Vinte Um

Arquivo : agosto 2013

Caras da Copa América: Thompson e Nicholson, e as diferentes formas de se formar um garrafão canadense
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

A NBA está escancarada para o talento de estrangeiros há tempos. Para alcançar a liga norte-americana, há diversas maneiras. Pergunte aos brasileiros. Temos um Nenê começando a encestar com uma tabela fincada na garupa de um jipe. Temos Leandrinho com treinamentos praticamente militares quando era um infante, um adolescente. Que tal Tiago Splitter saindo de casa aos 15 anos para morar no País Basco? E por aí vamos, com infinitas rotas até conhecer o eldorado.

Para os canadenses, as coisas têm sido um pouco mais fáceis – na verdade, estamos em um ponto que já o fluxo das revelações do país mais ao norte da América (descontado o Alaska) já nem pode ser considerado mais uma tendência, mas, sim, uma realidade irreversível. Agora, entre eles também há diferentes maneiras de se encaminhar uma carreira profissional.

É só comparar as diferentes trajetórias de Andrew Nicholson e Tristam Thompson, duas das principais apostas de uma promissora seleção, dos poucos jogadores da grande liga americana a se apresentar para a disputa da Copa América e que vão desafiar o combalido garrafão brasileiro neste domingo, terceiro dia de disputa do torneio continental.

*  *  *

Tristan Thompson no ataque

Thompson, badalado desde adolescente, destinado a jogar na NBA

Tristan Thompson, segundo tudo indica, foi sempre um destaque atlético, desde os primeiros anos de estudante em Brampton, uma das cidades englobadas pela grande Toronto. Uma significativa influência de carga genética ajuda a contar esta história. Seu irmão mais jovem, Dishawn (demais, né?), é um ala-armador já cobiçado pelas grandes universidades americanas, com previsão para se formar no colegial no ano que vem. Um primo foi destaque na NCAA e na liga de futebol canadense, como tackle defensivo. Embora os pais, de origem jamaicana, não tenham feito dinheiro com o esporte, estiveram sempre envolvidos com esse tipo de prática – o pai jogava futebol, a mãe era uma corredora – até que a necessidade de fazer a vida os levou a deixar a ilha caribenha rumo a Toronto.

Enfim, Tristan nasceu na metrópole canadense, que, vejam só, acabou ficando pequena para seus planos. Com 16 anos, deixou seu país para jogar no circuito colegial dos Estados Unidos. A primeira parada foi na Saint Benedict’s Preparatory School, ao lado do armador Myck Kabongo. Sua cotação explodiu nessa escola, entrando em seu ano de junior (o penúltimo neste nível) como o jogador mais bem ranqueado em todo o país em sua classe. Foi disputado também por muitas das principais universidades, escolhendo jogar na de Texas.

A despeito do sucesso em quadra, deixou St Benedict’s devido aos constantes conflitos com o treinador Dan Hurley. Depois de um bate-boca durante uma partida, foi afastado do time e anunciou que sairia do programa de vez. Um mero acidente de percurso, e  não demorou, claro, para que seu telefone disparasse a tocar, até que mudou-se para a prep school de Findlay. Lá, faria dupla com o armador Cory Joseh,  hoje armador titular da seleção canadense e reserva de Tony Parker no Spurs e com quem fez parceria em Texas.

Na universidade que recentemente revelou Kevin Durant e LaMarcus Aldridge, embora não tenha propriamente arrebentado, ficou apenas um ano e só – o chamado “one and done”, cada vez mais frequente desde que a NBA aumentou suas restrições para a admissão de calouros.  Aos 20, realizou aquele que parecia seu destino, selecionado no Draft de 2011 na quarta colocação pelo Cleveland Cavaliers.

*  *  *

Andrew Nicholson, a finta e o contato

Andrew Nicholson, um (nerd) físico a serviço do basquete canadense

Até os 16 anos, Andrew Nicholson gostava, mesmo, era de jogar beisebol, talvez escondido dos pais. Mas ele acabou crescendo demais, correndo o risco de ficar um pouco ridículo com a indumentária deste esporte. Começou, então, a praticar basquete para valer no colegial Father Michael Goetz, em Mississauga, também nos arredores de  Toronto.

Quer dizer: “para valer” é relativo. Não está muito claro se o esporte era realmente algo planejado como algo sério para o seu futuro. Pelo menos é o que diz o técnico Mark Schmidt, da universidade de St. Bonaventure, que recrutou o praticamente desconhecido pivô depois de vê-lo em ação após uma viagem de cerca de 260 km da cidade de Olean, no estado de Nova York, para vê-lo em ação em Mississauga.

“Eu sentei com ele e seus pais depois de seu ano de calouro (já na universidade) e disse que ele poderia jogar na NBA. Eles não tinham noção disso. Para eles, era apenas livros, livros e livros. Era o modo como os pais dele encaravam as coisas, e é isso que ele faz. A ideia de uma carreira de basquete realmente nunca ocorreu para nenhum deles, então tive de explicar que havia uma chance legítima para isso”, afirmou o treinador, quando seu pupilo se preparava para o terceiro ano de NCAA, com 20 anos. “Ele calçava mais de 50, tinha mãos enormes do tamanho de uma mesa e não tinha ideia disso.”

A essa altura, os gerentes gerais já ligavam direto para Schmidt, procurando informações sobre aquele emergente jogador, de quem poucos haviam tomado nota até então, algo raro considerando a vasta rede de informações que os clubes da liga conseguem reunir. Embora já pudesse tentar o Draft de 2011, Nicholson optou por cursar o ano de senior, de modo que poderia se completar seu curso de física. A preferência, na verdade, era fazer química, mas ele teve dificuldade para conciliar os horários de estudante-atleta com classes e aulas extra no laboratório. “Ainda assim, foi desafiador”, conta Nicholson. “Mas tive a capacidade para isso. Sou muito, muito, muito bom em dividir meu tempo. Controlo até os milisegundos.”

Opa, então tá. Temos aí um raro caso de jogador profissional que optou por levar os estudos até o fim, sem medo de afetar sua outra carreira (muito mais lucrativa). Em tempos em que vemos Fabrício Melo momentaneamente desempregado, é de se pensar…

Diplomado e ainda badalado pelos scouts, depois de fazer treinos privados por 12 times diferentes em 14 dias, ele foi escolhido pelo Orlando Magic no Draft de 2012, aos 22, na posição 19.

*  *  *

Um ano e nove meses mais velho que Thompson, Nicholson é um jogador de movimentos refinados no ataque. Consegue girar bem para ambos os lados de costas para a cesta e também ataca muito bem quando de frente para o aro, com um bom chute de média para longa distância, num repertório que já despertou comparações com David West. Para ele chegar a esse nível, porém, falta algo fundamental: a coragem e disposição do sempre subestimado pivô do Indiana Pacers em aceitar o contato físico e brigar pela bola.

Thompson, por outro lado, é pura energia. Embora seu físico, de cara, não passe essa impressão – não estamos falando do jogador mais musculoso –, sua capacidade atlética é acima da média, tem boa envergadura e, com esse pacote todo, é um baita reboteiro. Tecnicamente, contudo, ainda está em progressão. Consegue a maior parte de seus pontos quando servido próximo da cesta ou em rebarbas ofensivas.

(Até por isso, aliás, decidiu revolucionar seu jogo durante as férias: arremessava com a mão esquerda até o final da temporada passada, e agora resolveu que a mão direita tem a melhor munheca. Para os que mal conseguem usar a perna esquerda (ou direita) para subir no busão, morram de inveja: o ambidestro TT é daqueles que assina cheque com a direita, escova os dentes com a esquerda e pode bater lances livres como bem entender. Considerando que 58,6% de suas primeiras  483 tentativas na liga, decidiu tentar com a outra.)

Isto é: numa ótima notícia para o técnico Jay Triano, aumentando e muito o poder de fogo e versatilidade de sua seleção, em quadra eles também não poderiam ser mais diferentes.

Caras da Copa América:


Talento porto-riquenho pesa na estreia. Mas a derrota deixa lição coletiva importante para a seleção
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Renaldo x JP Batista

Renaldo Balkman, de novo, acabou com o jogo a favor de Porto Rico

“EQUIPO!!! EQUIPO!!”, era o que berrava, com a voz estridente, mesmo, Rubén Magnano num pedido de tempo no segundo período. Num raro flagra televisivo,  provavelmente equipada com um microfone “boom” daqueles que captam tudo ao seu redor, até pensamento, a equipe de TV da Fiba conseguiu registrar um pedido de tempo da seleção brasileira, para ouvir o argentino.

E o técnico reclamava daquilo que era evidente: a seleção brasileira insistindo de modo irritante nas jogadas individuais, com um ataque novamente estagnado, pouco criativo. A partir da chamada, se não testemunhamos uma revolução, ao menos o padrão mudou o suficiente para mudar o ritmo do embate. Aos poucos, seus comandados foram voltando ao jogo. Só não foi o suficiente na derrota para Porto Rico por 72 a 65, pela rodada de abertura da Copa América em Caracas.

Era o que faltava ao time brasileiro, mesmo. Um mínimo de organização, de cabeça erguida e altruísmo, mas um pouquinho mesmo para fazer a diferença contra os bons e velhos parceiros de Porto Rico. Ah, Porto Rico! Os sabores porto-riquenhos, a leveza, a cultura caribenha. Individualmente muito mais talentosos nesta competição, mas ainda indisciplinados o bastante para fazer de qualquer partida uma emoção.

Também pesou na recuperação, como o próprio Wlamir alertou durante a transmissão da ESPN, uma ajudinha do técnico Paco Olmos. O espanhol não só tirou seus melhores nomes de quadra como chamar jogadas em sequência para o decadente já totalmente caído Larry Ayuso, o eterno nêmesis de Marcelinho Machado. Bem coberto por Vitor Benite, forçou seus chutes e investidas e, num piscar, o Brasil diminuiu uma desvantagem de dez pontos para dois ao final do primeiro tempo (31 a 29).

Do seu lado, além da bronca, Magnano também pôde consertar um próprio erro. Em vez de capengar com a dupla Caio e João Paulo, lançouum quinteto muito mais coeso por ser beeeeeem mais leve, com Larry-Benite-Arthur-Giovannoni-Hettsheimeir. Na volta do intervalo, eram Huertas e Alex no lugar de Benite e Arthur, mantendo a agilidade. Com esse tipo de formação, conseguiram pular cinco pontos à frente. O terceiro quarto foi vencido por 22 a 17 – isto é, dois pivôs pesados ao mesmo tempo em quadra não pode.

No quarto período, porém, Porto Rico enfim se acertou em quadra, lendo melhor o que se passava na partida. Diminuíram o bumbameuboi, aproveitando inclusive uma falha estratégica do técnico da seleção brasileira.

Ok, o velhaco Daniel Santiago estava dando um trabalhão danado, de modo que o técnico tirou Caio Torres de seu banco para combatê-lo. Deu certo por algumas posses de bola. Daí que Olmos tirou, então, seu grandalhão, e o argentino não o acompanhou nesse jogo de xadrez. Sem tem com quem trombar em seus custosos minutos a mais em quadra, no sacrifício e, por isso, com a mobilidade ainda mais comprometida,  sobrou para o novo pivô de São José perseguir sem a menor chance o hiperativo Renaldo Balkman.

Uma das figuras desta Copa América, o ala-pivô andava quieto ofensivamente, mas foi muito bem acionado por Barea nessa ocasião e acabou com o jogo, no fim. Operário toda a vida, terminou o duelo com os brasileiros novamente com uma linha estatística de superestrela: 24 pontos, oito rebotes e quatro tocos, com 70% de acerto nos arremessos. Uma ou duas posses de bola de sucesso para o cabeludo, e os adversários abriram uma vantagem mínima. Conta cada detalhe, não?

A essa altura, ao menos a seleção ao menos tinha uma abordagem mais razoável, menos egoísta – ainda que, no ímpeto de querer resolver jogo rapidamente, os alas brasileiros tenham novamente se precipitado a arremessar com muitos segundos no cronômetro, achando que aquela era A HORA de matar os caribenhos.

Se tivessem trabalhado um pouco mais o ataque durante os primeiros 15 minutos do primeiro tempo, quando Porto Rico estava todo atrapalhado, perdido em seus devaneios, talvez o desfecho pude ser diferente? Pode ser. De qualquer forma, ficou evidente que as investidas no mano-a-mano não são o que apregoam Magnano. O técnico agora tem de dar um jeito de passar a mensagem de maneira ainda mais clara para as próximas rodadas. Com muitos desfalques e uma convocação deficiente, seu time não tem margem de erro alguma. Cada minutinho de um jogo coletivo que possa amplificar as qualidades de seus atletas.

Precisa-se, realmente, de uma equipe.

*  *  *

O Brasil teve chance. A derrota incomoda, claro. Mas era um resultado, digamos, que já poderia entrar na conta. Não muda muito o planejamento da equipe na busca de uma das quatro vagas do torneio. Depois da folga neste sábado, voltam aí, sim, para um confronto direto com o Canadá no domingo, ao meio-dia (horário de Brasília). Os canadenses venceram a Jamaica com facilidade na primeira partida do torneio: 85 a 64, com excepcional partida de Cory Joseph (17  pontos, 9 assistências e 8 rebotes).

*  *  *

Marcar Barea é complicado. Explosivo, maroto, tende a conseguir aquilo que pretende fazer no ataque. Larry bem que tentou, num esforço louvável, mas seu oponente tende a levar a melhor mesmo no um contra um ou no uso de pick-and-rolls. E o que fazer, então, para amenizar essa situação? Atacar, literalmente, sua deficiência. Leia-se: sua defesa. Ele só joga de um lado da quadra. Então Huertas adotou uma estratégia correta: antes de serem agredidos, foi ele para cima. O brasileiro terminou o jogo com 16 pontos, contra 12 de seu oponente. E o saldo positivo não se resume apenas aos quatro pontos de uma conta básica, mas, antes de tudo, na grande conta tática do jogo, minimizando o impacto gerado pelo tampinha.

*  *  *

Situação hipotética: se Magnano fosse o treinador de Arroyo e Ayuso, precisaria muito mais de uma equipe de paramédicos ao seu lado do que de Fernando Duró liderando um grupo de escudeiros. As chances de um piripaque seriam altíssimas. De acompanhar os caras há anos, sabemos bem, né? Mas não deixa de impressionar a cada confronto: os dois são talentosos, obviamente, mas, juntos, têm uma malemolência incontrolável. Agem como se fossem matar o jogo a cada momento.

É até engraçado, no caso de Arroyo, comparar sua postura quando serve ao time nacional com a que tem em clubes. Duas figuras completamente diferentes. Em Porto Rico, é como se ele fosse o chefão, um scarface prestes a dominar a situação. Daí o seu orgulho ferido pela ascensão de um Barea igualmente tinhoso, mas muito mais produtivo. Não que o armador não consiga mais perturbar uma defesa ou seu marcador em específico. Tem ginga, drible e chute para isso. Mas, em geral, o modo como enxerga o jogo e como se comporta não é nada saudável para nenhuma equipe.

*  *  *

Tão eficiente na fase de amistosos, o tiro de três pontos foi uma lástima no jogo de estreia: os brasileiros converteram apenas 24% de seus arremessos de fora, com 13 erros em 17 tentativas. Ai. No geral, porém, a coisa foi ainda mais feia: 36% no aproveitamento de quadra, contra 41% dos porto-riquenhos, num jogo feio de doer.

*  *  *

 Rafael Hettsheimeir: completamente enferrujado. Na hora de avaliar o pivô brasileiro, favor não esquecer a temporada perdida que ele teve na Espanha. Ele ficou muito tempo no banco de reservas do Real Madrid, e isso atrapalha demais, para qualquer um. Ou não lembramos mais das dificuldades que até mesmo um Tiago Splitter teve ao se apresentar em 2011 após um ano de banco pelo Spurs também?

*  *  *

Raulzinho e Rafael Luz nem jogaram. Passaram a partida inteira com camisa de manga comprida no banco. Nem um minutinho sequer? A ver se a situação se mantém para o decorrer do torneio.


Caras da Copa América: Renaldo Balkman, o homem banido das Filipinas
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Balkman no rebote

O pogobol Balkman na disputa por rebote – enquanto não faz nenhuma besteira em quadra

LeBron James ministrou uma clínica de basquete em Manila para 15 mil pessoas. Clínica nada, claro. Era mais um evento de adulação ao superastro do Miami Heat, com direito a show pirotécnico. Kobe Bryant também se divertiu um bocado por lá, como vemos nessa galeria, depois de ter enfrentado uma tempestade durante seu voo. JaVale McGee? Quase se naturalizou filipino.

As Filipinas amam a NBA e o basquete. Eles estão abertos a tudo. Só não querem saber mais de ver Renaldo Balkman nem pintado de ouro

Em março deste ano, o ala-pivô da seleção de Porto Rico aprontou um fuzuê inacreditável durante sua breeeeve passagem jogando na liga local. Vestindo a camisa do Petron Blaze Boosters (!?), num confronto com o Alaska Aces (!?!?), o rapaz  perdeu por completo as estribeiras em quadra após discordar de uma decisão da arbitragem.

Num episódio que rodou o mundo, Balkman começa a berrar na direção de um dos juízes. Quando um dos assistentes de sua equipe tenta chegar no clima de “deixa-disso”, levou um “chega-pra-lá”. Depois foi a vez de encarar um companheiro de time, com aquela postura de “tira-a-mão-di-mim”. E segue com sua insanidade. Dedos em riste, cabeça tombada, gritos e gritos, enquanto os adversários estão cobrando lances livres. Até que sobrou para Arwind Santos, outro parceiro de time, que… Acaba estrangulado! E não para nisso. Se acha impossível, veja aqui:

O episódio naturalmente deixou muita gente perplexa, incluindo o comissário da liga, Chito Salud, que optou por banir o porto-riquenho do basquete filipino para toda a eternidade. Além disso, só para deixá-lo sem o dinheiro do busão, também aplicou uma multa de 250 mil pesos filipinos, que dava na época algo como US$ 6 mil.

Depois, arrependido que só, Balkman usou o Twitter para tentar se redimir. “Gostaria de pedir desculpas a Arwind Santos como pessoa, alguém que respeito verdadeiramente (a-hã) e alguém que não iria machucar intencionalmente. Minhas ações foram irresponsáveis (ah, vá)”, disse o cabeludo, que falou que foi levado pelas emoções de um jogo intenso e que curtiu sua estadia nas Filipinas. “Todo mundo faz uma vez na vida algo que não era para se fazer e me deu branco naquela hora.”

Foi bom enquanto durou – ele tinha médias de 25 pontos, 13,4 rebotes, 2,4 assistências e 2,7 tocos por jogo na temporada, enfrentando uma concorrência bem fraca. Chito Salud não se sensibilizou com a resposta, mantendo a decisão da liga. Até porque ele citou este episódio aqui para julgar o atleta como reincidente:

Aqui, vemos Balkman “encarando” o venezuelano Greivis Vasquez, durante a Copa América/Pré-Olímpico de 2011, em Mar del Plata. Ele não gostou de uma falta dura do hoje armador do Sacramento Kings. Acabou suspenso por um jogo, ao lado de Nestor Colmenares, que chega para o empurrão em defesa de seu companheiro.

Sabemos também que o ala-pivô também já teve problemas disciplinares com a seleção porto-riquenha, abandonando o time por considerar que não estava sendo aproveitado de modo adequado.

Mas, tudo bem. Paramos por aqui, porque a ideia nem é pintar Balkman assim como o maior bandido do planeta. Só é preciso tomar cuidado com ele em quadra. Porque isso faz parte de todo um pacote de um dos jogadores realmente mais intensos que você pode encarar em quadra.

Ele definitivamente não é dos mais talentosos. Mas foi abençoado com uma capacidade atlética incrível – acho que consegue dar uns quatro ou cinco pulos em sequência na busca de um rebote, sem peder um centímetro na impulsão de pogobol – e muita determinação, correndo sem parar pela quadra. Incomoda mesmo, com os brasileiros puderam atestar na disputa da Copa Tuto Marchand, em que ele se aproveitou da lentidão dos adversários para revier seus tempos de astro filipino, com 24 pontos, 15 rebotes e quatro roubos de bola.

Renaldo Balkman

Balkman matou o garrafão brasileiro no último amistoso

Só com muito esforço e garra, mesmo, para que pudesse encaminhar sua carreira adiante. Quando estava no colegial, Balkman mal podia sonhar com alguma bolsa de estudos até que foi descoberto pelo técnico da Universidade da Carolina do Sul, Dave Odom, durante uma partida de eu Laurinburg Institute, em Orlando. “Eu me lembro da primeira vez que o vi. Estava sentado neste ginásio, com (o assistente) Barry Sanderson, e perguntei: ‘Quem é aquele garoto com os dreadlocks? É deste cara que precisamos’. Barry foi atrás, voltou e ninguém sabia seu nome”, afirmou o técnico.

É isso. De um jeito ou de outro, o jogador sempre esteve correndo – e por fora. Até que, de última hora, aparece alguém para acreditar. Quando, no Draft de 2006, o New York Knicks o escolheu na posição número 20, poucos puderam acreditar. Poucos, menos Isiah Thomas, então o chefão da franquia nova-iorquina, um dos piores gestores que a NBA já viu, mas um sujeito de grande reputação na hora de identificar talentos. Seria esse mais um diamante bruto descoberto pelo ex-genial armador?

Hoje, sabemos que não foi o caso. Balkman até desfrutou de algum sucesso em sua primeira pela temporada como um Knick, mas em nenhum momento justificou uma escolha tão alta, ainda mais quando gente como Rajon Rondo e Kyle Lowry estava disponível. (Embora, um parêntese: Cedric Simmons Rodney Carney, Shawne Williams, Oleksiy Pecherov e Quincy Douby foram os cinco jogadores selecionados antes de Thomas tomar sua decisão… Então não é que Rondo ou Lowry fossem tão amados assim naquele Draft.)

Não demorou muito, então, para que o atleta fosse chutado para fora de Nova York, trocado por um saco de batatas do Denver Nuggets, durante o expurgo do legado de Thomas que Donnie Walsh promoveu, numa reconstrução de elenco que depois resultaria na contratação de Amar’e Stoudemire e Carmelo Anthony. Alías, bem lembrado: quando Melo conseguiu forçar a barra para deixar as Montanhas Rochosas rumo a Manhattan, ironicamente Balkman foi incluído no mesmo pacote, de volta ao Knicks. Neste retorno, porém, jogou muito pouco até ser dispensado em fevereiro de 2012.

Foi aí que Balkman caiu na vida de andarilho do basquete e chegou a Manila. Para lá, no entanto, ele nunca mais pode voltar.


Revolução africana: Nigéria e Tunísia estão fora da disputa por vaga na Copa do Mundo
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Maleye D'doye e o Senegal vão adiante

Nigéria e Tunísia, dois dos três grandes favoritos africanos a uma vaga na Copa do Mundo da Espanha 2014, estão fora da disputa de vaga. É uma BAITA surpresa isso. As duas seleções estão fora da semifinal do AfroBasket, e apenas os três primeiros colocados se garantem diretamente no Mundial. Na sexta, as semifinais são Costa do Marfim, time da casa, contra Angola e Egito contra Senegal.

Quem caiu primeiro, já na fase de oitavas de final, foi a Tunísia, pelas mãos de seu vizinho Egito, por 77 a 67. “Clássico é clássico”, sorri um egípcio. A eliminação veio a despeito dos esforços do ala-pivô Makram Ben Romdhane, de 24 anos e um dos destaques individuais do torneio e recém-contratado pelo Murcia – ele vai ser companheiro de Augusto Lima na Liga ACB. Os tunisianos eram os atuais campeões e haviam terminado com o terceiro lugar em 2009, na Líbia.

Na quarta, então, pelas quartas, foi a vez de a Nigéria se despedir, perdendo para a rapaziada de Senegal, por 64 a 63, do jeito que o capeta gosta. Imagine o horror – e a tensão também, vá lá – de um quarto período vencido por 14 a 10 pelos nigerianos, que, em termos de elenco, formavam, disparado, o time mais forte da competição.

O ala-pivô Ike Diogu, que não conseguiu emplacar uma carreira decente na NBA apesar de ter sido selecionado pelo Golden State Warriors no Draft de 2005 em nono, se transformou numa espécie de terrorzinho em competições da Fiba. Al-Farouq Aminu, do New Orleans Hornets, com 22 anos, ainda tem um vasto potencial para ser realizado e teve médias de 12,5 pontos, 5,2 rebotes e 5 assistências no torneio, atuando com muito mais liberdade para impor seu jogo hiperatlético. Seu irmão Alade Aminu é mais um ótimo finalizador. O armador Ben Uzoh e o pivô Gani Lawal são outros com experiência na liga americana – do outro lado, os pivôs Saer Sane, ex-Sonics (bons tempos!) e já com 27 anos, e Hamady N’diaye, ex-Wizards.

E, ainda assim, caiu a Nigéria. Sofreram com uma defesa por zona dos senegaleses espertos, que pagaram para ver se Al-Farouq e amigos poderiam matar seus tiros no perímetro. Erraram 12 em 16 disparos – mas não que tenham desfrutado de sucesso no jogo interior, com um aproveitamento pífio de 41%.

Como se não bastasse, Camarões, do príncipe Luc Richard Mbah a Moute, também está fora, depois de perder para os anfitriões da Costa da Marfim nas quartas, por 71 a 56. Os marfinenses anularam por completo o ala do Sacramento Kings – nem na África esse ótimo defensor consegue se soltar ofensivamente.

“Nós sempre fomos um dos favoritos, nos estabelecemos como um potencial vencedor do torneio. Mas o que aconteceu para nós hoje, o que aconteceu com Camarões e Tunísia é o crescimento meteórico do basquete africano. Qualquer um pode ser derrotado, afirmou o técnico nigeriano Ayodele Bakare, que agora não sabe o que vai ser da sua equipe, dada, digamos, a volatilidade administrativa das confederações do continente.

Para eles, Mundial agora só com um eventual convite da Fiba. Lembrando: são quatro que a federação vai distribuir, com a China muito provavelmente já garantida com um – a não ser que os cartolas não estejam tão preocupados assim com audiência quantitativa, né? Pense que outro convite deva ficar para um dos excluídos das Américas e outro, para alguma potência que dance no Eurobasket  – alô, Rússia, tá todo mundo de olho –, e teríamos apenas um quarto e último posto para ser preenchido. Mais um das Américas? Ou uma colher de chá para africanos? Vai saber.

*  *  *

Agora vale gastar só mais alguns minutinhos com nossos irmãos angolanos. Se Portugal só apanha na Europa e o Brasil já não é a potência de outros tempos, ao menos um país da comunidade lusófona segura as pontas no topo em sua região. Dos favoritaços a vaga, só restou Angola nas semifinais, mesmo.

Nas quartas, os caras tiveram um desempenho ofensivo avassalador contra Marrocos, vencendo por 95 a 73. Os 12 jogadores angolanos entraram em quadra e pontuaram, incluindo nosso bom e velho Eduardo Mingas, com cinco. Olimpio Cipriano, aquele, marcou 15, saindo do banco. Carlos Morais, ele mesmo, somou 11. Joaquim Gomes, há quanto tempo!, nem precisou dominar o garrafão. Bastaram nove pontos e seis rebotes em 17 minutos.

Dos últimos 12 campeonatos africanos, Angola venceu dez, ao mesmo tempo em que foi ao pódio nas 15 edições passadas. Para se garantir no Mundial, é o que basta. Mas o time vai ter um páreo duríssimo pela frente contra os donos da casa. E, nesse torneio tresloucado, o peso da camisa ou do currículo não está valendo nada. Força!


Seleção vence Canadá no último teste e vai para a Copa América vulnerável, mas na briga
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Magnano orienta. E vai precisar de mais

Rubén Magnano é um ótimo treinador.

Vamos lá, de novo. O Rubén Magnano? Um baita treinador.

Sabia? Campeão olímpico e tudo. Com a Argentina! Vice-campeão mundial, operado na final contra o Bodiroga, o Peja e o Divac. Deu uma cara nova para a seleção brasileira! Conseguiu o quinto lugar nos Jogos Olímpicos de Londres. Ganhou da mesma Argentina lá dentro. Com tantas façanhas, tem o respeito, imagino, irrestrito por parte de seus jogadores. Não há como não confiar num técnico desses.

Satisfeitos?

Se não, vai mais uma vez, sem cinismo algum: Rubén Magnano é um treinador que qualquer time deveria pensar em contratar.

Pronto, acho que deu.

Talvez agora possamos falar sobre a seleção brasileira livres da paranoia. E sem ter background algum no assunto.

A delegação tupiniquim desembarca nesta terça-feira já em Carcas, com a Copa América começando já na sexta. Em sua despedida da Copa Tuto Marchand, uma noite depois de ter sofrido uma derrota apertada contra Porto Rico, o time de – vejam só, ele mesmo! – Magnano venceu a jovem seleção canadense por 77 a 70, terminando sua campanha com dois triunfos e dois reveses. Ao menos, depois do vexame passado contra a Argentina, a intensidade defensiva foi resgatada.

Se, no torneio continental, a equipe conseguir manter esse padrão, essa tocada e evitar tropeços calamitosos, vai se meter entre os quatro primeiros e vai conquistar, na quadra, sua vaga para a Copa do Mundo da Espanha 2014. É simples: na teoria, basta ficar acima de um entre Argentina, Canadá, Porto Rico e República Dominicana. Que se tome cuidado com México, reforçado com Ayón, e a Venezuela, um time doido, jogando em casa, e pronto.

Posto isso, vai ser extremamente difícil me convencer de que Magnano tenha feito uma boa convocação para a temporada. Houve um sério erro de cálculo, e isso está escancarado na quadra. Metade de nosso elenco é baixa e veloz. A outra, nem tão alta assim, mas extremamente pesada. Para fazer isso conectar não vem sendo nada fácil, se é que vai acontecer. Esse descompasso só não vê quem realmente não quiser ou quem realmente ache que, no mundo, é tudo uma questão de “ame” ou “odeie”, preto e branco, e que ou se é “pró”, ou “contra”. Ou talvez esses estejam com a bandeira tapando a cara, distraídos ao tirar do saquinho um punhado de confetes ou qualquer coisa do tipo. Pode ser também.

De qualquer forma, independentemente de ideologia política, educação ou credo, acho que todos concordamos que Facundo Campazzo e José Juan Barea são dois tampinhas muito difíceis de se marcar. Vocês devem se lembrar, por exemplo, do que o porto-riquenho fez contra uma defesa hiperatlética como a do Miami Heat, né? Ele continua o mesmo, embora escondido no Minnesota Timberwolves e sem a companhia de um Jason Kidd para escoltá-lo. Se o Brasil estivesse com Varejão, Splitter e Nenê, três grandalhões de excelente movimentação lateral, a coordenação da defesa de um pick-and-roll já teria de ser perfeitinha, para afastá-lo da cesta.

Agora, quando você está tentando frear Barea numa jogada dessas com Rafael Hettsheimeir envolvido na troca, fica mais difícil. Com JP Batista, apesar de sua inteligência em quadra, não muda muito. Se a segunda ou terceira opção é Caio Torres, ainda mais pesado, complica bastante. E, se o treinador não está confortável em dar mais minutos para o único pivô atlético que tem no elenco, danou-se. É exatamente este o cenário que temos na seleção hoje. Simples. Nossos quatro pivôs experientes são extremamente vulneráveis quando estão afastados da cesta.

Tendo pela frente gente como Luis Scola, Ricky Sánchez, Andrew Nicholson, Hector Romero, Gustavo Ayón e, por vezes, até Jack Martínez e Esteban Batista, o que acha que vai acontecer, e muitas vezes? Os pivôs vão precisar subir e marcar – e importante considerar aqui que não estamos falando apenas de contestar arremessos na linha de três. São raros, bem raros, aliás, o caso de “cincões” que joguem de costas para a cesta, plantados próximos do aro neste torneio. Mas, nem mesmo a presença desses gigantões como Eloy Vargas, dos dominicanos, ou o bom e velho Daniel Santiago anima muito. Por quê? É só ver o impacto que Santiago teve no quarto período, com corta-luzes imensos que garantiam a Barea um posicionamento cara a cara com um pivô/uma avenida. Resultado: bandeja. Neste ponto, fazem falta também jogadores mais atléticos para fazer a cobertura.

Desde que assumiu o cargo, Magnano procurou imprimir na seleção a ideia de que, se quisessem deixar para trás os dias de derrota após derrota, teriam de aceitar e aplicar seu ritmo defensivo extremamente exigente. Por isso a estranheza da lista que ele próprio compôs, com jogadores que não atendem exatamente aos seus princípios, incluindo aqui os dois que chamou a partir do momento em que os comunicados com pedidos de dispensa começaram a se empilhar. Lembram? Antes de João Paulo Batista o argentino já havia chamado Paulão, mais um que nunca foi conhecido por sua explosão em quadra. Veja bem: não é que sejam, individualmente, separados, jogadores ruins. O problema é que eles não batem com as necessidades deste grupo em específico.

Essas questões defensivas ficam ainda mais custosas quando combinadas com a ineficiência dos pivôs também apresentada do outro lado da quadra. Mesmo o talentoso Hettshimeir está com enorme dificuldade para produzir, enferrujado depois de uma temporada inteira no banco do Real Madrid. Caio só vem matando quando completamente livre – sem muita mobilidade, tem sido presa fácil para quem estiver ao seu lado disposto a combater. João Paulo é uma peça complementar, que deve ser mais usada dentro de um sistema do que como referência. Cristiano Felício deveria ter sido mais usado no torneio amistoso, mas não foi o caso.

Desta forma, a seleção fica extremamente dependente dos tiros de fora, que caíram com uma frequência saudável em Porto Rico (em geral, sem forçação de barra), e dos contra-ataques, que saem a partir da pressão na bola que Larry e Alex podem fazer por conta, a despeito da falta de cobertura. Se esses contragolpes não forem concluídos necessariamente com bandejas em linha reta, ao menos o jogo em transição pode proporcionar situações de desequilíbrio para serem aproveitadas com um ou dois passes a mais antes de as defesas se recomporem. Passes esses que, contra Porto Rico e Canadá, começaram a aparecer com maior frequência, ainda que numa frequência tímida. Espera-se que esse movimento ganhe mais força para o torneio que vale.

De resto, temos um Larry mais agressivo com a bola, procurando infiltrar mais do que brecar para os tiros ineficientes de média distância – fundamento o qual não domina. Alex vai fazendo de tudo um pouco. Giovannoni, adorando essa vida de cestinha designado, saindo do banco. Benite parece ter perdido o espaço na rotação – em seu lugar, faz muita falta um jogador vigoroso como Marcus Vinícius Toledo, de Mogi. Raulzinho fica estabelecido como o armador vindo do banco, preocupado mais em melhorar a pegada defensiva da equipe, já que Huertas vem se mostrando bastante frágil quando atacando no um contra um e está, para variar, sobrecarregado em suas responsabilidades ofensivas. Arthur vai ganhar uns minutos aqui e ali, dependendo do excesso de faltas dos companheiros.

Sim, essa seleção tem problemas e sérios. Que talvez pudessem ter sido remediados com uma lista melhor – e, por “melhor”, não é preciso pensar necessariamente em nomes, mas, sim, em características que fossem mais produtivas num coletivo.

Mas o time de – tcha-ram! – Magnano não é o único cheio de pendências para resolver. Porto Rico depende do estado de humor de seus talentosíssimos mas geniais armadores. A República Dominicana tem um banco ainda menor que o brasileiro. O Canadá, com seus talentos de NBA, está apenas em seu estágio inicial de evolução, como se fosse o Brasil de 2003. A Argentina parece mais azeitada, mas, por mais que seu elenco de apoio esteja surpreendendo, ainda estamos diante de um time que depende de Scola para avançar. E todos eles sofrem com os famigerados “desfalques”.

Fato é que, no momento, o Brasil está no meio do bolo. Vai ter de lutar, jogo a jogo, ciente disso, preparada psicologicamente para suportar a pressão. Para lidar com isso, é preciso contar com um comandante renomado e tarimbado.

Inicialmente, Magnano foi contratado com uma missão urgente: encerrar o jejum olímpico de qualquer maneira. Cumprida essa etapa, o basquete nacional pode pedir mais – e que os favores fiquem mais com a parte esportiva da coisa, a despeito de seu status de trunfo político numa gestão totalmente destrambelhada.

Entre o que se espera, está fazer do grupo limitado que ele próprio convocou uma unidade mais forte.

Afinal, é um excelente treinador.

Quem duvida?


Argentina surra o Brasil e deixa a preparação do time de Magnano ainda mais nebulosa
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Mais uma bandejinha pra Campazzo

Facundo Campazzo se esbaldou contra a nada combativa defesa brasileira

Depois da surra que o Brasil tomou da Argentina neste sábado, perdendo por 90 a 70 pela Copa Tuto Marchand, o que resta é fazer especulações, sabe? Como se estivéssemos em meio uma guerra fria, com espionagem e contra-espionagem e apelar para a máxima de que só podem estar “escondendo o jogo”.

Por exemplo: no comecinho do jogo, a seleção conseguiu atacar sem problema alguma defesa por zona adversária, com Marcelinho Huertas invadindo o garrafão para servir a Rafael Hettsheimeir em duas ocasiões. As duas jogadas resultaram em enterradas do pivô, muito bem posicionado para receber o passe, na lateral do garrafão. Evitava os três segundos, estava próximo da cesta e, ao mesmo tempo, posicionado entre dois quintos de uma formação 2-3. Raulzinho faria o mesmo com Caio Torres depois.

Daí que o time de Rubén Magnano pouco – ou, se bobear, nunca mais – repetiu esse tipo de investida até o final da partida. Começaram a sair os tiros de média distância teimosos, as tentativas de se jogar no mano-a-mano começaram a aparecer com frequência, enquanto, do outro lado, a pegada defensiva estava bastante afrouxada, algo raramente visto durante a gestão do argentino. Além disso, Huertas ficou em quadra por apenas 13 minutos. Alex, nem isso. Hettsheimeir jogou por 22 minutos.

Então o que aconteceu lá em Porto Rico? O Brasil entrou para jogar um amistoso, e a Argentina, com o Luis Scola jogando até o final, a despeito de uma vantagem superior a 20 pontos, encarou como clássico? Ou os argentinos já estão num estágio consideravelmente superior em sua preparação? Ou eles foram infinitamente superiores ao menos por uma determinada noite? Os jogadores brasileiros perdem a disciplina no decorrer do jogo e o treinador não consegue administrar, orientar? As próximas partidas contra Porto Rico, neste domingo, e Canadá, na segunda-feira, vão nos ajudar a entender. Quer dizer, podem ajudar a entender.

De qualquer forma, se formos ignorar qualquer tipo de trama mirabolante, o que vimos em quadra preocupa.

A começar pela defesa, que supostamente seria o carro-chefe da seleção com Magnano. Facundo Campazzo, que parece melhor a cada torneio, se esbaldou de tantos cortes pelo fundo que conseguiu, com ou sem a bola. Os marcadores se alternaram, e o tampinha seguiu fazendo bandeja atrás de bandeja (17 pontos, 70% nos arremessos e só um turnover). Scola foi surpreendentemente bem marcado por Caio no primeiro quarto, terminando a parcial com apenas quatro pontos e nenhuma cesta de quadra – depois, caminharia para mais um double-double dominante, com 23 pontos, 11 rebotes e 58% nos arremessos. No perímetro, os argentinos acertaram 8 em 17 tentativas (47%). Além disso, eles cobraram 15 lances livres a mais que os brasileiros.

Nos lances livres, aliás, outro problema: a seleção converteu apenas 33% de seus chutes, um horror horripilante, daqueles horrorosos mesmo, que deixaria até Shaquille O’Neal envergonhado. Foram 12 erros em 18 arremessos. Para se ter uma ideia, o melhor aproveitamento do time na noite foi de Arthur, com 75%. Depois veio Giovannoni, com 66,7%. O restante?  Todos de 50% para baixo. Embora não tenhamos os melhores gatilhos do mundo, também não quer dizer que seja ruim assim a coisa. Das duas, uma? ou estão muito cansados e não tiraram o pé coisa nenhuma nos treinos em Porto Rico, ou foram quebrados mentalmente pela Argentina. As duas são bastante possíveis, ainda mais a segunda, considerando o tanto que reclamaram os brasileiros durante a partida, com um gestual que incomoda – embora, diga-se, Julio Lamas também seja uma prima donna neste quesito.

No ataque, o ritmo também não vai nada bem, mesmo. As trocas de passes, quando ocorrem, são inócuas. O aproveitamento de longa distância segue alto (43%), mas o de dois pontos vai baixo (44,7%) – e, sim, há uma diferença brutal entre chutar 43% de fora e 44% dentro da linha de três pontos.

Fato é que, até o momento, o Brasil não apresenta padrão algum de jogo, num reflexo direto de uma convocação mal feita. Magnano está tentando fundir jogadores baixos e velozes com pivôs lentos, pesados. Partes que não se encaixam, que ainda não conseguiram formar uma unidade em quadra.

Veja o quinteto que iniciou o segundo quarto, por exemplo: Luz, Larry, Benite, Hettsheimeir e Caio. Não faz sentido algum essa formação. O que esperar dela? Como fazer uma defesa agressiva se os dois pivôs, por exemplo, não vão conseguir cobrir um pick-and-roll de maneira apropriada. Para eles, qualquer passe em falso a mais no perímetro significa um argentino cortando com liberdade em direção ao aro – até Juan Gutiérrez se deu bem nessa.É na defesa que Splitter, Varejão e Nenê, os três muito velozes, fazem mais falta.

Além disso, impressiona como o conjunto argentino parece muito mais bem preparado e formado. Os jogadores sabem exatamente seu papel em quadra, e isso faz uma diferença danada. Ajuda para que o jogo tenha mais fluência, seja pelo espaçamento ou pelas decisões que passam a ser simplicadas as partir do momento em que cada atleta tenha suas diretrizes claras. O que não impede que eles improvisem, claro, como Campazzo fez muitas vezes.

Enfim, os desfalques estão de todos os lados, as gerações vão sendo trocadas, o tempo passa, o tempo voa, e a Argentina dá um jeito de seguir por cima.

*  *  *

Com 5min33s restando no primeiro quarto, Raulzinho entrou no lugar de Marcelinho Huertas. Em seu primeiro ataque, fez o passe para cesta de Caio Torres. Um minuto depois, deu uma assistência para Arthur matar de três pontos. Na posse de bola seguinte, cometeu uma falta ofensiva no enjoado Facundo Campazzo ao tentar se livrar da marcação para receber o fundo bola. Acabou substituído no ato, dando lugar a Rafael Luz. Quando entrou, o jogo estava 10 a 8 Brasil. Quando saiu, após 1min23s (!?!?!), estava 15 a 14. O tipo de substituição do (nosso) argentino que não dá para entender. Educação tem limite?

*  *  *

Juan Fernández, em quadra, é a cara de Pepe Sánchez. Capazzo, em toda a sua sanha, lembra um pouco Alejandro Montecchia.

*  *  *

Por que os números não dizem tudo ou podem ser bastante enganosos? Vejamos o total de assistências da partida: 14 para o Brasil e apenas seis para a Argentina. Logo, a dedução de bate-pronto poderia ser a de que os argentinos são individualistas em demasia, não? Não. Como o twitteiro profissional Filipe Furtado falou, isso só mostra o quão facilmente eles estavam batendo a defesa oponente, em jogadas simples de tudo. No geral, porém, ficou evidente que o senso coletivo de nossos vizinhos ao sul, a essa altura, está muito superior.

*  *  *

Levantamento de Guilherme Tadeu, do Basketeria, aponta que esta derrota foi a maior da seleção sob o comando de Magnano.

*  *  *

Estar atrás da Argentina, de novo, pode ferir o orgulho de alguns, mas não é o fim do mundo, por enquanto. Para classificar para a Copa do Mundo, a seleção precisa estar entre os quatro melhores na Copa América. Quer dizer, tem de superar, em teoria, pelo menos um entre Canadá, Porto Rico e República Dominicana, ainda que não esteja pronto para descartar o Urutuguai e a anfitriã Venezuela, mesmo sem Greivis Vasquez, mas com o ala americano Donta Smith contratado nacionalizado.


Aproveitamento de 3 pontos é alto, mas seleção escapa de derrota ao agedir a cesta
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Giovannoni alternando

Guilherme para a bandeja também: 6/7 nos arremessos, 3/4 de fora

Na vitória suada contra a República Dominicana, com a cesta de Alex a menos de meio segundo do fim, a seleção brasileira acertou 44% de seus arremessos de longa distância. Foram oito cestas em 18 tentativas, ótimo rendimento. Além disso, o time de Rubén Magnano não mostrou uma propensão exagerada ao tiro de fora, numa comparação com os 49 arremessos de dois pontos que tentaram durante toda a partida. Muito bem.

Agora, para um específico grupo de jogadores, especialmente aqueles aculturados dentro do NBB – e, na verdade, no basquete brasileiro como um todo, numa predisposição que antecede o campeonato e esta nomenclatura –, há sempre um perigo quando se desfruta de uma boa jornada com os chutes de longa distância. O de achar que vai ser sempre assim. De que será com esses chutes que as coisas vão se “desafogar”, para ficar no termo usado pelo legendário Wlamir durante a transmissão da ESPN.

Mas foi apenas pelos tiros de três pontos que o jogo foi vencido? Eles foram tão cruciais assim? Recapitulemos os minutos derradeiros do quarto período na ofensiva brasileira, antes da intervenção salvadora de Alex, para avaliar o peso de cada bola. Leva um pouco tempo, mas se faz necessário…

O quarto começou com vantagem brasileira de quatro pontos, 57 a 53. O limeirense Ronald Ramon não precisou nem de três segundos para anotar uma bandeja e deixar os dominicanos bem próximos no placar. Aí, na bola seguinte, Giovannoni acertou uma bomba de fora com assistência de Larry. Foi um lance celebrado, de que teria dado um respiro ao time.

Com 9min02s no cronômetro, foi a vez de João Paulo Batista fazer mais dois, levando o escore a 62 a 55. Seguiram-se, então, cinco pontos seguidos dos oponentes, numa velocidade que só, até que, com 8min13s, Larry fez uma cesta. Com 5min41s, contudo, a República Dominicana liderava por 67 a 64.

Parecia que o jogo escorria pelo ralo, mesmo, quando Huertas entrou em ação, marcando os próximos oito pontos brasileiros em quatro cestas, lembrando seu poder de finalização a despeito das amarras de Xavier Pascual. Na terceira, restando 2min41s, foi para recuperar a dianteira em 72 a 70.

Nas duas posses de bola seguinte, a República Dominicana teve um turnover com o versátil Eulis Baez e um erro num chute completamente forçado de Francisco Garcia.  Com 1min17s, no ataque seguinte, bum!, Giovannoni não hesitou em queimar quase de frente para a cesta, com um mínimo espaço necessário para matar de fora, levando o placar a 75 a 70.

Uma série de ataques infelizes de um lado e de boas investidas de Garcia, descolando lances livres, e chegamos ao minuto final com 15 segundos no relógio e os caribenhos com a chance de matar o jogo. Sabemos o que houve: Garcia errou mais uma vez no perímetro, mas, com a defesa brasileira quebrada após o rebote, James Feldeine recebeu livrinho na zona morta pela esquerda para encestar, num lance com ecos do Jogo 6 das finais da NBA, sem a mesma dramaticidade, claro, ou dificuldade. Até que Alex fez das suas. E acabou.

Dessa reviravolta toda, tirando, claro, as intervenções nos últimos segundos, se você não ficar atento e se deixar levar pelas “emoções”, é capaz de lembrar dos chutes de Guilherme. Olha que maravilha! De três! É assim que eu gosto! Ignorando que, no momento de maior dificuldade, ficando três pontos atrás, foram quatro jogadas agressivas de Huertas, buscando a cesta de perto, em que o controle do placar foi reassumido. No fim, pressionado, o armador foi buscar os pontos no garrafão, lá pertinho do aro, aonde a probabilidade é muito maior de conversão, e você não precisa exclusivamente de superpivôs para atacar deste jeito.

Aqui não se trata, então, de uma crítica – embora as coisas não estejam nada perto de uma maravilha. Mas, antes, um alerta: que não se enamorem pela conversão nos chutes de fora, como de costume, como estão habituados a fazer durante boa parte da temporada. Nem toda defesa vai dar tanto espaço assim como fizeram os dominicanos.

Deste jogo, a lição mais importante que fica para o ataque é, ironicamente, o erro (quase) crucial de Larry, com o aro escancarado a um palmo da fuça, e os segundos minguando. Acabou que não caiu a bola, mas o rebote só saiu manso para o tapinha por causa da confusão que o americano criou ao partir para cima dos dominicanos e procurar a bandeja. Ele pode ter falhado na execução técnica, mas tomou a decisão correta, a despeito do aperto da situação, em vez de optar por um atalho na linha de três.


Enfrentando ala de NBA, nove centímetros mais baixo, Alex mostra seu valor e faz cesta da vitória
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Cisco x Alex, os Garcias

O duelo entre Garcias sempre animado pelo mundo Fiba

Alex é sempre o primeiro a divagar… Ah, se fossem dez centímetros a mais!

Mas tem hora que nem todo centímetro vai compensar a disposição para fazer o serviço sujo, a preocupação com os detalhes, a disposição em quadra. E lá estava o diminuto ala, do alto de seu oficial 1,92 m, com os braço esquerdo e os dedos todos estendidos para conferir o rebote ofensivo, com cerca de 0s2 no cronômetro, e definir uma vitória por 78 a 77 para a seleção brasileira pela rodada de abertura da Copa Tuto Marchand, em Porto Rico.

Um desfecho de certa forma irônico, enquanto podemos nos apegar a esse tipo de coisa, já que ainda escrevemos sobre jogos preparatórios. O rebote é o fundamento que talvez mais preocupe rumo a uma disputa de vaga no Mundial – e título continental, oras –, e foi justamente num tapinha ofensivo que o time de Magnano se safou nessa.

Um viva ao amigo Elpidio Fortuna, aliás, que ficou hipnotizado pela bola, pela rebarba de uma bandeja agressiva, inteligente, mas mal efetuada por Larry Taylor e se esqueceu de uma das tarefas mais básicas do jogo. Aquela que muitas vezes dói, por conta das pancadas nas costelas, na coxa ou mais, mas que é extremamente necessária: o bloqueio de rebote. Alex subiu livrinho da silva, sem contato físico nenhum, para fazer a cesta decisiva.

Não que o chamado “Brabo” tenha algum problema em assimilar as pancadas. Pelo contrário, né? Fosse proibido de buscar o contato, teria de buscar outro esporte. Que o diga o talentoso Francisco Garcia, seu xará de sobrenome, que deve detestar os dias em que tem o Brasil pela frente. Ele sabe que aquele tampinha estará em quadra disposto a contestá-lo, ou, no mínimo, importuná-lo.

Aconteceu na última Copa América em 2011, com uma vaga olímpica em jogo. Aconteceu no Pan de 2003 até, dez anos atrás! Na casa deles, em Santo Domingo. E teve repeteco nesta quinta, mesmo em torneio amistoso. Alex perseguindo o dominicano no perímetro, com uma postura defensiva na maioria das vezes perfeita – em duplo sentido, contando não só o empenho, como também o posicionamento. Mesmo sendo mais baixo, o brasileiro não arrisca muito, guardando posição, com os braços erguidos, deixando para saltar ou dar o bote apenas no último instante. É um comportamento que atrapalha o alto e esguio dominicano.

Em competições de nível Fiba, diante de poucos atletas de primeiro nível, mesmo, que ele tem pela frente, Cisco ainda possui recursos suficientes para criar suas situações de arremesso. Contra o Brasil, ele ainda pode colocar a bola no chão com mais tranquilidade e partir rumo ao garrafão na esperança de descolar uma falta ou seu arremesso de média distância, encurtando a passada, para aproveitar sua envergadura. Arthur e Benite foram obrigados a tomar nota disso.

Com o número 10 da seleção em seu cangote, porém, a coisa fica um pouco mais difícil. Suas investidas são mais suadas, até pela pressão física que o adversário impõe. Se a arbitragem deixar o pau comer, o Garcia brasileiro consegue equilibrar bem as coisas.

E aí, medindo de baixo para cima o dominicano, com seus 2,01 m de altura e oito anos de NBA no currículo, sem contar a marca de US$ 29 milhões em salário que vai bater este ano como jogador do Rockets, Alex primeiro vai combater. Depois, sempre sobra um tempo para levar aquela hipótese dos dez centímetros adiante.

PS: mais algumas notas sobre a partida, com as mesmas preocupações de sempre, nesta sexta.


Chris Paul, o poderoso chefinho, assume a presidência do sindicato de jogadores da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Chris Paul para presidente

O repórter Lee Jenkins, da Sports Illustrated, relata que Chris Paul foi presidente de sua classe nas sétima, oitava, décima, 11ª e 12ª séries, durante sua adolescência. “Para os que estão perguntando, na nona série ele não concorreu”, completa.

Aí você fica até em dúvida: estamos diante de uma piada?

Os jogadores da NBA vão responder, hoje, que não. Afinal, acabaram de eleger o astro do Los Angeles Clippers como o novo presidente de seu sindicato. E, de acordo com as histórias que lemos sobre o #CP3, não é de se estranhar, mesmo: ele está acostumado a liderar,  ou, no seu caso, mandar.

Estamos falando de um armador, afinal. Mas daqueles que ditam as coisas.

Por exemplo, podemos afirmar que Steve Nash tem tendências socialistas em quadra, falando sempre de como gostaria de ver suas equipes compartilhando, em plena comunhão. Vejam o que ele diz a Zach Lowe, do Grantland, aqui: “Em Phoenix, eu pensava sempre, que poderia jogar e fazer mais de 20 pontos, arremessar mais, mas talvez minha efetividade fosse diminuir. Talvez o equilíbrio do time fosse abaixo. Talvez nós não tivéssemos aquele diferencial, aquela coisa especial que tínhamos porque os outros estão recebendo mais a bola e sentem que vão recebê-la. Não é minha natureza arremessar”.

Não pensem que isso não passa pela cabeça de Paul. Não se trata definitivamente de alguém egoísta – estima-se que, em sua carreira, 46,3% das cestas feitas por seus parceiros vieram de assistências do craque. A diferença é que para o impetuoso baixinho as coisas são mais práticas. Seu ideal é jogar para vencer, não obrigatoriamente para deixar quem está ao seu lado feliz. Se isso significa que ele tem de ir para a cesta, jogar para fazer 40 pontos, que assim seja. E que não entrem em seu caminho. Do contrário, você vai ouvir pacas.

Dizem que, no Clippers, Blake Griffin e DeAndre Jordan, mais espirituosos,  já teriam problemas sérios quanto a isso, muita dificuldade para suportar toda a pressão que o armador faz – feito Kobe, ele é daqueles que colocam o dedo na cara, mesmo, apontam erros e não toleram “desculpas”. Além disso, após a saída de Neil Olshey para o Portland Trail Blazers, em Los Angeles virou ponto passivo de que o jogador seria o gerente geral informal do clube, opinando em todas as decisões esportivas da franquia. Doc Rivers que se enquadre!

Também dizem que, quando a turma bicampeã olímpica se reúne – Wade, LeBron, Bosh, Carmelo etc. –, é ele quem dá as cartas e não para de falar, na quadra, no vestiário, em festa de casamento, na mesa do bar, no busão ou no metrô (lembram!?), em qualquer lugar. E que, se não for ele a falar, que abram espaço para o “Little Chris”, seu filhinho, mandar brasa. : )

Muito bem.

Agora Chris Paul tem muito sobre o que falar, mesmo. Uma série de reuniões, vice-presidentes (Steve Blake e Anthony Tolliver entre eles), secretário do tesouro (James Jones!) e muito mais para comandar, num mandato inicialmente previsto de um ano e meio, sucedendo Derek Fisher. Dessa vez os operários não tiveram chance, com uma estrela subindo ao poder pela primeira vez desde Patrick Ewing, cuja presidência se encerrou em 2001. LeBron James chegou a cogitar sua candidatura, mas foi dissuadido numa conversa com, e quem mais?, o próprio Paul.

A agenda do novo presidente requer tempo, e talvez alguém da estatura de LeBron não tivesse tanto tempo assim – ou talvez fosse importante preservar a imagem do maior jogador da atualidade, guardando qualquer intervenção do ala para momentos mais críticos.  Por ora, parece que há muito o que arrumar, mesmo, dentro de um combalido sindicato, que anda envolvido em em batalha judicial contra o ex-diretor executivo Billy Hunter, demitido em março, tendo empregado até filhos, cunhados, tios, sobrinhos e, se bobear, até o cachorro na administração da entidade.

Hunter, todavia, já é passado. O maior desafio de Paul é se sentar à mesa com o próximo comissário da NBA, Adam Silver, que assume em fevereiro e fechar as diversas pontas pendentes no acordo trabalhista (não tão) definido (assim) em 2011, com duração prevista por dez anos, mas que pode ser refeito em 2017, caso jogadores ou os donos dos clubes optem. Entre os tópicos mais espinhosos, está a pra-lá-de-urgente regulamentação de um controle antidoping mais adequado na liga. Exames de sangue detalhados vão ser liberados? Serão feitos testes de supetão? Em que período do ano?  O limite de idade para inscrição no Draft – hoje de 19 anos, com os proprietários tentando elevar para 20 –, a criação de uma terceira rodada no processo de recrutamento de novatos – que permitira aos clubes um controle sobre maior gama de jogadores –, o  relacionamento com a D-League e o número mínimo de jogadores contratados por cada franquia são outras questões em pauta para serem acertadas.

Barra pesada? Preocupante? Nada disso. “Foi algo que vi como um desafio, algo que sabia que seria capaz de conduzir. Foi uma oportunidade incrível, e muita responsabilidade vem com este cargo”, disse Paul. Oportunidade incrível? Eu, hein? Haja confiança para o poderoso chefinho da liga.


Ataque estagnado ou cansado? Torneio em Porto Rico serve para seleção tirar prova
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Vamos ver, Rubén

Rubén Magnano, preparação dura num ano duro para a seleção

O ala Arthur, veterano de NBB, mas um novato aos 30 anos quando falamos de Copa América, tem como uma de suas principais características a incessante e inteligente movimentação fora da bola. Se aqueles com o drible mais habilidoso e explosivo são os que aparecem com mais frequência nos melhores momentos e contagens regressivas, os jogadores que sabem encontrar ou gerar estes espaços nos, digamos, bastidores, também podem se tornar cestinhas de mão cheia. Eles só trabalham de outra maneira, muito mais sutil, mas, nem por isso, menos desgastante, cortando de um lado para o outro na quadra, usando bem os corta-luzes, backdoors e tudo o mais, até que se cause a mínima separação e ativar o arremesso. Para os mais habituados com a NBA, é só pensar em caras como Reggie Miller, Richard Hamilton e JJ Redick.

Nos primeiros amistosos da seleção brasileira antes do embarque rumo a Porto Rico e, depois, Venezuela, o jogador do Brasília até que tentou criar situações de ataque para a equipe se mexendo na zona morta, buscando ângulos diversos para a recepção do passe, mas nem sempre foi recompensado, por vezes ficando com as mãos espalmadas aguardando a assistência que não vinha.

Agora calma: não era nada pessoal.

Essa foi apenas uma das consequências negativas de um sistema ofensivo bastante estagnado que vimos em ação nestes primeiros jogos preparatórios do time de Rubén Magnano, num padrão preocupante, caso não seja alterado até o início da Copa América, no dia 31 de agosto.

Após a vitória sobre o México, em São Paulo, num jogo bastante enjoado (em muitos sentidos), Arthur foi simpático o suficiente para interromper uma sessão fotográfica animada com a pirralhada na quadra do Paulistano para conversar sobre isso. Ele concordou com a observação feita sobre o ataque pesado, arrastado que a seleção vinha demonstrando. Mas ofereceu um bom motivo para tanto: o simples cansaço.

Naquela terça-feira, por exemplo, o time entrou em quadra por volta das 19h para disputar o amistoso. O que não impediu que Magnano os convocasse para um treino com bola pela manhã, acompanhado de mais uma bateria de exercícios na academia, puxando ferro sem parar. Um episódio que não foi isolado. Na segunda-feira passada, antes de viajar para San Juan, o time também repetiu a dose em São Paulo.

Lembrei disso na hora em que li a seguinte declaração de Marcelo Huertas, o capitão do time, em texto de divulgação da CBB, comentando a partida de estreia na Copa Tuto Marchand, em San Juan, nesta quinta-feira. “Tivemos uma fase de treinamento muito boa, em que conseguimos alcançar uma ótima condição física e técnica. Agora é hora de tirar o pé, fazer os últimos ajustes para chegar à Copa América na melhor condição possível”, disse o armador.

“Tirar o pé.”

Os treinos comandados pelo técnico argentino são notoriamente pesados, dando vontade aqui de usar até o termo “mutiladores”, o que não seria de bom tom, evidentemente, e também se trata de uma palavra bastante feia, que faz jus ao seu significado. Não importa a origem do jogador, se está vindo da NBA, da Europa ou dos clubes nacionais – o fato é que múltiplos relatos dos atletas que trabalharam com Magnano dão conta do quão puxada tende a ser sua preparação. A ideia, acho, é que eles cheguem para os torneios oficiais achando que tudo é uma moleza, depois do tanto que ralaram nas semanas que antecedem a competição.

Bem, nas últimas temporadas, a seleção tem apresentado esta tendência, de oscilar em amistosos até que eleva seu jogo na hora do vamo-vê. Neste ano, essa transformação se faz urgente. Se a pegada defensiva foi regula, é preciso considerar que a equipe enfrentou adversários consideravelmente mais fracos na maioria das vezes – tirando uma Argentina com Scola & chicos em Anápolis, contra a qual o “abafa” não deu muito certo. Mas o que fez coçar a cabeça mais foi o ataque, ainda mais dependente das chamadas “cestas fáceis” de contra-ataque.

Quando o time parou em situações de meia quadra, de cinco encarando cinco, as coisas ficaram bem mais complicadas, especialmente quando a mesma Argentina resolveu brincar de gato e rato e alternou sua retaguarda sem parar, entre zona e defesa individual, deixando os brasileiros sem rumo em quadra.

Isso naturalmente deve ter aberto os olhos de Magnano, quando este optou por colocar dois ou até mesmo três eventuais armadores em quadra.

“Eventuais” porque Larry Taylor e Benite pouco passaram a bola nestes amistosos. Se o jovem flamenguista ainda tem a desculpa de estar sendo muito mais utilizado do outro lado do passe – ele também investindo nas trajetórias e parábolas por trás da marcação adversária –, o americano não colaborou muito no sentido coletivo da coisa. Em Bauru, Larry tem a bola por boa parte do tempo, podendo produzir de acordo com sua preferência. Na seleção, não há espaços para tanto drible, fazendo da bola uma prisioneira.

Contra o México, de novo, ficou evidente o quanto sua presença em quadra ajudava a estacar a coisa toda. Se a bola está com Huertas, o carequinha tende a se posicionar na quinta da linha de três pontos e por ali estacionar. Atlético, explosivo, seria muito mais produtivo se tentasse encontrar outras formas de atacar a cesta que não em situações de mano-a-mano ou de pick-and-rolls nem tão em realizados.

Mas isso, claro, não tem a ver apenas com o americano. O time todo precisa estar envolvido, engajado em trocar passes de um lado a outro, se movimentando como uma só máquina, em busca das melhores situações de arremesso. Ou isso, ou estaremos destinados a exigir o máximo da criatividade de Huertas e da sede de cestas de Hettsheimeir.

A partir desta quinta, contra os dominicanos, chegou a hora de medir o quanto era cansaço, mesmo, ou limitações técnico-táticas. É hora de acelerar em quadra.

*  *  *

Depois do corte de Marquinhos, cresceu a responsabilidade de Arthur na seleção, em sua primeira grande (?) competição. Até este ano, o ala de Brasília só foi aproveitado nos Sul-Americanos, tendo sido curiosamente convocado para a competição regional, relegada a times “B” brasileiros, em suas últimas quatro edições (2006, 2008, 2010 e 2012). Sua média geral na competição é de 8,5 pontos e 2,6 rebotes.

*  *  *

Arthur nunca foi reconhecido como um reboteiro voraz, mas vai ter de se desdobrar neste fundamento quando for para quadra. Com desfalques  e uma rotação baixa no perímetro, o ala vai precisar descer muito mais para o garrafão do que está habituado, ainda mais num eventual confronto com a Argentina e seus alas altos, fortes e raçudos.

*  *  *

Um jogador como Marcus Vinícios Toledo, hoje no Mogi, depois de anos e anos na Espanha, pode fazer falta. Embora não seja o mais talentoso ofensivamente, Marcus poderia ajudar, e muito, Alex na contenção de perímetro, com muita energia, força e capacidade atlética. Um jogador extremamente útil, se bem encaixado na rotação. Outra opção para a posição, mas inviabilizada por lesão, era Jhonatan, do Franca. Ele foi ao ginásio do Paulistano para ver o jogo contra o México, mas ainda tem limitações durante os treinamentos com o clube. Deve demorar ainda cerca de um mês para que ele esteja liberado para atividades regulares com bola e contato.