obrigação, trabalhando na teoria. A vontade é colocar uma aspinha nisso: ‘obrigação’. Na prática, no mundo da CBB, depois dos acontecimentos de 2013, nada é garantido.

*  *  *

Sobre França, Espanha e Sérvia, o que dizer?

Bem, os franceses vão jogar cheios de confiança, como atuais campeões europeus, um título que eles comemoraram muito, mas muito, mesmo, no ano passado. Serviu como terapia para Tony Parker, além do mais. Agora, monitoremos todos como será a temporada do francês pelo Spurs. Jogar dois anos seguidos em competições Fiba, emendadas com longas jornadas na NBA, não é algo simples, fácil de se cumprir. Para a Espanha, como anfitriã, é de se imaginar que eles tenham força máxima, dependendo apenas que a enfermaria não retenha muita gente. Com os irmãos Gasol, seus excepcionais armadores, as bombas de Navarro e um Ibaka ainda melhor no ataque – mas sem abrir o berreiro? –, o time seria a segunda grande força do campeonato. Sacre bleu!, podem exclamar Parker, Batum e Noah, mas é o que acho. Por fim, a Sérvia é um dos times mais imprevisíveis da paróquia. A gente nunca sabe quem vai jogar. É como se eles trocassem de geração a todo momento. E, mesmo que os bambas joguem, controlar os egos dessa turma tem sido um problema desde que Dejan Bodiroga e Peja Stojakovic se foram. Fulanovic vai com a cara de Cicranovic? O talento é inegável, mas a química… Vai saber.

*  *  *

O restante dos grupos segue abaixo:

B – Argentina, Senegal, Filipinas, Croácia, Porto Rico, Grécia.
Os asiáticos deste grupo stão fazendo questão de espalhar pelos quatro cantos: “PROCURA-SE JOGADORES COM ASCENDENCIA FILIPINA DESPERADAMENTE”. No momento, eles estão tentando naturalizar JaVale McGee, o pivô mais insano da NBA, e Andray Blatche, outro cujo cuco também não bate muito bem, ex-companheiro de McGee num time de pirados em Washington, mas muito mais talentoso e que dá trabalho para qualquer um no mano-a-mano. Agora, mesmo com essa dupla, não dá para imaginar que Argentina, Croácia, Porto Rico e Grécia estejam preocupados. Temos aqui o quarteto de favoritos óbvios. O Senegal já forneceu nove jogadores para a NBA (embora pouquíssimos tenham vingado) e eliminou a Nigéria no último torneio africano, além dos donos da casa, a Costa do Marfim, na disputa pela terceira vaga. Então não deve ser desprezado. Mas, em CNTP, ficam pelo caminho.

C – EUA, Finlândia, Nova Zelândia, Ucrânia, República Dominicana, Turquia
Aqui a briga promete pelas vagas de segundo a quarto – já que o primeiro lugar é claramente da Nova Zelândia do sensacional Steven Adams… Então, bem, como vínhamos dizendo, a Turquia supostamente seria a segunda principal força desta chave. Com Omer Asik, Ersan Ilyasova, Emir Preldzic, Semih Erden, Furkan Aldemir, entre outros, porém, o time tem uma linha de frente formidável, mas um jogo de perímetro extremamente instável. Fossem outros tempos, poderíamos dizer que se tratam dos “caribenhos” da Europa. Foram vice-campeões na última edição, mas jogando em casa e com uma ajudinha da arbitragem. Então ficam no mesmo bolo de Ucrânia (um dos times mais modorrentos do últmio Eurobasket, com um basquete arrastado, excessivamente controlado por Mike Fratello, mas que se meteu entre os sete melhores),  Dominicana (Horford consegue se recuperar a tempo? Charlie Villanueva pode estragar tudo!? Será que o Calipari vai ficar tentado??) e Finlândia (o patinho feio que ganhou dos próprios turcos no Eurobasket.

D – Lituânia, Angola, Coreia do Sul, Eslovênia, México, Austrália.
O mesmo cenário se repete aqui. Com a diferença de que a Lituânia, bastante instável nas últimas temporadas – são os atuais vice-campeões europeus, mas precisaram jogar o Pré-Olímpico Mundial para chegar aos Jogos de Londres  –, pode se ver no mesmo pelotão de Eslovênia e Austrália. Mais abaixo talvez o México, depois de chocar as Américas no ano passado, talvez tenha algo a dizer a respeito, enquanto Angola está para a África assim como o Irã, para a Ásia. E a Coreia? Bem, com apenas seis jogadores acima de 1,94 m no elenco, sem chance.

 *  *  *

Os cruzamentos: as seleções do Grupo A batem com as do Grupo B no início dos mata-matas. Logo, é possível, sim, que tenhamos maaaaais um Brasil x Argentina pela frente. Se os nossos vizinhos e algozes tiverem de escolher, muito provavelmente topariam de cara, sem nem saber quem vai jogar por quem. Mas está bem cedo para falar disso. De todo modo, para Rubén Magnano, ficar ao lado de bichos papões na primeira fase não deixa de ser uma boa notícia. Garantia de que eles serão evitados de cara na fase decisiva – de todo modo, se o time pensa em medalha, em boa campanha, uma hora vai ter de enfrentá-los para valer e para vencer. O que a gente também pode tirar daqui é que dificilmente vamos ver a Espanha entregar, ou cogitar entregar qualquer coisa em quadra, como naquele polêmico de Londres 2012. Para escapar de um confronto precoce com os americanos, eles basicamente precisam se classificar na primeira colocação do grupo.


Sobre o susto com o convite da Finlândia e o basquete “grande”
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Giancarlo Giampietro

Divisão dos potes para o sorteio do Mundial 2014

Divisão dos potes para o sorteio do Mundial 2014

No meio de uma correria danada, no ano passado, com um torneio continental de seleções sucedendo o outro, tentei cobrir mais ou menos tudo o que estava acontecendo da forma mais fácil e, por vezes, mais conveniente: tentar encontrar um elemento comum a todos os eventos e fazer um resumão a partir deste ponto.

Por sorte, neste caso a pauta era clara e boa, ao mesmo tempo: a “onda de eliminações surpreendentes” por todos os cantos do mundo. E não há melhor momento para resgatar esse texto do que a ressaca que vive a comunidade basqueteira em geral, depois do anúncio dos quatro convidados para a Copa do Mundo da Fiba. Ver a Finlândia colocada entre os últimos “classificados” despertou uma reação cheia de som e fúria mundo afora. Uma reação bastante despropositada, se consideramos os fatos acontecidos em 2013, aqui relembrados.

Para quem está com preguiça de clicar no link acima, ou para os que, de repente, num estalo, perdeu a conexão – acreditem, aqui na sede do conglomerado 21, na Vila Bugrão, a Net não pára em pé –, seguem aqui também todos os times que foram privados da disputa da vaga (em quadra), de maneira precoce:

Europa
Alemanha, Rússia e Turquia (ao trio se juntaram, depois, Grécia e Itália).

Américas
Brasil e Canadá.

África
Nigéria e Tunísia.

Ásia
China.

É muita seleção “tra-di-cio-nal” no mesmo balaio. Uma dezena, quase 50% do que poderia ser a chave do Mundial. Abriram espaço, aqui e ali, para países como Ucrânia, México, República Dominicana, Egito, Senegal e Filipinas.

O quanto dessas duas listas, de eliminados e classificados, pode realmente ser considerado uma surpresa? Não há uma resposta definitiva para isso. É o famoso “depende”.

Na Europa, por exemplo, as coisas são muito, mas muito mais complicadas, e todos sabemos. A Ucrânia, sim, foi uma baita surpresa. Nos times históricos da União Soviética, Rússia e Lituânia eram as principais fontes de mão-de-obra. Para quem viu o Eurobasket, ficou clara a limitação do time, excessivamente lento, mas muito bem dirigido, orientado por Mike Fratello. De qualquer forma, se você põe uma Grécia na vaga dos caras, outros times muito bons ainda assim ficariam fora. É assim a vida por lá, mesmo com seis vagas abertas e a Espanha metida, para variar, entre os primeiros colocados. O que deixou todo mundo (que acompanhou a competição…) em choque, na época, foi o fato de russos e turcos terem caído logo na primeira fase. Enquanto um certo time escandinavo avançava…

México, campeão da Copa América de basquete. Alô? Lembram?

México, campeão da Copa América de basquete. Alô? Lembram?

Nas Américas, precisa falar? O Brasil desfalcado, mas ainda Brasil, perdeu de todo mundo, inclusive de Jamaica e Uruguai. A Argentina também se viu surpreendida pelos caribenhos e teve de lutar muito e contar com um pouco de sorte também para se garantir. O México, do nada, liderado por Gustavo Ayón, terminou como um campeão histórico. Aqui, acho que os sustos têm muito a ver com as inesperadas campanhas sofridas de dois (supostos) pesos pesados. Mas o fato é que, com o crescente número de americanos descendentes e naturalizados espalhados pelos países do continente ajuda a embaralhar muito as coisas. A Jamaica não tinha status nenhum desde a Terra do Fogo ao Alaska. Mas um jogador como Samardo Samuels pode dar muito trabalho, ainda mais quando acompanhado de uma série de armadores e alas superatléticos. E pensem no seguinte: eles ainda poderiam ter escalado Roy Hibbert e outros possíveis “expatriados”.

Na África, a Nigéria, lotada de norte-americanos, muitos deles atletas do calibre de NBA ou D-League, como Al-Farouq Aminu e Ike Diogu, e a Tunísia, que tem dois dos jogadores mais talentosos do continente (Salah Mejri e Makram Ben Romdhane) era a atual campeã, ficaram pelo caminho. Egito e Sengal foram duas zebraças, sim, que acompanharam Angola.

Na Ásia, a China passou por uma humilhação sem precedentes ao perder para Taiwan nas quartas de final, abrindo espaço para os anfitriões das Filipinas beliscarem uma vaga junto de Irã e Coreia do Sul. As Filipinas que agora sonham com a naturalização de JaVale McGee e Andray Blatche, dois pivôs da NBA com algum grau de ascendência similar ao de Manny Pacquiao. Vai saber.

A gente poderia esmiuçar cada uma dessas situações com mais tempo e detalhes, mas acho que deu para pescar o que está acontecendo, né? As coisas não são mais como antes, gente. O mundo do basquete mudou, e faz tempo já. O que me leva a uma lembrança.

*  *  *

Num dia desses, João Fernando Rossi, o  competentíssimo e comunicativo diretor do Pinheiros, sempre aberto ao diálogo nas redes sociais ou seja aonde for, estava divagando no Twitter sobre como não entendia muito bem a campanha “BIG”, da NBA. Já viram? Blake Griffin e James Harden não se cansam de falar sobre isso a cada intervalo do “League Pass”. Para ser sincero, já não aguento mais ouvir os dois astros, e nem eles conseguem falar mais – a cada exibição, a cara da dupla parece ainda mais tomada pelo tédio. Que saaaaaaaco…

Daí que, em meio a uma sucessão de posts, Rossi disse que, por seu trabalho na gestão do NBB, passou a compreender o significado da mensagem da liga norte-americana. Não me lembro exatamente qual a situação, se foi após o Jogo das Estrelas ou a final Flamengo x Uberlândia, mas era algo que gerava repercussão, que causava impacto, ao seu ver – concordem ou não, mas a visão de quem está de dentro da organização vai ser sempre diferente. Mas o fato é que ele, irradiante, fez a associação de que o campeonato nacional também seria BIG, grande.

Com peças publicitárias, você tem de tomar o maior cuidado. Se não fizer como Rossi e der um passo para trás, para tentar entender o que estão tentando colocar na sua cabeça, corre-se o risco de ser dominado por um processo de “tanto-bate-até-que-fura”, de assimilar tudo, sem a menor desconfiança.

A nova inserção da NBA, no caso, é feliz em muitos sentidos. Por mais que haja pequeninos encantadores, magos com a bola, como o caso de Isaiah Thomas, do Sacramento Kings, estamos falando de uma modalidade dominada gente grande, alta. A referência a “Bigs”, para o americano, então fica natural. É isso: uma palavra simples, mas que também passa um significado, hã, maior, grandioso.

No que chegamos a uma verdade que muita gente parece querer ignorar: o basquete hoje é muito grande. Doa a quem doer.

Não adianta falar e pensar “bla-bla-blas” sobre a globalização turbinada pela NBA e pela federação internacional como algo meramente teórico, se você não está preparado para aceitar o reflexo de tudo isso na prática, em quadra.

A competição está muito mais ferrenha, bem mais complicada do que 10, 15, 20 anos atrás, quando a a dissolução da União Soviética e da Iugoslávia já deixavam as coisas duras demais. A diferença é que americanos, asiáticos e africanos estão enfrentando hoje um cenário que, antes, preocupava apenas europeus ocidentais.

Já vivemos a época em que países de pouco ou nenhum histórico não estão nem aí para isso. Para uma Jamaica ou uma Nigéria prosperarem e incomodarem, basta a combinação de alguns dos seguintes fatores:

a) uma rede expansiva de contatos e a criatividade no processo de seleção – e a Fiba, convenhamos, é uma mãe para isso, permitindo as mais diversas associações de vínculos familiares +

b) um programa minimamente estável financeiramente +

c) um pouco de sorte na composição de grupos e chaves +

d) um ou outro desfalque de peso para os restantes =

“Temos um jogo”, nas palavras do Everaldo Marques.

E, não, não precisa ter jogador de NBA para formar um time bom. Como o caso da Finlândia, que bateu Rússia e Turquia – o armador Petteri Koponen, cujos direitos pertencem ao Dallas Mavericks, é hoje, quem chega mais perto disso. Mas vá perguntar a Koponen ou a um Ayón o que eles pensam sobre a legendária turma do Kanela. Não vai dar em nada. O que não quer dizer que não respeitem um país que pode revelar jogadores de biótipo tão diferente como Nenê, Tiago Splitter e Marcelo Huertas. Respeitar é uma coisa, porém. Temer? Outra.

Giovannoni e o Brasil são respeitados. Mas temidos?

Giovannoni e o Brasil são respeitados. Mas temidos?

Não dá mais para achar que o Brasil, bicampeão mundial e medalhista olímpico com nossa geração dourada, tem direito adquirido de nada. Pensem no futebol – o único esporte coletivo mais disseminado que o basquete, claro. Quem vai ousar dizer que Hungria e Polônia, que já tiveram seleções e gerações brilhantes, têm presença obrigatória em qualquer torneio de ponta? Em 1994, depois de se complicar com a Bolívia, quase que a eventual Seleção tetracampeã mundial cai fora da Copa. Nos gramados, não faz o menor sentido mais qualquer tipo de concessão. A bola rolou? São 90 minutos, então, pare decidir quem é que pode mais.

Nas quadras de basquete, é o que temos hoje. O Brasil, que ficou fora de três Olimpíadas em sequência, que terminou os últimos Mundiais nas 8ª, 19ª e 9ª colocações, está no meio do bolo, gente. Sabemos do potencial e do histórico do país, mas, nas últimas duas décadas, isso não serviu de nada. Na Europa, entre os veículos especializados, a mais dura verdade é que a seleção de Magnano só era vista como “favorita” a descolar uma das últimas quatro vagas na Copa devido ao tamanho do mercado nacional, e não pelo peso da camisa. Não há mais espaço para provincianismo, e insistir com um discurso de soberba e prepotência só é um… Convite para mais tropeços.

O basquete hoje é grande, e cada um que se vire diante disso.

Se tiver de pagar os mesmos R$ 2,6 milhões que a Finlândia para assimilar essa realidade, azar.


#Susijengi – Gangue dos lobos finlandeses no Mundial
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Giancarlo Giampietro

Finlandeses derrotaram os coirmãos convidados turcos no Europeu. Em 2013

Finlandeses derrotaram os coirmãos convidados turcos no Europeu. Em 2013

#Susijengi.

Era a hashtag mais cultuada do basquete europeu nesta manhã (segundo horário de Brasília).

Não tava entendendo nada. Que raios? Algum mantra chinês?

Nada, quando veio a confirmação oficial da Fiba dos quatro convidados para a Copa do Mundo de basquete, aí as peças foram se juntando. Na verdade, era um texto em finlandês. Porque, sim, a Finlândia vai jogar a próxima edição do Mundial.

Toca pesquisar, passado o susto, a surpresa. É detestável acordar assim, mas o estrago já estava feito.

Não precisou nem dar Google, acreditem. Aos poucos, o Twitter começou a ser inundado pelas mensagens dos jogadores da seleção finlandesa. Todos uivando feito malucos. Auuuuuu! A-uuuuuu! Por todos os lados, eles já haviam nos cercado.

Vejam o Hanno Möttöllä:

Descontrolado.

(Vocês se lembram do cara? Fizemos a mesma pergunta no ano passado, mas tudo bem. É a idade. Möttöllä, de qualquer forma, defendeu o Atlanta Hawks por um tempinho e retornou da aposentadoria em 2008. Vai disputar o Mundial com 38 anos).

Entende-se, então, que susijengi quer dizer gangue dos lobos. A gente podia usar o termo formal, alcateia, mas pra quê, né? Gangue dos lobos é tão mais legal, e tem influência direta aí do linguajar dos “bros” americanos, essa coisa de lobo da rua, ou qualquer coisa nessa linha. Não por acaso, é o nome de um álbum dos rappers do Kapasiteettiyksikkö.  A federação finlandesa também faz questão de nos informar que este é o “nome oficial” de sua seleção.

Susijengi e nóis na fita

Susijengi e nóis na fita

Agora, aguenta.

Ou melhor: agora é apreciar. Não tenham dúvida de que, mesmo com meia dúzia de lobos pingados na arquibancada, eles terão uma das torcidas mais animadas na Espanha. Não pensem que eles não vão dar um duro danado na quadra. Pode espernear até cansar, que a Finlândia está na Copa do Mundo de basquete, e ninguém tasca. E não há nada de absurdo nisso.

A partir do momento em que ficou claro que a Fiba filtraria seus quatro convidados pelo quesito financeiro – e quem duvidava disso? –, não há o que contestar a respeito de nenhum dos convidados.  Poderíamos ter Grécia, Turquia, Rússia e Itália, que seria ridículo igual. Botsuana, Quirguistão, Bolívia e Costa Rica? Na mesma.

O Luiz Gomes, provavelmente atordoado também, fez uma citação daquelas que me deixou fulo de inveja: “Isso não tem nada a ver com merecimento”.

W. Munny, do Missouri. Nada nessa porca vida tem a ver com merecimento

W. Munny, do Missouri. Nada nessa porca vida tem a ver com merecimento

Para quem não sabe, é um trecho do célebre discurso catártico do William “Clint Eastwood” Munny, do Missouri, ao final de “Os Imperdoáveis”. Para quem não viu, um dos melhores filmes da história. Para quem ainda busca redenção divina, corra até a (?) locadora mais próxima.

(E, sim, para os iniciados, todos sabemos que é obrigatória a referência “do Missouri” sempre que falarmos de William Munny. Ele é o William Munny, do Missouri. Fica o esclarecimento para a posterioridade.)

Agora voltando.

Se a grana ditou o jogo, então para que serve esculhambar com a – nem tão– pobre Finlândia? Numa escala de 0 a 10 de quem faz mal para a sociedade, a gente pode dar um belo -7 para eles.

O escândalo não é a Finlândia – ou o Brasil, no caso. O escândalo são os convites.  (Pela lógica: se o inferno são os outros, o escândalo são os convites.)

Mas, se a gente for falar de resultado, e de resultado imediato – por que de que me importa se o Brasil foi bicampeão mundial com Wlamir, se hoje só o temos como comentarista na ESPN?

Nesse quesito, acharia completamente factível que se pegasse apenas o resultado imediato para discutir quem… hã… merecia estar lá. O que aconteceu na campanha rumo ao Mundial.  Que tal recuperarmos a campanha deles no último Eurobasket – 2013 não foi há tanto tempo assim. Acho.

Na Eslovênia, os caras foram a grande sensação da primeira fase do torneio, com quatro vitórias e um revés. Derrotaram, inclusive, dois outros convidados do torneio: Grécia e Turquia. Além disso, venceram Rússia e Suécia (antes de mais nada, com dois jogadores de NBA no quinteto inicial) para avançår.  Na segunda etapa, bateram também os donos da casa, do clã Dragic.

Não tem mais bobo no basquete? (Ou tem de monte?)

Lembrando, sempre com muita úlcera, que o Brasil terminou sua inesquecível campanha na Copa América do ano passado com quatro derrotas em quatro rodadas. Inclusive para Jamaica e Uruguai.

Jamaica > Finlândia?

Finlândia > Uruguai?

Eslovênia > Jamaica?

Fico meio confuso. Mas o fato é que os Homens do Norte aprontaram horrores no torneio europeu e por pouco não foram para as quartas de final. Eles terminaram o Grupo F com a mesma campanha da Espanha. Só caíram no desempate pelo confronto direto. No geral, tiveram cinco vitórias e três derrotas – a França terminou com 8-3, para se ter uma ideia. Para quem eles perderam? Croácia, Espanha e Itália.

Croácia > Jamaica?

Uruguai > Espanha?

Mais confusão para a cabeça.

O jeito é uivar mesmo.

A-UUUUUU!

É nóis na fita e #susigenjiNaCopa.

PS: especificamente sobre a cara-de-pau brasileira nessa coisa toda de convite, foi preciso outro texto.

*  *  *

Angry Birds

Nunca fui muito de videogame. Ok, quando mais novo, perdia o sono com Alex Kid e Black Belt. Depois de um tempo, porém, só ficava com as fitas (sim, ainda eram as fitas) de esporte. SuperMonaco, Lakers x Celtics, os FIFAs… Até chegar agora ao NBA2k. Parei no 12.

De qualquer fora, para mim, videogame sempre foi a coisa do console. Nunca joguei em PC. Na minha cabeça problemática, os dois não combinam.

Logo, jogar no celular parece algo ainda mais descabido.

E o que isso tudo tem a ver com gangues de lobos finlandeses e os absurdos dos convites da Fiba para a Copa de basquete?

É que a empresa Rovio, a responsável pela epidemia mundial que são os Angry Birds, é quem está dando todo o apoio financeiro para o sonho  do país. A própria federação dos caras divulgou release para alardear isso. Não vou eu tentar explicar o que são esses passarinhos estressados para você, né? Só sei que a gente os vê por aí em qualquer banca de camelô ou shopping. São sucessores da abelinha do Charlotte Hornets e do Bob Esponja como estampa de tudo o que se possa imaginar.

São milhões e milhões de pessoas se divertindo com qualquer conteúdo virtual que a Rovio prepare com sua, para seguir na revoada, galinha dos ovos de ouro. No pacote, na proposta que a Finlândia encaminhou para a Fiba, estava a promessa que a empresa fará propaganda gratuita da Copa do Mundo em suas diversas plataformas. Se você não tem cão, caça com passarinho. Ou melhor, não tem audiência de TV, que tal oferecer então visibilidade mundial para um público diversificado?

E aí fica a pergunta. O que é melhor/pior: ser financiado por um jogo online (ou, se preferir, “corporação multimídia que vale bilhões de dólares“) ou pelo bom e velho tesouro público?


Brasil ganha na raça sua vaga na Copa de basquete. Comemorem!
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Giancarlo Giampietro

Convites Fiba, Mundial, Brasil, Finlândia

Primeiro o post… Hã… Quase sério. Que jornalismo é isso.

Sobre os convites da Fiba para completar sua Copa do Mundo de basquete. Para quem não sabe, deu Brasil na cabeça! Acompanhados de Grécia, Turquia e Finlândia, estamos todos juntos nessa! A Copa é nossa e com brasileiro não há quem possa. Num só dia, derrotamos Alemanha, Canadá, Itália, Rússia e Venezuela.

Aliás, agora precisamos atualizar a contagem. Quem disse que não ganhamos de ninguém nas Américas? Depois de quatro derrotas seguidas no último torneio continental, batemos canadenses e venezuelanos neste sábado. Então a campanha de 2-4 até que não fica tão vexatória assim. Estamos progredindo, no caminho certo.

E, bem, pelo tom dos parágrafos acima, você já pode imaginar como foi despertar com essa fabulosa notícia aqui na base do conglomerado 21, nos cafundós da Vila Bugrão.

Euforia mil!

Que o Brasil tenha ganhado seu convite, com muita persistência, suor e trabalho sério, não chega a ser uma surpresa. Durante a semana, fortíssimos candidatos foram anunciando, um a um, suas desistências. Devem ter tentado negociar com os poderosos da Fiba até a última hora possível, mas terminaram por refugar.

Vejam só: esses sujeitos simplesmente se recusaram a pagar a quantia de R$ 2.660.745,80 (para quem tem dificuldade com os números como eu, aqui vai a tradução: dois milhões + seiscentos e sessenta mil + setecentos e quarenta e cinco reais + oitenta centavos) para a federação internacional. Podiam pagar a merreca de um milhão de francos suíços (o mínimo necessário, segundo o Fábio Aleixo, do Lance!, nos conta) e passaram a vez.  São todos fracos, entreguistas, de visão míope.

Pois todo mundo já está careca de saber: só se constrói uma forte modalidade participando de uma Copa do Mundo. Sem isso, não há como montar uma estrutura de base decente, como popularizar um esporte já popular etc. Esse é o alicerce de tudo, e, por sorte, temos na gestão Carlos Nunes da CBB gente visionária o bastante para dar conta disso.

O Brasil encaminha, assim, seu projeto pujante. E quero ver quem segura.

É taça na raça, Brasil!

*  *  *

Tá, agora da maneira mais direta possível:

1) a CBB está endividada, devendo até as calças no mercado.

2) a Fiba cobrou mais de R$ 2 milhões por uma vaga no Mundial.

3) a China, aquela de PIB de mais e US$ 1 trilhão, multinacionais de material esportiva voltadas quase que exclusivamente para o basquete, mais de 1,3 bilhão de habitantes, pulou fora.

4) Não a CBB. Para manter viva a sequência histórica de participações no Mundial de basquete, a combalida entidade passou o chapéu por aí e conseguiu se bancar (financeiramente, importante que se ressalte mais uma vez, e, não tecnicamente) na competição. De quebra, conta que a fraca memória nacional, daqui a décadas – ou meses, a gente nunca sabe… –, vá olhar para a lista de inscritos do Mundial 2014 e acreditar que e era nada mais lógico que o Brasil ali estivesse, uma vez que nunca havíamos perdido essa. Só o Brail e os Estados Unidos jogaram todas as edições.

5) Faça as contas… E me diga: você vai realmente co-me-mo-rar essa “classificação”? Pagamos R$ 2 milhões para nos livrarmos a cara. De quem é a conta?

6) Na real, a conta não fecha.

*  *  *

Aos pragmáticos: obviamente é importante que o Brasil jogue uma Copa do Mundo de basquete. Assim como os Jogos Olímpicos. Mas uso aqui uma expressão clássica, já surrada de tanto usada, mas que não perde o charme: “tapar o sol com a peneira”. O Brasil joga o Mundial desde sempre, e o impacto financeiro disso para a modalidade não está nada claro, para mim. É um dos itens para levar as coisas adiante? Sem dúvida. Mas já passou do tempo – se é que esse tempo um dia existiu – de que o desempenho da seleção adulta de qualquer esporte seria a principal força motriz para o progresso.

*  *  *

E, por falar em seleção, adulta, já fica a dúvida desde já sobre quem são aqueles que vão se apresentar. Para quem não se recorda, entre a relação (fictícia?) de itens que a Fiba jurouque seriam analisados para definir os quatro convidados, contava algo como “comprometimento de seus principais jogadores com o projeto”. Leia-se: a turma da NBA topa ou não topa?

Será que, no conclave do basquete, realmente se exigiu um comunicado por escrito, com cópia de RG registrada, em que os nossos principais jogadores garantiram presença no Mundial?

E o Rubén Magnano, como está se preparando? Vai nessa de que “só-com-os-que-estão-nos-EUA-temos-alguma-chance”? Está assistindo para valer o NBB para tentar fazer uma convocação mais competente, no caso de precisar ser criativo para fechar o grupo final? Existe algum tipo de ressentimento por parte de nossos jogadores depois das críticas públicas do treinador argentino?

Percebam que, além do disparate financeiro, há diversos pontos técnicos a serem resolvidos.

E se o Brasil for para o Mundial, pagando R$ 2 milhões, e passar mais um vexame? É provável, possível?

Independentemente da resposta – que vai depender muito da lista de perguntas acima –, qualquer que seja o time convocado, a pressão existe desde já.


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