Vinte Um

Arquivo : outubro 2012

Anderson Varejão tem estreia de gala e recorde pessoal de rebotes
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Giancarlo Giampietro

Saúde, Anderson, saúde.

Anderson Varejão quebra recorde de rebotes na NBA

Varejão apanha um de seus 23 rebotes contra o Wizards de Jan Vesely, talentoso tcheco

Essa, na opinião do blog, é a palavra-chave para o pivô brasileiro em sua campanha 2012-2013 da NBA pelo Cleveland Cavaliers.

Pois a estreia do capixaba na temporada não poderia ter sido mais saudável, nos mais diversos sentidos. Nesta terça-feira, em vitória sobre o Washington Wizards por 94 a 84 Varejão somou 23 rebotes (três acima de seu antigo recorde pessoal, contra Boston, em janeiro deste ano), 9 assistências e 9 pontos. Quer dizer, ele subverteu aquela ordem básica do relato jornalístico da liga norte-americana,  de pontos em primeiro, rebotes em segundo e assistências em sequência.

O que os torcedores de Cleveland puderam ver em quadra foram as virtudes do pivô brasileiro na sua melhor forma. Um jogador muito mais preocupado com as pequenas coisas do jogo, em dar a liga a uma equipe recheada por jogadores inexperientes, exercendo o tipo de liderança que é praticamente impossível de se dimensionar. E muito difícil de se replicar.

Foram 23 rebotes em 37 minutos de atuação, algo especial, realmente único para a liga, padrão Dennis Rodman de se rebotear – só em coletas ofensivas foram 12. Comparando, o restante do time do Cavs teve mais 31 rebotes. Os atletas do Wizards apanharam 39 rebotes no total.

Boa parte dos números foram obtidos nos três primeiros quartos de partida. Por exemplo, em seus primeiros 26 minutos de quadra, ele havia coletado 20 rebotes de cara. Absurdo.  Não houvesse o técnico Randy Wittman tomado alguma providência para bloquear o brasileiro, imagine o que sairia daí.

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Nenê realmente não estreou pelo Wizards, ainda afastado por causa de sua insistente fascite plantar. Ainda assim, a equipe visistante conseguiu ser competitiva, mesmo desfalcada também de John Wall. De todo modo, este foi um confronto que realmente não deve definir uma vaga nos playoffs do Leste.

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Kyrie Irving abriu sua temporada com tudo, anotando 29 pontos em 35 minutos. Mas a melhor notícia, na parte jovem do elenco, para os torcedores do Cavs foi o rendimento do ala-armador Dion Waiters em sua estreia como um profissional, com 17 pontos em 28 minutos. Ainda mais depois de uma pré-temporada péssima para o novato que jogou com Fabrício Melo em Syracuse e chegou a ser comparado com Dwyane Wade por alguns especialistas no Draft. Já o ala-pivô Tristan Thompson contribuiu com 12 pontos, 10 reboets e 5 assistências.

Byron Scott não poderia estar mais orgulhoso, assim como a diretoria não poderia se animar tanto: quanto maior a produção de suas jovens apostas e de Varejão, mais chances, ferramentas a franquia de Ohio tem para dar um salto e retornar ao pelotão de frente do Leste. Ou eles mantêm essa base com perspectiva de competir agora, ou podem levar a cabo o plano sigiloso de trocar o capixaba por mais peças voltadas para o futuro do clube.


Prévia Vinte Um para a temporada 2012-2013 da NBA
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Giancarlo Giampietro

Dá até vertigem de pensar. Começa nesta terça-feira a temporada 2012-2013 da NBA, e a gente sabe que, daqui até junho, vamos longe, bem longe, com os melhores jogadores do mundo, grandes confrontos, histórias engraçadas e escabrosas, novos heróis e vilões e sabe-se lá mais o quê. As surpresas são realmente o que mais divertem e atiçam colunas. Mas há alguns pontos que já valem a observação desde o tiro de largada:

Rei dos Anéis. Dãr

Rei dos Anéis. Dãr

LeBron James, enfim um rei
Por nove anos não houve jogador mais pressionado, perseguido e, ao mesmo tempo, cortejado e bajulado. Tudo pela mesma razão: seu incrível potencial para conquistar o anel e o que fazer com este potencial. Como LeBron vai agir agora que o peso de toda uma liga saiu de seus ombros? É possível fazer uma campanha ainda melhor do que a passada, com 27,1 pontos, 7,9 rebotes e 6,2 assistências, com 53,1% nos arremessos?

Celebridades
Precisa dizer mesmo? Se com Chris Mihm, Smush Parker, Sasha Vujacic e Kwame Brown já havia uma bagunça toda, imagine o circo quando o Lakers vai de Kobe, Howard, Nash, Gasol e o mais lunático de todos? Quem começa o campeonato com a maior cobrança é Mike Brown. Por mais bom moço e simpático que seja com os jornalistas, o técnico não inspira confiança alguma de que possa administrar um esquadrão desses. Instaurar o esquema ofensivo de Princeton em um elenco todo renovado já não parece o melhor primeiro passo. Outro ponto para ser monitorado: como vai ser o relacionamento de Kobe com os novos companheiros se as coisas não se acertarem conforme o esperado? E qual impacto eventuais tropeços podem causar na decisão de Dwight Howard. Lembrando: ele vai se tornar um agente livre ao final do campeonato.

Monopólio
Quando Danny Ainge encontrou um meio de juntar Kevin Garnett e Ray Allen com Paul Pierce, dificilmente esperava que as transações que salvaram seu emprego em Boston serviria como exemplo, como modelo de montagem no início da nova tendência para a construção dos supertimes da liga. Em quadra, a ironia continua: após seguidas derrotas para os velhinhos de Boston só motivou que LeBron procurasse abrigo com os amigos Dwyane Wade e Chris Bosh em Miami. E a preocupação dos proprietários dos clubes em evitar essa concentração de poder durante o último estúpido locaute parece não ter dado muito certo. Oras, o inimigo público número um, o Lakers, cansado de apanhar, ficou ainda mais forte! O Brooklyn Nets, com o investimento irrestrito de Mikhail Prokhorov, e o New York Knicks (coff! coff!) também foram atrás.

Lembra do Jeremy, Melo?

É bom não dar motivos para NYC se lembrar de uma Linsanidade, Carmelo

– Gangues de Nova York
Os clubes podem nem lutar pelo título, mas a mídia nova-iorquina vai dar um jeito de botar fogo nas relações entre Nets e Knicks. E olho nos ‘Bockers: depois de anos para tentar reformular seu elenco, a diretoria voltou a se aprisionar com contratos de médio prazo – algo muito perigoso numa liga cada vez mais restritiva no que se refere a movimentação dos jogadores. Então não importa se Amar’e já vai perder um bocado da temporada regular, ou se a maioria de seus reforços para este ano poderia estar muito bem aposentada a essa altura da vida. A base é esta, e pronto. Se, por ventura, os rivais de Brooklyn saírem na frente, como Spike Lee e outros fanáticos vão reagir? Vão tolerar mais um ano medíocre liderado por Carmelo Anthony?

Lugar de teatro é no palco
A NBA promete fiscalizar seus principais artistas. Quem for flagrado cavando, forjando faltas, no ataque ou na defesa, vai ser multado (veja os valores) e tomará pitos em público. Claro que essa medida desagradou aos jogadores, que dizem ser impossível julgar o que é uma reação desproporcional ao nível de contato físico filmado – e que não foi sentido por dirigentes da liga e árbitros.  Quem vai liderar o ranking?

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Palavras-chave para os brasileiros:
O que está em jogo para o sexteto do Brasil na temporada e os desafios que eles encaram em suas equipes.

– Anderson Varejão e a saúde
– Fabrício Melo e Scott Machado e a D-League
– Leandrinho e a eficiência
– Nenê e a paciência
– Tiago Splitter e os minutos

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Jogadores para marcar de perto:
Atletas que não são necessariamente as maiores estrelas da liga, mas cujo desempenho pode ser fundamental para levar seus clubes a uma boa campanha na temporada, enfrentando alguns elementos interessantes, seja de por conta de suas personalidades, ou pelos problemas e carências de seus elencos. Vamos continuar com a série até o final do ano.

Brook Lopez, Nets: pode um nerd fã de quadrinhos ser um xerife de garrafão?
DeMarcus Cousins, Kings: um colosso que tem tudo para ser dominante, menos a maturidade
Goran Dragic, Suns: os altos e baixos do sucessor de Steve Nash
Andrew Bougt, Warriors: a desesperada franquia espera que o australiano possa fortalecer sua defesa
Andrei Kirilenko, Wolves: dominante na Euroliga, o russo está de volta com seu jogo único

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Palpites:
Chutes descabidos, mas que não podem faltar, ou podem? Mas podem falhar, então apelamos ao espírito covarde e nos resguardamos com outras duas possibilidades, mas que não têm nada a ver com as versões do mundo bizarro que valem como o inverso do que poderia acontecer.

Campeão: Miami Heat
Continuidade, superestrelas no auge, menos pressão, Ray Allen, difícil imaginar o que poderia atrapalhar a jornada rumo ao bicampeonato. (Quem mais? Thunder ou Lakers.)

Mundo bizarro: Charlotte Bobcats, Michael Jordan consegue novamente!

Final: Miami Heat x Los Angeles Lakers
David Stern daria piruetas de samba-canção no coração de Manhattan. Os proprietários radicais dos pequenos mercados quebrariam seus escritórios. Star power. (Quem mais? Heat x Thunder.)

Mundo bizarro: Washington Wizards x Sacramento Kings. Aquele que antes era um clássico do desarranjo, de equipes que reuniram muitos talentos nos últimos anos na loteria do Draft e, ainda assim, não conseguiram montar um time decente. Hoje vira um duelo de duas potências emergentes da liga, atropelando aqueles que esperavam construir dinastias. Fácil.

Alonzo Gee crava pelo Cavs

M-V-Gee. Nem nos sonhos de Dan Gilbert

MVP: LeBron James
Explicado lá em cima, né?

Mundo bizarro: Alonzo Gee. Nada contra, nada pessoal, é um jogador que trabalhou firmemente nos últimos anos a partir da  D-League e conseguiu um contrato que provavelmente deixaria o agente Leandrinho satisfeito. A graça aqui que ele é o ala titular do Cleveland Cavaliers. Pegou?

Melhor técnico: Tom Thibodeau (Bulls)
Fazer mais com menos, tudo baseado em um sistema defensivo impressionante, dos mais fortes que a liga já viu. Se conseguir transformar uma unidade com Marco Belinelli, Vlad Radmanovic e Nate Robinson em uma sólida retaguarda, valeria até um Nobel. (Quem mais: Rick Adelman pelo Wolves e Avery Johnson pelo Nets.)

Mundo bizarro: Vinny Del Negro (Clippers), aquele que saiu de um Derrick Rose para um Chris Paul,  consegue finalmente juntar as peças sem atrapalhar com o que monta em quadra – parte de seu time quer correr e decolar para enterradas, enquanto outra parte quer jogar em meia-quadra, de um modo mais metódico –, fazendo  o Clippers a fungar no cangote

Melhor sexto homem: Ray Allen (Heat)
Aaaaaaaaargh! Mas aí é a hora de por o coração na mesa. Quantos chutes completamente livres o veterano vai ter nesta temporada? (Quem mais:  Kevin Martin pelo Thunder, Mike Dunleavy Jr. pelo Bucks,  Matt Barnes pelo Clippers, Carl Landry pelo Warriors e Chase Budinger pelo Wolves… Desculpe, mas impossível segurar em três.)

Mundo bizarro: Andray Blatche (Nets). Em um time com quinteto titular bastante vulnerável defensivamente, um dos jogadores mais problemáticos e imaturos da NBA consegue sair do banco para fazer o papel de durão, cobrindo espaços e protegendo o aro, sem dar nenhuma dor-de-cabeça ao pequeno general Avery Johnson durante todo o ano. Nem Gilbert Arenas poderia com isso. 

Anthony Davis, calouro número um do Draft

Toco para o Monocelha. Vá se acostumando

Melhor calouro: Anthony Davis, o Monocelha (Hornets)
Uma barbada, segundo todas as fontes possíveis. Um baita defensor, extremamente concentrado e inteligente, já aos 19 anos. O ataque chegará aos poucos, ainda mais nas mãos de um ótimo treinador. (Quem mais: Damian Lillard pelo Blazers e Jonas Valanciunas pelo Raptors)

Mundo bizarro: Fabrício Melo (Celtics). O pivô brasileiro  que pouco jogou na pré-temporada, evolui consideravelmente a cada mês e termina o ano como o cadeado da defesa de Doc Rivers e vira uma figura cult em Boston. Seu mentor Kevin Garnett enfim daria o braço a torcer e o chamaria de “Fab”.

Melhor defensor: Dwight Howard (Lakers)
Enquanto o ataque dos angelinos não se ajusta, o pivô vai ter de fazer a sua parte na cobertura, com uma ajudinha de nosso anti-herói Ron-Ron. (Quem mais: Joakim Noah pelo Bulls e Kevin Garnett pelo Celtics.)

Mundo bizarro: JaVale McGee (Nuggets). O cabeça-de-vento põe os pingos nos is e se transforma numa versão 2.0 de Dikembe Mutombo.


Palavra-chave para Nenê na temporada 2012-2013: paciência
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Giancarlo Giampietro

Wittman fica esperando o retorno de Nenê

Para Wittman, Nenê está disponível hoje apenas para um bom papo, mesmo

A fascite plantar teima, que teima em não largar do pé do Nenê. Da última vez que veio a público para falar sobre seu problema físico, no dia 19 de outubro, o pivô afirmou que estava fazendo tudo direitinho, todos os exercícios recomendados pelos preparadores físicos e médicos, mas que ainda estava sofrendo com uma inflamação e que ainda estava aquém do que esperava em sua recuperação.

Por isso, não gostaria de cravar se estaria pronto para jogar nesta terça-feira, na abertura da temporada, em Cleveland. “Quero jogar, mas algumas vezes as coisas não acontecem do jeito que você quer. Só quero garantir que estarei saudável para ajudar minha equipe porque, se eu tiver de ir para o banco de novo, isso não é bom.”

Quer dizer: o paulista de São Carlos ainda não sabe quando vai estar pronto, nem o clube consegue dar alguma previsão precisa sobre seu retorno.

Mas, quando ele voltar, Nenê ainda terá sua paciência testada: sem ter seu principal pivô ativo por um dia sequer em seus treinamentos e amistosos, sem ter o armador John Wall até janeiro, ou mais, o Wizards caminha para uma temporada de draga daquelas. Mais uma. Algo a que o brasileiro não está nada habituado.

A última vez em que ele fez parte de uma equipe que mais perdeu do que venceu foi em 2002-2003, em seu campeonato de calouro na NBA, pelo Denver Nuggets, com 20.7% de aproveitamento e 65 reveses em 82 partidas. Desde, então, o clube do Colorado venceu, no mínimo, 52,4% de seus jogos e bateu a casa de 60% em quatro ocasiões.

Neste mesmo período, o Wizards só conseguiu três temporadas com recorde positivo – o aproveitamento de 54,9% em 2004-2005 foi a melhor campanha, época com o trio Gilbert Arenas, Caron Butler e Antawn Jamison em forma. Nos últimos quatro anos, foram 88 vitórias e 178 derrotas. Argh.

Com Nenê em quadra no ano passado, o time de Washington venceu sete em 11 confrontos disputados. Mas Wall estava em forma e o time jogava embalado sob o comando do interino – hoje efetivado – Randy Wittman e pelo expurgo de JaVale McGee e Andray Blatche.

Agora já está difícil até de por seu pivô brasileiro para jogar. Jannero Pargo, ele mesmo, deve assumir um papel importante na armação. Lá vem sova.


Palavra-chave para Fabrício Melo e Scott Machado na temporada 2012-2013: D-League
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Giancarlo Giampietro

Tem de entender que pode não ser apenas um lichê tonto, repetido por inércia.

Em diversas ocasiões é possível esquecer ou ignorar que, quando atletas falam em batalhas, muita luta e histórias tantas na hora de agradecer pelo novo emprego, pela nova oportunidade, a reação automática de muita gente, especialmente no Brasil, é a de dar de ombros, soltar aquele “pffffff”, “tsc, tsc” básico e emendar com aquele complemento que vai na linha de: “Ra-rá! Ó lá o milionário falando de barriga cheia, não sabe o que é ralar a poupança e ver o que é bom pra tosse”.

E aí bastam duas ou três perguntas que fujam um tico que seja do rame-rame da pauta diária para perceber que talvez a primeira frase seja meio batida – “Graças a Deus que não sei o quê” –, mas que, poxa vida, possa realmente ter uma história ali, e tal, que os caras tenham passado por umas e outras até chegar a assinar o primeiro contrato e receber a primeira bolada.

O raciocínio vale muito para muitas figuras do futebol brasileiro. Mas também pode ser aplicado para a rapaziada da NBA. Neste caso, Fabrício Melo e Scott Machado, bem-vindos ao clube.

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Scott Machado, armador puro em busca de vaga para valer agora

A trajetória dos dois não podia ser mais diferente. O mineiro de Juiz de Fora começou bem tarde no basquete e correu atrás do tempo. Já o gaúcho do Queens – nunca vou me cansar de brincar com isso 😉 – pegou a primeira bola e queria fazer um jump shot na primeira bacia que via pela frente em Nova York. Melo era o grandalhão, com o único talento que não se ensina, a altura, o já era o suficiente que lhe render um passe para um time de ponta universitário como Syracuse. Scott era o baixinho que precisou se impor por outras maneiras em quadra e teve de cavar espaço em uma equipe nada tradicional como Iona.

Nesta terça, aos 22 anos e poucos dias de separação entre o aniversário de um e do outro, chega para os dois aquele momento que por tanto tempo – no caso de Scott, há um pouco mais – almejaram: iniciar uma temporada da NBA como jogadores da liga, no lugar, ou, muito provavelmente, ao lado de seus ídolos de TV e videogame.

Tem esse aspecto do sonho, sim.

Mas, depois de alguns dias, semanas ou meses, vem a realidade também. Que pode pedir paciência aos dois jovens. Estar entre os 15 premiados de um elenco é um feito, e tanto. Mas agora tem mais.Vão precisar convencer seus treinadores de que podem fazer parte de seus planos efetivos e rotações na temporada regular. Jogar prava ler.

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No caso de Scott, essa aspiração parece mais plausível desde já. Seria normal que ele fosse enviado diretamente ao Rio Grande Valley Vipers para conduzir a filial do Houston Rockets na D-League de cara, que lá pudesse botar o time para jogar e, aos poucos, se adaptar ao nível de capacidade atlética e tamanho que verá daqui para a frente. Porém, durante seu processo de Draft, o armador foi submetido a tantos testes, prontamente superados, que hoje fica difícil duvidar do que, e quando, ele pode alcançar.

Depois de Daryl Morey fazer a limpa em seu elenco, dispensar até mesmo um ala-armador de respeito no mercado como Shaun Livingston e jogar fora US$ 6 milhões nesse processo, cabe ao brasileiro uma disputa muito mais simples: brigar por minutos com o irregular Toney Douglas pela reserva de Jeremy Lin.

Enquanto Scott oferece criatividade no ataque, com um armador puro e baixo, Douglas é um ala fazendo as vezes de armador com muito mais pegada e potencial defensivos. Scott, no fim, funciona muito mais como uma apólice de seguro para o caso de Lin arriar – por motivos físicos ou emocionais –, enquanto Douglas seria alguém que, de cara, complementaria melhor a rotação de McHale. Para o técnico, ter um talentoso criador com James Harden em seu elenco facilita as coisas neste sentido. Carlos Delfino é outro que pode ajudar na condução da equipe em momentos de aperto, se emparelhado com o barbudo e jogador ex-Knicks.

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Fab Melô de verde agora

Fabrício Melo acompanha Leandrinho em Boston, mas talvez não em toda a temporada

Fabrício Melo, ou Fab Melo, como preferirem, se apresenta a Doc Rivers em um ponto mais baixo de sua curva de aprendizado. De novo: ele começou mais tarde num esporte que possui muitos detalhes, nuanças que se assimila apenas com o tempo, com a instrução e repetição, especialmente para os grandalhões. O posicionamento preciso no ataque e na defesa, os movimentos com e sem a bola, o aumento da força sem perder a agilidade… Tudo isso faz o cuco se cansar um pouco e nem sempre é resolvido com um ou dois anos de universidade. Ainda mais quando o pivô é a peça central em uma defesa por zona e, na NBA, o uso delas é bem mais restrito.

O pivô tem um bom tempo de bola para os tocos na cobertura, não foge do contato físico, pode converter com regularidade os arremessos de média e curta distância, por vezes se mostra um passador surpreendente – fundamento já elogiado por Kevin Garnett, inclusive –, mas ainda lhe faltam outros tantos tópicos para cobrir até que possa jogar regularmente num time como o Celtics sem interferir com suas grandes ambições.

Imagino que Danny Ainge vá conseguir dosar bem o tempo do brasileiro entre o contato e treinos com veteranos como KG – que se recusa a chamá-lo de Fab, porque nenhum homem seria Fabuloso na sua concepção das coisas – e períodos extensos com tempo de jogo no Maine Red Claws, na D-League.

Ainda há equipes relutantes em mandar seus talentos para a liga paralela. Mas, de um modo geral, esse processo vem avançando na NBA, e a tendência é que os jogadores mais jovens sejam enviados com maior frequência para os afiliados. E não é que, uma vez na D-League, não tem mais volta: Celtics e Rockets podem convocar seus jogadores de volta quando bem entenderem. Não é o fim da picada.


São José agora encara maratona em calendário apertado após empatar semifinal
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Giancarlo Giampietro

Laws em ação pelo São José

Calma, São José, que a corrida só está na metade

No ano passado foi o Pinheiros. Agora é o time São José que tem de encarar a maratona quem um calendário apertado pode oferecer. A equipe de Régis Marrelli voltou a vencer Bauru nesta segunda-feira, por 92 a 79, e forçou o quinto jogo da série semifinal pelo Campeonato Paulista.

E sabe para quando ficou essa quinta e derradeira partida? Inicialmente, está prevista para o dia 8 de novembro. Daqui a dez dias. Se não estivesse fazendo tanto, mas tanto calor no estado, daria para dizer que o confronto esfriaria um bocado.

Essa espera fica por conta da viagem que o clube do Vale do Paraíba tem de fazer para a Venezuela, com a missão de fechar a primeira fase da Liga Sul-Americana em confrontos do Grupo D da competição continental. Murilo, Fúlvio e cavalaria embarcam para o norte do continente já nesta terça de manhã, para encarar o Libertad Sunchales e o local Tiburones de Vargas. Jogos de quinta-feira a sábado.

“Está  sendo jogo dia sim, dia sim. E o ‘dia não’ é uma viagem de seis horas de ônibus. Agora é superação”, afirmou o pivô Murilo ao chapa Fernando Gavini, da ESPN Brasil. Já seu treinador afirmou que “quatro jogos em cinco dias é desumano”, comentando a tabela à qual São José e Bauru foram submetidos.

É um problema grave, sim. Supostamente a FPB (Federação Paulista de Basquete) tem pouco a ver com o que decide a Abasu (Associação de Basquete Sul-Americana, presidida pelo presente de grego) em relação aos torneios continentais. Mas no mínimo falta um entendimento entre as entidades ou entre o órgão continental e a nem sempre altiva, muito menos ativa CBB (Confederação Brasileira de Brasileira), ainda mais em tempos em que o chefe de uma está concorrendo com o chefe da outra em uma eleição.

Mais alguns pontos para ponderar aqui:

1) um campeonato estadual mais enxuto também evitaria esse tipo de problema ou eventuais percalços futuros com a iminência da disputa dos Jogos Abertos do Interior em São Paulo (de 18 a 24 de novembro) e o início do NBB (dia 24), logo ali na frente, no dia 24 de novembro. Muito provável que alguma competição seja prejudicada, considerando que ainda temos a decisão do estadual pela frente;

2) os clubes participantes precisam definir melhor suas prioridades, o que vale mais, em vez de acabarem com seus atletas ao tentar disputar tudo até o fim;

3) os jogadores também parecem longe de atingir qualquer nível de organização, para se defenderem de abusos como esses.

Então lá vai novamente São José para a estrada o aeroporto, testando a força e resistência de seu elenco, sobrevivendo a dois confrontos de playoff duríssimos mesmo sem contar com dois de seus principais pontuadores – Dedé e Jefferson William, lesionados. Enquanto seu departamento técnico torce para não ser mais testado.

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Como se já não bastasse um jogo atrás do outro, a FPB ainda marcou o quarto confronto da semifinal interiorana para 16h30 de uma segunda-feira (de Brasília). Algo bizarro, seja pela nada sutil alienação a quem trabalhe em horário comercial na cidade e, por ventura, goste de ver a equipe em ação, seja pela alta temperatura (altíssima) no ginásio são-joseense sem uma refrigeração adequada. Teve casa cheia? Bem, ótimo que o público da cidade esteja tão ligado ao seu time assim – é realmente uma notícia surpreendente e agradável. Uma raridade no basquete. Mas não dá para dizer que tenha sido uma tremenda de uma sacada comercial ou esportiva, não.

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aAlém disso, a federação paulista informou nesta segunda, a 30 horas do jogo, que a quarta partida da série entre Pinheiros e Paulistano foi deslocada de terça-feira para quinta-feira, atendendo a pedido da ESPN Brasil. Mesmo porque não deve ter tido tempo suficiente para os organizadores discutirem as datas dos jogos com a TV, né? Mas também nem importa que alguém tenha se planejado para ir ao (vazio?) ginásio da capital em determinada data. Deixe de ser chato, que vá na quinta, ué. Não dá na mesma?

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Em quatro jogos, Bauru e São José já somaram 200 arremessos de três pontos. A conta é fácil, então: média de 50 chutes de longa distância por partida. Nesta segunda, foram 55, sendo 28 para os visitantes e 27 para o time da casa.

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Sem poder treinar com regularidade, ainda em busca de melhor forma e ritmo, o pivô Murilo fez sua melhor partida pelas semifinais nesta segunda, com 31 pontos e 11 rebotes, lembrando aquela arma que deu muito trabalho para as defesas no último NBB, oferecendo perigo tanto dentro como fora.


Para segurar Scott Machado, Rockets torram quase US$ 6 mi em salário de dispensados
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Giancarlo Giampietro

Scott em ação na pré-temporada da NBA

Scott: visão de jogo e mais chances de ficar em Houston

Para um time que o ignorou num Draft em que teve quatro oportunidades para selecioná-lo, o Houston Rockets deu uma senhora prova de respeito por Scott Machado nesta segunda-feira ao dispensar cinco jogadores de contrato garantido para poder segurar o armador em seu elenco para a temporada 2012-2013.

Isso quer dizer que o gerente geral Daryl Morey convenceu o proprietário da franquia, Les Alexander, a desembolsar cerca de US$ 6 milhões para pagar cinco atletas que não vão vestir a camisa do clube sequer por um minuto no próximo campeonato. Foram cortados  o pivô John Brockman, o ala-armador Shaun Livingston e os alas Gary Forbes, JaJuan Johnson e Lazar Hayward, que veio no pacote com James Harden e nem posar para foto no Texas vai.

A não ser que algum deles seja, digamos, recolhido por algum concorrente nos próximos dois dias, o pagamento de seus salários na íntegra fica por conta do Rockets. Confira os cheques que cada um vai receber sem nem mesmo se preocupar em entrar em quadra: US$ 1,5 milhão para o panamenho Forbes, US$ 1,1 milhão para Johnson (antiga aposta do Celtics) e Hayward e US$ 1 milhão para Brockman e cerca de US$ 1 milhão para Livingston (que tinha um contrato de US$ 3,5 parcialmente garantido – ainda não está claro qual foi o desconto que o clube conseguiu ao liberá-lo agora).

Lembrando que os clubes da NBA podem contar no máximo com 15 atletas sob contrato durante toda a temporada regular. Depois da surpreendente troca pelo barbudão, o clube texano ficou com 20 nomes em seu plantel, tendo que desligar cinco deles até esta segunda. É preciso respeitar o processo de “waiver”, que dura dois dias, nos quais os dispensados ainda têm um vínculo com a franquia de origem.

Agora pode cravar: o Brasil vai com seis jogadores para o campeonato, um recorde.


Palavra-chave para Leandrinho na temporada 2012-2013: eficiência
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Giancarlo Giampietro

Leandrinho em Boston

Tirando logo do caminho: para jogar no Boston Celtics, Leandrinho terá de fazer sua melhor temporada defensiva na NBA. É um pré-requisito. Lapsos de posicionamento fora da bola, pouca movimentação lateral e falta de combatividade são coisas que não serão aceitas por Doc Rivers e seu estafe, e o ala-armador tem toda o talento atlético do mundo para cumprir um bom papel na retaguarda. Não precisa virar um Ron Harper, mas vai ter de quebrar o galho, pelo menos.

Agora, o que precisa fazer a diferença para o ligeirinho é seu ganha-pão: colocar a bola na cesta. Foi como um explosivo pontuador saindo do banco de reservas que ele conseguiu construir uma sólida e duradoura carreira na liga norte-americana. É para isso que foi contratado e é isso que vai ter de fazer muito bem, com eficiência. Algo que ele vem perdendo nos últimos três anos.

Atrapalhado por uma insistente lesão no pulso direito, sentindo dificuldade para se adaptar após as mudanças para Toronto e Indianápolis, Leandrinho viu seus números caírem em diversas categorias ofensivas desde sua campanha de despedida em Phoenix. Foi um dos motivos para entender sua demora para encontrar um novo emprego.

Mesmo que não tenha muitos minutos para se soltar, o ala-armador precisa se concentrar em sua seleção de arremessos, não confundir velocidade com afobação e buscar seus pontos preferidos em quadra sem perder de vista o que se passa ao seu redor e sem trombar com Jason Terry. Nos mais diversos estudos avançados de estatísticas (Basketball Reference e John Hollinger, por exemplo), dois pontos em comum nas métricas do brasileiro são sua propensão cada vez menor para as assistências e uma curva consistentemente ascendente em desperdícios de posse de bola.

É bom que ele dê um jeito de remediar essas tendências negativas, tendo agora o amparo de uma aclamada comissão técnica e companheiros que cobram e apoiam bastante também, no time mais casca grossa destes tempos. Pois seu tempo de quadra regular pode ter prazo de validade – outra possível palavra-chave para o título seria “janeiro”, aliás.

O primeiro mês de 2013 deve ter o retorno de Avery Bradley, o ala-armador que tornou a defesa do Celtics ainda mais sufocante na temporada passado. A partir do momento em que o jovem ganhou a vaga de Ray Allen no time titular, o time melhorou num todo em sua contenção, sofrendo muito menos pontos por minuto. Da mesma forma ele causou um impacto individual: frequentemente os atletas que ele marcou perderam em rendimento, valendo isso até mesmo para um Dwyane Wade.

Quando Bradley voltar de sua recuperação de uma cirurgia no ombro, deve ser para jogar. Não importam seus 21 anos, no caso. Na verdade, a pouca idade é mais um fator complicador para o brasileiro na disputa por minutos, já que seu concorrente faz parte dos planos do presente e do futuro da franquia, em dupla com Rondo.

Tudo isso não é uma questão de mera descrença em Leandrinho. Para chegar ao ponto em que está, o cara precisou batalhar muito. A luta agora só continua. Em termos de capacidade atlética, seu potencial ainda é incrível.  Acontece apenas que, em Boston, seu pacote técnico-tático será bastante exigido. E o que ele fizer nesta temporada terá, obviamente, impacto no prolongamento de sua carreira na NBA.


Arrancada de Raulzinho é destaque entre os brasileiros da Liga ACB
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Giancarlo Giampietro

Raulzinho de roupa nova no País Basco

Raulzinho para o ataque: armador brasileiro vai mostrando evolução na liga

Para um esportista, a maioridade pode tardar um bocado pra chegar.

Veja o caso de Raulzinho, por exemplo, em que ela parece ter dado as caras aos 20 anos. O jovem armador vem sendo uma grata surpresa no início na temporada 2012-2013 da Liga ACB, ainda que seu Lagun Aro GBC venha com uma campanha decepcionante, depois de ter feito os playoffs na edição passada.

Em cinco rodadas até aqui, o armador vem com médias de 13,4 pontos, 4,2 assistências, 3,8 rebotes e 1,8 roubada de bola. No aproveitamento de arremessos, 50% de três pontos, 46% de dois e 75% nos lances livres. Para quem estiver mais habituado a ler os números produzidos na NBA, pode não parecer muita coisa. Mas é preciso ponderar aqui alguns fatores importantes, como: a) o ritmo mais cadenciado da liga espanhola; b) a menor duração das partidas (40, contra 48); c) a idade do jogador, que também tem pouca experiência  no basquete espanhol.

Raulzinho aponta

Cadenciar o jogo é algo que Raulzinho ainda vai aperfeiçoar em seu jogo na Espanha

No elenco da equipe basca, o brasileiro é o líder em minutos jogados, pontos (de longe, com 2,4 de média a mais que o experiente Qyntel Woods, ex-Jailblazer), assistências, bolas recuperadas, mira de três pontos e, por fim, no índice de eficiência. Além de ser o terceiro em (!) rebotes.

Um desempenho que serve como testemunho de seu trabalho com Rubén Magnano durante os meses de junho e julho, quando se preparou com o argentino e a seleção olímpica. Se não recebeu os minutos mais consistentes no torneio, ao menos os treinamento lhe ajudaram a ficar na ponta dos cascos

Por enquanto,  porém, o sucesso individual de Raulzinho não vem sendo traduzido para o coletivo e para a classificação do campeonato. O que não quer dizer que o garoto venha afundando o time, que demorou para reunir todas suas peças, mas ainda tem tempo para se arrumar.

Neste domingo, em derrota do Lagun Aro para o Fuenlabrada por 86 a 75, o brasileiro somou 13 pontos, 4 assistências, 5 rebotes e três roubos de bola em 26 minutos. Ele só não conseguiu um bom aproveitamento nos arremessos de dois pontos, errando sete de suas dez tentativas. Nos tiros de fora, foram duas cestas em quatro.

Um detalhe interessante: o brasileiro saiu do banco nesta jornada e foi responsável pelos dois primeiros pontos de sua equipe no confronto. Sabe com quanto tempo de jogo? Cinco minutos. Até então, os visitantes haviam marcado dez pontos sem resposta. O que dá praticamente a vantagem final no placar.

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Na temporada passada, numa prova de seu jogo explosivo, Raulzinho anotou 13 pontos em menos de oito minutos de jogo em vitória sobre o Obradoria, vendo seu tempo de ação reduzido apenas devido ao acúmulo de faltas. Foram, mais precisamente, 8min54s de jogo para o rapaz, que se inseriu num ranking bem maluco que o site da liga espanhola tratou de mantar: o de maior número de pontos no menor período de tempo de jogo. Por curiosidade, o brasileiro ficou em quarto. O ex-armador José Luis Ferreira conseguiu 5min18s  na temporada 1992-93 16 pontos pelo OAR Ferrol e é o líder, seguido pelos 13 pontos em 6min35s do pivô Germán Gabriel pelo Estudiantes em 2001-02 e pelos 13 pontos em 6min49s de Xavi Crespo pelo Barcelona em 1993-94.


Jogos na Argentina sinalizam Marquinhos como ponto de desequilíbrio do Flamengo
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Giancarlo Giampietro

Marquinhos sobe para mais dois pontos

Marquinhos, de visual novo, em seu início de trajetória rubro-negra

Se tem algo que chama bastante a atenção quando você assiste a um jogador como Marquinhos ao vivo, de pertinho, em quadra, é como o jogo vem fácil para ele. Como, com 2,05m de altura, muitas vezes ele se mostra mais criativo e habilidoso do que um armador na hora de bater para a cesta. Como seu arremesso parece sair sem força alguma, acima da cabeça, mesmo que a mecânica não seja a mais bonita disponível no mercado.

Enfim, basquete fica parecendo a coisa mais legal do mundo – na verdade, é a coisa mais legal, não? 😉

Não estava em Mar del Plata para ver o Flamengo e o ala em ação tão de perto assim pela Liga Sul-Americana, mas deu para espiar os três jogos aqui do QG 21, mesmo. E arrisco a dizer: o time rubro-negro vai chegar até aonde o ala ex-Pinheiros puder liderá-lo.

No elenco de prestígio que o clube rubro-negro montou para a temporada, Marquinhos é quem tem os melhores predicados para desequilibrar, com facilidade para chegar ao aro, um tiro de média distância raro de se ver e as bolas de três pontos. Além disso e, talvez mais importante, também é um bom e disposto passador – para quem duvida, pergunte ao Olivinha, que já foi o receptor de várias assistências de seu fiel companheiro dos últimos anos. São capacidades raras de se unir num só atleta, ainda mais nos clubes sul-americanos, e, se bem aproveitadas, podem abrir a quadra para os chutes de Marcelinho e Benite e cestas fáceis dos pivôs no garrafão.

São habilidades também que podem fazer um estrago no contra-ataque.  O Bala, nosso vizinho, já havia relatado que o técnico Neto estava dando muita atenção para as saídas em velocidade, forçando o ritmo. Na Argentina, quando puderam, foi isso o que os flamenguistas tentaram mesmo: sair em disparada com três ou até quatro homens, um cenário em que Benite e Kojo podem render bastante, explosivos que são. Mas faz toda a diferença neste plano alguém como Marquinhos. Quando um ala com sua mobilidade e tamanho recebe o último passe na corrida, é complicado para a defesa parar. Ou sai a bandeja, ou vem a falta. Difícil escapar disso.

Agora… Tudo isso aqui não quer dizer que o ala seja um super-homem ou um jogador irrefutável. Não é sempre que ele entra em quadra com a mentalidade agressiva, usando suas habilidades para ser dominante no ataque. Pudemos ver esta oscilação na cidade argentina.

Marquinhos e os novos companheiros

Marquinhos tende a envolver os companheiros quando controla a bola no ataque

No primeiro jogo contra a Hebraica uruguaia, o ala fez um primeiro tempo arrasador – se não me engano, com 16 ou 18 pontos de cara nos 20 minutos iniciais. Ele atacou a cesta com voracidade, intensidade e foi fundamental para garantir uma boa vantagem. A segunda partida contra o chileno Deportes Castro não conta lá muito, mas Marquinhos fez sua parte. Quando entrou em quadra, por fim, contra o Peñarol argentino, tinha já 43 pontos somados. Acabou fechando a primeira fase com 50, tendo anotado apenas sete no principal confronto, agredindo pouco a defesa adversária, e os argentinos viraram o placar no segundo tempo.

Não é questão de incentivar o individualismo. Especialmente no caso de Marquinhos, que realmente compartilha a bola.  O ponto é que, quando ele decide entrar no jogo e tentar domá-lo, a vida de seus parceiros tende a ficar mais fácil. Tenham isso em mente na hora de acompanhar o Fla durante a temporada.

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Marcelinho Machado mordeu a isca novamente: contra o Peñarol, enquanto Leo Gutiérrez viva uma noite de folião do outro lado, o veterano brasileiro terminou com péssimo aproveitamento de 11% nas bolas de longa distância, com apenas uma conversão em nove tentativas. Na primeira fase em geral, foram apenas 25%. Uma velha história que fica ainda mais complexa de se assimilar quando levamos em conta que ele foi o jogador que mais deu assistências pelo cube carioca (10), quem mais roubou bolas (7, ao lado de Benite) e o quarto reboteiro (ao lado de Marquinhos, com 15, apenas um a menos que Shilton e dois a menos que Olivinha, mesmo jogando muito mais tempo no perímetro).

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Até agora são três confrontos diretos entre brasileiros e argentinos e três vitórias para nossos vizinhos. Um jogo foi em campo neutro (Obras Sanitarias 88 x 81 Pinheiros), um foi na nossa capital federal (Regatas Corrientes 93 x 91 Brasília) e agora o terceiro foi na quadra deles, com o triunfo do Peñarol. O São José, em meio a suas batalhas pelo Campeonato Paulista, tenta quebrar a série na semana que vem, tendo o Libertad Sunchales pela frente, pelo Grupo D.


Festival de chutes de longa distância marca início das semifinais do Paulista
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Giancarlo Giampietro

Foi de três

Foi de três para o Bauru em duelo com o Mogi (Crédito: Caio Casagrande)

Não é a maior base de dados. Apenas uma pequena amostra, ou um tira-gosto por assim dizer. Mas, depois de ver alguns dos últimos jogos dos mata-matas do Campeonato Paulista, fica difícil de fugir do assunto, sobre aquilo que o professor Paulo Murilo costuma se referir como a “hemorragia de três pontos” do basquete nacional.

Acho que já até virou anacrônico dizer que é anacrônico o modo como preferido como se busca a cesta em quadras nacionais, chutando sem parar de fora, sem o menor pudor ou peso na consciência.

Acompanhem comigo o raciocínio e, me ajude, por que talvez não faça muito sentido: se os arremessos de três pontos valem mais do que o de dois, seria talvez por que ele é mais difícil? Se ele é mais difícil, talvez isso por acaso queira dizer que você tem menos probabilidade de convertê-lo? Se você tem menos probabilidade de convertê-lo, você voltaria todo o seu plano de jogo, ou uma parcela considerável de sua ofensiva para esse tipo de lance?

Sim, senhor.

Pelo menos é o que andamos vendo: nas duas primeiras partidas da semifinal, Jogos 1 entre Bauru e São José e entre Pinheiros e Paulistano, os quatro clubes arriscaram um total de 104 chutes de longa distância (média de 52 por partida). Foram 55 no clássico da capital e 49 no duelo interiorano.

É muita coisa.

Quer saber o quão exagerado este número é?

Nesta semana tivemos nove jogos da Euroliga. Os 18 clubes participantes somaram 292 bolas de três pontos. A média foi de 36,5 por jogo.

Aí alguém pode dizer que os confrontos da Euroliga são muito chatos, todos excessivamente táticos, maçantes. Então toca clicar na tabela de jogos da NBA e usar a calculadora pelo menos para os amistosos de pré-temporada realizados nesta quinta-feira.

Pois bem, os oito clubes arriscaram juntos 150 tiros de fora, média de 37,5 por jogo. A gente sabe da maior, né? Os jogos da liga norte-americana têm maior duração: 48 minutos por confronto, diante dos 40 regulares da Fiba. Numa média, então, de chutes por minuto, esses quatro duelos tiveram 0,78 por minuto, contra 1,3 arremesso por minuto do Paulista. Outro detalhe: estamos falando aqui de confrontos de pré-temporada, que por vezes descambam em peladas oficiais, sem rigidez dos técnicos nas rotações e jogadas, com muitos atletas jogando para tentar descolar as últimas vaguinhas nos elencos da temporada regular.

Dos jogos que consultei da Euroliga e da NBA, apenas três tiveram esse padrão tresloucado que tanto adoramos em relação a bolinhas de três pontos: Milwaukee Bucks 100 x 90 Charlotte Bobcats, com 52 disparos de longe (reforçando: em 48 minutos, oito a mais do que nos jogos do Paulista); Maccabi Tel Aviv 90 x 61 Elan Chalon, com 51 (no qual a equipe perdedora se responsabilizou por 29 chutes) e, exagerando, Real Madrid 83 x 75 Fenerbahce, com 41 bolas, oito a menos que Bauru e São José.

No caso dessas três partidas destacadas, apenas no duelo entre Maccabi e Elan Chalon o número de chutes de três ultrapassou grosseiramente os 50% quando comparados ao total de dois pontos: 65%. Na vitória do Real, caiu para 50,6%. Na pelada que foi Bobcats x Bucks, o número ficou em 39%. Nas duas semis do paulista, foram 66,4% (103 tiros de fora contra 155 na área interna).

Precisa dizer mais?

Talvez só o seguinte: tentar a cesta de três pontos não é um crime. Trata-se de uma arma que, se bem usada, pode punir a defesa adversária. Na NBA, por exemplo, o chamado “corner three” virou uma ferramenta básica para qualquer ataque – é o ponto de menor distância do perímetro para o aro e, além de tudo, age de um modo estratégico para dificultar as ajudas da defesa oponente quando um Tony Parker da vida quebra a primeira linha e parte para o garrafão. Isto é, é um fundamento que está aí para ser usado. Mas usá-lo como a principal finalidade em si? Parece loucura.

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Equipe que disparou por conta própria 38 bolas de longa distância no quinto jogo da série contra Franca, o São José possui apenas um jogador entre os dez melhores chutadores de três do Estadual: o armador Fúlvio, que é o décimo, com 42,68% na mira. Chico, Álvaro Calvo e Dedé estão entre os 20 primeiros – mas o último não vem jogando, afastado por lesão. De resto, mais ninguém entre os 44 principais gatilhos do campeonato.