Vinte Um

Filho do mítico Manute Bol dá os primeiros passos no basquete

Giancarlo Giampietro

Bol Bol, filho de Manute Bol

O legado do mítico Manute Bol, o jogador mais alto da história da NBA, com 2,31 m de altura, pode ter sequência em quadra – e não é que a liga tenha encontrado algum outro gigante como sucessor, desde a aposentadoria do brilhante Yao Ming.

Ainda estamos longe desse patamar.

Mas acontece que o Yahoo norte-americano divulgou hoje uma presença cuirosa em jogos de escola elementar no Kansas: trata-se de Bol Bol, filho do falecido ex-jogador. Cursando o sétimo ano – na faixa de idade entre 12 e 13 anos –, o garoto por enquanto leva tudo na diversão, claro.

Mas é inevitável pensar que ele possa seguir uma carreira no esporte. Ainda mais considerando o detalhe de que ele mede, pasme!, 1,95 m de altura. Aos 12, 13, anos. Ah, tá. Sem contar que, magrelo que só, lembra, muito, o ex-pivô de Bullets, Warriors e 76ers. Também ajuda o fato de que o jovem Bol Bol também sabe jogar, ué, com um pacote de habilidades já bem mais versátil do que o pai apresentava. Veja:

A história é até boa demais para ser verdade.

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Um dos maiores tesouros que já perdi foi um VHS oficial da liga, ''NBA Jam Session'', de 1993, de edição simplesmente impecável – e vocês perdoem o sentimentalismo, que essa fita foi perdida num desses empresta-mas-não-volta, ok? Era, basicamente, um capítulo para cada fundamento/jogada, no pacote básico: enterradas e bandejas acrobáticas, tiros no estouro do relógio, as tramas coletivas que resultavam em belíssimas cesta, assistências absurdas etc. Mas também tinha espaço para os esforços defensivos, sem se resumir apenas aos ''pregaços'' do além. De todo modo, pensando em Manute Bol, na hora me lembrei da sequência abaixo, que vi pela primeira vez naquele mesmo VHS, que veio na bagagem de um amigo retornando da Disney – ou via TraxArt, não me recordo. Era época de trocar cards com o James no shopping (não tentem entender, são referências bem pessoais mesmo. De todo modo, naqueles dias, o combo basquete/hip-hop era o patins, o skate, a coqueluche adolescente da vez). Agora chega de devaneio e vamos ao vídeo:

Incrível, não?

Manute Bol tinha disso: verticalizava o jogo de um modo aparentemente inatingível. Ainda mais assistindo a isso numa época em que estapear a rebarba da tabela era uma vitória para qualquer moleque – não que hoje, um bocado de tempo, sofá  e… hã… refrigerante depois, seja diferente. 😉

Bol x Bogues

Manute ao lado de Bogues, de 1,63m de altura

Estamos falando de um sujeito que conseguia bloquear o sagrado sky hook de Abdul-Jabbar. Que media quase 70 centímetros a mais do que o lendário, ao seu modo, Mugsy Bogues (foto ao lado).

Em duas temporadas, ele liderou a liga em média e número total de tocos: foram 5,0 por partida com novato pelo Washington Bullets em 1985-86 e 4,3 pelo Golden State Warriors em 1988-89, quando caiu nas mãos do Dr. Frankensetein, vulgo Don Nelson. Na NBA de hoje, ele não teria espaço, seria muito vulnerável.  Mas, na liga dos pivôs gigantes dos anos 80 para os 90, apesar de sua  fragilidade física (tanto em termos de resistência, como em mobilidade, força e capacidade atlética), conseguiu jogar por dez anos, terminando com média de 3,3 bloqueios na carreira em apenas 18,7 minutos. É muita coisa: numa projeção de 36 minutos, seriam 6,4 por jogo. No total, ele somou mais tocos (2.086) do que pontos na carreira (1.599). Peculiar, no mínimo.

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No dialeto de sua tribo Dinka – a mesma da qual a família de Luol Deng saiu –, Manute significa ''benção especial''. Se a sua carreira de jogador, embora totalmente ineperada, tenha sido um tanto ordinária em termos de sucesso em quadra, como aposentado Bol foi um ativista irremdiável, envolvido com ações diversas em suporte de seus conterrâneos num país devastado pela guerra civil.

Chegou a recusar o cargo de ministro dos esportes sudanês devido a uma exigência de conversão ao islamismo. A partir daí, passou a ser tratado como persona non grata pelo governo e precisou da ajuda de diplomatas e políticos norte-americanos para se exilar no Egito e, então, retornar aos Estados Unidos. Trabalhando em eventos especiais de TV – que abusavam de sua altura, claro – ou em pesquisas e instituições para levantamento de fundos. Essa luta só terminou com sua morte em 2010, precocemente aos 47 anos.