Vinte Um

Arquivo : dezembro 2012

Huertas eleva suas apresentações em Barcelona e justifica prêmio de melhor do Brasil
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Marcelinho Huertas, Barcelona

Huertas abre mais uma temporada com perspectiva de títulos pelo Barça

Não é questão de criar picuinha, provocar polêmicas, embora tudo isso possa acontecer inerentemente. Mas é uma opinião, que, depois da divulgação da premiação do COB nesta temporada, pode se passar até como chapa branca.

Mas vocês sabem que não é o caso, né?

Sabem, mesmo, né?!

Ah, bom. Ufa.

Sobre o Marcelinho Huertas ser o melhor jogador brasileiro hoje – e por hoje só não entenda como o momento imediato, mas, sim, algo como “hoje em dia”.

Para falar do armador, os números não contam muito – ou contam pouco da história. Explicando: o armador muitas vezes joga como se estivesse imobilizado, algemado no sistema (f)rígido de Xavi Pascual no Barcelona, sem poder criar como fez nos tempos de Baskonia e Bilbao.

Neste ano, a equipe catalã ainda segue apostando a maior parte de suas fichas no sistema defensivo, mesmo que, individualmente, Ante Tomic e Nathan Jawai não causem o mesmo impacto que os pirulões Boniface N’Dong e Kosta Perkovic tiveram na temporada passada, em termos proteção do aro e do garrafão, como explica aqui o  Rafael Uehara – brasileiro que assina, em inglês mesmo, o The Basketball Post e colaborou com o Vinte Um neste mês de dezembro. Na Euroliga, os adversários continuam sufocados. Na Liga ACB, as coisas também tendem a se acertar a longo prazo, mesmo depois de um início irregular que era impensável para uma superpotência dessas.

Para manter esse padrão defensivo, não esperem, então, uma revolução do outro lado do quadra, no ataque. A abordagem ainda será muito mais metódica do que “cabeça aberta”. Por outro lado, como o Rafael escreveu aqui, aos poucos Huertas vai ganhando um pouco mais de espaço para atacar, aqui e ali, os oponentes em vez de se limitar a alguém que apenas passe de lado, concentrado apenas em alimentar Juan Carlos Navarro ou Erazem Lorbek. Ele faz o que pode.

Contra o Valencia, por exemplo, o Barcelona perdeu para um time desfalcado de Vitor Faverani, mas não olhem para o armador na hora de tentar encontrar um reponsável. Não quando ele fez 21 pontos e seis assistências em apenas 29 minutos. Além disso ele matou todos seus oito lances livres, seus dois chutes de dois pontos e três em quatro disparos de três para totalizar iíndice 33 de eficiência, valendo a nomeação como melhor jogador da rodada. Duas jornadas antes, ele já havia sido impecável com a bola em mãos, anotando 13 pontos sem errar um chute sequer (de qualquer canto) e somado quatro assistências contra apenas um desperdício de posse. Pela  Euroliga, sua melhor atuação aconteceu contra o Partizan, com 24 pontos, nove assistências e cinco rebotes e 38 pontos de eficiência. No geral, vem com aproveitamento altíssimo nos arremessos, incluindo de três pontos.

Não precisa ir muito longe ao avaliar a atual geração da seleção, pensando no time olímpico e demais selecionáveis, e perceber como Huertas é quase uma aberração, numa inversão curiosa de valores, considerando que o Brasil ofereceu, nos últimos anos,  gigantes atléticos aos montes, abastecendo elencos na Europa e nos Estados Unidos sem parar. Agora, pensando nos homens baixos, daqueles que a gente consegue encarar olho no olho, sem cansar o pescoço – jornalista sofre em zona mista de basquete, viu? –, talvez não dê para contar em cinco dedos. E o Scott Machado não vale, tendo sido formado nos EUA.

Mas também não quer dizer que ele mereça a distinção de melhor do ano por ser único em sua característica, e, sim, sua consistência.

Os últimos meses do ano foram todos de Anderson Varejão, com razão. Todos estão testemunhando a quantidade descomunal de rebotes que o cabeleira vem apanhando. Mas nos últimos anos Huertas acabou dando um passo a mais. O ‘baixinho’ se desgarrou dos grandalhões, impressão que só foi reforçada pela experiência de seleção brasileira que tivemos entre julho e agosto. Em Londres, foi possível observá-lo de perto em muitas ocasiões e contra os melhores do mundo. Nesses jogos foi possível onstatar que, na verdade, esse não era um desafio tão grande assim para seu talento. Agora o Barcelona começa a aproveitar melhor essas qualidades.


Por um 2013 melhor para a turma brasileira da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Varejão, Leandrinho e Splitter

Vamos tirar logo isso da frente: eles ganham um belo salário, bem acima da média do esportista tupiniquim, jogam em alguns dos melhores ginásios, cercados de mimos incontáveis, com estafes gigantescos à disposição. Conforme o próprio Nenê disse a seus jovens descabeçados companheiros, eles ocupam algumas das vagas mais cobiçadas no esporte e certamente as mais desejadas do basquete. É só saber aproveitar.

Agora, segundo um dos dogmas expostos na lousa central de diretrizes do QG 21, “dinheiro e luxo não compram ou valem toda a felicidade do mundo”. Mesmo você, leitor mais cínico, precisa abrir o coração nesta época festiva, de cordialidades, resoluções e expiação de culpa, e dar uma colher de chá para os caras.

Vejamos:

Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers)
Individualmente, nunca houve uma temporada melhor para o capixaba do que a que ele vive neste ano. Na verdade, é provavelmente a melhor campanha de um brasileiro na história da liga. Com recordes de pontos, rebotes, assistências, roubadas de bola e lances livres, o pivô virou uma unanimidade para os jornalistas de lá, embasbacados com seus números. Pena que nada disso sirva para fazer do Cleveland Cavaliers um time decente. A equipe de Byron Scott (até quando, aliás?) tem um aproveitamento até mesmo pior que o do Charlotte Bobcats, gente. Difícil de aturar isso. De que vale tanto esforço se o resultado, no fim, é invariavelmente uma derrota? Quem sabe, então, se não aparece um time vitorioso interessado em sua cabeleira, que enxergue seu basquete aguerrido como uma grande cartada para se brigar pelo título em maio e junho? Alô, Brooklyn Nets, Atlanta Hawks, San Antonio Spurs, Oklahoma City Thunder e afins.

– Nenê (Washington Wizards)
É uma situação bem mais deprimente do que a de Varejão. Ao menos seu compatriota pode se consolar com a presença de Kyrie Irving ao seu lado e dos promissores Thompson, Waiters e Zeller. Há uma base evidente ali para se construir um bom time. Em Washington, porém, a perspectiva é de terra desolada. Um clube ainda sem comando algum, tático ou gerencial, numa prova clara de que JaVale McGee e Andray Blatche não eram exatamente a causa de todos os seus problemas. E aí temos um jogador que vem se arrebentando em quadra, pisando em uma perna só, aguentando sabe-se lá como 26 minutos por  partida, a serviço da pior equipe da liga. Em Denver, o são-carlense ouviu muitas críticas de que não fazia jus ao seu salário, de que qualquer resfriado era o suficiente para lhe afastar. Na capital norte-americana, o discurso é justamente o contrário. Ainda assim, talvez não seja o suficiente para convencer alguma franquia a investir em seu pesado contrato.

– Leandrinho e Fabrício Melo (Boston Celtics)
O ligeirinho anunciou que está retornando a Boston, depois de passar pelo Brasil para resolver problemas particulares. Esperemos, desde já, que não seja nada de mais grave, com repercussão para os próximos meses, e que ele possa, agora, se concentrar em sua profissão. Porque, a partir de janeiro as coisas ficam ainda mais complicadas para o ala-armador, com o retorno de Avery Bradley. Havíamos escrito aqui desde o momento em que assinou com a franquia mais vitoriosa da liga: não parecia uma situação propícia para ele dar sequência a sua carreira. Muitos fatores conspiravam contra isso, entre eles as contratações de Jason Terry e Courtney Lee muito antes da sua, com vínculos de longo prazo. Isto é, esses caras seriam a prioridade para Danny Ainge & cia. De modo que o brasileiro precisaria jogar demais para assegurar seu espaço.

E como estamos até agora? Em termos de produção estatística, com menos tempo de quadra, Leandro apresenta números mais eficientes do que os de Terry e Lee – mas talvez não o suficiente para lhe valer uma vaga cativa na equipe. Além disso, sabemos bem que a defesa nunca foi um forte do paulistano. É algo que deve explicar sua ação reduzida nas últimas rodadas. Por outro lado, o Celtics não melhorou em nada desde que Doc Rivers optou por reduzir sua carga de minutos (perdendo dez partidas em 19 disputadas).

Com a volta de Bradley, um exímio marcador – um dos melhores de toda a liga, não importando sua pouca idade –, esse quebra-cabeça fica ainda mais intrigante. Dá para pensar em dois desdobramentos completamente diferentes: 1) Barbosa será completamente enterrado no banco de reservas; 2) Bradley dá uma segurança maior ao treinador na retaguarda e acaba liberando alguns minutos de Terry ou Lee para o brasileiro. Talvez essas duas alternativas hipotéticas nem importem. Talvez o melhor, mesmo, seja encontrar um meio de se transferir para o Lakers e se reunir com Nash e D’Antoni num time que precisa, e muito, de um arremessador extra.

Sobre Fabrício? Bem, não mudou muito desde sua seleção no Draft: continua como um projeto do Celtics, que vai se desenvolver aos poucos na D-League, mas que ainda está longe de ser visto como uma solução imediata para o garrafão. Vide a chegada do atlético Jarvis Varnado, um cara draftado pelo Heat, mas que nunca foi aproveitado na Flórida e nem pertencia ao clube afiliado de Boston, mas que foi contratado como uma esperança de fortalecimento de sua combalida rotação.

– Tiago Splitter (San Antonio Spurs)
Opa! Seu pedido é uma ordem. O catarinense hoje aparece como o terceiro pivô mais utilizado por Popovich em sua rotação, com dez minutos a menos do que Duncan e três abaixo de Diaw. Um pequeno, mas bem-vindo avanço para o jogador que tem o terceiro melhor índice de eficiência do clube, superior até mesmo ao de Manu Ginóbili. A ironia é que a promoção ao time titular significa menos oportunidades ofensivas para o pivô, uma vez que ele agora passa mais tempo de quadra ao lado de Duncan e Parker. E mais: a promoção também não significou mais minutos: hoje ele tem 20,2 por partida, contra 19 da temporada passada. A expectativa é a de que essa quantia suba um pouco no decorrer dos próximos dois terços de campeonato e que Splitter possa chegar aos mata-matas em grande forma, pronto para ajudar os texanos e, ao mesmo tempo, subir sua cotação para o próximo mercado.

– Scott Machado (Houston Rockets)
Discutimos aqui.


Badalado e caríssimo elenco do Brooklyn Nets decepciona no início de temporada
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nets x Celtics, Kevin Garnett x Gerald Wallace

Wallace se envolve em confusão com Garnett; para o Nets brigar, só com a bola parada por enquanto

Por Rafael Uehara*

Não é que muitos pensassem que o Brooklyn Nets se apresentaria logo em sua primeira temporada como um concorrente legítimo ao título. Mas havia expectativas grandes, de qualquer forma, ao redor desse time quando o campeonato começou.

Billy King, diretor responsável pela formação do elenco, surpreendeu a todos na janela de verão quando acertou uma troca com o Atlanta Hawks pelo ala-armador Joe Johnson. Esse gesto foi considerado suficiente por Deron Williams para mostrar que a franquia tinha como principal objetivo concorrer ao troféu. Na sequência, o armador renovou seu contrato por cinco anos. Gerald Wallace, Kris Humphries e Brook Lopez também assinaram extensões. O ala-pivô Mirza Teletovic, maior cestinha da Euroliga na temporada passada, foi importado. CJ Watson e Reggie Evans, jogadores testados e aprovados na liga, foram adquiridos para fortalecer o banco. Falhas eram projetadas nesse plantel, mas a esperança era que de que a reforulada equipe seria capaz de fazer no Leste uma campanha parecida com a que o Golden State Warrios está fazendo no Oeste, por exemplo. A de que correria por fora, isto é, à espera de um golpe de sorte.

Porém, o mais novo time de Nova York tem decepcionado no momento. Nesta rodada de Natal, o Brooklyn foi humilhado pelo Boston Celtics, 76-93, em casa. Foi o quarto revés em seus últimos cinco jogos e o nono nos 12 últimos. Foi a 13ª derrota do time em 27 partidas. Ainda há muito chão pela frente, 70% do caminho, e, mesmo se a temporada regular acabasse hoje, o time de propriedade de Mikhail Prokhorov e Jay-Z ainda teria vaga nos playoffs. Mas o experimento desse ano, liderado por Avery Johnson, está longe de ser um sucesso.

Com a tem a segunda maior folha de pagamento da liga, o Brooklyn tem enfrentado uma tabela apenas mediana (de acordo com Jeff Sagarin do jornal americano USA Today). Porém, o time tem se mostrado incapaz de se impor ao mesmo nível que os melhores times da liga. Contra Miami, Boston, Lakers, Clippers, Knicks, Chicago, Golden State e Oklahoma City nesta temporada, o recorde do time é de apenas 3-9.

Quando um clube tem em sua folha de pagamento cinco jogadores ganhando em torno de US$ 10 milhões no ano (incluindo dois jogadores ganhando acima de US$ 17 milhões), a lógica é que esse clue seja menos competitivo na parte de baixo da rotação porque geralmente a compõe com jogadores ganhando o salário mínimo e estes tendem a ganhar o mínimo por um motivo. Os Nets, porém, deram muita sorte nesse aspecto, com quatro jogadores recebendo o piso salarial proporcionando boas contribuições: alé de Watson, os alas veteranos Keith Bogans e Jerry Stackhouse e a aposta no garrafão Andray Blatche.

São os medalhões do time que têm falhado em liderar a franquia. Williams chegou à partida de terça com aproveitamento de 39,7% em tiros de campo, incluindo 29,5% em tiros de três pontos. E desapontou mais uma vez ontem, marcando apenas 10 pontos em 3-por-7 tiros de campo e apenas seis assistências em 36 minutos; números que, na verdade, não fazem nem jus à sua atuação tão apagada.  Johnson tem tido uma temporada melhor do que muitos esperavam estatisticamente, mas não consegue carregar o time enquanto Williams não acha o seu ritmo, diferentemente do que fazia em Atlanta. Marcou apenas 12 pontos em 4-por-14 tiros de campo contra Boston. Com Humphries (atualmente se tratando de uma lesão no abdôme) em quadra, Brooklyn tem permitido uma taxa de pontos por posse (1,063) comparável à do New Orleans Hornets (1,069), a segunda pior defesa da liga. Para completar, fica claro que o técnico Avery Johnsonestá falhando em tirar o melhor desse grupo de forma consistente. Eles ainda estão longe de compor uma equipe coesa.

Nesta terça, um executivo do alto escalão do clube já postou desculpas públicas no Twitter, dizendo que sua (nova) torcida merecia mais. Pode acreditar que o bilionário Prokhorov, quando não está esquiando ou paquerando, também se sente mal quando vê os resultados recentes de seu último brinquedinho, especialmente quando recordar o que investiu no verão – e quando, numa disputa de egos, vê o rival Knicks se desenvolver em um time muito superior, com chances reais de lutar pelo título.

No  caso do clube de Brooklyn, não tem como fugir da realidade a procurar um contexto alternativo que explique as coisas maneira mais clara do que seus resultado: é uma das equipes mais decepcionantes da liga, Williams está longe de parecer um dos 10 melhores jogadores como muitas vezes é classificado e o técnico Johnson provavelmente deveria ser demitido por justa causa. Brooklyn simplesmente não é nesse momento um time a ser levado a sério.

 


Nenê perde a paciência em Washington e diz que companheiros desrespeitam o basquete
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Nenê x Al Horford

Washington espera liderança do pivô brasileiro, mas ele vai liderar quem e para o quê?

A palavra-chave que elegemos para o pivô Nenê na temporada 2012-2013 foi bem simples: paciência. Mal chegamos ao fim de dezembro, e ela já se esgotou. O Washington Wizards não para de perder, e o brasileiro não está nada – e nem poderia ficar – contente com isso.

Em entrevista ao NBA.com, Maybyner Rodney Hilário detonou seus companheiros de equipe, acusando, digamos, a falta de noção de boa parte do elenco, algo que contribuiria muito para o que se passa na franquia sediada na capital norte-americana.

A fase… Bem, já que os caras, desde 2008, só apanham, melhor recomeçar: A vida é tão ruim para os basqueteiros nas vizinhanças de Obama que até o Detroit Pistons se esbalda contra eles. O clube da Motown tinha seis derrotas consecutivas e 21 reveses em 28 partidas até se deparar com uma combinação de “home-and-home” – um jogo lá, outro cá em dois dias– contra  o Wizards. Conseguiu duas vitórias, sendo a primeira delas por 32 pontos. Argh.

Aí chega, né?

Com o pé esquerdo novamente atolado num balde de gelo, o joelho também sob tratamento e, segundo o renomado jornalista David Aldrige, os olhos marejados, o pivô não aliviou em nada no bate-papo. Disse que seu time está completamente desarticulado em quadra. “Quando você joga com confiança, com união, é diferença. Você sente que seus companheiros o conhecem e você dá o seu melhor. Mas, aqui e agora, é o oposto que acontece. Totalmente o oposto”,  disse o paulista de São Carlos.

“As pessoas não têm o menor respeito pelo jogo. Eles acham que esta oportunidade (que têm) não é nada. Esse é o problema com os jovens jogadores: eles não aproveitam o fato de estarem na NBA, no melhor basquete do mundo. Muitos caras gostariam de estar nessa posição. Mas não acho que se deem conta disso aqui.”

Com seu contrato polpudo e a experiência de jogar já sua 11ª temporada na liga, Nenê teria de cumprir um papel de líder no Wizards. Porém, limitado pela fascite plantar que não vai embora, vendo o armador John Wall ainda afastado e sem perspectiva de retorno, ele constata que todo seu esforço, colocando sua saúde em risco, está sendo em vão.

Convenhamos que, mesmo se estivesse inteirão, a vida de capitão não combina muito as características do veterano, um cara sempre reservado. Não seria agora, então, diante do caos que perdura na franquia, que ele pegaria um Jordan Crawford ou um Jan Vesely pelas mãos para ensinar nada. Preferiu apenas encarar a dor e jogar, esperando que o restante do elenco entenda o que está acontecendo. O acúmulo de derrotas e o fato de jogar no sacrifício só empurraram o brasileiro para o outro lado. Em vez de vir com palavras encorajadoras, Nenê preferiu descer a marreta.

Compreensível: a cada rodada que se passa a extensão contratual que o gerente geral Ernie Grunfeld recebeu em abril deste ano parece mais absurda. O clube tem saldo negativo de 8,6 pontos. Venceu apenas três de seus primeiros 25 jogos. Caminha para sua quinta temporada seguida com menos de 30 vitórias. “Meu trabalho é dar duro e fazer o meu melhor na quadra de basquete. Essa responsabilidade (de tratar com os jogadores) é da direção e do técnico. Mas alguém tem de falar com eles”, disse.

Não há muito mais o que ele pudesse fazer além de tentar liderar por exemplo. Também não é realmente o tipo de situação que valha o sacrifício a que está se submetendo.

*  *  *

Boas festas aos corajosos que acompanham o blog. O ritmo de publicação será retomado nesta semana. Espero que tenham gostado dos textos do Rafael Uehara durante o mês. Não percam o que ele escreve também no The Basketball Post.


‘Família Popovich’ mantém caminho consistente de vitórias em San Antonio
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Família Popovich

Parker e Duncan já não aguentam mais Gregg Popovich

Todos os clichês, mandamentos, regrinhas recomendáveis sobre “continuidade” na gestão esportiva são confirmados pelo San Antonio Spurs na NBA. Com eles, não há como negar que não funcione.

O sucesso é tão duradouro que por vezes podemos perder a referência do nível de excelência que eles atingiram nas última década, e algo que dura até hoje. Desde o momento em que reuniu o armador Tony Parker, o ala Manu Ginóbili, o pivô Tim Duncan e o técnico Gregg Popovich no mesmo ginásio, em 2002-2003, o clube não teve uma campanha sequer em que não tenha vencido no mínimo 50 partidas – ou 61% de seus jogos. Isso valeu até mesmo para o último campeonato. Aquele, oras, encurtado pelo lo(u)caute e que teve apenas 66 rodadas no total.

Por curiosidade: o melhor ano aconteceu em 2005-2006, com 63 vitórias e rendimento de 76,8%, mas não valeu um título: a equipe perdeu o clássico texano contra o Dallas Mavericks, que acabaria derrotado pelo Miami Heat e a arbitragem da NBA nas finais. Os anéis de campeão neste período acabaram sendo conquistados em 2003 (primeira temporada de Ginóbili), 2005 e 2007.

O elenco, naturalmente, passou por pequenas reformulações durante esta jornada, mas o núcleo duro está lá para dar consistência, para estabelecer uma rotina que poderia entendiar meio mundo, mas que empurra seus componentes na formação de um timaço.  “É incrível”, afirma Parker. “Pois, muitas vezes, quando se fica por cinco ou dez anos, as pessoas tendem a ficar irritadas ou se cansam de ouvir por tanto tempo. É algo especial o que acontece aqui com o Spurs. Você pode pegar qualquer esporte, e não acho que vá ver uma situação dessas em que os mesmos três jogadores e o mesmo técnico tenham passado tantos anos juntos. É uma relação realmente muito especial a que eu, Manu e Timmy temos com Pop.”

 Envolvido em rumores de trocas nos últimos anos, Parker admite, contudo, que há, sim, os momentos em que se tem vontade de atirar tudo para o alto, especialmente quando as críticas de Popovich nos treinos são mais pesadas. “Todo mundo tem um ego, então machuca algumas vezes, mas você precisa lembrar, então, que ele faz isso para o bem do time”, conta o francês.

O técnico, por sua vez, afirma que não é nem mais ouvido por suas estrelas. Especialmente Duncan, com quem trabalha desde… 1997! “Ele nem conversa muito mais comigo. Estamos casados há tempo tempo que nós…”, disse Pop, parando a frase por conta própria para não se comprometer, né? Questões íntimas ficam entre quatro paredes, por favor.

“Metade das coisas que eu falo ele não ouve. A outra metade ele bloqueia se for para ouvir… Porque ele acha que é bobagem. Manu está chegando a esse estágio, Tony também está perto disso… É hora de ir embora!”, completou o comandante, sorrindo.

Depois de obter a melhor campanha da temporada passada, o Spurs segue nadando de braçada em meio ao pelotão de frente neste início de campanha. Nesse ritmo, a família Popovich, na verdade, não vai para lugar algum.


Com retorno de Ricky Rubio, Minnesota sonha com arrancada rumo aos playoffs
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Ricky Rubio

Por Rafael Uehara*

Após nove meses de molho devido a uma lesão séria no joelho esquerdo, o armador Ricky Rubio voltou às quadras no sábado passado contra o Dallas Mavericks para o delírio da torcida no Target Center, em Minnesota. Mesmo com Kevin Love se desenvolvendo em um All-Star, Rubio foi o principal responsável pela ressurreição da franquia como um time de interesse na temporada passada. Pela primeira vez desde que Kevin Garnett foi negociado quase meia década atrás, o futuro parecia promissor. Mesmo com um elenco limitado ao seu redor, Rubio estava liderando o time em direção aos playoffs quando colidiu joelhos com Kobe Bryant em Março e teve sua magistral primeira temporada abruptamente terminada. Sem ele, os Timberwolves perderam 17 de seus últimos 20 jogos.

Para essa campanha a diretoria reforçou a ala, setor de maior dor de cabeça ano passado, e a esperança era de que o time ganhasse jogos num número suficiente para não cair fora da briga enquanto Rubio não retornasse. Quando Love quebrou a mão na pré-temporada, as probabilidades estavam contra o time. Mas, mesmo ao cambalear no começo, em um momento perdendo cinco jogos seguidos, o Minnesota encontrou este meio de produzir vitórias, vencendo seis de suas próximas oito partidas, chegando a sábado com 11 vitórias em 20 jogos. E, agora que Rubio está de volta, semanas depois de Love, o time sonha em uma arrancada aos playoffs, algo 1u3 não disputa desde a temporada 2003-2004.

Há dúvidas com relação à capacidade de Rubio voltar a ser o jogador que era no passado, por se tratar de uma lesão tão séria, mas, se sua estréia na temporada serve de modelo, o jovem de 22 anos aparenta estar a caminho de uma recuperação completa. Em 18 minutos contra Dallas, Rubio marcou oito pontos, deu nove assistências e teve três roubos de bola. O time ganhou na prorrogação, 114-106, sem Rubio, pois o técnico Rick Adelman mostrou disciplina ao plano de segurar o garoto a exatamente no máximo que havia estipulado: 18 minutos. Mas, mesmo em tempo limitado, o impacto de Rubio na vitória foi claro.

Os Timberwolves têm tido dificuldade no ataque devido a tantas lesões a jogadores importantes e é atualmente apenas 19° em pontos por posse de bola. Luke Ridnour e JJ Barea são bons armadores, mas Rubio é especial por um motivo: sua visão de jogo o permite criar para o time situações para marcar pontos que outros jogadores não são capazes. E isso ficou evidente sábado. Quando Rubio entrou em quadra pela primeira vez, o time sofria contra a defesa de Rick Carlisle e perdia por dez. Quando Rubio saiu, o time perdia apenas por dois e com um ritmo de produção que resultou em uma vantagem de nove no intervalo.

Já na segunda-feira contra o Magic, em Orlando, Rubio realmente pareceu como alguém fazendo apenas o seu segundo jogo em nove meses. Ele esteve em quadra por 16 minutos, zerou em pontos, deu quatro assistências e teve apenas um roubo de bola. O Orlando tem sido um time de respeito este ano, especialmente em casa, o que tem surpreendido algumas pessoas pois a franquia acaba de perder Dwight Howard, mas esse é exatamente o tipo de jogo que Minnesota tem que vencer fora de casa para que possa chegar aos playoffs. Porém, o time foi muito mal em tiros de quadra e caiu, 93-102, ao permitir 52 pontos no garrafão e 28 no total para Glen Davis.

E, daqui pra frente, o caminho ficará apenas mais difícil. De acordo com Jeff Sagarin do jornal americano USA Today, os Timberwolves enfrentaram a quinta tabela mais fácil até o momento. Tudo se balanceará no próximo mês. Começou com o time visitando Miami nesta terça-feira. Receberá Oklahoma City quinta e, depois, viajará para Nova York. Em seguida, seus próximos adversários serão Houston, Phoenix, Utah, Denver, Portland, Atlanta, Oklahoma City de novo, Nova Orleans, Sacramento, Dallas, os Clippers, Houston de novo, Atlanta de novo, Brooklyn e Washington. Sete desses 15 jogos listados serão fora de casa. E isso nos leva até o fim de janeiro.

Logo, o retorno de Rubio não poderia ter vindo em hora mais oportuna. O jovem ainda não está 100% e talvez ainda não recupere o físico ideal por todo este mês, de modo que Adelman talvez relute em colocá-lo em quadra aos poucos. Isso pode ser muito difícil, porém. Esse é o trecho mais importante da temporada para Minnesota, no qual o time provará se tem ou não condição de chegar aos playoffs, e Rubio não é apenas peça fundamental nessa jornada, ele é única razão para que a jornada seja meramente possível.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um para este mês. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.

PS: Durante dezembro, por motivos de ordem profissional (embora a gente goste mesmo é de férias, o Vinte Um vai ser atualizado num ritmo um pouco mais devagar. Voltamos no final do mês com tudo.

 


Cartola sinaliza que Scott Machado só será aproveitado a longo prazo pelo Rockets
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Scott Machado na D-League

Scott Machado, por enquanto, vai com o unfirome do Vipers, mesmo

O aproveitamento de Scott Machado pelo Houston Rockets não deve acontecer tão cedo, a julgar por uma entrevista do vice-presidente de operações de basquete, Gersson Rosas, ao blog “Ridiculous Upside”, o armador ainda é encarado como um projeto de longo prazo.

O Rockets tem deixado o brasileiro nova-iorquino permanentemente com sua filial na D-League, o Rio Grande Valley Vipers, onde por vezes tem a companhia de mais dois calouros do, digamos, time de cima: os alas-pivôs Terrence Jones e Donatas Motiejunas. Esse par o cartola julga mais preparado para encarar uma concorrência de alto nível. Por outro lado….

“Machado é um caso diferente”, conta. Para, então, abrir o jogo sobre o que esperam do rapaz nos próximos meses, elencando uma espécie de (loooonga) lista de tarefas de casa que Scott tem de cumprir.

“Ele não foi draftado, e, sendo um armador, ele joga na posição mais difícil de se fazer a transição da universidade para a NBA. Estamos investindo muito tempo e nossos esforços ao permitir que ele conduza um time. Queremos que ele faça um bom trabalho coordenando o ataque, fazendo boas jogadas e colocando seus companheiros nos lugares certos para que tenham sucesso. Melhorar do outro lado da quadra como um defensor também é importante. Na D-League, Scott também está em posição de se tornar um marcador melhor. Tudo se resume a aprender como defender melhor os pick-and-rolls, ser um reboteiro consistente na defesa e apenas entender o jogo dos dois lados. O que estamos fazendo é desenvolver um cara que pode causar impacto como um armador reserva.”

Olha, em princípio, não são os comentários mais animadores, não? Nada como a boa e sumida franqueza. Na opinião de um dos três ou quatro principais tomadores de decisão do Rockets,  o brasileiro ainda tem muito arroz e feijão para comer antes de se tornar uma presença regular no elenco de Kevin McHale.

Na D-League, os números do armador ainda se mostram pouco eficientes, chamando a atenção especialmente o baixo aproveitamento nos arremessos de quadra e o elevado número de desperdício de posse de bola, e justificam o discurso exigente e, ao mesmo tempo, paciente de Rosas – que, a propósito, esteve no Brasil em 2007 para observar os jogos do Pan do Rio de Janeiro. Creiam.

Agora, um ponto a ser destacado nesse extenso comentário é o fato de a franquia texana estar realmente jogando suas fichas no progresso do rapaz. De modo que enxergam muito potencial para ser explorado. Lembrando: diversos jogadores veteranos foram dispensados no início do ano, já com seus salários garantidos, para que pudessem manter Scott sob sua alçada.

Assim como fizeram com o pivô Greg Smith no ano passado. O jogador, que também passou batido pelo Draft, foi aproveitado em pouquíssimas partidas na temporada passada, ficou um tempão na D-League – onde foi dominante, diga-se – e neste ano emergiu como um excelente reserva para Omer Asik. Sua trajetória é um evidente exemplo que deve servir para motivar qualquer atleta relegado ao campeonato de desenvolvimento. Grupo a que Scott, no momento, pertence.

*  *  *

As avaliações sobre o desempenho de qualquer jogador na D-League também merecem cuidado: o cotidiano de seus clubes pode ser caótico, por diversos motivos: a rotação constante dos elencos, as idas e vindas dos jogadores da NBA, muita gente querendo mostrar serviço de qualquer forma e a qualquer preço,  viagens mais complicadas, menores salários e mais. No caso do Vipers, ainda há a segurança de que seu departamento de basquete é inteiramente gerido pela direção do Rockets. Ainda assim, ser um armador puro, organizador, nesse contexto, não é fácil.

*  *  *

Um atleta interessante de se observar no elenco do Vipers nesta temporada é o alemão Tim Ohlbrecht, de 24 anos. Ele já foi considerado pelos olheiros europeus como uma grande aposta, mas teve um início de trajetória como profissional um pouco frustrante, com sua dedicação sendo questionada em diversas ocasiões. Pelas poucas partidas do sujeito assistidas no QG 21, seu talento como reboteiro e arremessador é realmente instigante. A opção por deixar a Europa e encarar a “Segundona” da NBA é bem incomum e quiçá sinalize que o alemão tenha caído na real e esquecido os comentários de “próximo-Dirk-Nowitzki”, buscando endireitar a carreira.


A renascença de OJ Mayo salva o Mavs enquanto Nowitzki não joga
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

OJ Mayo, foi de três

Por Rafael Uehara*

Selecionado com a terceira escolha do Draft de 2008, e trocado por Kevin Love naquela mesma noite, a carreira de OJ Mayo em Memphis foi decepcionante. O ala-armador era projetado como um atirador de top de linha, que complementaria Rudy Gay no perímetro como uma luva e faria dos Grizzlies um time com uma das alas mais letais de toda a liga. Mas isso não se materializou.

Mayo foi tão irrelevante em seus primeiros dois anos e meio com o time que uma vez ele foi trocado por Josh McRoberts e Brandon Rush, exceto pelo fato de que Memphis e Indiana não oficializaram a negociação com o escritório da liga dentro do prazo determinado e a operação foi cancelada. Em sua última temporada, Mayo ainda trouxe algum valor para a franquia, vindo do banco como sexto homem e proporcionando importante espaçamento de quadra como um dos poucos membros do time capaz de acertar tiros de três pontos com alguma consistência.

Mas, ao entrar no mercado com apenas um ano de produção satisfatória em seu currículo, Mayo recebeu poucas ofertas e menos ainda com o valor que tinha em mente. Acabou assinando com o Dallas Mavericks por dois anos e $8,2 milhões de dólares, com uma opção de ir ao mercado novamente na próxima janela de verão caso queira. Desde que ganhou o título quase dois anos atrás, o Dallas tem optado por manter sua flexibilidade financeira como objetivo número um e viu em Mayo uma chance de adicionar um talento relativamente barato que  poderia ajudar agora, enquanto também não danificaria a visão do clube para o futuro.

E Mayo tem sido uma aposta fenomenal. Dirk Nowitzki passou por uma artroscopia no joelho antes do começo da temporada e ainda não jogou nesta campanha. Em sua ausência, Mayo tem se apresentado como líder da equipe dentro de quadra, fazendo o suficiente para mantê-los na briga pelos playoffs, a despeito da ausência de seu principal atleta. O objetivo é esse mesmo: segurar as pontas enquanto Nowitzki não volta.

Mayo está em  uma ótima temporada, atualmente postando 20,9 pontos em média, com um excepcional rendimento de 62,2% em ‘true-shooting’ (estatística que também leva em consideração os lances livres quando calculando o aproveitamento de um jogador em tiros de quadra). Grande parte desse sucesso ocorre porque tem sido muito complicado para os adversários lidarem com sua pontaria incrível de fora do arco: ele vem acertando em média 52,5% de seus tiros de três pontos (contra 38,8% da carreira), isso em 122 tentativas (um número expressivo).

Com Mayo em quadra, o Dallas marca em média um ponto por posse de bola a mais e tem aproveitamento em tiros de quadra 5% melhor do que com ele no banco, de acordo com NBA.com/advancedstats/. Mas talvez a melhor surpresa seja seu impacto no lado do outro lado. Em um time que põe ênfase em defesa coletiva, Mayo tem feito a diferença. Com ele em quadra, os Mavericks tem permitido cinco pontos a menos a cada 100 posses  do que com ele no banco. Seria um padrão de acordo com as melhores defesas da liga.

A renascença de OJ Mayo tem chamado a atenção. Um jovem com muitas expectativas ao sair da faculdade, Mayo parece ter finalmente encontrado o seu melhor basquete em seu quinto ano como profissional. Com o retorno de Nowitzki eminente, Dallas ainda é um time que exige respeito, em grande parte porque tem em Mayo um jogador postando uma das melhores performances em toda a liga.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um para este mês. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.

PS: Durante dezembro, por motivos de ordem profissional (embora a gente goste mesmo é de férias, o Vinte Um vai ser atualizado num ritmo um pouco mais devagar. Voltamos no final do mês com tudo.


Imortais e sem badalação, Spurs ainda estão na briga pelo título da NBA
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Tony Parker e os velhinhos vibram

Por Rafael Uehara*

Dos gigantes do Oeste, talvez apenas o Memphis Grizzlies tenha recebido menos atenção que o San Antonio Spurs no começo da temporada. Os Lakers fizeram as duas maiores aquisições da janela de verão em Steve Nash e Dwight Howard, o Thunder, além de retornar de uma aparição nas Finais, trocou James Harden a três dias do início da campanha, os Clippers fortificaram a parte de baixo do elenco e muita gente confiava nos Nuggets e nos Timberwolves para fazerem barulho.

Enquanto isso, San Antonio reteve todo o time que dominou a liga na temporada passada, vencendo 20 de suas últimas 24 partidas, o único problema sendo que as quatro derrotas vieram em seguida nas mãos do muito mais jovem e superatlético Oklahoma City nas finais da conferência.  Mas, badalados ou não, os imortais Spurs continuam na briga pelo título visto que o time que ganhou 60 de seus 80 jogos em 2011-2012 atualmente lidera a liga em vitórias, com 18 em 22 jogos, postando o segundo melhor saldo de pontos (indicativo de dominância), tendo jogado contra a quinta tabela mais difícil até o momento, de acordo com Jeff Sagarin do jornal americano USA Today.

Através de seu calibrado ataque, focado na habilidade de criação de Tony Parker no pick-and-roll depois de anos e anos centralizado no fundamentalismo de Tim Duncan no garrafão e na magia de Manu Ginóbili no perímetro, San Antonio tem se tornado um rolo compressor. Muitos poucos têm um Thabo Sefalosha para atormentar Parker. E, quando o francês tem liberdade para atuar,  os Spurs permanecem uma força a ser reconhecida. O time é o quarto classificado em pontos por posse, de acordo com o site MySynergySports.com.

Além da criatividade de Parker, a eficiência desse ataque se dá a constante procura pelo melhor chute através de intensa movimentação de bola – San Antonio lidera a liga em assistências (postando 25,5 em média), e pontaria certaria dos arremessos no perímetro – os Spurs têm acertado o quinto maior número de arremessos de três pontos, em grande maioria graças aos 40,2% de aproveitamento que Danny Green tem em arremessos de fora do arco.

Ah, e Duncan ainda tem papel importantíssimo no desempenho da equipe. Para os que se preparavam para uma possível aposentadoria do astro nas férias, os Spurs tiveram uma agradável surpresa ao ver o futuro membro do Hall da Fama rejuvenescido. De fato, o jornalista Eric Koreen, que cobre o Toronto Raptors para o jornal canadense National Post, constatou que os números padronizados de Duncan este ano são iguais, mas iguais mesmo àqueles que ele postou em sua campanha como MVP 11 anos atrás.

Talvez mais surpreendente seja o impacto que Duncan tem tido na defesa do time. Geralmente quanto mais velho o jogador vai ficando, mais porte físico perde e menos consegue contribuir na defesa. Mas Duncan, em seus 36 pontos de idade, faz o time tomar cerca de seis pontos por 100 posses a menos na defesa quando em quadra, de acordo com NBA.com/advancedstats. De acordo com o portal MySynergySports.com, Duncan tem permitido a oitava menor quantia de pontos marcando o pick-and-roll. E, liderados por Duncan, San Antonio recuperou o pedigree defensivo pelo qual o time de Gregg Popovich ficou conhecido ao ganhar seus quatro títulos, mas que havia perdido na temporada passada. Os Spurs têm atualmente a quinta melhor defesa em pontos por posse.

Desde o começo da temporada passada, San Antonio venceu 78 de seus últimos 102 jogos. Este elenco está em uma sequencia fantástica e que deveria ser mais celebrada. Enquanto o foco continua nos problemas que os Lakers encontram ou no começo de temporada surpreendente dos Knicks, os Spurs continuam fazendo o que fazem de melhor; ganhar. E continuam vivíssimos na briga pelo título.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um para este mês. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.

PS: Durante dezembro, por motivos de ordem profissional (embora a gente goste mesmo é de férias, o Vinte Um vai ser atualizado num ritmo um pouco mais devagar. Voltamos no final do mês com tudo.


Ainda é preciso paciência na hora de avaliar o renovado e irregular Los Angeles Lakers
Comentários Comente

Giancarlo Giampietro

Fab Four do Lakers

Por Rafael Uehara*

As expectativas não poderiam ser maiores para o início de temporada. Depois de ser eliminado pelo Thunder em cinco jogos pela segunda rodada dos playoffs passados, o Lakers fez as duas maiores aquisições no mercado de verão, contratando Steve Nash e acertando a chegada de Dwight Howard via troca. Havia algumas dúvidas em relação ao tamanho do elenco da equipe e se Mike Brown era o homem certo para liderar esse grupo de estrelas, mas, em grande parte, a avaliação da crítica (oi!) era de que eles seriam uma superpotência e um candidato claro ao título.

Bem, caminhando para a conclusão do segundo mês de temporada, ainda não aconteceu. O Lakers perdeu 12 de seus primeiros 21 jogos, mesmo tendo encarado a décima tabela mais fácil  da liga até o momento, segundo os dados de Jeff Sagarin, do USA Today.  Mike Brown já é passado faz tempo, depois de a equipe ter perdido quatro de seus cinco jogos iniciais, e Mike D’Antoni assumiu o cargo. A mudança de técnico, por enquanto, ainda não foi significativa, já que eles perderam sete de 11 partidas com o novo comandante.

Kobe being Kobe

Não se esqueçam que Kobe estava por trás da mudança ofensiva de Mike Brown, hein?

As circunstâncias por trás dos tropeços em LA não podem ser  ignoradas, contudo. A equipe começou a temporada tentando empregar um novo ataque, o sistema de Princeton, porque Kobe Bryant havia feito um lobby especificamente pela volta de um sistema de leitura-e-reação (read-and-react), semelhante ao dos triângulos de Tex Winter e Phil Jackson. Nash, então, fraturou a perna no segundo jogo da campanha, em Portland. A direção da fanquia optou pela demissão de Brown, já sem aguentar mais tantas críticas de fora, especialmente por parte de, justo quem!, Magic Johnson – que, a despeito de ser um comentarista na ESPN, ainda continua, de algum modo, num papel de consultor da franquia… Vai entender.

D’Antoni chegou, mas o time ainda não conseguiu se reagrupar. Agora é a vez de Pau Gasol desacelerar devido a uma tendinite no joelho, que o forçou a perder os últimos quatro jogos. Ah, e não se esqueça que Howard ainda está trabalhando para voltar a sua melhor forma, a forma com que pode fazer a diferença em qualquer jogo, depois de sofrer uma cirurgia nas costas que lhe custou meses de jogos na temporada passada e de preparação para esta.

O Lakers tem alguns problemas crônicos que são realmente ameaçadores para a legitimidade de seu favoritismo. Fora Ron Artest, por exemplo, o time não tem alguém física ou atleticamente capaz para defender no perímetro. E, caso você pense em Kobe, tudo o que estará fazendo é expor uma certa desatenção na hora de ver o astro defender (ou, talvez, não defender nada) nos últimos três anos. De acordo com os dados da Synergy Sports, o Lakers é apenas o 14º na hora de defender jogadas no mano a mano, 22º ao marcar os arremessadores que usam corta-luzes para se desmarcar, 26º ao defender jogadores que cortam para a cesta e 18º na hora de cobrir contra-ataques.

Nash e Gasol no banco

Dois distintos senhores testemunhando o início fraco de campanha do Lakers

Estas estatísticas todas são focadas apenas na defesa exterior deles e que provam o porquê de a equipe ter tanta dificuldade diante de equipes dinâmicas como o Grizzlies e o Thunder – na verdade, até mesmo rivais como Knicks e Rockets já tiraram sua casquinha. E o retorno de Nash não vai resolver este problema. Com a atual configuração do elenco, a única solução para isso seria um Howard 100% em forma debaixo do aro – algo sobre o qual não sabemos ao certo ainda quando e se vai acontecer.

Aí também temos a questão envolvendo Gasol. O espanhol não combina com o sistema ofensivo de D’Antoni. É um esquema que não chama jogadas de post-up no garrafão, a principal via do jogador para pontuar. Por mais completo que seja, o jogo de Gasol não envolve corridas velozes pela quadra, cortes para a cesta e um arremesso com pontaria certaria que ofereça mais espaçamento. Realmente não parece algo que possa ser encaixado ali. Faria muito sentido para o Lakers negociar Gasol para receber alguns jogadores atléticos no perímetro e mais arremessadores. Mas isso também não é fácil – seriam necessários US$ 19 milhões para compensar seu salário, algo que pediria talvez mais de um time no negócio, sempre um desafio.

Então, no fim, a paciência se faz realmente obrigatória na hora de avaliar este Lakers. É claro que devemos prestar atenção em suas falhas, mas ninguém também tem de se desesperar no momento, já que é o seu começo. Ainda há dois terços do campeonato pela frente, e dá para dizer com segurança de que será uma equipe diferente ao final da temporada regular – se não forem os nomes estampados nas camisetas, definitivamente será o modo como eles estarão estruturados em quadra.

*Editor do blog “The Basketball Post” e convidado do Vinte Um para este mês. Você pode encontrá-lo no Twitter aqui: @rafael_uehara.

PS: Durante dezembro, por motivos de ordem profissional (embora a gente goste mesmo é de férias, o Vinte Um vai ser atualizado num ritmo um pouco mais devagar. Voltamos no final do mês com tudo.